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All content following this page was uploaded by Renata Tauil Martins Lanz on 14 June 2020.
Curso de Direito
Rio de Janeiro
2019.1
RENATA TAUIL MARTINS LANZ
Rio de Janeiro
2019.1
2
RESUMO
O presente estudo analisou como o uso de incentivos pode ser aplicado para a obtenção de
conformidade tributária na legislação do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica. A análise deste
trabalho foi fundamentada na legislação brasileira no âmbito constitucional, tributária com especial
atenção para o imposto sobre a renda da pessoa jurídica, e também, a legislação e experiência
internacional sobre conformidade tributária. Os resultados da análise indicaram que a implantação
de incentivos à conformidade tributária é compatível com o ordenamento jurídico brasileiro e tem
potencial para melhorar a eficiência e eficácia da administração tributária.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
2 DESENVOLVIMENTO
5 CARVALHO, Paulo de Barros. (Coord). Compliance no Direito Tributário. 1. ed. São Paulo:
objeto regulado, porém não há que se falar em compliance tributário sem que afete o
direito administrativo, civil, empresarial e penal. Além disso, há uma
interdisciplinaridade externa, em especial a contábil, além dos potenciais efeitos
econômicos e fiscais, decorrentes de uma maior eficiência e eficácia da
Administração Tributária (AT) sobre a arrecadação e o ambiente de negócios.
6 TORRES, R. L. Curso de Direito Financeiro e Tributário, 19. ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2013. p
99.
7 LIMA, L. M. M. A aplicação do dever de eficiência à Administração Pública Tributária e sua relação
com a Moral Tributária dos contribuintes. Revista Digital de Direito Administrativo, USP, v. 2, n. 1,
2015, p. 275.
8 BRASIL. Constituição (1988). Emenda constitucional nº 19, de 04 de junho de 1998. Modifica o
A partir desta análise verifica-se que a busca pelo compliance num sentido
amplo e pela conformidade tributária, em particular, tem suporte nos princípios
constitucionais da economicidade e eficiência. Portanto, se busca o compliance, por
parte dos contribuintes para melhorar a eficiência e a eficácia da Administração
Tributária.
No entanto, é necessário entender como obter esta conformidade pelo
contribuinte. Para esta análise é importante compreender os fatores que levam o
contribuinte a cada comportamento. Para isso, precisamos entender o conceito de
moral tributária, sua relação com o paradigma tradicional de uso sanções (teoria
econômica do crime) e como a conformidade é afetada pelos custos de
conformidade, que são os objetos de análise das próximas seções.
12 CUMMINGS, R. et al. Effects of Tax Morale on Tax Compliance: experimental and survey evidence.
Journal of Economic Behavior & Organization, v. 70, n. 3, jan. 2009. p. 447.
13 CUMMINGS, R. et al. op. cit., p. 450.
14 LIMA, L. M. M., op. cit., p. 275 e 287.
15 ALM, J.; TORGLER, B. Do ethics matter? Tax compliance and Morality. Tulane Economic Working
Paper Series. Working Paper 1207. New Orleans, LA: Tulane University, 2012, p. 4.
8
Tributário Brasileiro: O Peso das Obrigações Tributárias Acessórias ou dos Deveres Instrumentais.
Revista do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFC. v. 35.1, jan./jun. 2015, p. 219.
9
indústria alimentícia. Rev. Ciênc. Admin., Fortaleza, v. 21, n. 2, jul./dez. 2015, p. 393.
23 SANDFORD, Cedric; GODWIN, Michael; HARDWICK apud ZITTEI, M. V. M. et al ibid p. 394.
Lei Anticorrupção, apesar disso, já existiam outras legislações para regular e coibir
várias práticas a serem evitadas.
Nacional, o imposto sobre a renda, além dos princípios tributários, deve submeter-
se aos princípios da progressividade, generalidade e universalidade.
Segundo Fernandes29, a definição do fato gerador do imposto sobre a renda
é formada por dois elementos: (i) Aquisição de disponibilidade: a. jurídica, b.
econômica; e (ii) acréscimo patrimonial: a. renda, b. proventos de qualquer
natureza. A base do cálculo do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica é
identificada por Lucro presumido; Lucro real; ou Lucro arbitrado. A alíquota é
progressiva.
Como foi visto anteriormente, o uso de sanções, baseadas na Teoria
Econômica do Crime é um dos principais meios de obter o cumprimento das
obrigações tributárias. No entanto, de acordo com Carvalho30 não podem ser
impostos aos contribuintes obrigações, sanções ou restrições em medida superior
ao necessário para atendimento do interesse público, portanto deve-se observar os
limites da razoabilidade e proporcionalidade, adequação com o ilícito praticado.
No caso do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica, a partir da análise
da IN RFB 1.700/201731 pode-se identificar as principais sanções (multas,
penalidades e acréscimos). Para esta análise é importante diferenciar (i) os
acréscimos legais por atraso, como a multa e os juros de mora, que tem
possibilidade de recolhimento espontâneo, podendo desta forma ser considerados
como um estímulo ao compliance voluntário; (ii) da autuação fiscal, que é uma
multa de ofício, que pode inclusive ser originada de descumprimento de obrigações
acessórias.
A pessoa jurídica submetida à ação fiscal por parte da Receita Federal do
Brasil poderá pagar, até o vigésimo dia subsequente à data de recebimento do
termo de início de fiscalização, os tributos e contribuições já declarados, de que for
sujeito passivo como contribuinte ou responsável, com os acréscimos legais
aplicáveis nos casos de procedimento espontâneo, ou seja, de no máximo 20%,
não prevalecendo, neste caso, a multa de ofício na forma citada acima. Aqui mais
uma vez, pode ser identificado um estímulo ao compliance voluntário e
autorregularização pelo contribuinte.
De acordo com Stolle e Rodrigues Junior32, nas análises sobre evasão fiscal,
pode-se destacar efeitos positivos para a conformidade quando ocorre uma
aproximação entre fisco e contribuintes. Devido a diferença de poder entre as partes,
essa interação é hierarquicamente estruturada, pois a administração tributária pode
impor leis fiscais e punir os contribuintes não conformes. A interação das
autoridades tributárias pode ser dividida em duas: (i) o uso do poder coercitivo, o que
imputa a auditoria e a sanção; e (ii) o poder legítimo, o que decorre da percepção de
que a autoridade tributária está em posição de exigir o cumprimento das obrigações.
Dijk e Siglé33 analisaram estratégias de compliance cooperativo que visam
estimular a conformidade tributária dos contribuintes e concluíram que para obtê-lo a
Administração Tributária deveria investir em: melhorar a percepção de justiça
procedimental, reduzir a incerteza do contribuinte e melhorar o gerenciamento
tributário pelo contribuinte.
Para Bird34, as Administrações Tributárias devem estimular o compliance
facilitando que os potenciais contribuintes façam parte do sistema tributário. Para
isto deve-se simplificar o processo de registro do contribuinte (preferencialmente
com um registro único); facilitar a apuração dos tributos devidos, sejam estes
apurados pela Administração Tributária ou pelo próprio contribuinte; facilitar o
processo de recolhimento e prover o contribuinte com serviços, tais como
35 BRAITHWAITE, J. Meta Risk Management and Responsive Regulation for Tax System Integrity.
Law and Policy, 25(1), pp. 1-16, 2003, p.4-5.
36 OCDE-Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. Measures of Tax
37 USAID. Detailed Guidelines for Improved Tax Administration in Latin America and the Caribbean.
USAID Leadership in Public Financial Management (LPFM), 2013, p. 27.
38 FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL-FMI (2013). A Tax Administration Diagnostic Assessment
Tool (TADAT™ ). Washington: Multi-donor Trust Fund - International Monetary Fund, p. 5-6.
39 PASSOS, G. R. P. SPED – Sistema Público de Escrituração Digital: um novo paradigma em termos
ampliação da base de arrecadação, o que em última análise pode até mesmo criar
oportunidades para redução de alíquotas de tributos.
Considerando o conceito amplo de compliance tributário, duas experiências
brasileiras merecem destaque: A legislação do SIMPLES e do MEI.
A Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006 instituiu o Simples
Nacional, como “um regime compartilhado de arrecadação, cobrança e fiscalização
de tributos aplicável às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte”, que tem a
participação de todos os entes da federação (União, Estados, Distrito Federal e
Municípios)40. Entre as vantagens do Simples tem-se: (i) Possibilidade de menor
tributação em relação a outros regimes tributários (como Lucro Real ou Lucro
Presumido); (ii) Maior facilidade no atendimento da legislação tributária,
previdenciária e trabalhista; (iii) Simplificação no pagamento de diversos tributos
abrangidos pelo sistema, mediante uma única guia; (iv) Possibilidade de tributar as
receitas à medida do recebimento das vendas ("regime de caixa”); (v) Nas licitações
públicas será assegurada, como critério de desempate, preferência de contratação
para as microempresas e empresas de pequeno porte; (vi) Possibilidade de formar
SPE - Sociedade de Propósito Específico e participar de Consórcios Simples, para
compras e vendas de produtos e serviços; (vii) É facultado ao empregador de
microempresa ou de empresa de pequeno porte fazer-se substituir ou representar
junto à justiça do trabalho por terceiros que conheçam dos fatos, ainda que não
possuam vínculo trabalhista ou societário; (viii) Regras especiais para protesto de
títulos, com redução de taxas e possibilidade de pagamento com cheque; (ix) As
empresas enquadradas no Simples, assim como as pessoas físicas capazes,
também são admitidas como proponentes de ação perante o Juizado Especial; (x) A
grande maioria das empresas das optantes pelo Simples estão dispensadas da
entrega da apresentação da DCTF - Declaração de Débitos e Créditos de Tributos
Federais e de outros demonstrativos e declarações específicos, relativamente aos
períodos abrangidos por esse sistema.
A experiência do MEI pode ser classificada como uma grande iniciativa de
busca do compliance tributário voluntário a partir do uso de incentivos, através de
concessão de benefícios financeiros e simplificação de obrigações. Silveira, Carmo
Jurídico. 2017, p. 2.
43 BRASIL. Secretaria da Receita Federal do Brasil. Instrução Normativa RFB Nº 1598, de 09 de
CARVALHO, P. B. (Coord). Compliance no Direito Tributário. 1. ed. São Paulo : Thomson Reuters –
Revista dos Tribunais. 2018, p. 177 a 181.
17
delimitação clara das situações em que seria possível a autorregularização, que não
contemplaria indícios de infração, mas por exemplo, divergências e inconsistências
entre os registros e informações fiscais da Receita Federal e do contribuinte,
identificadas por processos informatizados e ou análises feitas por fiscais, mas em
casos em que ainda não estivesse caracterizada a infração. Este procedimento já é
adotado no caso do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, em que num
processamento inicial são identificadas pendências e divergências (“malha fina”)
sendo o contribuinte informado, com a possibilidade de correção antes de iniciado o
procedimento fiscal. Além disso foi adotado também para pessoa jurídica com o
Programa Alerta47, lançado em 2012.
Corrêa et al.48 apresentam cinco itens identificados pelos autores como
“graves inconsistências” da proposta, e que foram objeto de contribuição enviada à
Consulta Pública: (i) para os bons contribuintes, a instabilidade da portaria, que é
um ato unilateral da autoridade administrativa; (ii) princípios expressos apenas
simbolicamente sem correspondência com os dispositivos da portaria; (iii)
retroatividade da portaria até o ano de 2016, gerando insegurança e indo contra os
princípios de estimular a conformidade; (iv) critérios de classificação vagos e
subjetivos, violando os ideais de confiança e lealdade da Administração; e (v)
programa com mais sanções e punições que estímulos.
Com efeito, outra iniciativa do gênero, o programa “Nos Conformes”, do
Estado de São Paulo, endereçou de forma apropriada a maior parte dos itens
criticados pelos autores e poderia servir de exemplo: (i) foi proposto por Lei
Complementar Estadual, a Lei 1.320/2018, em amplo processo de discussão com
várias apresentações à sociedade civil, duas consultas públicas e debate legislativo;
(ii) princípios expressos de forma clara; (iii) implementação gradual, permitindo
adaptação dos contribuintes e contemplando somente conformidade futura; (iv)
critérios de classificação gerais claros e objetivos; e (v) rol de benefícios e
incentivos aos contribuintes expresso na própria lei.
A partir desta análise comparativa, das sugestões enviadas e da
experiência nacional com outros tributos, além das recomendações de organizamos
3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALM, James; TORGLER, Benno. Do ethics matter? Tax compliance and Morality.
Tulane Economic Working Paper Series. Working Paper 1207. New Orleans, LA:
Tulane University, 2012. Disponível em: <
https://www.researchgate.net/publication/226473623_Do_Ethics_Matter_Tax_Compl
iance_and_Morality>. Acesso em 26 abr. 2019.
BRAITHWAITE, John. Meta Risk Management and Responsive Regulation for Tax
System Integrity. Law and Policy, 25(1), pp. 1-16, 2003.
DIJK, Lisette Van der Hel van; SIGLÉ, Maarten. Managing compliance risks of large
businesses: A review of the underlying assumptions of co-operative compliance
strategies. eJournal of Tax Research, 760-783, 2015.
PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário completo. 10. ed. São Paulo:
Saraiva Educacão, 2019.
ROCHA, João Marcelo. Direito Tributário. 11 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018.
SILVEIRA, Amélia; CARMO, Hérmani Magalhães Olivenci do; SOUZA, Roosiley dos
Santos. Microempreendedor Individual (MEI): Benefícios e Desafios da Legislação
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TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário, 19. ed., Rio de
Janeiro: Renovar, 2013.
USAID. Detailed Guidelines for Improved Tax Administration in Latin America and
the Caribbean. USAID Leadership in Public Financial Management (LPFM), 2013.