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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ


FACULDADE DE DIREITO

CARLOS ROBERTO PICANÇO PASSOS JUNIOR

ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME

FORTALEZA
2016
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CARLOS ROBERTO PICANÇO PASSOS JUNIOR

ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME

Monografia apresentada ao Departamento de


Direito de Direito Público da Faculdade de
Direito da Universidade Federal do Ceará,
como requisito parcial para obtenção do Título
de Bacharel em Direito.

Orientadora: Prof.ª Mc. Fernanda Cláudia


Araújo da Silva.

FORTALEZA
2016
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CARLOS ROBERTO PICANÇO PASSOS JUNIOR

ISOLAMENTO E PRESERVAÇÃO DE LOCAL DE CRIME

Monografia apresentada ao Departamento de


Direito de Direito Público da Faculdade de
Direito da Universidade Federal do Ceará,
como requisito parcial para obtenção do Título
de Bacharel em Direito.

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________
Prof.ª Mc. Fernanda Cláudia Araújo da Silva (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará (UFC)

_______________________________________________
Msc. Átila Einstein de Oliveira
Doutorando UNIFOR

_______________________________________________
Bel. Demítrius Bruno Farias Valente
Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestrando UFC
5

Agradeço aos professores que contribuíram


para a minha caminhada até aqui e que
permitiram adquirir minhas aptidões
profissionais.
6

“É necessário abrir os olhos e fechar os


ouvidos.” (Nério Rojas)
7

RESUMO

A importância do correto isolamento e preservação do local de crime terá consequências


positivas no deslinde das investigações a respeito do crime cometido. Com a correta
percepção e perpetuação da cena de um crime feita pelo perito criminal, evita-se que
inocentes sejam prejudicados em seus direitos e liberdades, bem como impede que
culpados fiquem livres de responder pelos seus crimes. Abordar-se-ão questões sobre a
atual situação dos órgãos pericias em relação as policias civis, notadamente sobre a
separação deste órgãos públicos e da constitucionalidade do órgão pericial. Atraves do
Código de Processo Penal se esclarecerá os requisitos legais e os elementos obrigatórios de
um perícia, bem como as providências que devem ser tomadas quando da ocorrência de um
crime à luz da legislação. Abordando os fundamentos da Criminalística e da perícia
criminal será possível compreender o grande impacto nos resultados da perícia
consequentes de pequenas alterações ocorridas no local de crime devido a precariedade da
preservação da cena de crime.

Palavras-chaves: Local de crime. Perícia criminal. Criminalística. Prova pericial.


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ABSTRACT

The importance of proper insulation and preservation of the crime scene will have positive
consequences in the disentangling of the investigations regarding the crime committed.
With the correct perception and perpetuation of a crime scene made by the coroner, it is
prevented from innocent to suffer for their rights and freedoms and prevent culprits are free
to answer for their crimes. questions will address on the current situation of expertise
bodies on the civil police, notably on the separation of the public agencies and the
constitutionality of the expert body. Through the Criminal Procedure Code to clarify the
legal requirements and the mandatory elements of a skill as well as the measures to be
taken upon the occurrence of a crime under the law. Addressing the foundations of
Criminology and Forensic you can understand the great impact on consequent expertise of
results of small changes in the crime scene because of the precariousness of preserving the
crime scene.

Keywords: Crime location. Forensic. Criminology. Expert proof.


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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AESP Academia Estadual de Segurança Pública


CF Constituição Federal
CIOPS Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança
CPP Código de Processo Penal
PEFOCE Perícia Forense do Estado do Ceará
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................11
2 CRIMINALÍSTICA, PRESERVAÇÃO DO LOCAL DE CRIME E PROVA
PERICIAL...............................................................................................................12
2.1 A criminalística no âmbito das policias.................................................................12
2.2 A preservação do local de crime.............................................................................13
2.3 Prova pericial...........................................................................................................16
2.4 A preservação: mecanismo de isolamento – importância....................................18
3 A PERÍCIA EM FACE DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA................................22
3.1 Casos de nova perícia…..........................................................................................25
3.2 O assistente técnico..................................................................................................26
3.3 O isolamento e preservação de local de crime no Código de Processo Penal ...27
3.4 Do prazo para elaboração de exame e do laudo pericial.....................................28
3.5 Da fotografia............................................................................................................28
3.6 As perícias elencadas no Código de Processo Penal …........................................29
4 LOCAL DE CRIME E SUAS ESPECIFICIDADES...........................................31
4.1 Os Indícios e Vestígios.............................................................................................31
4.2 A preservação dos Vestígios....................................................................................32
4.3 Locais de Crime Contra a Vida..............................................................................32
4.4 Locais de Ocorrências de Tráfego..........................................................................33
4.5 Locais de Crime Contra o Patrimônio..................................................................35
4.6 Casos de Perícias de Imagens.................................................................................35
4.7 A Informática Forense.............................................................................................35
4.8 A Documestoscopia..................................................................................................36
4.9 A Grafoscopia...........................................................................................................36
4.10 Mortes por Asfixia...................................................................................................36
4.11 Mortes por Precipitação.........................................................................................37
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................38
REFERÊNCIAS......................................................................................................39
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1 INTRODUÇÃO

Serão apresentados os aspectos envolvidos na perícia criminal em local de crime


realizada por peritos oficiais e as diversas peculiaridades que envolvem o correto
isolamento de local de crime e sua preservação. No universo pericial existem atos oficiais
que antecedem a perícia de um local de crime. Após da denúncia de um crime, um policial
é deslocado por ordem superior da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança –
CIOPS e dirige-se ao local para verificar a ocorrência de fato delituoso.
Esse policial que foi acionado para um suposto local de crime, ao constatar que
houve realmente o crime, seja ele contra a vida, patrimônio ou ocorrência de trânsito com
lesão corporal, passa a ser responsável pela preservação do local e por providenciar o seu
correto isolamento. Nessas etapas e até a confecção do laudo pericial, o policial citado será
considerado como primeiro policial a chegar no local e esta informação constará no laudo
pericial no item histórico. Após a constatação do fato delituoso, o primeiro policial
solicitará a presença da Perícia Forense, e a CIOPS designará um Perito Criminal
plantonista para o local. Vale salientar que tudo o que ocorreu antes da chegada do Perito
Criminal no local de crime, poderá ter consequências jurídicas posteriores. E focando essa
questão iremos desenvolver o presente trabalho.
Após o término do levantamento pericial, o perito libera o local para a autoridade
policial. A partir desse momento haverá uma investigação in loco, feita pelos policiais
civis, buscando captar algo no cenário e nas próprias pessoas que estão próximas, tais
como parentes e testemunhas. É muito importante que essa primeira investigação seja feita
o mais rápida possível, pois a cada instante, as pessoas vão se distanciando e ficando
menos dispostas a informar algo. Inclusive, antes mesmo do término da perícia de local, a
equipe da polícia judiciária já inicia sua investigação nas cercanias do isolamento de local
de crime.
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2 CRIMINALÍSTICA, PRESERVAÇÃO DO LOCAL DE CRIME E PROVA


PERICIAL

A disciplina que abarca as questões relativas ao crime, englobando as polícias, bem


como a justiça e a sociedade é a Criminalística. Diferente da criminologia que enfoca as
características psicológicas e sociais do criminoso e da vítima.

2.1 A criminalística no âmbito das polícias

O Código Penal define com precisão os tipos penais e as penas, mas é o Código de
Processo Penal que fornece regras de operação e deveres inerentes aos agentes policiais e
do judiciário. Isto posto, vale frisar o Art. 158 do CPP determina que todo crime que deixar
vestígios deverá ser submetido a perícia, não a substituindo ou isentando desta
necessidade a prova testemunhal.
Por esta razão a perícia criminal se faz presente em ocorrências de tráfego com
vítimas lesionadas, pois devido a lesão ocorrida se compatibiliza a figura do crime de lesão
corporal que poderá ser denunciado por ocasião do inquérito policial.
No Brasil existe a figura definida em lei do perito oficial, onde o mesmo é
vinculado as policias judiciárias (Polícias Civis e Polícia Federal). Somente em caso que
não haja perito oficial disponível será nomeado um perito ad hoc. Existe um movimento
nacional onde todos os estados da federação caminham para a independência do órgão de
perícia da Polícia Civil. Em São Paulo e Pernambuco, por exemplo, foram criadas a Polícia
Científica de São Paulo e a Polícia Científica de Pernambuco por meio de Leis Estaduais.
No Ceará foi sancionada a Lei de criação da Perícia Forense do Estado do Ceará -
PEFOCE (Lei Estadual nº 14.055, de 7 de janeiro de 2008) concedendo autonomia
administrativa e financeira ao órgão. Porém os servidores peritos continuam vinculados à
Polícia Civil do Estado do Ceará e permanecem como Policiais Civis, sendo os mesmos
cedidos à PEFOCE onde são lotados.
Nesse diapasão também haverá a necessidade de um Projeto de Emenda
Constitucional que insira os órgãos de perícia estaduais no Art. 144 da Constituição
Federal da República Federativa do Brasil – CF de 1988. No citado artigo figuram todas as
polícias brasileiras e seria acrescentada a figura dos órgãos de Perícia Estaduais e Federal
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inclusive.
Atualmente, para garantir a constitucionalidade da atuação dos peritos oficiais do
estado do Ceará, os peritos atuam como policiais civis, estando portanto inseridos no Rol
do Art. 144 da CF/1988.

2.2 A preservação do local de crime

Agora que já se esclareceu que toda infração penal que deixar vestígios torna
obrigatória a perícia, vale explicar em qual momento a perícia será acionada para proceder
os exames perícias que se fazem necessários. Quando um crime ocorre, o mesmo é
comunicado à Polícia, seja através do telefone ou diretamente. Após a notícia do crime
ocorrido, uma equipe policial deverá deslocar-se ao local para verificar a veracidade e o
tipo de ocorrência em curso. Ao chegar no local de crime, o primeiro policial como é
chamado, deve certificar-se com relação à sua própria segurança e em seguida confirmar a
existência do crime tomando cuidado para alterar o estado das coisas (DOREA, 2012).
Após a confirmação da ocorrência, o primeiro policial deve providenciar o devido
isolamento do local de crime impedindo que qualquer pessoa entre na área isolada até a
chegada da perícia. Quando o perito criminal chega no local, deve se comunicar com o
primeiro policial a fim de receber todas as informações disponíveis do caso. Em seguida
deve o perito avaliar o isolamento e decidir por mantê-lo ou ampliá-lo (DOREA, 2012).
Nos locais de crime, se faz necessária a presença da autoridade policial, o delegado
de polícia, podendo este ser representado por membros da equipe da delegacia respectiva.
Após a perícia ser concluída, o local de crime é liberado para a autoridade policial.
Em cumprimento, vale salientar, com o disposto no Art. 169 do Código de Processo
Penal que segue:

Art. 169. Para efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade
providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos
peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas
elucidativos.
Parágrafo único – Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e
discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

O dispositivo acima, na verdade, trata mais da questão do isolamento e preservação


dos vestígios de um crime do que da própria perícia de local. Outrossim se refere de forma
indireta da perícia de local de crime.
A perícia de local de crime é de grande importância para o esclarecimentos dos
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fatos e um dos tipos de perícia que mais demanda esforço dos peritos, devido condições
adversas que muitas vezes se encontram durante os trabalhos de levantamento pericial in
loco.
Voltando um pouco ao histórico da criminalística, temos que no princípio cabia à
medicina legal, além dos exames de integridade física do corpo da vítima, toda a pesquisa,
busca e demonstração de outros elementos relacionados com a materialidade do crime,
como o exame dos instrumentos do crime e demais evidências(DOREA; QUINTELA;
STUMVOLL, 2012).
Com o desenvolvimento da sociedade e das ciências, nasceu uma nova disciplina
para pesquisa, análise e interpretação dos vestígios materiais encontrados em locais de
crime, sendo esta, fonte de apoio à Polícia e ao Judiciário.
Quanto a nomenclatura desse novo ramo científico, existem diversas, como polícia
científica, polícia técnica, ciência policial ou policiologia. Segundo Gilberto Porto, os que
se filiam à escola alemã usam o nome de Criminalística, que foi utilizado pela primeira vez
por Hans Gross, considerado o pai da Criminalística, juiz de instrução e professor de
direito Penal, em 1983, em Gratz, na Alemanha, ao publicar seu livro como sistema de
Criminalística, “Manual do Juiz de Instrução”.
A Criminalística, ainda segundo Gilberto Porto, não se constitui em uma ciência,
mas em disciplina transformada e elevada para um sistema, aplicando dados fornecidos por
diversas ciências, artes e outras disciplinas, utilizando os próprios métodos inerentes a
essas ciências.
A definição dada à Criminalística, por ocasião do 1º Congresso Nacional de Polícia
Técnica, durante o ano de 1947, em São Paulo é: “Criminalística: disciplina que tem por
objetivo o reconhecimento e interpretação dos indícios materiais extrínsecos relativos ao
crime ou à identidade do criminoso. Os exames dos vestígios intrínsecos (na pessoa) são da
alçada da medicina legal.”
Nesse conceito, objetiva-se que a moderna Criminalística necessariamente esteja
imbuída do fator da dinâmica, com análise dos vestígios materiais, as interligações entre
eles, bem como dos fatos geradores, a origem e a interpretação dos vestígios, os meios e
modos como foram perpetrados os delitos, não se restringindo, tão somente, à fria estática
narrativa, sem vida, da forma como se apresentam os vestígios, isto é, ao simples visum et
repertum (DOREA; QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
Doutrinariamente temos que, entre os principais postulados da criminalística,
destacam-se:
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Primeiro, o conteúdo de um Laudo Pericial Criminalístico é invariante com relação


ao Perito Criminal que o produziu: como os resultados de uma perícia criminalística são
invariavelmente baseados em leis científicas, com teorias e experiências consagradas, seja
qual for o perito que recorrer a estas leis para analisar um fenômeno criminalístico, o
resultado não poderá depender dele, indivíduo (DOREA; QUINTELA; STUMVOLL,
2012).
Em segundo, as conclusões de uma perícia criminalística são independentes dos
meios utilizados para alcançá-las: utilizando-se os meios adequados para se concluir a
respeito do fenômeno criminalístico, esta conclusão, quando forem reproduzidos os
exames, será constante, independentemente de se haver utilizados meios mais rápidos,
mais precisos, mais modernos ou não (DOREA; QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
E por último, a Perícia Criminalística é independente do tempo: principalmente
sabendo-se que a verdade é imutável em relação ao tempo decorrido (DOREA;
QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
Com relação aos princípios fundamentais da Perícia Criminalística, eles se referem
à observação, à análise, à interpretação, à descrição e à documentação da prova.
Enumerando os princípios, temos a seguir:
1) Princípio da Observação: “Todo contato deixa uma marca” Edmond Locard.
Em locais de crime, a pesquisa e a busca dos vestígios nem sempre é uma
missão fácil, quando em muitos casos tais elementos resultantes da ação
delituosa, quer originários dos autores, quer originários das vítimas,
somente podem ser detectados atraves de análises microscópicas, ou
mesmo, aparelhos de altíssima precisão, tais como os utilizados para exame
de DNA. Mas o mais importante a se frisar, é que não existem ações em que
não resultem provas, sabendo-se, ainda, que é notória a evolução e pesquisa
do instrumental científico capaz de detectar esses vestígios.
2) Princípio da Análise: “A análise pericial deve sempre seguir o método
científico: A perícia científica visa a definir como o fato que ocorreu
(teoria) atraves de uma criteriosa coleta de dados (vestígios e indícios), que
permitem estabelecer-se conjeturas sobre como se desenvolveu o fato,
formulando-se hipóteses coerentes sobre ele. É esse o método científico que
baseiam as condutas periciais, que permitem estabelecer-se, às vezes, no
próprio local dos exames, uma teoria completa sobre o fenômeno, ou, em
outras oportunidades, dependendo de exames complementares.
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3) Princípio da Interpretação: “Dois objetos podem ser indistinguíveis, mas


nunca idênticos”. Este princípio, também chamado de “Princípio da
Individualidade”, preconiza que a identificação deve ser sempre enquadrada
em três graus, ou sejam: a identificação genérica, a específica, e a
individual, sendo que os exames periciais deverão sempre alcançar este
último grau.
4) Princípio da Descrição: “O resultado de um exame pericial é constante com
relação ao tempo e deve ser exposto em linguagem ética e juridicamente
perfeita”. Os resultados dos exames periciais, sempre baseados em
princípios científicos, não podem variar pela passagem do tempo; e, ainda
considerando que qualquer teoria científica deve gozar da propriedade da
refutabilidade, os resultados da perícia, quando expostos atraves do Laudo,
devem ser de uma forma bem clara, racionalmente dispostas e bem
fundamentadas.
5) Princípio da documentação: “Toda amostra deve ser documentada, desde
seu nascimento no local de crime até sua análise e descrição final, de forma
a se estabelecer um histórico completo e fiel de sua origem”.

2.3 Prova pericial

A palavra prova origina-se do latim probatio, que significa experimentação,


verificação, exame, confirmação, reconhecimento, confronto e origina o verbo probare. A
palavra é usada em sentidos destintos. Vulgarmente significa tudo aquilo que pode levar ao
conhecimento de um fato, de uma qualidade, da existência ou precisão de algo.
No mundo jurídico, a prova representa os atos e os meios usados pelas partes e
reconhecidos pelo Juiz como sendo a verdade dos fatos alegados.
Contudo, em quaisquer de seus significado, representa sempre o meio utilizado pelo
para, atraves da percepção, demonstrar uma verdade.
Pode-se conceituar prova como sendo o conjunto de meios idôneos, visando à
afirmação da existência positiva ou negativa de um fato, destinado à fornecer ao Juiz o
conhecimento da verdade, a fim de gerar sua convicção quanto à existência ou inexistência
dos fatos deduzidos em Juízo (DOREA; QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
Existem três tipos de prova, a testemunhal, a documental e a material. A prova têm
como objeto o fato, cujo se deseja ver reconhecido. Pode ser direta ou indireta, no primeiro
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tipo quando se refere imediatamente ao fato probando, ao fato cuja prova é desejada, no
segundo tipo quando se refira a outro fato do qual por questão de lógica se chega ao fato
que se deseja provar realmente, necessitando entretanto de um trabalho de raciocínio
indutivo (DOREA; QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
Por exemplo, se uma testemunha afirma que viu o crime temos uma prova direta do
ilícito penal, sendo nesse caso uma prova direta do tipo testemunhal. Já se a testemunha
declara apenas que viu o réu sendo capturado após perseguição policial, temos uma prova
indireta, pois para concluir que o acusado preso é o mesmo que fugiu após o delito se faz
necessário o uso da indução lógica. Assim, com a prova direta é possível uma conclusão
imediata e objetiva, enquanto que com a prova indireta se faz necessário o raciocínio, com
a formulação de hipóteses, exclusões e aceitações, para um conclusão final. São provas
indiretas as presunções e os indícios.
A prova pericial é a prova resultado do trabalho científico dos peritos, como a
coleta de vestígios e a perpetuação do cenário do local de crime. Através do cenário
reproduzido através de fotografias, desenhos ou croquis é possível ao perito efetuar um
estudo sobre a dinâmica dos fatos e sobre as diversas possibilidades, o que possibilita
finalmente a formulação das hipóteses como mencionado anteriormente, como também
será possível ao Juiz de Direito ter contato com o cenário do crime, mesmo que este já
tenha sido completamente desfeito, atraves do laudo pericial, daí porque utiliza-se a
palavra perpetuar durante os trabalhos da perícia.
A partir das hipóteses já formuladas é possível inferindo outros vestígios, a
exclusão de algumas das hipóteses existentes, fazendo com que entre as hipóteses restantes
esteja a verdadeira e que descreve os fatos ocorridos no local do crime.
Uma das finalidades do levantamento pericial é a da legalização do indício, pois
não basta que cada um dos indícios, quando adequadamente analisado e interpretado, esteja
revestido e albergado de rigoroso valor científico, havendo sempre a necessidade de que o
surgimento, a origem desse vestígio, bem como sua relação com o local do crime tenham
o pressuposto característico de sua autenticidade legal, ou seja, esteja eficazmente
comprovado sua veracidade de relação com o fato que se analisa. E esta autenticidade deve
ser convalidada na forma como são registrados todos os vestígios, com o intuito de que as
informações científicas fornecidas pelos vestígios estejam realmente legalizadas e
vinculadas ao fato (DOREA; QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
Os peritos criminais, nos seus exames periciais em local de crime, quando
constatam e registram a presença de vestígios materiais e os apreendem para posteriores
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exames complementares em laboratórios, independem da formulação de autos especiais ou


de constatação, ou ainda, de autos de apreensão, revestidos, todos, com as respectivas
formalidades legais, como a presença de testemunhas, etc., providências estas
diligentemente requeridas pelo Código de Processo Penal, eis que referidos profissionais
estão imbuídos do que comumente se designa fé pública.
Quando, no entanto, os vestígios são constatados e recolhidos de um local de crime
por pessoa não credenciada processual e criminalisticamente para o exame do local, para
transporte ao laboratório, com a finalidade de serem submetidos a exames posteriores, é
necessária a lavratura do correspondente e respectivo auto de apreensão que fornecerá ao
vestígio em foco toda sua autenticidade legal, garantindo seu valor jurídico (DOREA;
QUINTELA; STUMVOLL, 2012).

2.4 A preservação: mecanismo de isolamento - importância

O isolamento e a preservação do local do crime garante que o perito encontrará a


cena do crime conforme fora deixada pelo infrator(es) e vítima(s), para assim ter condições
de analisar todos os vestígios. Também garante que a investigação tenha muito mais
elementos a analisar e levar para o inquérito e, posteriormente para a justiça.
A lei exige que o perito informe atraves do laudo pericial se a preservação deixou
de ser feita ou ocorreu com falhas, e quais as consequências destas falhas para o
levantamento pericial, conforme aduz o Art. 169 do Código de Processo Penal:

Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a
chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou
esquemas elucidativos.
Parágrafo Único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e
discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

Este dispositivo legal, trouxe uma responsabilidade enorme ao perito criminal.


Devemos compreender que esta exigência visa resguardar o local de crime, garantindo o
isolamento e preservação, assegurando a idoneidade dos vestígios a serem analisados
(DOREA; QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
O perito não deve deixar de realizar o exame solicitado por falta de preservação ou
qualquer outra alteração. Deve examinar da forma como encontrou e registrar em seu laudo
o estado original do local do crime em seu laudo, tais como condições de portas, se
trancadas, arrombadas ou abertas por exemplo.
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A preservação se refere tanto ao local do crime quanto aos objetos coletados pelo
perito criminal. No primeiro, a preservação é de responsabilidade do primeiro policial que
chegou na ocorrência, daí a grande importância do correto isolamento do local de crime,
pois somente corretamente isolado, o local será de fato preservado, pois existem vestígios
extremamente sensíveis que se desfarão ao menor toque, pegada, esbarro, etc.
Quanto a preservação dos objetos coletados pelo profissional de perícia criminal no
local periciado, sua preservação se relaciona com o correto acondicionamento na
embalagem correta e na cadeia de custódia. Somente com uma cadeia de custódia plena
será possível inibir manipulações mecânicas indevidas nos objetos, pois com a cadeia de
custódia em funcionamento, somente pessoas habilitadas terão acesso aos objetos
coletados e já condicionados pelo perito, e mesmo assim, na hipótese de acesso, este ficará
registrado na ficha individual de cadeia de custódia indicando quais foram os profissionais
que ficaram responsáveis pelo objeto durante todo o tempo, bem como como ficará
registrado as condições em que cada um dos participantes recebeu tal objeto implicando
em uma maior responsabilidade e responsabilização por eventuais alterações nos objetos
custodiados (DOREA, 2012).
A preservação é de importância tal, que peritos da Informática Forense quando do
início de seus trabalhos periciais, copiam a prova digital, e somente na cópia produzida
eles procedem os exames, pois todo contato com a mesma, por menor que seja produz
alterações que podem ter implicações futuras importantes.
Vale lembrar da tarefa que cabe ao perito de local de crime, que após a coleta dos
vestígios no local deve tratá-los antes armazená-los para o devido encaminhamento, pois
alguns deles exigem cuidados especiais, principalmente aqueles que possuem umidade e
em especial amostras de sangue, as quais estão sujeitas ao ataque por fungos. No caso de
amostra de sangue com proliferação de fungos, a mesma torna-se imprestável para um
futuro exame de DNA, inutilizando o seu potencial identificador exclusivo.
Os materiais que serão encaminhados para balística também devem ser tratados,
pois no caso de projéteis, onde as marcas contidas no mesmo serão analisadas no
equipamento denominado micro comparador balístico, caso não sejam corretamente
lavados para livrá-los do sangue que possa estar impregnado nos mesmos, sofrerão um
processo de oxidação que terminará por deformar aquelas marcas originadas no raiamento
do cano da arma que os disparou, tornando inviável o trabalho futuro do perito da balística
devido tais deformações por oxidação no projétil.
Com relação ao acondicionamento, cada tipo de objeto coletado pelo perito requer
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uma embalagem distinta. Amostras de material biológico, por exemplo são coletadas em
SWAB, um cotonete especial, sendo que o mesmo dever ser acondicionado em uma
caixinha de papelão, preso pela haste apenas, ficando o algodão suspenso e sem tocar nas
paredes da caixinha.
Além da perda de uma evidência material por motivo de deterioração ocasionada
por preservação inadequado, existe outro tipo de perda, a jurídica. Existem casos em que
devido a falta de um correto isolamento de local de crime e da devida cadeia de custódia, o
advogado solicita que a prova contida nos autos seja considerada inidônea e que a mesma
seja desconsiderada por completo no julgamento da ação. Essa desconsideração de uma
única prova ou várias provas, pode culminar em verdadeira impunidade na seara da justiça
criminal, configurando-se uma tragédia para a ciência pericial. Sem perícia, não existem
culpados nem inocentes, visto que, essa mesma prova pericial pode culminar na inocência
de algum dos acusados.
Assim, demonstra-se a importância da perícia criminal para a justiça, sendo a
mesma verdadeiro instrumento de aferição do magistrado, tal como a balança simbólica
presente no ícone da justiça.
Faz-se necessário que o Estado corrija eventuais falhas existentes atualmente nesse
processo para evitar que provas periciais sejam contestadas juridicamente tornando-se
inválidas prejudicando a Justiça e causando impunidade. Daí a importância da
problematização do assunto, que têm sido descuidado pelo Estado, causando um
incalculável prejuízo para a Justiça.
A preservação de local de crime, não diz respeito somente a alteração dos vestígios,
mas também a eventual destruição completa de vestígios mais frágeis. Esse é o grande
perigo de um local mal preservado, onde os vestígios mais sutis se perderão para sempre ao
simples tocar imprudente de alguém.
Como exemplo temos as impressões digitais, que ao menor toque podem ser
borradas ou sobrepostas, e temos também vestígios de material biológico que com o toque
podem adquirir amostras de material genético da pessoa que as tocou.
Em alguns casos, chega-se a colher amostra de material genético até mesmo da
equipe pericial, para que se possa descartar qualquer resultado influenciado acidentalmente
pelo material genético dos profissionais que estiveram na cena do crime. Percebe-se com
isso o nível de sensibilidade de tais vestígios.
Um erro comumente cometido em local de crime contra a vida, pela equipe policial
que primeiro chegou ao local é providenciar um isolamento deficiente devido seu tamanho,
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abarcando uma área pequena demais, que por vezes só engloba o corpo praticamente.
Nesses casos, o perito irá ampliar a área de isolamento determinando qual é a nova área a
ser isolada. Mas infelizmente, até a chegada da perícia, aquela área permaneceu sem
isolamento e foi exposta aos transeuntes e curiosos fazendo com que parte dos vestígios se
perca de forma irremediável.
Para corrigir as falhas no isolamento do local do crime feito pelos policiais, foram
inseridos com maior destaque nos cursos de formação destes profissionais, as corretas
técnicas e procedimentos operacionais. As instruções devidas são fornecidas aos
profissionais, mas infelizmente na prática, devido ao grande clamor no local de crime e por
vezes a pressa, ocorrem descuidos. Mas é preciso disciplina e que se respeite o correto
procedimento de isolamento de local de crime. A polícia também depende da
conscientização da população, que deverá evitar a aglomeração ao redor das fitas de
isolamento, dando espaço para o desenvolvimento tranquilo dos trabalhos de
levantamento.
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3 A PERÍCIA EM FACE DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

É de suma importância que o perito criminal tenha determinados conhecimentos


sobre direito penal e processual penal. Isso porque ao fazer um levantamento pericial vão
existir determinadas implicações que vão influenciar no futuro quando o processo chegar a
justiça. Por exemplo, em um levantamento pericial de arrombamento simples, onde embora
não existam quesitos formulados oficialmente ao perito, o mesmo deve atentar se houve
escalada do invasor e se o mesmo rompeu barreira, que serão elementos qualificadores
dentro do tipo penal de furto. Assim, caso o perito não tenha conhecimento das
qualificadoras, ele pode efetuar o levantamento constatando o arrombamento mas
esquecendo de registrar a materialidade de uma escalada efetuada pelo invasor por
exemplo. Com relação ao Código de Processo Penal, o seu Art. 155 diz que:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvados as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.

Ou seja, o juiz da causa não fica vinculado ao conteúdo dos laudos periciais, não
ficando adstrito ao laudo. O que está explicitado no Art. 182 do CPP: “Art. 182. O juiz não
ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.”.
Conforme demonstra Luiz Eduardo Dorea (DOREA; QUINTELA; STUMVOLL,
2012, pág. 14) sobre o Art. 155:
Ao analisarmos este artigo de forma mais ampla e associada a uma visão técnico-pericial,
nos mostra que o juiz ao considerar todo o conjunto das provas carreadas para o processo
judicial , será – no entanto – livre para escolher aquelas que julgar convincentes.
A nova redação do mencionado artigo trouxe restrições às informações oriundas da
investigação policial, mas ressalva aquelas provas cautelares que não são repetíveis e,
portanto devem ser produzidas antecipadamente ao processo legal, aqui inserida está a
prova pericial. Na verdade, a ressalva para a prova pericial está em harmonia com o seu
próprio destino, que é a justiça, conforme determinado no artigo 178, para que o laudo
pericial deva ser juntado ao processo e, portanto, não fala no inquérito policial.
Este artigo 155 nos ressalta dois aspectos importantes da perícia. O primeiro pela
consagração jurídica (isso desde 1941) do princípio da Doutrina da Criminalística Brasileira
do Exame do Corpo de Delito e, o segundo, o destaque da importância da perícia, mais
ainda agora com a ressalva inserida pela mencionada Lei nº 11.690/2008.
Nesse particular, quando o juiz rejeita uma prova pericial (ou qualquer outra), obviamente
ele deverá justificar formalmente esta preferência, conforme determinam os artigos 200 e
381, inciso III:
Art. 200. A confissão será divisível e retratável , sem prejuízo do livre convencimento do
juiz, “fundado no exame das provas em conjunto”. - grifo nosso
Art. 381.
23

III. A sentença conterá: […] a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a
decisão[...].

Outra conclusão a respeito do Art. 155, é a de que não existe hierarquia de provas.
Todas as provas podem ter o mesmo valor no processo. Mas na prática a prova pericial
pelo seu caráter eminentemente material tem um maior aproveitamento sobre as demais
provas (DOREA; QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
É pré-requisito do perito, a formação de nível superior, de acordo com o Art. 159 do
CPP: “ Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito
oficial, portador de diploma de curso superior.”.
Caso não seja possível a atuação de um perito oficial, será nomeado pelo juiz um
perito ad hoc, também portador de diploma de nível superior, conforme descrito no
parágrafo primeiro do Art. 159 que diz: “ §1º. Na falta de perito oficial, o exame será
realizado por 2 (duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada
com a natureza do exame.”.
A exigência de dois peritos oficiais foi flexibilizada através da nova redação do Art.
159 do CPP: “ Art. 159. O exame de corpo delito e outra perícias serão realizados por
perito oficial, portador de diploma de curso superior.”
Entretanto vale ressaltar o parágrafo sete do mesmo Art. que diz que em se tratando
de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, poder-
se-á designar atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente
técnico.
Atualmente na Perícia Forense, já é prática comum que em casos mais complexos e
os que abrangem notadamente mais de uma área de conhecimento sejam tratados por uma
equipe multitarefa. Houve casos em que a atuação dos peritos criminais da Informática
Forense foi de fundamental importância para solucionar de forma definitiva a investigação
criminal. Em outras ocasiões específicas foram chamados a participar do caso peritos
criminais com formação nos cursos de Engenharia, complementando tecnicamente os
trabalhos dos peritos criminais de locais de crime que tivessem outra formação.
Atualmente, de acordo com o Código de Processo Penal, cabe à autoridade policial
(delegado de polícia), presidente do Inquérito Policial, requisitar a perícia, conforme
determina o inciso VII do Art. 6º:
“ Determinar, se for o caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras
perícias.”
24

Também poderão determinar a realização de perícias, o juiz e o promotor de justiça.


Entretanto, como o delegado de polícia é o primeiro a tomar conhecimento e é o presidente
do inquérito, é ele quem normalmente exerce essa prerrogativa. O Art. 47 estabelece a
prerrogativa do promotor de requisitar exames periciais, assim o diz: “Art. 47. Se o
Ministério Público julgar necessários maiores esclarecimentos e documentos
complementares ou novos elementos de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, de
quaisquer autoridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los.”
A prerrogativa do juiz fica expressa no Art. 423 que especifica:

Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem produzidas ou exibidas no


plenário do júri e adotadas as providências devidas, o juiz presidente:
I – ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que
interesse ao julgamento da causa.
[…]

Em casos de crimes militares (Polícias Militares ou Forças Armadas) onde o oficial


que preside o Inquérito Policial Militar poderá requisitar os respectivos exames periciais ao
órgão de Perícia Forense (DOREA; QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
Com relação as situações de CPIs levadas a efeito no Legislativo federal estadual
ou municipal, pode o seu Presidente requisitar a realização de exames periciais,
diretamente ao Diretor do órgão de Perícia (DOREA; QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
A requisição de realização de perícia é obrigatória, não se tratando de mera
prerrogativa processual, mas de um dever de ofício de terminado pelo Código de Processo
Penal em seu Art. 158 já citado anteriormente.
Cabe ressaltar que a requisição da perícia é feita pelo delegado de polícia, juiz,
promotor de justiça ou mesmo pelo próprio juiz, entretanto, sendo perito oficial, a
designação do profissional que irá executá-la somente poderá ser feita pelo diretor do
Instituto de Criminalística ou Instituto de Medicina Legal, respectivamente conforme
determinado pelo Art. 178 do CPP: “ Art. 178. No caso do art. 159, o exame será
requisitado pela autoridade ao diretor da repartição, juntando-se ao processo o laudo
assinado pelos peritos.”
No Art. supracitado, o legislador teve dois cuidados, o primeiro de obstruir
qualquer relação direta entre o requisitante os peritos oficiais que irão proceder com o
exame pericial, evitando-se ingerências, preferências ou recusas sobre determinados
peritos, por parte da autoridade. O segundo cuidado relaciona-se com a questão da
especialização necessária para que o perito realize o tipo de exame que está sendo
25

requisitado, já que o diretor do órgão pericial deve saber qual profissional é o mais
adequado para o caso.
As partes de uma investigação criminal também podem solicitar determinada
perícia, desde que o juiz ou a autoridade policial dê sua anuência, em conformidade com o
Art. 184 que segue: “ Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou
autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao
esclarecimento da verdade.”
Sendo portanto obrigatório a aceitação da solicitação de exame de corpo de delito
feita pela parte.

3.1 Casos de nova perícia

Vão sempre existir casos em que as autoridades envolvidas levantem dúvidas sobre
laudos periciais, notadamente nos casos de grande repercussão na imprensa.
Devido ao clamor da sociedade e as vezes na pressa de dar uma resposta rápida, as
autoridades terminam por desacreditar os trabalhos que ainda vãos ser concluídos ao
adiantarem suas percepções pessoais do caso, prejudicando sobremaneira a recepção do
resultado pericial.
Em caso de real necessidade de maior esclarecimento sobre um resultado ou mesmo
sua completa correção, o Art. 181 do CPP norteia o modo e a forma:

Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades


ou contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou
esclarecer o laudo.
Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por
outros peritos, se julgar conveniente.

Depois de feito o laudo, apenas o juiz poderá ordenar a sua revisão ou a feitura de
um novo exame por outros peritos.
Casos as partes acreditem que haja imprecisão ou erro no laudo, deverão solicitar
ao magistrado para que tome as medidas necessárias.
Entretanto, durante os trabalhos periciais antes da expedição do laudo, o delegado,
o promotor, o juiz ou as partes (estas por meio de petição ao delegado de polícia ou ao juiz,
feita pelo advogado), poderão formular quesitos aos peritos, a fim de que eles respondam
atraves do laudo, conforme indicado no Art. 176 do CPP: “ Art. 176. A autoridade e as
partes poderão formular quesitos até o ato da diligência.”
26

Esta mesma prerrogativa das autoridades e partes formularem quesitos está


mencionada também indiretamente no Art. 160 do CPP: “ Art. 160. Os peritos elaborarão o
laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos
quesitos formulados.”
Lembrando que o perito é obrigado a responder os quesitos, não podendo se furtar
de fornecer a resposta aos tais.
Vale ressaltar que após concluído o laudo pericial, tais quesitos não poderão mais
serem formulados, exceto pelo juiz, é o que determina o Art. 181 do CPP: “ Art. 181. No
caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou
contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou
esclarecer o laudo.”

3.2 O assistente técnico

A Lei nº 11.690/2008 introduziu no processo penal o importante dispositivo que


autoriza a atuação do assistente técnico nos processos criminais.
No Art. 159 do CPP em seus parágrafos terceiro e quarto discorre sobre a atuação
do assistente técnico:

[…]
§3.º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao
querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.
§4.º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos
exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta
decisão.

O parágrafo terceiro criou a figura do assistente técnico, que pode ser indicado por
qualquer das partes, conforme ali discriminado. Já o parágrafo quarto estabelece o
regramento de como será sua atuação.
O assistente técnico tem acesso inclusive as provas utilizadas pelos peritos,
podendo inclusive submetê-las a testes que desejarem, é o que diz o parágrafo sexto do
mesmo artigo:

[...]
§6.º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia
será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na
presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua
conservação.
27

O Art. 159 do CPP no seu parágrafo sexto detalhou nos pormenores o modo como
se dará o acesso do assistente técnico ao material probatório.

3.3 O isolamento e preservação de local de crime no Código de Processo


Penal

A Lei nº 8.862/94 regulamentou o isolamento e a preservação de local de crime


através do Art. 6º do CPP definindo a responsabilidade da autoridade policial:

Art. 6º. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial
deverá:
I. dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e a conservação das
coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II. apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos
criminais;

Infelizmente, não são em todos os locais que comparecem as autoridades policiais,


sendo o papel de isolar o local de crime exercido unicamente pela polícia militar nesses
casos. Na prática, os delegados só comparecem aos locais de crime antes da chegada da
perícia nos crimes de homicídio e latrocínio, sendo que em algumas localidades do interior
do Estado do Ceará, nem mesmo nestes. Em alguns casos comparecem somente membros
da equipe da delegacia sem o seu titular, ficando este representado pelos inspetores e
escrivães.
Existe uma dificuldade no trabalho pericial, relacionado aos caso de ocorrências de
tráfego onde os veículos são removidos e o local é completamente desfeito. Isso pode
ocorrer com guarida na Lei nº 5.970/73 que determina:

Art. 1º. Em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou agente policial que primeiro tomar
conhecimento do fato poderá autorizar, independentemente de exame do local, a imediata
remoção das pessoas que tenham sofrido lesão, bem como dos veículos nele envolvidos, se
estiverem no leito da via pública e prejudiquem o tráfego.
Parágrafo único. Para autorizar a remoção, a autoridade ou agente policial lavrará boletim
da ocorrência, nele consignado o fato, as testemunhas que o presenciaram e todas as demais
circunstâncias necessárias ao esclarecimento da verdade.

A partir desta lei conclui-se que o poder executivo tentou atribuir à Polícia
Rodoviária Federal a tarefa de realizar “perícias” nos acidentes de tráfego ocorridos nas
rodovias federais. Inclusive com a edição do Decreto nº 1.655, de 03/10/95, inserindo no
Art. 1º, o inciso V (realizar perícias, levantamentos de locais, boletins de ocorrências,
28

investigações, testes de dosagem alcoólica e outros procedimentos estabelecidos em


leis e regulamentos, imprescindíveis à elucidação dos acidentes de trânsito). Ocorre
que tal decisão afronta o CPP, que determina que todas as perícias sejam realizadas por
peritos oficiais , abrindo somente a exceção ao perito ad hoc com formação superior
quando não houver perito oficial. Além do mais, um decreto não pode revogar uma lei,
conforme todos sabem sobre a hierarquia das leis (DOREA; QUINTELA; STUMVOLL,
2012).
Nos casos em que o local é desfeito antes da chegada do perito, o trabalho pericial
fica muito prejudicado, podendo e alguns casos impossibilitar a conclusão.

3.4 Do prazo para elaboração de exame e do laudo pericial

Desde a vigência da Lei nº 8.862/94, o prazo para os peritos confeccionarem o


laudo pericial é de dez dias, conforme o parágrafo único do Art. 160 do CPP:

Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que
examinarem, e responderão aos quesitos formulados.
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 (dez) dias,
podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.

Tal prazo não vem sendo cumprido nos diversos Institutos de Perícia espalhados no
Brasil, devido ao crescimento da demanda de exames e a defasagem de pessoal, havendo
muitas vagas desocupadas nestes órgãos.
Com relação aos exames, o Código de Processo Penal não determina expressamente
um prazo para elaborar o exame pericial, visto que ficaria muito difícil estabelecer na
legislação processual um prazo dessa natureza devido a complexidade variável de cada tipo
de exame.

3.5 Da fotografia

A fotografia passou a ser obrigatória para local de crime com cadáver de acordo
com o Art. 164 do CPP: “Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em
que forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e
vestígios deixados no local do crime.”
O recurso fotográfico tem um caráter exclusivo e insubstituível de fornecer ao
usuário do laudo uma dimensão real da cena existente no local de crime, perpetuando
29

assim a imagem que de outra forma se perderia.


Em alguns casos, existem detalhes percebidos somente na análise das fotografias e
que são inclusos no laudo pericial.

3.6 As perícias elencadas no Código de Processo Penal

No Código de Processo Penal, a perícia teve sua importância reconhecida para o


processo criminal, inclusive determinando requisitos mínimos para determinados tipos de
perícias.
Os Art.s 169 ao 175 do CPP, tratam especificamente dos tipos de perícia. O
primeiro tipo é o geral, aquele em que houve infração penal que deixou vestígios, o
segundo diz respeitos as perícias de laboratório.
Nas perícias de laboratório, referida pelo Art. 170 do CPP: “Art. 170. Nas perícias
de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova
perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou
microfotográficas, desenhos ou esquemas.”
Determinando portanto, que se guarde material para um segundo exame ou terceiro
exame posteriores nestas perícias, a contraprova.
O artigo seguinte trata das perícias em local de crime contra o patrimônio:

Art.171. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da


coisa, ou por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com
que instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado.

Nesse artigo, o CPP fornece a instrução perfeita ao perito, evitando que o mesmo se
omita com relação a detalhes que serão fundamentais na qualificação do tipo penal e
dosimetria da pena.
O Art. 172 do CPP trata da avaliação pecuniária que servirá de orientação ao juiz,
principalmente na aplicação da pena do réu. Quando não for possível a avaliação direta,
será feita a avaliação indiretamente atraves das informações que forem reunidas no laudo
pericial. Como exemplo, em um levantamento, o perito pode indicar que foi danificada
determinada extensão de muro, ficando o mesmo demolido, sendo indicado no laudo
pericial, o comprimento deste muro e sua natureza. Com base na descrição e medidas é
possível efetuar uma avaliação posterior do valor monetário do referido prejuízo. Segue
abaixo o Art. 172 do CPP:
30

Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, deterioradas


ou que constituem produto do crime.
Parágrafo único. Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão à avaliação por
meio dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem de diligências.

O artigo subsequente trata da perícia de incêndio, onde o objetivo principal do


perito será de identificar se a origem do incêndio foi acidental (culposo) ou intencional
(dolosa ou criminosa).

Art. 173.No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver
começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a
extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do
fato.

O Art. 174 do CPP, trata das perícias documentoscópicas. Documentoscopia é o


estudo e a análise de documentos em geral, com o objetivo de verificar a sua autenticidade
e/ou integridade, ou a autoria do punho escritor e/ou o instrumento gráfico produtor
(DOREA; QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
Estas abordagens que o Código de Processo Penal faz com relação a perícia
forense, servem de norte e trilho para o trabalho dos peritos oficiais, além de conectar o
trabalho destes com o exercido pelos delegados de polícia, propiciando que as autoridades
policiais tenham todas as provas materiais possíveis de serem produzidas a sua disposição
antes de remeter o inquérito policial para o judiciário.
31

4 LOCAL DE CRIME E SUAS ESPECIFICIDADES

Após as primeiras providências, quando da ocorrência de um crime como já


mencionadas, o isolamento do local de crime e o acionamento da autoridade policial e da
perícia e chegando no local o perito criminal, começará então seu trabalho de
levantamento.
Inicialmente o perito deve perceber o estado geral das coisas, por exemplo, ao
adentrar o ambiente se local interno, deve observar se a porta de entrada possui sinais de
arrombamento, se esta destrancada, se possui chave nela ou nas proximidades, etc. Tudo
deve ser anotado, pois é errado confiar na memória exclusivamente.

4.1 Os Indícios e Vestígios

Tudo o que é observado no local da perícia, é vestígio. É importante esclarecer a


diferença entre vestígio e indício. Os vestígios após serem relacionados direta ou
indiretamente com o crime se tornam indícios.
O Art. 239 do Código de Processo Penal define bem o que é indício: “ Art. 239.
Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que tendo relação com o fato ,
autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.”
Assim, no local de crime, nada pode ser desprezado antes de uma análise inicial,
pois todos os fatos, marcas, sinais, vestígios, podem vir a contribuir para o esclarecimento
da autoria e da materialidade do delito.
Os indícios podem ser classificados entre indícios próximos, indícios manifestos e
indícios distantes. Os primeiros são os relacionados diretamente com o crime. Os indícios
manifestos são os que resultam da próprio natureza do crime, por exemplo um orifício na
parede causado por um disparo de arma de fogo. E por último, os indícios distantes são os
que possuem uma relação com o crime meramente aceitável.
Existe ainda a divisão entre vestígios verdadeiros, ilusórios e falsos. O vestígio
falso é aquele deliberadamente forjado por alguém com a finalidade de induzir o perito ao
erro e de mascarar a realidade dos fatos. O vestígio ilusório é aquele que pode levar ao
engano, porém não foi introduzido intencionalmente no local. E o verdadeiro, aquele que
realmente se relaciona com os fatos e é consequência real da dinâmica do crime e que após
32

a sua análise se tornará um indício.

4.2 A preservação dos Vestígios

A correta coleta e acondicionamento do material e em quantidade suficiente para as


análises futuras é fundamental para que não se perca um vestígio. Inclusive ao embalar,
deve-se utilizar embalagens individuais, evitando que haja contaminação entre um vestígio
e outro. Para coletas de material biológico visando a pesquisa genética, é necessária a
utilização de luvas descartáveis, sendo as mesmas trocadas a cada coleta. Deve-se utilizar
também máscaras descartáveis nesses casos, pois o simples ato de falar diante de uma
amostra pode contaminá-la com o material genético do perito.
O tempo é fator determinante para resultados positivos, tornando premente que o
procedimento padrão de encaminhamento de amostras coletadas em local de crime pelos
peritos aos laboratórios sejam dotados de agilidade e possuam o menor número de
intermediários possíveis. Não se admitindo que determinado material até chegar ao
laboratória tenha que passar por vários setores antes, tais como centrais de custódia,
cartório, delegacias, malotes, etc.
A identificação e a correta etiquetagem permite além da correta cadeia de custódia,
a correta localização do objeto na cena do crime, para tanto é preciso que objetos de
mesma natureza sejam numerados sequencialmente e que exista registro que ligue sua
numeração com a sua posição no local de crime, propiciando que seja feita se solicitada, a
reprodução simulada do crime.

4.3 Locais de Crime Contra a Vida

Nas ocorrências com vítima fatal, além da morte natural ocasionado por idade
avançada ou doença, teremos a morte violenta, sendo os casos de morte violenta
subdivididos em homicídio, suicídio e acidente.
Existem alguns casos em que no local será possível determinar o tipo de morte, o
que será confirmado posteriormente por ocasião da necrópsia. Em outros casos, devido a
ausência de sinais de violência e de lesões, não é possível determinar preliminarmente o
tipo de morte
Nos locais de morte por arma de fogo, o cuidado na coleta dos materiais é
fundamental, pois o trabalho do perito deverá ser complementado com o realizado na área
33

de balística forense. A arma do crime, pode fornecer material genético da pessoa que a
manipulou bem como impressões digitais da mesma. Os projéteis e estojos coletados
poderão indicar o calibre, bem como poderão ser comparados com alguma arma suspeita
encaminhada para a perícia. Com o devido levantamento de local de crime e os devidos
exames balísticos, será possível determinar se o disparo de arma de fogo foi acidental,
homicídio ou suicídio.
Durante os exames, o perito deve fotografar os vestígios na posição em que se
encontram originalmente. As fotografias, são um instrumento poderoso de trabalho
pericial. Algumas vezes, determinado detalhe dos objetos são percebidos quando as
fotografias são analisadas pelo perito. Isso ocorre até mesmo por questões de iluminação,
onde em locais escuros, o flash da câmera fotográfica permite a visualização precisa de
detalhes minuciosos dos objetos observados no local de crime.
A vítima também deve ser examinada ainda no local. As vestes do cadáver devem
ser observadas, se estão desalinhadas, se possuem alguma perfuração ou mancha, etc. O
corpo da vítima também manifesta sinais que contam ao perito algo. É o caso da rigidez
cadavérica que sugere o tempo de morte decorrido. Existem também os livores
hipostáticos, que são manchas que surgem na pele decorrentes do fato que após parar de
circular, o sangue dentro do corpo humano se deposita nas regiões mais baixas por ação da
gravidade. Após algumas horas, os livores hipostáticos se fixam e mesmo que o corpo seja
mexido e sua posição alterada, o perito terá como saber que aquela não era a posição
original do corpo e que o mesmo foi mudado de posição por alguém.
São pequenos detalhes e técnicas que vão subsidiando o perito na reconstituição da
dinâmica dos eventos passados. O profissional da perícia não se baseia somente no que
está posto diante de seus olhos, mas tudo passa por um processo de validação.

4.4 Locais de Ocorrências de Tráfego

Será necessária a perícia em ocorrência de tráfego quando nesta houverem vítimas


com lesão, vítimas fatais, veículos oficiais ou dano ao patrimônio público. Sendo a perícia
instrumento de persecução penal, apurando nessas ocorrências os crimes de homicídio
doloso, homicídio culposo, lesão corporal e dano ao patrimônio.
Guardando alguma semelhança com o levantamento de local de crime contra a
vida, nos caso de ocorrências de tráfego, o perito não se convencerá diretamente com o
cenário existente no momento da perícia, mas irá convalidá a posição dos elementos tais
34

como veículos, com base em técnicas de observação e percepção. Um veículo pode ter sua
posição modificada antes da chegada da equipe pericial. Porém existem maneiras de
distinguir quando a posição final de um veículo é original ou não, levando em
consideração principalmente marcas existentes na via, tais como sulcagens, frenagens, etc.
Tais marcas não podem ser movidas de local e por isso recebem atenção especial e servem
para validar os demais elementos percebidos pelo perito. Uma moto ao cair e deslizar sobre
a via, muito provavelmente causará marcas de sulcagens no asfalto e com base nessas
marcas podemos inferir a direção e sentido do deslocamento da mesma, bem como sua
posição final original.
O isolamento e preservação de locais de ocorrência de tráfego é importante
também, pois muitas vezes o trânsito de veículos no local não é interrompido devidamente
e ocorre a destruição de vestígios, sendo carreado material existente sobre a via.
Salientando que com base da posição dos fragmentos de veículos após a colisão, pode-se
estimar a direção dos vetores velocidades dos veículos envolvidos. Tal informação se
perderá se a circulação de veículos e transeuntes desmanchar o espalhamento original dos
fragmentos de veículos.
O perito ao iniciar o levantamento pericial de ocorrência de tráfego deverá anotar
como está as condições de tempo, da via e de iluminação.
Uma perícia de trânsito se torna mais precisa com a observação dos pequenos
detalhes. As vezes com a colisão, ocorre a ruptura do radiador de um dos veículos e devido
a alta pressão da água, a mesma esguicha por sobre a via fazendo um desenho que
demostra perfeitamente o local onde houve o impacto e qual o percurso feito pelo veículo
após a colisão.
O local onde ocorre a colisão é denominado sítio de colisão. Por vezes a
determinação do sítio de colisão é determinante para a conclusão do laudo pericial, são
estes os casos em que um veículo invade a contramão de circulação ou a faixa do outro
veículo.
As marcas de frenagens longas permitem calcular parte da velocidade do veículo
com base em equações de física levando em consideração o atrito entre a banda de
rodagem do pneumático e a via. Deve ser levado em consideração para tal cálculo o tipo de
pavimentação da via, se camada asfáltica, calçamento, areia, etc. Em casos extremos,
somente o excesso de velocidade pode determinar que um dos veículos deu causa à
ocorrência (ALMEIDA, 2011).
Deverão ser especificados no corpo do laudo pericial, os veículos, os condutores, as
35

avarias, o local, os vestígios, a dinâmica e a conclusão do laudo.

4.5 Locais de Crime Contra o Patrimônio

A missão do perito nos locais de crime contra o patrimônio será responder


primordialmente as perguntas: Onde? Quando? Como? Quem? Com que meio? (DOREA;
QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
São estas perguntas a serem respondidas que devem servir de norte ao profissional
durante os levantamentos periciais. Além é claro de atentar para pontos específicos já
mencionados, como se houve escalada e se houve rompimento de obstáculo.
Assim, além de caracterizar a ação, o objetivo da perícia também será identificar o
autor. Essa identificação pode se dar de diversas formas, não só atraves do tradicional
confronto de impressões digitais, mas pode ser feita a identificação atraves de gravações
que encaminhadas ao setor de áudio e vídeo da perícia poderá fornecer uma identificação
positiva do autor do delito ou mesmo de seu veículo por exemplo.

4.6 Casos de Perícias de Imagens

Na análise de imagens de vídeo, além da identificação de pessoas, poderão ser


atestadas circunstâncias específicas do caso, como por exemplo afirmar se uma arma que
aparece no vídeo é verdadeira ou apenas uma réplica.
Pode ser identificados modelos de veículos, placas, pessoas e até mesmo a idade de
vítimas como nos casos de crimes sexuais.

4.7 A Informática Forense

O trabalho desenvolvido pelos peritos forenses no ramo da informática possui


grande potencial de solução de casos. Atraves da extração dos dados existentes em
computadores e celulares por exemplo. Os aparelhos celulares do tipo smartphone
inclusive, são verdadeiros computadores, com a vantagem que possuem muitos metadados,
que são informações agregados aos arquivos salvos, tais como localização, data e horário.
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4.8 A Documestoscopia

Responsável por atestar a originalidade de documentos, a documentoscopia


depende do fornecimento de padrões que são materiais idênticos aos que serão analisados e
que são sabidamente originais.
Existem casos em que documento possuem o suporte verdadeiros, ou seja, o papel
onde são preenchidos, mas seu conteúdo não corresponde à um registro verdadeiro. Como
no exemplo de habilitação fraudada impressa em suporte verdadeiro desviado de algum
Departamento de Trânsito.

4.9 A Grafoscopia

Os peritos se utilizarão da grafoscopia na análise de manuscritos como intuito de


identificar o punho escritor. Serão utilizados padrões já existentes, ou produzidos
submetendo o suspeito a fornecer amostras de escritas dentro do Órgão de Perícia.

4.10 Mortes por Asfixia

Os suicídio com utilização de corda ou assemelhado, dependurando-se amarrado


pelo pescoço é denominado enforcamento. O enforcamento deixa marcas no pescoço da
vítima diferentes do estrangulamento e da esganadura. Sendo o estrangulamento feito com
uso de algum instrumento para fazer constrição do pescoço da vítima, que pode ser um
corda, fio, corrente, etc. E a esganadura é a contrição do pescoço da vítima feita utilizando-
se somente as mãos nuas.
Outro tipo de morte por asfixia é o sufocamento que consiste em impedir que a
vítima aspire o ar, usando alguma barreira física (sufocação direta) ou comprimindo seu
tórax (sufocação indireta).
As últimas duas espécies de morte por asfixia são o soterramento e o afogamento.
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4.11 Mortes por Precipitação

A classificação deste tipo de causa de morte é direta e intuitiva, sendo subdividida


em precipitação voluntária (suicídio), acidental ou forçada (homicídio). Embora difícil,
ainda sim é possível diferenciar os subtipos de precipitação no local de crime com base na
distância em que o corpo é projetado para a frente. Em casos de queda acidental, o corpo
tende a cair junto a edificação, em casos de homicido o corpo projeta-se a uma distância
intermediária e nos casos de suicídio o corpo projeta-se o mais longe possível da edificação
(DOREA; QUINTELA; STUMVOLL, 2012).
Na prática, em uma perícia de morte por precipitação, caso o corpo seja movido de
local, isso irá dificultar a avaliação do perito sobre o caso, demonstrando a importância do
correto isolamento do local de crime e sua preservação.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se que o aprimoramento da postura adotada pelos integrantes das forças de


segurança pública deve ser constante buscando maximizar a efetivação da justiça. Com
uma justiça efetiva reduz-se a impunidade e por consequência a criminalidade, já que a um
dos combustíveis para o crime é a certeza da impunidade. Na busca desse aprimoramento,
atualmente a Academia Estadual de Segurança Pública – AESP, possui em todas as grades
curriculares dos cursos de formação profissional dos policias, disciplina específica que
aborda o tema isolamento e preservação de local de crime.
Dos procedimentos indicados no Código de Processo Penal mencionados na
segunda parte do trabalho, percebe-se a necessidade de uma sinergia entre os participantes
da apuração penal, destacando-se o trabalho em conjunto exercido pelo delegado de polícia
e o perito criminal ainda no local de crime durante os levantamentos periciais. Sendo a
perfeita sincronicidade entre estes profissionais que vai garantir o adequado desempenho
dos misteres de cada profissional envolvido.
Atraves do detalhamento dos tipos de perícia e suas especificidades foi possível a
compreensão do nível de detalhe existente nos mais diversos tipos de perícia,
possibilitando assim, vislumbrar a importância do devido isolamento e preservação do
local de crime e suas consequências para o bom resultado do trabalho pericial e da
investigação policial. Evitando-se assim, que pela não preservação adequada dos vestígios
de local de crime, fique prejudicado o resultado do laudo pericial, peça que após integrar o
inquérito policial será remetida em suas integralidade ao judiciário. O maior perigo de um
laudo pericial incompleto que tenha sido prejudicado pelos fatores mencionados, é que a
justiça não se faça devidamente e com isso haja impunidade que é verdadeiro combustível
para a criminalidade que tanto maltrata a sociedade.
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REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Lino Leite de; Manual de perícias em acidentes de trânsito – Campinas,


SP: Millennium Editora, 2011.

BRASIL; Código de Processo Penal;Decreto-Lei Nº 3.689, de 3 de Outubro de 1941.


_______; Código Penal; Decreto-Lei Nº 2.848, de 7 de Dezembro de 1940.
_______; LEI Nº 5.970, Decreto-Lei Nº 5.970 de 11 de Dezembro de 1973.
_______; LEI Nº 8.862, Decreto-Lei Nº 8.862 de 28 de Março de 1994.
_______; LEI Nº 11.690, Decreto-Lei Nº 11.690 de 9 de Junho de 2008.

CEARÁ; Lei Estadual Nº 14.055, Decreto-Lei Nº 14.055 de 7 de Janeiro de 2008.

DOREA, Luiz Eduardo; QUINTELA, Victor; STUMVOLL, Victor Paulo; Criminalística;


organizador: Domingos Tocchetto. - 5.ed. Campinas, SP: Millennium Editora, 2012. (Série
tratado de perícias criminalísticas).

DOREA, Luiz Eduardo, Local de crime - 2.ed. - Campinas, SP: Millennium Editora,2012.
(Série tratado de perícias criminalísticas / organizador Domingos Tocchetto).

GRECO, Rogério; Curso de Direito Penal: parte especial, volume III – 10 . ed.
Niterói, RJ: Impetus, 2013.
______________; Curso de Direito Penal: parte especial, volume IV – 6. ed. Niterói, RJ:
Impetus, 2010.

LOPES, Dilza Maria B.; A Importância do Local de Crime Violado para a denúncia
do Ministério Público – Fortaleza, 2008. Monografia – Universidade Federal do Ceará –
Departamento de Ciências Sociais.

PORTO, Gilberto; Manual de Criminalística – 2 ed. São Paulo: Sugestões Literárias S.


A., 1969.
40

TOCCHETTO, Domingos; ESPÍNDULA, Alberi; Criminalística: procedimentos e


metodologias – Tocchetto e Espíndula – 2 ed. Porto Alegre: [s.n] 2009.

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