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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PCGO/2022

INQUÉRITO POLICIAL

1. CONCEITO

É um procedimento administrativo, preparatório e informativo com objetivo de apurar


autoria(quem praticou) e materialidade(existência) da pratica delituosa.

É UM PROCEDIMENTO COM OBJETIVO DE APURAR

➔Administrativo ➔Autoria(quem praticou)

➔Preparatório ➔Materialidade(existência)

➔Informativo

Obs.: O IP É INSTAURADO PARA APURAR TODAS AS INFRAÇÕES PENAIS?

Não! Somente as infrações com pena máxima superior a 2 anos. Para os crimes com pena de
até 2 anos e as contravenções penais é instaurado o Termo Circunstanciado.

2. NATUREZA JURÍDICA

O inquérito policial é um procedimento administrativo, ou seja, não é processo penal e


tampouco é processo administrativo.

O INQUÉRITO POLICIAL

 NÃO RESULTA, PELO MENOS DIRETAMENTE A IMPOSIÇÃO DE MULTA;

 É UMA FASE PREPARATÓRIA PARA O PROCESSO.

Obs.1: PERSECUÇÃO PENAL: Se dividi em 2 fases

 FASE INVESTIGATÓRIA

 FASE JUDICIAL
3. FINALIDADE
DUPLA FINALIDADE

1. PREPARATÓRIA
 Formação da “Opinio Delicti” do titular da ação(Explícita)

2. PRESERVADORA
 Inibi a instauração de processo penal infundado
 Aplicação de medidas cautelares, de acordo com o professor
Nestor Távora(Implícita – Art. 319, CPP)

Obs.: Finalidade é diferente de objetivo.

3.1. PREPARATÓRIA: Fornece elementos de informação para que o titular da ação penal
possa ingressar em juízo, além de acautelar meios de prova que poderiam desaparecer com o
decurso do tempo;

3.2. PRESERVADORA: A existência prévia de um inquérito inibe a instauração de um


processo penal infundado, temerário, resguardando a liberdade do inocente e evitando custos
desnecessários para o Estado.

4. CARACTERÍSTICAS
São características do IP: SEIO DOIDA + T

SIGILOSO

ESCRITO

INQUISITIVO

OFICIAL

DISCRICIONÁRIO
OFICIOSO

INDISPONÍVEL

DISPENSÁVEL

AUTORITÁRIO

TEMPORÁRIO

4.1. SIGILOSO:

A autoridade policial assegurará o sigilo necessário para

 ELUCIDAÇÃO DO FATO ou

 GARATIR A EFICIÊNCIA

 PRESERVAR A INTIMIDADE

PRIVACIDADE e SEGURANÇA

DO INVESTIGADO

Art. 20, CPP - “a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da sociedade”. + segurança do investigado.

Essa característica do IP decorre do fato de que as investigações policiais se prende em muito


ao elemento surpresa nas diligências realizadas e para que o investigado não tenha a
possibilidade de “maquiar” os fatos, como muitas vezes acontece na fase judicial.

Obs.1: EXCEÇÃO: A despeito de o sigilo ser a regra quanto à investigação, em algumas hipóteses,
a publicidade pode ser útil para a elucidação dos fatos.

Exemplo: divulgação de retrato falado do ‘’serial killer’’ Thiago que matava mulheres em
Goiânia.

PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

O princípio impõe que os atos processuais não estejam revestidos de segredo, o


que pode gerar desconfiança acerca da sua legitimidade, EXECETO QUANDO PARA
PROTEGER:
 HONRA
 IMAGEM
 INTIMIDADE ou a
 SEGURANÇA NACIONAL (doutrina)

➢ SEGREDO DE JUSTIÇA: A decisão que impõe o segredo de justiça ao processo não


pode decorrer de ato discricionário do juiz, devendo ser fundamentada em
permissivos legais ou constitucionais.

➢ PUBLICIDADE RESTRITA: Determinados atos processuais, audiências e sessões


serão públicos apenas para as partes, seus procuradores e um número reduzido de
indivíduos.

Art. 5º, X, CF - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação;

Art. 5º, LX, CF - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando
a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

Art. 93, IX, CF - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente
a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no
sigilo não prejudique o interesse público à informação;

Art. 201, § 6o , CPP - O juiz tomará as providências necessárias à preservação da


intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive,
determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras
informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos
meios de comunicação.

Art. 792, § 1o , CPP - Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual,


puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o
juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou
do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas,
limitando o número de pessoas que possam estar presentes

4.1.1. DIVISÕES DO SIGILO

O SIGILO SE DIVIDE EM EXTERNO E INTERNO:

EXTERNO ➔Atinge a imprensa(terceiros desinteressados)


SIGILO

 INTERNO ➔Não atinge o acesso aos autos pelo Juiz, MP e Advogado(este apenas
com acesso aos autos já documentados – Art. 7, XIV, EOAB)

A) EXTERNO: Atinge a imprensa(terceiros desinteressados)

B) INTERNO: Não atinge o acesso aos autos pelo Juiz, MP e Advogado(este apenas com
acesso aos autos já documentados – Art. 7, XIV, EOAB)

B.1. ACESSO DO ADVOGADO

B.1.1. AMPLITUDE

O acesso do advogado deve ser assegurado quanto às diligências já documentadas, sendo


assim, ele não pode ter acesso às diligências em andamento, pois isso poderia colocar em
risco a eficácia da investigação.

Situação: O delegado de polícia acabou de colher o depoimento de testemunha que visualizou


Rodolfinho praticando o crime de ato obsceno em uma praça e disparando uma pistola que
portando ilegalmente.

O depoimento dela será juntado aos autos do inquérito policial? Depende do teor do
depoimento, pois, muitas vezes, o depoimento poderá configurar uma verdadeira
“diligência em andamento”.

Exemplo: a testemunha relatou onde a arma de fogo foi escondida.

Obs.: NÃO SE LIMITA AOS INQUÉRITOS POLICIAIS, ou seja, deve ter acesso a qualquer
procedimento relativo a investigações, mesmo quer ela não tenha natureza criminal.

Lei n. 8.906/94 (redação dada pela Lei n. 13.245/16

“Art. 7º São direitos do advogado: (...) XIV - examinar, em qualquer instituição responsável
por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações
de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;”

Súmula vinculante n. 14 do STF: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter


acesso amplo aos elementos de prova (elementos informativos) que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência (atribuição) de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.

B.1.2. NECESSIDADE DE PROCURAÇÃO

REGRA: NÃO HÁ NECESSIDADE DE PROCURAÇÃO.

EXCEÇÃO: QUANDO A INVESTIGAÇÃO ENVOLVE SEGREDO DE JUSTIÇA.

Exemplos: Crimes sexuais e processos em que houve quebra de sigilo bancário.

Lei n. 8.906/94 (redação dada pela Lei n. 13.245/16)

“Art. 7º. São direitos do advogado:

(...)

§10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício
dos direitos de que trata o inciso XIV.”

B.1.3. AUTORIZAÇÃO JUDICIAL

REGRA: NÃO HÁ NECESSIDADE PARA O ACESSO DO ADVOGADO AOS AUTOS DO IP.

EXCEÇÃO: QUANDO DECRETADO SIGILO PELO JUIZ EM INVESTIGAÇÃO DE ORGANIZAÇÃO


CRIMINOSA.

 Lei 12.850/13 (lei de organizações criminosas) é repleta de meios de obtenção de provas


extremamente invasivos. Nestes casos, é necessário dar maior atenção ao sigilo e, portanto,
a lei preceitua que o juiz pode decretá-lo.

Lei n. 12.850/13 (Nova Lei das Organizações Criminosas)

Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela autoridade judicial competente,
para garantia da celeridade e da eficácia das diligências investigatórias, assegurando-se ao
defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam
respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial,
ressalvados os referentes às diligências em andamento.

B.1.4. NEGATIVA DE ACESSO AO DEFENSOR

A consequência da negativa de acesso envolve a responsabilização criminal (crime de


abuso de autoridade) da autoridade responsável.
Obs.: SE O DEFENSOR NÃO CONSEGUIR ACESSO: Poderá requerer acesso ao juiz
competente.

 A DOUTRINA AFIRMA QUE É POSSÍVEL A IMPETRAÇÃO DE HC(quando houver risco à


liberdade de locomoção, sem prejuízo da impetração de um mandado de segurança).

 Há ainda quem defenda ser possível intentar uma reclamação perante o STF, pois há
súmula vinculante sobre a matéria.

Lei n. 8.906/94 (redação dada pela Lei n. 13.245/16)

“Art. 7º. §12. A inobservância dos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento
incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já
incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização criminal e funcional por
abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de
prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer
acesso aos autos ao juiz competente.”

4.2. ESCRITO:

Todos os atos do inquérito devem ser reduzidos a termo para que haja segurança em relação
ao seu conteúdo.

Serão os atos formalizados de forma escrita e rubricada pela autoridade, incluindo-se


nesta regra, depoimentos, testemunhos, reconhecimentos, acareações e todo gênero de
diligências que sejam realizadas.

Art. 9º do CPP, “todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a
escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”.

Obs.1: Nada impede que o registro dos depoimentos seja realizado por outros meios,
como por exemplo, gravação:

 MAGNÉTICA TODAVIA O delegado não pode se limitar a

 DIGITAL somente a filmar os depoimentos e encaminhar

 AUDIOVISUAL cópias ao MP, ou seja, ainda assim DEVE REDUZIR A TERMO

CPP, art. 405, §1º: “Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado,
ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia,
digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das
informações.”
Obs.: O professor Renato Brasileiro explica que o art. 405, § 1º, do CPP está inserido no título
que trata do procedimento comum. Assim sendo, em um primeiro momento, pela
interpretação topográfica do dispositivo, seria possível entender que ele estaria restrito à fase
judicial. Entretanto, esse dispositivo também se aplica à fase investigatória e isso ocorre pelo
uso dos termos “investigado e indiciado”.

4.3. INQUISITIVO/INQUISITORIEDADE

No IP NÃO HÁ observância do CONTRADITÓRIO nem AMPLA DEFESA.

 Não há partes no IP, sendo assim, não há necessidade de a polícia avisar o suspeito que está
sendo investigado

Obs.1: O direito garantido ao advogado em assistir seus clientes investigados durante a


apuração de infrações e da possibilidade de apresentar razões e quesitos não afasta a natureza
inquisitorial do inquérito.

Obs.2: Parcela minoritária da doutrina afirma que o inquérito não é procedimento inquisitorial,
mas sim procedimento sujeito ao contraditório, ainda que postergado, e à ampla defesa.

 NÃO É O ENTENDIMENTO QUE PREVALECE

Obs.3: O OFENDIDO OU SEU REPRESENTANTE LEGAL PODE REQUERER DILIGÊNCIAS?

SIM! Podem requerer diligências, porém serão realizadas, ou não, a juízo da autoridade
policial(Art. 14, CPP)

CPP, art. 14: “O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer
diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.”

 Tanto a vítima quanto o indiciado podem requerer diligências (e não requisitar).

Obs.4: ADMITE A SUSPEIÇÃO NO IP? NÃO!

O CPP não admite que seja suscitada a suspeição da autoridade policial(Art. 107, CPP).

4.3.1. EXCEÇÃO DA INQUISITORIEDADE

A) IP instaurado pela PF para expulsão ou deportação de estrangeiro.(Art.48, Lei Nº


13.445/17)
B) CASOS EM QUE FOR NECESSÁRIO O USO DE FORÇA LETAL POR AGENTE DE
SEGURANÇA(Art. 144, CF) NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO(Inclusive excludente de
ilicitude)

B.1. ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA: polícia federal, polícia rodoviária federal, polícias
civis, polícias militares etc. (art. 144, CF)

B.2. USO DE FORÇA LETAL: O art. 14-A do CPP somente será utilizado quando a
investigação disser respeito à investigação de fatos relacionados ao uso da força letal.

B.3. EXERCÍCIO PROFISSIONAL: O emprego da força letal deve ser praticado no exercício
profissional. Caso contrário, não há que se falar na aplicação do art. 14-A do CPP.

Exemplo: um policial civil está de férias em Fortaleza e atira em X. Neste caso, não se
aplica o art. 14-A do CPP, pois ele não estava no exercício profissional.

B.4. CITAÇÃO: Há uma impropriedade técnica do legislador, já que por citação compreende-
se o ato de ciência à pessoa contra quem oferecia denúncia ou queixa quanto a instauração
do processo criminal e o teor da respectiva imputação.

O termo correto a ser usado pelo legislador seria COMUNICAÇÃO, providência essa que
pode ser efetivada por qualquer meio idôneo, vale dizer, pessoalmente, por e-mail, carta ou
até mesmo via WhatsApp.

 NAS PALAVRAS DO PROFESSOR RENATO BRASILEIRO: “Citação é ato de comunicação


quando um processo penal é instaurado. O ideal seria dizer que o investigado será
“notificado” (ato de comunicação que diz respeito a fato futuro).”

B.5. PRAZO: O agente de segurança, após a CITAÇÃO, terá 48 horas para constituir
defensor.

Obs.: CASO O DEFENSOR NÃO SEJA INDICADO: O delegado intimará a instituição para
que em 48 horas indique um defensor.

 A “citação” no IP/IPM/ DEMAIS PROCEDIMENTOS EXTRAJUDICIAIS só é cabível nesse


caso, sendo uma forma de exceção a inquisitoriedade, cabendo a ampla defesa.

Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da
Constituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos
policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de
fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma
consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor.
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da
instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até
48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação.

§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação de defensor


pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a
que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo
de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado.

§ 3º (VETADO). § 4º (VETADO). § 5º (VETADO).

§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares vinculados


às instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos
investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.”

4.4. OFICIAL/ OFICIALIDADE

O IP é atribuição de órgão oficial do Estado(POLÍCIA JUDICIÁRIA)

O Inquérito Policial é investigação que deve ser realizada por agentes públicos, sendo
vedada a delegação a particulares.

Art. 144, §§ 1º e 4º, CF

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido
pela União e estruturado em carreira, destina-se a: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,


serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas,
assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e


o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas
respectivas áreas de competência;

III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; (Redação


dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada


a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,
exceto as militares.
4.5> DISCRICIONÁRIO/ DISCRICIONARIEDADE

Compete ao Delegado estabelecer o rito de suas atividades de forma discricionária(liberdade


dentro da lei), sempre buscando eficiência na elucidação dos fatos investigados, ou seja, não
há um rito específico

 DISCRICIONARIEDADE: Liberdade de atuação dentro da lei.

Obs.1: Discricionariedade X Arbitrariedade: Não se confundi Discricionariedade com


Arbitrariedade, pois a autoridade policial não poderá agir ao arrepio das normas constitucionais
e infraconstitucionais.

Exemplos: 1. Não poderá realizar a busca e apreensão ou realizar a interceptação telefônica


sem obter a competente ordem judicial;

Exemplo 2. Não poderá constranger o investigado a falar caso se reserve ele ao direito de
permanecer em silêncio.

Obs.1: EXCEÇÕES A DISCRICIONARIEDADE:

1. Requisições do MP

Obs.: A discricionariedade do delegado é mitigada pelo poder de requisição do Ministério


Público (art. 129, VIII, CF).

Constituição Federal “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

(...)
VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os
fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais”

Ex.: Promotor requisita que colha depoimento de pessoa que morrerá)

2. Exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios/Crimes Não Transeunte
Ex.: Lesão Corporal

Obs.2: HÁ HIERÁRQUIA ENTRE O JUIZ, O PROMOTOR E O DELEGADO? Não, o que acontece é


uma determinação legal.

 O delegado cumpre a requisição do MP porque ambos estão sujeitos ao princípio da


obrigatoriedade.
 O delegado não é obrigado a atender requisições ilegais. Neste caso, o delegado deve
recusar o cumprimento de maneira fundamentada. O delegado não deve atender à requisição
e deve fundamentar a recusa.

4.6. OFICIOSO

A autoridade policial, ao tomar conhecimento de uma infração penal, de ação pública


incondicionada, agirá de ofício, ou seja, sem provocação.

 É uma obrigatoriedade de instauração do IP em face da notícia de um crime que autoriza o


agir ex officio do delegado.

Art. 5o - Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:

I - de ofício;

Obs.: Essa característica não se aplica aos casos de crimes de ação penal condicionada e ação
penal privada.

Obs.: A notícia da ocorrência de uma infração penal, como tal considerada o fato típico,
justifica a instauração do inquérito policial.

4.7. INDISPONÍVEL/ INDISPONIBILIDADE

Uma vez instaurado o inquérito, não pode a autoridade policial, por sua própria iniciativa,
promover seu arquivamento, ainda que venha a contatar a atipicidade do fato apurado, alguma
causa de exclusão da ilicitude ou que não tenha detectado indícios que apontem o seu autor.

O inquérito sempre deverá ser concluído e encaminhado a juízo. O

DELTA NÃO ARQUIVARÁ O IP, AINDA QUE CONSTATE

 ATIPICIDADE

 CAUSA DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE

 QUE NÃO EXISTA INDÍCIOS QUE APONTE O AUTOR

CPP, Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.
Obs.1: Após a vigência do pacote anticrime a competência para o arquivamento do IP NÃO É
MAIS DO JUIZ E SIM DO MP.

Obs.2: O Delegado NÃO ESTÁ OBRIGADO A INSTAURAR O IP diante do requerimento do ofendido.

Cabe a ele conferir a procedência da informação.

Obs.3: NEGATIVA DE INSTAURAÇÃO DO IP POR PARTE DO DELEGADO: Se o cidadão se sentir


prejudicado caberá recurso administrativo ao chefe de polícia(Art. 5, § 2, CPP).

➔Nada impede que se dirija diretamente ao MP ou a AUTORIDADE JUDICIÁRIA e solicite


requisição do IP, caso em que estará obrigado a instaurá-lo.

4.8. DISPENSÁVEL/ DISPENSABILIDADE

Caso o titular da ação penal já disponha de tais elementos de informação relacionados à prova
da materialidade e indícios de autoria e participação não haverá necessidade de IP.

Por ser seu conteúdo meramente informativo, se já dispuser o Ministério Público(na ação
penal pública) ou o ofendido(na ação penal privada) dos elementos necessários ao
oferecimento da denúncia ou queixa-crime(OBJETIVOS DO IP[item 2]) indícios de autoria e
prova da materialidade do fato), poderá ser dispensado o procedimento policial sem que isso
importe em irregularidade.

Exemplo: a sindicância realizada nas Forças Armadas é um exemplo de peça de informação.

Art. 39, § 5º, CPP – “O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação
forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a
denúncia no prazo de quinze dias.”

Art. 46, § 1º, CPP - Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o
oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações
ou a representação

Obs.1: SE O MP ENTENDER QUE NÃO HÁ ELEMENTOS PARA OFERECER DENÚNCIA(13.967/19)

DEVERÁ COMUNICAR:

 A VÍTIMA

 O DELEGADO + ENCAMINHAR OS AUTOS PARA INSTÂNCIA REVISIONAL DO MP


 INVESTIGADO
Obs.: Os elementos de informação podem ser obtidos por outros meios de investigação criminal,
como os INQUÉRITOS PARLAMENTARES, INQUÉRITO CIVIS PÚBLICOS, INVESTIGAÇÕES DO MP e
ETC.

MP, ao receber o Relatório do Inquérito Policial

 Requisitar novas diligências

 Oferecer Denúncia

 Ordenar o Arquivamento do Inquérito

4.9- AUTORITÁRIO/AUTORITARIEDADE:

O delegado de polícia, presidente do inquérito policial, é autoridade pública.

Obs.: É CORRETO AFIRMAR QUE A ATIVIDADE INVESTIGATÓRIA É DE COMPETÊNCIA


EXCLUSIVA DO DELEGADO DE POLICIA??? NÃO!

Ao delegado de polícia compete, unicamente a condução do Inquérito Policial ou outro


procedimento investigativo de origem ou em curso nas delegacias de polícia, atribuição essa
que não pode ser transferida a outras instituições ou ao particular.

Entretanto, tal previsão não implica a proibição de que outros órgãos realizem investigações
criminais, como é o caso do Ministério Público.

SIMPLIFICANDO: O Inquérito Policial é de incumbência do Delgado de Polícia, e não a


atividade investigatória.

4.10. TEMPORÁRIO
O prazo para a conclusão do inquérito depende do fato de o réu estar preso ou solto.

Investigado Preso Investigado solto


O prazo para a conclusão do inquérito O prazo para a conclusão do inquérito é de
policial é de 10 dias (art. 10, CPP2 ). 30 dias, mas pode ser prorrogado (30
+ 30 +30 ...).
 O STJ e a doutrina afirma que, quando a CF/1988 se refere à garantia de razoável duração do
processo, tal garantia deve ser interpretada extensivamente de forma a abranger a fase
investigatória.

O entendimento da doutrina e do STJ ganhou o reforço da nova Lei de Abuso de Autoridade:

Lei 13.869/19, art. 31: “Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em


prejuízo do investigado ou fiscalizado:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.”

5. VALOR PROBATÓRIO

O Inquérito policial possui valor probatório relativo, pois não tem força por si só de embasar uma
condenação, ou seja, as informações produzidas no Inquérito Policial deverão ser renovadas ou
ao menos confirmadas pelas provas judicialmente realizadas sob o manto do devido processo
legal e demais princípios do DPP.

Art. 155, caput, 1ª parte, do CPP - O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Obs.1: O IP PRODUZ PROVAS??? Não, produz elementos de informações.

No processo os elementos de informações são passados pelos filtros do contraditório e da ampla


defesa para que seja validado como provas.

Obs.2: O JUIZ PODE CONDENAR BASEADO NOS ELEMENTOS DO IP???

Não. De acordo com o art. 155 do CPP o juiz não poderá condenar baseado exclusivamente
nos elementos colhidos no IP, RESSALVADAS as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas(desde que filtradas pelo contraditório e ampla defesa).

 Provas Cautelares: São aqueles objetos colhidos para que futuramente seja apresentado
em juízo(p. ex. Interceptação Telefônica).

As provas cautelares dependem de autorização judicial, sendo que o contraditório será diferido.
 Provas Não-repetíveis: São diligências realizadas no inquérito policial que, por sua natureza,
não serão repetidas no Processo (p. ex. Perícias nas infrações que deixam vestígios). Não

dependem de autorização judicial, sendo que o contraditório será diferido.

Provas Antecipadas: São aquelas colhidas sempre que houver risco de não poderem ser
realizadas certas diligências futuramente.

É o caso da oitiva de testemunhas com idade avançada ou doente. Ele se instaura com a
convocação do Juiz e com a presença das futuras partes, com respeito ao contraditório e à ampla
defesa.

Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Dependem de autorização


judicial, sendo que o contraditório será real (contraditório para a prova).

O contraditório, neste caso, deve ser observado durante a produção da prova antecipada, ou seja,
o contraditório é real e não diferido.

6. TITULARIDADE/ATRIBUIÇÃO

A ATRIBUIÇÃO DE CONDUÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL É DA AUTORIDADE POLICIAL.

 AUTORIDADE POLICIAL = DELEGADO DE POLÍCIA

Obs.1: ATRIBUIÇÃO X COMPETÊNCIA: Competência se refere à distribuição de poder jurisdicional.

Obs.2: EXISTE O PRINCÍPIO DO DELEGADO NATURAL? NÃO

➢ PRINCÍPIO DO JUIZ E DO PROMOTOR NATURAL:


Art. 5º, LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente;
 1: O juiz e o promotor devem ser conhecidos previamente, vedando assim a
criação de tribunal de exceção, Acusador de exceção ou “magistrados de
encomenda”.
 2: É um princípio IMPLÍCITO!

JUIZ NATURAL:
Este possui 2 desdobramentos:
DIREITO DE SER PROCESSADO DIANTE A AUTORIDADE E O ÓRGÃO COMPETENTE
 Previamente conhecido
 Devidamente investido
 Imparcial

➢ 1: PROIBE A CRIAÇÃO DE JUÍZOS OU TRIBUNAL DE EXCEÇÃO => Órgão pós fato.


(Art. 5º, XXXVII, CF).
 Obs.: TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL: Não constitui tribunal de exceção, pois o
estatuto de Roma, que o criou, dispõe que só serão julgado os fatos ocorridos após
sua criação.
 Exemplos: Tribunais Internacionais de Nuremberg, Ruanda e da ex-Iugoslávia.

➢ .2: O dispositivo em questão se refere a AUTORIDADE COMPETENTE e não


somente há juízo competente, sendo assim, não apenas se refere as regras de
competência dos juizados(ratione materiae, personae e loci).
➢ .3: OBJETIVO DO INCISO LIII: Assegurar ao acusado o direito de ser submetido a
processo e julgamento não apenas no JUÍZO COMPETENTE, como também por
ÓRGÃO do poder judiciário REGULARMENTE INVESTIDO.

PROMOTOR NATURAL: Tal princípio é um entendimento doutrinário e jurisprudencial


justificando-se na circunstância de todo acusado tem o direito de saber,
antecipadamente, que personificará o Estado-acusador.
É caracterizado pela proibição de designação arbitraria de membros do MP.
➢ 1: A própria independência funcional do MP impede que se permita a designação
aleatória de promotores para casos específicos.

➢ 2: IMPEDE QUE SEJA DESIGNADO PROMOTOR DE JUSTIÇA PARA O EXERCÍCIO DE


ATRIBUIÇÃO GENÉRICA? Nada impede, como por exemplo, é o caso dos
GAECO(Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) que tem
como finalidade elevar ou otimizar as investigações realizadas pelo MP em relação
aquela ordem de delitos.

➢ 3: ABRANGÊNCIA: Tal princípio alcança somete o processo criminal, sendo assim,


não se estende ao Inquérito Policial.

➢ 4.: Quanto a subscrição da denúncia por outros promotores, além do promotor da


comarca? Considera o STF que inexiste ofensa ao art. 5, LIII, da CF. O que ocorre
nesses casos é a simples reunião das forças visando ao oferecimento da inicial.
 ATENÇÃO: É indispensável que o promotor com atribuições previamente
estabelecidas assine a peça, sob pena de se considerar nula ou até mesmo
inexistente essa denúncia.

6.1. ATRIBUIÇÃO PARA INVESTIGAÇÕES


A ATRIBUIÇÃO SERÁ DEFINIDA DE ACORDO COM A NATUREZA DO CRIME PRATICADO.

A) CRIME MILITAR

A.1. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO:

➔QUEM INVESTIGA? Neste caso, quem investiga é um oficial das Forças Armadas,

➔QUEM DESIGNA? o qual será designado pelo comandante da unidade como encarregado de
IPM (inquérito policial militar).

➔ O encarregado de IPM exercerá as funções de polícia judiciária.

A.2. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL: A função de investigação será exercida


por OFICIAL DA POLÍCIA MILITAR ou do CORPO DE BOMBEIRO MILITAR.

B) CRIME DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

Os crimes federais são da atribuição da Polícia Federal.

C) CRIME DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL

REGRA: Será investigado pela POLÍCIA CIVIL

EXCEÇÃO: Será investigado pela Polícia Federal, DESDE QUE:

 Seja crime de REPERCUSSÃO INTERESTADUAL ou INTERNACIONAL

+
 Exista PREVISÃO LEGAL

CF, art. 144, §1: “A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:

I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços
e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei ;

 Lei nº 10.446/2002
Obs.: LEI DE TERRORISMO(Lei nº 10.446/2002): Tal lei diz que a Polícia Federal tem
atribuições investigatórias no crime de terrorismo.

D) CRIME ELEITORAL

A investigação será feita pela POLÍCIA FEDERAL, pois a Justiça Eleitoral integra o Poder Judiciário
da UNIÃO.

Obs.: SE NÃO HOUVER DELEGACIA DA POLÍCIA FEDERAL NA COMARCA: Segundo o TSE as


investigações poderão ser feitas pela Polícia Civil.

7. GRAU DE COGNIÇÃO

NO PROCESSO PENAL HÁ 3 NÍVEIS DE COGNIÇÃO, BUSCANDO-SE UM JUÍZO DE

 POSSIBILIDADE(Investigação preliminar)

 PROBABILIDADE(Início da ação penal)

 ou de CERTEZA(Sentença)

A) POSSIBILIDADE

Para que seja iniciada uma investigação preliminar é necessário apenas que exista RAZÕES
FAVORÁVEIS EQUIVALENTES OU SUPERIORES AS RAZÕES CONTRÁRIAS.

Obs.: A INVESTIGAÇÃO NO PLANO DE COGNIÇÃO DEVERÁ SER SUMÁRIA, limitando-se a


atividade mínima de comprovação e averiguação dos fatos e da autoria, para justificar ou
não o processo.

B) PROBABILIDADE

Para iniciar a ação penal É NECESSÁRIO TÃO SOMENTE UM JUÍZO DE PROBABILIDADE,


que seria o predomínio das razões positivas que afirmam a existência do delito e sua
autoria.
C) CERTEZA

Para chegar a um juízo de certeza É NECESSÁRIO ESGOTAR TODA MATÉRIA PROBATÓRIA,


ATRAVÉS DE UMA COGNIÇÃO PLENA, O QUE JUSFICARIA UMA SENTENÇA CONDENATÓRIA.

8. FORMAS DE INSTAURAÇÃO

8.1. PRESSUPOSTO PARA INSTAURAÇÃO

É necessário a existência de ÍNDICIOS MÍNIMOS ACERCA DO DELITO.

Obs.1: VEDAÇÃO FISHING EXPEDITIONS/EXPEDIÇÃO DE PESCA: É o ato de investigar sem antes


haver qualquer indício da prática de um delito.

Segundo o professor Renato Brasileiro, trata-se de uma investigação especulativa


indiscriminada, sem objetivo certo ou declarado, que lança suas redes com a esperança de pescar
qualquer prova, para subsidiar uma futura acusação.

Nova Lei de Abuso de Autoridade

Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal ou


administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito
funcional ou de infração administrativa:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação preliminar sumária,
devidamente justificada.

Obs.2: JURISPRUDÊNCIA DO STF: “(...) Ausência de competência por conexão.


Ilegalidade de busca e apreensão. Decisão genérica que autorizou a diligência contra setenta
escritórios/advogados após o oferecimento de denúncia. Violação às normas do art. 240, §1º e
243, §2º, do CPP, bem como do art. 7º, II, §6º, do Estatuto da OAB. Evidente situação de fishing
probatório (...)”. (STF, 2ª Turma, Rcl 43.479-RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 10.08.2021, DJ
03.11.2021).

Obs.3: VERIFICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA DE INFORMAÇÕES(VPI’s):


Procedimento preliminar à instauração do inquérito.

Exemplo: Delegado de Polícia recebe uma carta de forma anônima dizendo


que João agrediu Maria, sua esposa.
 CASO INSTAURE IP DE IMEDIATO: Abuso de Autoridade.

 CASO NÃO FAÇA NADA: Pode ser acusado de OMISSÃO.

 CASO ABRA UM VPN: Providência adequada a luz da Lei de Abuso de


Autoridade e Jurisprudência do STF.

Obs.4: O inquérito policial, nos casos de ação penal pública condicionada ou de ação penal de
iniciativa privada, não pode ser instaurado de ofício, pois depende de manifestação da vítima
(ou de seu representante legal).

 Nestes casos, a instauração do IP depende de requerimento do ofendido ou de seu


representante legal (a depender do caso concreto).

 Em relação à provocação da vítima, não há necessidade de formalismo.

8.2. INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL

Obs.: Todas as formas de IP decorrem de uma notitia criminis

A) CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA: A instauração ocorrerá:

 OFÍCIO/PORTARIA

 REQUISIÇÃO DO JUIZ ou MP

 REQUERIMENTO DA VÍTIMA OU REPRESENTANTE LEGAL

 AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE

 NOTÍCIA OFERECIDA POR QUALQUER DO POVO

Obs.1: DE OFÍCIO: A autoridade policial toma conhecimento de crime de ação penal pública
incondicionada, ele determina a instauração do inquérito policial por meio da lavratura de
portaria, que é a peça inicial do inquérito.

CPP, art. 5º, II: “Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:

(...)

II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do


ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.”
Obs.2: REQUISIÇÃO DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA:

PREVISÃO LEGAL DOUTRINA JURISPRUDÊNCIA DO STF


➢O art. 3º-A, Lei ➢ A doutrina entende que ➢ O STF, no Inquérito 4.781
13.964/2019(Pacote juiz não pode requisitar (Fake News), entendeu que
Anticrime) proibiu qualquer inquérito policial, ou seja, a o inquérito pode ser
iniciativa do juiz na fase requisição da autoridade instaurado de ofício pela
investigativa. judiciária não foi Corte.
 Este dispositivo teve sua recepcionada pela
eficácia suspensa pelo STF. Constituição Federal.  O Inquérito foi aberto, em
março de 2019, para apurar
Essa vedação visa a
 Enquanto pendurar esta fake News contra ministros
preservar o sistema
suspensão não fica o juiz do STF.
acusatório e a
impedido de requisitar a
imparcialidade judicial.
instauração do IP. A legalidade confirmada
O juiz, ao tomar pelo Plenário do STF.
conhecimento da ocorrência
➢ TODAVIA, o art. 5º, II cita de crimes, deverá proceder à
que o juiz poderá remessa dos autos ao MP.
“REQUISITAR” a instauração
do IP.

CPP, art. 3º-A: O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na
fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de
acusação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) (Vide ADI 6.298) (Vide ADI
6.300) (Vide ADI 6.305)

CPP, art. 5º, II: “Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: II - mediante
requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido
ou de quem tiver qualidade para representá-lo.”

JULGADO DO STF

“O STF julgou improcedente o pedido formulado na ADPF 572 (Rel. Min. Edson Fachin, j.
18/06/2020), em que se discutia a (in) constitucionalidade da instauração do Inq. 4.781.
Quanto ao mérito, assentou condicionantes no sentido de que o procedimento
investigatório:
(a) seja acompanhado pelo Ministério Público;
(b) seja integralmente observado o Enunciado 14 da Súmula Vinculante;
(c) limite o objeto do inquérito a manifestações que, denotando risco efetivo à
independência do Poder Judiciário (CF, art. 2º) pela via da ameaça aos membros do STF e a
seus familiares, atentam contra os Poderes instituídos, contra o Estado de Direito e contra a
democracia; e
(d) observe a proteção da liberdade de expressão e de imprensa nos termos da Constituição,
excluindo do escopo do inquérito matérias jornalísticas e postagens, compartilhamentos ou
outras manifestações (inclusive pessoais) na internet, feitas anonimamente ou não, desde
que não integrem esquemas de financiamento e divulgação em massa nas redes sociais.

Na visão da Corte, ausente a atuação dos órgãos de controle com o fim de apurar o intuito
de lesar ou expor a perigo de lesão a independência do Judiciário e o Estado de Direito,
incide o art. 43 do RISTF. Esse dispositivo é regra excepcional que confere ao Judiciário
função atípica na seara da investigação, de modo que seu emprego depende de rígido
escrutínio. Muito embora o dispositivo regimental exija que os fatos apurados ocorram na
sede ou dependência do próprio STF, o caráter difuso dos crimes cometidos por meio da
internet permite estender o conceito de “sede”, uma vez que o STF exerce jurisdição em
todo o território nacional. Logo, os crimes objeto do inquérito, contra a honra e, portanto,
formais, cometidos em ambiente virtual, podem ser considerados como cometidos na sede
ou dependência do STF. Considerou-se, ademais, ser imprescindível a obediência ao juiz
natural. De acordo com a regra regimental, o ministro competente para presidir o inquérito
é o presidente da Corte, ou seu delegatário. Nesse caso, a delegação pode afastar a
distribuição por sorteio, embora esta também seja uma via legítima. Ao Ministério Público
caberá, derradeiramente, diante dos elementos colhidos, propor eventual ação penal ou
promover o respectivo arquivamento.”

Obs.3: REQUISIÇÃO DO MP:


CF, art.129: “São funções institucionais do Ministério Público:

(...)

VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os


fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;”

Obs.4: REQUERIMENTO DA VÍTIMA OU DE SEU REPRESENTANTE LEGAL


➢ DEVERÁ CONTER, SEMPRE QUE POSSÍVEL

 NARRAÇÃO DO FATO

 INDIVIDUALIZAÇÃO DO INDICIADO

 RAZÕES DE CONVICÇÃO OU PRESUNÇÃO DE AUTORIA

 ROL DE TESTEMUNHAS

Art. 5º, §1º, CPP – O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que
possível:

a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;


b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de
convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de
impossibilidade de o fazer;

c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência.

➢ O delegado de polícia não é obrigado a instaurar o inquérito policial nos casos de


requerimento do ofendido.

 Pode ser indeferido pelo delegado na hipótese de atipicidade da conduta.

 No caso de indeferimento caberá recurso administrativo inominado ao chefe de


polícia(art. 5º, §2º, CPP).

Art. 5º, §2º, CPP – Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de


inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.

➢ CHEFE DE POLÍCIA

PF: Superintendente Regional da Polícia Federal.

PC: Delegado-Geral da Polícia Civil ou o Secretário de Segurança Pública (a depender


do estado

Obs.5: AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE: Apesar de não mencionado, expressamente, no art.


5º do CPP, o APF é forma inequívoca de instauração de IP, dispensando a portaria subscrita pelo
delegado de polícia.

Art. 304, § 1º, CPP - Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a
autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar
fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se
não o for, enviará os autos à autoridade que o seja.

➢ OFERECIMENTO DA DENÚNCIA COM BASE NO APF: Caso não haja a necessidade de


ulteriores diligências, a denúncia poderá ser oferecida com base no APF.

 quando o APF trouxer todos os elementos necessários, não haverá necessidade de


instauração de inquérito.

Exemplo: João foi apreendido em flagrante com 10 ‘’peças” de maconha. A droga foi levada ao
Instituto de Criminalista para ser feito o exame de constatação.

Neste caso, não há necessidade de IP, pois o APF já reúne todos os elementos de informação
para a instauração de denúncia.
B) CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA

 REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO OU DE SEU REPRESENTANTE LEGAL

 REQUISIÇÃO DO MP OU DO MINISTRO DA JUSTIÇA

 AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE

Art. 5º, § 4º, CPP – O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
representação, não poderá sem ela ser iniciado.

Art. 39, caput, CPP – O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por
procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão
do Ministério Público, ou à autoridade policial

Obs.1: A REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA OU SEU REPRESENTANTE LEGAL PODE CONSTITUIR


REGISTRO-SE DE REGISTRO DE OCORRÊNCIA POLICIAL???

Segundo o STJ, nada impede que esteja a representação incorporada à comunicação de


ocorrência policial, desde que dela se possa extrair a vontade efetiva na apuração da infração
penal.

Obs.2: REQUISIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO: Em se tratando de crime de ação penal pública


condicionada, o exercício deste poder requisitório está condicionado à existência de
representação prévia que tenha sido feita perante o Ministério Público.

Obs.3: REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA: Tal requisição é condição necessária para


apuração dos crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, crimes contra a
honra cometidos contra o Presidente da República ou Chefe de Governo estrangeiro, ou crimes
previstos na lei de segurança nacional.

Obs.4: AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE: Nos crimes de ação penal pública condicionada a
representação exige que a vítima ou seu representante estejam presentes no momento da
formalização do APF e manifestem perante a autoridade policial a vontade de ver apurada a
infração penal.

 SE NÃO FOR POSSÍVEL OBTER A REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO DE FORMA PRÉVIA: Pode


o delegado de polícia confeccionar o APF, tendo que o ofendido ou RL formalize a representação
no prazo de 24 horas contados do momento da prisão.

Obs.5: ESTELIONATO: O Pacote Anticrime acrescentou, ao Código Penal, o §5º no art. 171 ,
que prevê que este crime é de ação penal pública condicionada à representação.
CP, art. 171, §5º: “Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for: (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - a Administração Pública, direta ou indireta; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - pessoa com deficiência mental; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)”

C) CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA

 REQUERIMENTO DA VÍTIMA OU DE SEU REPRESENTANTE LEGAL

 REQUISIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Obs.1: REQUERIMENTO DA VÍTIMA OU RL: A instauração do procedimento policial sem a


observância desta formalidade gera constrangimento ilegal, possibilitando o ingresso de habeas
corpus visando o trancamento do inquérito.

 PRAZO DECADENCIAL: 6 meses, contados a partir do conhecimento inequívoco do ofendido


ou de seu representante.

Art. 5º, §5º, CPP - Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder
a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.

Obs.2: REQUISIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO: Em regra, o Ministério público não poderá


requisitar a instauração do inquérito policial nos crimes de ação penal privada, EXCETO QUANDO
O OFENDIDO TENHA REQUERIDO AO PROMOTOR DE JUSTIÇA providência no sentido
de ser desencadeada a investigação na órbita policial.

Obs.3: AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE: Será o APF forma de instauração do IP desde que a
vítima ou RL autorize a sua lavratura no prazo máximo improrrogável de 24 horas contados da
prisão.

9. NOTITIA CRIMINIS

Consiste em informar as autoridades competentes a respeito do crime.

PROFESSOR RENATO BRASILEIRO: É o conhecimento, espontâneo ou provocado, por parte


da autoridade policial, acerca de um fato delituoso.
A) DIRETA/IMEDIATA/ESPONTÂNEA: É o conhecimento do crime por meio das próprias
atividades policiais ou por meio de imprensa.

Ex.: -Investigações; -Disque-Denúncia; -Delegado investigando um homicídio descobre um


tráfico de drogas.

Obs.1: NOTÍCIAS MIDIÁTICAS: De acordo com o STJ, é possível a abertura de IP com base em
notícias veiculadas na mídia.

Obs.2: DÚVIDAS A RESPEITO DO CRIME: Caso a autoridade policial não se convença a respeito
da verossimilhança do fato que chegou ao seu conhecimento, poderá realizar investigações
preliminares para sanar a dúvida existente.

 Tal conduta facultada ao delegado deve ser realizada com a celeridade possível para não
violar a determinação do art. 6º, caput, do CPP.

Art. 6º, caput, CPP – Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade
policial deverá:

Obs.3: CRIME RELACIONADO A TRÁFICO DE PESSOAS: A instauração do IP deve ser realizada no


prazo máximo de 72 horas, contado do registro da ocorrência policial.

Art. 13-B, CPP - Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao


tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão
requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de
telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos
adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima
ou dos suspeitos do delito em curso. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)

B) INDIRETA/MEDIATA/PROVOCADA: É o noticiamento realizado por terceiros identificados.

A autoridade toma conhecimento da ocorrência do crime por meio de algum ato jurídico de
comunicação formal.

PROFESSOR RENATO BRASILEIRO: a autoridade policial toma conhecimento do crime através


de um expediente escrito.

Ex.: -Representação do ofendido;

-Requisição do Ministério Público ou do Ministro da Justiça;

-Requerimento de qualquer pessoa do povo.


Tipo de Notitia Criminis Indireta Características

Requerimento Vítima ou Representante Legal

Representação Ocorre em ação penal pública


condicionada

Delatio Criminis Ocorre em ação penal pública


incondicionada

Requisição Tem natureza de ordem por imposição


legal realizada pelo Juiz ou membro do
MP

C) COERCITIVA ou OBRIGATÓRIA: É aquela decorrente da prisão em flagrante(APF).

O APF é forma é forma de início do Inquérito Policial, independente da natureza da ação penal,
Entretanto, nos crimes de ação penal pública condicionada e ação penal privada sua lavratura
apenas poderá ocorrer se for acompanhado, respectivamente, da representação ou
requerimento do ofendido.

Art. 5º, § 4º, CPP - O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação,
não poderá sem ela ser iniciado.

Art. 5º, § 5º, CPP - Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder
a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.

Obs.: A omissão injustificada do delegado na instauração do IP importará em


responsabilização disciplinar e, conforme o caso, até mesmo em responsabilização penal por
crime de prevaricação se evidenciado que a omissão visou à satisfazer interesse próprio ou
alheio.

Obs.2: DENÚNCIA ANÔNIMA e APÓCRIFA: Não é possível dar abertura ao inquérito policial
unicamente através da denúncia, a não ser que constitua prova vestigial.

 O delegado de polícia, antes de proceder a instauração do IP, deve realizar investigação


preliminar com vistas a constatar a plausibilidade do relato.

9.1. NOTITIA CRIMINIS INQUALIFICADA

É conhecida como “DENÚNCIA ANÔNIMA”.


Obs.1: DIFERENÇA ENTRE D. ANÔNIMA e D. APRÓCRIFA

Denúncia ANÔNIMA: Denúncia APÓCRIFA

É aquela realizada de forma oral e anônimo. É aquela por escrito, mas sem a subscrição do
comunicante.
Ex.: Disque-Denúncia.

Obs.2: INSTAURAÇÃO DE IP COM BASE EM DENÚNCIA ANÔNIMA: Diante de uma notitia


criminis inqualificada, antes de ser instaurado o inquérito, o delegado deve verificar a procedência
das informações (VPI).

STF: “(...) Firmou-se a orientação de que a autoridade policial, ao receber uma denúncia
anônima, deve antes realizar diligências preliminares para averiguar se os fatos narrados
nessa "denúncia" são materialmente verdadeiros, para, só então, iniciar as investigações”.
(STF, 1ª Turma, HC 95.244/PE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 23/03/2010, DJe 76 29/04/2010).

10. DELATIO CRIMINIS

É a comunicação da prática de crime à autoridade policial, PODENDO SER

 SIMPLES

 POSTULATÓRIA

A) DELATIO CRIMINIS simples: É a comunicação do fato de um crime, por qualquer do


povo, verbalmente ou por escrito, à autoridade policial que instaura o IP mediante
portaria.
B) DELATIO CRIMINIS POSTULATÓRIA: É a comunicação e postulação da ocorrência de
uma infração penal por parte do ofendido à autoridade competente.

 Delatio Criminis Postulatória é a REPRESENTAÇÃO para instauração do IP e para que


o MP possa também agir.

NOTICIAMENTO + REPRESENTAÇÃO

11. PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS


O inquérito policial não é o único instrumento investigatório.

CPP, art. 4º, Parágrafo único: “A competência definida neste artigo não excluirá a de
autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.”
A) Inquéritos Parlamentares: são presididos por parlamentares, sendo as diligências
realizadas pela polícia.

B) Inquéritos Militares: são presididos por Oficiais Militares de Carreira.

C) Inquéritos Ministeriais: são investigações criminais presididas pelo promotor.

Não confunda Inquérito Ministerial com Inquérito Policial, sendo este último presidido
apenas por autoridade policial. Neste caso, a investigação a cargo do Promotor conviverá
harmonicamente com o Inquérito Policial. Vale ressaltar a súmula 234 do STJ, que versa sobre
o impedimento do Promotor na propositura da ação:

“A Participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal NÃO


acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.”

12. INDICIAMENTO
Consiste em atribuir a alguém a autoria ou a participação em determinada infração penal.

12.1. FASE
O indiciamento é exclusivo da fase investigatória.

Obs.: Não é cabível o indiciamento na fase processual.

Obs.: INDICIAMENTO DO ACUSADO APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA: De acordo com o


STJ NÃO É POSSIVEL, pois submete o paciente a CONSTRANGIMENTO ILEGAL DESNECESSÁRIO.

STJ: “(...) Esta Corte Superior de Justiça, reiteradamente, vem decidindo que o indiciamento
formal dos acusados, após o recebimento da denúncia, submete os pacientes a
constrangimento ilegal e desnecessário, uma vez que tal procedimento, que é próprio da
fase inquisitorial, não mais se justifica quando a ação penal já se encontra em curso. Habeas
corpus concedido para cassar a decisão que determinou o indiciamento formal dos
pacientes, excluindo-se todos os registros e anotações, relativos ao processo de que aqui se
cuida, sem prejuízo do regular andamento da ação penal. (STJ, 6ª Turma, HC 182.455/SP,
Rel. Min. Haroldo Rodrigues, j. 05/05/2011).
Obs.3: MOMENTO DO INDICIAMENTO: O indivíduo pode ser indiciado no próprio auto de prisão
em flagrante, uma vez que já existem os elementos necessários para que sejam identificados
os autores do delito.

12.2. PRESSUPOSTOS
Há necessidade de fundamentação, pois se trata de ato motivado.

➔Segundo o STF, a fundamentação deve apresentar a prova de existência do delito e


indícios de autoria ou participação. Sobre o assunto:

STF: “(...) Indiciamento. Ato penalmente relevante. Lesividade teórica. Indeferimento.


Inexistência de fatos capazes de justificar o registro. Constrangimento ilegal caracterizado.
Liminar confirmada. Concessão parcial de habeas corpus para esse fim. Precedentes. Não
havendo elementos que o justifiquem, constitui constrangimento ilegal o ato de
indiciamento em inquérito policial”. (STF, 2ª Turma, HC 85.541, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe
157 21/08/2008).

12.3. ATRIBUIÇÃO
A atribuição para o indiciamento é exclusiva do delegado. Assim, o indiciamento não pode ser
objeto de requisição judicial ou ministerial.

STF: “(...) Sendo o ato de indiciamento de atribuição exclusiva da autoridade policial, não
existe fundamento jurídico que autorize o magistrado, após receber a denúncia, requisitar
ao Delegado de Polícia o indiciamento de determinada pessoa. A rigor, requisição dessa
natureza é incompatível com o sistema acusatório, que impõe a separação orgânica das
funções concernentes à persecução penal, de modo a impedir que o juiz adote qualquer
postura inerente à função investigatória. Doutrina. Lei 12.830/2013. Ordem concedida. (STF,
2ª Turma, HC 115.015/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 27/08/2013).

Lei n. 12.830/13

Art. 2º (...) § 6o O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado,
mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas
circunstâncias.

12.4. SUJEITO PASSIVO


REGRA: Em regra, qualquer pessoa pode ser indiciada.

EXEÇÕES: por expressa disposição legal, promotores e magistrados não podem ser indiciados.
 (Lei 8.625/93 e LC 35/79)
Obs.1: FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO:

➢ DOUTRINA: A doutrina afirma que, em relação às pessoas que possuem foro por
prerrogativa de função (exemplos: senadores e deputados), como não há previsão legal, elas
podem ser indiciadas.

➢ JURISPRUDÊNCIA

 SUPREMO(STF): O STF ampliou esse entendimento e passou a entender que autoridades


dotadas de foro de prerrogativa de função não podem ser indiciadas. Foi suscitada questão de
ordem no Inq. 2.411 e os ministros definiram esse entendimento. Assim sendo, nestes casos, a
instauração de investigação e o indiciamento dependem de autorização do ministro relator.

STF: “(...) Se a Constituição estabelece que os agentes políticos respondem, por crime
comum, perante o STF (CF, art. 102, I, b), não há razão constitucional plausível para que as
atividades diretamente relacionadas à supervisão judicial (abertura de procedimento
investigatório) sejam retiradas do controle judicial do STF. A iniciativa do procedimento
investigatório deve ser confiada ao MPF contando com a supervisão do Ministro-Relator do
STF. A Polícia Federal não está autorizada a abrir de ofício inquérito policial para apurar a
conduta de parlamentares federais ou do próprio Presidente da República (no caso do STF).
No exercício de competência penal originária do STF (CF, art. 102, I, "b" c/c Lei nº
8.038/1990, art. 2º e RI/STF, arts. 230 a 234), a atividade de supervisão judicial deve ser
constitucionalmente desempenhada durante toda a tramitação das investigações desde a
abertura dos procedimentos investigatórios até o eventual oferecimento, ou não, de
denúncia pelo dominus litis. Questão de ordem resolvida no sentido de anular o ato formal
de indiciamento promovido pela autoridade policial em face do parlamentar investigado”.
(STF, Pleno, Inq. 2.411 QO/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 74 24/04/2008).

 STJ: O STJ tem precedentes no sentido de que, embora as autoridades com prerrogativa de
foro devam ser processadas perante o Tribunal competente, a lei não excepciona a forma como
devem ser investigadas, devendo ser aplicada, assim, a regra geral prevista no art. 5º do CPP.
Portanto, não há necessidade de autorização do Judiciário para a instauração de inquérito (ou
procedimento investigatório criminal) contra agente com foro por prerrogativa de função,
dada a inexistência de norma constitucional ou infraconstitucional nesse sentido, o que, aliás,
vem inclusive ao encontro do sistema acusatório adotado pelo Brasil, que prima pela
distribuição das funções de acusar, defender e julgar a órgãos diversos. Nesse contexto: STJ, 5ª
Turma, AgRg no HC 404.228/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 01.03.2018, DJe 07.03.2018; STJ, 5ª
Turma, REsp 1.563.962/RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 08.11.2016, DJe
16.11.2016.

COMPLEMETAÇÃO JURISPRUDENCIAL
– Cuida-se, porém, de orientação que não encontra ressonância no STF, que tem
reiteradamente afirmado, sobretudo em julgados de sua 2ª Turma, que é indispensável a
existência de prévia autorização judicial para a instauração de inquérito ou outro
procedimento investigatório (v.g., no âmbito do Ministério Público) em face de autoridade
com foro por prerrogativa de função. Com base nesse entendimento, em caso concreto em
que não teria havido supervisão judicial das investigações deflagradas pelo Parquet contra
autoridade então dotada de foro por prerrogativa de função em Tribunal de Justiça, a 2ª
Turma do STF declarou a nulidade dos Relatórios de Inteligência Financeira (RIF’s) por
intercâmbio e das provas deles decorrentes. A propósito, confira-se: STF, 2ª Turma, HC
201.965/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 30.11.2021. Com entendimento semelhante: STF, 2ª
Turma, RE 1.322854 AgR/GO, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 03.08.2021, DJe 09.08.2021.

STF: “(...) Inquérito policial em tramitação perante a Justiça Federal de primeira instância,
para apurar possível prática de crime de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro por pessoas
que não gozam de foro por prerrogativa de função. A simples menção de nome de
parlamentar, em depoimentos prestados pelos investigados, não tem o condão de firmar a
competência do Supremo Tribunal para o processamento de inquérito. H.C. indeferido”.
(STF, 2ª Turma, HC 82.647/PR, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 25/04/2003).

12.5. AFASTAMENTO DO SERVIDOR INDICIADO EM CRIMES DE LAVAGEM


DE CAPITAIS
O afastamento é um efeito AUTOMÁTICO do indiciamento em crimes de
lavagem de capitais.

Art. 17-D, Lei n. 9.613/98: “Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado,
sem prejuízo da remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente
autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno”.

Obs.1: O art. 17-D da Lei 9.613/98 prevê que, do ato de indiciamento, vai resultar o
afastamento do servidor de suas funções. Como é o delegado o responsável por indiciar, ele
teria o poder de afastar o servidor.

Obs.2: A doutrina entende que o art. 17-D é inconstitucional, pois ele viola, inclusive, a garantia
do devido processo legal.

Assim sendo, o afastamento citado no art. 17-D depende de autorização judicial.

 Recentemente, o entendimento doutrinário foi validado pelo STF.

No julgamento da ADI 4.911 (j. 20.11.2020), o Plenário do STF declarou a


inconstitucionalidade do art. 17-D da Lei n. 9.613/98. Prevaleceu o voto do Min. Alexandre
de Moraes, para quem a determinação de afastamento automático do servidor investigado,
por consequência única e direta do indiciamento, viola os princípios da presunção de
inocência e da igualdade entre os acusados. A medida, ademais, não atende ao princípio da
proporcionalidade, pois o afastamento do servidor pode ocorrer a partir de representação
da autoridade policial ou do Ministério Público à autoridade judiciária competente, na
forma de medida cautelar diversa da prisão, conforme já preveem os arts. 282, §2º, e 319,
inciso VI, do CPP.

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