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PROVAS

PCGO
1. EXAME DE CORPO DE DELITO
De acordo com o professor Renato Brasileiro é uma análise feita por pessoas com conhecimentos técnicos
ou científicos sobre os vestígios deixados pela infração penal, seja para fins de comprovação da
materialidade do crime, seja para fins de comprovação da autoria.

O exame de corpo de delito é uma análise/perícia feita sobre os vestígios deixados pela inflação penal.

A) CORPO DE DELITO: São os elementos sensíveis(vestígios) deixados pela infração.

Obs.1: O crime que deixa vestígios é rotulado como não transeunte ou intranseunte.

CPP, 158-A – Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos utilizados para
manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes,
para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos
policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)

§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da
prova pericial fica responsável por sua preservação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se
relaciona à infração penal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Exemplos:

1. Perna quebrada no delito de lesão corporal;


2. Arma, Cápsulas, Porta arrombada, Pessoa morta no delito de homicídio.

B) EXAME: É a perícia realizada nos vestígios da infração.


Obs.1: A REALIZAÇÃO DEPENDE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL???
REGRA: Não depende de autorização judicial, pois, muitas vezes, ele precisa ser realizado rapidamente
(exemplo: casos de estupro).
EXCEÇÃO: O exame de sanidade mental é uma perícia que depende de autorização judicial prévia.

CPP, art. 149: “Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge
do acusado, seja este submetido a exame médico-legal.

§ 1o O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação da autoridade policial
ao juiz competente.

§ 2o O juiz nomeará curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando suspenso o processo, se já
iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas pelo adiamento.”

C) Exame de corpo delito DIRETO e INDIRETO


C.1— E. C. D. DIRETO: é aquele onde os peritos possuem os vestígios para análise, ou seja, realizado sobre o
próprio corpo de delito.
Exemplo: corpo no homicídio, carro no acidente automobilístico, etc.

C.2— E. C. D. INDIRETO: quando os peritos vão empregar elementos acessórios na elaboração do laudo, pois
há o desaparecimento dos vestígios.
Exemplo: fotografia, filmagem, prontuário médico.
Exemplo: o caso do goleiro Bruno e de Eliza Samudio.

CPP, art. 167: “Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a
prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.”

Obs.: o art. 167 do CPP pode ser interpretado extensivamente para entender que, além da prova
testemunhal, é possível abranger a prova documental.
Essa é a corrente majoritária.
A regra é o exame direto, mas, quando não for possível, será feito o exame indireto.

ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO
Há duas correntes sobre o tema:
1ª corrente: defende que o exame de corpo de delito indireto é exame pericial feito com base na análise de
documentos ou oitiva de testemunhas.
 É um exame feito por peritos, porém, com base no relato de testemunhas ou na análise de documentos.

Exemplo: a mulher apanha do marido e não procura a polícia. Diante disso, os vestígios (hematomas)
desaparecem com o tempo. Neste caso, o exame de corpo de delito indireto poderia ser feito, por exemplo,
pela análise do prontuário médico da vítima que constata as lesões, pela oitiva da filha do casal, etc.
2ª Corrente (majoritária): de acordo com essa corrente, o exame de corpo de delito indireto não é um exame
propriamente dito, mas sim a oitiva de testemunhas ou análise de documentos suprindo a ausência do exame
direto. No exemplo dado anteriormente (esposa que apanha do marido), não haverá laudo pericial. O que
ocorrerá é que a oitiva de testemunhas e a análise de documentos serão levados em consideração pelo MP,
pelo Juiz, pelo delegado, como prova capaz de suprir a ausência do corpo de delito direto.

Obs.: É POSSÍVEL UTILIZAR O EXAME INDIRETO NO CASO DE TRÁFICO DE DROGAS???


Em algumas situações excepcionalíssimas, os Tribunais admitem, inclusive, o exame indireto no caso de
tráfico de drogas (ex.: interceptação telefônica, delação premiada etc.).
 Nesse julgado, o STF entendeu que, inclusive, em casos de drogas, a não apreensão da substância
entorpecente e, consequentemente, a não realização do exame direto poderia ser suprida por outros
elementos, como, por exemplo, interceptação telefônica e testemunhas.

STF: “(...) TRÁFICO DE DROGAS. MATERIALIDADE DELITIVA. NÃO APREENSÃO DA SUBSTÂNCIA


ENTORPECENTE. COMPROVAÇÃO PELAS DEMAIS PROVAS PRODUZIDAS NOS AUTOS. DEPOIMENTOS DE
TESTEMUNHAS E INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS. INTELIGÊNCIA DO ART. 167 DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL. REVOLVIMENTO DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
1. A falta de laudo pericial não conduz, necessariamente, à inexistência de prova da materialidade de crime
que deixa vestígios, a qual pode ser demonstrada, em casos excepcionais, por outros elementos probatórios
constante dos autos da ação penal (CPP, art. 167). Precedentes.
2. A via estreita do habeas corpus não permite refutar o robusto conjunto probatório, colhido sob o crivo do
contraditório, que atesta a existência da infração penal. 3. Ordem denegada”. (STF, HC 130.265/DF, Rel. Min.
Teori Zavascki, j. 31/05/2016, DJe 120 10/06/2016).

Obs.: IMPOSSIBILIDADE DE EXAME DIRETO OU INDIRETO: A prova da materialidade não será realizada pela
confissão do réu.
Vale lembrar que a confissão pode demonstrar a autoria. Todavia, a existência do crime (materialidade)
depende da perícia.
Isso se dá por uma herança histórica, por causa de décadas de ditadura, de pessoas torturadas a confessar.

Art. 167, CPP – Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a
prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Obs.: Se a prova pericial era possível e não realizada por negligência, haverá nulidade, não subsistindo a
substituição pela prova testemunhal.
Obs.: Quando a perícia não é realizada e a prova testemunhal não foi empregada em substituição, se o
processo for deflagrado, haverá nulidade (art. 564, III, “b”, CPP).
Art. 564, CPP – A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:

Obs.: Para o STJ, o exame indireto é sinônimo de ouvir testemunha, não contando com a intervenção de
perito ou com a elaboração de laudo.

D) INDISPENSABILIDADE: É indispensável o exame Direto(VESTÍGIOS) ou Indireto(DADOS SECUNDÁRIOS)


nas infrações que deixam vestígios(Não transeundes)
CPP, art. 158: “Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do
exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva: (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)
I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência. (Incluído dada pela Lei nº 13.721,
de 2018)”

Obs.1: A confissão do autor não supre a ausência do exame de corpo de delito.


Obs.2: Na impossibilidade de realizar o exame em razão dos perecimentos dos vestígios a prova testemunhal
poderá suprir a falta(art. 167, CPP)

D.1. INFRAÇÕES TRANSEUNTES: Também conhecida como delito de fato transeunte (delicta facti
transeuntes). Trata-se da infração penal que não deixa vestígios (passageira).
Nesse caso, obviamente não é possível fazer o exame de corpo de delito e essa conclusão pode ser feita por
uma leitura contrário sensu do art. 158 do CPP.

D.2. INFRAÇÕES NÃO TRASEUNTES: Também conhecida como delito de fato permanente (delicta facti
permanentis). Trata-se da infração penal que deixa vestígios. Se o crime deixou vestígios, a realização do
exame de corpo de delito é indispensável.
Exemplo: um homicídio com cadáver encontrado exige o exame de corpo de delito.

1.1. PERITO

É o profissional técnico responsável pela realização do exame e elaboração do laudo


RENATO BRASILEIRO: É um auxiliar do juízo, dotado de conhecimentos técnicos ou científicos sobre
determinada área do conhecimento humano, que tem a função estatal de realizar exames periciais,
fornecendo dados capazes de auxiliar o magistrado por ocasião da sentença.

A) OFICIAL: É o servidor público, ou seja, aquele que compõe os quadros do funcionarismo público.

B) NÃO OFICIAL: Nomeado pela autoridade na falta de perito oficial.

Obs.: COMPROMISSO: O perito não oficial deve realizar o compromisso de bem e fielmente desempenhar seu
encargo.
A ausência de compromisso não gera nulidade da perícia.

Obs.: ESCOLARIDADE: Os peritos oficiais ou não oficiais precisam ser portadores de diploma de curso
superior, preferencialmente na área do conhecimento exigido na perícia.
Existe posicionamento que diz que o perito não oficial não necessita de curso superior nas perícias simples,
bastando o conhecimento técnico do assunto.

Obs.: Os peritos que ingressaram antes da exigência do nível superior completo possuem direito adquirido,
mas estão proibidos de realizar perícia médica.

Obs.: NOMEAÇÃO: As partes não interferem na nomeação do perito.


Perito é pessoa de confiança da autoridade.

Obs.: SUSPEIÇÃO E IMPEDIMENTO: Como o perito é auxiliar do juízo, espera-se dele a imparcialidade. Por
esse motivo, contra ele podem ser opostas as mesmas exceções de impedimento e suspeição aplicáveis aos
magistrados.
Perito não pode ser amigo íntimo da parte, pois isso comprometeria a sua imparcialidade. CPP, art. 276: “As
partes não intervirão na nomeação do perito.”

Obs.: O perito não oficial pode ser policial.


Exemplo: apreensão de arma de fogo – Neste caso, é necessário o exame de eficiência de arma de fogo.

C) NÚMERO DE PERITOS

C.1- PERITO OFICIAL: 1 perito


C.2- PERITO NÃO OFICIAL: 2 peritos
CPP, art. 159: “O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de
diploma de curso superior.
§1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de
curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada
com a natureza do exame.” (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) (...)

Obs.: PERÍCIA REALIZADA POR APENAS 1 PERITO NÃO OFICIAL


Para a jurisprudência, se o exame for feito por apenas uma pessoa idônea (perito não oficial), isso é causa de
nulidade relativa.
Súmula 361, STF: “No processo penal, é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se impedido o
que tiver funcionado, anteriormente, na diligência de apreensão.”

OBS.: PERÍCIAS COMPLEXAS: Nas pericias complexas que envolvem mais de uma área de conhecimento
especializado a autoridade poderá designar mais de um perito oficial
CPP, art. 159, §7º: “Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento
especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um
assistente técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)”
D) DIVERGÊNCIA ENTRE PERITOS

Havendo divergência entre os peritos as conclusões de cada um deverão ser consignadas no laudo ou cada
qual elaborarão seu laudo.

Obs.: ATUAÇÃO DO JUIZ: O juiz deve designar um outro perito (3º), com o objetivo de equacionar a tensão.
Todavia, persistindo o problema o magistrado pode determinar uma nova perícia, com a intervenção de
outros peritos.
Um terceiro perito seria obrigatório e uma nova perícia seria facultativa.

Obs.: Se o terceiro divergir de ambos o juiz poderá determinar a realização de uma nova perícia.
E) NÃO VINCULAÇÃO

O juiz não fica vinculado ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo no todo ou em parte.

F) EXAMES PERICIAIS EM VÍTIMAS DE CRIMES SEXUAIS DO SEXO FEMININO


É OBRIGATÓRIO a realização de exames periciais em vítimas de crimes sexuais do sexo feminino por
legista mulher.

Em relação à perícia, o CPP é omisso. Em relação à busca pessoal, vide art. 249 do CPP .
CPP, art. 249: “A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da
diligência.”
O STF entendeu que a mesma lógica do art. 249 do CPP pode ser trazida para a prova pericial (quando isso
for possível).

➢ Recentemente, o STF julgou o assunto.


Em regra, se o crime sexual for cometido contra vítima do sexo feminino, quem deverá realizar o exame
pericial é outra mulher.
Entretanto, essa regra não é absoluta para não inviabilizar, na prática, a realização do exame.

Veja a ADI 6039:


“Aos olhos do Supremo Tribunal Federal, na mesma linha do que prescreve o art. 249 do CPP, segundo o qual
a busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da diligência,
crianças e adolescentes do sexo feminino vítimas de crimes sexuais devem ser, obrigatoriamente, examinadas
por legista mulher, desde que isso não importe retardamento ou prejuízo da diligência. Ora, conquanto seja
salutar que o exame seja feito prioritariamente por legista do sexo feminino, o fato de impedir ou retardar
a realização de exame por médico do sexo masculino poderia acabar por deixá-las desassistidas da proteção
criminal, direito que decorre do disposto no art. 39 da Convenção sobre os Direitos das Crianças e de outros
diplomas legais. Além disso, na medida em que se nega o acesso à produção da prova na jurisdição penal, há
também ofensa à proteção prioritária, porquanto se afasta a efetividade da norma, que exige a punição
severa do abuso de crianças e adolescentes.” (STF, Pleno, ADI 6.039 MC/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, j.
13/03/2019).

G) FALSA PERÍCIA
O perito é funcionário público para fins penais (art. 327 do CP) e, portanto, responde pelo crime de falsa
perícia do art. 342 do CP.
Obs.: O perito não oficial também poderá responder pelo crime de falsa perícia (art. 342, CP).
Obs.: O perito não oficial também é submetido à disciplina judiciária, não podendo se recusar a atender a
convocação, salvo por motivo legítimo devidamente demonstrado (arts. 275 e 277, CPP).

CP, art. 342: “Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador,
tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (...) ”

CP, art. 327: “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal,
e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de
atividade típica da Administração Pública. (...)”
CPP, art. 275 – O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à disciplina judiciária.

CPP, art. 277 – O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar encargo, sob pena de multa de
cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível.
Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada imediatamente:
a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;
b) não comparecer no dia e local designados para o exame;
c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos estabelecidos.

1.2. LAUDO PERICIAL


É a peça técnica elaborada pelo perito oficial ou pelos peritos não oficiais no momento da realização do
exame pericial.
 O laudo se subdivide em preâmbulo, exposição, fundamentação e conclusão.
Os peritos são livres na elaboração do laudo e, portanto, eles não são obrigados a chegar a determinada
conclusão.

A) PRAZO: O prazo para conclusão da perícia e elaboração do laudo é de até 10 dias, podendo haver
prorrogação a pedido dos peritos.

OBS.: O exame de poderá ser realizado a qualquer dia e a qualquer hora, inclusive nos finais de semana e nos
feriados.

Art. 160, CPP – Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem,
e responderão aos quesitos formulados. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser
prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de
28.3.1994)

B) AUTOPSIA

Deverá ser realizada pelo menos 6 horas depois do óbito, salvo se pelas evidencias dos sinais de morte os
peritos julgarem possível a realização antes desse período, o que deverão consignar no laudo.

Art. 162, CPP – A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos,
pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que
declararão no auto.

Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver,
quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a
causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma
circunstância relevante.
C) EXAME COMPLEMENTAR

No caso de lesão corporal grave em razão de incapacidade de exercer suas ocupações habituais por mais de
30 dias o exame complementar será realizado assim que decorra os 30 dias do fato.

Art. 168, CPP – Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto,
proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de
ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.

§ 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de suprir-
lhe a deficiência ou retificá-lo.

§ 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal,
deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.

§ 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

D) ASSISTENTE TÉCNICO

Consiste em profissional indiciado pelas partes para elaboração de parecer técnico que servirá de
contraprova a perícia.
 Enquanto o perito é um auxiliar do juízo e, portanto, é imparcial; o assistente técnico é auxiliar das partes
e, desse modo, não é possível esperar que ele seja imparcial.
CPP, art. 159, § 5º: “Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: (Incluído
pela Lei nº 11.690, de 2008)
(...)
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser
inquiridos em audiência”. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
De acordo com o artigo em comento, o assistente técnico só poderia ser indicado durante a fase judicial.
PERITO ASSISTENTE TÉCNICO
-Auxiliar do juízo; -Auxiliar das partes;
-Fase investigatória ou processual; -Fase processual(CPP, art. 159, Ss 5º, II);
-Funcionário público para fins penais -Não é funcionário público;
-Responde por falsa perícia -Não responde por falsa perícia

Obs.1: o assistente não elabora o laudo, pois tal atribuição é do perito, que é pessoa de confiança da
autoridade. Todavia, o assistente vai acompanhar a realização da perícia (art. 3°-B, XVI, CPP-EFICÁCIA
SUSPENSA).

CPP, art. 3º-B: “O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela
salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder
Judiciário, competindo-lhe especialmente: (...)
XVI – deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da perícia; (...)”
Sendo assim, como o juiz das garantias somente atua na fase investigatória, a conclusão que se depreende é
que, implicitamente, o legislador passou a admitir que, desde a fase investigatória, é possível a admissão de
assistente técnico.

Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela
salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder
Judiciário, competindo-lhe especialmente: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da perícia; (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)

E) ATUAÇÃO DO ASSISTENTE

O assistente técnico atuará no processo após sua admissão pelo juiz e realização da perícia.
OBS.1: Se o assistente precisar ter acesso ao material probatório que serviu de base para perícia as partes
deverão requerer ao juiz e o acesso ocorrerá no ambiente do órgão oficial e na presença de perito oficial.
➢ Está umbilicalmente ligada à cadeia de custódia.

Obs.2: Cabe ao juiz das garantias deliberar quanto a admissão (ou não) do assistente, por decisão irrecorrível
(art. 3°-B, XVI, CPP).
Art. 3º-B, XVI, CPP – O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação
criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização
prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019) (Vigência) (Vide ADI 6.298) (Vide ADI 6.299) (Vide ADI 6.300) (Vide ADI 6.305)
XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da
perícia; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

Antes do pacote anticrime, o assistente era admitido depois do laudo pronto.


Obs.3: Tal dispositivo ainda está suspenso por deliberação do STF.
Obs.4: Em que pese irrecorrível, a parte prejudicada pode empregar as ações autônomas de impugnação,
notadamente o MS.

O assistente técnico, por sua vez, não é funcionário público. Como ele não é perito, ele não responde por falsa
perícia.

2. CADEIA DE CUSTÓDIA
2.1. CONCEITO/ABRANGÊNCIA DA CADEIA DE CUSTÓDIA
Cadeia de custódia é o caminho percorrido pela prova desde o conhecimento da prática de uma infração
pelas autoridades encarregadas da persecução criminal até o momento em que, constatada a
ocorrência de vestígios e realizados os exames necessários, for produzido o laudo pericial e
descartado o material que serviu de base para a perícia.

2.2. OBJETIVO DA CADEIA DE CUSTÓDIA


A cadeia de custódia tem por objetivo a preservação de todas as etapas da cadeia probatória de
modo a possibilitar, em cada uma delas, o rastreamento das que lhe antecederam e a verificação da
legalidade e da licitude dos procedimentos adotados.
2.3. FASES CADEIA DE CUSTÓDIA
As fases que compõe a cadeia de custódia consistem em 10 etapas.
PALAVRA MINEMÔNICA: REI FICA TREPA DESCARTa
RECONHECIMENTO
ISOLAMENTO
FIXAÇÃO
COLETA
ACONDIONAMENTO
TRANSPORTE
RECEBIMENTO
PROCESSAMENTO
ARMAZENAMENTO
DESCARTE

A) RECONHECIMENTO: Ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a


produção da prova pericial.
Art. 158-B, I, CPP – reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para
a produção da prova pericial; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

B) ISOLAMENTO: Ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o
ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime.
Art. 158-B, II, CPP – isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e
preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime; (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)

Obs.: Uma vez realizado o este isolamento, é proibida a entrada de pessoas estranhas aos encarregados
da perícia, assim como a remoção do local ou desfazimento da cena do crime antes da liberação por parte
do perito responsável.
Antes disso, tal remoção ou desfazimento pode implicar na prática de fraude processual.
Art. 158-C, § 2º, CPP – É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer
vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como
fraude processual a sua realização. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

C) FIXAÇÃO: Descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo


de delito, e sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou
croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável
pelo atendimento.
Art. 158-B, III, CPP – fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de
crime ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias,
filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito
responsável pelo atendimento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
D) COLETA: Ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas
características e natureza.
Art. 158-B, IV, CPP – coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial,
respeitando suas características e natureza; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Obs.: A coleta será deverá ser realizada, preferencialmente, por perito oficial.
Art. 158-C, CPP –A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que
dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização
de exames complementares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

E) ACONDICIONAMENTO: Procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de


forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas, biológicas, para
posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o
acondicionamento.
Art. 158-B, V, CPP – acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é
embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas,
para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o
acondicionamento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Obs.: RECIPIENTE PARA ACONDIONAMENTO DO VESTÍGIO:


Art. 158-D, § § 1º ao 5º, CPP – O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela
natureza do material. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a
garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)

§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir contaminação e


vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de informações sobre seu
conteúdo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, motivadamente, por pessoa
autorizada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento de vestígio o nome
e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações referentes ao novo
lacre utilizado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

F) TRANSPORTE: Ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições


adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção
de suas características originais, bem como o controle de sua posse.
Art. 158-B, VI, CPP – transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as
condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a
manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

G) RECEBIMENTO: Ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado
com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia
judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de
rastreamento, natureza do exame, tipo de vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o
recebeu.

Art. 158-B, VII, CPP – recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser
documentado com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia
judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento,
natureza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu; (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

H) PROCESSAMENTO: É o próprio exame pericial, com a manipulação dos vestígios de acordo


com a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se
obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito.

Art. 158-B, VIII, CPP – processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a
metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado
desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito; (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

I) ARMAZENAMENTO: Procedimento referente ao depósito, em condições adequadas, do


material a ser processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou
transportado, com vinculação ao número do laudo correspondente.

Obs.1: A QUEM CABE O ARMAZENAMENTO? O armazenamento é incumbência da central de custódia.

Obs.2: Caso a central de custódia não possua condições para armazenar determinado material,
deverá a autoridade policial ou judiciária determinar condições de deposito do referido material em local
diverso, mediante requerimento do órgão central da perícia oficial de natureza criminal.

Art. 158-F, parágrafo único, CPP – Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de
armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de
depósito do referido material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central de
perícia oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Obs.3: Todas as pessoas que tiverem acesso deverão ser identificadas, assim como registradas a hora e
a data do acesso.
Art. 158-E, § 3º, CPP – Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser
identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Obs.4: Se ocorrer a tramitação do vestígio armazenado, todas as ações que envolverem deverão ser
registradas, assim como consignadas a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data
e o horário da ação.
Art. 158-E, § 4º, CPP – Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser
registradas, consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário
da ação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

J) DESCARTE: Procedimento referente à liberação do vestígio vigente e, quando pertinente,


mediante autorização judicial.

Obs.: A possibilidade de rastreamento do percurso do vestígio em cada uma destas fases é condição
para a confiabilidade de sua análise e validade do laudo produzido.

2.4. CENTRAL DE CUSTÓDIA


Trata-se do órgão destinado à guarda e controle dos vestígios, devendo, devendo existir em todos
os Institutos de Criminalísitca.
Art. 158-E, CPP – Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia
destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão
central de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Obs.: Constitui setor de extrema relevância, já que responsável pela entrada e a saída de vestígio e
pelo registro das informações sobre a ocorrência no inquérito relacionado ao vestígio.
Art. 158-E, § 2º, CPP – Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser
protocoladas, consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se
relacionam. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

2.5. QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA


Ocorre quando não for possível, desde o início, apurar a legitimidade das fases da cadeia de
custódia devido as irregularidades cometidas no trajeto do vestígio.

3. INDÍCIOS
Considera-se indício a circunstância conhecida e provada que por indução autorize concluir outra ou outras
circunstâncias
Art. 239, CPP – Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o
fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
A palavra “indício” tem dois significados diversos no processo penal.
A prova pode ser direta ou indireta.

A) PROVA DIRETA: Prova direta é aquela que permite conhecer o fato delituoso por meio de uma
única operação inferencial.

Exemplo: “A” atira quatro vezes em “B” na presença de “C”. Neste exemplo, “C” é prova testemunhal direta
do homicídio.

B) PROVA INDIRETA: Prova indireta é aquela que permite conhecer a existência de um fato delituoso
por meio de, pelo menos, duas operações inferenciais.

É A PREVISÃO DO ART. 239, CPP

B.1. SINÔNIMO DE PROVA INDIRETA: É aquela que permite conhecer a existência de um fato delituoso
por meio de, pelo menos, duas operações inferenciais.
Ex.: um gato e um rato foram aprisionados em uma caixa. Barulhos são ouvidos e, quando a caixa é aberta,
apenas o gato está lá dentro.

1º fato: o gato foi encontrado sozinho dentro da caixa e sujo de sangue.


2º fato: diante do 1º fato, faz-se uma segunda operação inferencial e chega-se à conclusão de que o gato
comeu o rato.

Nesse sentido, a palavra indício é usada no artigo 239 do CPP.


CPP, art. 239: “Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato,
autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.”

B.2. SINÔNIMO DE PROVA SEMIPLENA: É uma prova com menor valor persuasivo (menor grau de
convencimento), que não autoriza um juízo de certeza, mas sim de mera probabilidade.
Neste caso, os indícios não autorizam a condenação de alguém, pois ela não pode ocorrer com base em mera
probabilidade.
Os indícios como prova semiplena são comumente utilizados para a decretação das medidas cautelares que
necessitam do fumus comissi delicti e não de juízo de certeza.

CPP, art. 312: “A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver
prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do
imputado.”

Obs.: No art. 312 do CPP, ao utilizar a palavra “prova”, o legislador quis dizer que, quanto à existência do
delito, é necessário um juízo de certeza.
Entretanto, a palavra “indício” foi utilizada como sinônimo de prova semiplena (juízo de probabilidade).
Assim sendo, no momento da decretação de uma prisão preventiva, é necessário ter um juízo de certeza
sobre a existência do crime e um juízo de probabilidade sobre a autoria do delito.

Obs.: Os indícios são suficientes para condenar alguém?


Não é possível utilizar os indícios como prova semiplena para condenar alguém, pois não é possível haver
condenação por meio de um mero juízo de probabilidade.
Entretanto, os indícios, como sinônimo de prova indireta, podem ser suficientes para um decreto
condenatório.
Não é possível provar todos os crimes com prova direta. Na grande maioria dos casos, a condenação é feita
com prova indireta.
Para que haja condenação, os indícios deverão ser plurais, robustos e coesos.
Exemplo: câmeras de gravação registram que “A” sai da sala de gravação com a camisa suja de sangue e com
uma arma na mão. “B” entra na sala e vê “C” agonizando com um tiro no peito. Logo após isso, a vítima
morre. Neste caso, não há prova direta do homicídio, mas há vários indícios plurais e coerentes que autorizam
chegar à conclusão de que o “A” matou “C”.

- Forte na premissa de que o princípio processual penal do favor rei não ilide a possibilidade de utilização de
presunções hominis ou facti, pelo juiz, para decidir sobre a procedência do ius puniendi, máxime porque o
Código de Processo Penal prevê expressamente a prova indiciária, a 1ª Turma do STF (HC 103.118/SP, Rel.
Min. Luiz Fux, j. 20.03.2012, DJe 16.04.2012) concluiu que o julgador pode, através de um fato devidamente
provado que não constitui elemento do tipo penal, mediante raciocínio engendrado com supedâneo nas suas
experiências empíricas, concluir pela ocorrência de circunstância relevante para a qualificação penal da
conduta, sobretudo em se tratando da criminalidade dedicada ao tráfico de drogas, que se organiza em
sistema altamente complexo, motivo pelo qual a exigência de prova direta da dedicação a esse tipo de
atividade, além de violar o sistema do livre convencimento motivado (CF, art. 93, IX, e art. 155 do CPP),
praticamente impossibilitaria a efetividade da repressão a essa espécie delitiva.

4. BUSCA E APREENSÃO
A) BUSCA: É é uma diligência que visa à localização de coisas ou pessoas.
É procurar algo

B) APREENSÃO: é uma medida de constrição por meio da qual determinado objeto e/ou determinada
pessoa passarão a ficar sob a custódia do Estado.
Deter aquilo que se procura.
OBS.: Pode haver busca sem apreensão e pode haver apreensão que não tenha sido precedida de busca.
Exemplo 1: busca pessoal em que a autoridade não encontra nada. Neste caso, houve a busca, mas não houve
a apreensão.
Exemplo 2: “A” mata “B” e se apresenta à polícia. “A” entrega a arma do crime. Neste caso, haverá a
apreensão do instrumento do crime, mas não houve busca.

Obs.: OBJETO DA BUSCA E APREENSÃO: O objeto da busca pode ser PESSOA ou COISA.

9.1- NATUREZA JURÍDICA: Trata-se de medida cautelar de obtenção de prova.

9.2- ESPÉCIES
A) DOMICILIAR: É aquela feita na residência ou em suas dependências

#REQUISITOS:
DIA: ->Ordem Judicial; -> Consentimento do Morador; -> Flagrante delito; -> Desastre; Prestar Socorro

NOITE: Todas as hipóteses, exceto ordem judicial.

CF, art. 5º, XI: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem o consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial”

Obs.: RESERVA DE JURSIDIÇÃO: A busca domiciliar está sujeita à cláusula de reserva de jurisdição. Assim
sendo, em regra, é necessária uma autorização judicial prévia para ingressar em domicílio.
 Autoridades fazendárias, MP, autoridades policiais e CPI não podem determinar busca domiciliar.

STF: “(...) Sem que ocorra qualquer das situações excepcionais taxativamente previstas no texto constitucional
(art. 5º, XI), nenhum agente público, ainda que vinculado à administração tributária do Estado, poderá, contra
a vontade de quem de direito (“invito domino”), ingressar, durante o dia, sem mandado judicial, em espaço
privado não aberto ao público onde alguém exerce sua atividade profissional, sob pena de a prova resultante
da diligência de busca e apreensão assim executada reputar-se inadmissível, porque impregnada de ilicitude
material. (...) O atributo da auto-executoriedade dos atos administrativos, que traduz expressão
concretizadora do “privilège du préalable”, não prevalece sobre a garantia constitucional da inviolabilidade
domiciliar, ainda que se cuide de atividade exercida pelo Poder Público em sede de fiscalização tributária.
(...)”. (STF, 2ª Turma, HC 103.325/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, j. 03/04/2012).

OBS.: Com ordem judicial, se a busca tiver sido iniciada durante o dia ela poderá estender-se para o período
noturno.
OBS.: No caso autorização para busca no período noturno é necessário que seja autorizada por todos os
moradores imputáveis.

Obs.: APROVEITAMENTO DE MANDADO DE PRISÃO PARA FINS DE BUSCA DOMICILIAR


A autoridade policial tiver em mãos apenas o mandado de prisão, este, por si só, NÃO AUTORIZA a busca
domiciliar
STJ: “(...) Admitir a entrada na residência especificamente para efetuar uma prisão não significa conceder um
salvo-conduto para que todo o seu interior seja vasculhado indistintamente, em verdadeira pesca probatória
(fishing expedition), sob pena de nulidade das provas colhidas por desvio de finalidade”. (STJ, 6ª Turma, HC
663.055-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 22.03.2022 – divulgado no Informativo n. 731, de 4 de abril de
2022).

Obs.: EXPEDIÇÃO DE MANDADO DE BUSCA DOMICILIAR DE OFÍCIO


CPP, art. 242: “A busca poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de qualquer das partes.”
A despeito do que dispõe o art. 242 do CPP, a doutrina entende que a busca domiciliar não pode ser
determinada de ofício pelo juiz e isso ocorre pela nova disciplina que foi dada ao CPP no tocante às medidas
cautelares pessoais. (art. 282, §§2º e 4º).
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no
curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento
do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, mediante
requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida,
impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do
parágrafo único do art. 312 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Obs.: MANDADOS DE BUSCA GENÉRICOS


Quando o juiz expede um mandado de busca, ele individualiza o local que será objeto do ato, ou seja, de
acordo com a doutrina majoritária não é possível expedir mandados de busca genéricos

CPP, art. 243: “O mandado de busca deverá:


I – indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo
proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais
que a identifiquem;
II – mencionar o motivo e os fins da diligência;
III – ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir.
§1º Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do mandado de busca.
§2º Não será permitida a apreensão de documento em poder do defensor do acusado, salvo quando
constituir elemento do corpo de delito.”

“Em caso concreto versando sobre a apuração de crimes praticados em comunidades de favelas, concluiu a 6ª
Turma do STJ (AgRg no HC 435.934/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 05/11/2019, DJe 20/11/2019) ser
nula a decisão que havia decretado a medida de busca e apreensão coletiva, genérica e indiscriminada para
a entrada da polícia em qualquer residência. Isso porque a ausência de individualização das medidas de
apreensão estaria em rota de colisão com diversos dispositivos legais, dentre eles os arts. 240, 242, 244, 245,
248 e 249 do CPP, além do art. 5º, XI, da CF.”

A.1. CONCEITO DE CASA: o art. 150 do CP cuida do crime de violação de domicílio e traz o conceito de
casa:
CP, art. 150, § 4º: “A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
(...)
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do
parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.”

LOCAL ABERTO AO PÚBLICO: NÃO PODE SER CONSIDERADO CASA.

Obs.: ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS


STF: “(...) Inviolabilidade de domicílio (art. 5º, IX, CF). Busca e apreensão em estabelecimento empresarial.
Estabelecimentos empresariais estão sujeitos à proteção contra o ingresso não consentido. Não verificação
das hipóteses que dispensam o consentimento. Mandado de busca e apreensão perfeitamente delimitado.
Diligência estendida para endereço ulterior sem nova autorização judicial. Ilicitude do resultado da
diligência. Ordem concedida, para determinar a inutilização das provas”. (STF, 2ª Turma, HC 106.566/SP, Rel.
Min. Gilmar Mendes, j. 16/12/2014, DJe 53 18/03/2015).

Obs. 2: CASA ABANDONADA


- Firmada a premissa de que a proteção constitucional no tocante à casa, independentemente de seu
formato e localização, de se tratar de bem móvel ou imóvel, pressupõe que o indivíduo a utilize para fins de
habitação ou moradia, ainda que transitoriamente, pois o art. 5º, XI, da CF, tutela, ao fim e ao cabo, o bem
jurídico da intimidade e da vida privada, não há falar em nulidade na busca e apreensão efetuada por policiais,
sem prévio mandado judicial, em uma casa (v.g., apartamento), que não revela sinais de habitação, nem
mesmo de maneira transitória ou eventual, notamente se a aparente ausência de residentes no local se alia à
fundada suspeita de que o imóvel é utilizado para a prática de crimes permanentes. Por isso, em caso
concreto envolvendo uma denúncia anônima detalhada de armazenamento de drogas e de armas, seguida de
informações dos vizinhos de que não haveria residente no imóvel, de vistoria externa na qual não foram
identificados indícios de ocupação, sendo visualizada, todavia, parte do material ilícito, do que decorreu o
ingresso de policiais no local e subsequente localização de grande quantidade de drogas, concluiu a 5ª Turma
do STJ (HC 588.445/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 25/08/2020, DJe 31/08/2020) não haver
qualquer ilegalidade capaz de macular a licitude das provas obtidas.

Obs. 3: MORADORES DE RUA


As pessoas que moram na rua e escolhem um canto para dormirem, ocasião em que deitam e dormem no
chão ou sobre um simples colchão e colocam seus pertences ao lado, também gozam da proteção
constitucional da inviolabilidade domiciliar, pois se encaixa no conceito de “qualquer compartimento
habitado” (CP, art. 150, §4º, I). Portanto, este pequeno e simples espaço ocupado por um morador de rua,
ainda que desprovido de divisão visual e estrutura material, é considerado “casa” para fins de proteção
constitucional da inviolabilidade domiciliar (CF, art. 5º, XI), ainda que cada dia durma em local diferente,
pouco, importando, ademais, que se trate de local público.

STJ: “(...) Não há dificuldade em reconhecer-se, dependendo do caso concreto, a proteção da inviolabilidade
do domicílio em favor de um morador de rua que faz de um determinado logradouro lugar de morada (...)”.
(STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 587.053-SC, Rel. Min. Rogerio Schiett i Cruz, j. 04.08.2020, DJe 14.08.2020).

STF: “(...) Sem que ocorra qualquer das situações excepcionais taxativamente previstas no texto constitucional
(art. 5º, XI), nenhum agente público, ainda que vinculado à administração tributária do Estado, poderá, contra
a vontade de quem de direito (“invito domino”), ingressar, durante o dia, sem mandado judicial, em espaço
privado não aberto ao público onde alguém exerce sua atividade profissional, sob pena de a prova resultante
da diligência de busca e apreensão assim executada reputar-se inadmissível, porque impregnada de ilicitude
material. (...) O atributo da auto-executoriedade dos atos administrativos, que traduz expressão
concretizadora do “privilège du préalable”, não prevalece sobre a garantia constitucional da inviolabilidade
domiciliar, ainda que se cuide de atividade exercida pelo Poder Público em sede de fiscalização tributária.
(...)”. (STF, 2ª Turma, HC 103.325/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, j. 03/04/2012).

Obs. 4: ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA


É possível realizar a busca e apreensão em escritório de advocacia.
Neste caso, é necessário que um representante da OAB acompanhe o ato.
O representante da OAB não precisa saber previamente qual é o objeto da busca.
Se a OAB não indicar um representante, entende-se que ela renunciou à prerrogativa.

Na visão do STF (ADI 1.105 e ADI 1.127-8), a exigência do acompanhamento da diligência por representante
da OAB ficará suplantada, não gerando ilicitude da prova resultante da apreensão, a partir do momento em
que a OAB, instada em caráter confidencial e cientificada com as cautelas próprias, deixar de indicar o
representante.
Art. 7º, Lei n. 8.906/94 - São direitos do advogado:
(…)
II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de
sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia;
(Redação dada pela Lei nº 11.767, de 2008)
(...)
§6º Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado, a autoridade
judiciária competente poderá decretar a quebra da inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste
artigo, em decisão motivada, expedindo mandado de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser
cumprido na presença de representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese, vedada a utilização dos
documentos, das mídias e dos objetos pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como dos
demais instrumentos de trabalho que contenham informações sobre clientes.
§7º A ressalva constante do § 6º deste artigo não se estende a clientes do advogado averiguado que estejam
sendo formalmente investigados como seus partícipes ou coautores pela prática do mesmo crime que deu
causa à quebra da inviolabilidade.

Obs. 5: CASA GERMINADA E BOA FÉ DOS POLICIAIS


STJ: “(...) Ao cumprirem o mandado judicial de busca e apreensão, os Policiais dirigiram-se ao endereço com
as características gerais indicadas no documento. Todavia, no local, descobriu-se tratar de casa geminada
compartilhada entre o Paciente, sua mãe e seu irmão. E, não obstante a prova acostada a este feito
demonstrar que no prédio havia três portas frontais distintas, o Impetrante deixou de refutar na inicial a
informação dos Agentes que cumpriram a diligência de que portas traseiras das unidades de habitação
comunicavam-se. Em outras palavras, se por um lado fotos externas do imóvel foram inseridas na petição
inicial, por outro a Defesa deixou de anexar na peça imagens internas ou croquis da construção que
permitissem concluir que se tratam de endereços de fato distintos - ônus que lhe competia. Assim, no caso
pressupõe-se que no imóvel - independentemente de haver compartimentação que distinga os locais de
residência do Paciente, sua mãe e seu irmão - há cômodos internos que se comunicam contiguamente. (...) A
Defesa, ao não juntar aos autos imagens internas da construção que confirmassem inequivocamente ser óbvia
a constatação de que no local havia três habitações de fato independentes, não logrou êxito em comprovar
sua alegação de que os Policiais realizaram diligência em endereço diverso do declinado no mandado judicial
de busca e apreensão. É razoável admitir que os Agentes, durante o cumprimento do mandado de busca e
apreensão, e buscando dar a devida efetividade à diligência, não poderiam presumir que se tratavam
efetivamente de moradias autônomas. Precedente da Suprema Corte dos Estados Unidos, no ponto, citado
no voto-vista do Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ: United States v. Leon, 468 U.S. 897 (1984), em que foi
admitida a exceção da boa-fé em razão de a atuação policial ter-se dado em conformidade com o senso
comum de razoabilidade, e sob a confiança na legalidade dessa atuação. Deliberou-se, na oportunidade, que
a exclusionary rule teria lugar somente na hipótese de má conduta policial, com a finalidade manifesta de
violar a Constituição”. (STJ, 6ª Turma, HC 633.441-PE, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 23.11.2021, DJe 07.02.2022).

A.3. CONCEITO DE DIA


1ª corrente que, para conceituar dia e noite, trabalha com o critério físico-astronômico: período considerado
entre o nascer e o pôr do sol.
2ª corrente prefere trabalhar com critério cronológico: período compreendido entre 6h e 18h.
3ª corrente é mista e trabalha com as duas correntes anteriores: o dia é o período entre 6h e 18h, desde que
haja luminosidade solar.
4ª corrente: a nova lei de abuso de autoridade traz um dispositivo afirma o que é dia e o que é noite.
Lei n. 13.869/19, art. 22: “Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do
ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem
determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro)
anos, e multa.
§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:
I- coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas
dependências;
II - (VETADO);
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco
horas).”

Pela primeira vez, o legislador traz o conceito de noite: após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h
(cinco horas da manhã)
✓ Contrario sensu, manhã é o período entre 5h e 21h.

Obs. 1: INGRESSO EM DOMICÍLIO PARA INSTALAÇÃO INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL: atenção para o


precedente do STF admitindo o ingresso em domicílio no período noturno para fins de instalação de
dispositivos eletrônicos objetivando a realização de interceptação ambiental
STF: “(...) Para fins de persecução criminal de ilícitos praticados por quadrilha, bando, organização ou
associação criminosa de qualquer tipo, são permitidos a captação e a interceptação de sinais
eletromagnéticos, óticos e acústicos, bem como seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização
judicial. PROVA. Criminal. Escuta ambiental e exploração de local. Captação de sinais óticos e acústicos.
Escritório de advocacia. Ingresso da autoridade policial, no período noturno, para instalação de equipamento.
Medidas autorizadas por decisão judicial. Invasão de domicílio. (...) Não caracterização. Suspeita grave da
prática de crime por advogado, no escritório, sob pretexto de exercício da profissão. Situação não acobertada
pela inviolabilidade constitucional. Inteligência do art. 5º, X e XI, da CF, art. 150, § 4º, III, do CP, e art. 7º, II, da
Lei nº 8.906/94. Preliminar rejeitada. Votos vencidos. Não opera a inviolabilidade do escritório de advocacia,
quando o próprio advogado seja suspeito da prática de crime, sobretudo concebido e consumado no âmbito
desse local de trabalho, sob pretexto de exercício da profissão. (...)”. (STF, Pleno, Inq. 2.424/RJ, Rel. Min. Cezar
Peluso, j. 26/11/2008, DJe 55 25/03/2010).

Lei n. 9.296/96
Art. 8º-A (...)
(...)
§2º A instalação do dispositivo de captação ambiental poderá ser realizada, quando necessária, por meio de
operação policial disfarçada ou no período noturno, exceto na casa, nos termos do inciso XI do caput do art.
5º da Constituição Federal. (Incluído pela Lei n. 13.964/19)

A.4. FLAGRANTE DELITO E VIOLAÇÃO DOMICILIAR


Flagrante delito e violação do domicílio independentemente de prévia autorização judicial.
Pela leitura da CF/1988, é possível perceber que, quando houver flagrante delito, é possível entrar na casa da
pessoa sem a autorização judicial prévia.

Constituição Federal Art. 5º. (...) XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem o consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou,
durante o dia, por determinação judicial;
Obs.: ESPÉCIES DE FLAGRANTE QUE AUTORIZAM A VIOLAÇÃO DOMICILIAR
1ª corrente: Apenas o flagrante próprio autoriza a violação de domicílio.
2ª corrente: Qualquer espécie de flagrante autoriza a violação de domicílio.
Esta é a posição do professor Renato Brasileiro.

CPP, art. 302: “Considera-se em flagrante delito quem:


I – está cometendo a infração penal;
II – acaba de cometê-la;
III – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça
presumir ser autor da infração;
IV – é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor
da infração.”

STJ: “(...) Não restou demonstrada qualquer irregularidade na diligência efetuada pelos policiais na casa da tia
do paciente, seja em decorrência de perseguição continuada aos autores do crime de roubo, seja pelo fato de
a ocultação de armas de fogo sem autorização e em desacordo com a determinação legal constituir-se, por si
só, em crime permanente, de modo que em ambas as situações se verificam as hipóteses de exceção à regra
de inviolabilidade de domicílio, previstas no inciso XI do art. 5º da Constituição Federal. (...) Ordem
denegada”. (STJ, 5ª Turma, HC 51.897/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 20/06/2006, DJ 01/08/2006 p. 480).

Obs. 2: NECESSIDADE DE JUSTA CAUSA PRÉVIA PARA VIOLAÇÃO EM CASOS DE FLAGRANTE


Atualmente, os tribunais têm exigido, para o flagrante delito, a comprovação de uma justa causa prévia.
Assim sendo, é necessário demonstrar que havia indicativos de um flagrante delito no interior de um domicílio
para poder ingressar nele.
Assim sendo, se essa justa causa prévia não for demonstrada, ainda que se ingresse no domicílio e sejam
encontrados elementos que indiquem a prática de crimes (exemplo: encontro de drogas ou armas), a
eventual prova ali obtida será considerada ilícita.
Portanto, deve ser considerada arbitrária a entrada forçada em domicílio sem uma justificativa conforme o
direito, ainda que, posteriormente, seja constatada a existência de situação de flagrante no interior daquela
casa.

Tese de Repercussão Geral fixada no tema n. 280: A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é
lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a
posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos praticados.
Paradigma: STF, RE 603.616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 05.11.2015, DJ 10.05.2016.

Obs. 3: Decisões da 6ª Turma do STJ que vem reconhecendo, com base na Tese de Repercussão Geral fixada
no tema n. 280, a ilicitude de provas obtidas em casos envolvendo a violação de domicílio em situações de
flagrante delito.

NÃO SE CONSIDERA COMO FUNDADAS RAZÕES PARA O STJ


1. Mera intuição de traficância (REsp 1.574.681, DJe 30.05.2017);

2. Denúncia anônima, isoladamente considerada HC 512.418, DJe 03.12.2019);

3. Anterior envolvimento do indivíduo com crime de tráfico de drogas (RHC 126.092, DJe 30.06.2020);
4. Denúncia anônima somada à fuga do acusado (RHC 83.501, DJe 05.04.2018; RHC 89.853, DJe
02.03.2020);

5. Denúncia anônima de que o agente vendia drogas em determinado local, comercializando


entorpecentes para clientes que ali aportavam de carro, para os quais entregava as drogas após
coletá-las em sua residência (HC 611.918, j. 07.12.2020);

6. Perseguição a veículo com ulterior invasão policial de condomínio de apartamentos (AgRg no HC


561.360, DJe 18.06.2020);

7. Constatação da presença de drogas por cão farejador ao passar em frente à determinada


residência e subsequente invasão domiciliar (AgInt no HC 566.818, DJe 25.06.2020);

8. Invasão de imóvel após policiais, do lado de fora, visualizarem criminosos manipulando material no
interior da casa (AgRg no REsp 1.865.363, DJe 29.06.2021).

- Em precedente da 6ª Turma do STJ (RHC 83.501/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 06/03/2018, DJe 05/04/2018),
concluiu-se que a existência de denúncias anônimas somada à fuga do acusado, por si sós, não configuram
fundadas razões a autorizar o ingresso policial no domicílio do acusado sem o seu consentimento ou
determinação judicial. Por isso, concluiu ter havido ofensa ao direito fundamental da inviolabilidade do
domicílio, determinado no art. 5°, inc. XI, da Constituição da República, pois, não havia referência à prévia
investigação policial para verificar a possível veracidade das informações recebidas, não se tratando de
averiguação de informações concretas e robustas acerca da traficância naquele local. Ainda que o tráfico
ilícito de drogas seja um tipo penal com vários verbos nucleares, e de caráter permanente em alguns destes
verbos, como, por exemplo, “ter em depósito”, não se pode ignorar o inciso XI do artigo 5º da Constituição
Federal e esta garantia constitucional não pode ser banalizada em face de tentativas policiais aleatórias de
encontrar algum ilícito em residências. Reconheceu, assim, mais uma vez, que a entrada forçada em domicílio,
sem uma justificativa prévia conforme o direito, é arbitrária, e não será a constatação de situação de
flagrância, posterior ao ingresso, que justificará a medida, pois os agentes estatais devem demonstrar que
havia elemento mínimo a caracterizar fundadas razões (justa causa).

A.5. CONSENTIMENTO DO MORADOR


Quando o morador dá o consentimento, é possível que terceira pessoa ingresse em seu domicílio durante o
dia ou durante a noite.

Obs. 1: o ingresso em domicílio que necessita de autorização do “ocupante do imóvel” ou de “quem de


direito” encontra previsão no art. 22 da nova Lei de Abuso de Autoridade, no art. 150 do CP e no art. 226 do
CPM

Obs. 2: TEORIA DA APARÊNCIA


define a aparência de direito como uma “situação de fato que manifesta como verdadeira uma situação
jurídica não verdadeira, e que, por causa do erro escusável de quem, de boa-fé, tomou o fenômeno real como
manifestação de uma situação jurídica verdadeira, cria um direito subjetivo novo, mesmo à custa da própria
realidade” (STJ, RMS 57.540). Nessa linha, se policiais pedem autorização para uma pessoa que não mora na
casa e essa autoriza, como, por exemplo, uma sogra, um tio ou um hóspede qualquer, que, em tese, não
possuem o poder de autorizar, mas os policiais desconhecem isso e acreditam que a autorização é concedida
por uma pessoa que possui legitimidade para concedê-la, o ingresso na residência não é ilícito. Nesse sentido:
STJ, RHC 141.544; RHC 154.093.

STJ: “(...) O tráfico ilícito de entorpecentes é crime permanente, estando em flagrante aquele que o pratica em
sua propriedade, ainda que na modalidade de guardar ou ter em depósito. Legítima, portanto, a entrada de
policiais para fazer cessar a prática do delito, independentemente de mandado judicial, desde que existam
elementos suficientes de probabilidade delitiva. Autorização por pessoa que chama a proprietária (usucapião)
da chácara de sogra e é mãe da neta da acusada. Precedentes do STF e do STJ. Neste caso, o contexto fático
antecedente mostra riqueza de elementos indicativos da prática delituosa, de modo que não há como acolher
o pleito de nulidade das provas obtidas por meio do ingresso dos policiais na residência dos recorrentes. Ad
argumentandum tantum, ainda que se desconsidere a autorização de entrada, dada por pessoa não residente
no imóvel (hóspede), as demais circunstâncias que envolvem a ocorrência fornecem elementos sobejantes
para permitir, em princípio, a providência tomada pelos agentes policiais (...)”. (STJ, 5ª Turma, RHC 141.544-
PR, Rel. Min. Reynaldo da Fonseca, j. 15.06.2021).

Obs. 3: CONSENTIMENTO SOB ESTRESSE


Voluntariedade do consentimento do morador em clima de pressão, de confronto e de estresse policial A 6ª
Turma do STJ entende que, se houver um clima de pressão, de confronto e de estresse policial, o
consentimento não será voluntário e, por esse motivo, a prova deve ser considerada ilícita.

STJ: “(...) A declaração do investigado acerca da propriedade ou do local no qual acondicionadas as drogas,
proferida em clima de pressão, de confronto e estresse policial, não pode ser considerada livre e espontânea,
a menos que tivesse sido por escrito e testemunhada, ou documentada em vídeo, pelo que se afigura ilícita a
prova obtida mediante violação de domicílio desprovida de fundadas razões, ou de cobertura de ordem
judicial. A boa intenção dos policiais e a apreensão de droga não justificam o descumprimento da Constituição
quando protege a casa como asilo inviolável da pessoa (art. 5o, XI). Sem a indicação de dado concreto sobre a
existência de justa causa para autorizar a medida invasiva de ingresso no domicílio, deve ser reconhecida a
ilegalidade por ilicitude da prova, bem como das provas dela derivadas, nos termos do art. 157, caput e § 1o,
do CPP (...)”. (STJ, RHC 151.491-BA, Rel. Min. Olindo Menezes – Desembargador convocado do TRF 1ª Região,
j. 07.12.2021, DJe 13.12.2021).

Obs. 4: In dubio pro MORADOR


Deve ser demonstrada, de forma inequívoca, que o consentimento do morador foi livremente prestado.
STJ: “(...) Apesar da menção a informação anônima repassada pela Central de Operações da Polícia Militar -
Copom, não há nenhum registro concreto de prévia investigação para apurar a conformidade da notícia, ou
seja, a ocorrência do comércio espúrio na localidade, tampouco a realização de diligências prévias,
monitoramento ou campanas no local para averiguar a veracidade e a plausibilidade das informações
recebidas anonimamente e constatar o aventado comércio ilícito de entorpecentes. Não houve, da mesma
forma, menção a qualquer atitude suspeita, exteriorizada em atos concretos, nem movimentação de pessoas
típica de comercialização de drogas. (...) As regras de experiência e o senso comum, somadas às
peculiaridades do caso concreto, não conferem verossimilhança à afirmação dos agentes policiais de que o
paciente teria autorizado, livre e voluntariamente, o ingresso em seu próprio domicílio, de sorte a franquear
àqueles a apreensão de drogas e, consequentemente, a formação de prova incriminatória em seu desfavor.
Ainda que o acusado haja admitido a abertura do portão do imóvel para os agentes da lei, ressalvou que o fez
apenas porque informado sobre a necessidade de perseguirem um suposto criminoso em fuga, e não para
que fossem procuradas e apreendidas drogas. (...) Ademais, se, de um lado, deve-se, como regra, presumir a
veracidade das declarações de qualquer servidor público, não se há de ignorar, por outro lado, que a
notoriedade de frequentes eventos de abusos e desvios na condução de diligências policiais permite inferir
como pouco crível a versão oficial apresentada no inquérito policial, máxime quando interfere em direitos
fundamentais do indivíduo e quando se nota indisfarçável desejo de se criar narrativa que confira plena
legalidade à ação estatal. Essa relevante dúvida não pode, dadas as circunstâncias concretas - avaliadas por
qualquer pessoa isenta e com base na experiência quotidiana do que ocorre nos centros urbanos - ser
dirimida a favor do Estado, mas a favor do titular do direito atingido (in dubio pro libertas). Em verdade,
caberia aos agentes que atuam em nome do Estado demonstrar, de modo inequívoco, que o consentimento
do morador foi livremente prestado, ou que, na espécie, havia em curso na residência uma clara situação de
comércio espúrio de droga, a autorizar, pois, o ingresso domiciliar mesmo sem consentimento válido do
morador. Entretanto, não se demonstrou preocupação em documentar esse consentimento, quer por escrito,
quer por testemunhas, quer, ainda e especialmente, por registro de áudio-vídeo. (...) Dessa forma, em
atenção à basilar lição de hermenêutica constitucional segundo a qual exceções a direitos fundamentais
devem ser interpretadas restritivamente, prevalece, quanto ao consentimento, na ausência de prova
adequada em sentido diverso, a versão apresentada pelo morador de que apenas abriu o portão para os
policiais perseguirem um suposto autor de crime de roubo. (...)”. (STJ, 6ª Turma, HC 674.139-SP, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, j. 15.02.2022, DJe 24.02.2022).

Obs. 5: COMPROVAÇÃO DO CONSENTIMENTO DO MORADOR PELA POLÍCIA


É exigível que se formalize de forma documental o consentimento do morador por ocasião do ingresso no seu
domicílio.

Não pode haver dúvidas acerca da voluntariedade da autorização do morador. Seu consentimento deve ser
inequívoco, específico e conscientemente dado, não contaminado por qualquer truculência ou coerção. Além
disso, cabe ao Estado o ônus de provar que o consentimento foi dado, isento de qualquer forma, direta ou
indireta, de coação, o que é aferível pelo teste da totalidade das circunstâncias. De fato, se, para
simplesmente algemar uma pessoa, já presa, exige-se a indicação, por escrito, da justificativa para o uso de tal
medida acautelatória (súmula vinculante n. 11), seria desarrazoado não exigir semelhante formalidade para
documentar o consentimento do morador por ocasião do ingresso no seu domicílio.

 PALAVRA DO POLÍCIA NO PROCESSO PENAL


A palavra do policial não tem valor absoluto em sede de processo penal, pois, neste âmbito, vigora o princípio
da presunção de inocência.

STJ (HC 598.051-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 02.03.2021):


1) Na hipótese de suspeita de crime em flagrante, exige-se, em termos de standard probatório para ingresso
no domicílio do suspeito sem mandado judicial, a existência de fundadas razões (justa causa), aferidas de
modo objetivo e devidamente justificadas, de maneira a indicar que dentro da casa ocorre situação de
flagrante delito.

2) O tráfico ilícito de entorpecentes, em que pese ser classificado como crime de natureza permanente, nem
sempre autoriza a entrada sem mandado no domicílio onde supostamente se encontra a droga. Apenas será
permitido o ingresso em situações de urgência, quando se concluir que do atraso decorrente da obtenção de
mandado judicial se possa, objetiva e concretamente, inferir que a prova do crime (ou a própria droga) será
destruída ou ocultada;

3) O consentimento do morador, para validar o ingresso de agentes estatais em sua casa e a busca e
apreensão de objetos relacionados ao crime, precisa ser voluntário e livre de qualquer tipo de
constrangimento ou coação.

4) A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do suspeito


incumbe, em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela pessoa que autorizou o
ingresso domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do ato. Em todo caso, a operação deve
ser registrada em áudio-vídeo, e preservada tal prova enquanto durar o processo.

5) A violação a essas regras e condições legais e constitucionais para o ingresso no domicílio alheio resulta na
ilicitude das provas obtidas em decorrência da medida, bem como das demais provas que dela decorrerem
em relação de causalidade, sem prejuízo de eventual responsabilização penal dos agentes públicos que
tenham realizado a diligência.

No julgado em questão (HC 598.051), após decidir que a autorização do morador para o ingresso da polícia
na residência deve ser gravada em áudio e vídeo e que a prova deve ser preservada enquanto durar o
processo, o STJ fixou o prazo de um ano para que os Estados façam o aparelhamento e treinamento das
polícias de forma que todas as polícias do Brasil passem a gravar as autorizações para ingresso em domicílio,
de modo a, sem prejuízo do exame singular de casos futuros, evitar situações de ilicitude que possam, entre
outros efeitos, implicar responsabilidade administrativa, civil e/ou penal do agente estatal.

Ocorre que, no julgamento do RE 1.342.077/SP (j. 02.12.2021), o Min. Alexandre de Moraes concedeu
parcial provimento para anular a decisão da 6ª Turma do STJ na parte em que entendeu pela necessidade
de documentação e registro audiovisual das diligências policiais, determinando a implementação de
medidas aos órgãos de segurança pública de todas as unidades da federação. Na visão do eminente
Ministro, no ponto em questão, a 6ª Turma do STJ teria desrespeitado os requisitos constitucionais previstos
no inciso XI do art. 5º da CF, restringindo as exceções à inviolabilidade domiciliar, como também, inovando em
matéria constitucional, criou uma nova exigência – gravação audiovisual da anuência de entrada no local –
para a plena efetividade dessa garantia individual, em contrariedade ao quanto decidido pelo Supremo no
Tema n. 280 de Repercussão Geral. De mais a mais, ao impor uma específica e determinada obrigação à
Administração Pública, não prevista no referido dispositivo constitucional, a 6ª Turma do STJ não teria
observado os preceitos básicos definidos no art. 2º da CF, que consagram a independência e a harmonia entre
os poderes.

Obs.: Apesar de uma parte da decisão ter sido cassada, é possível perceber que o STJ continua exigindo a
comprovação do consentimento do morador.

B) PESSOAL: É aquela realizada na pessoa ou em sua esfera imediata de domínio.

#REQUISITOS: A busca pessoal independe de mandado se for realizada no curso da busca domiciliar, no
momento da prisão ou quando houver fundada suspeita.
OBS.: A busca em mulher será realizada preferencialmente por outra mulher, salvo se importar prejuízo para
a diligência.
é aquela realizada por ocasião de um possível ilícito penal. Se não for caso de prisão, a busca pessoal
pressupõe fundada suspeita. Neste caso, deve haver algum indicativo prévio que demonstre a necessidade da
revista.
CPP, art. 240: “A busca será domiciliar ou pessoal.
§ 1º Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:
a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso;
(...)
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o
conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes;
h) colher qualquer elemento de convicção.
§ 2º Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma
proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior.”

CPP, art. 244: “A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada
suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de
delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.”

Obs.: FUNDAMENTAÇÃO DA FUNDADA SUSPEITA


Não poderá ser fundamentado unicamente em parâmetros subjetivos.

STF: “(...) A fundada suspeita prevista no art. 244 do CPP não pode fundar-se em parâmetros unicamente
subjetivos, exigindo elementos concretos que indiquem a necessidade da revista, em face do constrangimento
que causa. Ausência, no caso, de elementos dessa natureza, que não se pode ter por configurados na alegação
de que trajava, o paciente, um ‘blusão’ suscetível de esconder uma arma, sob risco de referendo a condutas
arbitrárias ofensivas a direitos e garantias individuais e caracterizadoras de abuso de poder”. (STF, 1ª Turma,
HC 81.305/GO, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 22/02/2002 p. 35).

STF: “(...) Havendo fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de objetos ou papéis que constituam
corpo de delito, como no caso, a busca em veículo, a qual é equiparada à busca pessoal, independerá da
existência de mandado judicial para a sua realização. Ordem denegada”. (STF, 2ª Turma, RHC 117.767/DF,
Rel. Min. Teori Zavascki, j. 11/10/2016).

STJ: “(...) Nos termos da orientação desta Corte Superior e do art. 240, § 2.º, do Código de Processo Penal, a
busca veicular, que é equiparada à busca pessoal, não necessita de prévia autorização judicial quando houver
fundadas suspeitas de possível delito, o que não se verificou no caso concreto. Na espécie, a busca no veículo
não foi justificada pela autoridade policial e o Tribunal de origem limitou-se a afirmar que "os denunciados
trafegavam durante o fim da madrugada (por volta das 05h20rn), o que podia indicar que premeditadamente
aproveitavam-se daquele horário". Assim, constata-se a ilicitude das provas colhidas, conforme o art. 157 do
Código de Processo Penal. (...)”. (STJ, AgRg no HC 530.167-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 02.03.2021, DJe
11.03.2021).

Obs.: NERVOSISMO CARACTERIZA FUNDADA SUSPEITA?


A percepção de nervosismo por parte do agente policial - ainda que posteriormente confirmada pela
apreensão de objetos ilícitos - é dotada de excesso de subjetivismo e, por isso, não é suficiente para
caracterizar a fundada suspeita.

STJ: “(...) A percepção do nervosismo do averiguado por parte de agentes é dotada de excesso de subjetivismo
e, por isso, não é suficiente para caracterizar a fundada suspeita para fins de busca pessoal. (...) a execução da
busca pessoal sem mandado, como medida autônoma, depende da presença de fundada suspeita da posse de
objetos que constituam corpo de delito. Para tanto, ressalto que "não é suficiente, está claro, a mera
conjectura ou desconfiança sobre tal posse, mas a suspeita amparada por circunstâncias objetivas que
permitam uma grave probabilidade de que sejam encontradas as coisas mencionadas pela lei". Ocorre que, no
caso dos autos, a busca pessoal realizada pelos policiais foi justificada apenas com base no fato de que o
Acusado, que estava em local conhecido como ponto de venda drogas, ao avistar a viatura policial,
demonstrou nervosismo. No entanto, a percepção de nervosismo por parte do agente policial - ainda que
posteriormente confirmada pela apreensão de objetos ilícitos - é dotada de excesso de subjetivismo e, por
isso, não é suficiente para caracterizar a fundada suspeita, que exige mais do que mera desconfiança por
parte dos agentes públicos. (REsp 1961459/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
05/04/2022, DJe 08/04/2022 – Informativo 732 do STJ).

OBS.: BUSCA PESSOAL POR RAZÕES DE SEGURANÇA: É busca de natureza contratual e não interessa ao
direito processual penal. É ligada ao direito privado.
Exemplo: busca pessoal feita em boates, estádio de futebol etc.

B.1. REVISTA ÍNTIMA EM PRESÍDIOS


TEMA CONFLITANTE NO STF
 Min. Fachin, o Min. Barroso e a Min. Rosa Weber não admitem a revista íntima
 Min. Alexandre de Moraes a admite em hipóteses excepcionais.

B.2. APREENSÃO DE CARTAS


De acordo com o STF, sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a prova obtida mediante
abertura de carta, telegrama, pacote ou meio análogo.

CF, art. 5º, XII: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;”

STF: “(...) A administração penitenciária, com fundamento em razões de segurança pública, de disciplina
prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a
norma inscrita no art. 41, parágrafo único, da Lei n. 7.210/84, proceder à interceptação da correspondência
remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode
constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas. (...)”. (STF, 1ª Turma, HC 70.814/SP, Rel. Min. Celso
de Mello, j. 01º/03/1994, DJ 24/06/1994).

“Por ocasião do julgamento de Recurso Extraordinário com repercussão geral reconhecida (RE 1.116.949/PR,
Rel. Min. Edson Fachin, j. 18.08.2020), o Plenário do STF concluiu que, além da reserva de jurisdição, é
possível ao legislador definir as hipóteses fáticas em que a atuação das autoridades públicas não podem ser
equiparáveis à violação do sigilo a fim de assegurar o funcionamento regular dos correios.
Fixou-se, assim, a seguinte tese: “Sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a prova
obtida mediante abertura de carta, telegrama, pacote ou meio análogo”. A leitura da tese fixada pela
Suprema Corte permite extrair a conclusão de que, sem embargo da “inviolabilidade do sigilo da
correspondência” prevista no art. 5º, inciso XII, da Constituição Federal, não estamos diante de matéria sujeita
à cláusula de reserva de jurisdição.
É possível, pois, que a própria lei defina as hipóteses fáticas em que autoridades públicas poderão ter acesso
ao conteúdo de determinada encomenda, independentemente de prévia autorização judicial. A propósito, o
atual regulamento dos Correios (Lei n. 6.538/78) prevê o seguinte:
“Art. 10. Não constitui violação de sigilo de correspondência postal a abertura de carta:
I – endereçada a homônimo, no mesmo endereço;
II – que apresente indícios de conter objeto sujeito a pagamento de tributos;
III – que apresente indícios de conter valor não declarado, objeto ou substância de expedição, uso ou entrega
proibidos;
IV – que deva ser inutilizada, na forma prevista em regulamento, em virtude de impossibilidade de sua
entrega e restituição.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos II e III a abertura será feita obrigatoriamente na presença do remetente
ou do destinatário”.

LEP, art. 52: “A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasionar
subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional ou
estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes
características: (Redação dada pela Lei n. 13.964/19)
VI – fiscalização do conteúdo da correspondência; (Incluído pela Lei n. 13.964/19)

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