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Professor adjunto de Direito Processual Penal na Universidade Federal Fluminense, do Polo Universitário de
Volta Redonda/RJ. Presidente Do Observatório da Mentalidade Inquisitória. Doutor em direito do Estado da
Universidade Federal do Paraná.
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Bacharelando no curso de graduação em Direito da Universidade Federal Fluminense, do Polo Universitário de
Volta Redonda - RJ. Estagiário da Defensoria Pública de Barra Mansa/RJ. Monitor de História do Direito na
Universidade Federal Fluminense, Polo Universitário de Volta Redonda/RJ. Orador da Equipe de Direito e
Processo Penal da Universidade Federal Fluminense - Polo Universitário de Volta Redonda/RJ. Membro do
Grupo de Pesquisa Vulnerabilidades na Universidade Federal Fluminense, Polo Universitário de Volta
Redonda/RJ.
MANUTENÇÃO DAS AUDIÊNCIAS ONLINE, NO PROCESSO PENAL, NO PÓS-
PANDEMIA E ACESSO A JUSTIÇA E À DEMOCRACIA PROCESSUAL
RESUMO
Com o objetivo refletir sobre a manutenção das audiências online no campo do Direito
Processual Penal, em um contexto pós-pandêmico, e, ainda, de suas repercussões na prática
forense se propõe o presente estudo para indagar se a garantia do direito a informação é
preservado nesse modo de realização de audiência, seja em depoimento de testemunhas ou
interrogatório, e a consonância com as demais garantias processuais eis que entra em conflito
com a manutenção da realidade da Recomendação do CNJ n. 62/2020 e a própria codificação
processual penal. De certo que há um reforço que se busca da garantia à informação, direito
fundamental de quarta dimensão com os originais direitos da primeira dimensão que são
garantias processuais. O acesso claro à informação e controle dos atos judiciais realizados em
audiência tem por condição o devido processo legal, a ampla defesa e a oralidade. No presente
estudo se abordará como ponto de indagação a oralidade e ampla defesa carreados pelo direito
à informação e a de estar perante o magistrado que irá proferir sentença em casos penais.
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO/REFERENCIAL TEÓRICO
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destarte, percebe-se que há uma clara interpelação de princípios consubstanciada por tal
orientação e que sabidamente se fez prevalecer aqueles favoráveis a parte mais vulnerável do
processo penal, ou seja, o acusado.
Com o objetivo de assegurar o desenvolvimento dos procedimentos judiciais durante o
contexto pandêmico da COVID-19, optou-se pela instrumentalização de aparatos tecnológicos
para a realização de audiências criminais. Há de se ressaltar que o Conselho Nacional de
Justiça publicou, em 17 de março de 2020, a Recomendação nº 62 em que estabeleceu alguns
parâmetros para melhor lidar com os riscos de contágio e disseminação do vírus. Sob esses
moldes, rememora-se a redação do art. 7º do mesmo dispositivo no qual se prioriza a
“redesignação de audiências em processos em que o réu esteja solto e a sua realização por
videoconferências nas hipóteses em que a pessoa esteja privada de liberdade” (BRASIL,
2020). O acusado há de ser considerado parte integrante ao processo e, por assim ser, deve
revestir-se de direitos e deveres processuais de tal modo que não se permite que este seja um
mero objeto do processo, tampouco que o próprio processo se comporte como mero
instrumento para a aplicação do jus puniendi estatal (LOPES JR., 2023, p. 5).
No campo de ser detentor de direitos e deveres se passa a pensar sob o manto do
princípio do devido processo legal, o qual pode ser compreendido como:
Devido processo legal significa minimamente um procedimento regido sob a definição
da legalidade estrita e submetido à principiologia constitucional do processo, como
metalinguagem institutiva de direitos e garantias fundamentais (contraditório, ampla defesa,
inocência, publicidade, silêncio não incriminador...). Assim, o Estado, para fazer qualquer
pessoa perder sua liberdade, deverá submeter-se a um processo, sob todas as garantias
processuais e, ainda, na forma e como previsto em lei. (PAULA; BARROS, p. 9)
A partir da Recomendação do CNJ, n. 62, passou-se a adotar discricionariamente
como regra a realização de audiência no formato remoto, o que passou a sufragar a efetivação
do devido processo legal através da possibilidade do acusado ou de seu defensor em
demonstrar seu interesse por outro formato de reunião, passou a ser a exceção.
Observa-se que a audiência online, se não for requerimento direto e necessário da
própria defesa pode representar uma quebra e impedimento do exercício da autodefesa e da
defesa técnica (LOPES JR., 2023, p. 85), dados que compõe o princípio da ampla defesa. Em
medida direta, impor a necessidade de divisão da defesa de escolher entre estar ao lado do seu
assistido para poder assistir à sua defesa com as indagações e esclarecimentos sobre o que está
sendo apresentado em audiência no curso dela, com o próprio acusado. Não se pode ignorar
que, forçar a defesa não estar diante do ato em realização não permite perceber se há ou não
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algum constrangimento às testemunhas, se há ou não nervosismo nos testemunhos, ou seja,
tudo que poderia compor o grau de convencimento do magistrado no ato em execução.
Por evidente que, umbilicalmente ligado ao exercício da ampla defesa temos o
princípio da oralidade. O princípio da oralidade, vai informar BINDER (2014, P. 34) que a
oralidade é eixo central para se preservar o sistema acusatório, não por coincidência o faz em
modo de elogio já que a centralidade é que justamente se preserve o sistema pela audiência.
De certo que oralidade não se confunde com mera verbalização de conteúdo, lido em
audiência. Oralidade, demanda ao menos: (i) Identidade física do juiz (art. 399, §2º do CPP):
torna-se imprescindível que o juiz competente para julgar a causa seja o mesmo magistrado
que deteve contato com a produção probatória judicial; (ii) irrecorribilidade das
interlocutórias; (iii) concentração dos atos processuais (art. 400, §1º): partindo da concepção
de que o ato delitivo é um ato histórico e. (iv) imediação do juiz com a provas. (PAULA;
CROZARA, 2012, p. 536) certo que sem a realização de atos colocando todos os atores e
sujeitos processuais no mesmo ambiente físico, em tempo real e ao mesmo tempo isso não
poderá ser garantido. Daí que, é tônica que não se pode manter a excepcionalidade como regra
e ocorrer a manutenção de audiências online em substituição ao exercício da ampla defesa nos
moldes constitucionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LOPES JR., Aury. Direito processual penal / Aury Lopes Jr. – 16. ed. – São Paulo: Saraiva
Educação, 2023.
PAULA, Leonardo Costa de; BARROS, Vinícios Diniz Monteiro de. A falácia da isonomia
entre as partes no processo penal brasileiro: Quando a estruturação material e
orçamentária importa! In Cadernos de Dereito Actual. N. 20, 2023 (extraordinária)
Disponível em: < https://www.cadernosdedereitoactual.es/ojs/index.php/cadernos/article/
view/947/478>, acesso em 30 de maio de 2023.