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Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-


MG - Apelação Cível : AC
10000190086934001 MG
26-35 minutos

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO DPVAT -


PRELIMINAR - INOVAÇÃO RECURSAL - REJEIÇÃO - PRÉVIO PAGAMENTO
DO PRÊMIO - COMPROVAÇÃO - DESNECESSIDADE - SÚMULA 257 DO STJ -
VÍTIMA SEM HABILITAÇÃO - MERA INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA -
VEÍCULO CICLOMOTOR - POSSIBILIDADE DE INDENIZAÇÃO - CORREÇÃO
MONETÁRIA - INCIDÊNCIA A PARTIR DA DATA DO EVENTO DANOSO -
JUROS DE MORA - A PARTIR DA CITAÇÃO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -
ART. 85, § 2º DO CPC - SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA - RECURSOS PROVIDOS
EM PARTE.

- A ausência de habilitação da vítima de acidente de trânsito não causa impedimento


para recebimento do prêmio do seguro DPVAT, por configurar mera infração
administrativa tipificada no Código Brasileiro de Trânsito.

- "A falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados


por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do
pagamento da indenização." (Súmula 257 - STJ)

- O fato de o Boletim de Ocorrência ter sido lavrado a pedido da parte interessada não
acarreta, por si só, a ausência de prova do fato gerador da pretensão ao pagamento do
seguro DPVAT, mormente quando corroborado por documentos médicos indicativos da
data do acidente.

- O art. 3º, V, da Resolução CNPS 273/2012 da SUSEP inclui as motonetas,


ciclomotores e similares como veículos automotores englobados no seguro DPVAT.

- A correção monetária do valor das indenizações por morte ou invalidez do seguro


DPVAT deve incidir a partir da data do evento danoso e os juros de mora a partir da
citação.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.19.008693-4/001 - COMARCA DE BELO


HORIZONTE - APELANTE (S): JAIR VIEIRA DA SILVA, ZURICH MINAS
BRASIL SEGUROS S/A - APELADO (A)(S): JAIR VIEIRA DA SILVA, ZURICH
MINAS BRASIL SEGUROS S/A

Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do


Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em
.

DESA. APARECIDA GROSSI

RELATORA.

DESA. APARECIDA GROSSI (RELATORA)

VOTO

Trata-se de recursos de apelação interpostos por ZURICH MINAS BRASIL DE


SEGUROS S/A. e JAIR VIEIRA DA SILVA contra a sentença proferida nos autos da
ação de cobrança de seguro DPVAT ajuizada pelo segundo apelante, que julgou
parcialmente procedente o pedido inicial nos seguintes termos:

(...)

POSTO ISSO e por tudo mais o que dos autos consta, JULGO PARCIALMENTE
PROCEDENTE O PEDIDO para o fim de: a) condenar a Requerida a pagar em favor
do Requerente a complementação do DPVAT no valor de R$4.725,00 (quatro mil,
setecentos, vinte e cinco reais). Sobre o referido valor deverão incidir juros de mora de
12% (doze por cento) ao ano contados da data do pagamento parcial e correção
monetária que deverá se dar de acordo com os índices fornecidos pela Corregedoria de
Justiça do Estado de Minas Gerais desde a data do ajuizamento da ação.

Custas pro rata.

Fixo os honorários advocatícios em R$1.500,00 (um mil e quinhentos reais). Cada parte
deverá pagar o referido importe em favor do advogado da parte contrária.

Aplico em favor da requerente a norma inserta no artigo 98, CPC.

Julgo o presente, com resolução do mérito, fulcrado no art. 487, I, CPC em vigor.

(...)

1ª APELAÇÃO

APELANTE: ZURICH MINAS BRASIL SEGUROS S/A.

A ré afirma nas razões recursais que não consta qualquer dado do veículo que comprove
que o autor realizou toda a regularização daquele para que atendesse os requisitos para o
recebimento da indenização por invalidez.

Alega, também, que além de o autor ser inabilitado, tampouco cadastrou o veículo no
DETRAN, e não possuía placa de identificação do ciclomotor.

Sustenta, ainda, ser evidente a obrigatoriedade do pagamento do Seguro DPVAT pelos


proprietários de veículos automotores.
Aduz, ademais, que o boletim de ocorrência foi registrado a pedido do próprio apelado,
que apresentou sua versão unilateral dos fatos.

Assevera, outrossim, que os juros moratórios devem ser contados a partir da citação
inicial.

Por fim, requer a fixação dos honorários sucumbenciais em 10% sobre o valor da
condenação.

O autor apresentou contrarrazões, requerendo o desprovimento do primeiro recurso.

2ª APELAÇÃO

APELANTE: JAIR VIEIRA DA SILVA

O autor requer a aplicação de correção monetária desde a data do fato (súmula 580 STJ)
e dos juros de mora a partir da citação (súmula 426 STJ).

Requer, por fim, a condenação da ré ao pagamento de honorários advocatícios no


importe de 20% por não haver a sucumbência reciproca.

A ré apresentou contrarrazões, requerendo o não conhecimento da segunda apelação por


inovação recursal.

É o relatório.

Observados os temas colocados em debate nos recursos interpostos, analisarei em


conjunto os apelos, diante da interdependência entre eles.

JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

Conheço do primeiro recurso, por estarem presentes os pressupostos de admissibilidade,


e passo à análise das suas razões.

PRELIMINAR DA RÉ

NÃO CONHECIMENTO DA 2ª APELAÇÃO

Não assiste razão à requerida quando requer o não conhecimento do segundo recurso
por inovação recursal.

Isso porque os juros de mora e a correção monetária são consectários lógicos da


condenação, tratando-se de questão de ordem pública, sendo possível a sua análise a
qualquer tempo.

A propósito, confira o entendimento do col. STJ:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL.


VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. INDENIZAÇÃO
SECURITÁRIA. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. AÇÃO PROPOSTA PELO
TERCEIRO BENEFICIÁRIO. PRESCRIÇÃO. PRAZO DECENAL. CORREÇÃO
MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS. ALTERAÇÃO DO TERMO INICIAL DE
OFÍCIO EM APELAÇÃO. POSSIBILIDADE. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA.
(...) 3. A matéria relativa aos juros de mora e à correção monetária é de ordem pública,
pelo que a alteração do termo inicial de ofício no julgamento de recurso de apelação
pelo tribunal na fase de conhecimento do processo não configura reformatio in pejus. 4.
Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 455281/RS, Relator: Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, DJ: 10/06/2014) - (G.n.)

Com tais considerações, REJEITO A PRELIMINAR e conheço do segundo recurso, por


estarem presentes os pressupostos de admissibilidade.

MÉRITO

Cumpre assinalar, inicialmente, que a ausência de habilitação da vítima de acidente de


trânsito não causa impedimento para recebimento do prêmio do seguro DPVAT, visto
configurar mera infração administrativa tipificada no Código Brasileiro de Trânsito.

A propósito, veja a ementa do seguinte julgado:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - SENTENÇA - PREENCHIMENTO DOS


REQUISITOS LEGAIS - EXAME DO PEDIDO E DOS ELEMENTOS
PROBATÓRIOS COM MOTIVAÇÃO SUFICIENTE - INOCORRÊNCIA DE
NULIDADE - COBRANÇA - SEGURO OBRIGATÓRIO - PROVA DO ACIDENTE -
INVALIDEZ PERMANENTE - APURAÇÃO EM CONTRADITÓRIO - CONDUTOR
INABILITADO - FALTA DE QUITAÇÃO DO PRÊMIO DO DPVAT -
IRRELEVÂNCIA - PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO DEVIDO - CORREÇÃO
MONETÁRIA - TERMO INICIAL - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE
SUCUMBÊNCIA - CRITÉRIOS DE ARBITRAMENTO.

- A Sentença que contém o exame das alegações e dos pedidos formulados no processo,
bem como dos elementos produzidos, com observância do Princípio da Motivação,
cumpre o disposto no art. 93, IX, da Constituição Federal, e nos arts. 11 e 489, do
Código de Processo Civil.

- À vítima de acidente de trânsito é assegurada a indenização securitária, quando


comprovado o fato, por meio de elementos idôneos, e apurada, em contraditório, a sua
incapacidade permanente, sendo irrelevante a ocasional existência de culpa ou infração
(falta de habilitação para dirigir), nos termos do art. 5º, da Lei nº 6.194/1974.

- O inadimplemento temporário com o prêmio do DPVAT não constitui óbice ao


ressarcimento, uma vez que a norma de regência não impõe essa restrição.

- O Eg. Superior Tribunal Justiça, com o julgamento do Recurso Especial nº


1.483.620/SC, que se deu sob a sistemática prevista no art. 543-C, do Código de
Processo Civil/1973, e com a edição do Enunciado de Súmula nº 580, consolidou o
entendimento de que a atualização monetária do valor da indenização por morte ou
invalidez do seguro DPVAT se opera desde a data do evento danoso.
- É indevida a revisão da verba honorária de sucumbência fixada em percentual sobre o
valor da condenação, com observância dos critérios definidos no art. 85, § 2º, do Código
de Processo Civil. (TJMG - Apelação Cível 1.0481.16.010351-3/001, Relator (a): Des.
(a) Roberto Vasconcellos, 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 13/11/2019,
publicação da sumula em 26/11/2019) (G.n.)

A apelante afirmou nos autos, ainda, que os condutores que possuíam ciclomotores
teriam que regularizar a situação do veículo, solicitando o emplacamento e, recolhendo
a taxa referente ao Seguro DPVAT, o que não ocorreu no presente caso.

A respeito do tema, impende assinalar que o art. 3º, V, da Resolução CNPS 273/2012 da
SUSEP dispõe o seguinte:

Art. 3º. O Seguro DPVAT é administrado por dois consórcios de seguradoras e engloba
as seguintes categorias de veículos automotores:

I - Categoria 1 - automóveis particulares;

II - Categoria 2 - táxis e carros de aluguel;

III - Categoria 3 - ônibus, micro-ônibus e lotação com cobrança de frete (urbanos,


interurbanos, rurais e interestaduais);

IV - Categoria 4 - micro-ônibus com cobrança de frete, mas com lotação não superior a
10 passageiros e ônibus, micro-ônibus e lotações sem cobrança de frete (urbanos,
interurbanos, rurais e interestaduais);

V - Categoria 9 - motocicletas, motonetas, ciclomotores e similares; e

VI - Categoria 10 - máquinas de terraplanagem e equipamentos móveis em geral,


quando licenciados, camionetas tipo "pickup" de até 1.500 kg de carga, caminhões e
outros veículos. (...) (G.n.)

Nessa ordem de ideias decidiu este eg. Tribunal:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - DPVAT - ACIDENTE


ENVOLVENDO MOTONETA - VEÍCULO AUTOMOTOR - NEXO
CAUSALIDADE ENTRE O SINISTRO E AS LESÕES QUE ACOMETEM O
AUTOR - CORREÇÃO MONETÁRIA - INCIDÊNCIA A PARTIR DA DATA DO
EVENTO DANOSO.

O seguro DPVAT possui caráter social e tem por fim indenizar vítimas de acidentes de
trânsito, sem apuração de culpa, seja motorista, passageiro ou pedestre.

É passível de cobertura do seguro DPVAT o sinistro ocasionado por uma motoneta,


uma vez que o art. 3º, V, da Resolução CNPS 273/2012, elaborada pela SUSEP, inclui
as "motonetas, ciclomotores e similares" dentro da categoria 9 dos veículos automotores
englobados pelo seguro DPVAT.
A correção monetária da indenização de seguro obrigatório DPVAT deve ser aplicada
desde a data do sinistro. Precedentes do STJ. (TJMG - Apelação Cível
1.0000.18.065034-3/001, Relator (a): Des.(a) Marcos Henrique Caldeira Brant , 16ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 12/09/2018, publicação da sumula em 13/09/2018)
(G.n.)

Sendo assim, nota-se que o veículo ciclomotor está incluído nas categorias de veículos
automotores englobados pelo seguro DPVAT.

De outro norte, a seguradora apelante defende a impossibilidade de indenização do


seguro DPVAT pelo não pagamento do prêmio do seguro, pelo autor, vítima do sinistro.

Ainda que se reconheça a ausência de recolhimento do seguro DPVAT, o artigo 5º da


Lei nº 6194/74, que trata do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por
veículos automotores de via terrestre, não vincula o pagamento da indenização ao
pagamento do prêmio, mas sim, à simples prova do acidente e do dano dele decorrente.

Assim, apesar de obrigatório, a lei não exige que o segurado proprietário do veículo
esteja rigorosamente em dia com o pagamento do prêmio para fins de recebimento do
seguro DPVAT, bastando que comprove a ocorrência do acidente e as lesões sofridas.

Esse é o teor da Súmula 257, do STJ, in verbis:

A falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados por


Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do
pagamento da indenização.

Destarte, a falta de pagamento do prêmio do seguro DPVAT configura a irregularidade


administrativa do veículo, mas não impede o recebimento de indenização.

Nesse sentido, já decidiu este egrégio Tribunal de Justiça:

DIREITO CIVIL E LEGISLAÇÃO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO


OBRIGATÓRIO DPVAT. VÍTIMA PROPRIETÁRIA DO VEÍCULO CAUSADOR
DO DANO PESSOAL. INADIMPLÊNCIA DO PRÊMIO DO SEGURO.
IRRELEVÂNCIA. INTERPRETAÇÃO DA FINALIDADE SOCIAL DO SEGURO
LEGAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 257/STJ. 1. A interpretação da finalidade do
DPVAT impõe concluir que a indenização se mostra devida ainda que o proprietário do
veículo, vitimado pelo evento, esteja inadimplente com relação ao prêmio respectivo,
uma vez que aqui não há falar necessariamente uma relação sinalagmática privada de
prestação e contraprestação, observando-se o caráter social do seguro. Incidência da
Súmula nº 257/STJ. Precedentes. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.17.032797-7/001,
Relator (a): Des.(a) Otávio Portes , 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 19/07/2017,
publicação da sumula em 20/07/2017)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DPVAT.


INADIMPLÊNCIA DO SEGURADO EM RELAÇÃO AO PRÊMIO.
IRRELEVÂNCIA PARA FINS DE RECEBIMENTO DA INDENIZAÇÃO.
ENTENDIMENTO DA SÚMULA Nº 257 DO STJ. JUROS DE MORA. INCIDENCIA
DESDE A CITAÇÃO. - O direito ao recebimento da indenização depende apenas da
prova do acidente e dos danos causados por ele, não estando vinculado ao pagamento do
prêmio do seguro DPVAT. - Os juros moratórios devem incidir a partir da data da
citação, uma vez que é neste momento que a seguradora torna-se regularmente
constituída em mora e toma conhecimento da pretensão do autor. (TJMG - Apelação
Cível 1.0521.15.017456-8/001, Relator (a): Des.(a) Luiz Carlos Gomes da Mata , 13ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 22/06/2017, publicação da sumula em 07/07/2017)

Sendo assim, não há que se discutir a inadimplência do autor quanto ao seguro


obrigatório.

Impende assinalar que o fato de o boletim de ocorrência ter sido lavrado a pedido da
parte interessada não acarreta, por si só, a ausência de prova do fato gerador da
pretensão ao pagamento do seguro DPVAT, desde que estejam presentes outras provas
nos autos.

Nesse sentido decidiu este eg. Tribunal:

EMENTA: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO


DE COBRANÇA - INDENIZAÇÃO REFERENTE A SEGURO OBRIGATÓRIO
DPVAT - PRAZO PRESCRICIONAL DE 03 (TRÊS) ANOS - TERMO INICIAL -
CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA LESÃO - PRESCRIÇÃO NÃO CONSUMADA -
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE ENTRE O ACIDENTE DE TRÂNSITO E A
INVALIDEZ PERMANENTE - DESNECESSIDADE DE APRESENTAÇÃO DE
BOLETIM DE OCORRÊNCIA E DE LAUDO PERICIAL DO IML -
POSSIBILIDADE DE PROVA POR OUTROS MEIOS - RELATÓRIO DE
ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR, EMITIDO PELO CORPO DE BOMBEIROS,
NO QUAL MENCIONADA A CAUSA DAS LESÕES - ACIDENTE COM
MOTOCICLETA - DOCUMENTO NÃO IMPUGNADO PELA RÉ - SINISTRO -
COMPROVAÇÃO - INVALIDEZ PARCIAL PERMANENTE - VALOR DA
INDENIZAÇÃO - PROPORCIONALIDADE COM O GRAU DA INVALIDEZ -
GRADAÇÃO ESTABELECIDA PELO CONSELHO NACIONAL DE SEGUROS
PRIVADOS (SUSEP) - CORREÇÃO MONETÁRIA - TERMO INICIAL - DATA DO
EVENTO DANOSO - SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA CARACTERIZADA - ÔNUS
SUCUMBENCIAIS - DISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL - INTELIGÊNCIA DO
ARTIGO 86 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - RECURSO PROVIDO, EM
PARTE.

- Nos termos do artigo 206, § 3.º, inciso IX, do Código Civil, prescreve em 03 (três)
anos a pretensão indenizatória do beneficiário contra o segurador e a do terceiro
prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.

- Em caso de invalidez permanente, constitui termo inicial do prazo prescricional a data


em que o segurado dela tem ciência inequívoca.

- O Boletim de Ocorrência Policial não é documento indispensável à propositura da


ação de cobrança de seguro DPVAT, sendo a sua obrigatoriedade adstrita ao pagamento
em via administrativa, podendo a ocorrência do acidente de trânsito, bem como o nexo
de causalidade entre esse evento e as lesões, ser demonstrados por outros meios legais
de prova.
(...) (TJMG - Apelação Cível 1.0702.11.068493-4/002, Relator (a): Des.(a) Márcio
Idalmo Santos Miranda, 9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 09/10/2018, publicação
da sumula em 26/10/2018) (G.n.)

Urge frisar que várias foram as hipóteses previstas para o termo inicial da correção
monetária estabelecida no § 7º do art. 5º da Lei nº 6.194/74, tendo o seu termo inicial
sido considerado a data do acidente, data do ajuizamento da ação ou até mesmo a data
do pagamento a menor.

Visando a dirimir tal controvérsia, o Superior Tribunal de Justiça, através do REsp


1483620/SC, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, abaixo colacionado, sedimentou
seu entendimento nos seguintes termos:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. CIVIL. SEGURO DPVAT. INDENIZAÇÃO.


ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. TERMO 'A QUO'. DATA DO EVENTO DANOSO.
ART. 543-C DO CPC.

1. Polêmica em torno da forma de atualização monetária das indenizações previstas no


art. 3º da Lei 6.194/74, com redação dada pela Medida Provisória n. 340/2006,
convertida na Lei 11.482/07, em face da omissão legislativa acerca da incidência de
correção monetária.

2. Controvérsia em torno da existência de omissão legislativa ou de silêncio eloquente


da lei.

3. Manifestação expressa do STF, ao analisar a ausência de menção ao direito de


correção monetária no art. 3º da Lei nº 6.194/74, com a redação da Lei nº 11.482/2007,
no sentido da inexistência de inconstitucionalidade por omissão (ADI 4.350/DF).

4. Para os fins do art. 543-C do CPC: A incidência de atualização monetária nas


indenizações por morte ou invalidez do seguro DPVAT, prevista no § 7º do art. 5º da
Lei n. 6194/74, redação dada pela Lei n. 11.482/2007, opera-se desde a data do evento
danoso.

5. Aplicação da tese ao caso concreto para estabelecer como termo inicial da correção
monetária a data do evento danoso.

6. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (REsp 1483620/SC, Rel. Ministro PAULO DE


TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2015, DJe
02/06/2015) - Grifos nossos.

Assim, também decidiu a 2ª Câmara de Uniformização de Jurisprudência Cível do


TJMG, "ipsis litteris":

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. SEGURO DPVAT.


INDENIZAÇÃO. TERMO INICIAL. DATA DO EVENTO DANOSO. A correção
monetária do valor das indenizações por morte ou invalidez do seguro DPVAT deve
incidir a partir da data do evento danoso. (TJMG - Inc Unif Jurisprudência
1.0134.13.013320-7/003, Relator (a): Des.(a) Cabral da Silva, 2ª Câmara Unif. Jurisp.
Cível, julgamento em 11/11/2015, publicação da sumula em 20/11/2015) - Grifos
nossos.

Destarte, a atualização monetária opera-se a partir da data do evento danoso (acidente


de trânsito), desde que o pagamento administrativo da verba indenizatória tenha
ocorrido posteriormente ao prazo de 30 (trinta) dias previsto no § 7º do art. 5º da Lei
que rege a matéria.

Veja a Súmula 580 do STJ:

A correção monetária nas indenizações do seguro DPVAT por morte ou invalidez,


prevista no parágrafo 7, artigo 5º da lei 6.194/74 redação dada pela lei 11.482/07, incide
desde a data do evento danoso. (G.n.)

No caso em apreço, o pagamento integral do valor devido não ocorreu no prazo de 30


(trinta dias), razão pela qual tem lugar a correção monetária. E, ao contrário do
entendimento do d. Magistrado singular, o seu termo inicial não será a data do
ajuizamento da ação, mas sim a data do evento danoso.

Veja as ementas abaixo colacionadas:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. INDENIZAÇÃO. SEGURO DPVAT.


COMPLEMENTAÇÃO. PAGAMENTO ADMINISTRATIVO DENTRO DO PRAZO
DE 30 DIAS. CORREÇÃO MONETÁRIA. INDEVIDA.

- A correção monetária prevista no artigo 5º, § 7º da Lei 6.194/74 só é aplicável nos


casos em que o pagamento da indenização ocorrer após o prazo de 30 dias, contado a
partir da entrega dos documentos necessários. (TJMG - Apelação Cível
1.0000.18.131755-3/001, Relator (a): Des.(a) Luiz Carlos Gomes da Mata, 13ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 31/01/2019, publicação da sumula em 01/02/2019)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO DO


SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT - FALTA DE INTERESSE DE AGIR -
PRELIMINAR REJEITADA - CORREÇÃO MONETÁRIA - INCIDÊNCIA - TERMO
INICIAL - DATA DO EVENTO DANOSO - RESP Nº 1.483.620/SC -
RECONHECIMENTO DA SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA - ART. 86 DO CPC/2015 -
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

- A partir do julgamento do RE nº 839.314, o STF passou a considerar imprescindível a


formulação do pedido na via administrativa, anteriormente à propositura das ações de
cobrança de indenização do seguro obrigatório DPVAT, o que restou cumprido no
presente caso.

- Nos termos do art. 5º, § 1º, da Lei nº 6.194/74, nas indenizações de seguro DPVAT, só
não haverá incidência de correção monetária quando cumprido o prazo de 30 dias
previsto para pagamento, o que não ocorreu.

- Nos termos da jurisprudência que se formou no STJ a partir do julgamento do Recurso


Especial nº 1.483.620/SC, submetido ao rito dos recursos repetitivos, a incidência de
atualização monetária nas indenizações por morte ou invalidez do seguro DPVAT,
prevista no § 7º do art. 5º da Lei n. 6194/74, redação dada pela Lei n. 11.482/2007,
opera-se desde a data do evento danoso.

- Conforme o caput do art. 86 do CPC/2015, se cada litigante for, em parte, vencedor e


vencido, serão proporcionalmente distribuídas entre eles as despesas. (TJMG - Apelação
Cível 1.0080.16.002239-0/001, Relator (a): Des.(a) Sérgio André da Fonseca Xavier ,
18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 29/01/2019, publicação da sumula em
31/01/2019) (G.n.)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - SEGURO DPVAT -


ACIDENTE COM TRATOR - VEÍCULO EM MOVIMENTO - PROVA DA CAUSA
DETERMINANTE DO INFORTÚNIO - HIPÓTESE DE COBERTURA -
CONFIGURAÇÃO - CORREÇÃO MONETÁRIA DO § 7º DO ART. 5º DA LEI
6.194/74 COM REDAÇÃO DA LEI 11.482/07 - ENTENDIMENTO PACIFICADO
PELO STJ - ART. 543-C CPC/73 - TERMO INICIAL - EVENTO DANOSO. I - Para
que se possa falar no direito à indenização do Seguro DPVAT, é necessário que o
acidente tenha sido causado pelo uso de veículo automotor, ou seja, impõe-se que o
próprio veículo ou a sua carga, tenha causado dano a seu condutor ou a um terceiro. II -
A situação tratada nos autos caracteriza-se como acidente com veículo automotor
terrestre indenizável pelo seguro DPVAT, uma vez que comprovado ter sido o veículo
(trator) a causa determinante da morte do segurado. III - Conforme recente
entendimento fixado pelo Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Resp.
nº1.483.620/SC, para fins do art. 543-C do CPC, em se tratando de indenização por
morte ou invalidez do Seguro DPVAT, a atualização monetária que deve se operar
desde a data do evento danoso é devida quando excedido o prazo de 30 dias para o
pagamento da indenização. (TJMG - Apelação Cível 1.0143.16.003072-0/001, Relator
(a): Des.(a) João Cancio, 18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 11/12/2018, publicação
da sumula em 13/12/2018) (G.n.)

Sendo assim, deve haver a reforma da sentença para que a correção monetária incida a
partir da data do evento danoso, e os juros de mora, a partir da citação.

Por fim, verifica-se que as partes requerem a reforma da sentença no tocante aos ônus
sucumbenciais.

A seguradora efetuou o pagamento do valor de R$2.362,50 (dois mil trezentos e


sessenta e dois reais e cinquenta centavos) administrativamente.

Por entender que o valor estava incorreto, o autor ajuizou a ação, formulando os
seguintes pedidos:

(...)

c) seja a ré CONDENADA ao pagamento da diferença em favor da parte autora até


completar o valor de R$9.450,00 (nove mil quatrocentos e cinquenta reais), de acordo
com a lesão apurada em relatório médico, já requerida, porém, corrigida
monetariamente desde a data do pagamento parcial até a data do efetivo pagamento da
indenização, acrescida de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação;
d) Alternativamente, seja a ré CONDENADA ao pagamento da diferença em favor da
parte autora até completar o valor de R$13.500,00 (treze mil e quinhentos reais), de
acordo com o grau da lesão tudo apurado em relatório médico, já requerida, porém,
corrigida monetariamente desde a data do pagamento parcial até a data do efetivo
pagamento da indenização, acrescida de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação;

(...)

Conforme salientado alhures, a sentença julgou o pedido parcialmente procedente, para


condenar a ré ao pagamento de indenização, para o autor, no valor de R$4.725,00
(quatro mil, setecentos, vinte e cinco reais).

Portanto, tendo em vista que o MM. Juiz primevo acolheu 50% (cinquenta por cento) do
pedido, que era de indenização no valor de R$9.450,00 (nove mil quatrocentos e
cinquenta reais), deve-se manter a sentença que condenou as partes ao pagamento dos
ônus sucumbenciais de forma "pro rata".

Por outro lado, entendo que os honorários advocatícios devem ser arbitrados de acordo
com o disposto no § 2º do art. 85 do CPC, "in verbis":

Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

§ 1º São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de sentença,


provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos,
cumulativamente.

§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento
sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível
mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:

I - o grau de zelo do profissional;

II - o lugar de prestação do serviço;

III - a natureza e a importância da causa;

IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

(...)

Seguindo as diretrizes traçadas pelo dispositivo sobredito, considero que os honorários


advocatícios devem ser arbitrados no percentual de 15% (quinze por cento) sobre o
valor da condenação.

Com tais considerações, DOU PARCIAL PROVIMENTO À 1ª APELAÇÃO, para


determinar a incidência dos juros de mora a partir da citação.

DOU PARCIAL PROVIMENTO À 2ª APELAÇÃO, para determinar a incidência de


correção monetária a partir da data do evento danoso e a incidência dos juros de mora a
partir da citação.
Diante da sucumbência recíproca, o autor/segundo apelante deve arcar com o
pagamento de 40% (quarenta por cento) das custas processuais e recursais, bem como
dos honorários advocatícios, que arbitro em 17% (dezessete por cento) sobre o valor da
condenação, nos termos dos §§ 2º e 11 do art. 85 do CPC. O pagamento do restante do
valor das verbas sucumbenciais ficarão sob a responsabilidade da requerida.

Suspendo a exigibilidade das referidas verbas em relação ao autor, embasada no § 3º do


art. 98 do CPC.

<>

DES. ROBERTO SOARES DE VASCONCELLOS PAES - De acordo com o (a)


Relator (a).

DES. AMAURI PINTO FERREIRA - De acordo com o (a) Relator (a).

SÚMULA: "REJEITARAM A PRELIMINAR E DERAM PARCIAL PROVIMENTO


AOS RECURSOS"

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