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10.ª CÂMARA CÍVEL - APELAÇÃO CÍVEL N.º 0010560-80.2020.8.16.

0130, DA
1.ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE PARANAVAÍ

APELANTE I: B.V. FINANCEIRA S.A. – CRÉDITO, FINANCIAMENTO E


INVESTIMENTO

APELANTE II: JEFERSON FERREIRA LEITE

APELADOS: OS MESMOS

RELATORA: ELIZABETH DE FÁTIMA NOGUEIRA (EM SUBSTITUIÇÃO AO EXM.º SR.


DES. ALBINO JACOMEL GUÉRIOS)

APELAÇÕES CÍVEIS (I E II). REVISIONAL DE CONTRATO DE


FINANCIAMENTO COM CLÁUSULA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM
GARANTIA. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. RECURSO DE
APELAÇÃO I. DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. IMPOSSIBILIDADE
DE COBRANÇA DE SEGURO PRESTAMISTA. VENDA CASADA.
ABUSIVIDADE. RESTITUIÇÃO DEVIDA. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. RECURSO DE APELAÇÃO II.
DA PARTE AUTORA. 1. COBRANÇA DE TÍTULO DE
CAPITALIZAÇÃO, “CAP PARC PREMIÁVEL”. ALEGAÇÃO DE VENDA
CASADA. INOCORRÊNCIA. TERMO DE ADESÃO ASSINADO EM
SEPARADO QUE APONTA PARA A FACULTATIVIDADE DA
CONTRATAÇÃO. ANUÊNCIA DO AUTOR PARA COM A CONTRATAÇÃO
DO TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO. ABUSIVIDADE NÃO VERIFICADA.
2. TARIFA DE REGISTRO DE CONTRATO. POSSIBILIDADE DE
COBRANÇA, RESSALVADA A HIPÓTESE DE CONTROLE DA
ONEROSIDADE EXCESSIVA, EM CADA CASO CONCRETO.
PRECEDENTE DO E. STJ EM JULGADO REPETITIVO. HIPÓTESE NA
QUAL O VALOR NÃO SE REVELA ABUSIVO. 3. TARIFA DE
AVALIAÇÃO DE BEM. JUNTADA DE VISTORIA. COMPROVAÇÃO DA
EFETIVA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. APLICAÇÃO DO ENTENDIMENTO
FIRMADO NO RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA
CONTROVÉRSIA N.º 1.578.553/SP (TEMA 958). 4.PLEITO DE
RESTITUIÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS SOBRE AS TARIFAS
DE REGISTRO E AVALIAÇÃO, E TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO QUE
RESTA PREJUDICADO, ANTE A REGULARIDADE DAS COBRANÇAS.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

I - RELATÓRIO:

Trata-se de Apelações Cíveis interpostas contra a r. Sentença de mov.


42.1, que nos autos da “Ação Revisional de Contrato Bancário c/c Pedido
de Devolução de Valores”, sob o n.º 0010560-80.2020.8.16.0130, julgou
parcialmente procedentes os pedidos autorais nos seguintes conclusivos
termos:

“ANTE O EXPOSTO, com base no art. 487, inciso I, do


CPC, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos
formulados na inicial para o fim de DECLARAR a
inexigibilidade do valor cobrado a título de “seguro
prestamista” e DETERMINAR a restituição, de forma
simples, dos valores pagos a maior, acrescidos dos
encargos indevidamente incidentes sobre as respectivas
tarifas, bem como de correção monetária pelo INPC e
juros de mora a partir da citação.

Considerando a sucumbência recíproca, condeno ambas as


partes ao pagamento das custas e despesas processuais,
na proporção de 70% para a autora e 30% (trinta por
cento) para a requerida, observado, se o caso, o
disposto no art. 98, § 3º, do CPC.

Condeno ambas as partes ao pagamento de honorários de


sucumbência em favor da parte contrária, na mesma
proporção, os quais fixo em R$ 1.000.00 (mil reais),
tendo em vista a natureza, a importância da causa e o
trabalho realizado, com base nos elementos norteadores
contidos no artigo 85, § 2º, III e IV e §8º do CPC,
observado, se o caso, o disposto no art. 98, § 3º do
CPC.” (sic)

Inconformada com o teor da decisão, dela apelou a instituição


financeira ao mov. 47.1, ponderando, em síntese do necessário, que
legal a exigência de tarifas em geral, inexistindo abusividade nas
cobranças realizadas, tanto mais que o Seguro Prestamista foi
contratado pelo autor de forma facultativa, não como condição para a
prestação de qualquer outro serviço, devendo ser descaracterizada a
venda casada, e por consequência, a ilegalidade da cobrança.

Igualmente irresignado com o teor da decisão, dela apelou o autor ao


mov. 51.1, a quê: a) reconhecida a ilegalidade com a restituição dos
valores cobrados a título de “Tarifa de Avaliação de Bem” e “Tarifa de
Registro de Contrato”; b) reconhecida a ilegalidade da cobrança do
título de capitalização “cap. parc. premiável”; c) devolvidos os
valores auferidos pela apelada com a cobrança de juros reflexos sobre
as tarifas de Avaliação, Registro de Contrato e “cap. parcela premiável
” declaradas ilegais.

Contrarrazões, pela instituição financeira requerida ao mov. 55.1, e


pelo autor ao mov. 56.1, pela manutenção da Sentença nos pontos
recorridos pela contraparte.

É a breve exposição.

II – FUNDAMENTAÇÃO E VOTO:

Os recursos merecem conhecimento, na medida em que presentes os


pressupostos de admissibilidade recursal, tanto os intrínsecos
(cabimento, legitimação e interesse em recorrer), como os extrínsecos
(tempestividade, regularidade formal, inexistência de fato impeditivo
ou extintivo do poder de recorrer e preparo - movs. 47.2, 47.3 e 101.5,
gozando a parte autora dos benefícios da gratuidade judiciária – mov.
7.1).

Pois bem, as partes celebraram Contrato de Cédula de Crédito Bancário


com Garantia de Alienação Fiduciária para aquisição de um veículo, a
que aplicável a Legislação Consumerista. Desse modo, constatada a
hipossuficiência do consumidor e eventual onerosidade excessiva,
presente a possibilidade de se revisarem as cláusulas contratuais então
pactuadas.

O princípio da força obrigatória dos Contratos resta assim mitigado


para se adequar à Lei de Defesa do Consumidor, como para atender à
função social dos Contratos, expressamente prevista no artigo 421 do
Código Civil. Significa dizer que embora o consumidor tenha de forma
livre pactuado as cláusulas contratuais com a instituição financeira, é
possível a revisão daquelas cláusulas contratuais que se configurarem
demasiadamente abusivas.

À luz dessas premissas, tem-se que o autor celebrou um Contrato de


Financiamento com a instituição bancária requerida para a aquisição de
um veículo, no qual constava o seguinte (movs. 1.5 e 22.3, fl.2):
Sobrevinda a r. Sentença de parcial procedência, dela recorrem ambas as
partes.

De um lado, a instituição financeira requerida, sustentando a


legalidade da cobrança de tarifas em geral, incluindo a contratação de
serviços de “Seguro Prestamista”.

Por sua vez, o autor sustentando a abusividade da cobrança das Tarifas


de Registro de Contrato e de Avaliação do Bem, bem como a ilegalidade
da venda casada do título de capitalização “Cap. Parc. Premiável”.

À análise, pois, de cada um dos pedidos, respeitando-se a ordem lógica


das matérias.

Da contratação do “Seguro Prestamista”:

Do exame da Cédula de Crédito Bancário se verifica que efetivamente foi


cobrado o valor de R$979,00 do autor, a título de Seguro Prestamista.

De fato, o Código de Defesa do Consumidor reconhece como abusiva a


“venda casada”, nos termos do inciso I do artigo 39:

“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou


serviços, dentre outras práticas abusivas:

(...)

I - condicionar o fornecimento de produto ou de


serviço ao fornecimento de outro produto ou
serviço, bem como, sem justa causa, a limites
quantitativos; (...)”

Pelo que se verifica dos autos, aparentemente, na Cédula de Crédito


Bancário com Garantia de Alienação Fiduciária, está embutida a
contratação do “Seguro Prestamista”, pois a cobrança é simplesmente
descrita no instrumento, sem margem de escolha ou negociação para o
consumidor.

Embora a contratação do “Seguro Prestamista” possa se constituir em um


benefício para o devedor, não houve possibilidade de escolha de
seguradora, tampouco houveram informações a respeito da eleição dos
riscos cobertos e respectivo prêmio.

Em virtude da multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica


questão de direito, o e. Superior Tribunal de Justiça admitiu os REsps
n.ºs 1.639.259/SP e 1.639.320/SP como representativos da controvérsia,
acabando por pacificar o tema ao consolidar a seguinte tese: “Nos
contratos bancários em geral, o consumidor não pode ser compelido a
contratar seguro com a instituição financeira ou com seguradora por ela
indicada.”

Em caso análogo:

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO SENTENÇA DE PARCIAL


PROCEDÊNCIA. - APELAÇÃO DO BANCO: SEGURO. NULIDADE
CONSTATADA. CONSUMIDOR QUE FOI COMPELIDO A CONTRATAR
SEGURADORA INDICADA PELA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
LIMITAÇÃO DE SUA LIBERDADE DE ESCOLHA. - “Nos
contratos bancários em geral, o consumidor não pode ser
compelido a contratar seguro com a instituição
financeira ou com seguradora por ela indicada” (STJ –
Recurso Especial Repetitivo nº 1.639.259/SP e nº
1.639.320/SP - Tema 972). (...). (18.ª Câm. Cív., AC
0057413-44.2019.8.16.0014, Rel. Des. Péricles Bellusci
de Batista Pereira, unânime, julg. em 22.06.2020 –
grifou-se)

Logo, a r. Sentença deve ser mantida quanto ao ponto, em virtude da


constatada ilegalidade na cobrança de despesas relacionadas à
contratação do Seguro Prestamista, embutido na Cédula de Crédito
Bancário com Garantia de Alienação Fiduciária de veículo.

Título de Capitalização:

Igualmente com relação à contratação do título de capitalização


denominado “Cap. Parcela Premiável” não merece reforma a Sentença.

Como se indicou anteriormente, é certo que o consumidor não pode ser


compelido a contratar o serviço com a instituição financeira,
devendo-lhe ser dada a opção de escolha pela contratação ou não.

Todavia, não há vedação na regulação bancária quanto à inclusão de


título de capitalização nos contratos bancários. Deve a instituição
financeira, porém, conferir liberdade ao consumidor em optar pela
contratação do título.

No caso em apreço, em que pese a parte autora sustente a existência de


venda casada que lhe foi impingida, percebe-se que a assinatura que
formalizou a contratação do título de capitalização foi lançada também
em instrumento próprio (conforme o “Termo de Adesão” ao mov. 22.3, fl.
6), indicativo da possibilidade de se optar por pactuar (ou não) o
título de capitalização:
Assim, diante da autorização expressa da parte autora à contratação do
título de capitalização, não se denota qualquer ilegalidade na cobrança
deste valor.

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO REVISIONAL C/C REPETIÇÃO DE


INDÉBITO – CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO COM GARANTIA DE
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA – CONTRATAÇÃO DE TÍTULO DE
CAPITALIZAÇÃO – BANCO QUE COMPROVA A ADESÃO EM SEPARADO
DO PRODUTO “PARCELA PREMIÁVEL MODALIDADE FILANTROPIA
PREMIÁVEL” – NÃO CONFIGURAÇÃO DE VENDA CASADA –
AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE – MANUTENÇÃO DA SENTENÇA, COM A
MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS PELA FASE RECURSAL. APELAÇÃO
CÍVEL DESPROVIDA. (TJPR, 10.ª Câm. Cív., AC
1871-70.2021.8.16.0014, Rel.ª Des.ª Elizabeth M. F.
Rocha, unânime, julg. em 10.08.21 – grifou-se)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL. ALIENAÇÃO


FIDUCIÁRIA. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. LIVRE
CONTRATAÇÃO DO SEGURO DE PROTEÇÃO FINANCEIRA, SEGURO
AUTO RCF E TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO. CONTRATOS
DISTINTOS. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE. SENTENÇA REFORMADA.
RECURSO PROVIDO. (TJPR, 4.ª Câm. Cív., AC
6837-13.2019.8.16.0090, Rel. Dr. Hamilton Rafael
Schwartz, unânime, julg. em 28.11.21 – grifou-se)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE


FINANCIAMENTO, COM GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.
CONHECIMENTO. ENCARGOS CONTRATUAIS SOBRE O INDÉBITO
RECONHECIDOS PELA SENTENÇA. AUSÊNCIA DE INTERESSE
RECURSAL. (...) (III) TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO PARCELA
PREMIÁVEL. AQUISIÇÃO FACULTATIVA. ADESÃO AO PRODUTO POR
INSTRUMENTO SEPARADO, ATENDIDO O DEVER DE INFORMAÇÃO.
CONSUMIDOR QUE SE BENEFICIOU DOS SORTEIOS, AINDA QUE
NÃO CONTEMPLADO COM A PREMIAÇÃO. SENTENÇA CONFIRMADA.
RECURSO CONHECIDO EM PARTE E NELA NÃO PROVIDO. (TJPR,
6.ª Câm. Cív., AC 3557-74.2020.8.16.0130, Rel.ª Des.ª
Lilian Romero, unânime, julg. em 16.11.21 – grifou-se)

Logo, deve ser mantida a Sentença quanto ao tópico, vez que


regularmente pactuado o título de capitalização, não restando
comprovada a venda casada.

Das tarifas:

Assevera o Apelante II que deve ser reconhecida a abusividade da


cobrança da Tarifa de Avaliação de Bem e de Registro do Cadastro, como
já decidiu o e. Superior Tribunal de Justiça no julgamento de Recursos
Repetitivos.

Pois bem, a “Tarifa de Registro de Contrato” corresponde à prática de


atos que visam a garantir a publicidade do Contrato, mediante registro
nos órgãos administrativos competentes, nos termos do artigo 1.361, §
1.º, do Código Civil:

Art. 1.361. Considera-se fiduciária a propriedade


resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com
escopo de garantia, transfere ao credor.

§ 1º. Constitui-se a propriedade fiduciária com o


registro do contrato, celebrado por instrumento público
ou particular, que lhe serve de título, no Registro de
Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se
tratando de veículos, na repartição competente para o
licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de
registro.

São atos, portanto, inerentes à alienação fiduciária, que objetivam não


apenas a defesa dos interesses da instituição financeira, mas também
resguardar direitos de terceiros, os quais passam a ter ciência do
encargo que recai sobre o bem dado em garantia.

Para além de não haver vedação legal para essa prática, que foi
claramente informada à parte consumidora, também não se vislumbra
abusividade no valor cobrado a tal título (R$120,29), especialmente
quando considerado frente ao valor líquido liberado (R$51.999,00).

Já a cobrança que visa ao ressarcimento dos custos com a “Avaliação do


Bem”, tem sua razão de ser na conveniência da avaliação da garantia
prestada para o financiamento, a fim de possibilitar maior
credibilidade ao negócio, pois certo que, com o desgaste dos veículos
usados, seu preço pode sofrer variação significativa.

Quanto ao ponto, o e. Superior Tribunal de Justiça, em julgamento


submetido ao rito dos repetitivos, já consignou que não há ilegalidade
na cobrança do respectivo encargo, desde que seja devidamente informada
ao consumidor por ocasião da assinatura do Contrato e estabelecida em
valor razoável e compatível com a contratação:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. TEMA 958/STJ. DIREITO


BANCÁRIO. COBRANÇA POR SERVIÇOS DE TERCEIROS, REGISTRO
DO CONTRATO E AVALIAÇÃO DO BEM. PREVALÊNCIA DAS NORMAS
DO DIREITO DO CONSUMIDOR SOBRE A REGULAÇÃO BANCÁRIA.
EXISTÊNCIA DE NORMA REGULAMENTAR VEDANDO A COBRANÇA A
TÍTULO DE COMISSÃO DO CORRESPONDENTE BANCÁRIO.
DISTINÇÃO ENTRE O CORRESPONDENTE E O TERCEIRO.
DESCABIMENTO DA COBRANÇA POR SERVIÇOS NÃO EFETIVAMENTE
PRESTADOS. POSSIBILIDADE DE CONTROLE DA ABUSIVIDADE DE
TARIFAS E DESPESAS EM CADA CASO CONCRETO. 1.
DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA: Contratos bancários
celebrados a partir de 30/04/2008, com instituições
financeiras ou equiparadas, seja diretamente, seja por
intermédio de correspondente bancário, no âmbito das
relações de consumo. 2. TESES FIXADAS PARA OS FINS DO
ART. 1.040 DO CPC/2015: 2.1. Abusividade da cláusula
que prevê a cobrança de ressarcimento de serviços
prestados por terceiros, sem a especificação do serviço
a ser efetivamente prestado; 2.2. Abusividade da
cláusula que prevê o ressarcimento pelo consumidor da
comissão do correspondente bancário, em contratos
celebrados a partir de 25/02/2011, data de entrada em
vigor da Res.-CMN 3.954/2011, sendo válida a cláusula
no período anterior a essa resolução, ressalvado o
controle da onerosidade excessiva; 2.3. Validade da
tarifa de avaliação do bem dado em garantia, bem como
da cláusula que prevê o ressarcimento de despesa com o
registro do contrato, ressalvadas a: 2.3.1. abusividade
da cobrança por serviço não efetivamente prestado; e a
2.3.2. possibilidade de controle da onerosidade
excessiva, em cada caso concreto. 3. CASO CONCRETO.
3.1. Aplicação da tese 2.2, declarando-se abusiva, por
onerosidade excessiva, a cláusula relativa aos serviços
de terceiros ("serviços prestados pela revenda"). 3.2.
Aplicação da tese 2.3, mantendo-se hígidas a despesa de
registro do contrato e a tarifa de avaliação do bem
dado em garantia. 4. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
PROVIDO. (2.ª Seção, REsp 1.578.553/SP, Rel. Min. Paulo
De Tarso Sanseverino, julg. em 28.11.18 - grifou-se)

Na hipótese, muito embora o recorrente requeira a desconsideração do


documento produzido unilateralmente pela instituição financeira,
verifica-se que o Termo de Vistoria juntado ao mov. 22.3, fl. 4, possui
assinatura tanto do vistoriador, quanto do autor, extraindo-se do
documento que foram avaliadas a pintura, tapeçaria/estofamento, pneus e
estado geral do veículo.

Logo, é possível reconhecer a legalidade da cobrança da tarifa de


avaliação pela instituição financeira.

É como vem decidindo este e. Tribunal:

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE


CLÁUSULA CONTRATUAL CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO
– FINANCIAMENTO DE VEÍCULO COM GARANTIA EM ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA –
INSURGÊNCIA DE AMBAS AS PARTES RECURSO DE APELAÇÃO 01
DA REQUERIDA – VALIDADE DO SEGURO DE PROTEÇÃO
FINANCEIRA – QUESTÃO APRECIADA NO JULGAMENTO DO REsp
1639320/SP – TEMA 972/STJ – EXPRESSA PREVISÃO
CONTRATUAL – DISPOSIÇÃO POR MEIO DE CLÁUSULA OPTATIVA –
ASSINALADA ALTERNATIVA PARA CONTRATAÇÃO DO SEGURO –
LIBERDADE DE ESCOLHA DO CONSUMIDOR RESPEITADA –
CONTRATO DE SEGURO EFETIVAMENTE FIRMADO – RECURSO
PROVIDO RECURSO DE APELAÇÃO 02 DO AUTOR – TARIFA DE
AVALIAÇÃO DO BEM DADO EM GARANTIA – JUNTADA DE PROVA DA
EFETIVA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO – LAUDO DE VISTORIA –
VALIDADE DA COBRANÇA – REGISTRO DO CONTRATO – PREVISÃO
EXPRESSA NO INSTRUMENTO CONTRATUAL – PRESTAÇÃO DO
SERVIÇO REALIZADA – AUSÊNCIA DE ONEROSIDADE EXCESSIVA –
ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NO JULGAMENTO DO RESP
1.578.553/SP, SOB A SISTEMÁTICA DOS RECURSOS
REPETITIVOS – TEMA 958/STJ – RECURSO DESPROVIDO. (18.ª
Câm. Cív., AC 42293-43.2019.8.16.0019, Rel.ª Des.ª
Denise Kruger Pereira, unânime, julg. em 31.08.2020 –
grifou-se)

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO COM


CLÁUSULA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA – SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA - ILEGALIDADE DA COBRANÇA DE TARIFA DE
CADASTRO - OCORRÊNCIA - RESP Nº 1.578.553/SP - NÃO
COMPROVADA A CONTRAPRESTAÇÃO - RESTITUIÇÃO DOS VALORES
E ENCARGOS - TARIFA DE AVALIAÇÃO DO BEM – COMPROVAÇÃO
DE EFETIVA CONTRAPRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS - LAUDO DE
VISTORIA - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS POR TERCEIROS -
ESPECIFICAÇÃO - COMISSÃO DO CORRESPONDENTE BANCÁRIO -
POSSIBILIDADE - CONTRATO ANTERIOR A 25/02/2011 – TESE
2.2 DO RESP Nº 1.578.553/SP - REDISTRIBUIÇÃO DOS
HONORÁRIOS QUE SÃO FIXADOS POR EQUIDADE - ART. 85, §8º
DO CPC - RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (4.ª
Câm. Cív., AC 5021-70.2019.8.16.0130, Rel.ª Des.ª
Regina Afonso Portes, unânime, julg. em 02.08.2020 –
grifou-se)

Ademais, é importante consignar que além de não haver vedação legal


para essa prática, que foi claramente informada ao consumidor, também
não se vislumbra abusividade no valor cobrado a tal título (R$435,00).

Destarte, o recurso de Apelação II não comporta provimento quanto a


esses tópicos.

Com isso, resta prejudicado o pleito autoral de restituição do valor


dos juros remuneratórios cobrados e calculados indevidamente sobre os
valores relativos às tarifas de Avaliação, Registro de Contrato e “Cap.
parcela premiável”, em razão da legalidade da cobrança das referidas
tarifas e do título de capitação.

Conclusão e redistribuição da sucumbência

Ante o exposto, o voto é no sentido de se conhecer e negar provimento


ao recurso de BV FINANCEIRA S.A. (I) e de se conhecer e negar
provimento ao recurso de JEFERSON FERREIRA LEITE (II), para manter
incólume a r. Sentença.

O desprovimento de ambos os recursos enseja a fixação de honorários


recursais em desfavor de ambos os apelantes, segundo o entendimento
[1]
predominante nesta Câmara , a fim de remunerar os Causídicos pelo
trabalho adicional em Segundo Grau e impedir recursos sem fundamento e
ou meramente protelatórios, segundo a dicção do artigo 85, § 11, do
Código de Processo Civil.

Nesse contexto, considerando o caráter punitivo e remuneratório dos


honorários recursais, fixam-se-nos em R$500,00, a ser rateados entre as
partes, vedada a compensação (§ 14) e ressalvada a gratuidade
judiciária deferida à parte autora, aos fins do art. 98, § 3.º, do CPC,
vedada a compensação (art. 85, § 14, CPC).

III - DISPOSITIVO:

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 10.ª Câmara Cível do


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar
CONHECIDO E NÃO-PROVIDO o recurso de JEFERSON FERREIRA LEITE, por
unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO E NÃO-PROVIDO o recurso de BV
FINANCEIRA SA CREDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador Guilherme Freire De


Barros Teixeira, com voto, e dele participaram Juíza Subst. 2.º Grau
Elizabeth De Fátima Nogueira (relatora) e Desembargadora Elizabeth M.
F. Rocha.

Curitiba, 19 de abril de 2022.

Elizabeth de Fátima Nogueira

Juíza de Direito Substituta em 2.º Grau

[1] Desde a sessão realizada no dia 27.07.17, restou deliberado que os honorários
recursais “devem ser fixados para ambas as partes nos casos de sucumbência
recursal recíproca, ainda que uma delas não tenha direito de recebimento dos
honorários sucumbenciais (ou seja, “a expressão majorará deve aqui ser
relativizada, quer por força do caráter punitivo da regra do art. 85, § 11, do
CPC, quer por aplicação do princípio da igualdade entre as partes”)”. O Colegiado
tem se posicionado, com efeito, no sentido de que a sucumbência recursal não se
confunde com a sucumbência na causa, de modo que, com esse instituto, a majoração
de honorários deve se dar em favor da parte vitoriosa em Segundo Grau,
considerando o trabalho realizado nesta esfera.

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