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FACULDADE FAVENI

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM PERÍCIA CRIMININAL

ZÓZIMO FERNANDES PEREIRA JÚNIOR

A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO FORENSE E


PERÍCIA CRIMINAL NA AÇÃO PENAL

NITERÓI
2023
2

A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO FORENSE E


PERÍCIA CRIMINAL NA AÇÃO PENAL

Zózimo Fernandes Pereira Júnior1

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi
por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas
por mim realizadas para fins de produção deste trabalho. Assim, declaro, demonstrando minha plena
consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso
se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do
Contrato de Prestação de Serviços).

Artigo a ser apresentado à Banca do Exame do Curso de Pós-Graduação em Perícia


Criminal da Faculdade Faveni, como requisito para aprovação na disciplina de TCC.

NITERÓI – RJ
2023

1
Pós-Graduação em Perícia Criminal pela faculdade FAVENI. kauim_2@hotmail.com
3

RESUMO

Este artigo objetiva discutir a importância da investigação forense e perícia pericial


na ação penal, dando-se ênfase à importância do local do crime. Para tanto, explica
a importância da perícia criminal; expõe a função da criminalística e da investigação
dos vestígios; discute estratégias e cuidados que devem ser observados para que o
local do crime não seja alterado e melhor reflita a materialização do delito; e elenca
as causas que levam à falha na proteção do local do crime antes que seja realizada
a perícia e perspectivas de solução. Como metodologia adotou-se como método de
abordagem o descritivo-analítico e como método de procedimento a pesquisa
bibliográfica em doutrinas que espelham o entendimento sobre o tema em análise,
permitindo concluir que a perícia criminal é de grande importância para a ação
penal. A cena do crime é de grande importância para a ciência forense e sua
preservação pode ser o fator decisivo em um processo criminal. Por esta razão,
desde os primeiros momentos a cena do crime deve ser protegida adotando-se
medidas rigorosas contra a contaminação, posto que a cena do crime é a melhor
metodologia para garantir que uma investigação seja conduzida adequadamente e
que a justiça seja cumprida.

Palavras-chave: Perícia criminal. Ação penal. Local do crime. Preservação.


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ABSTRACT

This article aims to discuss the importance of forensic investigation and expert
expertise in criminal proceedings, emphasizing the importance of the crime scene.
Therefore, it explains the importance of criminal expertise; exposes the function of
criminalistics and the investigation of traces; discusses strategies and precautions
that must be observed so that the crime scene is not altered and better reflects the
materialization of the crime; and it lists the causes that lead to the failure to protect
the crime scene before the investigation is carried out and the prospects for a
solution. As a methodology, the descriptive-analytical approach was adopted and
bibliographical research on doctrines that reflect the understanding of the subject
under analysis as a method of procedure, allowing the conclusion that criminal
expertise is of great importance for criminal action. The crime scene is of great
importance for forensic science and its preservation can be the deciding factor in a
criminal case. For this reason, from the outset, the crime scene must be protected by
adopting strict measures against contamination, as the crime scene is the best
methodology to ensure that an investigation is properly conducted and that justice is
served.

Keywords: Criminal expertise. Criminal action. Crime scene. Preservation.


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................6

2 METODOLOGIA.........................................................................................................8

3 DESENVOLVIMENTO...............................................................................................9
3.1 A IMPORTÂNCIA DA PERÍCIA CRIMINAL............................................................9
3.2 A CRIMINALÍSTICA E A IMPORTÂNCIA DOS VESTÍGIOS................................13
3.3 A NECESSIDADE DA PRESERVAÇÃO DO LOCAL DO CRIME........................15

4 CONCLUSÃO...........................................................................................................21

REFERÊNCIAS...........................................................................................................22
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1 INTRODUÇÃO

Sabe-se que a aplicação da justiça em crimes que deixam vestígio requer


uma perícia criminal bem conduzida, com fundamentação científica e que inspire
credibilidade. Para que estas necessidades sejam supridas, o Código de Processo
Penal, no art. 158, requer que a perícia seja realizada nestes crimes e, no art. 159,
obriga que sua realização seja conduzida por perito oficial, com nível de formação
superior. Porém, apenas o cumprimento dessas normas pode não bastar, pois, pelo
Princípio da Troca de Locard, os objetos ou materiais, quando interagirem,
permutam características, mesmo que microscópicas. Desta forma, o não-
isolamento do local de crime e a permissão de entrada de pessoas e/ou animais
muito provavelmente irá contaminar os vestígios materiais que se encontram na
cena do crime que, se não fossem alterados, poderiam contribuir para elucidar o
delito.
O presente trabalho tem como objetivo geral discutir, segundo a ótica da
doutrina que aborda a prova pericial, a importância da investigação forense e perícia
pericial na ação penal, dando-se ênfase à importância do local do crime.
Para atingi-lo, foram delineados os seguintes objetivos específicos: explicar a
importância da perícia criminal; expor a importância da criminalística e da
investigação dos vestígios; discutir estratégias e cuidados que devem ser
observados para que o local do crime não seja alterado e melhor reflita a
materialização do delito; e elencar as causas que levam à falha na proteção do local
do crime antes que seja realizada a perícia e perspectivas de solução.
O interesse pelo tema surgiu, pois, sabe-se que muitas vezes, a cena do
crime é alterada por simples falhas por parte daqueles que chegaram primeiro ao
local e na maioria das vezes, estas falhas ocorrem por ignorância sobre as cautelas
que devem ser tomadas para que o local do crime mantenha-se preservado tendo
em vista que a visão que se tem da investigação criminal, não raro, é que trata-se de
um processo fragmentado, por faltar coordenação e integração dos diversos
segmentos que integram este processo e fazer com que os resultados obtidos
fiquem aquém dos almejados.
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A realização do presente artigo justifica-se pelo fato de a preservação do local


do crime ser um ponto de grande importância na etapa persecutória criminal, tendo
em vista que é a partir dela que é possível ter a primeira impressão fática a respeito
da apuração do evento criminoso que irá ocorrer no futuro.
O local do crime quando não preservado pode dar margens para que os
vestígios sejam forjados ou que os vestígios deixados pelos criminosos sejam
confundidos com os deixados por outras pessoas que estiveram no local e o
modificaram após a ocorrência do crime. Isto faz, muitas vezes, que as provas
coletadas pela perícia fiquem contaminadas e, portanto, inservíveis. E mais grave:
pode levar à condenação de um inocente.
Desta feita, busca-se demonstrar que para que o local do crime seja isolado
e preservado, maior atenção deve ser dada a ações padronizadas, imparciais e
fidedignas, e não somente ações preconizadoras que objetivam a presunção do
crime.
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2 METODOLOGIA

Com vistas a alcançar os objetivos propostos neste projeto foi empregada a


pesquisa teórico-dogmática, tendo em vista que foi realizada uma revisão de
literatura em doutrinas e legislações com o intuito de atingir aos objetivos propostos
nesta pesquisa.
As áreas de conhecimentos abrangidas pela presente pesquisa apresentam
caráter transdisciplinar, perpassando searas distintas da Ciência do Direito, a
exemplo do Direito Penal, Direito Processual Penal e Perícia Criminal. No campo do
Direito Penal, destacam-se as provas admitidas no Brasil com vistas a elucidar um
crime. No que tange à incidência da Perícia Criminal, destaca-se a importância da
análise de vestígios deixados no local do crime, a exemplo de digitais e materiais
genéticos.
Quanto à natureza da abordagem, a pesquisa define-se como qualitativa, à
medida que se propõe a fazer um relato detalhado da investigação, se dedicando a
compreender e interpretar o problema e sua contextualização, a partir da perspectiva
do sujeito com relação ao mundo e sua visão da realidade social (CARNEIRO,
2017). Destaque-se que a pesquisa qualitativa se mostra apropriada ao objeto de
estudo, pois foi necessário empregar métodos abertos, a fim de englobar a
complexidade da problemática, a qual está inserida num contexto de tempo e
espaço.
Trata-se, pois, de um estudo exploratório com relação aos seus objetivos, que
visa apresentar uma pesquisa bibliográfica com vistas a conhecer as ideias e
pensamentos de alguns autores que se dedicam ao estudo da perícia criminal.
No que concerne às técnicas de pesquisa, visando uma melhor organização
metodológica do processo investigativo, o qual tem por base, a delimitação de
conceitos, explanação de antecedentes históricos, estabelecimento de premissas e
fundamentos teóricos, bem como ponderações de cunho crítico-reflexivo e
epistemológico sobre a temática, elegeu-se como técnica mais apropriada a do tipo
direta, consubstanciada por meio de fontes bibliográficas (baseada em dados já
coletados, analisados e documentados, como: livros, artigos científicos de revistas
eletrônicas de base de dados indexados e de impressos de periódicos, além de sites
oficiais de instituições nacionais acessíveis via internet).
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3 DESENVOLVIMENTO

3.1 A IMPORTÂNCIA DA PERÍCIA CRIMINAL

O acesso à justiça pode ser discutido sob diversos aspectos. Um deles


consiste no acerto das decisões, que dependem da análise correta dos fatos e da
ótima aplicação da lei que regula os efeitos desses fatos.
Como ensina Castro (2007), a finalidade da adjudicação é a correta aplicação
de leis em vigor ao material verdadeiro de prova que foi coletado. A lógica da
justificação de decisões judiciais envolve a aplicação de princípios gerais de
arrazoamento prático. A decisão judicial é legítima, se e apenas se, ela é justificada
com argumentos que satisfaçam ao requerimento moral de justiça formal, que
determina que casos semelhantes devem ser resolvidos de forma semelhante.
Dúvidas sobre a regra motivam questões de direito; dúvidas sobre os fatos, motivam
questões de fato.
Inicialmente, é importante observar que a expressão “prova” apresenta uma
pluralidade de significados jurídicos. Por vezes, refere-se à atividade probatória em
si, em outras, ao resultado advindo dessa atividade e, ainda, aos meios de prova.
Nesse contexto, o vocábulo pode ter uma acepção objetiva ou subjetiva. Quando se
quer indicar o ato de provar ou as técnicas voltadas à instrução, utiliza-se o sentido
objetivo. Por outro lado, ela é subjetivamente identificada quando se refere ao
resultado da atividade, tomando em conta a sua atuação na convicção do
magistrado (MIRZA, 2016).
Seja como for, a prova será o cerne do processo. Isso porque o objetivo
principal da jurisdição é efetivar um resultado prático favorável ao titular do direito, e
a identificação dessa titularidade pressupõe a análise dos elementos fáticos
demonstrados nas provas. Assim, o resultado do processo depende essencialmente
da administração dos elementos de prova que tenham sido trazidos aos autos.
Alguns fatos são complexos, outros são provados através de documentos,
outros descobertos através de depoimento de testemunhas, depoimento das partes,
enfim os meios de provas são diversos. A análise de fatos complexos normalmente
é delegada à opinião de um perito.
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Nas palavras de Vicente Greco Filho (2002, p.179) “a prova é todo elemento
que pode levar o conhecimento de algum fato a alguém” e sua finalidade também
seria o convencimento do juiz, a quem a prova se destinaria.
Moacyr Amaral Santos (2011, p.377) entendia que a prova teria a finalidade
de convencer o juiz quanto à existência ou inexistência dos fatos sobre que versa a
lide, sendo os fatos objeto da prova.
Leonardo Greco (2011) destaca que a palavra prova é utilizada no meio
jurídico em vários sentidos, entre os quais seriam os principais os usos como meio,
como atividade e como resultado. A prova como meio seria a oferta de possibilidade
de construção de um raciocínio lógico para motivar a conclusão com base nos fatos
no processo. Como atividade a prova constituiria a colheita de elementos de
convicção para o processo e estaria associada a uma busca pela verdade
processual. Na concepção da prova como resultado a prova passa a ser um
fenômeno humano, utilizado pelo conhecimento em todas as áreas do saber e não
um fenômeno exclusivo do processo judicial.
A prova como resultado é o que Greco (2011) denomina de concepção
metajurídica, em que se defende que a prova não é de exclusividade do jurista, mas
sim instrumento de apuração da verdade comum a todo conhecimento humano e a
todas as áreas do saber, apresentando natureza demonstrativa e não mera e
exclusivamente persuasiva. Daí a prova ser um objeto multidisciplinar, que não
serve somente à convicção do juízo, mas das próprias partes.
O Código de Processo trata das perícias em geral dos arts. 158 a 184.
Segundo Zanella (2016) vocábulo “perícia” advém do latim peritia, cujo significado é
habilidade, capacidade. Assim, a prova pericial é a prova técnica, isto é, a produzida
por profissional especializado (perito), com conhecimentos específicos em
determinado assunto, como, por exemplo, médicos, dentistas, engenheiros,
contadores etc.
O perito realizará um acurado exame e, a partir de suas observações e
conclusões, elaborará um laudo, materializando sua análise. No laudo, o perito
responderá às respostas dos quesitos formulados pelas partes (art. 159, § 3º, e art.
160, ambos do CPP).
A prova pericial possui grande importância no processo penal por ser técnica,
produzida por um especialista. Certamente é uma prova qualificada e confiável. Por
isso, muito embora o art. 182 do CPP disponha que “o juiz não ficará adstrito ao
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laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte” (livre convencimento


motivado), trata-se de prova bastante aceitável e dificilmente resignada na prática.
A prova pericial é um meio de prova indireta, produzida por um perito e
introduzida por meio deste no processo. É um procedimento probatório que
possibilita chegar ao fato que se prova a partir de outro participante ou outros
mediante um processo inferencial (MADURO, 2011).
O perito pode realizar diversas modalidades de exames periciais, que incluem
o exame propriamente dito, a vistoria, o arbitramento e a avaliação. Ele será
responsável por constatar, perceber e certificar-se dos fatos, levando-os ao
conhecimento do juiz.
O exame de corpo de delito é o exame daqueles elementos materiais do fato
criminoso. São elaborados pelos peritos criminais, com o intuito de esclarecer ato
considerado delituoso. Os vestígios encontrados no local do crime são de grande
valia para a descoberta dos acontecimentos. O local onde é cometido o crime
precisa ser preservado pela Polícia, neste caso, independe se for civil ou militar,
evitando que pessoas estranhas adentrem o local, retirando objetos e coisas, desta
forma, trazendo prejuízo ao trabalho pericial (ZANELLA, 2016).
A prova pericial possui grande importância na demonstração dos aspectos
técnicos que exercem influência na tipicidade e em circunstâncias que se relacionam
com os tipos penais, que interferem diretamente na prova da materialidade daqueles
delitos chamados de delicta facta permanentis, posto que naquilo que possui relação
direta com os aspectos técnicos o órgão responsável pelo julgamento se vale
predominantemente da conclusão pericial, posto que não obstante a máxima latina
de que o magistrado é o perito dos peritos, dada a elevada complexidade e
diversidade técnicas, dificilmente seria possível encontrar um ser humano que
reunisse todas as habilidades para julgar as várias causas que são submetidas ao
crivo do Judiciário, sem contar, naquelas dotadas de maior complexidade técnica,
com o auxílio de outros profissionais com especialização naquela área de
conhecimento (por exemplo, definir se existem digitais ou se é possível extrair DNA
de algo deixado no local do crime) (SOUZA, 2017).
A máxima latina referida anteriormente é fruto de uma época em que a prova
praticamente não se realizava por meios técnicos passíveis de serem demonstrados
cientificamente, situação que começou a mudar com o advento do Racionalismo e
atingiu seu ápice na sociedade pós-moderna, apresentando-se como uma realidade
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que contrasta com a exigência de um super-juiz com conhecimentos absolutos, uma


vez que a exigência em relação a este é de que possua conhecimentos científicos
na área do direito e das ciências multidisciplinares vinculadas ao ato de julgar, mas
não exclusivamente em relação à prova científica, sendo razoável apenas que se
exija dele a capacidade de interpretar e confrontar os resultados apresentados pelos
peritos, com os demais elementos probatórios colocados à disposição no processo
(SOUZA, 2017).
Atento a essa relevância e também para o fato de que a prova pericial, em
regra, desenvolve-se longe das vistas do juiz e das partes – restringindo a própria
atividade dialética, já que o contraditório também fica quase sempre postergado para
fases posteriores à realização do ato – o legislador cercou esse meio probatório de
formalidades processuais que objetivam dar maior segurança e credibilidade às
perícias, estabelecendo critérios formais como os inseridos no art. 159 2 do CPP.
Os laudos devem, em regra ser constituídos de forma metodologicamente
racional, visando a facilitar a atividade de quem os elabora (os peritos) e
principalmente dos atores destinatários da prova pericial, recomendando-se que
possuam um “preâmbulo”, com a qualificação dos peritos e as informações
principais a cerca da perícia realizada; o “histórico”, onde são relatadas as
informações a respeito do objeto da perícia; a “descrição ou exposição”, em que os
peritos relatam de forma minuciosa o trabalho desenvolvido; a “discussão”, onde os
peritos expressam suas impressões técnicas; a “conclusão”, na qual os peritos
afirmam aquilo que concluíram estar cientificamente demonstrado; e, quando a
perícia estiver se desenvolvendo a partir de requisição da autoridade judiciária, do
Ministério Público ou da autoridade policial, a resposta aos possíveis quesitos
oficiais ou apresentados pelas partes (BONFIM, 2015).
Ressalte-se que a produção adequada de provas no Processo Penal, serve
não apenas aos interesses da vítima, mas, também do acusado ao qual interessa a
prova produzida e a constatação de sua efetiva responsabilidade, e não somente a
motivação da decisão que o condena ou absolve. Assim, segundo Barbosa (2015), a
prova acaba por exercer função endoprocessual (dar suporte à decisão judicial) e

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Art. 159. Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão feitos por dois peritos oficiais. § 1º
Não havendo peritos oficiais, o exame será realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de
diploma de curso superior, escolhidas, de preferência, entre as que tiverem habilitação técnica
relacionada à natureza do exame. § 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e
fielmente desempenhar o encargo.
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exoprocessual (aquiescência à decisão). Este último fator terá relevância


determinante na compreensão da investigação defensiva e no comportamento do
imputado no curso da investigação e persecução penal.
É importante destacar que a atuação do perito, que é auxiliar da justiça, cuja
legitimidade se presume a partir de critérios muito simples, não está imune a falha.
Por esta razão, é tão importante o estudo desse meio de prova e a conscientização
das falhas que ele pode apresentar.

3.2 A CRIMINALÍSTICA E A IMPORTÂNCIA DOS VESTÍGIOS

A Criminalística em sua essência constitui um sistema de métodos técnicos


embasados no conhecimento científico que tem por objetivo responder à demanda
da sociedade no que diz respeito à Justiça para o esclarecimento das infrações
penais através de exames de caráter técnico-científico (perícia) (RABELLO, 1996).
Quando as infrações deixarem vestígios, será indispensável, nos termos do
art. 158 do CPP, a realização do exame de corpo de delito com vistas a demonstrar
a materialidade do fato. Esta prova, devido à expertise de seu elaborador – e, em
razão disso, de sua contundente eficácia probatória –, não pode ser suprida por
nenhuma outra prova, nem mesmo pela confissão do acusado (art. 158, parte final,
do CPP), exceto no caso de os vestígios desaparecerem, hipótese na qual a lei
permite que seja substituída pela prova testemunhal (art. 167 do CPP), ou por
qualquer outro meio de prova, dado o princípio do livre convencimento motivado.
O “corpo de delito” segundo Zanella (2016) é, exatamente, o conjunto de
vestígios deixados pela infração penal e que serão objeto do exame pericial. Não se
refere, tão somente, ao corpo (físico) da vítima de um crime de lesão corporal ou de
um crime contra a dignidade sexual, mas a todos os vestígios coletáveis por meio da
habilidade e proficiência do perito.
A perícia por si consiste na avaliação objetiva do local no qual ocorreu o delito
(área imediata) e áreas correlatas (área mediata) buscando-se compreender a
dinâmica e a autoria dos fatos por meio da correta apreciação dos vestígios, seja no
próprio local ou através dos exames especializados conduzidos em laboratório.
Vestígios, por sua vez, são quaisquer alterações perceptíveis da naturalidade do
ambiente: alterações no posicionamento dos objetos, marcas, sinais, entre outros,
que guardem relação direta com o delito (VELHO; COSTA; DAMASCENO, 2013).
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Para a apresentação de sua impressão sobre o crime, o perito se vale da


genética forense, fotografias, croquis, impressões digitais, vestígios físicos (armas
brancas, armas de fogo, projéteis, mobiliário revirado, etc.), exame do cadáver,
dentre outros procedimentos que ajudam a elucidar o crime.
As impressões digitais são vestígios produzidos pela interação das pontas
dos dedos, das palmas das mãos e plantas dos pés com as superfícies. A análise
destes tipos de vestígios, bem como de outros tópicos correlatos são estudados por
uma ciência robusta e complexa: a Papiloscopia, cujo objetivo concerne à
identificação humana.
Também a Genética Forense é uma das áreas das Ciências Forenses
dedicada à identificação humana através dos exames de DNA nos casos de
desastres em massa, investigações de pessoas desaparecidas e em casos criminais
(VAN OORSCHOT et al., 2010).
O advento da reação em cadeia da polimerase (PCR) e o uso de regiões
polimórficas altamente variáveis permitiram a obtenção de perfil genético a partir de
quantidades mínimas de DNA (menos de 100 picogramas de DNA) (GILL, 2001).
Segundo Van Oorschot e Jones (1997), no fim da década de 90 foi reportada
pela primeira vez a possibilidade de se gerar perfis de DNA a partir do
processamento de amostras coletadas de quaisquer objetos que foram tocados, por
exemplo, facas, armamentos, munições, superfícies de interesse em crimes contra o
patrimônio (maçaneta de porta, parapeito de janelas, tampo de mesas) e objetos
comuns em cenas de crime como copos, garrafas e roupas, ampliando-se assim as
possibilidades investigativas no âmbito da Genética Forense. Essas amostras são
intituladas Touch DNA, DNA de contato ou DNA de toque.
A interface entre a Genética Forense e a Papiloscopia se dá na premissa de
que ao tocar as superfícies há a produção de impressões papilares assim como há a
transferência de células epiteliais. O estudo da possibilidade de recuperação de
perfil genético fazendo uso de impressões digitais impregnadas com reveladores
datiloscópicos é oportuno, pois, na prática, durante a realização de perícias, o perito
criminal é compelido a escolher qual análise conduzir (genética ou datiloscópica),
sendo que a possibilidade de realizar ambas as análises sem prejuízo da prova
material representa importante perspectiva para a persecução penal (FIELDHOUSE
et al., 2016).
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Citados alguns meios para se coletar vestígios, passa-se a discutir a


necessidade de preservação do local do crime, tendo em vista que a cena do crime
é frágil e passível de contaminação.
No passado, os problemas de contaminação com os quais os peritos estavam
mais preocupados incluíam: ausência de equipamento de proteção individual (EPI),
como luvas; oficiais deixando pegadas em áreas cruciais da cena; oficiais cuspindo
ou jogando bitucas de cigarro na cena do crime; oficiais manipulando portas e
janelas que poderiam ser o local pelo qual o suspeito entrou ou saiu; ou oficiais que
manipulavam dispositivos eletrônicos (VELHO; COSTA; DAMASCENO, 2013).
Com os recentes avanços na análise de DNA, a contaminação se tornou uma
preocupação maior. Agora, os perfis de DNA podem ser obtidos a partir de
pequenas amostras de células epiteliais que são descartadas quando um item é
tocado ou esfregado. Os oficiais agora devem ter mais consciência do que estão
tocando no local e usar luvas o tempo todo. Os laboratórios forenses agora são
capazes de desenvolver perfis de DNA a partir de roupas que um suspeito pegou ou
usou, alças texturizadas de armas e até cordas de sapatos (VELHO; COSTA;
DAMASCENO, 2013).
Outra preocupação com a preservação da cena do crime é a alteração de
dispositivos eletrônicos. Os oficiais devem evitar manipular e percorrer os
computadores ou aplicativos de celular. Muitas vezes, em uma cena de homicídio ou
suicídio, os primeiros policiais ficam curiosos ao ver computadores e decidem mexer
no mouse para ver o que está na tela ou até tentar visualizar o histórico de
pesquisas. O dispositivo eletrônico pode conter evidências importantes e só deve ser
examinado por um investigador forense de computador treinado (VELHO; COSTA;
DAMASCENO, 2013).
Os avanços na ciência forense tornaram todos os aspectos da cena do crime
mais frágeis. Portanto, os primeiros oficiais de uma cena precisam estar
extremamente conscientes de suas atividades e movimentos, sabendo que as
principais evidências podem estar em qualquer lugar.

3.3 A NECESSIDADE DA PRESERVAÇÃO DO LOCAL DO CRIME

É bastante amplo o conceito de local do crime, posto que pode abranger


curtos ou longos espaços físicos. A legislação processual penal não trouxe uma
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definição específica para local do crime, ficando sob a responsabilidade da doutrina


estabelecer estas definições. Eraldo Rabello indica que: 

A porção do espaço compreendida num raio que, tendo por origem o ponto
no qual é constatado o fato, se entenda de modo a abranger todos os
lugares em que, aparente, necessária ou presumidamente, hajam sido
praticados, pelo criminoso, ou criminosos, os atos materiais, preliminares
ou posteriores à consumação do delito, e com este diretamente relacionado
(RABELLO, 1996, p.17).

Pelo conceito pode-se depreender que o local do crime não se resume


somente ao local em que foi constatado o fato, mas todo local e entorno onde
existam vestígios que tenham relação com o evento e que tenham o condão de
demonstrar a premeditação do fato ou a realização de ações posteriores objetivando
ocultar provas, que poderiam se consubstanciar em circunstâncias qualificadas do
crime investigado.
Ademais, o local do crime é o ponto em que se dá o encontro entre a Polícia
administrativa e a Polícia Judiciária. Isto porque a primeira atua objetivando prevenir
que a ordem seja rompida ou visando restabelecê-la; já a segunda, com o intuito de
assegurar que a lei penal seja aplicada em relação àqueles que a infringe
(ESPÍNDULA, 2012).
Os vestígios deixados nos locais em que foram cometidos crimes podem
contribuir para o êxito do inquérito policial, podendo, até mesmo, direcionar as
investigações para perspectivas distintas daquelas delineadas em um momento
inicial.
Nos dizeres de Espíndula (2012), a experiência tem comprovado que os
esclarecimentos sobre um determinado crime estão relacionados ao nível de
preservação do local em que o delito ocorreu. As alterações que ali se processam,
muitas vezes, não têm o objetivo de prejudicar a realização dos exames periciais, e,
na maioria das vezes, nem são realizadas pelo autor. Estas alterações ocorrem, com
maior frequência, em razão da ausência de integração entre os distintos setores da
polícia.
No magistério de Rocha (1998), é importante preservar o local do crime com
vistas a assegurar a sua integridade, a fim de que seja possível coletar vestígios
que poderão fornecer os primeiros elementos que poderão impulsionar a
investigação e ajudar a desvendar a autoria do crime.
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Deve-se ressaltar, ainda, nos dizeres de Greco (2013), o cuidado e o respeito


em se tratando da legalidade dos procedimentos em sede de inquérito policial ou de
processo penal, tendo em vista que as provas precisam ser obtidas de maneira
lícita.
Sabe-se que o local onde o crime se concretiza pode conter vestígios
importantes para se chegar à autoria e materialidade do delito. Por esta razão, deve
a autoridade policial, ao chegar ao local em que ocorreu o crime, nos termos do art.
6º do CPP, cuidar para que o local do fato seja preservado até que o perito criminal
chegue. Isto porque se o local do crime não for preservado, aumentam as chances
de surgirem vestígios forjados ou mesmo que as digitais e material genético deixado
pelo autor do delito seja confundido com de outras pessoas que também tiveram
acesso ao local (GARCIA; RÉGIS, 2015).
Deve-se ressaltar que tal diligência só terá eficácia e sentido nas infrações
que deixam vestígios, isto porque a preservação do local em que o crime ocorreu
destina-se à constatação material do evento, com a detecção e exame dos meios
empregados pelo agente e a coleta de indícios que permitam apontar a autoria do
delito.
Sobre a importância da preservação do local do crime, as sempre
prestigiadas lições de Alexandre Saraiva:

O exame do local do crime é de interesse inestimável à elucidação das


infrações e descoberta da autoria. Proibindo a alteração do estado e
conservação das coisas, até terminarem os exames e perícias, a Autoridade
Policial visa, com tal atitude, impedir a possibilidade de desaparecerem
certos elementos que possam esclarecer o fato e até mesmo determinar
quem tenha sido o seu autor (SARAIVA, 2017, p.37).

Ademais, havendo adulteração, o perito nem sempre será capaz de


determinar em que circunstâncias ocorreu o delito e nem voltar as peças aos locais
corretos.
Porém, em que pese a importância da providência, em se tratando de
acidente de trânsito a autoridade policial poderá autorizar, independentemente de
exame do locus deliciti, a imediata remoção das pessoas lesionadas, bem como os
veículos nele envolvidos, se estiverem no leito da via pública prejudicando o tráfego
(Lei 5.970/1973); registrando, oportunamente, a medida adotada com a indicação de
testemunhas.
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Dito isto, não é demais afirmar que o aspecto mais importante afeto à coleta
e preservação de evidências é a proteção da cena do crime em razão de se manter
as evidências pertinentes não contaminadas até que possam ser registradas e
coletadas. A acusação bem-sucedida de um caso pode depender do estado das
evidências físicas no momento em que são coletadas. 

O exame de local tem muita importância, especialmente por fornecer uma


melhor compreensão da dinâmica do fato delituoso e a identificação de detalhes que
interfiram na apuração do fato criminoso (DUARTE, 2015). Normalmente, trata-se de
diligência realizada ainda na fase de investigação, de modo a preservar o maior
número de informações, dada a pouca distância com o evento criminoso.
A investigação bem sucedida e de alta qualidade da cena do crime é um
processo simples e metódico. Não é rígido; segue um conjunto de princípios e
procedimentos razoáveis e garante que todas as evidências físicas sejam
descobertas e investigadas com o objetivo de que a justiça seja cumprida. Os
procedimentos básicos da cena do crime são reconhecimento de evidências físicas,
documentação, coleta adequada, embalagem, preservação e, finalmente,
reconstrução da cena. Toda cena de crime é única e, com a experiência, um
investigador poderá valer-se de uma abordagem lógica e sistemática para investigar
até mesmo cenas de crime mais desafiadoras chegando-se a uma conclusão bem-
sucedida.
Por esta razão, ao realizar os exames periciais no local de crime, é importante
que os peritos registrem em seus laudos as modificações no estado das coisas
identificadas devendo também discutir no relatório, as consequências que estas
alterações provavelmente tiveram na dinâmica do evento (ESPÍNDULA, 2012).
Dispõe o Código de Processo Penal, em seu art. 169 3, que todos os locais
que serviram de palco para o cometimento de crimes, independentemente se estes
foram contra a pessoa, patrimônio ou contra o meio ambiente, devem ser
preservados até que os peritos cheguem ao local.
Referido procedimento, nos dizeres de Rangel (2012) objetiva a coleta de
indícios e vestígios, materiais indispensáveis ao êxito de uma investigação criminal;
3
Art. 169 Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade
providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos,
que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.
Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no
relatório, as consequências dessas alterações nas dinâmicas dos fatos.
19

são estes materiais que aumentarão substancialmente as probabilidades do fato


criminoso ser elucidado, por possibilitar a identificação dos agentes criminosos e seu
modus operandi e, em consequência, desencadeando a sensação de justiça penal.
No entanto, o que se percebe muitas vezes é que procedimentos necessários à
preservação da cena do crime deixam de ser observados, conduzindo a
investigação policial a conclusões frágeis, incompletas ou, até mesmo, equivocadas
sobre o crime, o que prejudica sobremaneira a investigação.
O sucesso ou fracasso final de uma investigação criminal depende da minúcia
exercida na cena do crime para preservar, coletar e registrar todas as informações
disponíveis. Muitas vezes, a posição de um objeto em uma sala transmite aos olhos
treinados de um perito os eventos que precederam o crime. É importante, portanto,
como recomenda Ayres (2015), respeitar a regra de que nada na cena do crime
deve ser tocado, movido ou alterado até que seja identificado, fotografado,
esboçado, medido e gravado pelo perito.
Como bem expõe Espíndola (2012), o objetivo principal da preservação do
local de crime é possibilitar que o ambiente se mantenha o mais inalterado possível,
não se movendo e/ou subtraindo objetos de sua posição original, mesmo que seja
uma arma e/ou projétil, não devendo também ser adicionados elementos antes não
presentes no local, a exemplo de pegadas de sola de sapatos, fios de cabelo, dentre
outros.
Assim entende-se que uma adequada preservação do local do delito
fornecerá suporte aos peritos para que estes desempenhem o seu trabalho da
melhor forma possível, a fim de que se chegue de maneira mais abrangente e
correta às circunstâncias e, consequentemente, à autoria do crime, e para que
instruam o inquérito policial, peça administrativa com a qual se dá início à ação
penal.
Segundo Ayres (2015), a proteção da cena do crime começa com a chegada
do primeiro policial e termina quando a cena é libertada da custódia da polícia. O
primeiro policial na cena do crime deve abordar a cena lenta e metodicamente
esforçando-se para alterar o menos possível o estado da coisa na avaliação da
situação. Também, devem ser feitas anotações se o oficial precisar tocar ou alterar
algo no cenário em análise. Algumas observações que se fazem necessárias
incluem: a condição das portas, janelas e iluminação (natural e artificial); se há
algum odor; informações sobre o suspeito (descrição, declarações, condição
20

física, condição mental, etc.); e qualquer coisa essencial sobre a vítima. Uma vez


preservada a cena e quaisquer outras áreas que possam produzir evidências
valiosas (a exemplo das calçadas e pátios) o local deve ser lacrado para evitar que
pessoas não autorizadas entrem na área e a contaminem. 
Tais precauções se mostram necessárias, pois, muitas vezes, a chegada de
pessoal adicional pode causar problemas na proteção do local. Somente as
pessoas responsáveis pela investigação imediata do crime, pela segurança da cena
e pelo processamento da cena do crime devem estar presentes. Policiais não
essenciais, investigadores da promotoria, agentes federais, políticos etc. nunca
devem ser autorizados a entrar em uma cena de crime preservada, a menos que
possam adicionar algo à investigação da cena do crime. 
Comer, beber ou fumar nunca deve ser permitido na cena do crime. Como
explica Dorea (1995), ações desta natureza podem destruir evidências na cena de
crime. Ademais, a proteção da cena do crime deve incluir também a proteção dos
investigadores. Assim, uma pessoa, seja um civil ou um investigador, nunca devem
ser deixados sozinhos durante o processamento da cena. Isto é especialmente
verdadeiro se o suspeito não tiver sido preso. Há na literatura relatos sobre
suspeitos que quando da chegada da polícia ainda estavam escondidos na área de
delito ou próximo a ele. Por esta razão, o ideal é que sempre estejam presentes
pelo menos duas pessoas trabalhando na cena. 
Neste trilhar tem-se que cena do crime é o primeiro elo da cadeia de
investigação e, se houver alguma evidência comprometida, o mesmo irá ocorrer com
toda a investigação. Portanto, para que as evidências sejam usadas em tribunal,
elas devem ser cuidadosa e sistematicamente tratadas durante todo o processo
investigativo.
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4 CONCLUSÃO

O presente estudo objetivou discutir, segundo a ótica da doutrina que aborda


a prova pericial, a importância da investigação forense e perícia pericial na ação
penal, dando-se ênfase à importância do local do crime.
Foi visto que o exame de local de crime é um exame com alto grau de
relevância, o qual deve ser preservado pela autoridade policial até a chegada da
perícia, para que não se altere o estado das coisas. É importante sua preservação,
já que fatores externos, como terceiros maculando o cadáver ou mudando a arma de
local, podem prejudicar sensivelmente uma perícia adequada.
Não por outra razão o art. 169, § único, do CPP prevê que os peritos
registrarão no laudo a alteração do estado das coisas e suas consequências para
reconstruir a dinâmica dos fatos. Infelizmente isso é comum em nosso país, onde
frequentemente o local dos fatos não é preservado rápida e adequadamente, e
populares acabam, involuntária ou mesmo artificiosamente, modificando o local.
No exame de local, os peritos deverão descrever todos os fatos observados,
instruindo com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos (art. 169, parte final,
do CPP). A prova será preciosa para a constatação da materialidade do crime; do
conjunto de fatores que o cercam; de possíveis qualificadoras (como o rompimento
de obstáculo no furto); e até mesmo da autoria delitiva, já que no local pode haver
impressões digitais ou elementos identificadores do DNA de algum suspeito
(sangue, suor, fios de cabelo, unhas, dentre outros).
A cena do crime é um elemento crítico das investigações criminais e por esta
razão, pode-se dizer que as cenas inadequadamente gerenciadas levam a poucas
evidências e ao risco de condenações injustas.
Do exposto foi possível concluir que a cena do crime é de grande importância
para a ciência forense e sua preservação pode ser o fator decisivo em um processo
criminal. Por esta razão, desde os primeiros momentos a cena do crime deve ser
protegida adotando-se medidas rigorosas contra a contaminação.
Por fim, destaca-se que a investigação da cena do crime é a melhor
metodologia para garantir que uma investigação seja conduzida adequadamente e
que a justiça seja cumprida. O uso dessa metodologia impedirá o fim abrupto de
uma investigação incompleta e permitirá o melhor uso das evidências físicas
encontradas nas cenas de delitos.
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