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CEBRASPE – PC/PB – Edital: 2021

• Nesta prova, faça o que se pede, usando, caso deseje, o espaço para rascunho indicado no presente caderno. Em seguida,
transcreva o texto para O CADERNO DE TEXTO DEFINITIVO DA PROVA DISCURSIVA, no local apropriado, pois não
será avaliado fragmento de texto escrito em local indevido.
• Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de linhas disponibilizadas será desconsiderado.
• No Caderno de Texto Definitivo, identifique-se apenas no cabeçalho da primeira página, pois não será avaliado texto que tenha
qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado. Caso queira assinar o texto de sua peça prática, utilize
apenas o nome Delegado de Polícia. Ao texto que contenha outra forma de assinatura será atribuída nota zero, correspondente à
identificação do candidato em local indevido.
• Na avaliação da peça prática, ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 20,00 pontos, dos quais até 1,00 ponto será atribuído
ao quesito apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafos) e estrutura textual (organização das ideias em
texto estruturado).

-- PROVA DISCURSIVA --
Carlo, reincidente em crimes de falso e estelionato, no intuito de fraudar o vestibular para o
curso de medicina de universidade pública de João Pessoa-PB, ofereceu alta quantia para Lenita,
funcionária da universidade e chefe dos fiscais do certame, a fim de que ela acobertasse a conduta de
A. G. S. e H. K. B., ambos com 17 anos de idade e alto quociente de inteligência, que se passariam por
dois candidatos inscritos no certame. Para adentrarem o local de provas, A. G. S. apresentaria o
documento de identidade de um vestibulando e H. K. B., um documento de identidade falso. Lenita
também entregaria o gabarito para outros vestibulandos que participassem do esquema. O esquema
ocorreu conforme planejado e o pagamento da propina estava combinado para ocorrer no dia seguinte
à aplicação da prova. Contudo, no momento em que Lenita e Carlo se encontraram para efetivar o
pagamento da propina, policiais civis, alertados por um funcionário da universidade, interceptaram a
entrega do dinheiro e detiveram ambos. Carlo portava um telefone celular e uma pasta, contendo
planilha com as seguintes informações: identificação e contato de 10 candidatos; números das salas
onde tais candidatos haviam feito a prova; e os valores pagos para a obtenção da aprovação — em
média, R$ 300 mil de cada candidato. Na frente do nome de dois candidatos, X e Y, constavam as
iniciais de A. G. S. e H. K. B., respectivamente, e a observação “RG pronto” e “RG devolvido”. Nos
demais nomes, constava a observação “PG” ou “falta 1/2”.

Com base na situação hipotética acima, redija, na condição de delegado responsável por conduzir as investigações, a peça cabível,
abordando, necessariamente, os seguintes aspectos:

1 tipificação penal das condutas narradas;


2 providências cabíveis;
3 enquadramento jurídico da detenção de Carlo e Lenita.

No texto da sua peça, dispense o relatório e não crie fatos novos.


CEBRASPE – PC/PB – Edital: 2021

PEÇA PRÁTICA – RASCUNHO – 1/2


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CEBRASPE – PC/PB – Edital: 2021

PEÇA PRÁTICA – RASCUNHO – 2/2


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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DA PARAÍBA
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS PARA O
CARGO 1: A01 – DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL
PROVA DISCURSIVA – PEÇA PRÁTICA
PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO
PORTARIA
A Polícia Civil do Estado da Paraíba, neste ato representada pelo Delegado Titular da Delegacia X de Defraudações e
Falsificações da cidade de João Pessoa (O Delegado de Polícia Civil do Estado da Paraíba), no uso de suas atribuições
legais/constitucionais conferidas pelo art. 144, § 4.º, da Constituição Federal de 1988 e pelo art. 4.º e seguintes do Código de
Processo Penal, e
Obs. Serão levados em consideração outros normativos que fundamentam as atribuições legais do delegado, como a Constituição
Estadual, a Lei Complementar Estadual nº 85/08 ou a Lei nº 12.830/13.
CONSIDERANDO
os fatos noticiados no boletim de ocorrência X ou ocorridos na circunscrição desta Delegacia de Polícia Civil e constitui crime
tipificado em artigos de nossa legislação vigente (relatório dispensado)
RESOLVE:
Instaurar o presente inquérito policial, objetivando apurar a prática, em tese, dos delitos* de:
corrupção passiva (art. 317 do Código Penal); fraude em certame de interesse público (art. 311-A do Código Penal); corrupção
ativa (art. 333 do Código Penal); falsificação de documento público (art. 297 do Código Penal); uso de documento de identidade
alheio/falsa identidade (art. 308 do Código Penal); e uso de documento falso (art. 304 do Código Penal), além do crime do art.
244-B do ECA.

(*Não há elementos suficientes para imputar associação criminosa (art. 288 do Código Penal) tampouco organização criminosa.)

DESPACHO: DETERMINAR ao escrivão que, autuada a Portaria e juntado o boletim de ocorrência, sejam tomadas as
seguintes providências:
1) pelos agentes da delegacia de defraudações:
1- intimação de Carlo e Lenita para serem interrogados na forma da lei;
2- intimação do servidor público/fiscal que noticiou o esquema e demais pessoas que saibam ou tomaram conhecimento
do fato para prestarem depoimento;
3- encaminhamento dos acusados para o Instituto de Medicina Legal para realização do exame de corpo de delito;
4- identificação, qualificação e juntada da folha de antecedentes criminais de Carlo e Lenita;
5- apreensão de objetos (telefone, pasta, planilhas, etc.) e do dinheiro em posse de Carlo;
6- comunicação à Delegacia Especializada para investigar os atos infracionais praticados pelos menores A.G.S e H.K.B;
7- oitiva dos menores A.G.S e H.K.B, de acordo com a legislação pertinente, na condição de testemunhas dos crimes aos
acusados imputados;
8- requisição, à faculdade de medicina, da lista de presença das salas de prova de A. G. S., H. K. B. e dos demais
vestibulandos envolvidos no esquema, bem como identificação dos fiscais dessas salas, para posterior oitiva;
9- requisição, às operadoras de telefonia, do acesso às contas telefônicas de todos os envolvidos na fraude.

2) Requerimentos de autorização pelo juízo competente de:


d) busca domiciliar (art. 240, § 1.º, do Código de Processo Penal) nos seguintes endereços:
d1) residência de Carlo, de Lenita e dos menores A. G. S. e H. K. B., para apreensão de celulares, identidades falsas,
computadores e documentos relativos à fraude, como gabaritos e comprovantes de pagamento (art. 240, § 1º, alíneas “b”,
“c”, “d”, “e” e “h”, do Código de Processo Penal).
d2) residência do candidato Y, identificado na planilha com a observação “RG devolvido”, para apreensão do RG, celular e
outros documentos relativos à fraude no vestibular.
e) busca e apreensão de A.G.S. e H. K. B., menores em conflito com a lei (art.106 do Estatuto da Criança e do Adolescente);
f) interceptação das comunicações telefônicas dos demais candidatos citados na planilha (telefones XXX), no intuito de
identificar eventuais outros envolvidos, dado que há indícios razoáveis de participação no esquema, não há outro meio de colher
a prova e os crimes investigados são punidos com reclusão (art. 2.º da Lei n.º 9.296/1996);
g) autorização para acesso aos dados e a conversas em aplicativos de mensagens nos telefones celulares de Carlo e Lenita;
h) acesso aos dados bancários de Carlo, para identificação de eventuais depósitos e(ou) transferências suspeitos;
i)
REPRESENTAR pela decretação da prisão preventiva de Carlo e de medida cautelar diversa da prisão para a servidora pública
Lenita, consistente na suspensão do exercício da função pública, pelos motivos que se seguem, considerando que Carlos e Lenita
não foram presos em flagrante, pois o pagamento da vantagem é mero exaurimento dos crimes de corrupção ativa e passiva.
Obs. Alternativamente, será aceito o pedido de medida cautelar diversa da prisão para a servidora pública Lenita, consistente na
suspensão do exercício da função pública, com fulcro nos arts. 282 e 319, VI, do Código de Processo Penal.
il) A prisão preventiva de Carlo é admissível porque se trata da investigação de crimes dolosos com pena máxima superior a
4 anos (art. 313 do Código Penal), além de estarem presentes os requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal (fumus
comissi delicti: indícios de autoria e prova da materialidade dos crimes; e periculum libertatis: garantia da ordem pública e/ou
conveniência da instrução penal).
i2) a imposição de medida cautelar contra Lenita deve-se ao justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais,
em especial destruição de documentos, coação de testemunhas e fraude processual (arts. 282 e 319, VI, do Código de Processo
Penal)

Após o cumprimento das diligências, voltem os autos para verificação da necessidade de outras providências.

CUMPRA-SE.
Local e data
Delegado de Polícia

QUESITOS AVALIADOS

2.1
0 – Não redigiu portaria.
1 – Redigiu portaria, porém não apresentou os elementos formais da peça (preâmbulo, descrição dos crimes e autoria,
determinações/diligências, fecho, local e data e assinatura).
2 – Redigiu portaria, com a respectiva estrutura, mas não apresentou todos os seus elementos formais característicos.
3 – Redigiu portaria, com a respectiva estrutura e respectivos elementos formais característicos.

2.2
2.2.1
0 – Não indicou a prática de corrupção passiva por Lenita (art. 317 do Código Penal).
1 – Indicou a prática de corrupção passiva por Lenita (art. 317 do Código Penal).

2.2.2
0 – Não indicou a prática de corrupção ativa por Carlo (art. 333 do Código Penal).
1 – Indicou a prática de corrupção ativa por Carlo (art. 333 do Código Penal).

2.2.3
0 – Não indicou corrupção ativa (art. 333 do Código Penal).
1 – Indicou corrupção ativa (art. 333 do Código Penal).
0 – Não indicou a prática dos crimes dos arts. 297, 304, 308, 311-A do Código Penal e art. 244-B do ECA por Carlo e Lenita
1 – Indicou apenas um crime
2- Indicou apenas dois crimes
3- Indicou apenas três crimes
4- Indicou apenas quatro crimes
5- Indicou todos os crimes corretamente para Carlo e Lenita.

2.2.4
0 – Não indicou falsificação de documento público (art. 297 do Código Penal).
1 – Indicou falsificação de documento público (art. 297 do Código Penal).

2.2.5
0 – Não indicou uso de documento de identidade alheio/falsa identidade (art. 308 do Código Penal).
1 – Indicou uso de documento de identidade alheio/falsa identidade (art. 308 do Código Penal).

2.2.6
0 – Não indicou uso de documento falso (art.304 do Código Penal).
1 – Indicou uso de documento falso (art.304 do Código Penal).

2.3
2.3.1
0 – Não determinou a oitiva do funcionário que denunciou o esquema.
1 – Determinou a oitiva do funcionário que denunciou o esquema.

2.3.2
0 – Não determinou a requisição à universidade da lista de presença dos candidatos nem a identificação dos fiscais das salas
onde os envolvidos já identificados fizeram a prova.
1 – Apenas determinou a requisição à universidade da lista de presença dos candidatos ou a identificação dos fiscais das salas
onde os envolvidos já identificados fizeram a prova.
2 – Determinou a requisição à universidade da lista de presença dos candidatos e a identificação dos fiscais das salas onde os
envolvidos já identificados fizeram a prova, mas não justificou.
3 – Determinou a requisição à universidade da lista de presença dos candidatos e a identificação dos fiscais das salas onde os
envolvidos já identificados fizeram a prova, apresentado a devida justificativa (oitiva posterior).

2.3.3
0 – Não determinou a requisição às operadoras de telefonia para acesso às contas telefônicas dos envolvidos no esquema.
1 – Determinou a requisição às operadoras de telefonia para acesso às contas telefônicas dos envolvidos no esquema.

2.3.4
0 – Não solicitou autorização judicial para busca domiciliar.
1 – Solicitou autorização judicial para busca domiciliar, mas não indicou as residências nem o que deveria ser apreendido.
2 – Solicitou autorização judicial para busca domiciliar, mas apenas indicou as residências ou o que deveria ser apreendido.
3 – Solicitou autorização judicial para busca domiciliar, indicando as residências e o que deveria ser apreendido.

2.3.5
0 – Não solicitou autorização judicial para busca e apreensão dos menores envolvidos no esquema.
1 – Solicitou autorização judicial para busca e apreensão dos menores envolvidos no esquema, mas não apresentou o devido
fundamento no Estatuto da Criança e Adolescente.
2 – Solicitou autorização judicial para busca e apreensão dos menores envolvidos no esquema, apresentando o devido
fundamento no Estatuto da Criança e Adolescente.

2.3.6
0 – Não solicitou autorização judicial para interceptação das comunicações telefônicas.
1 – Solicitou autorização judicial para interceptação das comunicações telefônicas, mas não o justificou com base nos requisitos
legais.
2 – Solicitou autorização judicial para interceptação das comunicações telefônicas, mas o justificou com base em parte dos
requisitos legais.
3 – Solicitou autorização judicial para interceptação das comunicações telefônicas, justificando-o com base nos requisitos legais.

2.3.7
0 – Não solicitou autorização judicial para acesso a conversas em aplicativos de mensagens nos celulares de Carlo e Lenita.
1 – Solicitou autorização judicial para acesso a conversas em aplicativos de mensagens nos celulares de Carlo e Lenita.

2.3.8
0 – Não solicitou autorização judicial para acesso aos dados e registros bancários de Carlo.
1 – Solicitou autorização judicial para acesso aos dados e registros bancários de Carlo.

2.3.9
0 – Não mencionou que não houve flagrante ou indicou que houve flagrante.
1 – Mencionou que não houve flagrante, mas não justificou.
2 – Indicou que não houve flagrante e justificou que o pagamento é mero exaurimento dos crimes de corrupção ativa e passiva.

2.3.10
0 – Não solicitou autorização judicial para a prisão preventiva de Carlos.
1 – Solicitou autorização judicial para a prisão preventiva de Carlos, mas não fundamentou com base nos requisitos legais.
2 – Solicitou autorização judicial para a prisão preventiva de Carlos, mas fundamentou com base em apenas parte dos requisitos
legais.
3 – Solicitou autorização judicial para a prisão preventiva de Carlos, fundamentando com base em todos os requisitos legais.

2.3.11
0 – Não solicitou autorização judicial para medida cautelar diversa da prisão para Lenita.
1 – Solicitou autorização judicial para medida cautelar diversa da prisão para Lenita, mas não justificou.
2 – Solicitou autorização judicial para medida cautelar diversa da prisão para Lenita, apresentando correta justificativa.

0- Não indicou determinações/diligências.


1- Indicou determinações/diligências, porém, somente uma delas relacionada a intimações, apreensões, comunicação e oitiva
com procedimento especial em relação aos menores.
2- Indicou determinações/diligências, porém, somente duas delas relacionada a intimações, apreensões, comunicação e oitiva
com procedimento especial em relação aos menores.
3- Indicou determinações/diligências, porém, somente três delas relacionada a intimações, apreensões, comunicação e oitiva com
procedimento especial em relação aos menores.
4- Indicou determinações/diligências, sendo quatro delas relacionada a intimações, apreensões, comunicação e oitiva com
procedimento especial em relação aos menores.

2.4
0- Não representou pela prisão preventiva.
1- Representou pela prisão preventiva não fundamentando.
2- Representou pela prisão preventiva fundamentando de forma incompleta.
3- Representou pela prisão preventiva de ambos os acusados (ou medida cautelar para Lenita) fundamentando corretamente.
CESPE | CEBRASPE – SDS/PE – Aplicação: 2016

PROVA DISCURSIVA P2
• Nessa prova, faça o que se pede, usando, caso deseje, os espaços para rascunho indicados no presente caderno. Em seguida, transcreva
os textos para o CADERNO DE TEXTOS DEFINITIVOS DA PROVA DISCURSIVA P2, nos locais apropriados, pois não
serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.
• Em cada questão e na peça de natureza cautelar, qualquer fragmento de texto que ultrapassar a extensão máxima de linhas
disponibilizadas será desconsiderado. Será também desconsiderado o texto que não for escrito na(s) folha(s) de textos definitivos
correspondente(s).
• No caderno de textos definitivos, identifique-se apenas no cabeçalho da primeira página, pois não será avaliado texto que
tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado. Caso queira assinar seus textos, utilize apenas o
nome Delegado de Polícia. Ao texto que contenha outra forma de identificação será atribuída nota zero, correspondente à
identificação do candidato em local indevido.
• Na avaliação de cada questão, ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 10,00 pontos, dos quais até 0,50 ponto será atribuído ao
quesito apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafo) e estrutura textual (organização das ideias em texto
estruturado). Na avaliação da peça de natureza técnica, esses valores corresponderão a 30,00 pontos e 1,50 ponto respectivamente.
37'56“1&+55'46#6+8#

Otávio, maior e capaz, frequentava determinado bar e, regularmente, jogava sinuca com Carlos,
também maior e capaz. Em uma das partidas, eles se desentenderam e Otávio, com a intenção de matar
Carlos, aplicou-lhe dois golpes com uma faca, ferindo-o e fazendo-o sangrar. Imediatamente, o dono do bar
e outras pessoas presentes no estabelecimento detiveram o autor do delito, acionaram a polícia e chamaram
uma ambulância, que conduziu o ferido após os primeiros socorros terem sido prestados. No deslocamento
para o hospital, a ambulância colidiu com um caminhão e, em razão exclusivamente da colisão, todas as
pessoas que estavam na ambulância faleceram instantaneamente.

Considerando a situação hipotética apresentada, redija um texto dissertativo destacando as teorias da relação de causalidade previstas
no Código Penal [valor: 5,00 pontos] e a teoria de causalidade aplicável à conduta de Otávio no que se refere ao falecimento de Carlos
[valor: 4,50 pontos].

RASCUNHO – QUESTÃO DISSERTATIVA 1

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CESPE | CEBRASPE – SDS/PE – Aplicação: 2016

37'56“1&+55'46#6+8#

Um médico ginecologista, durante a realização de exame de rotina em sua paciente — pessoa maior
e capaz —, afirmou existir um novo procedimento ginecológico — fato esse inverídico e anormal. Para
exemplificá-lo, ele esfregou as mãos na vagina de sua paciente, demonstrando claramente que sua lascívia
estava sendo saciada com os reiterados toques na genitália. Ato contínuo, a paciente compareceu a uma
delegacia de polícia e narrou o fato à autoridade policial.

Tendo em vista que, na análise de um crime e de sua autoria, o delegado de polícia deverá conhecer todo o iter criminis percorrido pelo
agente, a fim de — no momento do indiciamento do suposto autor do fato — enquadrar o fato delituoso em um dos muitos preceitos legais
de crimes existentes, responda aos seguintes questionamentos, relativos à situação hipotética acima apresentada. Nesse sentido, considere
que a ocorrência do fato descrito e a sua autoria já tenham sido comprovadas pela autoridade policial.

1 Qual o crime praticado pelo médico? Tipifique-o de forma fundamentada. [valor: 5,00 pontos]
2 O fato hipotético em apreço é classificado como crime de tendência intensificada? Justifique sua resposta. [valor: 4,50 pontos]

RASCUNHO – QUESTÃO DISSERTATIVA 2

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CESPE | CEBRASPE – SDS/PE – Aplicação: 2016

2'š#&'0#674'<#%#76'.#4

Na data de 12/7/2014, entre 00 h 40 min e 01 h 00 min, em via pública do Bairro de Prazeres,


Recife – PE, João Félix da Silva, adolescente com dezessete anos de idade, mediante ação intencional de
dois indivíduos que estavam em um veículo GM/Vectra de cor branca e placa não identificada, foi alvejado
por vários disparos de arma de fogo e faleceu no local em decorrência dos ferimentos experimentados. Uma
equipe da delegacia de homicídios se dirigiu ao local do crime e verificou que junto ao corpo da vítima havia
uma porção considerável de droga, aparentando ser cocaína, bem como um telefone celular de sua
propriedade e uma bicicleta, que estava sendo utilizada pela vítima no momento em que ocorreu o crime.
No decorrer do exame pericial de local, foram localizados e recolhidos vários estojos e fragmentos de
projéteis de calibres distintos, a saber: 9 mm e .40, evidenciando que as armas utilizadas teriam sido, no
mínimo, duas pistolas. Quando do exame perinecroscópico, constatou-se que o cadáver apresentava cerca
de quinze lesões características de perfurações produzidas por projéteis de arma de fogo, sendo que
seis delas na região da face. Após a conclusão do exame pericial, o corpo foi removido ao Instituto de
Medicina Legal. A equipe de investigação, ainda no local do crime, apurou, preliminarmente, a partir de
declarações informais de Joaquim Domênico Neto e Maria Josefina Domênico, moradores do local, que dois
indivíduos desconhecidos, cujas características não foi possível evidenciar, conduzindo o veículo citado,
teriam sido os autores do crime. A genitora da vítima, Sr.ª Maria das Dores Serafim, entrevistada pela equipe
de investigação, afirmou que João Félix da Silva estava sendo ameaçado de morte em razão de dívidas de
drogas e, nos dias anteriores ao crime, teria recebido inúmeras ligações telefônicas em seu telefone celular.
Os autores do crime tomaram rumo ignorado após o delito, estando em local incerto e não sabido. O veículo
GM/Vectra de cor branca utilizado na prática do homicídio foi abandonado em uma rodovia de acesso ao
interior do estado e, após exame pericial, não foi possível a coleta de fragmentos de digitais, verificando-se,
ainda, que se tratava de produto de roubo havido dias antes. A genitora da vítima, dias após o homicídio,
passou a receber ligações telefônicas do número 081-6999.8888, ameaçando a ela e a seus familiares de
morte caso eles colaborassem com a investigação policial. No telefone celular da vítima, apreendido no local
do crime, foram registradas várias ligações anteriores ao delito, originadas do mesmo número, ou seja,
081-6999.8888, sem a identificação de seu usuário. Todas as informações mencionadas foram
circunstanciadas em relatório de investigação preliminar e submetidas ao crivo do delegado de polícia
competente, o qual, de imediato, instaurou o inquérito policial pertinente para a completa apuração dos fatos
e suas circunstâncias.

Diante da situação hipotética apresentada e considerando que a investigação encontra-se na etapa inicial, tendo sido instaurado o
competente inquérito policial sem êxito na individualização dos autores do crime, elabore, na condição de delegado de polícia, uma peça
de natureza cautelar que melhor se adeque à situação, fundamentando-a de acordo com o que dispõe a legislação de regência.
CESPE | CEBRASPE – SDS/PE – Aplicação: 2016

RASCUNHO – PEÇA DE NATUREZA CAUTELAR – 1/2


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CESPE | CEBRASPE – SDS/PE – Aplicação: 2016

RASCUNHO – PEÇA DE NATUREZA CAUTELAR – 2/2


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O
UT
IL
IZ
A R
GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
SECRETARIA DE DEFESA SOCIAL
DELEGADO DE POLÍCIA
PROVA DISCURSIVA P2
PEÇA DE NATUREZA CAUTELAR
Aplicação: 19/6/2016

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE RECIFE ‒ PE.

O delegado de polícia abaixo assinado, no uso de suas atribuições legais, com fundamento na Lei n.º 9.296/1996,
arts. 1.º; 2.º, incisos I, II e III; 3.º, inciso I; 5.º — que regulamentou o inciso XII, parte final do art. 5.º da CF —, vem a Vossa
Excelência REPRESENTAR PELA INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS e PELA QUEBRA DE
SIGILO DE DADOS TELEFÔNICOS do prefixo 081-6999.8888 pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:
Na data de 12/7/2014, entre 00 h 40 min e 01 h 00 min, em via pública do Bairro de Prazeres, Recife ‒ PE,
JOÃO FÉLIX DA SILVA, adolescente com dezessete anos de idade, mediante ação intencional de dois indivíduos que estavam
em um veículo GM/Vectra de cor branca e placa não indicada, foi alvejado por disparos de arma de fogo e faleceu no local em
decorrência dos ferimentos experimentados.
Uma equipe da delegacia de homicídios atendeu ao local do crime e verificou que junto ao corpo da vítima havia
considerável porção de droga, aparentando ser cocaína, bem como um telefone celular de sua propriedade e uma bicicleta, que
estava sendo utilizada pela vítima quando do crime.
A equipe de investigação, ainda no local do crime, apurou, preliminarmente, a partir de declarações informais de
JOAQUIM DOMÊNICO NETO e MARIA JOSEFINA DOMÊNICO, moradores do local, que dois indivíduos desconhecidos,
cujas características não foi possível evidenciar, conduzindo o veículo citado, teriam sido os autores do crime.
A genitora da vítima, Sr.a MARIA DAS DORES SERAFIM, entrevistada pela equipe de investigação, afirmou que
JOÃO FÉLIX DA SILVA estava sendo ameaçado de morte em razão de dívidas de drogas e, nos dias anteriores ao crime, teria
recebido inúmeras ligações telefônicas em seu telefone celular. Disse ainda a referida senhora que, dias após o homicídio, passou
a receber ligações telefônicas do número 081-6999.8888, ameaçando de morte a ela e a seus familiares caso eles colaborassem
com a investigação policial.
No telefone celular da vítima, apreendido no local do crime, foram registradas várias ligações anteriores ao delito
originadas do mesmo número, ou seja, 081-6999.8888, sem a identificação de seu usuário, havendo razoáveis indícios de que o
seu usuário é um dos autores do delito que resultou na morte do adolescente JOÃO FÉLIX DA SILVA..
Considerando, assim, que o art. 1.º da Lei n.o 9.296/1996 autoriza a interceptação de comunicações telefônicas de
qualquer natureza para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, e que, nos moldes do que preceitua o
art. 2.º, incisos I, II e III, da referida legislação, o fato ora investigado constitui crime de natureza grave punido com reclusão,
não havendo outros meios de prova disponíveis no sentido de demonstrar a autoria dos delitos sob investigação, REPRESENTA-
SE a Vossa Excelência pela expedição de ofício único, com força de Mandado Judicial, direcionado às prestadoras de serviços
de telefonia, determinando:

A INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS e a QUEBRA DE SIGILO DE DADOS


TELEFÔNICOS do prefixo 081-6999.8888, seu respectivo IMEI e outros que o sucedam, pelo prazo de quinze dias, contados
de sua implementação, devendo as referidas empresas:
a. disponibilizar condições técnicas para monitoramento gravado de áudio, texto, imagens e outras formas de comunicação
porventura existentes relativos ao terminal supracitado;
b. fornecer extratos do terminal mencionado, contendo datas, horários e durações de chamadas/mensagens tentadas, originadas
e recebidas durante o período de interceptação, agenda de contatos e informações sobre as Estações Rádio Base (ERB)
transmissoras das ligações;
c. fornecer todos os dados cadastrais existentes em poder das respectivas empresas referentes ao terminal interceptado e aos
interlocutores que com eles mantiverem/tentarem contato, cujo contexto seja de interesse da investigação.

Solicita-se, por fim, a remessa das informações descritas nesta representação à autoridade policial requerente, nos
moldes do que determina a legislação de regência.
Recife ‒ PE, ........... de ................................ de 2014.

Delegado de Polícia
GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
SECRETARIA DE DEFESA SOCIAL
DELEGADO DE POLÍCIA
PROVA DISCURSIVA P2 – QUESTÃO 1
Aplicação: 19/6/2016

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO

Espera-se que o candidato desenvolva sua resposta de acordo com o que se segue.

Para definir a relação de causalidade, o CP adota, como regra geral, a teoria da equivalência dos antecedentes causais,
a qual também apresenta outras denominações, como teoria da equivalência das condições, teoria da condição simples, teoria
da condição generalizadora e teoria da conditio sine qua non. De acordo com o art. 13, caput, in fine, do CP, “O resultado, de
que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a
qual o resultado não teria ocorrido”. Excepcionalmente, o CP adota, no art. 13, § 1.°, a teoria da causalidade adequada:
“A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos
anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou”. A expressão teoria da causalidade adequada, por si só, revela a
autonomia da causa superveniente que, embora seja relativa, não se encontra no mesmo curso do desenvolvimento causal da
conduta praticada pelo autor.
Entretanto, há autores, como Cezar Roberto Bitencourt (2012, p. 314), que entendem que o disposto no art. 13, § 1.°,
do CP é uma limitação do alcance da teoria da equivalência dos antecedentes causais ou outra denominação equivalente.
Com relação à situação hipotética apresentada, o agente apenas responderá pelos resultados da tentativa de homicídio,
já que foi rompido o nexo causal em relação ao resultado. Assim, nessa situação, aplica-se a teoria da causalidade adequada, ou
a limitação do alcance da teoria da equivalência dos antecedentes causais ou outra denominação equivalente, prevista no art.
13, § 1.°, do CP.

REFERÊNCIAS

Cleber Masson. Direito Penal Esquematizado. vol. 1. 10.ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método,
2016. p. 258-64.
GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
SECRETARIA DE DEFESA SOCIAL
DELEGADO DE POLÍCIA
PROVA DISCURSIVA P2 – QUESTÃO 2
Aplicação: 19/6/2016

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


1 Sim. O médico praticou o crime de violação sexual mediante fraude, também conhecido como estelionato sexual,
previsto no art. 215 do Código Penal (CP), uma vez que praticou ato libidinoso com a paciente mediante fraude, pois seu engano
impediu a livre manifestação da vontade da vítima. Assim, incorreu no crime previsto no art. 215 do CP. Ressalta-se não se tratar
de estupro, uma vez que o núcleo do tipo penal do art. 213 do CP é constranger (coagir), acrescido das elementares “mediante
violência ou grave ameaça”, fatos que não ocorreram no caso hipotético. Também não se pode falar em estupro de vulnerável
(art. 217-A do CP), uma vez que a vítima tinha capacidade de resistir, caso soubesse do engano.
2 Sim, o caso hipotético é classificado como delito de tendência intensificada. O delito de tendência intensificada é aquele
em que, para se tipificar o fato, é necessário conhecer a intenção do agente. Logo, o fato será considerado como crime a depender
do animus do agente, diante da conduta apresentada. Assim, o tipo penal exige uma determinada tendência subjetiva na realização
da conduta típica. Ex.: O ginecologista, durante a realização de um exame na região genital, ao tocar essa região, poderá praticar
crime sexual ou não, a depender da atitude pessoal e interna.

COMPLEMENTO DA PRIMEIRA INDAGAÇÃO


Quanto à tipicidade:

TÍTULO VI
DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
(Redação dada pela Lei n.º 12.015, de 2009)
CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL
(Redação dada pela Lei n.º 12.015, de 2009)
Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Redação dada pela Lei n.º 12.015,
de 2009)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei n.º 12.015, de 2009)
...
Violação sexual mediante fraude (Redação dada pela Lei n.º 12.015, de 2009)
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou
outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: (Redação dada pela
Lei n.º 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei n.º 12.015, de 2009)
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também
multa. (Redação dada pela Lei n.º 12.015, de 2009)
Estupro de vulnerável (Incluído pela Lei n.º 12.015, de 2009)
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
(Incluído pela Lei n.º 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei n.º 12.015, de 2009)
§ 1.o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei n.º 12.015, de 2009)
TJ-DF – Apelação Criminal APR 20100710361696 DF 0035705-23.2010.8.07.0007 (TJ-DF)
Data de publicação: 29/1/2014
Ementa: PENAL E PROCESSUAL. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE. ATO
LIBIDINOSO COMETIDO DURANTE EXAME GINECOLÓGICO. AUSÊNCIA DE
PROVAS. ABSOLVIÇÃO. 1 – NO CASO VERTENTE, NÃO RESTOU COMPROVADO QUE
O RÉU TENHA PRATICADO ALGUM ATO ALÉM DAQUELES NORMAIS REALIZADOS
DURANTE UM EXAME GINECOLÓGICO E AFORA A PERCEPÇÃO INCERTA DA VÍTIMA,
QUANTO AO CUNHO SEXUAL DURANTE A REALIZAÇÃO DO EXAME, NÃO HÁ
OUTRAS PROVAS. 2 – O RECONHECIMENTO DA INEXISTÊNCIA DE CRIME É MEDIDA
QUE SE IMPÕE ANTE A FRAGILIDADE DA PROVA PRODUZIDA NOS AUTOS. 6 –
APELAÇÃO CONHECIDA E NÃO PROVIDA.

TJ-RS – Apelação Crime ACR 70053878591 RS (TJ-RS)


Data de publicação: 21/01/2014
Ementa: AC N.º 70.053.878.591AC/M 4.716 – S 19.12.2013 – P 18 APELAÇÃO CRIMINAL.
VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE. Preliminar rejeitada. No caso, a prova produzida
não esclarece, com certeza, o que ocorreu na data do fato denunciado. A vítima afirma ter sido tocada
de maneira imprópria e sexualizada pelo réu durante um exame médico, ao passo que ele nega a
acusação, narrando com detalhes a forma como realizou o exame clínico na paciente, explicando ser
o procedimento adequado para a formação do diagnóstico de fibromialgia, que constatou ser o
problema da ofendida. Ademais disto, a sindicância instaurada pelo CREMERS a esse respeito
resultou arquivada e ainda há um parecer técnico do Serviço Biomédico do Ministério Público
abonando correção do diagnóstico de fibromialgia, sintomas de depressão, anormalidades
psicológicas e, inclusive, dores estomacais, todos eles consonantes com o quadro clínico apresentado
pela suposta vítima à época dos fatos. No processo criminal, o ônus da prova sobre os fatos
imputados ao réu é incumbência exclusiva do órgão acusador, âmbito em que, remanescendo dúvida
probatória, o veredicto absolutório mostra-se impositivo com força no princípio humanitário in
dubio pro reo, razão pela qual o réu é absolvido da imputação com base no art. 386 , inc. II , do
C.P.P., em face de defecção probatória sobre a materialidade do fato denunciado. APELO
DEFENSIVO PROVIDO. (Apelação Crime N.º 70053878591, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Aymoré Roque Pottes de Mello, Julgado em 19/12/2013)

HC 278684 / SP HABEAS CORPUS 2013/0332379–3


Relator(a) Ministro JORGE MUSSI (1138)
Órgão Julgador T5 – QUINTA TURMA
Data do Julgamento 3/12/2013
Data da Publicação/Fonte DJe 16/12/2013
Ementa
HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO
ORDINÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. RESPEITO AO SISTEMA RECURSAL PREVISTO NA
CARTA MAGNA. NÃO CONHECIMENTO.
1. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, buscando dar efetividade às normas previstas
na Constituição Federal e na Lei n.º 8.038/1990, passou a não mais admitir o manejo do habeas
corpus originário em substituição ao recurso ordinário cabível, entendimento que passou a ser
adotado por este Superior Tribunal de Justiça. 2. O constrangimento apontado na inicial será
analisado, a fim de que se verifique a existência de flagrante ilegalidade que justifique a atuação de
ofício por este STJ.

DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE


PRATICADA POR MÉDICO GINECOLOGISTA CONTRA DUAS PACIENTES.
GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO. NOTÍCIA DA EXISTÊNCIA DE INÚMERAS
OUTRAS VÍTIMAS. PERICULOSIDADE DO AGENTE. RISCO EFETIVO DE REITERAÇÃO.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. RÉU QUE PERMANECEU PRESO DURANTE TODA A
INSTRUÇÃO CRIMINAL. PERSISTÊNCIA DOS MOTIVOS DO ENCARCERAMENTO
CAUTELAR. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.
1. Não há que se falar em constrangimento ilegal quando demonstrada a imprescindibilidade da
segregação preventiva para a garantia da ordem pública, em razão da gravidade concreta dos delitos
em que condenado o réu — violação sexual mediante fraude praticada na condição de médico
ginecologista/obstetra contra duas pacientes, durante consulta — e da notícia da existência de
inúmeras outras vítimas, a demostrar a periculosidade social do agente e o risco concreto de
reiteração criminosa. 2. Permanecendo o paciente segregado durante toda a instrução criminal, dada
a presença dos fundamentos do art. 312 do CPP, não deve ser revogada a custódia cautelar se, após
a condenação, não houve alteração fática a ponto de autorizar a devolução do seu status libertatis.
3. Não fere o princípio da presunção de inocência e do duplo grau de jurisdição a vedação do direito
de apelar em liberdade, se ocorrentes os pressupostos legalmente exigidos para a preservação do
condenado na prisão. 4. Habeas corpus não conhecido.
COMPLEMENTO DA SEGUNDA INDAGAÇÃO:

Processo: ACR 4857641 PR 0485764-1


APELAÇÃO CRIMINAL. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO (ART. 228 DO CÓDIGO
PENAL). ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
CONJUNTO PROBATÓRIO IDÔNEO. DEPOIMENTOS TESTEMUNHAIS. RÉ QUE
FACILITA A PRÁTICA DA PROSTITUIÇÃO PROPICIANDO LOCAL EM SEU
ESTABELECIMENTO PARA ENCONTROS AMOROSOS. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE
DOLO (ART. 18, I, DO CÓDIGO PENAL). INOCORRÊNCIA. DELITO DE TENDÊNCIA.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
Não há que se falar em insuficiência de provas quando os elementos coligidos através das provas
testemunhais, aliado ao interrogatório da ré e às próprias fotografias tiradas do estabelecimento
confirmam os fatos imputados na denúncia e conduzem à condenação da apelante nas penas do
crime previsto no art. 228, caput, do Código Penal. Na ação de “facilitar” há o que se denomina de
lenocínio acessório, em que o agente, sem induzir ou atrair a vítima, proporciona-lhe meios eficazes
de exercer a prostituição, arrumando-lhe clientes, colocando-a em lugares estratégicos etc. (Luiz
Régis Prado. Curso de Direito Penal Brasileiro, vol. 03, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p.
295). No crime de favorecimento da prostituição (art. 228, caput, do Código Penal), o tipo
subjetivo em preço é representado pelo dolo, acrescido do elemento subjetivo especial, por se
tratar justamente de um delito de tendência, no qual se exige — pela própria natureza do
delito — uma determinada tendência subjetiva de realização da conduta, muito embora não
haja expressa menção no tipo penal. A conduta da ré de facilitar a prostituição em seu
estabelecimento — proporcionando até mesmo quartos para os eventuais encontros — comprova
tanto o dolo, como o elemento subjetivo especial exigidos pelo tipo penal em questão, uma vez que
a ré conhecia, favorecia e permitia que as moças que trabalhavam no local utilizassem as
instalações do local para fins libidinosos. Não se pode tirar outra conclusão ao analisar as provas
produzidas, notadamente as fotografias acostadas. Recurso da defesa conhecido e desprovido.
CESPE | CEBRASPE – PJC/MT – Aplicação: 2017

PROVA ESCRITA DISSERTATIVA


• Nesta prova, faça o que se pede, usando, caso deseje, os espaços para rascunho indicados no presente caderno. Em seguida, transcreva
os textos para o CADERNO DE TEXTOS DEFINITIVOS DA PROVA ESCRITA DISSERTATIVA, nos locais apropriados,
pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.
• Qualquer fragmento de texto que ultrapassar a extensão máxima de linhas disponibilizadas será desconsiderado. Também será
desconsiderado o texto que não for escrito na folha de texto definitivo correspondente.
• No caderno de textos definitivos, identifique-se apenas no cabeçalho da primeira página, pois não será avaliado texto que
tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.
• Na avaliação de cada questão da prova escrita dissertativa, ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 8,00 pontos, dos quais até
0,40 ponto será atribuído ao quesito apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafos) e estrutura textual
(organização das ideias em texto estruturado).

QUESTÃO 1

À noite, no retorno para a delegacia, depois de cumpridas outras diligências, policiais civis
suspeitaram, com razões justificáveis, da ocorrência de tráfico de drogas em determinada residência.
Imediatamente, entraram à força no local e realizaram busca e apreensão no domicílio.

Considerando o entendimento do STF, responda, de forma fundamentada, aos seguintes questionamentos a respeito da legalidade da
entrada na residência e da busca e apreensão realizada na situação hipotética acima descrita.

1 Ao entrarem na residência, naquele momento, os policiais agiram de maneira legal? [valor: 1,60 ponto]
2 Ao realizarem busca e apreensão no domicílio, os policiais agiram legalmente? Em que momento ocorre o controle judicial desse
tipo de ação? [valor: 4,00 pontos]
3 Caso a ação dos policiais seja considerada ilícita, quais serão as consequências dessa ação? [valor: 2,00 pontos]
CESPE | CEBRASPE – PJC/MT – Aplicação: 2017

RASCUNHO – QUESTÃO 1

1
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CESPE | CEBRASPE – PJC/MT – Aplicação: 2017

QUESTÃO 2

Em determinada manhã, Carlos, munido de um revólver, abordou Alberto e Bruno na entrada da


lanchonete onde os dois trabalham como agentes de segurança e exigiu a entrega de um notebook do
estabelecimento comercial. Alberto estava prestes a entregar o computador a Carlos quando Bruno tomou
o equipamento de suas mãos e segurou-o fortemente, visando impedir a subtração do bem. Ato contínuo,
Carlos desferiu um soco em Bruno, que sofreu lesão leve, e evadiu-se levando o notebook. Durante
a confusão, a secretária Maria, que trabalhava no local e possuía enorme credibilidade por sua honestidade,
aproveitou para subtrair bens de pequeno valor do estabelecimento: um HD externo e um mouse de
computador. Alguns dias após o ocorrido, quando prenderam Carlos, os policiais civis não encontraram a
arma usada no crime nem os equipamentos eletrônicos extraviados. O proprietário da lanchonete e os
agentes de segurança relataram os fatos na delegacia e entregaram cópia das gravações das câmeras de
segurança, que registraram os acontecimentos. Pela análise das imagens, constatou-se o delito praticado
por Maria.
Adotadas as providências necessárias — exame mercadológico, conforme o qual o HD e o mouse
foram avaliados em R$ 650,00, e o notebook, em R$ 5.000,00, e juntada das folhas de antecedentes, que
certificaram a primariedade de Carlos e de Maria —, o inquérito foi concluído. O delegado de polícia finalizou
a investigação e deve elaborar o relatório conclusivo.

Considerando a situação hipotética acima apresentada, responda, de forma justificada, aos seguintes questionamentos.

1 Em qual tipificação se enquadra a conduta de Carlos? Podem ser aplicadas causas de aumento ou qualificadoras? Houve concurso
de crimes? [valor: 3,00 pontos]
2 A conduta de Maria deve ser tipificada em que tipo penal? É possível a aplicação do princípio da insignificância a sua
conduta? [valor: 2,30 pontos]
3 De acordo com o § 2.º do art. 155 do Código Penal, “Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um terço a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa”.
Na situação de Maria, é possível a aplicação de um desses privilégios? [valor: 2,30 pontos]
CESPE | CEBRASPE – PJC/MT – Aplicação: 2017

RASCUNHO – QUESTÃO 2
1
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CESPE | CEBRASPE – PJC/MT – Aplicação: 2017

QUESTÃO 3

O art. 1.º da Lei n.º 9.296/1996 disciplina que “A interceptação de comunicações telefônicas, de
qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará
o disposto nesta lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça”.

Com base nas disposições da referida norma legal, no entendimento dos tribunais superiores e na conceituação doutrinária dos diversos
fluxos de comunicação, faça o que se pede a seguir.

1 Conceitue e diferencie interceptação telefônica, escuta telefônica, gravação telefônica e quebra de sigilo de dados telefônicos
e esclareça sobre a sujeição, ou não, de cada uma dessas medidas ao regime da Lei n.º 9.296/1996. [valor: 4,00 pontos]
2 Discorra acerca da legalidade ou não do acesso, sem ordem judicial, a arquivos de ligações realizadas e recebidas e à agenda de
contatos em aparelho telefônico do indiciado apreendido regularmente pela autoridade policial e esclareça sobre a sujeição, ou
não, dessas medidas ao regime da Lei n.º 9.296/1996. [valor: 3,60 pontos]

RASCUNHO – QUESTÃO 3

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CESPE | CEBRASPE – PJC/MT – Aplicação: 2017

QUESTÃO 4

Considerando os dispositivos da Lei n.º 12.403/2011, que promoveu alterações no Código de Processo Penal relativas à prisão processual,
discorra sobre a natureza jurídica da prisão em flagrante diante da nova roupagem processual penal, abordando, necessária e
fundamentadamente, as justificativas doutrinárias que defendem a sua cautelaridade [valor: 4,00 pontos] e as que defendem a sua
pré-cautelaridade [valor: 3,60 pontos].

RASCUNHO – QUESTÃO 4

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CESPE | CEBRASPE – PJC/MT – Aplicação: 2017

QUESTÃO 5

<<0934_Q3>>
No curso de inquérito policial, um investigado apresentou documentos e testemunhas que
comprovavam a participação de parlamentar federal em práticas delituosas no curso do mandato. Diante dos
fatos, o delegado de polícia indiciou o referido congressista, que, inconformado, requereu judicialmente a
anulação de seu indiciamento.

A partir da situação hipotética acima apresentada, responda aos seguintes questionamentos. Fundamente suas respostas no entendimento
do STF acerca da instauração de inquéritos e indiciamentos.

1 O indiciamento é ato privativo de delegado de polícia? O que esse ato deve indicar? [valor: 2,00 pontos]
2 O delegado de polícia pode indiciar, de ofício, parlamentar? [valor: 2,80 pontos]
3 Na hipótese considerada, qual deve ser a providência correta com relação ao ato de indiciamento do parlamentar?
[valor: 2,80 pontos]

RASCUNHO – QUESTÃO 5
1
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3
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DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO DA POLÍCIA
JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO
PROVA ESCRITA DISSERTATIVA – QUESTÃO 1
Aplicação: 8/10/2017

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO

1 É possível a entrada domiciliar, no período noturno, sem mandado judicial, nas hipóteses permitidas pela Constituição
Federal: flagrante delito, desastre, para prestar socorro ou com o consentimento do morador.

Art. 5.º, XI, CF/1988 – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou,
durante o dia, por determinação judicial.

O STF, por meio do Tribunal Pleno, ao julgar o RE 603616/RO, em Repercussão Geral, asseverou que a Constituição
dispensa o mandado judicial para ingresso forçado em residência em caso de flagrante delito, asseverando, ainda, que, no
crime permanente, a situação de flagrância se protrai no tempo, como é o caso do tráfico de drogas.

2 É possível a busca e apreensão no período noturno, sem mandado judicial, quando há situação de flagrante delito, conforme
disposto no art. 5º, inciso XI, da CF. Destarte, em Repercussão Geral, o STF já asseverou, in casu, quanto à necessidade de
controle judicial posterior à execução da medida, ocasião em que os agentes estatais demonstrarão a existência dos
elementos mínimos a caracterizar as fundadas razões (justa causa) da referida medida.

3 Se a ação for considerada ilícita, o agente ou autoridade poderá ser responsabilizado disciplinar, civil e penalmente.
Ademais, ressalta-se, ainda, a possibilidade de nulidade de todos os atos praticados pelo agente e eventual responsabilização
cível do Estado pelos danos causados por seus agentes.

Inviolabilidade de domicílio – art. 5.º, XI, da CF. Busca e apreensão domiciliar sem mandado judicial em
caso de crime permanente. (...) Fixada a interpretação de que a entrada forçada em domicílio sem mandado
judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente
justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados. (RE
603.616, relator ministro Gilmar Mendes, j. 5/11/2015, P, DJe de 10/5/2016, com repercussão geral.)
DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO DA POLÍCIA
JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO
PROVA ESCRITA DISSERTATIVA – QUESTÃO 2
Aplicação: 8/10/2017

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


1 A conduta praticada por Carlos se enquadra no tipo penal descrito no art. 157, § 2.º, inciso I, do Código Penal, isto é,
roubo circunstanciado ou agravado pela incidência da causa de aumento de pena pelo emprego de arma de fogo. Trata-se de
causa de aumento de pena e não qualificadora.
São prescindíveis a apreensão e a perícia da arma de fogo para a configuração da majorante do crime de roubo, desde
que os demais elementos probatórios demonstrem sua utilização na prática do delito. (HC 96.099/RS, rel. ministro Ricardo
Lewandoswski, Plenário, julgado em 19/2/2009; HC 261.090/SP, rel. ministro Og Fernandes, Sexta Turma, STJ, julgado em
13/8/2013; art. 157, § 2.º, I, do Código Penal.)
Não há concurso formal entre o delito de roubo e o crime de lesão corporal leve, pois o agente praticou a violência como
modus operandi do roubo, o que caracteriza crime único, haja vista a intenção do agente ter sido direcionada à subtração do bem.
EMENTA PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. ROUBO. PATRIMÔNIO
ÚNICO. CONCURSO DE CRIMES. NÃO OCORRÊNCIA.
1. No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de um único patrimônio, estará
configurado um único crime, ainda que, no modus operandi, seja utilizada violência ou grave ameaça contra
mais de uma pessoa.
2. Se o agente utiliza grave ameaça ou violência (própria ou imprópria) simultaneamente contra duas ou
mais pessoas, mas subtrai bens pertencentes a apenas uma delas, responde por um só crime de roubo.
(Cleber Masson. Código Penal comentado. 2.ª ed., rev. atual. e ampl., São Paulo: Método, 2014.)
3. Agravo regimental improvido. (AgRg no Recurso Especial n.º 1490894/DF; STJ; rel. ministro Sebastião
Reis Júnior, publicado em 23/2/2015.)
2 A conduta praticada por Maria se enquadra no tipo penal descrito no art. 155, § 4.º, inciso II, isto é, furto qualificado
pelo abuso de confiança, tendo em vista as referências gozadas em seu local de trabalho (“enorme credibilidade por sua
honestidade”).

HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO MEDIANTE O ABUSO DE CONFIANÇA (ART. 155, § 4.º,
INCISO II, DO CÓDIGO PENAL). ALEGAÇÃO DE QUE A EMPREGADA DOMÉSTICA TRABALHAVA A
POUCO TEMPO NA RESIDÊNCIA DA VÍTIMA. CIRCUNSTÂNCIAS DE ENTREGA DAS CHAVES E
OSTENTAÇÃO DE BOAS REFERÊNCIAS POR PARTE DA ACUSADA. PRÉVIA CONFIANÇA
CARACTERIZADA. ORDEM DENEGADA.
1. Estando comprovada a relação de confiança entre a empregada doméstica e a vítima que a contrata - seja
pela entrega das chaves do imóvel ou pelas boas referências de que detinha a Acusada - cabível a incidência da
qualificadora "abuso de confiança" para o crime de furto ora sob exame. Precedente.
2. Ordem denegada. (STJ - HC 192922 / SP.5ª Turma. Rel. Min. Laurita Vaz. DJe 07/03/2012)
Nesse caso, não incide a aplicação do princípio da insignificância.
Ementa: HABEAS CORPUS. PENAL. FURTO. PACIENTE MONITORADA POR SISTEMA
ELETRÔNICO DE VIGILÂNCIA. CRIME IMPOSSÍVEL. NÃO CARACTERIZAÇÃO. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. VALOR DOS BENS SUBTRAÍDOS. AUSÊNCIA DE
INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO. DISTINÇÃO ENTRE FURTO INSIGNIFICANTE E FURTO
PRIVILEGIADO. ORDEM DENEGADA. 1. Na hipótese em que o sistema de vigilância não inviabiliza,
mas apenas dificulta a consumação do crime de furto, não há que falar na incidência do instituto do crime
impossível por ineficácia absoluta do meio (CP, art. 17). Precedentes. 2. Segundo a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, para se caracterizar hipótese de aplicação do denominado “princípio da
insignificância” e, assim, afastar a recriminação penal, é indispensável que a conduta do agente seja
marcada por ofensividade mínima ao bem jurídico tutelado, reduzido grau de reprovabilidade,
inexpressividade da lesão e nenhuma periculosidade social. 3. Nesse sentido, a aferição da insignificância
como requisito negativo da tipicidade envolve um juízo de tipicidade conglobante, muito mais abrangente
que a simples expressão do resultado da conduta. Importa investigar o desvalor da ação criminosa em seu
sentido amplo, de modo a impedir que, a pretexto da insignificância apenas do resultado material, acabe
desvirtuado o objetivo a que visou o legislador quando formulou a tipificação legal. Assim, há de se
considerar que “a insignificância só pode surgir à luz da finalidade geral que dá sentido à ordem normativa”
(Zaffaroni), levando em conta também que o próprio legislador já considerou hipóteses de irrelevância
penal, por ele erigidas, não para excluir a tipicidade, mas para mitigar a pena ou a persecução penal. 4. Num
juízo de tipicidade conglobante, que envolve não apenas o resultado material da conduta, mas o seu
significado social mais amplo, certamente não se pode admitir a aplicação do princípio da insignificância
indiscriminadamente. Nesse contexto, é necessário distinguir o “furto insignificante” daquele referente
à subtração de bem de pequeno valor, de modo a não estimular a prática de condutas criminosas e
obstar a aplicação da figura do “furto privilegiado”, previsto no art. 155,
§ 2.°, do Código Penal. 5. No caso, o valor dos bens subtraídos não pode ser considerado ínfimo de modo
a caracterizar a conduta como minimamente ofensiva. Conforme destacou o Superior Tribunal de Justiça,
“os bens subtraídos foram avaliados em R$ 225,00, aproximadamente 65% do valor do salário mínimo
vigente à época dos fatos (R$ 350,00), não havendo que se falar em irrelevância da conduta”. Precedentes.
6. Ordem denegada. (HC 120083, rel. ministro Teori Zavascki, Segunda Turma, julgado em 3/6/2014,
Processo Eletrônico DJe-151 DIVULG 5/8/2014 PUBLIC 6/8/2014.)
3 Não se trata de hipótese de furto qualificado privilegiado, pois, embora Maria possua primariedade e a coisa furtada
tenha pequeno valor, a incidência da qualificadora do abuso de confiança, de natureza subjetiva, impede a aplicação do
benefício legal, o que afasta a aplicabilidade da Súmula 511/STJ (é possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2.º do
art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente e o pequeno valor da
coisa e se a qualificadora for de ordem objetiva).
DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO DA POLÍCIA
JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO
PROVA ESCRITA DISSERTATIVA – QUESTÃO 3
Aplicação: 8/10/2017

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


A interceptação telefônica é a captação de conversa feita por terceiro, sem o conhecimento dos interlocutores
(interceptação telefônica stricto sensu); a escuta telefônica é a captação de conversa feita por terceiro com o conhecimento de
um dos interlocutores; a gravação telefônica é a captação da conversa telefônica realizada por um dos comunicadores, sem
o conhecimento do outro, inexistindo a figura do terceiro interceptador. A Lei n.º 9.296/1996, conforme entendimento
compartilhado pelo STF e pelo STJ, abrange tanto a interceptação telefônica stricto sensu quanto a escuta telefônica, pois ambas
constituem procedimentos de captação da comunicação alheia, por terceiro interceptador, exigindo determinação judicial. Já a
gravação telefônica, em que a captação da conversa é feita pelo próprio interlocutor, não se submete ao regime da referida lei,
não dependendo de autorização judicial para ser realizada.
A quebra do sigilo de dados telefônicos significa o acesso à relação de ligações telefônicas originadas e recebidas por
determinada linha telefônica, cujo fornecimento fica a cargo da operadora de telefonia celular. Não se confunde com
a interceptação da comunicação telefônica e, portanto, a ela não se aplica o regramento da Lei n.º 9.296/1996. Nesse sentido,
decisão proferida pelo STF:

Não se confundem comunicação telefônica e registros telefônicos, que recebem, inclusive, proteção jurídica
distinta. Não se pode interpretar a cláusula do artigo 5.º, XII, da CF, no sentido de proteção aos dados
enquanto registro, depósito registral. A proteção constitucional é da comunicação de dados e não dos dados.
(Supremo Tribunal Federal, Habeas Corpus n.º 91.867/PA, rel. ministro Gilmar Mendes, Brasília/DF: DJ
24/4/2012.)

Quanto ao acesso ao detalhamento das chamadas recebidas e realizadas por telefone, com a informação de número,
data, horário e duração, registrados na memória do aparelho regularmente apreendido pela autoridade policial, o STF já decidiu
pela legalidade da medida, uma vez que a diligência policial, em casos tais, não caracteriza interceptação de comunicação
telefônica, não sendo necessária, portanto, de autorização judicial.

Suposta ilegalidade decorrente do fato de os policiais, após a prisão em flagrante do corréu, terem realizado
a análise dos últimos registros telefônicos dos dois aparelhos celulares apreendidos. Não ocorrência. Não
se confundem comunicação telefônica e registros telefônicos, que recebem, inclusive, proteção jurídica
distinta. A proteção constitucional é da comunicação de dados e não dos dados. Ao proceder à pesquisa na
agenda eletrônica dos aparelhos devidamente apreendidos, meio material indireto de prova, a autoridade
policial, cumprindo o seu mister, buscou, unicamente, colher elementos de informação hábeis a esclarecer
a autoria e a materialidade do delito. (Supremo Tribunal Federal, Habeas Corpus n.º 91.867/PA, rel.
ministro Gilmar Mendes, Brasília/DF: DJ 24/4/2012.)

Vale destacar, no entanto, que o entendimento corroborado pela atual jurisprudência do STJ se mostrou discordante no
sentido de que, salvo por autorização judicial, decorrente de decisão motivada, as mensagens de WhatsApp, Facebook
Messenger ou qualquer outro aplicativo, bem como os arquivos e os dados contidos num celular não podem ser
averiguados pela polícia e nem utilizados contra um réu no processo penal ou em qualquer outro processo administrativo ou
cível.
DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO DA POLÍCIA
JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO
PROVA ESCRITA DISSERTATIVA – QUESTÃO 4
Aplicação: 8/10/2017

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


Mesmo com a alteração do art. 310 do CPP pela Lei n.º 12.403/2011, parte da doutrina continua a sustentar a prisão em
flagrante como medida cautelar, que se perfaz como ato jurídico com a atuação de dois órgãos estatais distintos (autoridade
policial e juiz). Defendem os doutrinadores que os pressupostos gerais das cautelares (fumus boni iuris e periculum in mora)
estão presentes desde o momento da prisão em flagrante, assim como as características das medidas cautelares, como
a jurisdicionalidade, acessoriedade, preventividade e provisoriedade.
Além disso, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5.º, LXI, prevê que os cidadãos podem ser presos em flagrante
ou por ordem judicial, o que fundamenta a prisão em flagrante como medida autônoma e cautelar, até a sua conversão em prisão
preventiva ou a concessão de liberdade provisória. O próprio CPP, após as alterações legislativas, ainda intitula a prisão em
flagrante como medida cautelar, no art. 283, § 1.º, in verbis:

Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no
curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.
§ 1.º As medidas cautelares previstas neste título não se aplicam à infração a que não for isolada, cumulativa
ou alternativamente cominada pena privativa de liberdade.

Alguns autores, no entanto, atribuem pré-cautelaridade à prisão em flagrante em razão de esta ser realizada por
autoridade administrativa, não tendo o condão de servir de título autônomo da prisão, sendo necessário que ela seja homologada
pela autoridade judiciária e convertida em prisão preventiva, quando presentes os seus pressupostos legais ou a sua substituição
por medidas cautelares diversas (arts. 310, II, parte final, e 319 do CPP). Assim, se a prisão em flagrante deve ser homologada
pelo juiz e convertida em prisão preventiva, fica claro que, uma vez realizada a prisão em flagrante, esta deve ser desconstituída
ou substituída por outra medida (a própria preventiva ou medida cautelar diversa), não mais persistindo a sua natureza cautelar.
É mero ato jurídico de natureza administrativa, porquanto antecede uma medida cautelar principal e porque cessará com a decisão
judicial que a converterá em preventiva, caso se entenda pela sua manutenção, ou pela concessão de liberdade provisória, caso
sua manutenção seja desnecessária.

Autores que defendem a cautelaridade:


Fernando da Costa Tourinho Filho, Guilherme de Souza Nucci, Paulo Rangel, Eugenio Pacelli e Douglas Fisher, entre outros.
Autores que defendem a pré-cautelaridade:
Aury Lopes Júnior, Luiz Flávio Gomes, Fernando Capez, Afrânio Jardim.
DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO DA POLÍCIA
JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO
PROVA ESCRITA DISSERTATIVA – QUESTÃO 5
Aplicação: 8/10/2017

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


1 O indiciamento é ato privativo de delegado de polícia, que se dá por ato fundamentado, nos termos da
Lei n.º 12.830/2013:

Art. 2.º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia
são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
(...)
§ 6.º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise
técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.

2 Delegado de polícia não pode, de ofício, indiciar parlamentar; ele só pode fazê-lo mediante autorização prévia, conforme
decisão do STF, transcrita a seguir.

Inq 2411 QO / MT – MATO GROSSO


QUESTÃO DE ORDEM NO INQUÉRITO
Rel. ministro Gilmar Mendes
Julgamento: 10/10/2007 — Órgão Julgador: Tribunal Pleno

EMENTA: Questão de Ordem em Inquérito. 1. Trata-se de questão de ordem suscitada pela defesa de
senador da República, em sede de inquérito originário promovido pelo Ministério Público Federal (MPF),
para que o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) defina a legitimidade, ou não, da instauração do
inquérito e do indiciamento realizado diretamente pela Polícia Federal (PF). 2. Apuração do envolvimento
do parlamentar quanto à ocorrência das supostas práticas delituosas sob investigação na denominada
“Operação Sanguessuga”. 3. Antes da intimação para prestar depoimento sobre os fatos objeto deste
inquérito, o senador foi previamente indiciado por ato da autoridade policial encarregada do cumprimento
da diligência. 4. Considerações doutrinárias e jurisprudenciais acerca do tema da instauração de inquéritos
em geral e dos inquéritos originários de competência do STF: i) a jurisprudência do STF é pacífica no
sentido de que, nos inquéritos policiais em geral, não cabe a juiz ou a Tribunal investigar, de ofício, o titular
de prerrogativa de foro; ii) qualquer pessoa que, na condição exclusiva de cidadão, apresente notitia
criminis, diretamente a este Tribunal é parte manifestamente ilegítima para a formulação de pedido de
recebimento de denúncia para a apuração de crimes de ação penal pública incondicionada. Precedentes:
INQ no 149/DF, rel. ministro Rafael Mayer, Pleno, DJ 27/10/1983; INQ (AgR)
n.º 1.793/DF, rel. ministra Ellen Gracie, Pleno, maioria, DJ 14/6/2002; PET – AgR – ED n.º 1.104/DF,
rel. ministro Sydney Sanches, Pleno, DJ 23/5/2003; PET n.º 1.954/DF, rel. ministro Maurício Corrêa,
Pleno, maioria, DJ 1.º/8/2003; PET (AgR) n.º 2.805/DF, rel. ministro Nelson Jobim, Pleno, maioria,
DJ 27/2/2004; PET no 3.248/DF, rel. ministra Ellen Gracie, decisão monocrática, DJ 23/11/2004;
INQ n.º 2.285/DF, rel. ministro Gilmar Mendes, decisão monocrática, DJ 13/3/2006 e PET (AgR)
n.º 2.998/MG, Segunda Turma, unânime, DJ 6/11/2006; iii) diferenças entre a regra geral, o inquérito
policial disciplinado no Código de Processo Penal e o inquérito originário de competência do STF regido
pelo art. 102, I, b, da CF e pelo RI/STF. A prerrogativa de foro é uma garantia voltada não exatamente para
os interesses dos titulares de cargos relevantes, mas, sobretudo, para a própria regularidade das instituições.
Se a Constituição estabelece que os agentes políticos respondem, por crime comum, perante o STF (CF,
art. 102, I, B), não há razão constitucional plausível para que as atividades diretamente relacionadas à
supervisão judicial (abertura de procedimento investigatório) sejam retiradas do controle judicial do STF.
A iniciativa do procedimento investigatório deve ser confiada ao MPF contando com a supervisão do
Ministro-Relator do STF. 5. A Polícia Federal não está autorizada a abrir de ofício inquérito policial para
apurar a conduta de parlamentares federais ou do próprio presidente da República (no caso do STF). No
exercício de competência penal originária do STF (CF, art. 102, I, b c/c Lei n.º 8.038/1990, art. 2.º e RI/STF,
arts. 230 a 234), a atividade de supervisão judicial deve ser constitucionalmente desempenhada durante
toda a tramitação das investigações desde a abertura dos procedimentos investigatórios até o eventual
oferecimento, ou não, de denúncia pelo dominus litis. 6. Questão de ordem resolvida no sentido de anular
o ato formal de indiciamento promovido pela autoridade policial em face do parlamentar investigado.

3 O ato de indiciamento deve ser anulado, pois não houve necessária autorização prévia do STF para o procedimento.
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PROVA DISCURSIVA
• Nesta prova, faça o que se pede, usando, caso deseje, os espaços para rascunho indicados no presente caderno. Em seguida, transcreva
os textos para o CADERNO DE TEXTOS DEFINITIVOS DA PROVA DISCURSIVA, nos locais apropriados, pois não serão
avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.
• Qualquer fragmento de texto que ultrapassar a extensão máxima de linhas disponibilizadas será desconsiderado. Também será
desconsiderado o texto que não for escrito na(s) folha(s) de texto definitivo correspondente(s).
• No Caderno de Textos Definitivos, identifique-se apenas no cabeçalho da primeira página, pois não será avaliado texto que tenha
qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado. Caso queira assinar o texto de sua peça profissional, utilize
apenas o nome Delegado de Polícia Federal. A presença de qualquer marca identificadora nos espaços destinados à transcrição dos
textos definitivos acarretará a anulação da sua prova discursiva.
• Em cada questão, ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 4,00 pontos, dos quais até 0,20 ponto será atribuído ao quesito
apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafos) e estrutura textual (organização das ideias em texto
estruturado). Na peça profissional, esses valores corresponderão a 12,00 pontos e 0,60 ponto, respectivamente.
QUESTÃO 1

No âmbito do direito administrativo, a atuação do Estado está submetida ao chamado regime


jurídico-administrativo, que se expressa por meio do binômio prerrogativas-sujeições. As prerrogativas são
concedidas à administração pública no intuito de fornecer os instrumentos e os meios necessários ao regular
exercício de suas atividades, com vistas à concretização do interesse público. As prerrogativas concedidas
à administração pública incluem os poderes administrativos, em especial o poder de polícia.

Considerando que o texto precedente tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo atendendo ao que se pede a seguir.

1 Discorra sobre o conceito de poder de polícia e cite dois exemplos de atos administrativos que expressam esse poder.
[valor: 1,20 ponto]
2 Discorra sobre os ciclos ou fases do poder de polícia. [valor: 1,20 ponto]
3 Apresente as distinções entre polícia administrativa e polícia judiciária explicitando, para cada uma dessas polícias: o objeto de
incidência, as infrações tratadas e os órgãos competentes para seu exercício. [valor: 1,40 ponto]
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QUESTÃO 1 – RASCUNHO
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QUESTÃO 2

Nos autos de procedimento executivo fiscal de cobrança do imposto de renda de pessoa jurídica,
o juiz federal responsável pela vara de execuções fiscais de determinado estado da Federação expediu ordem
de interceptação de comunicação telefônica do representante legal da empresa devedora executada, sob o
fundamento de que havia indícios da prática de sonegação e fraude fiscal. Com a negativa da companhia
telefônica em fornecer os dados e as gravações correspondentes, o cumprimento da ordem foi dirigido à
delegacia da Polícia Federal para que, sob pena de incursão no crime de desobediência, prendesse o
funcionário da companhia telefônica responsável pelo fornecimento das comunicações telefônicas e colhesse
elementos de prova relacionados ao seu conteúdo. Autorizou-se, desde logo, o ingresso da autoridade policial
na residência e no escritório do representante legal da empresa executada e de seus advogados, sem,
contudo, especificar-se o conteúdo da busca e apreensão. Ato contínuo, a ordem judicial foi cumprida em
sua integralidade, de modo que o juízo da execução fiscal teve acesso às gravações telefônicas que
corroboravam a prática do crime de fraude fiscal e sonegação, a partir das quais a Polícia Federal também
colheu provas do crime de remessa ilegal de divisas.

Redija um texto dissertativo, abordando as normas constitucionais e os direitos fundamentais violados na situação hipotética apresentada.
Fundamente seu texto na Constituição Federal de 1988, na jurisprudência do STF e na doutrina.
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QUESTÃO 2 – RASCUNHO
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QUESTÃO 3

Após a instauração do inquérito policial, foi apurada a formalização de um contrato superfaturado


entre a prefeitura de determinado município e uma empresa local. O negócio jurídico, que foi realizado em
regime de urgência e sem licitação, foi viabilizado pelo prefeito do município e por um secretário municipal,
responsável pela área a que se referia o contrato, em conluio com o proprietário da empresa contratada.
Foi apurado, ainda, que a empresa contratada realizou depósitos bancários nas contas dos referidos agentes
políticos, correspondentes a percentual do valor bruto do contrato, cabendo ao prefeito o dobro do valor
depositado para o secretário municipal. Por fim, constatou-se que, com esses valores, os beneficiados
adquiriram veículos e imóveis.

Considerando a situação hipotética precedente, redija um texto dissertativo abordando os seguintes aspectos:

1 a definição de concurso de agentes e os requisitos para a sua caracterização; [valor: 1,00 ponto]
2 os tipos penais configurados na situação hipotética e os elementos objetivos desses tipos; [valor: 1,30 ponto]
3 os sujeitos ativos e passivos dos delitos apurados no inquérito policial e a possibilidade de configuração do crime de associação
criminosa na hipótese narrada. [valor: 1,50 ponto]
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QUESTÃO 3 – RASCUNHO
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PEÇA PROFISSIONAL

Em uma fiscalização da Polícia Rodoviária Federal, Joaquim Melo foi preso ao transpor a fronteira do
Paraguai com o Brasil, mais especificamente na cidade de Foz do Iguaçu – PR, com expressiva quantidade
de cocaína acondicionada em um fundo falso acoplado ao veículo por ele conduzido, registrado em nome de
Valéria Costa. Em razão disso, Joaquim foi apresentado à autoridade policial federal de Foz do Iguaçu, e a
substância apreendida foi encaminhada para exame preliminar, que constatou tratar-se de cocaína pura, em
um total de 5 kg. Joaquim relatou que a droga era de propriedade de Luís Costa e que o veículo pertencia
à prima de Luís, Valéria Costa, cujo endereço foi indicado pelo autuado, o qual informou, ainda, que ela
estaria em sua residência, localizada em Foz do Iguaçu, aguardando o carregamento para, então,
transportá-lo no veículo até o interior de São Paulo, onde Luís prepararia e distribuiria a cocaína.
De imediato, Valéria foi localizada e franqueou a entrada dos policiais federais em sua casa, que descobriram
que havia no local outra quantidade de cocaína, que também seria entregue a Luís. Joaquim e Valéria foram
presos e autuados em flagrante delito, como incursos nas sanções do art. 33, caput, c/c art. 35, caput, e
art. 40, incisos I e V, da Lei n.º 11.343/2006. No interrogatório, Valéria afirmou que Joaquim e ela eram
encarregados do transporte da droga entre o Paraguai e o Brasil e que, quinze dias antes da prisão, já
haviam entregado a Luís um carregamento de cocaína, na mesma quantidade, oriundo do Paraguai. Segundo
Valéria e Joaquim, o entorpecente estava sendo comercializado no estado de São Paulo. No curso do
inquérito policial e no prazo dos autos, a autoridade competente efetuou diversas diligências visando localizar
Luís, porém não obteve êxito. Em razão disso, Luís Costa foi indiciado nas mesmas sanções penais já citadas,
procedendo-se à sua qualificação indireta com base em prontuário de identificação civil, ocasião em que se
verificou tratar-se de indiciado primário, sem anotações criminais anteriores. De acordo com o relato da
equipe de investigação, Luís, após ter tomado conhecimento da prisão dos comparsas e de seu indiciamento
nos autos do inquérito policial, fugiu para local incerto e não sabido, com a pretensão de deixar o país.
Valéria e Joaquim, após as formalidades legais decorrentes da prisão, foram recolhidos ao sistema
penitenciário, onde permanecem à disposição da justiça. Antes, porém, relataram à autoridade policial
verdadeiro temor por terem indicado Luís como coautor do crime. Segundo eles, Luís é uma pessoa perigosa
e vingativa e com fortes contatos na facção criminosa que comanda o tráfico internacional de drogas para
os estados do Paraná e de São Paulo. Em audiência de custódia, as prisões em flagrante de Valéria e de
Joaquim foram convertidas em custódias preventivas. No prazo estabelecido na Lei n.º 11.343/2006, foi
concluído o inquérito policial com farta prova da materialidade e da autoria dos delitos atribuídos aos
indiciados, tendo a autoridade policial concluído e relatado os autos e tendo, em apartado, representado pela
prisão de Luís Costa.

Tendo em vista os fatos relatados na situação hipotética apresentada, na qualidade de delegado da Polícia Federal que tenha presidido as
investigações, formule a representação contra Luís Costa, indicando a modalidade de prisão cautelar que melhor se ajuste às circunstâncias
apresentadas e esclarecendo os fundamentos jurídicos do pedido. Não acrescente fatos novos.
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PEÇA PROFISSIONAL – RASCUNHO – 1/3


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PEÇA PROFISSIONAL – RASCUNHO – 2/3


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||408_DGP_PF_DISC001_01|| CESPE | CEBRASPE – DGP/PF – Aplicação: 2018

PEÇA PROFISSIONAL – RASCUNHO – 3/3


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90
CONCURSO PÚBLICO
DIRETORIA DE GESTÃO DE PESSOAL (DGP)
POLÍCIA FEDERAL (PF)

CARGO 1: DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL

PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 1


Aplicação: 16/9/2018

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


1 Conceito e exemplos do poder de polícia

O poder de polícia foi previsto expressamente pelo art. 78 do Código Tributário Nacional: “considera-se poder de polícia
a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou
abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes da concessão ou autorização do poder público, à
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”. De acordo com Maria Sylvia Di Pietro
(Direito Administrativo, 2017), o poder de polícia é “a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos
individuais em benefício do interesse público”. Em resumo, o poder de polícia é o poder de que dispõe a administração pública
para, na forma da lei, condicionar ou restringir o uso de bens, o exercício de direitos e a prática de atividades privadas, com
vistas a proteger o interesse público (Celso Antônio Bandeira de Mello. Curso de Direito Administrativo, 2016). São exemplos
do poder de polícia: licença para construir, autorização para porte de arma de fogo, imposição de multas administrativas,
apreensão de mercadorias etc.

2 Ciclos ou fases do poder de polícia

De acordo com Diogo de Figueiredo Neto (Curso de Direito Administrativo, 2015) e Marcos Juruena (Direito
administrativo regulatório, 2009), o poder de polícia possui “fases” ou “ciclos”: a) ordem de polícia: corresponde à legislação
que estabelece os limites e os condicionamentos aos exercícios das atividades privadas e ao uso de bens;
b) consentimento de polícia: se revela na anuência prévia da administração, quando exigida, para a prática de determinadas
atividades privadas (licenças ou autorizações); c) fiscalização de polícia: atividade de verificação do adequado cumprimento das
ordens de polícia ou das regras previstas no consentimento de polícia pelo particular; d) sanção de polícia: atuação administrativa
coercitiva, na situação de se constatar o descumprimento de uma ordem de polícia ou dos requisitos e condições previstas no
consentimento de polícia.
A delegabilidade ou não de cada ciclo ou fase não deve fazer parte de pontuação específica no quesito, compondo,
entretanto, o raciocínio jurídico utilizado pelo candidato em sua fundamentação.

3 Distinção entre polícia administrativa e polícia judiciária

No que toca à distinção entre polícia administrativa e polícia judiciária, alguns critérios devem ser explicitados,
conforme a doutrina do direito administrativo (Celso Antônio Bandeira de Mello; Maria Sylvia Di Pietro; Diogo de Figueiredo):
a) quanto ao objeto de incidência: a polícia administrativa incide sobre bens, serviços ou atividades privadas; a polícia judiciária
incide sobre pessoas; b) quanto às infrações: a polícia administrativa trata de infrações administrativas; a polícia judiciária, de
infrações criminais; c) quanto aos órgãos competentes: a polícia administrativa é exercida por órgãos administrativos de caráter
fiscalizador, integrantes dos mais diversos setores da administração; a polícia judiciária é realizada por corporações específicas
(polícia civil e Polícia Federal).
Obs.: considerar, também, como critério válido, a abordagem que distingue a polícia administrativa da polícia judiciária, a
natureza predominantemente preventiva da polícia administrativa e repressiva em relação à polícia judiciária, ou a natureza
(ostensiva e preventiva) da polícia administrativa, e a natureza investigativa da polícia judiciária, desde que bem diferenciado e
fundamentado na doutrina.
Quesito 2.1
0 – Não apresentou informações relacionadas ao tópico.
1 – Explicou apenas o conceito previsto no art. 78 do CTN ou conceito doutrinário.
2 – Explicou o conceito previsto no art. 78 do CTN ou conceito doutrinário + forneceu um exemplo.
3 – Explicou o conceito previsto no art. 78 do CTN ou conceito doutrinário + forneceu dois exemplos.

Quesito 2.2
0 – Não apresentou informações relacionadas ao tópico.
1 – Explicou apenas um dos ciclos.
2 – Explicou apenas dois dos ciclos.
3 – Explicou apenas três dos ciclos.
4 – Abordou e explicou todos os quatro ciclos.

Quesito 2.3
0 – Não apresentou informações relacionadas ao tópico.
1 – Explicou apenas um aspecto de distinção (quanto ao objeto de incidência).
2 – Explicou apenas dois aspectos de distinção (quanto ao objeto de incidência + quanto às infrações).
3 – Abordou e explicou todos os aspectos de distinção.
CONCURSO PÚBLICO
DIRETORIA DE GESTÃO DE PESSOAL (DGP)
POLÍCIA FEDERAL (PF)

CARGO 1: DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL

PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 2


Aplicação: 16/9/2018

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


O candidato deve discorrer sobre pelo menos três violações a direitos fundamentais previstos nas normas
constitucionais: inviolabilidade do sigilo das comunicações, licitude da prova produzida no âmbito da investigação criminal e
inviolabilidade dos domicílios pessoal e profissional do representante legal da empresa executada e de seus advogados.

1 Inviolabilidade do sigilo das comunicações e o princípio do juiz natural

A ordem judicial tratada na hipótese descrita é inconstitucional por violar o direito fundamental à privacidade e à
intimidade asseguradas pela proteção ao sigilo das comunicações telefônicas disposto no inciso XII do art. 5.º da Constituição
Federal de 1988 (CF) — “XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal”. Nesse sentido tem decidido o STF: “A ausência de autuação da
interceptação telefônica, em descompasso com o art. 8.º, cabeça, da Lei n.º 9.296/1996, caracteriza irregularidade incapaz de
torná-la ilícita” (HC 128.102, rel. min. Marco Aurélio, julgamento em 9/12/2015, Primeira Turma, DJE de 23/6/2016).
No caso, a ordem partiu de juiz flagrantemente incompetente em procedimento de execução fiscal, e não em sede de
investigação criminal ou processo penal, como autoriza excepcionalmente a CF. Desse modo, verifica-se que a violação ao sigilo
telefônico no caso foi acompanhada da ofensa ao princípio do juiz natural (STF. RHC 80197/GO, rel. min Néri da Silveira,
Segunda Turma, DJ 29/9/2000; Inq 3732/DF, rel. min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe 22/3/2016), configurando ordem
manifestamente ilegal cujo cumprimento poderia ser recusado pela autoridade em respeito à CF e à lei que regulamenta a
interceptação das comunicações telefônicas. Inviável a prisão do funcionário da companhia telefônica que legitimamente
recusou-se a fornecer as gravações.

2 Ilicitude da prova, irradiação dos efeitos da ilicitude e invalidade dos atos posteriores

O comando judicial, além de incorrer em clara ilegalidade e violar o sigilo das comunicações telefônicas, autorizou,
sem competência jurisdicional para tanto, a coleta de informações e provas derivadas das gravações telefônicas obtidas, o que
configura a contaminação de todas as demais provas eventualmente colhidas. Nesse sentido é a jurisprudência do STF e a doutrina
de Gilmar Mendes e Paulo Branco: “Com relação às gravações de conversas telefônicas, a jurisprudência do STF assentou-se no
sentido de que a prova obtida por interceptação não autorizada pelo Judiciário, nos termos da
Lei n.º 9.269/1996, é imprestável e que as evidências que dela decorram padecem da mesma falta de serventia processual.
Acolheu-se a doutrina do fruits of the poisonous tree. Antes da lei de 1995, nenhuma escuta era admissível” (Gilmar Mendes e
Paulo Branco. Curso de Direito Constitucional. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 294). Assim, o próprio juiz ou o tribunal
a que ele está vinculado deve declarar a nulidade da prova ilícita colhida via interceptação e invalidar os atos subsequentes que
decorram da violação ao direito fundamental ao sigilo telefônico.

3 Inconstitucionalidade da busca e apreensão genérica e inviolabilidade do domicílio profissional dos advogados

Por fim, há de se registrar que a ordem judicial incorreu em ofensa à garantia constitucional de inviolabilidade tanto da
pessoa jurídica executada quanto de seu representante legal e dos advogados que a patrocinam no juízo federal das execuções
fiscais. Sabe-se que, apesar de a inviolabilidade de domicílio não ser um direito absoluto, especialmente quando presente o
mandado judicial, a ordem que autoriza a sua expedição não pode ser genérica, devendo especificar o que constitui a busca —
não pode converter-se em devassa (STF. HC 95.009, rel. min. Eros Grau, j. 6/11/2008, P, DJe de 19/12/2008), à luz do art. 243
do CPP, sem excluir outros dispositivos do Estatuto da OAB, ao tratar-se de advogado. Além disso, ainda que fosse válida a
interceptação telefônica aqui tratada, não seria admissível o seu uso para finalidades distintas da hipótese de cometimento dos
crimes a que fez referência o juiz que a autorizou para incluir outros objetos ou investigados, como é o caso dos advogados (STF.
Inq 3.014 AgR, rel. min. Marco Aurélio, j. 13/12/2012, P, DJe de 23/9/2013), cujos endereços profissionais estão igualmente
protegidos pela cláusula da inviolabilidade de domicílio, conforme reiteradamente tem decidido o STF, que autoriza a exceção
da busca e apreensão apenas e tão-somente quando há fundada suspeita que os próprios advogados praticam o crime sob o
pretexto do exercício da profissão (STF. Inq 2.424/RJ, rel. min. Cezar Peluso, DJe 25/3/2010).

Obs. 1 - Considerando que a situação hipotética descreve que não houve qualquer “especificação do conteúdo da busca e
apreensão”, não se aplica o julgamento do STF que conferiu margem de discricionariedade da autoridade policial, em face da
impossibilidade de indicação, ex ante, de todos os bens passíveis de apreensão no local da busca (Pet 5173 AgR, Rel. Min. DIAS
TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 30/09/2014).

Obs. 2 – Considerações sobre a conduta da autoridade policial frente à ordem judicial ou eventuais teses jurídicas, como a
responsabilidade civil do Estado pela ordem manifestamente ilegal, serão levadas em conta somente para fins de demonstração
de domínio de conhecimento.

Quesito 2.1
0 – Não apresenta ocorrência da ofensa à inviolabilidade do sigilo das comunicações nem o princípio do juiz natural.
1 – Apresenta ambos, mas não justifica suficientemente com base na legislação e jurisprudência nenhum deles.
2 – Apresenta e justifica apenas um dos aspectos da cobrança inviolabilidade do sigilo das comunicações ou princípio do juiz
natural.
3 – Apresenta ambos os aspectos, mas justifica suficientemente apenas um deles.
4 – Apresenta e justifica, com base na legislação e jurisprudência, a ocorrência da ofensa à inviolabilidade do sigilo das
comunicações e o princípio do juiz natural.

Quesito 2.2
0 – Não apresenta a ocorrência da ilicitude da prova com a irradiação dos efeitos da ilicitude e invalidade dos atos posteriores.
1 – Apresenta ambos, mas não justifica suficientemente com base na doutrina e jurisprudência nenhum deles.
2 – Apresenta e justifica apenas um dos aspectos da cobrança ilicitude da prova com a irradiação dos efeitos da ilicitude ou
invalidade dos atos posteriores.
3 – Apresenta ambos os aspectos, mas justifica suficientemente apenas um deles.
4 – Apresenta e justifica, com base na doutrina e jurisprudência, a ocorrência da ilicitude da prova com a irradiação dos efeitos
da ilicitude e invalidade dos atos posteriores.

Quesito 2.3
0 – Não apresenta a ocorrência da inconstitucionalidade da busca e apreensão genérica e inviolabilidade do domicílio profissional
dos advogados.
1 – Apresenta apenas um dos aspectos, mas não o justifica suficientemente
2 – Apresenta e justifica apenas um dos aspectos da cobrança inconstitucionalidade da busca e apreensão genérica ou
inviolabilidade do domicílio profissional dos advogados
3 – Apresenta ambos os aspectos, mas justifica suficientemente apenas um deles
4 – Apresenta e justifica, com base na jurisprudência, a ocorrência da inconstitucionalidade da busca e apreensão genérica e
inviolabilidade do domicílio profissional dos advogados.
CONCURSO PÚBLICO
DIRETORIA DE GESTÃO DE PESSOAL (DGP)
POLÍCIA FEDERAL (PF)

CARGO 1: DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL

PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 3


Aplicação: 16/9/2018

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


1 O candidato deve afirmar que se entende por concurso de agentes a reunião de duas ou mais pessoas, de forma
consciente e voluntária, concorrendo ou colaborando para o cometimento de certa infração penal. Deve indicar que são quatro
os elementos básicos do conceito de concurso de pessoas: I – pluralidade de agentes e de condutas; II – relevância causal de
cada conduta; III – liame subjetivo ou normativo entre as pessoas; e IV – identidade de infração penal.

2 O candidato deve afirmar que houve a prática de diversos crimes contra o patrimônio público: corrupção ativa, corrupção
passiva e crime de licitações e contratos da administração pública.
 Elementos do tipo de corrupção ativa (art. 333 do Código Penal): a) oferecer (colocar à disposição, de exibir) e
prometer (obrigar-se a dar algo, ou de esforçar-se a dar ou fazer um favor a alguém).
 Elementos do crime de corrupção passiva (art. 317 do Código Penal): a) solicitar (pedir, direta ou indiretamente,
para si ou para outrem); b) receber (obter, direta ou indiretamente, para si ou para outrem);
c) aceitar (anuir). O objeto é a vantagem, de cunho patrimonial ou não, desde que ilícita ou indevida (elemento
normativo do tipo) e solicitada, recebida ou aceita em razão da função pública do agente (Bitencourt, 2004,
p. 415).
 Elementos do crime de licitações e contratos da administração pública (art. 89 da Lei n.º 8.666/1993:
a) dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei; b) deixar de observar as formalidades
pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade.

Obs.: não se aplica o crime de responsabilidade previsto no art. 1º, incisos I e II, do Decreto Lei 201/67. O entendimento do STF
é de que tanto a lei de improbidade quanto a lei de crimes de responsabilidade têm natureza político-administrativa
(Reclamação nº 2.138/STF). Deste modo, não se aplica à questão, considerando-se que não se trata de um tipo penal, conforme
solicitado no enunciado do quesito.

3 O candidato deve afirmar que o crime de corrupção ativa (art. 333 do Código Penal) tem como sujeito ativo qualquer
pessoa e, como sujeito passivo, o funcionário público. Quanto ao crime de corrupção passiva (art. 317 do Código Penal), o
candidato deve afirmar que tem como sujeito ativo o funcionário público, e como sujeito passivo, o Estado. Por fim, quanto ao
crime de licitações e contratos da administração pública (art. 89 da Lei n.º 8.666/1993), o candidato deve afirmar que tem como
sujeito ativo o servidor público ou aquele que participou da infração e, como sujeito passivo, além do Estado (administração
pública), os eventuais licitantes vencidos no certame.

Sobre a possibilidade de configuração ou não do crime de associação criminosa, o candidato deve afirmar que, o art. 288
do CP (alterado pela Lei 12.850/2013, art. 24) trata do tipo penal da “Associação Criminosa”, em que o mínimo para a sua
configuração é de 3 pessoas ou mais e é aplicado às infrações penais cujas penas máximas sejam inferiores a 4 (quatro) anos,
conforme art. 1º, § 1º, da Lei n.º 12.850/2013.
Diferentemente, a organização criminosa, nos termos da lei (art. 1º, § 1º, da Lei n.º 12.850/2013), para a configuração do tipo
penal, é necessária a associação de quatro ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda
que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de
infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a quatro anos, ou que sejam de caráter transnacional. Assim, a
organização criminosa, no Brasil, somente pode validar-se como tal com um número mínimo de quatro integrantes, estrutura
ordenada, divisão de tarefas, obtenção de vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas
máximas sejam superiores a quatro anos ou mediante a prática de infrações penais de caráter transnacional.
Portanto, a situação apresentada não configura o crime de associação criminosa, tendo em vista que todos os crimes configurados
possuem pena máxima superiores a 4 anos.

Quesito 2.1
0 – Não se posicionou sobre o tema.
1 – Se posicionou de forma muito superficial e imprecisa sobre os temas indicados.
2- Se posicionou parcialmente sobre a definição de concurso de agentes e os elementos básicos de configuração do concurso de
agentes.
3 – Se posicionou adequadamente sobre a definição de concurso de agentes e não se manifestou sobre os elementos básicos de
configuração do concurso de agentes, ou vice-versa.
4 – Se posicionou de forma clara e precisa sobre a definição de concurso de agentes e também sobre os quatro elementos básicos
de configuração do concurso de agentes.

Quesito 2.2
0 – Não se posicionou sobre o tema.
1 – Só se posicionou sobre um tipo penal e impreciso sobre os demais temas indicados.
2 – Só se posicionou sobre dois tipos penais e impreciso sobre os demais temas.
3 – Se posicionou adequadamente sobre os três tipos penais apresentados, mas não se posicionou sobre os elementos do tipo
penal. ou vice-versa.
4 – Se posicionou adequadamente sobre os três tipos penais apresentados, e parcialmente se posicionou sobre os elementos do
tipo penal.
5- Se posicionou de forma clara e precisa sobre os tipos penais apresentados, e também sobre os elementos do tipo penal.

Quesito 2.3
0 – Não se posicionou sobre o tema.
1 – Se posicionou adequadamente sobre os sujeitos ativos e passivos de apenas um dos crimes, mas não se pronunciou sobre a
eventual existência de associação criminosa, ou só se posicionou sobre a associação criminosa e sem identificação dos sujeitos
do crime.
2- Se posicionou adequadamente sobre os sujeitos ativos e passivos de apenas 02 dos crimes, mas não se pronunciou sobre a
eventual existência de associação criminosa, ou só se posicionou sobre a associação criminosa e identificação dos sujeitos de um
crime.
3- Se posicionou adequadamente sobre os sujeitos ativos e passivos de apenas 03 dos crimes, mas não se pronunciou sobre a
eventual existência de associação criminosa, ou só se posicionou sobre a associação criminosa e identificação dos sujeitos de 02
crimes.
4 – Se posicionou de forma clara e precisa sobre os sujeitos dos tipos penais descritos, e sobre a não configuração do crime de
organização criminosa.
CONCURSO PÚBLICO
DIRETORIA DE GESTÃO DE PESSOAL (DGP)
POLÍCIA FEDERAL (PF)

CARGO 1: DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL

PROVA DISCURSIVA – PEÇA PROFISSIONAL


Aplicação: 16/9/2018

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA XX VARA FEDERAL DA SEÇÃO
JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ / SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE FOZ DO IGUAÇU

O Departamento de Polícia Federal, por intermédio do delegado de Polícia Federal que ao final subscreve, no
exercício dos poderes conferidos pelo art. 144, § 1.º, inc. II, da Constituição Federal de 1988, e com fulcro nos arts. 311, 312
e 313, inciso I, todos do Código de Processo Penal, vem perante V. Exa. representar pela decretação de

Obs.: o órgão Departamento de Polícia Federal está previsto na Lei de Organização da Presidência da República, contudo,
não será apenado o candidato que tratar como “Polícia Federal”.

PRISÃO PREVENTIVA

Obs.: em que pese se tratar a situação hipotética de crime considerado como hediondo, descabida a tese de prisão temporária
diante dos fatos relatados e dos dados oferecidos pela questão, sem indicar nenhum dos requisitos do art. 1º, I e II, da Lei nº
7.960/89.

Em desfavor de LUÍS DA COSTA, devidamente qualificado, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

I DOS FATOS

Em uma fiscalização da Polícia Rodoviária Federal, JOAQUIM MELO foi preso ao transpor a fronteira do Paraguai
com o Brasil, mais especificamente na cidade de Foz do Iguaçu – PR, portando expressiva quantidade de cocaína acondicionada
em um fundo falso acoplado ao veículo que conduzia, registrado em nome de VALÉRIA DA COSTA.
JOAQUIM MELO foi apresentado à autoridade policial signatária, tendo sido providenciado o exame preliminar da
substância apreendida, cujo laudo pericial apontou tratar-se de cocaína pura, perfazendo um total de 5 kg.
Verificou-se, na ocasião, que o veículo no qual era transportado o entorpecente pertencia a VALÉRIA DA COSTA e
que a droga era de propriedade de LUÍS DA COSTA. JOAQUIM relatou que o veículo era de propriedade de VALÉRIA,
prima de LUÍS DA COSTA, a qual, no momento da prisão, aguardava o carregamento da droga em sua residência, em Foz do
Iguaçu, para, então, se encarregar de transportá-la no mesmo veículo até o interior de São Paulo, onde LUÍS DA COSTA
procederia ao preparo e à distribuição da cocaína. Em seu relato, JOAQUIM indicou o endereço onde se localizava VALÉRIA.
Uma equipe de policiais federais dirigiu-se ao endereço de VALÉRIA DA COSTA, que franqueou a entrada dos
policiais federais em sua casa, local em que foi apreendida igual quantidade de cocaína, que também seria entregue a LUÍS
DA COSTA.
No interrogatório, VALÉRIA DA COSTA confirmou a autoria do crime e acrescentou que, juntamente com JOAQUIM
MELO, era encarregada do transporte da droga entre o Paraguai e o Brasil. Afirmou que, quinze dias antes da prisão, utilizando
o mesmo modus operandi, haviam entregado a LUÍS DA COSTA um carregamento de cocaína, na mesma quantidade
apreendida, que estaria sendo comercializado no estado de São Paulo. Tais fatos foram também confirmados por JOAQUIM
MELO.
JOAQUIM MELO e VALÉRIA DA COSTA foram presos e autuados em flagrante delito, como incursos nas sanções
do art. 33, caput, c/c art. 35, caput, e art. 40, incisos I e V, da Lei n.º 11.343/2006 e, após as formalidades legais pertinentes à
prisão, foram encaminhados ao sistema prisional, onde permanecem à disposição da justiça.
Ao seu turno, LUÍS DA COSTA foi indiciado nas mesmas sanções penais e qualificado indiretamente com base em seu
prontuário de identificação civil, haja vista não ter sido localizado, apesar das diligências então encetadas nesse sentido.
Segundo a equipe de investigação, LUÍS DA COSTA, após ter tomado conhecimento da prisão dos comparsas e de seu
indiciamento nos autos do inquérito policial, fugiu para local incerto e não sabido, com pretensão de deixar o país.
Registre-se, por oportuno, que os indiciados relataram a esta autoridade policial verdadeiro temor por terem apontado
LUÍS DA COSTA como coautor do crime, sob o argumento de que se trata de pessoa perigosa e vingativa e com fortes contatos
na facção criminosa que comanda o tráfico de drogas nos estados do Paraná e de São Paulo.
Essa é a síntese dos fatos.

II DA PRISÃO PREVENTIVA

A materialidade do delito se encontra estampada no laudo pericial da substância apreendida, o qual atestou tratar-se de
cocaína pura, perfazendo um total de 5 kg.
No pertinente à autoria, o exame dos autos revela que VALÉRIA DA COSTA e JOAQUIM MELO, em associação
criminosa com LUÍS DA COSTA, atuam no tráfico de drogas, de forma reiterada, sendo certo que a natureza e a
quantidade do produto apreendido, bem como a sua procedência evidenciam a transnacionalidade do delito.
LUÍS DA COSTA foi indiciado como incurso no art. 33, caput, c/c art. 35, caput, e art. 40, incisos I e V, da
Lei n.º 11.343/2006, que configuram crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a quatro
anos, sendo, portanto, aplicável o requisito de direito, disposto no inciso I do art. 313 do CPP, in verbis:

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva:
I – nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos.

De igual sorte, as suficientes provas da existência dos crimes e os seguros indícios de sua autoria (fumus comissi delicti)
reúnem as hipóteses de risco à persecução penal, devidamente elencadas no art. 312 do CPP, que preceitua a necessidade da
prisão preventiva para a garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal, e para a asseguração da
aplicação da lei penal (periculum libertatis).
Os fatos narrados nos autos apontam de maneira concreta a necessidade de garantia da ordem pública,
considerando-se a real possibilidade de LUÍS DA COSTA, ainda de posse da significativa quantidade de cocaína entregue a
ele poucos dias antes da prisão de JOAQUIM e VALÉRIA, continuar com a atividade criminosa, cabendo ao Poder Judiciário,
dada a gravidade da situação, resguardar o meio social de maiores danos. Não resta dúvida de que a ordem pública ficará
protegida com a prisão de LUÍS, que é peça-chave na engrenagem da associação criminosa.
Premente, ainda, é a efetiva necessidade de assegurar a aplicação da lei penal, dada a possibilidade concreta de fuga do
requerido, que se encontra ainda em local incerto e não sabido, existindo fundado receio de que este empreenda fuga para outro
país.
Por fim, LUÍS DA COSTA foi descrito como pessoa perigosa, com fortes contatos na facção criminosa que comanda o
tráfico de drogas nos estados do Paraná e de São Paulo, sendo certo que, em liberdade, poderá impor sérios riscos à instrução
criminal. Assinale-se, de igual sorte, que a sua primariedade não afasta a presunção de periculosidade, tampouco possui o
condão de impedir eventual decreto de prisão cautelar.
À vista do exposto e concluídos os autos do inquérito policial que ora seguem, a autoridade policial que esta subscreve,
respeitosamente, REPRESENTA pela decretação da prisão preventiva de LUÍS DA COSTA, com base nos
arts. 312 e 313, I, do Código de Processo Penal, expedindo-se, por consequência, a efetiva ordem de prisão, após a oitiva do
representante do Ministério Público.

Local (Foz do Iguaçu) e data.

DELEGADO DE POLÍCIA

Quesito 2.1
0 – Não faz a representação pela prisão preventiva.
1 – Apresenta representação pela prisão preventiva, mas não inclui nenhum dos elementos que compõem a peça processual
(endereçamento, narrativa dos fatos, fundamentação jurídica e pedido).
2 – Apresenta representação pela prisão preventiva, mas inclui apenas um ou dois dos elementos que compõem a peça processual
(endereçamento, narrativa dos fatos, fundamentação jurídica e(ou) pedido).
3 – Apresenta representação pela prisão preventiva e inclui todos os elementos que compõem a peça processual (endereçamento,
narrativa dos fatos, fundamentação jurídica e pedido).

Quesito 2.2
0 – Não apresenta os fundamentos e requisitos do art. 312 do CPP (fumus comissi delicti e periculum libertatis).
1 – Apresenta um ou dois dos requisitos da prisão preventiva, aplicáveis à situação hipotética, porém, sem fundamentação jurídica
consistente, nos termos do art. 312 do CPP.
2 – Apresenta pelo menos três requisitos da prisão preventiva elencados no art. 312 do CPP, aplicáveis à situação hipotética,
com fundamentação jurídica consistente.
3 – Apresenta todos os requisitos do art. 312 do CPP: provas suficientes da existência dos crimes e seguros indícios de autoria
(podendo fazer menção à expressão fumus comissi delicti); prisão preventiva para a garantia da ordem pública, conveniência da
instrução criminal, e asseguração da aplicação da lei penal (podendo fazer menção à expressão periculum libertatis).
Quesito 2.3
0 – Não apresenta os fundamentos e requisitos do art. 313, I, do CPP (crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
máxima superior a quatro anos).
1 – Apresenta apenas um dos requisitos do art. 313, I, do CPP, com fundamentação jurídica limitada.
2 – Apresenta os requisitos do art. 313, I, do CPP (crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a
quatro anos), de forma satisfatória e juridicamente consistente.
CESPE | CEBRASPE ─ PCSE ─ Aplicação: 2018

PROVA DISCURSIVA
• Nesta prova, faça o que se pede, usando, caso deseje, os espaços para rascunho indicados no presente caderno. Em seguida,
transcreva os textos para o CADERNO DE TEXTOS DEFINITIVOS DA PROVA DISCURSIVA, nos locais apropriados, pois
não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.
• Qualquer fragmento de texto que ultrapassar a extensão máxima de linhas disponibilizadas será desconsiderado. Também será
desconsiderado o texto que não for escrito nas folhas de texto definitivo correspondentes.
• No Caderno de Textos Definitivos, identifique-se apenas no cabeçalho da primeira página, pois não será avaliado texto que tenha
qualquer assinatura, rubrica ou marca identificadora fora do local apropriado. A presença de qualquer marca identificadora nos
espaços destinados à transcrição dos textos definitivos acarretará a anulação da sua prova discursiva.
• Na questão 1, ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 10,00 pontos, dos quais até 0,50 ponto será atribuído ao
quesito apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafos) e estrutura textual (organização das ideias em
texto estruturado).
• Tanto na questão 2 quanto na questão 3 (textos dissertativos), ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 15,00 pontos, dos
quais até 0,75 ponto será atribuído ao quesito apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafos) e
estrutura textual (organização das ideias em texto estruturado).

QUESTÃO 1

Pirâmides etárias do estado de Sergipe, em 2010:


I – população residente urbana, por sexo e grupo de idade;
II – população residente rural, por sexo e grupo de idade.

IBGE (Censo 2010).

Segundo o Censo Demográfico feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no
ano de 2010, o estado de Sergipe apresentou uma taxa de alfabetização de 80,93% na faixa etária de
cinco anos ou mais, porém, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(PNAD) — também feita pelo IBGE —, em 2017 a taxa de analfabetismo das pessoas com mais de quinze
anos de idade foi estimada em 14,5%, sendo a zona rural, com um terço da população do estado,
detentora de quase o dobro da taxa de analfabetismo da zona urbana. O índice é considerado elevado, já
que a taxa de analfabetismo do Brasil marcou 7% no mesmo período.

Considerando os dados precedentes, redija um texto estabelecendo uma análise sobre a principal ligação entre as taxas citadas no
texto e os gráficos apresentados. [valor: 2,50 pontos]

Em seu texto, atenda ao que se pede a seguir.

1 Explique, de forma sucinta, o que são a base, o corpo e o topo das pirâmides etárias apresentadas e discorra sobre suas
consequências diretas no contexto demográfico em apreço. [valor: 3,50 pontos]
2 Comente, com base nos gráficos, a possibilidade relacional entre a educação escolar do estado de Sergipe e sua população
economicamente ativa (PEA). [valor: 3,50 pontos]
CESPE | CEBRASPE ─ PCSE ─ Aplicação: 2018

RASCUNHO – QUESTÃO 1
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
CESPE | CEBRASPE ─ PCSE ─ Aplicação: 2018

QUESTÃO 2

No mesmo contexto fático, Alfredo estuprou, matou e ocultou o cadáver de Lúcia, que era filha
de Cláudio, delegado na cidade onde os fatos ocorreram. Como responsável por apurar os fatos
criminosos, Cláudio presidiu toda a fase inquisitorial e relatou o inquérito policial.
Após a fase de apuração policial, o Ministério Público local ofereceu denúncia contra Alfredo, a qual
foi recebida, e requereu à autoridade policial que fosse indiciado um partícipe que não constava
no inquérito.
Oportunamente, a defesa de Alfredo pugnou pela nulidade do inquérito policial, alegando que
toda a persecutio criminis in judicio estava contaminada em razão da suspeição da autoridade que
o conduziu — Cláudio, delegado e pai de Lúcia.

Acerca da situação hipotética apresentada e do instituto do inquérito policial, redija um texto dissertativo que aborde, de forma
fundamentada, os seguintes aspectos.

1 Regularidade, ou irregularidade, do pedido de indiciamento de partícipe feito pelo Ministério Público local e do procedimento
adotado pelo delegado relativamente a esse pedido. [valor: 4,25 pontos]
2 Validade, ou nulidade, da peça inquisitorial, conforme o posicionamento do STF, caso procedente a arguição de suspeição da
autoridade policial. [valor: 4,00 pontos]
3 Características e tipo de ação penal a que se destina cada uma das seguintes modalidades de instauração de inquérito: noticia
criminis de cognição inqualificada; noticia criminis de cognição mediata; e noticia criminis de cognição coercitiva.
[valor: 6,00 pontos]
CESPE | CEBRASPE ─ PCSE ─ Aplicação: 2018

RASCUNHO – QUESTÃO 2
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CESPE | CEBRASPE ─ PCSE ─ Aplicação: 2018

QUESTÃO 3

João, penalmente imputável, prevalecendo-se de sua relação com Maria, com quem mantinha
vínculo afetivo por aproximadamente doze anos, praticou contra ela vias de fato — contravenção penal
que sujeita o infrator a pena de prisão simples de quinze dias a três meses ou multa —, tendo-lhe
puxado os cabelos e lhe dado violentos empurrões. Logo após tais agressões, João foi conduzido à
delegacia de polícia e apresentado à autoridade policial competente, para as providências legais cabíveis.

A partir dessa situação hipotética e dos dispositivos das Leis n.º 9.099/1995 — Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais —
e n.º 11.340/2006 — Lei Maria da Penha —, redija um texto dissertativo que responda, justificadamente e de acordo com os
entendimentos doutrinários e jurisprudenciais majoritários, as seguintes indagações.

1 No procedimento judicial acerca da contravenção penal de vias de fato sujeita ao rito da Lei Maria da Penha, poderão ser
aplicados os institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo, previstos na lei que rege os juizados
especiais cíveis e criminais? Em sua resposta, discorra, à luz do entendimento do STJ e do STF, sobre a abrangência semântica
do termo “crimes” no âmbito da Lei n.º 9.099/1995. [valor: 7,25 pontos]
2 Considerando-se a sanção prevista caso João seja condenado pela contravenção penal de vias de fato, será viável a substituição
da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos ou pela aplicação isolada de multa? [valor: 7,00 pontos]
CESPE | CEBRASPE ─ PCSE ─ Aplicação: 2018

RASCUNHO – QUESTÃO 3
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CONCURSO PÚBLICO
SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SERGIPE (PC/SE)

CARGO 1: DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO


NÍVEL SUPERIOR

QUESTÃO 1 – PROVA DISCURSIVA


Aplicação: 25/11/2018

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


O estudo das pirâmides etárias mostra como a população está distribuída por faixas de sexo e idade. A leitura da pirâmide
— que mostra a seguinte divisão etária: base de jovens, corpo de adultos e topo de idosos — permite uma análise do
comportamento demográfico de determinada localidade, nesse caso, o estado de Sergipe. A principal ligação entre as taxas de
alfabetização e analfabetismo e as duas pirâmides mostradas está no maior quantitativo de população estadual urbana, quando
se comparam as pirâmides I e II. Ou seja, o fato de a população de Sergipe se concentrar em cidades, como mostra o gráfico I,
explica o fato de a taxa de alfabetização do estado ter um percentual aproximado de 81%, devido à infraestrutura se concentrar
em centros urbanos, com destaque para a capital do estado. A base da pirâmide urbana (I) responde pelo estreitamento de menor
natalidade e fecundidade em relação à pirâmide rural (II), mas também é responsável pela referida taxa de alfabetização. A
possibilidade relacional entre a educação escolar e a PEA, que faz parte do corpo da pirâmide etária, responde pelo reflexo da
taxa de alfabetização mostrada na base da pirâmide etária, pois, quanto maior é a taxa de alfabetização dos jovens, maior também
é a tendência de mão de obra mais qualificada do corpo piramidal no mercado de trabalho (a educação formal posta na
escolaridade se inicia com a alfabetização). O topo da pirâmide urbana, na faixa etária de 65 anos de idade ou mais, se mostra
mais largo, com maior quantitativo de idosos que o da pirâmide rural, devido ao fato de a maior expectativa de vida se concentrar
na cidade, reflexo da maior infraestrutura social, se comparada ao elevado índice de analfabetismo e à consequente falta de
qualificação da mão de obra que se concentra na zona rural.

Obs.: também deve ser pontuado o candidato que identificar a zona rural como indicador de analfabetismo, desde que justifique
a resposta trazendo as características do ambiente rural que possam vir a interferir no crescimento do analfabetismo. É importante
que o candidato demonstre conhecimento acerca da leitura dos gráficos, em especial da relação urbanização/alfabetização,
educação escolar/PEA, independentemente da linguagem utilizada em sua fundamentação. A caracterização do cenário
demográfico e a justificativa atribuída pelo candidato no que diz respeito às relações observadas nos gráficos e exigidas como
resposta serão responsáveis por uma menor ou maior graduação da nota.

2.1
0 – Não tratou do tema proposto no quesito.
1 – Limitou-se a tangenciar o tema do quesito ou apenas reescreveu ou reproduziu o quesito ou parte dele.
2 – Apenas citou o fato de a urbanização ou a maior parte da população do estado se concentrar nas cidades/ ou fez referência a
uma pequena parcela da população encontrar-se na zona rural.
3 – Citou a urbanização e explicou que a maior parte da população urbana possui influência na taxa de alfabetização do estado.

2.2
0 – Não tratou do assunto proposto no quesito.
1 – Referiu-se ao tema do quesito, mas não se referiu aos principais segmentos das pirâmides consideradas — base, corpo e topo.
2 – Caracterizou apenas um dos segmentos das pirâmides etárias — base, corpo, ou topo — e o associou à consequência
corretamente.
3 – Caracterizou dois dos segmentos das pirâmides etárias — base, corpo, ou topo — e os associou às respectivas consequências
corretamente.
4 – Caracterizou os três segmentos das pirâmides etárias — base, corpo e topo — e os associou às respectivas consequências
corretamente conforme classificação do IBGE (0 a 19 anos de idade, base; 20 a 64 anos de idade, corpo; mais de 65 anos de
idade, topo).
2.3
0 – Não tratou do tema proposto no quesito.
1 – Citou termos do quesito proposto — gráficos, educação escolar e(ou) população economicamente ativa —, mas não
estabeleceu relações lógicas entre esses termos, de modo a atender a abordagem proposta no quesito.
2 – Citou um dos aspectos propostos, mas não o associou ao respectivo segmento das pirâmides etárias (alfabetização e PEA
ligando-se, respectivamente, à base e ao corpo piramidal).
3 – Citou os dois aspectos propostos, mas não foi capaz de associá-los aos respectivos segmentos das pirâmides etárias
(alfabetização e PEA ligando-se, respectivamente, à base e ao corpo piramidal).
4 – Citou os dois aspectos propostos e estabeleceu a correta associação destes com os respectivos segmentos das pirâmides
etárias (alfabetização e PEA ligando-se, respectivamente, à base e ao corpo piramidal).
CONCURSO PÚBLICO
SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SERGIPE (PC/SE)

CARGO 1: DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO


NÍVEL SUPERIOR

QUESTÃO 2 – PROVA DISCURSIVA


Aplicação: 25/11/2018

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


1 Regularidade, ou irregularidade, do pedido de indiciamento de partícipe feito pelo Ministério Público local e do procedimento
adotado pelo delegado relativamente a esse pedido.

O Ministério Público não pode requisitar nem requerer o indiciamento de suspeito/partícipe ao delegado de
polícia, por se tratar de ato privativo da autoridade policial, conforme previsto no art. 2.º, § 6.º, da Lei n.º 12.830/2013 (e
entendimento do STF: HC nº 115015, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, j. 27/08/2013). Faculta-se ao A autoridade
policial, ao não atender o pedido do MP, pode comunicá-lo sobre a faculdade do parquet a requisição de em requisitar a
instauração de inquérito por meio de noticia criminis, mas não o indiciamento em inquérito já encerrado e com denúncia recebida.

Art. 2º, §6º “O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica
do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.”

Obs. 1: a possibilidade de a autoridade policial declarar-se suspeita espontaneamente é desnecessária, uma vez que a situação
hipotética descreve que o inquérito foi por ela conduzido e concluído.
Obs. 2 : a autonomia e a independência dos Delegados de Polícia no desempenho das funções de polícia judiciária, nos termos
constitucionais e da legislação pertinente, somente serão levados para fins de demonstração de domínio de conhecimento.

2 Suspeição da autoridade policial arguida pela defesa e validade da peça inquisitorial, conforme posicionamento do STF.

Conforme entendimento consolidado do STF (HC 121008/DF), eventual suspeição de autoridade que presida o inquérito
policial não o invalida, uma vez que o inquérito é peça meramente informativa e dispensável a que o juiz dará o valor que
esta merecer. Após o recebimento da denúncia, quaisquer questões referentes a eventual suspeição do encarregado do
inquérito serão consideradas meras irregularidades. Verifica-se, ainda, conforme disposto no art. 107 do CPP, que eventual
inobservância do referido dispositivo não terá consequência no plano do processo judicial, embora tal conduta possa ter
repercussão na esfera administrativo-disciplinar.

3 Características e tipo de ação penal a que se destina cada uma das seguintes modalidades de instauração de inquérito.

Noticia criminis de cognição direta, imediata, espontânea ou inqualificada/denúncia anônima ou apócrifa: ocorre quando a
autoridade policial toma conhecimento da ocorrência de um crime de forma direta, por meio de suas atividades funcionais
rotineiras, podendo concretizar-se a partir de denúncias anônimas, delação apócrifa, notícias veiculadas na imprensa etc. Conduz
à instauração de ação penal pública incondicionada (art. 5.º do CPP);
Noticia criminis de cognição mediata ou indireta, provocada ou qualificada: ocorre quando a autoridade policial toma
conhecimento da ocorrência de crime por meio de algum ato jurídico de comunicação formal do delito, entre os previstos na
legislação processual. Pode concretizar-se por meio da vítima, de qualquer pessoa do povo, de juiz, do Ministério Público, do
ministro da Justiça e por representação do ofendido. Pode dar ensejo à instauração de inquérito nos crimes de ação penal pública
incondicionada, de ação penal pública condicionada e de ação penal privada (art. 5.º do CPP);
Noticia criminis de cognição coercitiva: ocorre na hipótese de prisão em flagrante delito, em que a autoridade lavra o respectivo
auto independentemente da natureza da ação. Entretanto, nos crimes de ação penal pública condicionada e de ação penal privada,
sua lavratura apenas poderá ocorrer se houver, respectivamente, representação ou requerimento do ofendido (art. 5.º do CPP).

Aspecto 2.1
0 - Não abordou o tema ou apenas fez referência a ele, sem tratar, objetivamente, da regularidade do pedido de indiciamento pelo
MP ou afirmou sobre a possibilidade de o Ministério Público requisitar/requerer o indiciamento de partícipe à autoridade policial.
1 - Não Apenas abordou a impossibilidade de o Ministério Público requisitar/requerer o indiciamento de partícipe à autoridade
policial, mas não fundamentou corretamente.
2 - Abordou o aspecto a impossibilidade de o Ministério Público requisitar/requerer o indiciamento de partícipe à autoridade
policial, mas não o desenvolveu adequadamente.
3 - Aborda o aspecto e o desenvolveu de forma correta, articulando-o com as informações da situação hipotética proposta.
Abordou a impossibilidade de o Ministério Público requisitar/requerer o indiciamento de partícipe à autoridade policial, por ser
ato privativo da autoridade policial (art. 2.º, § 6.º, da Lei n.º 12.830/2013) e que somente se faculta ao parquet a requisição de
instauração de inquérito por meio de noticia criminis, mas não o indiciamento em inquérito já encerrado e com denúncia recebida.

Aspecto 2.2
0 - Não abordou o tema ou apenas fez referência a ele, sem efetivamente, tratar do objeto do quesito: ocorrência, ou não, de
suspeição da autoridade policial, ou afirmou sobre a nulidade/invalidade do inquérito policial.
1 - Não Apenas indicou que, segundo o STF, eventual suspeição de autoridade que preside inquérito policial não invalida a ação
penal, por ser uma peça dispensável e informativa sem fundamentar corretamente.
2 - Abordou o entendimento do STF, mas desenvolveu o aspecto de forma inconsistente ou incompleta.
3 - Abordou o entendimento do STF, desenvolvendo-o de forma consistente e conectada com a situação hipotética em apreço,
afirmando que o inquérito é peça meramente informativa e dispensável, e que, após o recebimento da denúncia, eventuais
alegações de suspeição são consideradas meras irregularidades. Além disso, a conduta da autoridade policial poderia repercutir
na esfera administrativo-disciplinar.

Aspecto 2.3
0 - Não abordou o tema do quesito ou apenas fez referência a ele, sem efetivamente, tratar do objeto desse quesito, ou não indicou
nem caracterizou corretamente nenhuma das modalidades de instauração de inquérito indicadas.
1 - Tratou do tema proposto no quesito, mas não indicou as características e os tipos de ação a que se destina cada modalidade
de instauração de inquérito.
Apenas indicou as modalidades de instauração de inquérito indicadas, mas não as caracterizou nem indicou, de forma correta,
os tipos de ação a que se destina cada.
2 - Indicou apenas uma modalidade as três modalidades de instauração de inquérito, e a caracterizou de forma correta ou incorreta
mas somente uma caracterizou corretamente e indicou o tipo de ação a que se destina.
3 - Indicou apenas duas as três modalidades de instauração de inquérito, e as caracterizou de modo correto ou incorreto; OU
indicou as três modalidades, mas caracterizou todas incorretamente mas somente duas caracterizou corretamente e indicou o tipo
de ação a que se destina cada.
4 - Indicou as três modalidades de instauração de inquérito e as caracterizou corretamente, com indicação do tipo de ação a que
se destina cada.
CONCURSO PÚBLICO
SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SERGIPE (PC/SE)

CARGO 1: DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO


NÍVEL SUPERIOR

QUESTÃO 3 – PROVA DISCURSIVA


Aplicação: 25/11/2018

PADRÃO DE RESPOSTA
1 O art. 41 da Lei n.º 11.340/2006 estipula que “aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995”.
O gênero “infrações penais, no Direito brasileiro, é dividido em crimes e contravenções, sendo que, a princípio, havia
uma tendência à interpretação literal do dispositivo, de modo a considerar que a vedação não alcançaria as contravenções
penais. Todavia, tanto o STJ quanto o STF consideram que, diante da finalidade da norma e do seu enfoque jurídico-
constitucional, o art. 41 da Lei n.º 11.340/2006 afasta a incidência da Lei n.º 9.099/95, concedendo ao termo ‘crimes’
empregado no referido dispositivo legal uma acepção ampla em sinonímia à expressão ‘infrações penais’, abrangente tanto
de ‘crimes propriamente ditos’, como de ‘contravenções penais’”.
(STJ, HC n. 280.788/RS, Rel. min. Rogério Schietti Cruz, j. 3/4/2014; no mesmo sentido STF, HC n. 106.212/MS, Rel. min.
Marco Aurélio Mello, j. 24/3/2011)
Nesse sentido, o Enunciado 536 do STJ firma o entendimento de que “a suspensão condicional do processo e a transação
penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”.

Obs: considerando a situação hipotética e todo o conteúdo exigido do quesito, reconhece-se o ERRO MATERIAL, quando no
enunciado se refere “sobre a abrangência semântica do termo “crimes” no âmbito da Lei n.º 9.099/1995”, quando a lei correta
seria Lei nº 11.340/06.
Assim, a segunda parte do enunciado 1 da questão será desconsiderado para fins de avaliação.

2 Quanto à substituição da pena de prisão por pena restritiva de direitos ou multa, em se tratando da contravenção penal
de vias de fato, de infração dolosa com violência à pessoa, o art. 44, I, do Código Penal desautoriza a substituição da prisão
por penas restritivas de direito. Entretanto, a doutrina, inicialmente, considerou que, no caso de crimes de menor potencial
ofensivo, mesmo presente a violência ou a grave ameaça, não se poderia excluir o benefício da substituição, por força do art.
61 da Lei n.º 9.099/1995, razão por que deveria ocorrer a imediata aplicação de multa ou pena restritiva de direitos.
No entanto, tal entendimento doutrinário não encontra aplicação no contexto de violência contra a mulher no
ambiente doméstico e familiar. Embora a Lei Maria da Penha vede expressamente apenas a imposição de prestação pecuniária
e o pagamento isolado de multa, nos termos do seu art. 17, reitera-se o entendimento já sumulado pelo STJ de que nos crimes
e também nas contravenções penais contra a mulher, da mesma forma em que são vedadas as medidas despenalizadoras da
Lei n.o 9.099/1995 (transação penal e suspensão condicional do processo), fica também vedada a substituição da pena privativa
por restritiva de direitos, quando praticados com violência ou grave ameaça contra a pessoa.
Súmula 588 do STJ: “A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente
doméstico impossibilita a substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.”

Obs: será aceita a argumentação do candidato que abordar, expressamente, o entendimento divergente do STF (2ª Turma, HC
131160, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/10/2016), quanto à substituição da prisão por penas restritivas de direito
quando se tratar de contravenção penal.

Dispositivos normativos norteadores:

Decreto-Lei n.º 3.688/1941 – Lei das Contravenções Penais


Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, se o fato não constitui crime.
Lei n.º 11.340/2006 – Lei Maria da Penha
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras
de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.
(...)
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se
aplica a Lei n.o 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Lei n.o 9.099/1995


Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os
crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

Aspecto 2.1
0 -Não apresentou texto ou apenas tangenciou e(ou) repetiu o questionamento proposto, OU afirmou aplicar os institutos da
transação penal e da suspensão condicional do processo na situação hipotética
1 - Apresentou resposta confusa ou em desacordo parcial seja com a legislação, seja com a doutrina/jurisprudência pertinentes
OU apenas afirmou não aplicar no caso a transação penal ou a suspensão condicional do processo na situação hipotética
2 - Esclareceu sobre a inaplicabilidade dos institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo, mas não
justificou a resposta, errou ao justificá-la ou a fez de modo incompleto.
3 - Esclareceu sobre a inaplicabilidade dos institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo, mediante
justificativas corretas e consistentes, com a indicação da posição dos Tribunais Superiores.

Aspecto 2.2
0 - Não apresentou texto, apenas tangenciou o questionamento proposto, ou limitou-se a repeti-lo.
1 - Abordou e justificou apenas um dos seguintes aspectos: a) que a Lei Maria da Penha veda expressamente apenas a
imposição de prestação pecuniária e o pagamento isolado de multa, o que não abrange as penas restritivas de direito; b) que
o Código Penal veda expressamente a conversão de pena corporal em restritiva de direito quando o crime for cometido com
violência à pessoa (art. 44, I, do CP); c) que o STJ e STF (em que pese reconhecer uma recente divergência, quando se tratar
de contravenção penal) entende que é impossível a substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos no
contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher (Súmula 588/STJ).
2 - Abordou e justificou dois dos aspectos anteriormente listados (veja Conceito 1).
3 - Abordou e justificou os três aspectos anteriormente listados (veja Conceito 1), tendo-os desenvolvido de forma consistente.
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 1/14

SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO


SUPERINTENDÊNCIA DA POLÍCIA CIVIL
CONCURSO PÚBLICO: DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO
DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SERGIPE (PC/SE)

PROVA ORAL

DIREITO CONSTITUCIONAL

QUESTÃO 1
Tendo em vista que o direito à locomoção não é absoluto, responda, de forma justificada, aos seguintes
questionamentos.

1 Em que consiste o direito constitucional à locomoção? [valor: 4,00 pontos]


2 Quais são as exceções possíveis ao direito à locomoção e as formas previstas para exercê-las?
[valor: 12,00 pontos]
3 Qual é o entendimento do STF sobre a constitucionalidade de ordem de condução coercitiva para
realização de interrogatório, e quais são os efeitos e(ou) as consequências desse entendimento?
[valor: 12,00 pontos]

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS


22 Direitos e deveres individuais e coletivos.

PADRÃO DE RESPOSTA
\t/1 1 O direito constitucional à locomoção

O direito à locomoção está previsto nos incisos XV e LXI do art. 5.º da Constituição Federal de
1988 (CF) e garante a livre locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer
5 pessoa nele entrar, permanecer ou sair com seus bens, garantindo, ainda, que ninguém será preso senão
em flagrante delito ou ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente.

2 As exceções possíveis ao direito à locomoção e as formas previstas para exercê-las


10 I estado de defesa – O art. 136, § 3.º, I, da CF permite prisão por crime de Estado determinada
pelo executor da medida;
II estado de sítio – O art. 139, I, da CF permite medidas no sentido de obrigar as pessoas a
permanecer em localidade determinada, na hipótese de decretação de estado de sítio em
razão de comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a
15 ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa (art. 137, I, da CF);
III transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei, permitem prisão, ainda
que na ausência de flagrante ou ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
(inciso LXI do art. 5.º da CF);
IV exceção ao direito de locomoção previsto no próprio inciso XV do art. 5.º, ao destacar “nos
20 termos da lei”.

3 Constitucionalidade de ordem de condução coercitiva para realização de interrogatório:


entendimento do STF e seus efeitos/suas consequências

25 Por maioria, em 7/6/2018, o STF julgou procedentes as ADPF n.º 395/DF e n.º 444/DF, para
pronunciar a não recepção da expressão “para o interrogatório”, constante do art. 260 do Código de
Processo Penal, e declarar a incompatibilidade com a CF da condução coercitiva de investigados ou de
réus para interrogatório. Nesse sentido, o STF decidiu, ainda, que a penalidade para descumprimento
dessa regra será de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de ilicitude
30 das provas obtidas, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. Por fim, cumpre ressaltar que o
STF modulou os efeitos da decisão para validar os interrogatórios realizados até a data do julgamento,
mesmo que procedidos mediante condução coercitiva para realização do ato.
Material de apoio para examinadores
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 2/14

35 Liberdade de locomoção (art. 5.º, incisos XV e LXI, da CF)


A locomoção no território nacional em tempo de paz é livre, podendo qualquer
pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. Nesse
sentido, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei, ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
40 fundamentada de autoridade judiciária competente (art. 5.º, inciso LXI da CF). Esse
direito poderá ser restringido na vigência de estado de defesa, quando se cria a
possibilidade de prisão por crime de Estado determinada pelo executor da medida
(art. 136, § 3.º, I, da CF), exceção à regra acima exposta (flagrante delito ou ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente). No mesmo sentido,
45 ocorrerá restrição à liberdade de locomoção na vigência do estado de sítio, nos
termos do art. 139, inciso I, da CF, podendo ser tomadas contra as pessoas (nas
hipóteses do art. 137, I, da CF) medidas no sentido de obrigá-las a permanecer em
localidade determinada (...) (Pedro Lenza. Direito constitucional. 10.ª ed., p. 541).

50 CONSTITUIÇÃO FEDERAL de 1988


Art. 5.º (...)
XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer
pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
(...)
55 LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
(...)
Art. 136 (...)
60 § 3.º Na vigência do estado de defesa:
I – a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por
este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal,
facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;
(...)
65 Art. 137. O presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o
Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para
decretar o estado de sítio nos casos de:
I – comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a
ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;
70 II – declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.
(...)
Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só
poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:
I – obrigação de permanência em localidade determinada; (...)
75

ADPF 444/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 7/6/2018. (ADPF-444) - 395
Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente
a arguição de descumprimento de preceito fundamental, para pronunciar a não
recepção da expressão “para o interrogatório”, constante do art. 260 do CPP,
80 e declarar a incompatibilidade com a Constituição Federal da condução coercitiva de
investigados ou de réus para interrogatório, sob pena de responsabilidade disciplinar,
civil e penal do agente ou da autoridade e de ilicitude das provas obtidas, sem
prejuízo da responsabilidade civil do Estado. O Tribunal destacou, ainda, que esta
decisão não desconstitui interrogatórios realizados até a data do presente julgamento,
85 mesmo que os interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos para tal ato.
Vencidos, parcialmente, o ministro Alexandre de Moraes, nos termos de seu voto,
o ministro Edson Fachin, nos termos de seu voto, no que foi acompanhado pelos
ministros Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia (presidente). Plenário,
14/6/2018.
90

INFORMATIVO N.º 905


Condução coercitiva para interrogatório e recepção pela Constituição Federal de 1988
O Plenário iniciou julgamento de arguições de descumprimento de preceito fundamental em que
se discute a legitimidade de decisões judiciais que determinam a condução coercitiva de
95 investigados ou réus para serem interrogados em procedimentos criminais, na forma do art. 260
do Código de Processo Penal (CPP). O ministro Gilmar Mendes (relator) julgou procedentes os
pedidos formulados nas arguições para declarar a não recepção da expressão “para o
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 3/14
interrogatório”, constante do art. 260 do CPP, e a incompatibilidade com a Constituição Federal
(CF) da condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, sob pena de
100 responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de ilicitude das provas
obtidas, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. De início, o relator esclareceu que a
hipótese de condução coercitiva objeto das arguições em comento restringe-se, tão somente,
àquela destinada à condução de investigados e réus à presença da autoridade policial ou judicial
para serem interrogados. Assim, não será analisada a condução de outras pessoas como
105 testemunhas, ou mesmo de investigados ou réus para atos diversos do interrogatório, como o
reconhecimento. Fixado o objeto da controvérsia, afirmou que a condução coercitiva no curso da
ação penal tornou-se obsoleta. Isso porque, a partir da Constituição Federal de 1988, foi
consagrado o direito do réu de deixar de responder às perguntas, sem ser prejudicado (direito ao
silêncio). A condução coercitiva para o interrogatório foi substituída pelo simples prosseguimento
110 da marcha processual, à revelia do acusado (CPP, art. 367). Entretanto, o art. 260 do CPP —
conjugado ao poder do juiz de decretar medidas cautelares pessoais — vem sendo utilizado para
fundamentar a condução coercitiva de investigados para interrogatório, especialmente durante a
investigação policial, no bojo de engenhosa construção que passou a fazer parte do procedimento
padrão das investigações policiais dos últimos anos. Nessa medida, as conduções coercitivas
115 tornaram-se um novo capítulo na espetacularização da investigação, inserida num contexto de
violação a direitos fundamentais por meio da exposição de pessoas que gozam da presunção de
inocência como se culpados fossem. Quanto à presunção de não culpabilidade (CF, art. 5.º, LVII),
seu aspecto relevante ao caso é a vedação de tratar pessoas não condenadas como culpadas. A
condução coercitiva consiste em capturar o investigado ou acusado e levá-lo sob custódia policial
120 à presença da autoridade, para ser submetido a interrogatório. A restrição temporária da liberdade
mediante condução sob custódia por forças policiais em vias públicas não é tratamento que
normalmente possa ser aplicado a pessoas inocentes. Assim, o conduzido é claramente tratado
como culpado. Por outro lado, a dignidade da pessoa humana (CF, art. 1.º, III), prevista entre os
princípios fundamentais do estado democrático de direito, orienta seus efeitos a todo o sistema
125 normativo, constituindo, inclusive, princípio de aplicação subsidiária às garantias constitucionais
atinentes aos processos judiciais. No contexto da condução coercitiva para interrogatório, faz-se
evidente que o investigado ou réu é conduzido eminentemente para demonstrar sua submissão à
força. Não há finalidade instrutória clara, na medida em que o arguido não é obrigado a declarar,
ou mesmo a se fazer presente ao interrogatório. Desse modo, a condução coercitiva desrespeita a
130 dignidade da pessoa humana. Igualmente, a liberdade de locomoção é vulnerada pela condução
coercitiva para interrogatório. A Constituição Federal consagra o direito à liberdade de
locomoção, de forma genérica, ao enunciá-lo no caput do art. 5.º. Tal direito pode ser restringido
apenas se observado o devido processo legal (CF, art. 5.º, LIV) e obedecido o regramento estrito
sobre a prisão (CF, art. 5.º, LXI, LXV, LXVI, LXVII). A Constituição também enfatiza a
135 liberdade de locomoção ao consagrar a ação especial de habeas corpus como remédio contra
restrições e ameaças ilegais (CF, art. 5.º, LXVIII). A condução coercitiva representa uma
supressão absoluta, ainda que temporária, da liberdade de locomoção. O investigado ou réu é
capturado e levado sob custódia ao local da inquirição. Portanto, há uma clara interferência na
liberdade de locomoção, ainda que por um período determinado e limitado no tempo. Ademais, a
140 expressão ‘para o interrogatório’, constante do art. 260 do CPP, tampouco foi recepcionada pela
Constituição Federal, na medida em que representa uma restrição desproporcional da liberdade,
visto que busca uma finalidade não adequada ao sistema processual em vigor. Além disso,
mesmo para quem considere a condução coercitiva para interrogatório possível, há que se exigir a
rigorosa observância da integralidade do art. 260 do CPP, ou seja, intimação prévia para
145 comparecimento não atendida. Por fim, o relator registrou que a declaração de não recepção da
condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório não tem o condão de
desconstituir interrogatórios realizados até a data do julgamento em questão, mesmo que o
interrogado tenha sido coercitivamente conduzido para o ato. Há que se reconhecer a inadequação
do tratamento dado ao imputado, não do interrogatório em si. Argumentos internos ao processo,
150 como a violação ao direito ao silêncio, devem ser refutados. Assim, não há necessidade de
debater qualquer relação da decisão eventualmente tomada pelo STF com os casos pretéritos,
inexistindo espaço para a modulação dos seus efeitos. Em seguida, o julgamento foi suspenso.
CPP: “Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou
qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à
155 sua presença.”. CPP: “Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou
intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no
caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.” ADPF 395/DF, rel.
Min. Gilmar Mendes, julgamento em 7/6/2018. (ADPF-395)
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 4/14

Quesito 1
Conceito 0 – não articula seu raciocínio.
Conceito 1 – articula seu raciocínio de maneira precária.
Conceito 2 – articula seu raciocínio de maneira satisfatória.
Conceito 3 – apresenta excelente articulação.

Quesito 2
Conceito 0 – não argumenta.
Conceito 1 – argumenta de maneira precária.
Conceito 2 – argumenta de maneira satisfatória.
Conceito 3 – apresenta excelente argumentação.

Quesito 3
Conceito 0 – não utiliza o vernáculo de forma correta.
Conceito 1 – utiliza o vernáculo de forma mediana.
Conceito 2 – utiliza o vernáculo de forma correta.

Quesito 4.1
Conceito 0 – não explica sobre o direito constitucional à locomoção ou o explica de maneira
equivocada.
Conceito 1 – explica um dos três aspectos esperados (parte da CF em que o Direito à locomoção está
previsto/momento em que o direito à locomoção está garantido /o que o direito à locomoção assegura)
como resposta.
Conceito 2 – explica dois dos três aspectos esperados (parte da CF em que o Direito à locomoção está
previsto/momento em que o direito à locomoção está garantido /o que o direito à locomoção assegura)
como resposta.
Conceito 3 – explica três dos três aspectos esperados (parte da CF em que o Direito à locomoção está
previsto/momento em que o direito à locomoção está garantido /o que o direito à locomoção assegura)
como resposta.

Quesito 4.2
Conceito 0 – não expõe as exceções possíveis ao direito à locomoção e as formas para exercê-las.
Conceito 1 – expõe uma exceção possível ao direito à locomoção e a respectiva forma para exercê-la.
Conceito 2 – expõe duas exceções possíveis ao direito à locomoção e as respectivas formas para
exercê-las.
Conceito 3 – expõe três exceções possíveis ao direito à locomoção e as respectivas formas para exercê-
las.
Conceito 4 – expõe quatro exceções possíveis ao direito à locomoção e as respectivas formas para
exercê-las.

Quesito 4.3
Conceito 0 – não explica sobre o direito constitucional à locomoção ou o explica de maneira
equivocada.
Conceito 1 – explica um dos três aspectos esperados (teor da decisão do STF/consequências jurídicas
em caso de descumprimento/modulação dos efeitos da decisão) como resposta.
Conceito 2 – explica dois dos três aspectos esperados (teor da decisão do STF/consequências jurídicas
em caso de descumprimento/modulação dos efeitos da decisão) como resposta.
Conceito 3 – explica três dos três aspectos esperados (teor da decisão do STF/consequências jurídicas
em caso de descumprimento/modulação dos efeitos da decisão) como resposta.
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 5/14

SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO


SUPERINTENDÊNCIA DA POLÍCIA CIVIL
CONCURSO PÚBLICO: DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO
DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SERGIPE (PC/SE)

PROVA ORAL
DIREITO PENAL

QUESTÃO 2
Com base na doutrina, discorra sobre:

1 o conceito do estrito cumprimento de dever legal, exemplificando-o [valor: 6,00 pontos] e indicando
o momento de sua análise jurídica frente ao que dispõe o Código Penal [valor: 6,00 pontos];
2 o conceito de tipicidade conglobante [valor: 8,00 pontos] e sua consequência jurídica em relação
à excludente do estrito cumprimento de dever legal, conforme o sistema jurídico penal
[valor: 8,00 pontos].

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS


4 Teoria geral do crime. 4.1 Conceito, objeto, sujeitos, conduta, tipicidade, culpabilidade. 4.8 Causas de
exclusão da ilicitude. 4.9 O fato típico e seus elementos. 4.10 Causas de exclusão da tipicidade.

PADRÃO DE RESPOSTA

\t/1 1 Ao contrário do que faz com o estado de necessidade e com a legítima defesa, o Código Penal não
apresenta definição para o conceito de estrito cumprimento de dever legal, limitando-se a dispor, em seu
art. 23, inciso III, que:

5 “Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:


(...)
III – em estrito cumprimento de dever legal (...)”.

O estrito cumprimento de dever legal consiste na realização de um fato típico, por força do
10 desempenho de uma obrigação imposta por lei, nos exatos limites dessa obrigação. A lei não determina
apenas a faculdade do agente em obedecer ou não a regra por ela estabelecida, havendo, na verdade, o
dever de agir com origem exclusivamente na lei. Exemplo disso é o cumprimento de mandado de busca
domiciliar em que haja impedimento à ordem de ingresso na residência, o que autoriza o arrombamento
da porta e a entrada forçada, conforme disciplina o Código de Processo Civil, em seu art. 245, § 2.º.
15 Pelo Código Penal, o estrito cumprimento de dever legal é analisado no momento da
antijuricidade da conduta, ou seja, como causa de exclusão da ilicitude da conduta.

2 A tipicidade conglobante consiste na adequação da conduta ao modelo abstrato descrito na lei à


luz da ordem normativa e dos princípios conformadores do direito penal; ou seja, para que um fato seja
20 típico, a conduta que lhe deu origem deve violar o ordenamento jurídico considerado como um todo.
Para os penalistas Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, “a tipicidade penal não se reduz à
tipicidade legal (adequação à formulação legal), e sim, deve evidenciar uma verdadeira proibição com
relevância penal, para o que é necessário que esteja proibida à luz da consideração conglobada da norma.
Isto significa que tipicidade penal implica na tipicidade legal corrigida pela tipicidade conglobante, que
25 pode reduzir o âmbito de proibição aparente que surge da consideração isolada da tipicidade legal”.
(Eugênio Raúl Zaffaroni; José Henrique Pierangeli. Manual de Direito Penal Brasileiro: parte geral.
Revista dos Tribunais, p. 549-50.)
Nessa linha, a existência do fato típico se funda em duas premissas: a) a conduta do agente deve
ser analisada à luz do universo normativo como um todo, ou seja, deve ser antinormativa; b) a conduta
30 deve ofender ou colocar em perigo o bem jurídico previsto pelo tipo penal de forma efetiva e relevante
(tipicidade material).
À luz da conceituação doutrinária da tipicidade conglobante (antinormativa), algumas
excludentes de ilicitude, a exemplo do estrito cumprimento de dever legal e do exercício regular do
direito, têm implicação direta na tipicidade da conduta, e não na sua ilicitude ou antijuridicidade,
35 possuindo a natureza jurídica de causa de exclusão de tipicidade. Isso porque, pela tipicidade
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 6/14
conglobante antinormativa, não pode ser típica a conduta daquele que atua fomentado pelo próprio
ordenamento jurídico (estrito cumprimento de dever legal), não podendo coexistir uma norma que
determine que se faça alguma coisa enquanto outra norma veda a mesma conduta, emprestando-lhe
tipicidade formal.
40 Nessa linha de pensamento, vale citar Zaffaroni e Pierangelli, que assim asseveram:
“Suponhamos que somos juízes e que é levada a nosso conhecimento a conduta de uma pessoa que, na
qualidade de oficial de justiça, recebeu uma ordem, emanada por juiz competente, de penhora e
sequestro de um quadro, de propriedade de um devedor a quem se executa em processo regular, por seu
legítimo credor, para a cobrança de um crédito vencido, e que, em cumprimento desta ordem judicial e
45 das funções que por lei lhe competem, solicita o auxílio de força pública, e, com todas as formalidades
requeridas, efetivamente sequestra a obra, colocando-a à disposição do juízo. O mais elementar senso
comum indica que esta conduta não pode ter qualquer relevância penal, que de modo algum pode ser
delito, mas por quê? Receberemos a resposta de que essa conduta enquadra-se nas previsões do art. 23,
III, do CP: ‘Não há crime quando o agente pratica o fato (...) em estrito cumprimento de dever legal
50 (...)’. é indiscutível que ela aí se enquadra, mas que caráter do delito desaparece quando um sujeito age
em cumprimento de um dever? Para boa parte da doutrina, o oficial de justiça teria atuado ao amparo de
uma causa de justificação, isto é, que faltaria a antijuridicidade da conduta, mas que ela seria típica. Para
nós, esta resposta é inadmissível, porque tipicidade implica antinormatividade (contrariedade à norma) e
não podemos admitir que na ordem normativa uma ordena o que a outra proíbe. Uma ordem normativa,
55 na qual uma norma possa ordenar o que a outra pode proibir, deixa de ser ordem e de ser normativa e
torna-se uma ‘desordem arbitrária’”. (Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli. Manual de
Direito Penal Brasileiro: parte geral. Revista dos Tribunais, p. 395.)
Considerando-se, então, que não há tipicidade na conduta daquele que, em tese, realiza um fato
típico por força do desempenho de uma obrigação imposta por lei, o comportamento realizado sob o
60 manto do estrito cumprimento de dever legal, visto sob o ângulo da teoria da tipicidade conglobante,
deve ser perquirido dentro da estrutura jurídica do fato típico, constituído por conduta, resultado, nexo
de causalidade e tipicidade (formal e conglobante), e não da antijuridicidade.

Quesito 1
Conceito 0 – não articula seu raciocínio.
Conceito 1 – articula seu raciocínio de maneira precária.
Conceito 2 – articula seu raciocínio de maneira satisfatória.
Conceito 3 – apresenta excelente articulação.

Quesito 2
Conceito 0 – não argumenta.
Conceito 1 – argumenta de maneira precária.
Conceito 2 – argumenta de maneira satisfatória.
Conceito 3 – apresenta excelente argumentação.

Quesito 3
Conceito 0 – não utiliza o vernáculo de forma correta.
Conceito 1 – utiliza o vernáculo de forma mediana.
Conceito 2 – utiliza o vernáculo de forma correta.

Quesito 4.1.1
Conceito 0 – não conceitua doutrinariamente ou conceitua de maneira equivocada o estrito cumprimento
de dever legal nem o exemplifica.
Conceito 1 – conceitua o estrito cumprimento abordando um dos três aspectos esperados (inexistência
do conceito solicitado no Código Penal/conceito doutrinário/exemplo).
Conceito 2 – conceitua o estrito cumprimento abordando dois dos três aspectos esperados (inexistência
do conceito solicitado no Código Penal/conceito doutrinário/exemplo).
Conceito 3 – conceitua o estrito cumprimento os três aspectos esperados (inexistência do conceito
solicitado no Código Penal/conceito doutrinário/exemplo).

Quesito 4.1.2
Conceito 0 – não indica o momento de análise jurídica do estrito cumprimento de dever legal.
Conceito 1 – indica corretamente o momento de análise jurídica do estrito cumprimento de dever frente
ao que dispõe o Código Penal brasileiro.
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 7/14

Quesito 4.2.1
Conceito 0 – não conceitua doutrinariamente a tipicidade conglobante.
Conceito 1 – conceitua doutrinariamente a tipicidade conglobante abordando um dos dois aspectos
esperados (entendimento de alguns penalistas/premissas que fundamentam a existência do fato típico)
como resposta.
Conceito 2 – conceitua doutrinariamente a tipicidade conglobante abordando os dois aspectos esperados
(entendimento de alguns penalistas/premissas que fundamentam a existência do fato típico) como
resposta.

Quesito 4.2.2
Conceito 0 – não apresenta ou apresenta de maneira equivocada a consequência jurídica da tipicidade
conglobante em relação à excludente do estrito cumprimento de dever legal.
Conceito 1 – apresenta a consequência jurídica da tipicidade conglobante em relação à excludente do
estrito cumprimento de dever legal, abordando um dos dois aspectos esperados (consequência jurídica
da tipicidade conglobante/perquirição do comportamento realizado sob o manto do estrito cumprimento
do dever legal) como resposta.
Conceito 2 – apresenta a consequência jurídica da tipicidade conglobante em relação à excludente do
estrito cumprimento de dever legal, abordando os dois aspectos esperados (consequência jurídica da
tipicidade conglobante/perquirição do comportamento realizado sob o manto do estrito cumprimento do
dever legal) como resposta.
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 8/14

SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO


SUPERINTENDÊNCIA DA POLÍCIA CIVIL
CONCURSO PÚBLICO: DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO
DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SERGIPE (PC/SE)

PROVA ORAL

DIREITO PROCESSUAL PENAL

QUESTÃO 3
Considerando que tenha sido decretada prisão temporária de indiciado pela prática de crime hediondo, discorra
sobre os prazos da prisão cautelar, com base na Lei n.º 7.960/1989, que dispõe sobre a prisão temporária, e na
Lei n.º 8.072/1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, e estabeleça um contraponto com o prazo fixado para
a conclusão do inquérito policial nos termos do art. 10 do Código de Processo Penal. [valor: 12,00 pontos]
Fundamente sua resposta, abordando as três correntes doutrinárias que versam sobre a matéria.
[valor: 16,00 pontos]

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS


2 Inquérito policial. 2.1 Histórico, natureza, conceito, finalidade, características, fundamento, titularidade,
grau de cognição, valor probatório, formas de instauração, notitia criminis; delatio criminis, procedimentos
investigativos, indiciamento, garantias do investigado, conclusão e prazos. 9 Prisão. 9.3 Prisão temporária.

PADRÃO DE RESPOSTA

\t/1 1 Conforme a regra processual geral do art. 10 do Código de Processo Penal (CPP), o inquérito
policial deve ser concluído no prazo de dez dias se o indiciado tiver sido preso em flagrante ou
preventivamente, contado o prazo a partir do dia em que tiver sido executada a ordem de prisão.
Entretanto, ao tratar da prisão temporária, a Lei n.º 7.960/1989 dispõe em seu art. 2.º que o prazo da
5 prisão cautelar será, em regra, de até cinco dias, prorrogável por igual período se comprovada extrema
necessidade, cabendo aos crimes hediondos e a seus equiparados, por força do art. 2.º, § 4.º, da
Lei n.º 8.072/1990, o prazo de até trinta dias, prorrogável por igual período.

Apesar de o art. 10 do CPP prever o prazo de dez dias para a conclusão dos trabalhos de investigação
10 nos casos de prisão em flagrante ou de prisão preventiva, o Estatuto Processual Penal não prevê prazo
de conclusão do inquérito policial no caso de decretação de prisão temporária.

CPP: “Art. 10 – O inquérito policial deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido
preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia
15 em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou
sem ela.”

No que tange ao prazo geral da custódia temporária, estabelecido no art. 2.º, caput, da
Lei n.º 7.960/1989, não pairam controvérsias, porquanto o prazo de 5 dias, prorrogável por igual
20 período, estando em curso a investigação criminal, coincide com o prazo previsto no CPP, para
as demais hipóteses de prisão cautelar.
Lei n.º 7.960/1989: “Art. 2.º– A prisão temporária será decretada pelo juiz, em face da representação
da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias,
prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.”
25

Todavia, pairam controvérsias quanto ao prazo de conclusão do procedimento policial quando se trata
de prisão temporária pela prática de crime hediondo, em que o período da prisão temporária pode
alcançar sessenta (60) dias.
Lei n.º 8.072/1990: “Art. 2.º (...) § 4.º – A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei n.º 7.960, de 21
30 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por
igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.”

2 A respeito da matéria, existem três correntes doutrinárias que buscam compatibilizar


os prazos disciplinados pelas Leis n.º 7.960/1989 e n.º 8.072/1990 com a regra geral estabelecida
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 9/14
no Código de Processo Penal:
35

1. A primeira corrente, defendida por Fernando Capez, disciplina que o tempo de


prisão temporária seja acrescido ao prazo de conclusão do inquérito policial. Ou seja,
após o período da medida cautelar, a autoridade policial terá o prazo estabelecido no
Código de Processo Penal (10 dias) para concluir as investigações, no caso de ser
40 decretada a prisão preventiva, pois, se posto o investigado em liberdade, o prazo para
a conclusão do inquérito passará a ser de trinta dias, de modo que, além do período de
custódia temporária, a autoridade policial terá mais 10 dias para concluir as
investigações. (Fernando Capez. Curso de Processo Penal. Saraiva, p. 99) Divergem
dessa opinião aqueles que sustentam que tal posição importaria excessiva dilação do
45 prazo de conclusão do inquérito policial.

2. A segunda corrente, majoritária, defende que o prazo para a conclusão do


inquérito policial acompanhe o prazo da prisão temporária. No caso de o prazo
de prisão temporária ser de 30 ou de 60 dias (prorrogação), o prazo para remessa do
50 inquérito policial será, respectivamente, de 30 e 60 dias, o que, por consequência,
altera a regra geral do art. 10 do CPP. Conforme leciona Renato Brasileiro de Lima,
“na hipótese de crimes hediondos e equiparados, o prazo da prisão temporária é de 30
(trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade (Lei n.º 8.072/1990, art. 2.º,§ 4.º). Em relação ao prazo disposto no art.
55 2.º, caput, da Lei n.º 7.960/1989, não há maiores controvérsias. Isso porque, nessa
hipótese, o prazo máximo para a prisão temporária será de 10 (dez) dias, prazo esse
que coincide com o prazo previsto no CPP para as hipóteses em que o investigado
está preso (art. 10, caput). O tema ganha relevância ao se analisar a hipótese de
investigação policial em relação ao autor de crimes hediondos e equiparados, cuja
60 prisão temporária tenha sido decretada por até 60 (sessenta) dias. A nosso ver, se a
prisão temporária foi decretada para auxiliar nas investigações em relação a crimes
hediondos e equiparados, tem-se que o prazo máximo para a conclusão das
investigações é de 60 (sessenta) dias, sendo inviável que, após esse interstício de 60
(sessenta) dias, a autoridade policial disponha de mais 10 (dez) dias para finalizar o
65 inquérito policial” (Renato Brasileiro de Lima. Código de Processo Penal
Comentado. 3.ª ed. Editora Juspodivm, 2018, p. 88). No mesmo sentido, assevera
Norberto Avena, em Processo Penal Esquematizado. 7.ª ed. Método, p. 194-5.

3. Por fim, a terceira corrente afirma não ser cabível conferir prazo diferenciado do
70 art. 10 do CPP para a conclusão das investigações policiais na hipótese de prisão
temporária para fins de apuração de crime hediondo, devendo o inquérito policial ser
remetido ao expirar o decêndio legal. Finalizado esse prazo, o inquérito deverá ser
encaminhado a juízo, onde o Ministério Público analisará a presença dos elementos
necessários ao oferecimento da peça acusatória. Oferecida a denúncia, revoga-se a
75 prisão temporária ou converte-se a prisão em preventiva. Acaso o MP entenda pela
complementação de diligências, os autos do inquérito policial devem ser devolvidos à
autoridade policial, mantendo-se a prisão temporária até o limite fixado pela
Lei n.º 8.072/1990, art. 2.º, § 4.º (30 dias prorrogáveis por igual período).

Quesito 1
Conceito 0 – não articula seu raciocínio.
Conceito 1 – articula seu raciocínio de maneira precária.
Conceito 2 – articula seu raciocínio de maneira satisfatória.
Conceito 3 – apresenta excelente articulação.

Quesito 2
Conceito 0 – não argumenta.
Conceito 1 – argumenta de maneira precária.
Conceito 2 – argumenta de maneira satisfatória.
Conceito 3 – apresenta excelente argumentação.

Quesito 3
Conceito 0 – não utiliza o vernáculo de forma correta.
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 10/14

Conceito 1 – utiliza o vernáculo de forma mediana.


Conceito 2 – utiliza o vernáculo de forma correta.

Quesito 4.1
Conceito 0 – não explana o contraponto solicitado no comando da questão.
Conceito 1 – explana corretamente apenas sobre um prazo.
Conceito 2 – explana corretamente sobre dois prazos.
Conceito 3 – explana corretamente sobre os três prazos.

Quesito 4.2
Conceito 0 – não apresenta corretamente nenhuma corrente doutrinária.
Conceito 1 – apresenta corretamente uma corrente doutrinária.
Conceito 2 – apresenta corretamente duas correntes doutrinárias.
Conceito 3 – apresenta corretamente três correntes doutrinárias.
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 11/14

SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO


SUPERINTENDÊNCIA DA POLÍCIA CIVIL
CONCURSO PÚBLICO: DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO
DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SERGIPE (PC/SE)

PROVA ORAL

LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

QUESTÃO 4
O Estatuto do Idoso — Lei n.º 10.741/2003 — discrimina, nos seus arts. 96 a 108,
delitos especiais em que a vítima é sempre pessoa idosa.

À luz das regras especiais estabelecidas no Estatuto do Idoso com relação aos crimes contra pessoa idosa,
discorra sobre:

1 a idade mínima para que uma pessoa possa ser considerada vítima dos crimes previstos no Estatuto
do Idoso; [valor: 4,00 pontos]
2 o regramento do Estatuto do Idoso com relação a escusa absolutória ou imunidade do autor de crime
contra pessoa idosa; [valor: 8,00 pontos]
3 a natureza da ação penal relativa a crime previsto no Estatuto do Idoso; [valor: 4,00 pontos]
4 os procedimentos a serem adotados considerando-se a pena máxima aplicada ao autor de crime previsto
no Estatuto do Idoso; [valor: 4,00 pontos]
5 o entendimento do STF acerca da aplicabilidade do procedimento para os crimes com pena superior
a dois anos e não maior que quatro anos de reclusão. [valor: 8,00 pontos]

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS


2 Lei n.º 10.741/2003, e suas alterações (Crimes previstos no Estatuto do Idoso).

PADRÃO DE RESPOSTA

\t/1 1 Para ser considerada vítima idosa, a pessoa deve ter idade igual ou superior a 60 anos
(nos termos do art. 1.º do Estatuto do Idoso).
2 Ainda que o delito seja cometido por ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, não
5 existe qualquer escusa absolutória ou imunidade (art. 95 do Estatuto do Idoso). Deve ser ressaltado,
ainda, que o Estatuto do Idoso inseriu norma semelhante à do art. 183, III, do Código Penal, excluindo
as imunidades nos crimes contra o patrimônio de pessoa idosa, mesmo que cometidos por uma das
pessoas citadas.
10 3 A ação será sempre pública incondicionada, ainda que o delito tenha sido cometido por algum
familiar da vítima (art. 95 do Estatuto do Idoso).
4 Procedimento
15 a) Pena máxima de até dois anos – são aplicáveis todos os benefícios da Lei n.º 9.099/1995,
e não apenas o rito sumaríssimo.
b) Pena máxima de dois anos a quatro anos – afasta-se o rito sumário e adota-se o sumaríssimo
após o oferecimento da denúncia. Impossibilidade de aplicação de quaisquer medidas
despenalizadoras e de interpretação benéfica ao autor do crime.
20 c) Pena máxima superior a quatro anos – rito comum ordinário, sem normas despenalizadoras.
5 O STF, ao julgar a ADI 3.096/DF, aplicou interpretação conforme a Constituição Federal
de 1988, no sentido de aplicar-se aos crimes do Estatuto do Idoso apenas o rito sumaríssimo quando
a pena for de dois anos a quatro anos de reclusão, não se permitindo a aplicação de quaisquer
25 medidas despenalizadoras nem interpretação benéfica ao autor do crime cuja vítima seja idosa.
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 12/14
Material de apoio aos examinadores
Texto Legal – Estatuto do Idoso, Lei n.º 10.741/2003
30 TÍTULO VI – Dos Crimes
CAPÍTULO I – Disposições Gerais
Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei
n.º 7.347/1985.
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não
35 ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei n.º 9.099/1995,
e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código
de Processo Penal. (vide ADI 3.096-5 – STF)
CAPÍTULO II – Dos Crimes em Espécie
Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada,
40 não se lhes aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal.
Art. 96. a art. 108. (…)
TÍTULO VII – Disposições Finais e Transitórias
Art. 109. (...)
Art. 110. O Decreto-Lei n.º 2.848/1940, Código Penal, passa a vigorar com as
45 seguintes alterações: (...)
Art. 61.
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
Art. 121.
§ 4.o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta
50 de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato,
ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena
é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de
14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
55 Art. 133.
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. (NR)
Art. 140.
§ 3.o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia,
religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (...)
60 Art. 141.
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto
no caso de injúria.
Art. 148.
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge do agente ou maior de 60
65 (sessenta) anos.
Art. 159.
§ 1.º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor
de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando
ou quadrilha.
70 Art. 183.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
anos. (NR)
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho
menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido
75 ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários
ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada
ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente,
gravemente enfermo: (...)
............................................................................ (NR)
80 Art. 111. O art. 21 do Decreto-Lei n.º 3.688/1941, Lei das Contravenções Penais,
passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único: (...)
Art. 21.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima
é maior de 60 (sessenta) anos. (NR)
85 Art. 112. O inciso II do § 4.º do art. 1.º da Lei n.º 9.455/1997, passa a vigorar com
a seguinte redação: (...)
Art. 1.º
§ 4.o ............................................................................
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência,
90 adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;
............................................................................ (NR)
Art. 113. O inciso III do art. 18 da Lei n.º 6.368/1976, passa a vigorar com a seguinte
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 13/14
redação: (...)
Art. 18.
95 III – se qualquer deles decorrer de associação ou visar a menores de 21 (vinte e um)
anos ou a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou a quem tenha,
por qualquer causa, diminuída ou suprimida a capacidade de discernimento ou de
autodeterminação:
............................................................................ (NR)
100 Art. 114. O art. 1.º da Lei n.º 10.048/2000, passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 1.º As pessoas portadoras de deficiência, os idosos com idade igual ou superior a
60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes e as pessoas acompanhadas por crianças
de colo terão atendimento prioritário, nos termos desta Lei. (NR)
105 ............................................................................
Existem crimes nos arts. 96 a 108 da Lei n.º 10.741/2003 em que a vítima
é sempre pessoa idosa (com idade igual ou superior a 60 anos). Em relação a esses
delitos especiais a referida lei trouxe algumas regras que merecem menção.
Em primeiro lugar, ainda que o delito seja cometido por ascendente, descendente,
110 cônjuge ou companheiro, não existe qualquer escusa absolutória ou imunidade
(art. 95 da Lei n.º 10.741/2003). O Estatuto do Idoso, aliás, inseriu norma semelhante
à do art. 183, III, do Código Penal, excluindo as imunidades nos crimes contra
o patrimônio de pessoa idosa, mesmo que cometido por uma das pessoas citadas.
Os crimes elencados na Lei n.º 10.741/2003 apuram-se necessariamente mediante
115 ação pública incondicionada, ainda que o delito seja cometido por algum familiar.
(...) O Supremo Tribunal Federal julgou parcialmente procedente a ação direta
de inconstitucionalidade n.º 3.096 para dar interpretação conforme a Constituição
no sentido de aplicar-se aos crimes do Estatuto do Idoso apenas o rito sumaríssimo,
quando a pena for superior a dois anos e não maior do que quatro anos, não se
120 permitindo a aplicação de quaisquer medidas despenalizadoras e interpretação
benéfica ao autor do crime cuja vítima seja idoso. A propósito: art. 94 da
Lei n.º 10.741/2003: interpretação conforme à Constituição do Brasil, com redução
de texto, para suprimir a expressão “do Código Penal” e aplicação apenas do
procedimento sumaríssimo previsto na Lei n.º 9.099/1995: benefício do idoso com
125 a celeridade processual. Impossibilidade de aplicação de quaisquer medidas
despenalizadoras e de interpretação benéfica ao autor do crime. 3. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente para dar interpretação
conforme à Constituição do Brasil, com redução de texto, ao art. 94 da
Lei n.º 10.741/2003. (ADI/DF 3.096 – Tribunal Pleno – Rel. Min. Cármem Lúcia.)
130 Pedro Lenza; Alexandre Cebrian Araújo Reis; Victor Eduardo Rios Gonçalves. Direito Processual Penal. p. 559.

Quesito 1
Conceito 0 – não articula seu raciocínio.
Conceito 1 – articula seu raciocínio de maneira precária.
Conceito 2 – articula seu raciocínio de maneira satisfatória.
Conceito 3 – apresenta excelente articulação.

Quesito 2
Conceito 0 – não argumenta.
Conceito 1 – argumenta de maneira precária.
Conceito 2 – argumenta de maneira satisfatória.
Conceito 3 – apresenta excelente argumentação.

Quesito 3
Conceito 0 – não utiliza o vernáculo de forma correta.
Conceito 1 – utiliza o vernáculo de forma mediana.
Conceito 2 – utiliza o vernáculo de forma correta.

Quesito 4.1
Conceito 0 – não apresenta ou apresenta de forma equivocada a idade para considerar a vítima pessoa idosa.
Conceito 1 – apresenta a idade correta para considerar a vítima pessoa idosa, mas não menciona o normativo
que regulamenta a idade.
CEBRASPE – PC/SE – Aplicação: 2019 – 14/14

Conceito 2 – apresenta a idade correta para considerar a vítima pessoa idosa e menciona o normativo que
regulamenta a idade.

Quesito 4.2
Conceito 0 – não apresenta a regra especial sobre escusa absolutória ou imunidade.
Conceito 1 – apresenta a regra especial sobre escusa absolutória ou imunidade, mas não faz – ou o faz de
maneira equivocada – entre o Estatuto do Idoso e o art. 183, III, do Código Penal.
Conceito 2 – apresenta corretamente a regra especial sobre escusa absolutória e imunidade e faz corretamente
o paralelo entre o Estatuto do Idoso e o art. 183, III, do Código Penal.

Quesito 4.3
Conceito 0 – não apresenta ou apresenta de forma equivocada a natureza da ação penal.
Conceito 1 – apresenta corretamente a natureza da ação penal, sem mencionar ou mencionar de maneira
equivocada que a natureza jurídica se mantem ainda o delito seja cometido por algum familiar.
Conceito 2 – apresenta corretamente a natureza da ação penal e menciona que a natureza jurídica se mantem
ainda o delito seja cometido por algum familiar.

Quesito 4.4
Conceito 0 – não apresenta ou apresenta de forma equivocada os procedimentos a serem adotados.
Conceito 1 – apresenta corretamente apenas um procedimento a ser adotado.
Conceito 2 – apresenta corretamente dois procedimentos a serem adotados.
Conceito 3 – apresenta corretamente três procedimentos a serem adotados.

Quesito 4.5
Conceito 0 – não apresenta ou apresenta de forma equivocada o entendimento do STF.
Conceito 1 – apresenta corretamente o entendimento do STF.
||374_PCMADISC_001_01|| CESPE | CEBRASPE – SSP/MA – Aplicação: 2018

PROVA DISCURSIVA
• Nesta prova, faça o que se pede, usando, caso deseje, os espaços para rascunho indicados no presente caderno. Em seguida, transcreva
os textos para o CADERNO DE TEXTOS DEFINITIVOS DA PROVA DISCURSIVA, nos locais apropriados, pois não serão
avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos.
• Em cada questão, qualquer fragmento de texto que ultrapassar a extensão máxima de linhas disponibilizadas será desconsiderado.
Também será desconsiderado o texto que não for escrito no espaço correspondente à questão, na respectiva folha de texto definitivo.
• No Caderno de Textos Definitivos, identifique-se apenas no cabeçalho da primeira página, pois não será avaliado texto que
tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.
• Na avaliação de cada questão, ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 15,00 pontos, dos quais até 0,75 ponto será atribuído ao
quesito apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafos) e estrutura textual (organização das ideias em texto
estruturado).
QUESTÃO 1

Discorra sobre as entidades denominadas serviços sociais autônomos, abordando os seguintes tópicos:

1 natureza jurídica de referidas entidades e seus objetivos institucionais; [valor: 6,50 pontos]
2 origem dos recursos financeiros dessas entidades; [valor: 4,25 pontos]
3 sujeição de tais entidades a controle por parte do tribunal de contas. [valor: 3,50 pontos]

QUESTÃO 1 – RASCUNHO
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QUESTÃO 2

Em uma ação de combate ao tráfico de drogas em determinada cidade, a polícia civil, por meio de
departamento especializado em repressão ao narcotráfico, prendeu um homem que portava vinte quilos de
entorpecentes, balança de precisão e certa quantia em dinheiro, em cédulas trocadas. Esse indivíduo foi
encontrado em um bar de sua propriedade, oportunidade na qual foi algemado e conduzido à delegacia.
A operação deflagrada foi possível após a prisão de outro traficante, que forneceu as informações em
confissão extrajudicial realizada em sede inquisitorial após a utilização de meios de tortura.

Considerando essa situação hipotética, disserte sobre o princípio da proibição à tortura, à luz da Constituição Federal de 1988, da doutrina
e do entendimento do STF. Em seu texto, aborde, fundamentadamente, os seguintes aspectos:

1 proibição à tortura como direito fundamental e efeitos jurídicos de eventual violação a esse direito; [valor: 5,00 pontos]
2 extensão dos efeitos da violação ao princípio fundamental da proibição à tortura, no que se refere aos sujeitos;
[valor: 5,00 pontos]
3 limites para o uso de algemas em operações policiais. [valor: 4,25 pontos]

QUESTÃO 2 – RASCUNHO
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QUESTÃO 3

O corpo de um homem jovem foi encontrado à margem de um lago. Havia três dias que ele era
procurado pelos bombeiros, desde que o bote em que estava com um amigo foi a pique durante uma
pescaria. Conforme relatado à autoridade policial, o suposto amigo conseguiu nadar e se salvar. Durante a
investigação do fato, surgiram rumores de que teria ocorrido uma briga a bordo, e que um dos indivíduos
teria golpeado a cabeça do outro com um remo, momentos antes do naufrágio. Assim, duas hipóteses foram
aventadas pela autoridade policial:

a) naufrágio e morte por afogamento;


b) morte por traumatismo craniencefálico decorrente de ação de instrumento contundente, com
posterior lançamento do corpo à água para simular afogamento.

Realizado o exame necroscópico, o laudo do perito médico-legista afastou a hipótese de morte por
traumatismo craniencefálico e concluiu pela hipótese de naufrágio seguido de morte por afogamento em
razão dos vestígios encontrados, os quais, além de corroborarem essa hipótese, também compatibilizaram-se
com o fato de o cadáver ter permanecido submerso em água por três dias.

Disserte a respeito dos principais vestígios que se espera tenham sido encontrados pelo perito médico-legista durante o exame necroscópico
para esclarecer a causa e as circunstâncias da morte na situação hipotética acima descrita. Ao elaborar seu texto, identifique:

1 quatro vestígios — externos e(ou) internos — sugestivos de morte por afogamento em apreço; [valor: 10,00 pontos]
2 quatro vestígios — externos e(ou) internos — esperados em um cadáver submerso em água por três dias, independentemente da
causa da morte. [valor: 4,25 pontos]

QUESTÃO 3 – RASCUNHO
1
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QUESTÃO 4

Juliana compareceu a delegacia de polícia, onde alegou que sua filha Maria, adolescente de treze anos
de idade, havia sido violentada, alguns dias atrás, por João, de trinta anos de idade. Realizado exame de
corpo de delito em Maria, foi constatado que ela havia praticado conjunção carnal em data recente.
Na presença do delegado, João afirmou que sabia a idade de Maria e que, de fato, havia praticado com ela
conjunção carnal sob o consentimento dela, visto que eles haviam iniciado um relacionamento amoroso dias
antes. Maria, também em depoimento ao delegado, afirmou que tinha praticado conjunção carnal com João
de modo consentido, pois tiveram um breve romance, e que ela já possuía uma experiência sexual anterior.

Acerca da situação hipotética acima descrita, responda ao questionamento do primeiro tópico abaixo e faça o que se pede nos tópicos
subsequentes.

1 Houve prática de crime por parte de João? Se positiva sua resposta, esclareça qual foi o crime praticado. [valor: 3,75 pontos]
2 Comente sobre o consentimento da vítima. [valor: 3,50 pontos]
3 Disserte sobre a existência de relacionamento amoroso entre João e Maria e a experiência sexual anterior de Maria.
[valor: 3,50 pontos]
4 Disserte sobre a possibilidade de ter ocorrido erro de proibição na hipótese considerada. [valor: 3,50 pontos]

QUESTÃO 4 – RASCUNHO
1
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QUESTÃO 5

Com o emprego de uma chave falsa, José entrou no depósito de um estabelecimento comercial de
material para construção, de onde subtraiu para si objetos da empresa, avaliados em R$ 200, e, também,
um telefone celular, avaliado em R$ 100, posteriormente identificado como pertencente ao vigia do local,
que o havia deixado sobre uma mesa em frente ao depósito, ao sair para realizar uma ronda. Em seguida,
José empreendeu fuga. Após investigações e a juntada de laudo de avaliação dos bens e do laudo que
atestou no inquérito ser falsa a chave, José foi acusado de ser o autor do fato, oportunidade em que,
também, foi devidamente atestada a sua primariedade. O inquérito está em fase de elaboração de relatório.

Com relação à situação hipotética acima descrita, disserte a respeito dos seguintes aspectos:

1 tipificação da conduta de José e possibilidade de coexistência de qualificadora com o privilégio no crime em questão;
[valor: 3,50 pontos]
2 emprego de chave falsa; [valor: 3,50 pontos]
3 valor dos bens subtraídos e primariedade do agente; [valor: 3,50 pontos]
4 concurso de crimes e sua consequência. [valor: 3,75 pontos]

QUESTÃO 5 – RASCUNHO
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QUESTÃO 6

Dois homens — um empunhando um revólver; o outro, uma faca — abordaram, por volta de
20 h 30 min de determinado dia, duas moças que caminhavam em uma rua e as ameaçaram, exigindo que
lhes entregassem seus telefones celulares, tendo sido prontamente atendidos. Comunicado o fato, a
autoridade policial instaurou inquérito policial e, dois dias depois, os investigadores chegaram aos dois
suspeitos, conhecidos pela contumácia na prática dessa ação criminosa. Levados os suspeitos à delegacia,
as vítimas prontamente os reconheceram como autores dos roubos, mas sem que a autoridade policial
observasse as normas do Código de Processo Penal que regulam o procedimento de reconhecimento de
pessoas (art. 226 do Código de Processo Penal).

A partir da situação hipotética acima apresentada, elabore um texto fundamentado no posicionamento dos tribunais superiores, respondendo
aos seguintes questionamentos.

1 Em que consiste o reconhecimento de pessoa? [valor: 4,25 pontos]


2 Em que fase da persecução penal deve ocorrer o reconhecimento de pessoa? [valor: 5,00 pontos]
3 Dadas as circunstâncias descritas na situação hipotética em apreço, poderá haver nulidade no auto de reconhecimento de pessoa
e, em consequência disso, a anulação do processo penal instaurado com base no inquérito policial? [valor: 5,00 pontos]

QUESTÃO 6 – RASCUNHO
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QUESTÃO 7

Com relação aos meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas, discorra sobre o
instituto da ação controlada, previsto na Lei n.º 12.850/2013 — que estabelece, entre outros, preceitos legais sobre os crimes
organizados —, abordando, necessariamente, os seguintes aspectos.

1 Conceito e alcance do instituto. [valor: 7,25 pontos]


2 Exigência ou não de prévia ordem judicial para a adoção do procedimento pela autoridade policial, à luz da previsão legal e dos
posicionamentos doutrinários sobre o assunto. [valor: 7,00 pontos]

QUESTÃO 7 – RASCUNHO

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QUESTÃO 8

A Lei n.º 11.340/2006, também conhecida como Lei Maria da Penha, criou mecanismos para coibir
e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, estabelecendo, entre outras, medidas de
proteção às mulheres em situações de abuso e de agressões.

Considerando as disposições da lei em referência e o entendimento dos tribunais superiores, discorra sobre os seguintes tópicos.

1 Procedimento a ser instaurado pela autoridade policial nos crimes de lesão corporal leve, de ameaça e de injúria cometidos contra
a mulher em situação de violência doméstica, levando-se em consideração a natureza da ação penal nos respectivos crimes.
[valor: 5,25 pontos]
2 Possibilidade de retratação da vítima, no âmbito policial, quanto aos crimes indicados. [valor: 5,00 pontos]
3 Possibilidade de aplicação da Lei n.º 9.099/1995 e de seus institutos despenalizadores nos casos dos referidos crimes cometidos
em âmbito doméstico contra a mulher. [valor: 4,00 pontos]

QUESTÃO 8 – RASCUNHO

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QUESTÃO 9

Segundo Becker (Los extraños. 1971, p. 19), “os grupos sociais criam o desvio ao fazer as regras
cuja infração constitui o desvio e aplicar ditas regras a certas pessoas em particular e qualificá-las de
marginais (estranhos).” Tratando a respeito da mesma teoria, Gomes e Molina afirmam que a “desviação não
é uma qualidade intrínseca da conduta, senão uma qualidade que lhe é atribuída por meio de complexos
processos de interação social, processos estes altamente seletivos e discriminatórios.”

Considerando o texto acima, redija um texto dissertativo acerca da teoria defendida por Becker e explanada por Gomes e Molina.
Em seu texto, atenda ao que se pede a seguir.

1 Informe a denominação dessa teoria; [valor: 4,00 pontos]


2 Apresente as influências e a tese central da teoria em questão; [valor: 5,00 pontos]
3 Discorra sobre crime e criminoso sob a perspectiva da referida teoria. [valor: 5,25 pontos]

QUESTÃO 9 – RASCUNHO

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QUESTÃO 10

Responda ao seguinte questionamento:

Com base nos modelos dissuasório e restaurador de reação ao crime, qual resposta pode ser dada à prática dos delitos? Em sua resposta,
considere os seguintes aspectos:

1 posição da vítima, do criminoso e do Estado em cada um dos referidos modelos; [valor: 8,00 pontos]
2 críticas que podem ser feitas a cada um desses modelos. [valor: 6,25 pontos]

QUESTÃO 10 – RASCUNHO

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15
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO MARANHÃO
DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – 3.ª CLASSE
PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 1
Aplicação: 4/3/2018
PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO
1 Espera-se que o candidato, ao responder a questão, conceitue os serviços sociais autônomos (ou pessoas de cooperação
governamental) como entidades de natureza jurídica de direito privado que, embora não integrem o sistema da administração
pública indireta, colaboram com o poder público (pertencendo ao grupo de entidades paraestatais ou de colaboração, ou para
outros do “terceiro setor”), ao qual são vinculadas, por intermédio da execução de serviço de utilidade pública, em geral,
exercendo alguma atividade que produza benefício para determinados grupos sociais ou categorias profissionais.
2 Em relação à origem de recursos financeiros das entidades de serviços sociais autônomos, espera-se que o candidato se
refira às contribuições parafiscais a elas destinadas, que, estabelecidas por diversas leis, são recolhidas compulsoriamente pelos
contribuintes, ou seja, são patrocinadas por recursos recolhidos do setor produtivo beneficiado (STF, RE 789874/DF). Assim,
elas são fontes de custeio das atividades relacionadas aos objetivos institucionais — é o caso, por exemplo, da contribuição
prevista no art. 240 da CF/1988 (“Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto no art. 195 as atuais contribuições compulsórias dos
empregadores sobre a folha de salários, destinadas às entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas
ao sistema sindical”).
Observação: a indicação de outras fontes de recursos eventualmente existentes do Sistema “S”, além da contribuição
parafiscal, como doações ou repasses mediante convênios ou outros instrumentos por parte de órgãos públicos, será levada em
consideração apenas para demonstração de domínio de conteúdo do candidato.
3 Espera-se, ainda, que o candidato afirme que, por arrecadarem contribuições parafiscais de recolhimento obrigatório,
caracterizadas como dinheiro público, as entidades denominadas serviços sociais autônomos se submetem a controle por parte
do tribunal de contas, em obediência aos termos do próprio art. 71, II, da CF/1988 (Art. 71. O controle externo, a cargo do
Congresso Nacional, será exercido com auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete: (...) II – julgar as contas dos
administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as
fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio
ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público; (...)”. Nesse sentido, consulte-se José dos Santos Carvalho
Filho. Manual de direito administrativo. 29.ª ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 556-9 e 1.046-7. Assim, a CF assegura a autonomia
administrativa a essas entidades, sujeitas, formalmente, apenas ao controle finalístico, pelo Tribunal de Contas, da aplicação dos
recursos recebidos (STF, RE 789874/DF).
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO MARANHÃO
DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – 3.ª CLASSE
PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 2
Aplicação: 4/3/2018
PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO
Torturar é constranger alguém para obter informação ou confissão, mediante a prática de violência física, psicológica
ou moral. A Constituição Federal perfilha expressamente, no art. 5.º, III, a proibição à tortura, assinalando que ninguém poderá
ser submetido a tortura, nem a tratamento desumano ou degradante. Assim, cuida-se de “direito absoluto, insuscetível de
relativizações, sob pena de se fulminar o arcabouço do estado democrático de direito.” (Uadi Lammêgo Bulos. Curso de direito
constitucional. Ed. Saraiva, 10.ª ed., p. 566 ss).
Dessa forma, os agentes em questão violaram direito fundamental previsto na Constituição, ao proceder a técnicas
ilícitas de constrangimento ilegal, ainda que o resultado tenha sido a obtenção de informações que acabaram por levar à
descoberta do crime.
Observação: a indicação de efeitos genéricos ou específicos da condenação serão levados em consideração para fins de
correção.
Importante destacar que o art. 5.º, inciso XLIII, determina que a lei considere como crime inafiançável e insuscetível
de graça ou anistia a prática da tortura, respondendo pelo crime os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-lo, se
omitirem, sejam eles agentes públicos ou não.
A utilização de algemas deve estar lastreada em razões justificadoras da sua necessidade, conforme consta na Súmula
Vinculante n.º 11, que deverá ser expressamente mencionada pelo candidato: só é lícito o uso de algemas em casos de resistência
e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da
prisão ou do ato processual a que se refira, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.
Assim, a utilização de algemas é excepcional; não utilizá-las é a regra, nos moldes da jurisprudência do STF,
representada aqui na Rcl. 22.557, relator ministro Edson Fachin, que informa que a exceção exige fundamento idôneo
devidamente justificado na forma escrita.
Portanto, a excepcional utilização de algemas será possível desde que fundamentada expressamente pela autoridade
responsável.
Em resumo, nas quinze linhas disponíveis, deverá o candidato destacar que
2.1 a Constituição Federal reconhece expressamente, no art. 5.º, III, a proibição à tortura, como direito absoluto e
insuscetível a relativizações; e que o art. 5.º, inciso XLIII, determina que a lei considere como crime inafiançável
e insuscetível de graça ou anistia a prática da tortura;
2.2 o art. 5.º, inciso XLIII, estabelece que devem responder pelo crime de tortura os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-lo, se omitirem. Assim, erraram os agentes que utilizaram os meios de constrangimento ilegal,
devendo ser responsabilizados na forma da lei.
2.3 a Súmula Vinculante n.º 11 assinala que só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio
de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e
de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refira, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.
A jurisprudência dominante no STF é a de que a utilização de algemas não é arbitrária, desde que justificada, por
escrito, para impedir fuga ou reação indevida do preso. Portanto, a excepcional utilização de algemas será possível
desde que fundamentada expressamente pela autoridade responsável.
Acrescenta-se que a apresentação do custodiado algemado à imprensa pelas autoridades policiais não afronta o
Enunciado 11 da Súmula Vinculante, tendo em vista, ainda, que, no julgamento do Rcl 7116/PE, Rel. Min. Marco Aurélio 1ª
Turma, julgado em 24/5/2016 (Info 827), a prisão precedeu de ordem judicial.
Observação: a indicação sobre a configuração de ato de improbidade bem como a vedação sobre o uso de algemas em
mulheres grávidas durante o trabalho do parto serão levadas em consideração apenas para fins de demonstração de domínio
jurídico do candidato.
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO MARANHÃO
DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – 3.ª CLASSE
PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 3
Aplicação: 4/3/2018
PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO
A identificação de petéquias, cianose, cogumelo de espuma, congestão cervicofacial, presença de corpos estranhos sob
as unhas (achados externos), bem como de corpos estranhos na traqueia, líquido nas vias aéreas, enfisema aquoso, manchas de
Paltauf, petéquias pulmonares, petéquias cardíacas, fluidez sanguínea e congestão polivisceral (achados internos), sugerem a
ocorrência de morte por afogamento.
Independentemente da causa da morte, espera-se encontrar em um corpo que permaneceu submerso por três dias os
seguintes achados, ou de parte deles: “mãos de lavadeira”, destacamento epidérmico, lesões por arrastamento, lesões por ação
da fauna aquática, mutilações por hélices de embarcações, lesões pelas manobras de resgate do corpo, pele anserina, mancha
verde da putrefação no esterno e na região cervical.

O enunciado requer do candidato a indicação de apenas quatro vestígios - externos e(ou) internos, encontrando-se, no
padrão de resposta, um rol exemplificativo e não exaustivo, no qual serão considerados outros vestígios pacificamente entendidos
pela doutrina médica-legal.
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO MARANHÃO
DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – 3.ª CLASSE
PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 4
Aplicação: 4/3/2018
PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO
1 Houve a prática de crime por João, consistente no delito de estupro de vulnerável. (Art. 217-A do Código Penal).
2 O fato de a vítima ter dado o seu consentimento não afasta a ocorrência do crime de estupro de vulnerável. Isso porque
tal crime se configura como prática de conjunção carnal com menor de quatorze anos de idade, independentemente da presença
de grave ameaça ou violência (real ou presumida), pois o crime possui presunção absoluta de violência, que não é
descaracterizada pelo consentimento da vítima. A tipificação do crime de estupro de vulnerável visa proteger crianças e
adolescentes menores de quatorze anos de idade contra todo e qualquer tipo de iniciação sexual a que sejam submetidos por um
adulto, dados os riscos que isso representa ao desenvolvimento de sua personalidade e as consequências físicas e psíquicas para
o futuro. Assim, o consentimento da vítima não é válido, já que ela ainda não é capaz de tomar livremente uma decisão dessa
natureza, o que leva o agente a responder pelo crime em questão.
3 A existência de um relacionamento amoroso entre o agente e a vítima bem como a existência de experiência sexual
anterior de vítima menor de quatorze anos de idade também não afastam a ocorrência do crime de estupro de vulnerável. Ainda
que comprovados um suposto romance entre ambos e(ou) alguma experiência sexual anterior, tais situações se mostram
irrelevantes, pois o crime de estupro de vulnerável se consuma tão somente com a conjunção carnal e possui presunção absoluta
de violência.
4 No caso em análise, não ocorreu erro de proibição: este ocorre quando o agente pratica a conduta sem ter a consciência
de que o seu comportamento contraria o ordenamento jurídico. Todavia, em razão da presunção absoluta de violência, o agente
não tem a possibilidade de alegar que praticou a conjunção carnal com a vítima menor de quatorze anos de idade sem ter a
consciência da ilicitude do fato, ou que não lhe era possível atingir esse conhecimento diante das circunstâncias do fato. O crime
de estupro de vulnerável, portanto, não admite o erro de proibição. Ademais, ao afirmar que sabia que a vítima tinha treze anos
de idade, o agente demonstrou ter consciência de que mantinha relacionamento sexual com uma adolescente protegida pela lei,
sendo-lhe exigido o claro entendimento, como adulto, da ilicitude do delito de praticar conjunção carnal com menor de quatorze
anos de idade.

Jurisprudência

Nesse sentido, estão a Súmula n.º 593 do STJ: “O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática
de ato libidinoso com menor de quatorze anos de idade, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do
ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.”; e também o entendimento do STF
- HC 105.558, relatora ministra Rosa Weber, Primeira Turma, julgado em 22/5/2012, DJe de 12/6/2012.

A presunção de violência no crime de vulnerável, menor de 14 anos, não é elidida pelo consentimento da vítima ou pela
experiência anterior e a revisão dos fatos considerados pelo juízo natural é inadmita da via eleita, porquanto enseja revolvimento
fático-probatório dos autos. Precedentes: ARE 940.701-AgR, Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 12/04/2016, e HC
119.091, Segunda Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe 18/12/2013 (STF, HC 124830 AgR, 1T., j. 20/04/2017).
A jurisprudência desta Corte Suprema perfilha entendimento de ser absoluta a presunção de violência nos casos de crime
de estupro praticado contra menor de catorze anos (estupro de vulnerável), independentemente da conduta ter sido praticada
antes ou depois da vigência da Lei n.º 12.015/2009. Precedentes. (STF, ARE 940701, j. 08/03/2016).
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO MARANHÃO
DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – 3.ª CLASSE
PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 5
Aplicação: 4/3/2018

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


1 José praticou o crime de furto qualificado e privilegiado (art. 155, § 2.º e § 4.º, III, do CP), uma vez que a qualificadora
do emprego de chave falsa, por ser objetiva, pode coexistir com o privilégio decorrente do pequeno valor dos bens subtraídos e
da primariedade do agente, que é uma circunstância subjetiva. Assim, o privilégio estatuído no § 2º do artigo 155 do Código
Penal é compatível com as qualificadoras do delito de furto, desde que sejam de ordem objetiva, cuja exegese está na Súmula
511 deste Superior Tribunal de Justiça.
2 O emprego de chave falsa qualifica o crime de furto, já que é uma das circunstâncias objetivas previstas no rol das
qualificadoras do crime de furto.
Observação: a situação-hipotética já trouxe como assertiva que se tratava de emprego de chave falsa, portanto,
desnecessária a existência da perícia, além de que, segundo o STJ, é dispensável o exame pericial para a Caracterização Da
Qualificadora Do Crime De Furto (Agrg No Aresp 886.475/Sc, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em
13/09/2016, DJe 26/09/2016).
3 O valor dos bens subtraídos, somados, totaliza R$ 300, montante que não permite a aplicação do princípio da
insignificância, pois é superior a 10% do salário mínimo vigente, e indica um potencial lesivo e relevante da conduta aos
patrimônios das vítimas. Todavia, tal quantia, ainda que não insignificante, é de pequeno valor, pois inferior ao valor do salário
mínimo vigente, e permite a incidência do privilégio nos furtos cometidos. A primariedade do agente, circunstância de natureza
subjetiva, uma vez devidamente atestada, como o foi, em conjunto com o pequeno valor dos bens, permite a incidência do
privilégio nos furtos praticados.
4 No caso em análise, houve a prática de dois crimes de furto qualificado e privilegiado, visto que a conduta do agente
atingiu patrimônios diversos, o da empresa e o do vigia. Note-se que José tinha consciência de que se tratava de patrimônios
distintos, já que o estabelecimento vendia material para construção, e não telefones celulares. Assim, temos uma hipótese de
concurso de crimes, especificamente, o concurso formal. O concurso formal fica caracterizado em razão de o agente ter praticado,
em uma mesma e única ação, dois crimes idênticos de furto, mas que atingiram patrimônios diversos. (STJ, HC n. 228.777/MG,
Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 21/5/2013; AgRg no AREsp 836395 / DF, Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma
DJe 17/03/2016). Nesse caso, tem incidência o art. 70 do CP, que determina a aplicação de somente uma das penas de um dos
crimes de furto, aumentada de um sexto até a metade.

Observação: não será levada em consideração, para fins de correção, a indicação do candidato quando tratar de concurso
formal impróprio ou próprio.

Jurisprudência

Nesse sentido a Súmula n.º 511 do STJ determina: “É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2.º do art. 155 do
CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a
qualificadora for de ordem objetiva.” E ARESP 1.211.551 – STJ, sobre a possibilidade do privilégio no furto em concurso formal.
Ainda: HC 115.266 – STF: “5. Reconhecimento do privilégio previsto no art. 155, § 2.º, do CP: primariedade do agente e pequeno
valor da res furtiva. 6. Ordem parcialmente conhecida e deferida apenas para reconhecer o furto
privilegiado-qualificado, determinando ao juízo das execuções criminais que promova nova dosimetria da pena, nos termos do
art. 155, § 2.º, do CP.” E, ainda, RHC 115.225; HC 97.752 e HC 94.765 – STF). Sobre o pequeno valor: HC 111.138 – STF, Dje
13/2/12: “RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PENAL. FURTO. PEDIDO DE RECONHECIMENTO DE
FURTO PRIVILEGIADO (ART. 155, § 2.º, DO CÓDIGO PENAL): IMPOSSIBILIDADE. NÃO PREENCHIMENTO DO
REQUISITO SEGUNDO O QUAL A COISA SUBTRAÍDA TEM DE SER DE PEQUENO VALOR. 1. Para o reconhecimento
de furto privilegiado, o Código Penal exige como segundo requisito que a coisa objeto do furto seja de pequeno valor. Na espécie
vertente, os bens subtraídos foram avaliados em R$ 500, valor superior ao salário mínimo vigente à época do fato, R$ 350, (Lei
n.º 11.321/2006).”
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DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – 3.ª CLASSE
PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 6
Aplicação: 4/3/2018
PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO
1 Como meio processual de prova, eminentemente formal, conforme Aury Lopes Júnior, “o reconhecimento é um ato
através do qual alguém é levado a analisar alguma pessoa ou coisa e, recordando o que havia percebido em um determinado
contexto, compara as duas experiências”. O reconhecimento de pessoas tem por finalidade identificar o acusado, o ofendido ou
as testemunhas.
Determina o Código de Processo Penal que, havendo necessidade do reconhecimento de pessoa, aquele que tiver de
fazê-lo, normalmente vítima ou testemunha, deve, primeiramente, descrever as características físicas da pessoa a ser reconhecida,
que será, em seguida, se possível, colocada ao lado de outras pessoas com características assemelhadas. Logo após, a testemunha
- ou a vítima - é convidada a apontá-la. Havendo razão para recear que a vítima - ou a testemunha -, em razão de intimidação
sofrida ou outra influência qualquer, possa não falar a verdade à frente da pessoa a ser reconhecida, a autoridade providenciará
para que o suspeito não veja quem o está reconhecendo. Essa regra não será aplicada quando o reconhecimento for realizado
durante a fase da instrução criminal ou em plenário do júri.
2 O reconhecimento de pessoa pode ocorrer na fase do inquérito policial, por iniciativa da autoridade policial, ou durante
a instrução do processo, a requerimento das partes ou por determinação do juiz.
3 Apesar da clareza da lei e da crítica de muitos doutrinadores, o STJ tem decidido reiteradamente que as regras
estabelecidas no CPP configuram recomendação legal, e não uma exigência absoluta, não se cuidando, portanto, de nulidade
quando praticado o ato processual de reconhecimento pessoal de forma diversa da prevista em lei. Portanto, não poderá haver
nulidade no auto de reconhecimento de pessoa na hipótese, nem a anulação do processo penal instaurado com base nesse inquérito
policial.

JUSTIFICATIVA

CPP, Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma:
I − a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
II − a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer
semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;
III − se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência,
não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela;
IV − do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder
ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
Parágrafo único. O disposto no n.º III desse artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento.

1. É pacífico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que é legítimo o reconhecimento pessoal ainda quando
realizado de modo diverso do previsto no art. 226 do Código de Processo Penal, servindo o paradigma legal como mera
recomendação (RHC 67.675/SP, Relator Ministro Felix Fischer, DJe 28/3/2016).
(RHC 82226 / SP, Relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, Data do Julgamento: 25/4/2017. Data da
Publicação/Fonte: DJe 3/5/2017).
1. O acórdão recorrido está alinhado à jurisprudência desta Corte Superior, no sentido de que as disposições contidas no art. 226
do Código de Processo Penal configuram uma recomendação legal, e não uma exigência absoluta, não se cuidando, portanto, de
nulidade quando praticado o ato processual (reconhecimento pessoal) de forma diversa da prevista em lei. Precedentes.
(AgRg no AREsp 1054280 / PE. Relator Ministro Sebastião Reis Júnior. Sexta Turma. Data do Julgamento: 6/6/2017. Data da
Publicação/Fonte: DJe 13/6/2017).
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO MARANHÃO
DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – 3.ª CLASSE
PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 7
Aplicação: 4/3/2018

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


Conforme o art. 8.º da Lei n.º 12.850/2013, consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou
administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e
acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz para a formação de provas e a obtenção de
informações. Trata-se de uma regra que excepciona a prisão em flagrante, obrigatória para a autoridade policial e seus agentes,
permitindo, assim, postergar a sua realização. Quanto ao seu alcance, o art. 8.º da referida lei, que não restringe o procedimento
às ações policiais, faz expressa menção às intervenções administrativas (receitas estaduais e federais, componentes da Agência
Brasileira de Inteligência, membros de corregedorias, por exemplo). Segundo lição de Luiz Flávio Gomes e Marcelo Rodrigues
da Silva, na obra Organizações criminosas e técnicas especiais de investigação (Salvador: Juspodivum, 2015), não se trata
apenas do flagrante ou de retardar o flagrante. São hipóteses de não prender em flagrante, não cumprir mandado de prisão
preventiva, não cumprir mandado de prisão temporária, não cumprir ordem de sequestro e apreensão de bens. A ação controlada
é algo mais amplo do que o simples flagrante prorrogado.
Observação: será apenado o candidato que nominar a ação controlada como flagrante diferido ou retardado ou
prorrogado, uma vez que este aspecto não será levado em consideração para fins de correção.
Quanto à necessidade de prévia autorização legal para a adoção do procedimento, assim dispôs o parágrafo 1.º do art.
8.º da Lei n.º 12.850/2013:

Art. 8.º (...) parágrafo1.º – O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente
comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério
Público.

A esse respeito, Luiz Flávio Gomes e Marcelo Rodrigues da Silva, em entendimento minoritário, asseveram que o
procedimento policial depende de prévia autorização judicial, pois a autoridade policial não teria legitimidade para a medida.
Discorda de tal posicionamento, em consonância com a maioria dos autores brasileiros, Renato Brasileiro Lima, na obra
Legislação especial criminal comentada (4.ª ed., Salvador: Juspodivum, 2016), nos seguintes termos: “A nova Lei das
organizações criminosas em momento algum faz menção à necessidade de prévia autorização judicial. Refere-se tão somente à
necessidade de prévia comunicação à autoridade judiciária competente. Aliás, até mesmo por uma questão de lógica, se o
dispositivo legal prevê que o retardamento da intervenção policial ou administrativa será apenas comunicado previamente ao
juiz competente, forçoso é concluir que sua execução independe de autorização judicial. (...)”. Tal entendimento é, também,
defendido pelo STJ.
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO MARANHÃO
DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – 3.ª CLASSE
PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 8
Aplicação: 4/3/2018

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


1 O STF, na ADI n.º 4.424/DF, Rel. Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, firmou a orientação de que a natureza da
ação do crime de lesões corporais praticadas no âmbito doméstico é sempre pública incondicionada, sem possibilidade de
retratação da vítima, não importando a extensão da lesão (leve, grave ou gravíssima, dolosa ou culposa). De igual forma, o STJ
publicou a Súmula 542, nos seguintes termos: “A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência
doméstica contra a mulher é pública incondicionada” Em casos tais, o delegado de polícia, de ofício, deverá instaurar o
inquérito policial, sendo irrelevante a representação da vítima ou a sua posterior retratação, visto que incabível em qualque r
esfera. Com relação aos crimes de ameaça e injúria, estes são de ação penal pública condicionada ou ação penal privada,
conforme os dispositivos próprios do Código Penal. Esse entendimento foi destacado pelo STF, no julgamento da ADI n.º
4.424/DF, afirmando-se a permanência da necessidade de “representação” para o processo e julgamento desses crimes. A Lei
Maria da Penha estabelece que todo caso de violência doméstica e intrafamiliar deve ser apurado por meio de inquérito policial
e ser remetido ao Ministério Público. À vista disso, independentemente da pena prevista para os crimes de ameaça e injúria,
que, de regra, são alcançados pela Lei n.º 9.099/1995, tais delitos, no âmbito da violência doméstica, devem ser apurados por
meio de inquérito policial, tendo como condição de procedibilidade a representação da ofendida.

2 Uma vez instaurado o inquérito policial, é incabível, no âmbito policial, a retratação da ofendida, o que somente pode
ocorrer perante a autoridade judiciária competente, nos exatos termos do art. 16 da Lei n.º 11.340/2006, que dispôs que, nas
ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida (crimes de ameaça e injúria), só será admitida a renúncia à
representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e
ouvido o Ministério Público. No caso da lesão corporal leve, precisamente por ser um crime apurado por ação pública
incondicionada, não cabe o instituto da retratação.
De acordo com a Lei Maria da Penha — art. 16: nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida
de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente
designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
3 Quanto à aplicabilidade da Lei n.º 9.099/1995 e, por consequência, de seus institutos
despenalizadores, a própria Lei Maria da Penha, em seu art. 41, veda a aplicação da
Lei n.º 9.099/1995 às hipóteses de violência contra a mulher, o que alcança toda e qualquer prática delituosa, a exemplo dos
delitos e das contravenções que, em razão das penas aplicadas, seriam abrangidos pelo procedimento especial. Por
consequência, ao suposto ofensor não serão conferidos os institutos da suspensão condicional do processo, da transação penal
e da composição civil dos danos.
Na Lei Maria da Penha, art. 41, se encontra a determinação seguinte: “aos crimes praticados com violência doméstica
e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n.º 9.099/1995, de 26 de setembro
de 1995.”
Acerca do tema, vide STF - ADI 4424 DF, Rel. Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJe 1/8/2014.

A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada, e os crimes de ameaça e injúria podem ser de ação penal pública condicionada ou de ação penal privada, nos
termos do Código Penal.
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO MARANHÃO
DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – 3.ª CLASSE
PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 9
Aplicação: 3/4/2018

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


1 – Denominação da teoria

A teoria de Becker, também exposta por Gomes e Molina, trata do labelling approach ou etiquetamento ou etiquetagem,
ou interacionista, rotulação ou reação social.

2 – Influências e tese central da teoria

Modelado pelo interacionismo simbólico e pela etnometodologia como esquema explicativo da conduta humana (o
construtivismo social), o labelling approach parte dos conceitos de “conduta desviada” e “reação social”, como termos
reciprocamente interdependentes, para formular sua tese central: a de que o desvio e a criminalidade não são uma qualidade
intrínseca da conduta ou uma entidade ontológica pré-constituída à reação social e penal, mas uma qualidade (etiqueta) atribuída
a determinados sujeitos por meio de complexos processos de interação social; isto é, de processos formais e informais de
definição e seleção.
Observação: para fins de correção, não será levada em consideração a discussão sobre a influência marxista ou não na
teoria do etiquetamento, e a indicação da fenomenologia será levada em consideração apenas para fins de demonstração de
domínio do conteúdo.

3 – Crime e criminoso conforme a teoria

Uma conduta não é criminal em si (qualidade negativa ou nocividade inerente) nem seu autor é um criminoso por
concretos traços de sua personalidade ou influências de seu meio ambiente. A criminalidade se revela, principalmente, como um
status atribuído a determinados indivíduos mediante um duplo processo: a definição legal de crime, que atribui à conduta o
caráter criminal, e a seleção, que etiqueta e estigmatiza um autor como criminoso entre todos aqueles que praticam tais condutas.
Consequentemente, não é possível, em estudos, dissociar a criminalidade desses processos. Por isso, mais apropriado que falar
da criminalidade (e do criminoso) é falar da criminalização (e do criminalizado), sendo esta uma das várias maneiras de se
construir a realidade social.
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO MARANHÃO
DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – 3.ª CLASSE
PROVA DISCURSIVA – QUESTÃO 10
Aplicação: 4/3/2018

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


1 – A posição da vítima, do criminoso e do Estado em ambos os modelos

O modelo clássico ou dissuasório, também denominado modelo retributivo, tem como base a punição do delinquente,
a qual deve ser intimidatória e proporcional ao dano causado. Os protagonistas nesse modelo são o Estado e o delinquente,
restando excluídas a vítima e a sociedade.

O modelo restaurador, integrador ou restaurativo busca o restabelecimento do status quo ante dos protagonistas do
conflito criminal. Com isso, visa recuperar o delinquente, proporcionar assistência à vítima e restabelecer o controle social
abalado pela prática do delito. O Estado assume posição mais dialógica, mediando soluções para além do estabelecimento da
pena.
Não se deve confundir modelos de reação do delito com as teorias justificadoras da pena, ainda que possam estar
ligados.

2 – As críticas que podem ser elaboradas a cada um dos modelos

No modelo clássico ou dissuasório, procura-se persuadir o delinquente a não praticar o delito por meio da intimidação
do sistema retributivo. Severas críticas são rendidas a esse modelo em decorrência da exclusão, por ele proposta, da vítima e da
sociedade, que, em realidade, têm importância fundamental no questionamento da gênese e da etiologia do delito; além disso,
esse modelo potencializa os conflitos em vez de resolvê-los, devido ao retribucionismo exagerado.

De forma exemplificativa, uma crítica à teoria do modelo restaurador, integrador ou restaurativo diz respeito à dúvida
sobre se o paradigma restaurador realmente pode compor conflitos ou se, na verdade, opera de modo a obscurecê-los,
restabelecendo relações de poder, na verdade, a partir de uma pretensa composição do conflito, como é o caso de questões
relacionadas à violência doméstica com a ofensa direta a bens como a vida e a integridade física.
CEBRASPE – PC/RJ – Edital: 2021

SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PROVA DISCURSIVA ESPECÍFICA – 1.º GRUPO


DIREITO PENAL – PONTO 1
QUESTÃO 1 [valor: 25,00 pontos]

Oswald, habilidoso hacker, aproveitou-se de uma vulnerabilidade no sistema informatizado para


invadir a conta de criptomoedas (representações digitais de valor sem formato físico, como o bitcoin) de
titularidade de Tarsila. Em seguida, ele transferiu as criptomoedas dela para uma conta de sua
titularidade e, com isso, aumentou o próprio patrimônio. Tarsila, vendo-se desapossada, procurou a
Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), para registrar o fato.

Nessa situação hipotética, qual é a correta subsunção a ser dada ao fato? Justifique sua resposta, expondo objetivamente os
entendimentos doutrinários porventura existentes.

QUESTÃO 2 [valor: 25,00 pontos]

A forma mais acabada da teoria do domínio do fato surge em 1963, em obra de Claus Roxin. Essa
teoria tem por objetivo traçar uma distinção entre as categorias de autor e partícipe em sentido amplo
(cúmplice e instigador) de um crime (GRECO, Luís; LEITE, Alaor. Autoria como domínio do fato. 2014,
p. 20). Contudo, a teoria do domínio do fato não pode ser aplicada a todas as classes de crimes.

Indique quais são, consoante a doutrina, as classificações delitivas que não admitem a aplicação da referida teoria, explicando
objetivamente a razão da sua inaplicabilidade nesses casos.

QUESTÃO 3 [valor: 25,00 pontos]

Daniel recebeu convite de Sebastião, seu amigo, para subtraírem o dinheiro do caixa de um
pequeno banco na cidade de São Sebastião do Alto. Ambos combinaram que utilizariam simulacros de
arma de fogo no assalto. Contudo, temendo por sua vida, e sem dar ciência a Daniel, Sebastião foi para
o ponto de encontro portando uma arma de fogo devidamente municiada. A dupla encontrava-se dentro
da agência bancária quando, em decorrência da reação do vigilante do banco, Sebastião disparou sua
arma, tendo o projétil atingido e matado um cliente que se encontrava na agência no momento do crime.

No que diz respeito ao concurso de pessoas, explique a situação jurídico-penal de Daniel na situação apresentada.

QUESTÃO 4 [valor: 25,00 pontos]

Dagoberto agredia, de forma useira e vezeira, seu enteado, Marcos, de 12 anos de idade,
causando-lhe, com tal agir, sofrimento físico e mental extremado. Assim agia sucessivamente, com o
intento de castigá-lo, pois soava evidente sua postura arredia, desobediente e desbocada. Tal padrão
correcional levou Mariana, tia do menor, a acionar a patrulha Maria da Penha da Polícia Militar do Estado
do Rio de Janeiro, guarnição essa que, no local, apurou o ocorrido e encaminhou à delegacia de polícia
Dagoberto, Marcos, Mariana e Sylvia, mãe do menor, a qual sempre assistia às ações de Dagoberto e
nada fazia para frustrá-las.

Considerando essa situação hipotética, aponte, de forma fundamentada, qual(is) conduta(s) penal(is) Dagoberto e Sylvia praticaram.
CEBRASPE – PC/RJ – Edital: 2021

SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PROVA DISCURSIVA ESPECÍFICA – 1.º GRUPO


DIREITO PROCESSUAL PENAL – PONTO 1
QUESTÃO 1 [valor: 25,00 pontos]

O governador de certo estado da Federação recebeu, indevidamente, em proveito próprio,


determinado valor, em concurso com outros agentes não detentores de foro por prerrogativa de função.
Tal valor foi utilizado em campanha para sua reeleição, mas não foi contabilizado em sua prestação de
contas, com o fito de ocultar a origem ilícita desse valor.

Em relação aos delitos cometidos nessa situação hipotética, responda de quem é a competência para julgá-los e se essa previsão se
mantém caso, no curso da persecução penal, seja decretada a prescrição do delito relativo à não contabilização da prestação de contas.
Justifique suas respostas com base no entendimento do Supremo Tribunal Federal, abordando divergências jurisprudenciais
porventura existentes.

QUESTÃO 2 [valor: 25,00 pontos]

Disserte a respeito da prisão temporária, abordando os seguintes aspectos:

1 adequação da prisão temporária ao Estado democrático de direito, aos direitos humanos e aos direitos fundamentais;
2 natureza jurídica da prisão temporária;
3 atual entendimento do Supremo Tribunal Federal a respeito dessa modalidade de prisão.

QUESTÃO 3 [valor: 25,00 pontos]

Deflagrada operação policial comandada por delegado de polícia, foi cumprido mandado de prisão temporária, após representação do
delegado ao juiz, pois o investigado detinha grande quantidade de tálio (Tl), capaz de gerar massivo dano. O advogado se insurgiu,
haja vista a inexistência de enquadramento legal. Tem razão o advogado? Agiu o delegado de polícia corretamente ao representar pela
prisão temporária? Explique.

QUESTÃO 4 [valor: 25,00 pontos]

Tício, Caio, Mévio e Semprônio ajustaram assaltar a agência do Banco do Brasil situada na Avenida
Nossa Senhora de Copacabana, Copacabana, Rio de Janeiro. Tício ficou na porta da agência, do lado de
dentro, controlando e rendendo os agentes de segurança, enquanto Caio, Mévio e Semprônio retiraram
todo o dinheiro dos caixas e do cofre.
Do outro lado da rua, um comissário de polícia, lotado na 13.a DP, que se situa ao lado do banco,
observava a ação dos criminosos e avisou seus colegas, que se postaram de atalaia do lado de fora da
agência. Quando saiu da agência, a quadrilha foi rendida, sem oferecer resistência, por policiais civis e
militares que já estavam aguardando do lado de fora. Os detidos receberam voz de prisão em flagrante e
todo o material (armas, dinheiro, touca ninja, documentos etc.) que estava com os bandidos foi
apreendido e encaminhado à 13.a DP.

Nessa situação hipotética, na qualidade de delegado de polícia de plantão na 13.a DP, qual providência legal você adotaria? Justifique
sua resposta.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 1.º GRUPO
Direito Penal – Ponto 1 – Questões 1 e 2
Aplicação: 03/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


QUESTÃO 1

A correta capitulação a ser dada ao fato passa primeiramente pela verificação de que houve uma subtração das criptomoedas, e
não a obtenção de vantagem indevida mediante fraude, o que afasta a caracterização do estelionato. Assim, o candidato deve
assinalar essa peculiaridade. A avaliação, aqui, passa por dois conceitos: 0 (zero), ou seja, o tema não foi abordado ou o candidato
disse que existe crime de estelionato; e 1 (um), quando o candidato indica que a subtração afasta o estelionato. O conceito 0
(zero) não determina a concessão de pontos. O conceito 1 (um) é avaliado em 5,75 pontos.

A segunda primeira parte da análise versa sobre a possibilidade ou não de caracterização de furto, assim como sobre o
afastamento do crime de estelionato, inexistente no caso concreto. O afastamento do crime de estelionato decorre da inexistência
de uma relação sinalagmática fraudulenta no caso concreto. Não há a menor dúvida de que não estão presentes as elementares
do art. 171 do CP. O crime de furto, ao seu turno, tem como objeto material — invariavelmente — uma coisa, que é sempre
corpórea. Criptomoedas — espécie do gênero criptoativos — são bens imateriais e, por conseguinte, não podem ser furtadas.
Assim, não há crime patrimonial a ser considerado, já que tanto o art. 155 quanto o art. 171 restam afastados. Aqui, os conceitos
serão subdivididos em: 0 (zero), ou seja, o tema não foi abordado, ou o candidato disse que o crime ocorrido no caso concreto é
o de estelionato, ou o candidato disse que criptomoedas podem ser furtadas; sem sequer mencionar a inocorrência do estelionato;
e 1 (um), ou seja, o candidato reconheceu corretamente a existência de um bem imaterial e não de uma coisa corpórea disse
incorretamente que o crime ocorrido, no caso concreto, é o de furto, mas acertou ao mencionar o afastamento do estelionato; 2
(dois), ou seja, se o candidato debateu se a criptomoeda pode ser considerada “coisa” para a finalidade de aplicação do art. 155
do CP, mas, equivocadamente, optou pelo reconhecimento do crime de furto e sequer mencionou o afastamento do estelionato;
3 (três), ou seja, se o candidato debateu se a criptomoeda pode ser considerada “coisa” para a finalidade de aplicação do art. 155
do CP, mas, equivocadamente, optou pelo reconhecimento do crime de furto, reconhecendo, ainda, o afastamento do estelionato;
4 (quatro), ou seja, se o candidato reconheceu corretamente a existência de um bem imaterial e não de uma coisa corpórea, com
afastamento do crime de furto.

Resta a análise da violação de dispositivo informático, que, hoje, dispensa a burla a mecanismo de segurança (art. 154-A do CP).
Nessa esteira, deve ser abordada a discussão sobre se a invasão de plataformas meramente virtuais (que não correspondam
diretamente a um hardware), como contas de e-mail, de criptomoedas e de redes sociais, por exemplo, caracterizam ou não o
crime. Devem ser mencionadas ambas as posições: (a) apenas as condutas que incidam diretamente sobre hardwares (laptops,
pen drives etc.) caracterizam o crime; (b) a invasão de plataformas meramente digitais também se presta à caracterização do
crime, até porque, em última análise, há um servidor (hardware) onde ficam hospedadas essas plataformas. A menção ao art.
154-A do CP deve vir acompanhada de referência ao seu § 2º, que traz a forma majorada pela ocorrência de prejuízo econômico.
Será atribuída pontuação parcial, ainda, a quem, tipificando a conduta incorretamente como crime de furto, entendeu pela
absorção do crime do art. 154-A, § 2º, do CP, demonstrando conhecimento sobre as regras de concurso aparente de normas. O
tópico será dividido em dois conceitos: 0 (zero), ou seja, o tema invasão de dispositivo informático não foi abordado, ou o
candidato sustentou que o inexistente furto absorve a invasão de dispositivo informático; 1 (um), ou seja, o candidato mencionou
apenas uma das posições mencionadas existentes (há ou não há invasão de dispositivo informático na invasão de plataformas
virtuais), sem referência à majorante, ou sustentou que o inexistente furto absorve a invasão de dispositivo informático; e 2
(dois), ou seja, o candidato mencionou ambas as posições existentes (há ou não há invasão de dispositivo informático na invasão
de plataformas virtuais), mas não fez menção à majorante, ou mencionou apenas uma delas, com referência à majorante; 3 (três),
ou seja, o candidato mencionou ambas as posições existentes (há ou não há invasão de dispositivo informático na invasão de
plataformas virtuais) e ainda fez referência à majorante.
QUESTÃO 2

A teoria do domínio do fato, para alguns setores doutrinários, não se aplica aos delitos de dever (e, como consequência, aos
crimes omissivos impróprios e aos crimes próprios), aos crimes de mão própria, aos crimes omissivos próprios e aos crimes
culposos, consoante dicção doutrinária.

Delitos de dever ou delitos de infração de dever (espécies do gênero delitos especiais) são aqueles em que o autor ocupa uma
posição de dever extrapenal, como no caso dos crimes próprios, a qual é violada na prática delitiva. Como bem informa Roxin,
“a importância prática dos delitos especiais radica sobretudo no campo da delimitação entre autoria e participação (...)” (Derecho
Penal, 1997, p. 338). Como a violação ao elemento especial (posição de dever), nessa categoria de crimes, fundamenta a pena a
ser aplicada, não podem ser responsabilizados pelo delito aqueles que não ocupam a posição exigida pela norma, de modo que
não se pode falar que estes detém o domínio do fato. Assim se manifestam De Bem e Martinelli: “Nos delitos de infração de
dever, o fundamento da autoria não é o domínio do fato, e sim a violação do dever funcional. Portanto, aquele que concorre para
a prática desses delitos, sem possuir o dever funcional, será mero partícipe” (Direito Penal, 2022, p. 870-871). Entre os delitos
de dever estão os crimes omissivos impróprios. Nestes, deve ser ressaltado que, como não há controle ativo do acontecer causal,
igualmente se torna inaplicável a teoria do domínio do fato. Sequer a coautoria seria reconhecível: consoante Cirino, “segundo
a teoria dos delitos de dever, na omissão de cuidados do pai e da mãe, cada garante seria autor independente por omissão de ação
— e não coautor por omissão de ação” (Direito Penal, 2014, p. 361).

Os crimes de mão própria são aqueles em que o autor é pessoa determinada, ou, consoante Greco e Leite (Autoria como domínio
do fato, 2014, p. 33), é “quem pratica em sua própria pessoa a ação típica, sendo impossível a autoria mediata e a coautoria”. De
Bem e Martinelli salientam que, nos crimes de mão própria, “não se transfere a autoria da conduta por ser considerado um crime
personalíssimo” (Direito Penal, 2022, p. 520). Como o que caracteriza o crime de mão própria é a infração de um dever
personalíssimo, sendo certo que o detentor desse dever deve praticar o núcleo do tipo, tornam-se impossíveis a autoria mediata
e o domínio funcional do fato, restando descaracterizada a teoria do domínio do fato.

No tocante ao delito culposo, que é o descumprimento de um dever objetivo de cuidado erigido à qualidade de infração penal
pelo legislador, com a realização do risco proibido em um resultado concreto, o tema suscita mais dúvidas, pois o próprio Roxin,
embora tenha classificado inicialmente tais delitos como crimes de dever, não é absolutamente refratário à coautoria culposa
(GRECO; LEITE. Autoria como domínio do fato, 2014, p. 34-35). Bitencourt, todavia, sustenta a inaplicabilidade da teoria do
domínio do fato aos crimes culposos, sob a alegação de que “os delitos culposos caracterizam-se exatamente pela perda desse
domínio” (A teoria do domínio do fato e a autoria colateral, artigo digital publicado em 18/11/2012 em conjur.com.br). No
mesmo sentido, Pacelli e Callegari: “É que a forma do domínio do fato não é aplicável ao autor culposo, já que justamente não
tem tal domínio; autor culposo é, portanto, somente aquele que não aplica o dever de cuidado requerido no âmbito de relação”
(Manual de Direito Penal, 2015, p. 366). Essas posições se baseiam, em boa parte, flertam com a concepção finalista de Welzel,
sendo que nisso pode residir uma crítica a elas, como o faz Mir Puig (Derecho Penal, 2005, p. 374-375).

Já nos delitos omissivos próprios, a existência de um não-fazer é contrária ao que define a teoria do domínio do fato, amparada
em um controle ativo do curso causal.

Independentemente da existência de divergências, incumbe ao candidato expor todas essas situações (podendo contestá-las, se
assim lhe aprouver), a saber: delitos de dever — e, nessa toada, crimes omissivos impróprios e crimes próprios —, crimes de
mão própria, crimes omissivos próprios e crimes culposos. Ou seja, impõe-se a menção a quatro categorias de crimes. Deverá o
candidato explicar, outrossim, a razão pela qual não há a aplicabilidade da teoria.

Conceitos e distribuição de pontos:

5.1. Breve explicação sobre o que é a teoria do domínio do fato: conceito 0 (zero), quando não há nenhuma explicação ou quando
a explicação é errada; conceito 1 (um), quando a explicação é realizada corretamente.

5.2. Inaplicabilidade da teoria do domínio do fato aos delitos de dever: conceito 0 (zero), quando não há menção aos delitos de
dever; conceito 1 (um), quando há menção aos delitos de dever, mas não uma explicação ou quando esta é errada, ou quando só
há menção aos crimes omissivos impróprios ou só aos crimes próprios; conceito 2 (dois), quando há menção aos delitos de dever
e a explicação é correta, ou quando há menção aos delitos de dever, sem a consectária explicação ou quando a explicação é
errada, e menção aos crimes omissivos impróprios ou aos crimes próprios; conceito 3 (três), quando há menção aos delitos de
dever, com a correta explicação, e menção aos crimes omissivos impróprios ou aos crimes próprios.

5.3. Inaplicabilidade da teoria do domínio do fato aos crimes de mão própria: conceito 0 (zero), ou seja, não há menção; conceito
1 (um), quando há menção, mas não uma explicação ou quando a explicação é errada; conceito 2 (dois), quando há menção e a
explicação é correta.

5.4. Inaplicabilidade da teoria do domínio do fato aos crimes culposos e aos crimes omissivos próprios: conceito 0 (zero), ou
seja, não há menção; conceito 1 (um), quando há menção aos crimes culposos ou aos crimes omissivos próprios, mas não uma
explicação ou quando a explicação é errada; conceito 2 (dois), quando há menção aos crimes culposos ou aos crimes omissivos
próprios e a explicação é correta em relação a uma das posições existentes à categoria citada, ou quando há a menção aos crimes
culposos e aos crimes omissivos próprios, mas a explicação é errada, total ou parcialmente, ou inexistente; e conceito 3 (três),
quando há menção aos crimes culposos e aos crimes omissivos próprios e a explicação é correta.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 1.º GRUPO
Direito Penal – Ponto 1 – Questão 3
Aplicação: 03/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


A questão versava sobre a chamada “cooperação dolosamente distinta” no concurso de pessoas.
A resolução passava, necessariamente, pela interpretação do disposto no artigo 29, parágrafo 2.º, do Código Penal, cujo
fundamento é a divergência de vontades, manifestada pelo desvio doloso na realização do injusto penal.

Assim dispõe o dispositivo legal:


Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada
até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

O candidato deveria considerar os dados fornecidos na questão, os quais deixam claro que o pacto criminoso formado entre os
comparsas não envolvia o uso de arma de fogo verdadeira; muito menos municiada.

Daí a razão para que se reconheça o desvio subjetivo, que embasa a solução ideal: a impossibilidade de imputação do resultado
morte ao autor que não detinha conhecimento sobre a utilização da arma de fogo pelo coautor do roubo.

Em consequência, após abordar o tema com o necessário detalhamento técnico, cabia reconhecer a responsabilidade penal pelo
roubo para Daniel, dado o rompimento do monismo que o desvio subjetivo impõe.

Na sequência, deveria abordar se o caso era ou não de aumento de pena do crime de roubo, o que pressupunha analisar a
previsibilidade do resultado mais grave.
No caso, considerando que o acordo entre eles pressupunha a utilização de simulacros de armas, e que não foi dada ciência a
Daniel da utilização de arma de fogo municiada, resta imprevisível a ocorrência da morte, tal como posta (disparo de arma de
fogo pelo coautor), razão pela qual a responsabilidade penal de Daniel deve ser somente pelo roubo, sem acréscimo de pena
(artigo 157, § 2º, inciso II, do Código Penal).
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 1.º GRUPO
Direito Penal – Ponto 1 – Questão 4
Aplicação: 03/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


Dagoberto e Sylvia violaram normas penais estabelecidas na Lei n.º 9.455/1997. O primeiro infringiu o injusto do tipo
capitulado no art. 1.º, inciso II, da Lei n.° 9.455/1997, norma incriminadora responsável por punir aquele que submete alguém
sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental como
forma de aplicar castigo pessoal e(ou) medida de caráter preventivo. Tem-se, aqui, o que se convencionou chamar de tortura-
-castigo. Trata-se de conduta própria, eis que exige a qualidade e(ou) condição especial do agente. É dizer uma relação jurídica
antecedente entre agressor e vítima, o que torna o primeiro garante do segundo, quer seja pela lei, quer seja por outra relação
jurídica. Aqui, por óbvio, só poderá ser incriminado o violador que ostentar uma relação de guarda, vigilância, poder e(ou)
autoridade sobre a vítima (relembre-se de que, no caso concreto, Dagoberto figura como padrasto de Marcos). Tem-se, na
questão, nítida submissão de uma pessoa a castigo pessoal e(ou) medida de caráter preventivo extremo; daí porque se diz que a
finalidade é especial.
Quanto à Sylvia, não houve a prática efetiva de tortura, entendendo parte da doutrina que se está diante do que se
convencionou chamar de “tortura imprópria”. Assim, sua responsabilização se dará pela omissão. Isso porque sua inação permitiu
o ato de Dagoberto e, por conseguinte, as lesões em Marcos. Denota-se, portanto, um atuar nos moldes do injusto do tipo descrito
no art. 1.º, § 2.º, da mesma lei (Lei n.º 9.455/1997).
Não se pode esquecer a infelicidade do legislador ao criar tal norma incriminadora. A essa conclusão se chega porque
se verifica o abandono da “Teoria Monista”, firmada pelo art. 29 do Código Penal para, em caráter inédito, optar-se pela “Teoria
Pluralista” do concurso de agentes. Dito isso, acaso não existisse a norma em comento, aplicar-se-ia a regra do Código Penal,
permitindo-se que Sylvia respondesse pelo fato tal qual Dagoberto, conforme sua exata culpabilidade. Anote-se que, ocorrendo
esta hipótese, não se estaria mais diante de um crime omissivo próprio, mas, sim, de uma conduta comissiva por omissão,
permitindo-se, em razão da ausência de conduta verificada, a aplicação da regra estabelecida no art. 13, § 2.º, “a”, do CP.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 1.º GRUPO
Direito Processual Penal – Ponto 1 – Questões 1 e 2
Aplicação: 03/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


QUESTÃO 1

1. De quem é a competência para julgar os citados delitos? Fundamente e justifique sua resposta de acordo com o
entendimento do Supremo Tribunal Federal.

No caso concreto temos configurados os delitos de corrupção passiva (Art. 317, CP), falsidade ideológica eleitoral
(Art. 350 do Código Eleitoral e lavagem de dinheiro (Art. 1º, Lei 9.613/98). Os delitos do Art. 317 do Código Penal
e do Art. 1º, Lei 9.613/98 são em regra da Justiça Comum. Entretanto, o delito do Art. 350 do Código Eleitoral –
Falsidade ideológica eleitoral deverá ser julgado pela justiça eleitoral. Na hipótese ora versada, há o envolvimento de
Governador de Estado, o qual, nos crimes praticados no exercício da função e em razão desta (orientação firmada por
extensão a partir do julgamento, pelo STF, da APn 937), detém prerrogativa de função junto ao Superior Tribunal de
Justiça (art. 105, I, alínea a, da CF). Nesse esteio, por haver um contexto de conexão, deverá ser aprofundada a
possibilidade e justificativa de unificação ou cisão processual, mencionando a hipótese excepcional de o Governador
ser processado e julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, por força do art. 105, I, a, da Constituição da República,
caso reeleito. Em não o sendo, mencionar a hipótese de ser processado e julgado pela Justiça Eleitoral.

2. Se, no curso da persecução penal, for decretada a prescrição do delito relativo à não contabilização da prestação de
contas, a solução permanecerá a mesma da resposta anterior? Fundamente e justifique sua resposta de acordo com
entendimento do Supremo Tribunal Federal apontando, se houver, alguma eventual divergência.

A 2ª Turma do STF decidiu que, ainda que haja o reconhecimento da extinção da punibilidade pela prescrição do
delito eleitoral, a Justiça Eleitoral continuará competente para julgar os demais delitos conexos. No mais, aplica-se a
fundamentação e justificativa da resposta do item anterior.

QUESTÃO 2

1. Adequação com o Estado democrático de direito, direitos humanos e direitos fundamentais

Resposta esperada: A prisão temporária é uma espécie de prisão processual. Como princípio constitucional, consagra-
se a não culpabilidade, vedando a execução antecipada da pena. Existe permissivo constitucional para essa modalidade
de prisão no inciso LXI do art. 5.º. Nesse esteio, considerando que a regra da Magna Carta é a presunção de inocência,
toda e qualquer prisão cautelar (inclusive a prisão temporária) deve ser considerada como medida excepcionalíssima
e somente se mostra cabível quando preenchidos os estritos requisitos legais e de forma devidamente fundamentada
pela autoridade judicial competente. Assim, desde que respeitado o princípio da não culpabilidade (que veda a
execução antecipada da pena), nada impede que o legislador ordinário estabeleça uma modalidade de prisão cautelar
voltada a assegurar o resultado útil da investigação criminal ou do processo penal. Vale ressaltar que, além da
Constituição Federal, a Convenção Americana de Direitos Humanos e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
Políticos também não impedem ou proíbem a criação de prisões cautelares pelos Estados-
-partes.
2. Natureza jurídica

Resposta esperada: Modalidade de prisão cautelar, a fim de assegurar o resultado útil da investigação criminal,
devendo o preso temporário permanecer obrigatoriamente separado dos demais detentos.
3. Atual entendimento do Supremo Tribunal Federal a respeito dessa modalidade de prisão

Resposta esperada: Ainda que a prisão temporária esteja prevista em lei extravagante (Lei n.º 7.960/1989), o art. 282,
II, do CPP traz uma regra geral de aplicação a incidir sobre todas as modalidades de medida cautelar – seja de prisão
ou não –, as quais, em atenção ao princípio da proporcionalidade, devem observar a necessidade e a adequação em vista
da gravidade do crime, das circunstâncias do fato e das condições pessoais do representado. Somado a isso, decidiu o
STF que a prisão temporária não pode servir como uma prisão para averiguação, sendo que o rol do inciso III do art.
1.º da Lei n.º 7.960/1989 é taxativo. Trata-se de uma opção feita pelo Poder Legislativo, que, dentro de sua competência
constitucional, entendeu que deveria dar especial atenção a determinados crimes. Essa escolha é perfeitamente
compatível com a Constituição Federal. Esse rol não admite analogia ou interpretação extensiva. Isso porque, quando
se está em jogo a imposição de medidas cautelares penais restritivas da liberdade individual, vigora o princípio da
legalidade estrita. O processo penal não é apenas forma, mas também garantia limitadora do direito de punir estatal, o
qual deverá ocorrer sem arbítrios, estritamente com base na lei e, sobretudo, na Constituição Federal. Dessa maneira,
para que a intervenção estatal opere nas liberdades individuais com legitimidade, é necessário o respeito à estrita
legalidade e às garantias fundamentais. Do mesmo modo, a decisão que decretar a temporária deverá ser motivada e
fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação
da medida adotada. A doutrina denomina isso de princípio da atualidade ou contemporaneidade, segundo o qual a
urgência no decreto de uma medida cautelar deve ser contemporânea à ocorrência do fato que gera os riscos que tal
medida pretende evitar. A contemporaneidade diz respeito aos fatos que autorizam a medida cautelar e os riscos que ela
pretende evitar, sendo irrelevante, portanto, se a prática do delito é atual ou não. Trata-se não apenas de uma decorrência
lógica da própria cautelaridade das prisões provisórias, como também da consequência do princípio constitucional da
não culpabilidade. Por fim, o STF afirmou que não se deve aplicar o art. 313 do CPP à prisão temporária.

Resumindo o que o STF decidiu:

A decretação de prisão temporária somente é cabível quando


for imprescindível para as investigações do inquérito policial;
houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado;
for justificada em fatos novos ou contemporâneos;
for adequada à gravidade concreta do crime, às circunstâncias do fato e às condições pessoais do
indiciado; e
não for suficiente a imposição de medidas cautelares diversas.

STF. Plenário. ADI 4109/DF e ADI 3360/DF, rel. min. Carmen Lúcia, redator para o acórdão min.
Edson Fachin, julgado em 11/2/2022 (Info 1043).
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 1.º GRUPO
Direito Processual Penal – Ponto 1 – Questão 3
Aplicação: 03/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


O delegado pode representar pela prisão temporária (art. 2.º da Lei n.º 7.960/1989), segundo a letra da lei, não eivada
de inconstitucionalidade, conforme a jurisprudência pacífica. O crimes que enseja a decretação da prisão temporária, no caso da
questão, estão no art. 1.º, inciso III, letra p, da Lei n.º 7.960/1989. Ou seja, quanto aos requisitos da prisão temporária, estão
presentes. Quanto ao aspecto da atribuição, como a questão não mencionava, é preciso fazer a distinção entre o delegado de
polícia civil e o federal. Isso porque a atribuição, no caso em tela, é da Polícia Federal. Resumindo: quanto aos requisitos da
prisão temporária, estão presentes, ao passo que o candidato deveria fazer a distinção no que se refere à atribuição, mencionando
o problema. Ou seja, se foi delegado de polícia civil, lhe falta atribuição, ao passo que, se foi delegado de polícia federal, a
atribuição está correta.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 1.º GRUPO
Direito Processual Penal – Ponto 1 – Questão 4
Aplicação: 03/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


O Banco do Brasil tem a natureza jurídica de uma sociedade de economia mista. Desse modo, não sendo uma autarquia
nem uma empresa pública federal, a competência para processar e julgar o crime é da justiça estadual, por se tratar de competência
residual. Logo, caberá à autoridade policial da 13ª delegacia de polícia lavrar o APF contra Tício, Caio, Mévio e Semprônio pelo
crime de roubo. Não há declínio de atribuição à delegacia da Polícia Federal por se tratar do Banco do Brasil.
CEBRASPE – PC/RJ – Edital: 2021

SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PROVA DISCURSIVA ESPECÍFICA – 2.º GRUPO


DIREITO ADMINISTRATIVO – PONTO 3
QUESTÃO 1 [valor: 25,00 pontos]

Em 11/12/2010, José tomou posse no cargo de delegado de polícia civil por concurso ocorrido no
ano de 2007, em virtude de liminar deferida em ação cautelar, mesmo tendo sido reprovado na etapa de
exame psicotécnico e não tendo prosseguido para as demais etapas do concurso, como exame médico e
capacidade física. Em razão da liminar deferida, José exerceu o cargo de delegado de polícia por
seis anos, tendo inclusive exercido a função de delegado titular em duas delegacias distritais, quando foi
surpreendido pela cassação da referida decisão, com a consequente exoneração do cargo público.
Inconformado, José recorreu da decisão.

Considerando a hipótese em tela e fundamentando-se na doutrina e na jurisprudência dominantes, responda se assiste razão ao
recorrente.

QUESTÃO 2 [valor: 25,00 pontos]

Em janeiro de 2022, Maria estacionou seu veículo em local proibido no centro do Rio de Janeiro
para ir a uma conferência. Ao retornar ao veículo, verificou que fora autuada pela Guarda Municipal do
Rio de Janeiro (GM-RIO).

Considerando a situação hipotética apresentada, a doutrina e a jurisprudência acerca do poder de polícia exercido por entidades não
policiais, responda, de forma fundamentada, às perguntas a seguir.

1 A atuação da Guarda Municipal do Rio de Janeiro está de acordo com o ordenamento jurídico e o previsto no art. 144, § 8.º,
da Constituição Federal de 1988?
2 Existe a possibilidade de fiscalização e sanção decorrentes da atividade de policiamento de trânsito praticado por pessoa
jurídica de direito privado?

QUESTÃO 3 [valor: 25,00 pontos]

Considerando a responsabilidade dos servidores públicos, analise, em texto dissertativo devidamente fundamentado, os efeitos e a
repercussão da decisão penal pela prática de crimes funcionais, ou não, na esfera administrativa.

QUESTÃO 4 [valor: 25,00 pontos]

Diferencie descentralização e desconcentração administrativa, discorrendo sobre as entidades denominadas agências reguladoras e
sobre suas funções e características, considerada a teoria da captura.
CEBRASPE – PC/RJ – Edital: 2021

SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PROVA DISCURSIVA ESPECÍFICA – 2.º GRUPO


DIREITO CONSTITUCIONAL – PONTO 3
QUESTÃO 1 [valor: 25,00 pontos]

Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, cultuando a teoria racionalista, partiu do
pressuposto de que os povos viviam permanentemente em estado de guerra, no qual o individualismo e
a liberdade sem limites levariam à aniquilação do homem pelo homem. Assim, somente decidindo pela
renúncia ao estado de natureza, poderia o ser humano gerar as condições necessárias para fazer cessar a
instabilidade vivenciada nas relações sociais. Nesse contexto, o homem, para garantir a sobrevivência,
entrega sua liberdade ao Estado, para que este possa governar e proteger sua vida, submetendo-se a um
soberano.

Considerando a perspectiva comentada no texto anterior, de caráter unicamente motivador, defina contrato social.

QUESTÃO 2 [valor: 25,00 pontos]

Disserte acerca de mutação constitucional.

QUESTÃO 3 [valor: 25,00 pontos]

Leis editadas por certo estado da Federação, ambas de iniciativa parlamentar, criam os cadastros
estaduais de pedófilos e praticantes de violência contra a mulher. As leis atribuem à Secretaria Estadual
de Segurança Pública, ou outra a ser designada pelo governador do estado, a obrigação de criar, manter
e divulgar os referidos cadastros, disponibilizando nomes de pessoas suspeitas, indiciadas ou condenadas
por crimes contra a dignidade sexual praticados contra criança e(ou) adolescente, assim como de
pessoas condenadas por crimes de violência contra a mulher.

Considerando essa situação hipotética, avalie a constitucionalidade das referidas leis.

QUESTÃO 4 [valor: 25,00 pontos]

Um jornal publicou, em 8/5/2022, matéria que abordava o preconceito contra a população


LGBTQIA+ ao longo da história, indicando situações de discriminação e de segregação que deixam essa
população à margem da sociedade. No texto, o autor utilizou termos ofensivos, de forma pejorativa,
deixando clara a intenção de discriminar aquela coletividade.

Tendo como referência essa situação hipotética, discorra sobre liberdade constitucional de manifestação do pensamento, de acordo
com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
CEBRASPE – PC/RJ – Edital: 2021

SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PROVA DISCURSIVA ESPECÍFICA – 3.º GRUPO


MEDICINA LEGAL – PONTO 1
QUESTÃO 1 [valor: 25,00 pontos]

No dia 4/5/2022, uma equipe de policiais militares foi informada por transeuntes sobre um forte
odor proveniente do interior de uma residência abandonada. Ao chegarem à porta dessa residência, os
policiais perceberam que o portão estava aberto e que, no chão, havia um rastro de gotículas
semelhantes a sangue. Através de uma das janelas de vidro da residência, visualizaram um cadáver
humano. Então, preservaram o local e acionaram a polícia civil, para os procedimentos cabíveis. Durante
a perinecroscopia, o perito criminal descreveu que, no início da perícia, a casa estava totalmente fechada,
sem qualquer sinal de arrombamento. A vítima estava suspensa por uma corda, com uma grande coleção
sanguínea sob o corpo, devido à amputação bilateral das mãos (peças anatômicas que foram encontradas
dentro de uma sacola plástica hermeticamente fechada, no interior do canil da residência). Uma das
extremidades da corda estava fixada num caibro de madeira do telhado, enquanto a outra envolvia o
pescoço do cadáver num laço único, supra-hióideo, oblíquo, ascendente e descontínuo, cujo nó
tangenciava o osso occipital. O pé direito do cadáver era a única parte dele que estava em contato com o
solo. Ao lado da vítima, foi encontrada uma faca de cozinha suja de sangue. Por fim, o perito criminal
ainda descreveu o sinal de Romanese em sete lesões superficiais produzidas por arma branca, localizadas
na parte externa do antebraço direito do cadáver.

Com base nos dados apresentados na situação hipotética anterior, disserte, fundamentadamente, na qualidade de delegado de polícia
responsável pelas investigações, a respeito dos seguintes aspectos, para balizar a instauração do inquérito policial:

1 a modalidade de asfixia da vítima;


2 a energia/ação vulnerante nas lesões encontradas nas mãos do cadáver (conforme a classificação de Borri);
3 o sinal no antebraço do cadáver;
4 a provável causa jurídica da morte.

QUESTÃO 2 [valor: 25,00 pontos]

Explique, fundamentadamente, com menção aos dispositivos legais pertinentes, se é possível a inversão na ordem das etapas da cadeia
de custódia. Em seu texto, indique exemplos e seus respectivos dispositivos legais.

QUESTÃO 3 [valor: 25,00 pontos]

Um homem de 33 anos de idade, após libação alcoólica e consumo de drogas, envolveu-se em uma
briga com um casal e, em seguida, foi encontrado morto, com sinais de asfixia. Não foram exploradas
laboratorialmente as evidências cadavéricas, e a necropsia apontou um conjunto de evidências fracas que
levaram à causa mortis de esganadura.

A partir da situação hipotética precedente, discorra sobre o valor de eventual exumação meses após a inumação do cadáver
mencionado, abordando seu enquadramento no Código de Processo Penal (CPP), a dinâmica básica dessa perícia, sua técnica básica e
respectiva finalidade.

QUESTÃO 4 [valor: 25,00 pontos]

Equipe de investigação da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) deparou-se com uma


situação na qual os parâmetros papiloscópicos e antropométricos não poderiam ser aplicados de modo
inequívoco, cabendo, então, a análise do material genético. Nesse caso, para subsidiar a investigação de
uma informação válida em conformidade, o ensaio ou exame de perfil do ácido desoxirribonucleico (DNA)
deve atender a critérios mínimos.

Tendo como referência a situação hipotética anterior, disserte, de forma justificada, com base em conhecimentos de medicina legal,
sobre o princípio elementar da reação em cadeia de polimerase (PCR), comumente utilizada para determinar o perfil de DNA. Em seu
texto, aborde, ainda, cinco aplicações práticas dessa importante técnica na investigação criminal e, por fim, responda qual tipo de
exame deve ser solicitado pela autoridade policial na situação narrada, em função do encontro de tais vestígios, nos termos do Código
de Processo Penal (CPP).
CEBRASPE – PC/RJ – Edital: 2021

SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PROVA DISCURSIVA ESPECÍFICA – 3.º GRUPO


DIREITO CIVIL – PONTO 1
QUESTÃO 1 [valor: 25,00 pontos]

Devido ao avanço de uma pandemia, o prefeito de determinado município resolveu editar um


decreto tornando obrigatória a vacinação contra a covid-19 para todos os servidores municipais, com
sanções àqueles que se recusassem à vacina.
Um servidor público daquela localidade, não querendo se vacinar por acreditar que poderia sofrer
graves sequelas e mutações genéticas, entrou com medida judicial para não ser submetido à imunização,
alegando, para tanto, a inaceitável intervenção do Estado em sua liberdade e em sua vida privada, com
consequente violação dos direitos da personalidade.

Analise a situação objeto do texto precedente à luz da jurisprudência e da legislação brasileira. Fundamente sua análise.

QUESTÃO 2 [valor: 25,00 pontos]

O sistema protetivo do Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078/1990) se aplica aos serviços públicos? Fundamente sua
resposta.

QUESTÃO 3 [valor: 25,00 pontos]

Antônio comprometeu-se a construir em trinta dias um muro divisório entre sua propriedade e o
imóvel do seu vizinho João, a fim de conter as águas das chuvas e impedir a fuga dos animais domésticos
de João para o terreno ao lado. Passados dois meses sem a construção do muro, uma chuva torrencial
devastou a plantação de João com as águas oriundas da propriedade de Antônio, tendo acarretado,
ainda, o desaparecimento dos animais domésticos de João. Indignado, João interpelou Antônio, que,
inconformado, recusou-se a construir o muro.

Na situação descrita anteriormente, que alternativas restam a João, levando-se em consideração a situação de urgência? Fundamente
sua resposta.

QUESTÃO 4 [valor: 25,00 pontos]

Tobias, frustrado com o fim de seu namoro com Luciana, decidiu expor em seu perfil público em
rede social fotografias íntimas que mostravam os dois mantendo relações sexuais. Diante disso, Luciana
propôs ação de indenização por danos morais contra Tobias e a sociedade empresária que criou e
mantém a rede social em questão.

Nessa situação hipotética, à luz da legislação brasileira, a ação deve ser julgada procedente? Fundamente sua resposta.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 2.º GRUPO
Direito Administrativo – Ponto 3 – Questões 1 e 2
Aplicação: 04/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


QUESTÃO 1

Fontes: CARVALHO, 2021, p. 645 e STF, Plenário. RE 608482/RN, rel. min Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão
geral), Info 753. STF. 1.ª Turma. RMS 31538/DF, rel. orig. min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão min. Marco Aurélio, julgado em
17/11/2015 (Info 808).

A questão aborda as etapas de um concurso público, que é um procedimento administrativo que tem por fim aferir as aptidões
pessoais e selecionar os melhores candidatos ao provimento de cargos e funções públicas. Para tanto, cabe ao Estado verificar a
capacidade intelectual, física e psíquica dos interessados em ocupar funções públicas, em observância ao art. 37, II, da CF/88.

Diante disso, no caso em tela, o candidato não logrou êxito em passar na etapa de exame psicotécnico, capacidade psíquica para
o cargo, motivo pelo qual foi eliminado. Inconformado, ingressou com ação cautelar, tendo-lhe sido deferida liminar para
nomeação no cargo, por imposição do sistema normativo, sendo a execução provisória das decisões judiciais, fundadas que são
em títulos de natureza precária e revogável, sob a inteira responsabilidade de quem a requer.

Por outro lado, a revogação da nomeação acarreta efeito ex tunc, circunstância que evidencia sua inaptidão para conferir
segurança ou estabilidade à situação jurídica a que se refere. Assim, o candidato que toma posse em concurso público por força
de decisão judicial precária assume o risco de posterior reforma desse julgado, que, em razão do efeito ex tunc, inviabiliza a
aplicação da teoria do fato consumado em tais hipóteses.

Segundo o STF, a posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não implica a
manutenção, em definitivo, desse cargo por candidato que não atende à exigência de prévia aprovação em concurso público (CF,
art. 37, II), valor constitucional que prepondera sobre o interesse individual do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o
princípio da proteção da confiança legítima, pois conhece a precariedade da medida judicial. Em suma, não se aplica a teoria do
fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público por força de decisão judicial provisória e posteriormente revista.

QUESTÃO 2

1 No caso em tela, a Guarda Municipal do Rio de Janeiro é uma autarquia municipal, criada pela Lei Complementar
n.º 100/2009, sendo, portanto, pessoa jurídica de direito público, integrante da administração pública indireta, que desempenha
atividade típica de Estado, conforme art. 5.º, I, do DL n.º 200/1967. Destaque-se que, anteriormente, a Guarda Municipal era
empresa pública, de personalidade jurídica de direito privado.
Ao Estado cabe o poder de polícia no aspecto originário, alcança, em sentido amplo, as leis e os atos administrativos
provenientes das pessoas políticas da Federação. Desse modo, o poder de polícia consiste no dever estatal de limitar o exercício
da propriedade e da liberdade, em favor do interesse público.
No caso em tela, a fiscalização do trânsito, com aplicação das sanções administrativas legalmente previstas, embora
possa se dar ostensivamente, constitui mero exercício do poder de polícia. Nesse sentido, o CTB, observando os parâmetros
constitucionais, estabeleceu a competência comum dos entes da Federação para o exercício da fiscalização de trânsito. Dentro
de sua esfera de atuação, delimitada pelo CTB, os municípios podem determinar que o poder de polícia que lhes compete seja
exercido pela guarda municipal.
Inclusive, foi ressaltado pelo STF que o art. 144, § 8.º, não impede que a guarda municipal exerça funções adicionais à
de proteção dos bens, dos serviços e das instalações do município.
Com base nesse entendimento, o STF fixou a seguinte tese: é constitucional a atribuição às guardas municipais do
exercício de poder de polícia de trânsito, inclusive imposição de sanções administrativas (RE 658570).

2 O plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu que é constitucional a delegação da atividade de policiamento de
trânsito à pessoa jurídica de direito privado, quando analisou o caso da Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte –
BHTrans (RE 633782, tema 532).
Nesse sentido, a maioria do plenário seguiu o voto do relator, ministro Luiz Fux, concluindo que a Constituição Federal,
ao autorizar a criação de empresas públicas e sociedades de economia mista que tenham por objeto exclusivo a prestação de
serviços públicos de atuação típica do Estado, autoriza, consequentemente, a delegação dos meios necessários à realização do
serviço delegado, sob pena de inviabilizar a atuação dessas entidades, tendo sido fixada a tese: “É constitucional a delegação do
poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado integrantes da administração pública indireta de capital
social majoritariamente público que prestem exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não
concorrencial”.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 2.º GRUPO
Direito Administrativo – Ponto 3 – Questão 3
Aplicação: 04/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


O candidato deve abordar os seguintes tópicos:

1) discorrer sobre a responsabilidade dos servidores públicos;


2) explicar as hipóteses de condenação e absolvição;
3) mencionar normas e jurisprudências.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 2.º GRUPO
Direito Administrativo – Ponto 3 – Questão 4
Aplicação: 04/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


Enquanto a descentralização implica a transferência da execução da atividade estatal à entidade integrante, ou não, da
administração pública, a desconcentração traduz-se em processo interno, que importa em um desmembramento orgânico, sem
haver transferência para outra entidade.
As agências reguladoras são autarquias e possuem personalidade jurídica de direito público, resultando de um processo
de descentralização administrativa, pertencendo à administração indireta do Estado e tendo a função de controle das atividades
econômicas e de prestação de serviços públicos. As características das agências reguladoras são: a) poder normativo técnico; b)
autonomia administrativa; c) autonomia decisória e d) autonomia financeira.
As características das agências reguladoras visam à aplicação da denominada teoria da captura, segundo a qual se almeja
obstar indevidas influências do governo instituidor da agência ou do ente regulado, no âmbito da agência reguladora (AP Cível
342.739 TRF, 5.ª região, rel. juiz Francisco Cavalcante).

Quesitos
5.1 Diferenciar descentralização e desconcentração administrativa, pontuando onde se enquadram as agências
reguladoras [valor: 7,25 pontos]
0 – Não diferenciou descentralização e desconcentração ou o fez de modo inteiramente equivocado.
1 – Diferenciou parcialmente descentralização e desconcentração, apontando, em parte, conceitos equivocados.
2 – Diferenciou desconcentração e descentralização, porém, não enquadrou as agências reguladoras como resultantes da
descentralização.
3 – Diferenciou desconcentração e descentralização, enquadrando as agências reguladoras como resultantes da
descentralização.

5.2 Conceituar as agências reguladoras, abordando funções e características [valor 9,25 pontos]
0 – Não conceituou agências reguladoras, não abordou nem suas funções nem suas características.
1 – Conceituou agências reguladoras, porém, abordou apenas suas funções OU apenas suas características.
2 – Conceituou agências reguladoras, porém, abordou suas funções ou características de forma incompleta.
3 – Conceituou agências reguladoras, abordou suas funções e características.

5.3 Contextualizar a teoria da captura [valor: 7,25 pontos]


0 – Não abordou a teoria da captura ou o fez de forma inteiramente equivocada.
1 – Abordou as características das agências reguladoras, porém, não contextualizou a teoria da captura dentro de sua
autonomia.
2 – Contextualizou que o poder público instituidor não deve interferir na agência reguladora, mas não apontou que a teoria da
captura visa coibir interferências tanto do governo instituidor quanto do ente regulado, no âmbito da agência reguladora.
3 – Contextualizou que o poder público instituidor não deve interferir na agência reguladora, apontando que a teoria da captura
visa coibir interferências tanto do governo instituidor quanto do ente regulado, no âmbito da agência reguladora.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 2.º GRUPO
Direito Constitucional – Ponto 2 – Questões 1 e 2
Aplicação: 04/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO

QUESTÃO 1

Resposta: os filósofos contratualistas analisavam o homem vivendo no que era chamado de “estado de natureza”, condição em
que não adotavam nenhuma forma de organização política. Nesse ambiente hostil, o homem colocaria em risco a sua
sobrevivência, passando a sentir necessidade de alguma forma de proteção, projetada em algo maior com a imparcialidade
necessária para garantir seus direitos naturais. Nesse contexto, o ser humano admite abdicar de parcela de sua liberdade,
submetendo-se às leis do Estado, estando este comprometido a garantir os direitos do homem, oferecendo as condições
necessárias para seu desenvolvimento. Nessa relação que se estabelece entre o Estado e o indivíduo, verificamos a existência do
“contrato social”.

QUESTÃO 2

Resposta: a chamada mutação constitucional, diferentemente dos procedimentos de revisão e emenda, pode ser considerada um
processo não formal de mudança nas constituições rígidas, a partir de uma interpretação doutrinária e judicial pautada na tradição
e nos costumes. Mutação constitucional, desencadeando um poder constituinte difuso, é o processo que modifica o alcance, o
significado e o sentido do texto constitucional, sem alteração da letra e do espírito da Lei Maior.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 2.º GRUPO
Direito Constitucional – Ponto 3 – Questão 3
Aplicação: 04/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


Tema versado na ADI 6620. O candidato deverá discorrer sobre a competência da União e dos Estados para legislar
sobre Direito Penal, cooperação no federalismo, a razoabilidade na interpretação das competências constitucionais dos Estados-
membros e respeito à autonomia local, de acordo com o que dispõem os arts. 18, 24, XI; 25, 125, § 1º; 128, § 5º; e 144, §§ 4º e
5º, da Constituição Federal (CF). Deverá também discorrer sobre eventual vício de iniciativa reservada ao Chefe do Poder
Executivo estadual, conforme art. 2º, 61, da CF, e sobre violação ao princípio da separação de poderes. Por fim, deverá abordar
eventual ofensa a direitos fundamentais do réu, seus familiares e vítimas, conforme dispõe o art. 5º, art. 93, IX, da CF.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3.ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 2.º GRUPO
Direito Constitucional – Ponto 3 – Questão 4
Aplicação: 04/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


1 A manifestação pejorativa, com termos ofensivos de natureza criminosa, ultrapassa os limites da cláusula
constitucional de liberdade de expressão, porque tal liberdade não pode exteriorizar propósitos criminosos, eis que
não são direitos absolutos.
Conceitos
0 - Não indicou que essa manifestação possui limites.
1- Indicou que essa manifestação há limites, mas não fundamentou a limitação sob as duas óticas: (1) do propósito
criminoso e (2) da inexistência de direitos absolutos.
2- Indicou que essa manifestação há limites, mas fundamentou a limitação apenas sob uma das duas óticas: (1) do
propósito criminoso e (2) da inexistência de direitos absolutos.
3- Indicou que essa manifestação há limites e fundamentou a limitação apenas sob uma das duas óticas: (1) do propósito
criminoso e (2) da inexistência de direitos absolutos.

2 O discurso de ódio viola o princípio da dignidade da pessoa humana e da igualdade, na forma dos artigos 1.º, III e
5.º, caput, IV e X, da Constituição Federal de 1988.
Conceitos
0 - Não abordou o princípio da dignidade humana e o da igualdade.
1- Abordou apenas um dos princípios pertinentes: da dignidade humana ou da igualdade.
2- Abordou os dois princípios pertinentes: da dignidade humana e da igualdade.

3 A conduta do jornalista é homofóbica e merece análise penal sob o aspecto da Lei n.º 7.7716/89, nos termos do
decidido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADO 26 e MI 4733.
Conceitos
0- Não abordou a posição do STF sobre a criminalização da homofobia.
1- Abordou a posição do STF sobre a criminalização da homofobia.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 3.º GRUPO
Direito Civil – Ponto 1 – Questão 1 e 2
Aplicação: 05/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


QUESTÃO 1

O candidato deverá abordar o artigo 15 do Código Civil ( Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002), que diz : “
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.”, pois
ao tratar da proteção à integridade física e do direito ao próprio corpo, tal norma traz a possibilidade de recusa em submeter-se
a tratamento ou intervenção médica em situações em que o procedimento demonstre risco à vida da pessoa.
Porém, deverá, ainda, analisar o grau de importância dos direitos fundamentais entre si, digo, citar o
entendimento da doutrina de que, abstratamente, os direitos fundamentais não têm grau de importância entre si, ficando a cargo
do caso concreto relativizar e definir qual direito prevalecerá.
Por fim, deverá abordar a jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, cujo teor tem entendido que
o direito à liberdade não está acima do direito à saúde.

QUESTÃO 2

O candidato deverá abordar o disposto art. 6º, inciso X, da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor – CDC)
mencionando que o acesso a um serviço público eficaz e adequado consiste em direito básico de todo consumidor.
Devendo ainda abordar os aspectos transcritos no artigo 3º do CDC, que, em seu parágrafo 2º, quando defini “serviço”,
dispõe: “Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”.
Mencionado dispositivo é claro ao afirmar que somente os serviços pagos, isto é, mediante remuneração, caracterizam
uma relação de consumo, de sorte a atrair a aplicação do CDC, devendo, inclusive, o candidato abordar os entendimentos
doutrinários e jurisprudenciais relacionados a tal forma de pagamento: se realizado diretamente (serviços uti singuli) ou se
realizado indiretamente (serviço uti universi).
Como conclusão, os serviços públicos, desde que remunerados, direta ou indiretamente são regidos pelo CDC, todavia,
os serviços públicos prestados sem a exigência de uma remuneração por parte do consumidor, não se enquadra como relação de
consumo, não se aplicando o CDC.
Por fim, verificar-se-á que a partir do sistema de remuneração é que se define a natureza jurídica da relação do serviço
prestado, com consequente aplicação – ou não – do Código de Defesa do Consumidor.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 3.º GRUPO
Direito Civil – Ponto 1 – Questão 3
Aplicação: 05/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


Responder à luz do artigo 249 e seu parágrafo único do Código Civil.
Como a construção do muro pode ser executado por terceiro, será livre a João mandá-lo executar à custa de Antonio, havendo
recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.
Como há urgência, pode João, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois
ressarcido.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 3.º GRUPO
Direito Civil – Ponto 1 – Questão 4
Aplicação: 05/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


Em relação a Tobias, a ação deve ser julgada procedente, pois a sua atitude configura ato ilícito (Código Civil,
art. 186), na medida em que Tobias causou culposamente dano a Luciana, violando seus direitos à privacidade (Código Civil,
art. 21) e à imagem (Código Civil, art. 20), também tutelados constitucionalmente (Constituição, art. 5o, inciso X). Já em relação
à sociedade empresária que criou e mantém a rede social, a questão é controvertida. Embora se possa invocar neste tema o Código
de Defesa do Consumidor, o certo é que o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014) exclui, a rigor, como regra, a
responsabilidade civil do provedor de aplicações de internet por fato de terceiro, salvo em caso de descumprimento de ordem
judicial específica de remoção de conteúdo. O (art. 19) da Lei 12.965/2014 afirma, de fato, que: "Com o intuito de assegurar a
liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente
por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no
âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como
infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário." Acrescente-se que a constitucionalidade do art. 19 encontra-se
atualmente sob exame do Supremo Tribunal Federal, mas não há ainda um posicionamento da Corte a respeito e admite, em seu
art. 21, apenas a responsabilização subsidiária do provedor em casos de violação da intimidade decorrente da divulgação, sem
autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de
caráter privado após o recebimento de notificação. Qualquer destes fundamentos pode ser explorado pelo candidato em relação
à responsabilidade civil da rede social.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 3.º GRUPO
Medicina Legal – Ponto 1 – Questão 1 e 2
Aplicação: 05/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


QUESTÃO 1

A asfixia que pode ser observada no caso concreto é o enforcamento típico incompleto, uma vez que a força
exercida para impedir a passagem do ar decorre do peso da própria vítima, cujo pescoço estava envolvido por um laço oblíquo,
ascendente, único, descontínuo e supra-hióideo. Portanto, trata-se de enforcamento típico, pois o nó está posicionado detrás da
cabeça, e incompleto, dada a percepção de um dos pés em contato com o solo.
A energia vulnerante nas lesões das mãos é de etiologia “mecânica”, podendo ser por ação cortocontundente,
pois caso haja, além de haver um corte seccionando os tecidos, houve uma contusão diante da amputação, o que separou as
articulações ou, até mesmo, fraturou os ossos da na região. Porém, pode ser por ação cortante, caso o deslizamento seja feito em
conjunto com a força da mão do agressor que, ao utilizar uma faca de cozinha, venha a imprimir força seccionando a articulação
radiocarpal ou demais articulações desta região.
Quanto ao sinal de Romanese, também conhecido como “cauda de escoriação”, pode-se destacar que ele é
observado quando da utilização de instrumento cortante, auxiliando na determinação do sentido em que a lesão foi provocada,
representando a saída ou o último ponto de contato com a pele da vítima.
Por fim, no caso narrado, trata-se de homicídio como causa jurídica da morte, haja vista os vestígios
encontrados na vítima e no local dos fatos, seja em relação aos sinais de defesa, seja pelo encontro das duas mãos da vítima fora
da residência.

CONCEITOS

5.1. Modalidade de asfixia: enforcamento típico incompleto (6,0 pontos)


0 – Não abordou a modalidade de asfixia indicada no padrão de resposta ou abordou de forma completamente equivocada.
1 – Abordou o enforcamento típico, mas afirmou ser completo Apenas citou (sem fundamentação, ou com fundamentação
inadequada, ou reproduzindo dados do enunciado, ou apontando conceitos equivocados na maior parte da resposta):
“enforcamento” OU “enforcamento atípico” OU “enforcamento completo” OU “enforcamento atípico completo” OU “asfixia
complexa por enforcamento”;
2 – Abordou o enforcamento típico incompleto, sem fundamentação Apenas citou (sem fundamentação ou com fundamentação
inadequada, ou reproduzindo dados do enunciado): “enforcamento típico incompleto” OU abordou o enforcamento de forma
inadequada, apontando conceitos incompletos ou equivocados na resposta;
3 – Abordou o “enforcamento típico” ou “enforcamento” incompleto, com fundamentação adequada, porém incompleta OU
apontando, em pequena parte, conceitos equivocados na fundamentação;
4 - Abordou o enforcamento típico incompleto, com fundamentação adequada e completa.

5.2. Energia/ação vulnerante nas lesões encontradas nas mãos do cadáver (6,0 pontos)
0 – Não abordou a energia/ação vulnerante especificada no padrão de resposta ou abordou de forma completamente equivocada.
1 – Abordou a energia/ação vulnerante cortocontundente Apenas citou (sem fundamentação, ou com fundamentação inadequada,
ou reproduzindo dados do enunciado, ou apontando conceitos equivocados na maior parte da resposta): “energia mecânica” OU
“ação vulnerante cortocontundente” OU “ação vulnerante cortante”; OU citou, sem fundamentação, a energia e a ação vulnerante,
equivocando-se quanto à classificação de uma delas;
2 – Apenas citou (sem fundamentação, ou com fundamentação inadequada, ou reproduzindo dados do enunciado): a “energia
mecânica” e a “ação vulnerante cortocontundente” OU a “energia mecânica” e a “ação vulnerante cortante”; OU com
fundamentação adequada apenas em relação à “energia mecânica”; OU com fundamentação adequada apenas em relação à ação
vulnerante;
3 – Abordou com fundamentação adequada, porém incompleta, a “energia mecânica” e a “ação vulnerante cortocontundente”
OU com fundamentação adequada, porém incompleta, a “energia mecânica” e a “ação vulnerante cortante” OU em quaisquer
destas situações, com fundamentação adequada, porém apontando, em pequena parte, conceitos equivocados;
4 – Abordou, com fundamentação adequada e completa: a energia mecânica/ação vulnerante cortocontundente OU energia
mecânica/ação vulnerante cortante.

5.3. Sinal de Romanese (6,0 pontos)


0 – Não abordou o Sinal de Romanese especificado no padrão de resposta ou abordou de forma completamente equivocada;
1 – Abordou o Sinal de Romanese, mas não o detalhou como especificado no padrão de resposta OU detalhou com
fundamentação inadequada, apontando conceitos equivocados na maior parte da resposta OU abordou afirmando se tratar de
lesão de defesa naquela situação específica;
2 - Abordou o Sinal de Romanese especificado no padrão de resposta, detalhando corretamente o instituto, com fundamentação
adequada, de forma adequada, porém incompleta OU adequada, porém apontando, em pequena parte, conceitos equivocados;
3 - Abordou o Sinal de Romanese especificado no padrão de resposta, detalhando o instituto de forma adequada e completa.

5.4. Posicionamento em relação à causa jurídica da morte (5,75 pontos)


0 – Não se posicionou, OU se posicionou pelo suicídio, OU se posicionou pelo acidente.
1 – Se posicionou-se pelo “homicídio”/ “morte violenta e criminosa”/”crime”, porém sem fundamentação OU com
fundamentação inadequada, apontando conceitos equivocados na maior parte da resposta;
2 - Se posicionou-se pelo “homicídio”/”morte violenta e criminosa”/”crime”, com fundamentação adequada, porém incompleta
OU adequada, porém apontando, em pequena parte, conceitos equivocados;
3 - Se posicionou-se pelo “homicídio”/”morte violenta e criminosa”/”crime”, com fundamentação adequada e /completa.

QUESTÃO 2

Embora a própria noção central acerca da cadeia de custódia possibilite interpretação no sentido de etapas
sequenciais destinadas a resguardar a veracidade ou idoneidade de um meio de obtenção de prova, de forma a permitir que a
responsabilidade pelos vestígios seja rastreada ou que algum exame específico seja viabilizado mediante o adequado manuseio
e acondicionamento das amostras, é possível haver inversão na ordem das suas etapas, haja vista a previsão do CPP de que os
órgãos centrais de perícia oficial de natureza criminal possam ficar responsáveis por detalhar a forma do seu cumprimento, nos
termos do art. 158-C, § 1.º, do CPP.
Assim, caso haja algum protocolo operacional padrão ou alguma normativa específica institucional que detalhe
como determinado vestígio deve ser processado, certas inversões na ordem das etapas podem ter lugar. Por exemplo: pode haver
inversões entre as etapas do reconhecimento e do isolamento, previstas no art. 158-B, I e II, do CPP, que podem ser cíclicas, a
depender do encontro de vestígio fora da área imediata, cujo perímetro de isolamento precise ser ampliado; a inversão entre as
etapas da fixação e da coleta, conforme art. 158-B, III e IV, do CPP (desde com a fundamentação específica atrelada questões
de segurança dos integrantes da equipe policial); o posicionamento do processamento logo após a fixação (quando aquele é feito
pelo perito no próprio local dos fatos), conforme art. 158-B, VIII e III, do CPP; ou ainda, o reposicionamento da etapa do
recebimento (transferência de posse) transporte entre as etapas de processamento e de armazenamento, nos termos do art. 158-
B, VII, VIII e IX, do CPP; ou o reposicionamento do transporte logo após o processamento (antes da transferência de posse para
o armazenamento), conforme art. 158-B, VI e VIII, do CPP.

CONCEITOS

5.1. Possibilidade de inversão na ordem das etapas da cadeia de custódia (13,25 pontos):
0 – Não abordou a possibilidade (ou impossibilidade) de inversão na ordem das etapas da cadeia de custódia OU abordou de
forma completamente equivocada;
1 – Abordou a impossibilidade de inversão na ordem das etapas da cadeia de custódia, com fundamentação coerente com a
resposta;
2 - Abordou a possibilidade de inversão na ordem das etapas da cadeia de custódia, sem fundamentação OU com fundamentação
inadequada; OU com fundamentação insuficiente/periférica; OU concentrando a fundamentação essencialmente nos efeitos
decorrentes da quebra da cadeia de custódia; OU fundamentando que a análise seria casuística; OU apontando conceitos
equivocados na maior parte da resposta;
3 – Abordou a possibilidade de inversão na ordem das etapas da cadeia de custódia, com fundamentação adequada e completa,
porém incompleta OU adequada, porém apontando, em pequena parte, conceitos equivocados;
4 – Abordou a possibilidade de inversão na ordem das etapas da cadeia de custódia, com fundamentação adequada e completa.

5.2. Dispositivo legal referente à possibilidade de inversão nas etapas da cadeia de custódia (1,0 ponto):
0 – Não abordou o art. 158-C, § 1.º, do CPP;
1 – Abordou o art. 158-C, § 1.º, do CPP.

5.3. Indicação de exemplos: inversão entre as etapas de reconhecimento e isolamento; fixação e coleta; processamento
logo após a fixação; recebimento (transferência de posse) entre a etapa do processamento e a do armazenamento;
transporte logo após o processamento (7,50 pontos):
0 – Não indicou nenhum exemplo ou indicou de forma equivocada;
1 – Indicou apenas como exemplo: a inversão entre as etapas de reconhecimento e isolamento OU a inversão entre as etapas da
fixação e da coleta (desde com a fundamentação específica atrelada questões de segurança dos integrantes da equipe policial);
OU o posicionamento do processamento logo após a fixação (quando aquele é feito pelo perito no próprio local dos fatos); OU
a inversão do recebimento (transferência de posse) entre a etapa do processamento e a do armazenamento; OU o posicionamento
do transporte logo após o processamento (antes da transferência de posse para o armazenamento);
2 – Indicou os pelo menos dois exemplos de inversão entre etapas da cadeia de custódia abordados no padrão de resposta.

5.4. Dispositivos legais referentes aos exemplos: art. 158-B, incisos I e II, do CPP; art. 158-B, incisos III e IV, do CPP;
art. 158-B, incisos VI, VIII e IX, do CPP VIII e III, do CPP; art. 158-B, incisos VII, VIII e IX, do CPP do CPP; art. 158-
B, incisos VI e VIII, do CPP (2,0 pontos):
0 – Não abordou nenhum dos dispositivos legais referentes aos exemplos, conforme indicado no gabarito;
1 – Abordou apenas o art. 158-B, incisos I e II, do CPP OU apenas o art. 158-B, incisos VI, VIII e IX, do CPP ; OU o art. 158-
B, incisos III e IV, do CPP; OU o art. 158-B, incisos VIII e III, do CPP; OU o art. 158-B, incisos VII, VIII e IX, do CPP; OU o
art. 158-B, incisos VI e VIII, do CPP; OU atrelou o art. 158-B do CPP ao nome da respectiva etapa, em substituição específica
ao número do inciso, quando mencionar o exemplo (para um ou para dois destes);
2 – Abordou pelo menos dois dispositivos legais dentre os dispostos a seguir: o art. 158-B, incisos I e II, do CPP; ou art. 158-B,
incisos III e IV, do CPP; OU art. 158-B, incisos VIII e III, do CPP; ou art. 158-B, incisos VII, VIII e IX, do CPP ou art.158-B,
incisos VI e VII, do CPP.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 3.º GRUPO
Medicina Legal – Ponto 1 – Questão 3
Aplicação: 05/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


O Código de Processo Penal, em seu artigo 163, prescreve: “Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade
providenciará para que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado.”.
Dinâmica: o administrador de cemitério público ou particular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência.
No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a
autoridade procederá às pesquisas necessárias, devendo tudo constar do auto.
Técnica básica: consiste no desenterramento do cadáver e tem como finalidade atender aos reclamos da justiça na
averiguação de uma exata causa de morte passada despercebida, no esclarecimento de um detalhe, em uma identificação, em
uma grave contradição ou na confirmação de um diagnóstico. Pode, ainda, atender às necessidades sanitárias ou servir para
transladação do corpo. Qualquer que seja o tempo de morte, há sempre condições de surpreender alguns fatos de interesse
policial-judiciário em uma perícia pós-exumação.
A exumação no caso em tela revela seu valor na medida em que possibilita investigação mais aprofundada, afastando-
se de situações duvidosas que possam ter mascarado a verdadeira causa da morte (médica ou jurídica). Está prevista nos artigos
163 a 166 do CPP.
Então, para comprovação ou não da esganadura, o delegado de polícia irá requisitar a perícia que será feita em dia e
hora marcados. Indicada a sepultura, o cadáver será desenterrado e os peritos passarão a analisar tudo que for de interesse no
caso específico. Ao final da diligência, será lavrado auto circunstanciado.
A técnica básica consiste no desenterramento do cadáver, que será fotografado na posição em que se encontrar, para
que sejam buscadas lesões específicas, coleta de material para exame toxicológico, podendo ser incluída análise do solo, ou
demais vestígios que podem ser explorados em laboratório, cuja finalidade é atender aos reclamos da justiça na averiguação de
uma exata causa de morte, no esclarecimento de um detalhe ou uma contradição, ou para uma identificação, ou na confirmação
de um diagnóstico etc. Pode, ainda, atender às necessidades sanitárias ou servir para transladação do corpo.

CONCEITOS

5.1. Valor da exumação e seu enquadramento no CPP (7,0 pontos)


0 – Não atribuiu valor nem enquadrou corretamente OU atribuiu de forma completamente equivocada;
1 – Atribuiu valor, mas não enquadrou corretamente, ou vice-versa de forma inadequada, apontando conceitos equivocados na
maior parte da resposta;
2 – Atribuiu valor e enquadramento de forma parcialmente correta de forma adequada, porém incompleta, OU adequada, porém
apontando, em pequena parte, conceitos equivocados;
3 – Atribuiu valor e enquadrou corretamente de forma adequada e completa.

5.2. Dinâmica da perícia Enquadramento (art. 163 a 166 do CPP) (2,0 pontos)
0 – Não descreveu a dinâmica. enquadrou corretamente;
1 – Descreveu a dinâmica de forma incompleta. Enquadrou apenas parcialmente;
2 – Descreveu de forma completa a dinâmica. Enquadrou corretamente.

5.3. Técnica básica da perícia e finalidade Dinâmica da perícia (4,0 pontos)


0 – Não descreveu a técnica dinâmica OU descreveu de forma completamente equivocada;
1 – Descreveu parcialmente a técnica a dinâmica de forma inadequada, apontando conceitos equivocados na maior parte da
resposta;
2 – Descreveu a técnica de forma completa dinâmica de forma adequada, porém incompleta, OU adequada, porém apontando,
em pequena parte, conceitos equivocados;
3 – Descreveu a dinâmica de forma adequada e completa.

5.4. Técnica básica da perícia (4,0 pontos)


0 – Não descreveu a técnica OU descreveu de forma completamente equivocada;
1 – Descreveu a técnica de forma inadequada, apontando conceitos equivocados na maior parte da resposta;
2 – Descreveu a técnica de forma adequada, porém incompleta OU adequada, porém apontando, em pequena parte, conceitos
equivocados;
3 – Descreveu a técnica de forma adequada e completa.

5.5. Finalidade da perícia (6,75 pontos)


0 – Não descreveu a finalidade OU descreveu de forma completamente equivocada.
1 – Descreveu a finalidade de forma inadequada, apontando conceitos equivocados na maior parte da resposta;
2 – Descreveu a finalidade de forma adequada, porém incompleta OU adequada, porém apontando, em pequena parte, conceitos
equivocados.
3 – Descreveu a finalidade de forma adequada e completa.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA ESTADUAL DE POLÍCIA SYLVIO TERRA
DELEGADO DE POLÍCIA – 3ª CLASSE
Prova Discursiva Específica – 3.º GRUPO
Medicina Legal – Ponto 1 – Questão 4
Aplicação: 05/06/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


A reação em cadeia de polimerase (PCR) é a técnica laboratorial mais sensível e moderna, largamente utilizada na
medicina legal e na criminalística, que possibilita a análise de uma região específica do DNA, por meio da amplificação
bioquímica ou molecular de uma sequência-alvo capaz de gerar, com eficácia e precisão, um grande número de cópias de um
dado segmento específico de DNA a partir de pequena quantidade de material genético.
Essa relevante e já consagrada técnica pode ser aplicada com certa plausibilidade nos casos de identificação de vítima
em que outros métodos se mostrarem ineficazes como nas. Podem ser citados, como exemplo, dentre outros igualmente
pertinentes para fins de identificação humana, as situações de grandes mutilações/encontro de despojos ou nos carbonizados
parcial ou quase totalmente, ou ainda nas exumações. Na investigação de paternidade e maternidade, hoje, com esses novos
recursos, obtêm-se respostas a situações antes impossíveis, como nos casos de investigação de pais falecidos a partir de familiares
diretos.
Nos casos de prática de infração penal, a autoridade policial deve solicitar o exame de corpo de delito direto (art. 158
do CPP). Todavia, nada impede que requeira exame pericial específico, com vistas à pesquisa de DNA, modalidade genética
forense.

CONCEITOS

5.1. Definição do princípio do PCR (9,75 pontos)


0 – Não definiu OU definiu de forma totalmente equivocada;
1 – Definiu de maneira incompleta forma inadequada, apontando conceitos equivocados na maior parte da resposta;
2 – Definiu completamente de forma adequada, porém incompleta OU adequada, porém apontando, em pequena parte, conceitos
equivocados;
3 – Definiu de forma adequada e completa.

5.2. Aplicações do PCR na investigação criminal (mutilações, carbonizados, exumações, investigações de paternidade e
maternidade etc) (10,0 pontos)
0 – Não apresentou nenhuma aplicação incorreta.
1 – Apresentou apenas uma aplicação correta.
2 – Apresentou apenas duas aplicações corretas.
3 – Apresentou apenas três aplicações corretas.
4 – Apresentou apenas quatro aplicações corretas.
5 – Apresentou apenas cinco aplicações corretas.

5.3. Tipo de exame a ser solicitado na situação narrada (4,0 pontos)


0 – Não mencionou corpo de delito direto descreveu o tipo de exame OU descreveu de forma totalmente equivocada;
1 – Mencionou corpo de delito direto Descreveu o tipo de exame de forma inadequada, apontando conceitos equivocados na
maior parte da resposta;
2 – Descreveu o tipo de exame de forma adequada, porém incompleta OU adequada, porém apontando, em pequena parte,
conceitos equivocados;
3 – Descreveu o tipo de exame de forma adequada e completa.

5.4. Art. 158 do CPP


0 – Não tipificou OU o fez incorretamente.
1 – Tipificou corretamente.
CEBRASPE – PC/RO – Edital: 2022

• Nesta prova, faça o que se pede, usando, caso deseje, o espaço para rascunho indicado no presente caderno. Em seguida,
transcreva o texto para o CADERNO DE TEXTOS DEFINITIVOS DA PROVA DISCURSIVA, no local apropriado, pois não
será avaliado fragmento de texto escrito em local indevido.
• Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de linhas disponibilizadas será desconsiderado. Também será
desconsiderado o texto que não for escrito na folha de texto definitivo correspondente.
• No Caderno de Textos Definitivos, a presença de qualquer marca identificadora no espaço destinado à transcrição do texto
definitivo acarretará a anulação da sua prova discursiva.
• Em cada questão dissertativa, ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 15,00 pontos, dos quais até 0,75 ponto será atribuído
ao quesito apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafos) e estrutura textual (organização das ideias em
texto estruturado). Na peça procedimental, esses valores corresponderão a 40,00 pontos e 2,00 pontos, respectivamente.

PROVA DISCURSIVA
QUESTÃO 1

Considere-se que João foi denunciado, juntamente com Paulo, em concurso de pessoas, pela
prática do crime de roubo duplamente majorado. Após a apresentação das defesas escritas, o processo
foi desmembrado, e cada um passou a responder pela prática do delito em processos distintos. Paulo foi
condenado, e sua defesa recorreu. Posteriormente, o tribunal a quo entendeu que a interrupção do prazo
prescricional no processo de Paulo, em virtude da prolação de sentença condenatória recorrível, deveria
ser estendida ao processo de João.

Com base no entendimento do Superior Tribunal de Justiça e na doutrina majoritária acerca da prescrição, a decisão do tribunal a quo
foi correta? Fundamente sua resposta.

QUESTÃO 1 – RASCUNHO
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
CEBRASPE – PC/RO – Edital: 2022

QUESTÃO 2

Inovação legislativa mais recente, a Lei n.º 13.964/2019, denominada de Pacote Anticrime, trouxe
alterações ao Estatuto do Desarmamento e à Lei n.º 8.072/1990 (Lei dos Crimes Hediondos).

A respeito das alterações à Lei dos Crimes Hediondos, redija um texto dissertativo referente ao caráter hediondo, ou não, do crime de
porte ilegal de arma de fogo de uso restrito em face da nova legislação, abordando, necessariamente, os seguintes aspectos:

1 conceituação de arma de fogo de uso restrito [valor: 3,25 pontos];


2 posição do crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito antes das inovações legislativas [valor: 4,00 pontos];
3 posição do crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito após as inovações legislativas e sua consequência jurídica
em relação aos crimes cometidos anteriormente à referida legislação [valor: 7,00 pontos].

QUESTÃO 2 – RASCUNHO
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10

QUESTÃO 3

Conceitue o poder de polícia administrativa, e, à luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, discorra acerca das quatro fases
da teoria do ciclo de polícia, indicando se alguma é passível de delegação a pessoas jurídicas de direito privado.

QUESTÃO 3 – RASCUNHO
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
CEBRASPE – PC/RO – Edital: 2022

QUESTÃO 4

Considere-se o texto original da Constituição do estado X:

“Art. 150. À Polícia Civil, essencial à defesa dos indivíduos, da sociedade e do patrimônio, dirigida
por delegado de polícia de carreira, incumbem as funções de polícia judiciária e de polícia
técnico-científica, e a apuração das infrações penais, exceto as militares.
§ 1.º O delegado-chefe da Polícia Civil será nomeado pelo Governador do Estado e escolhido entre
os integrantes da última classe da carreira de delegado de polícia.”

Com base na hipótese apresentada e no entendimento do Supremo Tribunal Federal, posicione-se quanto à constitucionalidade ou à
inconstitucionalidade da norma prevista no § 1.º do art. 150. Em seu texto, indique os dispositivos constitucionais pertinentes e aborde
os seguintes aspectos:

1 prerrogativa de iniciativa legislativa para tratar do tema e constitucionalidade ou inconstitucionalidade formal do § 1.º;
[valor: 9,00 pontos]
2 constitucionalidade ou inconstitucionalidade material do § 1.º. [valor: 5,25 pontos]

QUESTÃO 4 – RASCUNHO
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10

PEÇA PROCEDIMENTAL

Jonas Andrade, oficial de justiça da Vara de Delitos de Tóxicos de Porto Velho, solicitou de Bento
Vaz o pagamento de dez mil reais, garantindo-lhe que a quantia seria suficiente para que o juiz
competente tomasse conhecimento dos fatos e soltasse Lara, filha de Bento, ré em processo na vara em
que Jonas trabalha, sendo parte da quantia paga por Bento supostamente destinada ao juiz. As tratativas
ocorreram por ligações telefônicas e pessoalmente, tendo sido parte do pagamento realizada por meio da
transferência de um veículo e o restante feito em dinheiro.
Bento, pessoa com pouca instrução, acreditou que esse procedimento poderia de fato resolver a
situação de sua filha, pois tinha ouvido falar em fiança e acordo na justiça, e alguns conhecidos lhe
tinham indicado Jonas por terem obtido êxito com seus serviços. Entretanto, após a audiência de
instrução e julgamento, Lara não só permaneceu presa como foi condenada por tráfico de drogas,
conforme as provas dos autos.
Inconformado, Bento procurou Jonas após a audiência para tirar satisfações quando, então, o
oficial de justiça o ameaçou com uma arma de fogo legalmente portada, na presença de um compadre de
Bento, Aldo de Tal.
Sentindo-se enganado com toda a situação, Bento resolveu recuperar o carro que havia dado a
Jonas, ao ver o veículo no lava-jato ao lado do fórum. No dia seguinte, Bento foi parado em uma blitz na
companhia de Aldo, tendo sido ambos conduzidos a uma delegacia para esclarecimento dos fatos.
Bento detalhou à autoridade policial toda a situação processual de sua filha Lara, o acordo feito
com Jonas e o motivo da subtração do veículo, fatos confirmados pelo compadre.

Com base na situação hipotética apresentada, elabore, na condição de delegado de polícia, a peça procedimental cabível ao caso.
Ao redigir o documento, aborde toda a matéria de direito pertinente ao caso e não crie fatos novos.
CEBRASPE – PC/RO – Edital: 2022

PEÇA PROCEDIMENTAL – RASCUNHO 1/3


1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
CEBRASPE – PC/RO – Edital: 2022

PEÇA PROCEDIMENTAL – RASCUNHO 2/3


31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
CEBRASPE – PC/RO – Edital: 2022

PEÇA PROCEDIMENTAL – RASCUNHO 3/3


61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
77
78
79
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
GOVERNO DO ESTADO DE RONDÔNIA
CARGO 3: DELEGADO DE POLÍCIA
Prova Discursiva – PEÇA PROCEDIMENTAL
Aplicação: 25/9/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


PORTARIA DE INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL

Delegado de Polícia, lotado na Delegacia de Polícia Civil de Porto Velho-RO, no uso das atribuições conferidas pelo
art. 144, § 4º, da Constituição da República de 1988 e pelo art. 4º e seguintes do Código de Processo Penal, considerando as
informações contidas na notitia criminis, resolve:
Instaurar inquérito policial para apurar a prática de crime de exploração de prestígio previsto no art. 357 do CP, com o
aumento de pena previsto no parágrafo único do mesmo artigo, que teria sido em tese praticado por Jonas Andrade, oficial de
justiça do TJRO, ao solicitar o pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a pretexto de que a quantia seria utilizada para liberar
Lara Vaz, ré no processo criminal n. em curso na Vara de Delitos de Tóxicos de Porto Velho, em que ele trabalha. O valor foi
pago pelo pai da ré, Bento Vaz, com a transferência de um veículo e quantia em dinheiro, mas, como a ré não foi solta e acabou
sendo condenada na ação penal, Bento percebeu que fora enganado e, para não ficar no prejuízo, retomou o veículo que havia
dado a Jonas como parte do pagamento. Ao ser flagrado dirigindo o carro no dia seguinte, foi conduzido até esta delegacia,
oportunidade em que noticiou o presente fato. Os fatos foram testemunhados por Aldo de Tal.
Assim sendo, determino que sejam realizados os registros e anotações de praxe, bem como a autuação desta e das
informações iniciais. Cumpridas as determinações supra, adotem-se preliminarmente as seguintes medidas:
I – Proceda-se à apreensão, em auto próprio, do veículo subtraído até que se esclareça a sua propriedade e se requeira a
sua restituição conforme o que determinam o art. 120 e seguintes do CPP;
II – Reduzam-se a termo as declarações de Aldo de Tal e Bento Vaz, dados os indícios de eventual prática do crime de
exercício arbitrário das próprias razões (CP, art. 345). Contudo, como a subtração do veículo ocorreu sem violência, estaria
caracterizado crime de ação penal privada, razão por que não caberia instauração de inquérito policial sem manifestação da
vítima;
III – Intime-se para prestar esclarecimentos Jonas Andrade, já qualificado na noticia criminis;
IV – Requisitem-se, junto às operadoras de telefonia, os registros telefônicos dos últimos meses de Jonas e Bento;
V – Requisitem-se, junto à Diretoria do Fórum Criminal de Porto Velho, as imagens das câmeras de segurança do dia
da audiência de instrução e julgamento que flagrem o encontro de Jonas, Bento e Aldo;
VI – Oficie-se ao Exmo. Juiz da Vara de Delitos de Tóxicos de Porto Velho para tomar ciência e prestar esclarecimentos
como testemunha, em observância ao procedimento previsto no art. 221 do CPP;
VII - Após distribuição, oficie-se ao juízo da vara criminal desta comarca, encaminhando representação pela prisão
preventiva de Jonas Andrade, visto que preenchidos os requisitos previstos nos arts. 313, I, e 312 do CPP, em face da ameaça a
Bento bem como haver indícios de reiteração da prática criminosa. Alternativamente, represente-se pela medida cautelar de
suspensão de Jonas Andrade do exercício do cargo público por haver justo receio de sua utilização para a prática de infrações
penais previstas no art. 319, VI, do CPP;
VIII - Expeça-se ordem aos agentes de polícia desta delegacia para identificar e qualificar outras testemunhas deste
crime e de outros crimes pretéritos, bem como identificar outros elementos de prova.
Após, retornem-se os autos para análise.
Local, data.
Delegado de Polícia

QUESITOS AVALIADOS

2. 1 Portaria de instauração do inquérito policial


0 - Não indicou a peça ou indicou outra peça.
1 - Indicou a portaria.

2.2.1 Apreensão e restituição do carro


0 - Não abordou o quesito.
1 - Indicou apenas a apreensão ou a restituição do veículo.
2 - Abordou a apreensão e a restituição do veículo.
2.2.2 Depoimento de Bento e Aldo e atos decorrentes.
0 - Não abordou o tema.
1 - Abordou que Bento e Aldo devem ser ouvidos, mas não mencionou o crime de exercício arbitrário das próprias razões, nem
que a ação penal é privada em virtude de a conduta não ter sido praticada mediante ameaça, tampouco mencionou que não será
instaurado de IP ante a falta de representação da vítima.
2 - Abordou que Bento e Aldo devem ser ouvidos, mencionando o crime de exercício arbitrário das próprias razões, mas não
mencionou que a ação penal é privada em virtude de a conduta não ter sido praticada mediante ameaça, tampouco mencionou
que não será instaurado de IP ante a falta de representação da vítima.
3 - Abordou que Bento e Aldo devem ser ouvidos, mencionando o crime de exercício arbitrário das próprias razões e que a
ação penal é privada em virtude de a conduta não ter sido praticada mediante ameaça, mas não mencionou que não será
instaurado de IP ante a falta de representação da vítima.
4 - Abordou que Bento e Aldo devem ser ouvidos, mencionando o crime de exercício arbitrário das próprias razões e que a
ação penal é privada em virtude de a conduta não ter sido praticada mediante ameaça, e mencionou que não será instaurado de
IP ante a falta de representação da vítima.

2.2.3 Oitiva de Jonas Andrade


0 - Não abordou o tema.
1 - Abordou o tema.

2.2.4 Dados de registros telefônicos de Jonas e Bento


0 - Não abordou o tema.
1 - Abordou o tema.

2.2.5 Imagens das câmeras de segurança Tipificação do crime de Jonas: crime de exploração de prestígio previsto no art. 357,
parágrafo único, do CP. Não consta na situação hipotética que houve representação por crime de ameaça.
0 - Não abordou o tema indicou o crime correto.
1 - Abordou o tema Indicou o art. 357 sem a causa de aumento do parágrafo único ou conexo a outro crime.
2 - Indicou o tipo penal completo, mas não justificou.
3 - Indicou o tipo penal correto e justificou.

2.3 Providências finais


2.3.1 Inquirição do juiz da Vara de Delitos de Tóxicos de Porto Velho na condição de testemunha (CPP, art. 221)
0 – Não abordou o tema.
1 – Abordou o tema sem detalhar a abordagem.
2 – Detalhou a abordagem com o previsto no art. 221 do CPP.

2.3.2 Representação pela prisão preventiva de Jonas Andrade. Requisitos dos arts. 313, I e 312 do CPP. Alternativamente,
medida cautelar de suspensão do exercício do cargo público Iniciativa do candidato quanto a fazer ofício em separado com
representação por medidas cautelares.
0 – Não representou pela prisão preventiva nem pela medida cautelar abordou o tema.
1 – Manifestou-se pela presença dos requisitos/Representou pela prisão preventiva ou pela medida cautelar.
2 – Manifestou-se pela presença dos requisitos/Representou pela prisão preventiva e alternativamente pela medida cautelar,
mas não detalhou a representação.
3 – Detalhou a representação da prisão preventiva e da medida cautelar de suspensão de cargo público.

2.3.3 Identificação de outras testemunhas / outros crimes pretéritos / outros elementos de prova
0 – Não abordou o tema.
1 – Indicou outros elementos de prova a serem investigados.
GOVERNO DO ESTADO DE RONDÔNIA
CARGO 3: DELEGADO DE POLÍCIA
Prova Discursiva – Questão 1
Aplicação: 25/9/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO

A decisão do tribunal a quo não foi correta, haja vista que a comunicabilidade da interrupção do prazo prescricional
alcança tão somente os corréus do mesmo processo. Assim, havendo desmembramento, os feitos passam a tramitar de forma
autônoma e possuem seus próprios prazos, inclusive em relação à prescrição (STJ, 5.ª Turma, AgRg no RHC 121.697/SP,
Rel. min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 19/10/2021).
Quanto à comunicabilidade das causas interruptivas, nas palavras de Guilherme de Souza Nucci: “quando houver o
recebimento da denúncia ou da queixa, a pronúncia, a decisão confirmatória da pronúncia ou a sentença condenatória recorrível
com relação a um dos coautores de um delito, a interrupção se comunica, alcançando a todos. Significa que o Estado manifestou
a tempo seu interesse em punir, mantendo a sua pretensão em punir os demais, bastando que o encontre a tempo”. Assim,
excetuadas as condições de cunho personalíssimo, as causas interruptivas estendem-se a todos os coautores do delito.
A fundamentação legal encontra-se transcrita a seguir:
Art. 117 do CP: O curso da prescrição interrompe-se: (Redação dada pela Lei n.º 7.209, de 11.7.1984)
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - pela pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - pela decisão confirmatória da pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; (Redação dada pela Lei nº 11.596, de 2007).
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1.º.4.1996)
VI - pela reincidência. (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
§ 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os
autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a
qualquer deles.
Da leitura do § 1.º do art. 117 do Código Penal, evidencia-se que, interrompido o curso da prescrição em relação a um
dos réus, à exceção das causas dos incisos V e VI, a interrupção se estende aos outros, desde que os crimes conexos pelos quais
respondem sejam objeto de um mesmo processo. Dessa maneira, é facilmente compreensível que, se João está sendo processado
em ação distinta da de Pedro, a situação posta no § 1.º do art. 117 do Código Penal aqui não se amolda, ainda que os crimes
sejam conexos.
Ainda nesse sentido:
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ROUBO MAJORADO.
PRESCRIÇÃO. OCORRÊNCIA. DESMEMBRAMENTO. CONDENAÇÃO DE CORRÉU EM FEITO DIVERSO.
INCOMUNICABILIDADE DA INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. INAPLICABILIDADE DO § 1º DO ART.
117 DO CÓDIGO PENAL. 1. Na hipótese, a agravada foi denunciada, juntamente com outro corréu, pela prática do delito de
roubo duplamente majorado. Após a apresentação das defesas prévias, foi desmembrado o feito, razão pela qual passou o corréu
a responder pelo crime ora imputado em processo distinto. 2. O Tribunal a quo entendeu que a interrupção da marcha
prescricional no processo do corréu, em virtude da prolação de sentença condenatória, deveria ser estendida ao presente feito
pela aplicação do art. 117, § 1º, do Código Penal, que determinaria a comunicabilidade da causa interruptiva referenciada. 3.
Todavia, da interpretação do dispositivo em voga, vê-se que a comunicabilidade da interrupção do prazo prescricional
nos casos de desmembramento do feito não é imposta, mas sim mitigada. Com efeito, se um novo processo será formado
e correrá de forma autônoma, trará consigo suas peculiaridades e condições processuais, seus próprios prazos, inclusive
em relação à prescrição, de modo que impor que uma situação processual ocorrida em feito diverso tenha reflexo nestes
autos causaria indesejável desordem processual e jurídica. E o cometimento do crime em concurso de pessoas não
desconfigura tal premissa. 4. Na hipótese está prescrita a pretensão punitiva estatal, tendo em vista que a pena imposta à
agravada não ultrapassa 4 anos, o que atrai o prazo prescricional de 8 anos (art. 109, IV, do Código Penal), escoado entre a data
de recebimento da denúncia, em 31/3/2004 (e-STJ fl. 761), e a prolação da sentença condenatória, em 5/6/2012 (eSTJ fl. 761).
5. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 506.599/RJ, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA
PALHEIRO, SEXTA TURMA, DJe 11/3/2019).

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM


RECURSO ESPECIAL. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO, QUANTO A DOIS RÉUS. DESMEMBRAMENTO
DA AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA, QUANTO AO RÉU REMANESCENTE. CONDIÇÕES PESSOAIS DOS ACUSADOS.
SENTENÇA ABSOLUTÓRIA DO RÉU REMANESCENTE, MANTIDA PELO TRIBUNAL A QUO. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO, PARA PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL, QUANTO A ELE. INEXISTÊNCIA DE MARCO
INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA, APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, PELO TRANSCURSO DO PRAZO PRESCRICIONAL. AGRAVO REGIMENTAL A
QUE SE NEGA PROVIMENTO. [...] V. Nessa perspectiva, o critério da individualidade há de ser considerado, tanto nas
hipóteses de crimes conexos, imputados ao mesmo acusado ou a acusados distintos, como na hipótese de o mesmo crime ser
imputado a vários acusados. Admitindo um crime ou um acusado a suspensão condicional do processo, em razão de
circunstâncias específicas ou particulares, e o outro crime ou outro acusado não, deverá haver o desmembramento dos autos,
para que o feito prossiga, quanto àquele em relação ao qual não se admite o benefício. VI. Não obstante a imputação, aos
acusados, do mesmo delito, na peça acusatória, os processos, relacionados aos mencionados réus, tiveram tramitação
paralela, após o desmembramento do feito originário, o que gerou prazos prescricionais específicos, para cada Ação
Penal, em face de condições processuais e pessoais que não se comunicam, entre os diferentes réus. VII. Assim, tendo
transcorrido mais de oito anos, desde o último marco interruptivo da prescrição, no presente processo, pelo recebimento da
denúncia, em 27/07/2005 (art. 117, I, c/c art. 109, caput, e IV, do Código Penal), restou extinta a punibilidade, relativa ao delito
imputado ao agravado, em virtude da prescrição da pretensão punitiva, na modalidade intercorrente. VIII. Agravo Regimental a
que se nega provimento. (AgRg nos EREsp 1322847/SP, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, TERCEIRA SEÇÃO, DJe
15/10/2013).

QUESITOS AVALIADOS

2.1 A decisão do Tribunal a quo foi incorreta

0 - Não abordou o tema ou afirmou ser correta a decisão do tribunal.


1 - Afirmou ser incorreta a decisão do tribunal, mas sem nenhum fundamento.
2 - Afirmou ser incorreta a decisão do tribunal, mas fundamentou a resposta de forma inadequada.
3 - Afirmou ser incorreta a decisão do tribunal e fundamentou a resposta conforme o entendimento do STJ.

2.2 A comunicabilidade da interrupção do prazo prescricional alcança tão somente os corréus do mesmo processo
0 - Não abordou o tema ou o abordou de forma inadequada.
1 - Afirmou que a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime (comunicabilidade).
2 - Afirmou que a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime, desde que se trate do
mesmo processo.
3 - Afirmou que o desmembramento do feito originário gera prazos prescricionais específicos para cada ação penal.

2.3 Fundamento legal: art. 117, § 1º, do Código Penal


0 - Não abordou o citado artigo ou o seu teor.
1 - Citou o art. 117 do CP e(ou) seu teor, ou citou apenas o § 1º do art. 117 do CP e(ou) seu teor.
2 - Identificou a prolação de sentença condenatória recorrível como causa interruptiva da prescrição.
GOVERNO DO ESTADO DE RONDÔNIA
CARGO 3: DELEGADO DE POLÍCIA
Prova Discursiva – Questão 2
Aplicação: 25/9/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


Conforme Eduardo Cabette e Francisco Sannini, no Tratado de Legislação Especial Criminal (Salvador:
Juspodivm, 2018, p. 112), “arma de fogo de uso restrito é aquela que só pode ser utilizada pelas Forças Armadas, por algumas
instituições de segurança e por pessoas físicas e jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Exército, de acordo com
a legislação específica.”
Antes das inovações legislativas formuladas pela Lei n.º 13.964/2019 (Pacote Anticrime), a posse ou o porte ilegal
de arma de fogo de uso restrito eram equiparados a crime hediondo, com todas as suas consecuções gravosas, por força da
Lei n.º 13.497/2017.
Pela nova redação trazida pela Lei n.º 13.964/2019 ao parágrafo único, inciso II, do art. 1º da Lei n.º 8.072/90 (Lei
dos Crimes Hediondos), retirou-se a hediondez do crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, permanecendo
como hediondo somente o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido. Por consequência, tal circunstância
não alcança mais a posse ou o porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. Trata-se, portanto, de nova lei que beneficia o réu
(novatio legis in mellius) e, como tal, deverá retroagir para atingir todos aqueles que praticaram a posse ou o porte de arma de
fogo (antes de uso restrito e, atualmente, de uso permitido), independentemente do estágio da ação penal.
Fundamentação legal:
LEI n.º 8.072/1990 (Lei dos Crimes Hediondos)
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal, consumados ou tentados:
[...]
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
[...]
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei n.º 10.826, de 22 de dezembro
de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

LEI n.º 10.826, de 22 de dezembro de 2003


Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar,
remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

QUESITOS AVALIADOS

2.1 Conceituação de arma de fogo de uso restrito


0 – Não conceitua arma de fogo de uso restrito
1 – Conceitua, de forma inadequada ou precária, arma de fogo de uso restrito
2 – Conceitua, de forma adequada, que a arma de fogo de uso restrito é aquela que só pode ser utilizada pelas Forças Armadas,
por algumas instituições de segurança e por pessoas físicas e jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Exército, de
acordo com a legislação específica.

2.2 Posição do crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito antes das inovações legislativas do Pacote Anticrime
0 – Não indica a posição do crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito antes das inovações legislativas do Pacote
Anticrime
1 – Indica, de forma inadequada ou sem fundamentação, a posição do crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito antes
das inovações legislativas do Pacote Anticrime
2 – Afirma que a posse ou o porte ilegal de arma de fogo de uso restrito eram equiparados a crime hediondo, com todas as suas
consecuções gravosas, por força da Lei n.º 13.497/2017.

2.3 Posição do crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito após as inovações legislativas do Pacote Anticrime (deixou
de ser crime hediondo) e sua consequência jurídica em relação aos crimes cometidos anteriormente à referida legislação (lei
penal mais benéfica retroage para beneficiar as condutas anteriores delas retirando o caráter de hediondez)
0 - Não indica a posição do crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito após as inovações legislativas do Pacote
Anticrime e nem a consequência jurídica
1 – Indica apenas que o crime deixou de ser hediondo ou apenas informa a consequência jurídica trazida pela inovação legislativa.
2 – Aborda que o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito deixou de ser hediondo, mas não informa a consequência
jurídica de tal circunstância.
3 – Aborda que o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito deixou de ser hediondo, mas não informa, com adequação,
a consequência jurídica trazida pela inovação legislativa.
4 – Aborda que o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito deixou de ser crime hediondo após as inovações legislativas
do Pacote Anticrime e, por se tratar de nova lei que beneficia o réu (novatio legis in mellius), essa lei deverá retroagir para
atingir todos aqueles que praticaram a posse ou o porte de arma de fogo (antes de uso restrito e, atualmente, de uso permitido),
delas retirando o caráter de hediondez, independentemente do estágio da ação penal.
GOVERNO DO ESTADO DE RONDÔNIA
CARGO 3: DELEGADO DE POLÍCIA
Prova Discursiva – Questão 3
Aplicação: 25/9/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


Conforme a doutrina clássica, poder de polícia administrativa – ou poder de polícia em sentido estrito – é a prerrogativa
conferida aos agentes da Administração, consistente no poder de restringir e condicionar a liberdade e a propriedade em
prol do interesse público ou geral. (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 31 ed. São
Paulo: Atlas, 2017. p. 78).

Segundo a teoria do ciclo de polícia, conforme evocado pelo STF no julgamento do RE 633.782 – Tema n.º 523 de RG
– com apoio da doutrina de Diogo de Figueiredo Moreira Neto – são quatro as fases existentes: (i) ordem de polícia, (ii)
consentimento de polícia, (iii) fiscalização de polícia e (iv) sanção de polícia.

A ordem de polícia é fase inicial do ciclo, consistente no mandamento legal de fazer ou deixar de fazer algo para
preservar o interesse geral. O consentimento é o ato administrativo de anuência da administração pública que possibilita a
utilização da propriedade particular ou o exercício da atividade privada. A fiscalização é a verificação, pela administração
pública, do cumprimento, por parte dos administrados, das ordens e dos consentimentos de polícia. E, por fim, a sanção de
polícia é a função pela qual a administração submete coercitivamente o infrator das fases de ordem e consentimento a medidas
inibidoras (compulsivas) ou dissuasoras (suasivas).

Segundo a tese fixada pelo STF no julgamento do RE 633.782 – Tema n.º 532 de RG –, “é constitucional a delegação
do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública indireta de
capital social majoritariamente público que prestem exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime
não concorrencial”. Na ocasião, observadas as balizas do caso, o Supremo assentou a possibilidade de delegação de todas as
fases do poder de polícia, exceto a ordem de polícia, na qual a competência legislativa é restrita aos entes públicos previstos na
Constituição Federal.

QUESITOS AVALIADOS

2.1 Conceito de poder de polícia


0 - Não conceituou poder de polícia ou o fez incorretamente.
1 - Conceituou poder de polícia de forma incompleta.
2 - Conceituou adequadamente poder de polícia.

2.2 Fases do ciclo de polícia


0 - Não discorreu sobre nenhuma fase ou o fez de forma absolutamente incorreta.
1 - Mencionou corretamente apenas uma fase da teoria do ciclo de polícia.
2 - Mencionou corretamente apenas duas fases da teoria do ciclo de polícia.
3 - Mencionou corretamente três fases da teoria do ciclo de polícia.
4 - Mencionou corretamente as quatro fases da teoria do ciclo de polícia.

2.3 Jurisprudência do STF acerca da possibilidade de delegação do poder de polícia a particulares


0 - Não mencionou o aspecto ou respondeu que é impossível.
1 - Mencionou que é possível a delegação, mas não justificou.
2 - Mencionou que é possível a delegação de todas as fases, exceto a ordem de polícia, indicando a jurisprudência do STF
Tema nº 532 de RG.
GOVERNO DO ESTADO DE RONDÔNIA
CARGO 3: DELEGADO DE POLÍCIA
Prova Discursiva – Questão 4
Aplicação: 25/9/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


1 Quanto à prerrogativa de iniciativa legislativa e à constitucionalidade formal

A veiculação de critérios restritivos da escolha do diretor da Polícia Civil pelo governador do estado, para se mostrar
válida no plano formal, deve observar a cláusula de reserva de iniciativa prevista no art. 61, § 1.º, II, “c” e “e” (aplicáveis aos
estados por força do art. 25 da CF), motivo pelo qual somente o chefe do Poder Executivo dispõe de legitimação para instaurar
o processo legislativo pertinente ou propor o respectivo projeto de emenda à Constituição estadual quanto a esse específico tema.

Tratando-se de norma originária da Constituição estadual, não há falar em usurpação da prerrogativa de iniciativa do
governador estadual, pois as regras da Constituição Federal estipuladoras de reserva de iniciativa legislativa não sujeitam o
exercício do poder constituinte decorrente instituidor titularizado pelas Assembleias Legislativas estaduais (ADCT, art. 11),
ressalvada a constatação objetiva de burla ou fraude às prerrogativas institucionais do chefe do Poder Executivo, situação
inocorrente na espécie.

2 Quanto à constitucionalidade material

Não há qualquer óbice constitucional de índole material à estipulação normativa de critérios razoáveis e objetivos à
escolha do chefe da Polícia Civil pelo governador do estado, tal como a exigência de que o ocupante do cargo seja eleito entre
os integrantes da última classe da carreira.
Possibilidade de os estados-membros, no exercício de sua autonomia político-administrativa, estabelecerem outros
critérios objetivos e racionais a serem observados pelos governadores de estado na escolha do diretor da Polícia Civil estadual,
tal como a exigência de que o ocupante do cargo seja eleito entre os integrantes da última classe da carreira.

QUESITOS AVALIADOS

2.1
0 - Não abordou o aspecto, não mencionou a iniciativa legislativa ou afirmou que o § 1.º do art. 150 da CE é formalmente
inconstitucional.
1 - Afirmou apenas genericamente que o § 1.º é constitucional ou que a iniciativa legislativa é do governador do estado.
2 - Afirmou que o § 1.º é constitucional ou mencionou que a iniciativa legislativa é do governador do estado.
3 - Afirmou que o § 1.º é constitucional, mencionou que a iniciativa legislativa é do governador do estado e citou expressamente
o artigo 61, § 1.º, II, “c” e “e”, da CF.
4 - Afirmou que o § 1.º é constitucional, mencionou que a iniciativa legislativa é do governador do estado, citou expressamente
o artigo 61, § 1.º, II, “c” e “e”, da CF e mencionou o entendimento do STF de que, em se tratando de norma originária da
constituição estadual, não há falar em usurpação da prerrogativa de iniciativa do governador estadual.
OBS: Para que o candidato faça jus ao conceito 4, não é necessário indicar o número da ADI.

2.2
0 - Não abordou o aspecto ou afirmou que o § 1.º do art. 150 da CE é materialmente inconstitucional.
1 - Afirmou apenas genericamente que o § 1.º é materialmente constitucional, sem mencionar o entendimento do STF.
2 - Afirmou que o § 1.º é materialmente constitucional e abordou parcialmente o entendimento do STF.
3 - Afirmou que o § 1.º é materialmente constitucional e abordou o entendimento do STF pela possibilidade de os estados-
membros, no exercício de sua autonomia político-administrativa, estabelecerem outros critérios objetivos e racionais a serem
observados pelos governadores de estado na escolha do diretor da Polícia Civil estadual, tal como a exigência de que o ocupante
do cargo seja eleito entre os integrantes da última classe da carreira.
OBS: para que o candidato faça jus à pontuação de conceito 3, não é necessário indicar o número da ADI.
CONCURSO PÚBLICO | Edital: 2022 | TARDE

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO


SECRETARIA DE ESTADO
DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA CIVIL

POLÍCIA CIVIL DO ESTADO


DO ESPÍRITO SANTO
CADERNO DE PROVA DISCURSIVA

LEIA COM ATENÇÃO AS INSTRUÇÕES ABAIXO.


1 Ao receber este caderno de prova, confira inicialmente se os dados registrados acima estão
corretos e devidamente transcritos no seu Caderno de Textos Definitivos da Prova Discursiva.
Confira também os dados em cada página numerada deste caderno de prova (caso se trate de
caderno de prova reserva, confira apenas o nome do cargo). Em seguida, verifique se ele contém três
questões discursivas e uma questão envolvendo situação problema, acompanhadas de espaços para
rascunho. Caso o caderno esteja incompleto, tenha qualquer defeito e(ou) apresente divergência quanto
aos dados apresentados, solicite, de imediato, ao(à) aplicador(a) de provas mais próximo(a) que tome as
providências necessárias.
2 Quando autorizado(a) pelo(a) chefe de sala/aplicador(a) de provas, escreva, no espaço apropriado do
Caderno de Textos Definitivos da Prova Discursiva, com sua caligrafia usual, a frase constante do topo
desta capa.
3 Durante a realização da prova, não se comunique com outros(as) candidatos(as) nem se levante sem
autorização de um(a) dos(as) aplicadores(as) de provas.
4 Não serão fornecidas folhas suplementares para rascunho nem para a transcrição dos textos definitivos da prova
discursiva.
5 Na duração da prova, está incluído o tempo destinado à identificação — que será feita no decorrer da
prova — e à transcrição dos textos da prova discursiva para o Caderno de Textos Definitivos da Prova
Discursiva.
6 Ao terminar a prova, chame o(a) aplicador(a) de provas mais próximo(a), devolva-lhe o seu Caderno de
Textos Definitivos da Prova Discursiva e deixe o local de provas.
7 Durante a realização da prova, não destaque nenhuma folha deste caderno.
8 A desobediência a qualquer uma das determinações constantes em edital, no presente caderno ou no
Caderno de Textos Definitivos da Prova Discursiva implicará a anulação da sua prova.

OBSERVAÇÕES:
• Não serão conhecidos recursos em desacordo com o estabelecido em edital.
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CEBRASPE – PC/ES – Edital: 2022

• Nesta prova, faça o que se pede, usando, caso deseje, o espaço para rascunho indicado no presente caderno. Em seguida,
transcreva o texto para o CADERNO DE TEXTOS DEFINITIVOS DA PROVA DISCURSIVA, no local apropriado, pois não
será avaliado fragmento de texto escrito em local indevido.
• Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de linhas disponibilizadas será desconsiderado. Também será
desconsiderado o texto que não for escrito na folha de texto definitivo correspondente.
• No Caderno de Textos Definitivos, a presença de qualquer marca identificadora no espaço destinado à transcrição do texto
definitivo acarretará a anulação da sua prova discursiva.
• Em cada questão, ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 15,00 pontos, dos quais até 0,75 ponto será atribuído ao quesito
apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafos) e estrutura textual (organização das ideias em texto
estruturado). Na questão envolvendo situação problema, esses valores corresponderão a 35,00 pontos e 1,75 ponto,
respectivamente.

PROVA DISCURSIVA
QUESTÃO 1

Pedro foi preso em flagrante pela prática de feminicídio contra sua esposa. Inconformado, ele
impetrou habeas corpus com o objetivo de se ver livre da prisão, alegando que agira em legítima defesa
de sua honra, sob o argumento de que o fato ocorrera logo após ter flagrado a traição de sua esposa com
outro homem.

Com base no disposto na Constituição Federal de 1988 e em entendimento do Supremo Tribunal Federal, esclareça, em relação à
situação hipotética apresentada, se a autoridade policial deveria ter considerado a legítima da defesa da honra de Pedro quando de sua
prisão.

QUESTÃO 1 – RASCUNHO
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CEBRASPE – PC/ES – Edital: 2022

QUESTÃO 2

Em 25/9/2022, às 4 h, João foi preso em flagrante quando saía do interior de uma residência na
posse de joias subtraídas de seus legítimos proprietários. O seu comparsa, ao notar a presença da equipe
policial, fugiu e não foi encontrado. Ao ser ouvido no inquérito, João admitiu a prática criminosa e a ajuda
de um comparsa. Oferecida a denúncia, João foi condenado. Na fase de dosimetria da pena, foram
julgadas negativas as circunstâncias do crime e a culpabilidade do réu. Na sentença, não foi aplicada a
atenuante da confissão espontânea porque as declarações do denunciado não foram utilizadas para
fundamentar a condenação. A pena definitiva foi fixada em três anos e seis meses de reclusão, a ser
cumprida em regime inicial semiaberto, vedada a substituição por penas restritivas de direitos.

Considerando a situação hipotética apresentada, discorra, de forma fundamentada, sobre a adequação da conduta típica atribuída a
João e da pena a ele aplicada, com base na jurisprudência dos tribunais superiores.

QUESTÃO 2 – RASCUNHO
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CEBRASPE – PC/ES – Edital: 2022

QUESTÃO 3

Conceitue indiciamento e discorra sobre suas características e seus efeitos negativos à luz da jurisprudência do STF.

QUESTÃO 3 – RASCUNHO
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CEBRASPE – PC/ES – Edital: 2022

QUESTÃO ENVOLVENDO SITUAÇÃO PROBLEMA

Em visita a seu marido no presídio, Maria levou, dentro de suas roupas íntimas, 400 g de maconha,
além de uma arma de fogo, de uso permitido, com numeração raspada, sem munição, os quais foram
apreendidos no momento em que Maria entrou no estabelecimento carcerário. Presa em flagrante, Maria
ficou em silêncio durante o interrogatório. Posteriormente, verificou-se que seu marido estava preso no
estabelecimento por associação criminosa e roubo. Na análise prévia dos antecedentes de Maria,
verificou-se que havia contra ela uma ação penal em curso pelo crime de furto.

Com base nessa situação hipotética, discorra, com fundamento na legislação de regência, sobre a conduta de Maria, especificando o(s)
tipo(s) penal(is) incidente(s).

QUESTÃO ENVOLVENDO SITUAÇÃO PROBLEMA – RASCUNHO 1/2


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CEBRASPE – PC/ES – Edital: 2022

QUESTÃO ENVOLVENDO SITUAÇÃO PROBLEMA – RASCUNHO 2/2


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ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
SECRETARIA DE ESTADO
DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA CIVIL
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO ESPIRÍTO SANTO
CARGO DE DELEGADO DE POLÍCIA
Prova Discursiva – Questão 1
Aplicação: 06/11/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


2.1 Promulgação da constituição. Atuação da autoridade policial. Coibição da violência doméstica.

Deverá o(a) candidato(a) apontar que a tese jurídica de legítima defesa da honra não tem amparo
constitucional, de forma que a autoridade policial não deveria considerá-la quando da prisão de Pedro, até mesmo porque sua
prática não pode constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas. De fato, com a promulgação da Constituição da
República de 1988 (CF), todo cidadão tem direito a tratamento idêntico pela lei, sendo dever do Estado instituir mecanismos
para coibir a violência doméstica (§ 8.º do art. 226 da CF), visando à construção de uma sociedade justa, livre de preconceitos e
discriminações.

2.2 Ofensa a direitos constitucionais. Estímulo à perpetuação da violência contra a mulher e ao feminicídio.

Deverá o(a) candidato(a) argumentar que, com base nesse contexto, o entendimento do STF é de que a tese da
“legítima defesa da honra” é prática que não se sustenta à luz da Constituição de 1988, por mostrar-se ofensiva à dignidade da
pessoa humana, à vedação de discriminação e aos direitos à igualdade e à vida, cuja ofensa concretiza-se, sobretudo, no estímulo
à perpetuação da violência contra a mulher e ao feminicídio, de forma que não deve ser acatada no curso do processo penal, seja
na fase pré-processual ou na processual.

‘Legítima defesa da honra’ não é, tecnicamente, legítima defesa. A traição se encontra inserida no contexto das relações
amorosas. Seu desvalor reside no âmbito ético e moral, não havendo direito subjetivo de contra ela agir com violência. Quem
pratica feminicídio ou usa de violência com a justificativa de reprimir um adultério não está a se defender, mas a atacar uma
mulher de forma desproporcional, covarde e criminosa. O adultério não configura uma agressão injusta apta a excluir a
antijuridicidade de um fato típico, pelo que qualquer ato violento perpetrado nesse contexto deve estar sujeito à repressão do
direito penal. A ‘legítima defesa da honra’ é recurso argumentativo/retórico odioso, desumano e cruel utilizado pelas defesas de
acusados de feminicídio ou agressões contra a mulher para imputar às vítimas a causa de suas próprias mortes ou lesões.
Constitui-se em ranço, na retórica de alguns operadores do direito, de institucionalização da desigualdade entre homens e
mulheres e de tolerância e naturalização da violência doméstica, as quais não têm guarida na Constituição de 1988. Tese violadora
da dignidade da pessoa humana, dos direitos à vida e à igualdade entre homens e mulheres (art. 1.º, inciso III, e art. 5.º, caput e
inciso I, da CF/88), pilares da ordem constitucional brasileira. A ofensa a esses direitos concretiza-se, sobretudo, no estímulo à
perpetuação da violência contra a mulher e do feminicídio. O acolhimento da tese tem a potencialidade de estimular práticas
violentas contra as mulheres ao exonerar seus perpetradores da devida sanção. A ‘legítima defesa da honra’ não pode ser invocada
como argumento inerente à plenitude de defesa própria do tribunal do júri, a qual não pode constituir instrumento de salvaguarda
de práticas ilícitas. Assim, devem prevalecer a dignidade da pessoa humana, a vedação a todas as formas de discriminação, o
direito à igualdade e o direito à vida, tendo em vista os riscos elevados e sistêmicos decorrentes da naturalização, da tolerância
e do incentivo à cultura da violência doméstica e do feminicídio.
[ADPF 779 MC REF, rel. min. dias Toffoli, j. 15-3-2021, P, DJE de 20-5-2021.]
QUESITOS / CONCEITOS

2.1. Promulgação da constituição. Atuação da autoridade policial. Coibição da violência doméstica.

0 – Não mencionou o disposto na Constituição Federal de 1988 ou mencionou que a tese tem amparo constitucional.
1 – Apontou que a tese não tem amparo após a promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF), mas não abordou o direito
de tratamento idêntico pela lei, tampouco mencionou que é dever do Estado instituir mecanismos para coibir a violência
doméstica (§ 8.º do art. 226 da CF), visando à construção de uma sociedade justa, livre de preconceitos e discriminações.
2 – Apontou que a tese não tem amparo após a promulgação da CF, mencionando o direito de tratamento idêntico pela lei, mas
não mencionou que é dever do Estado instituir mecanismos para coibir a violência doméstica (§ 8.º do art. 226 da CF), visando
à construção de uma sociedade justa, livre de preconceitos e discriminações.
3 – Apontou que a tese não tem amparo após a promulgação da CF, mencionando o direito de tratamento idêntico pela lei, e
mencionou que é dever do Estado instituir mecanismos para coibir a violência doméstica (§ 8.º do art. 226 da CF), visando à
construção de uma sociedade justa, livre de preconceitos e discriminações, de forma que a autoridade policial não poderia
considerar a legítima defesa da honra como argumento para não prender Pedro em flagrante.

2.2 Ofensa a direitos constitucionais. Estímulo à perpetuação da violência contra a mulher e ao feminicídio.

0 – Não apontou o entendimento do STF ou o fez de forma equivocada.


1 – Apontou que o STF entende que a tese da “legítima defesa da honra” é prática que não se sustenta à luz da CF, mas não
fundamentou, tampouco abordou que a concretização dessa tese configura estímulo à perpetuação da violência contra a mulher
e ao feminicídio.
2 – Apontou que o STF entende que a tese da “legítima defesa da honra” é prática que não se sustenta à luz da CF, por mostrar-
se ofensiva à dignidade da pessoa humana, à vedação de discriminação e aos direitos à igualdade e à vida, mas não abordou que
a concretização dessa tese configura estímulo à perpetuação da violência contra a mulher e ao feminicídio.
3 – Apontou que o STF entende que a tese da “legítima defesa da honra” é prática que não se sustenta à luz da CF, por mostrar-
se ofensiva à dignidade da pessoa humana, à vedação de discriminação e aos direitos à igualdade e à vida, ressaltando que a
concretização dessa tese configura estímulo à perpetuação da violência contra a mulher e ao feminicídio, de forma que não deve
ser acatada no curso do processo penal, seja na fase pré-processual, seja na fase processual.
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
SECRETARIA DE ESTADO
DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA CIVIL
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO ESPIRÍTO SANTO
CARGO DE DELEGADO DE POLÍCIA
Prova Discursiva – Questão 2
Aplicação: 06/11/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


A denúncia atribui a João a conduta de subtrair coisa alheia móvel, prevista no art. 155 do CP. As circunstâncias
narradas na situação apresentada denotam que essa subtração foi praticada em concurso de agentes e durante o período noturno,
fatos que interferem na correta adequação à tipificação da conduta e, por consequência, na pena final a ser aplicada ao agente
criminoso.

O art. 155, § 1.º, do CP, prevê que o furto praticado durante o repouso noturno é motivo de aumento da pena
em 1/3. Esse aumento de pena se justifica porque, durante o período noturno, há natural enfraquecimento do poder de vigilância.
Já o art. 155, § 4.º, do CP, qualifica o crime de furto quando praticado por mais de uma pessoa.

Todavia, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento do recurso especial repetitivo n.º 1.890.981,
firmou a tese de que “A causa de aumento prevista no § 1.º do art. 155 do Código Penal (prática do crime de furto no período
noturno) não incide no crime de furto na sua forma qualificada (§ 4.º)”. O STJ entende que o fato de a causa de aumento estar
topograficamente posicionada antes da forma qualificada do delito impede a sua aplicação: “A interpretação sistemática pelo
viés topográfico revela que a causa de aumento de pena relativa ao cometimento do crime de furto durante o repouso noturno,
prevista no art. 155, § 1.º, do CP, não incide nas hipóteses de furto qualificado, previstas no art. 155, § 4.º, do CP”.

Tal entendimento contraria a jurisprudência histórica do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria, conforme
demonstra o seguinte precedente: “EMENTA Habeas corpus. Penal. Tentativa de furto qualificado pelo rompimento de
obstáculo (CP, art. 155, § 4.º, I, c/c o art. 14, II). Condenação. Incidência da majorante do repouso noturno (CP, art. 155, § l.º)
nas formas qualificadas do crime de furto (CP, art. 155, § 4.º). Admissibilidade. Inexistência de vedação legal e de contradição
lógica que possa obstar a convivência harmônica dos dois institutos quando perfeitamente compatíveis com a situação fática.
Entendimento doutrinário e jurisprudencial. Ordem denegada. 1. Não convence a tese de que a majorante do repouso noturno
seria incompatível com a forma qualificada do furto, a considerar, para tanto, que sua inserção pelo legislador antes das
qualificadoras (critério topográfico) teria sido feita com intenção de não submetê-la às modalidades qualificadas do tipo penal
incriminador. 2. Se assim fosse, também estaria obstado, pela concepção topográfica do Código Penal, o reconhecimento do
instituto do privilégio (CP, art. 155, § 2.º) no furto qualificado (CP, art. 155, § 4º) –, como se sabe, o Supremo Tribunal Federal
já reconheceu a compatibilidade desses dois institutos. 3. Inexistindo vedação legal e contradição lógica, nada obsta a
convivência harmônica entre a causa de aumento de pena do repouso noturno (CP, art. 155, § 1.º) e as qualificadoras do furto
(CP, art. 155, § 4.º) quando perfeitamente compatíveis com a situação fática. 4. Ordem denegada. (HC 130952, Relator(a): DIAS
TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 13/12/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-033 DIVULG 17-02-2017 PUBLIC 20-
02-2017)”.

A sentença deixou de reconhecer a atenuante da confissão espontânea (art. 65, III, d, do CP), sob o argumento
de que as declarações do réu reconhecendo a prática criminosa não foram utilizadas para fundamentar a sentença condenatória.
A Súmula 545 do STJ estabelece que “Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu
fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal”. Mesmo assim, ainda que a admissão do sentenciado não seja
utilizada pelo juiz na sentença, é devido o reconhecimento da atenuante, conforme jurisprudência do STJ: “O réu fará jus à
atenuante do art. 65, III, 'd', do CP quando houver admitido a autoria do crime perante a autoridade, independentemente de a
confissão ser utilizada pelo juiz como um dos fundamentos da sentença condenatória, e mesmo que seja ela parcial, qualificada,
extrajudicial ou retratada” (REsp n. 1.972.098/SC, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 14/6/2022, DJe
de 20/6/2022).

Além disso, não foi autorizada a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos. Segundo
o art. 44 do CP: “As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I – aplicada
pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou,
qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II – o réu não for reincidente em crime doloso; III – a culpabilidade,
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente”.

No caso concreto, não há notícias de reincidência e a pena aplicada foi inferior a 4 anos. Todavia, houve o
reconhecimento de duas circunstâncias judiciais desfavoráveis, o que justifica a não substituição da sanção privativa de liberdade,
conforme precedentes do STJ: “O reconhecimento de circunstâncias judiciais desfavoráveis (antecedentes criminais e
circunstâncias do crime) não recomenda a substituição da pena corporal por sanções restritivas de direitos, por ausência de
cumprimento do requisito subjetivo do art. 44, inciso III, do Código Penal” (AgRg no HC n. 738.509/RS, relator Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 7/6/2022, DJe de 13/6/2022).

Será admitida a pontuação do candidato que julgue possível a substituição da pena privativa de liberdade, ainda
que haja circunstâncias judiciais desfavoráveis, conforme acréscimo no conceito IV do quesito 2.2.

QUESITOS / CONCEITOS

Quesito 2.1: i) a conduta atribuída a João configura o crime de furto qualificado pelo concurso de pessoas; ii) o STJ afasta a
possibilidade de aplicação da causa de aumento do repouso noturno ao furto qualificado, iii) por meio de uma interpretação
sistemática pelo viés topográfico ou do princípio da proporcionalidade; iv) muito embora haja jurisprudência do STF no sentido
contrário, admitindo a aplicação da causa de aumento do repouso noturno ao furto qualificado.

0 – Não discorreu sobre nenhum dos aspectos acima elencados ou discorreu de forma errada sobre todos eles.
1 – Discorreu de forma acertada sobre apenas um dos aspectos acima elencados.
2 – Discorreu de forma acertada sobre dois dos aspectos acima elencados.
3 – Discorreu de forma acertada sobre três dos aspectos acima elencados.
4 – Discorreu de forma acertada sobre os quatro aspectos acima elencados.

Quesito 2.2: i) a confissão espontânea é circunstância atenuante que reduz a pena na segunda fase da individualização, ii)
independentemente de as declarações do réu terem servido como fundamento da sentença condenatória; iii) a quantidade de pena
aplicada autorizaria a substituição da reprimenda privativa de liberdade por restritiva de direitos, iv) porém a existência de
circunstâncias judiciais desfavoráveis constituem fundamento válido para a não concessão do benefício OU mesmo que haja
circunstância judicial favorável, v) ainda que não esteja caracterizada reincidência específica.

0 – Não discorreu sobre nenhum dos aspectos acima elencados ou discorreu de forma errada sobre todos eles.
1 – Discorreu de forma acertada sobre apenas um dos aspectos acima elencados.
2 – Discorreu de forma acertada sobre dois dos aspectos acima elencados.
3 – Discorreu de forma acertada sobre três dos aspectos acima elencados.
4 – Discorreu de forma acertada sobre os quatro dos aspectos acima elencados.
5 – Discorreu de forma acertada sobre os cinco aspectos acima elencados.
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
SECRETARIA DE ESTADO
DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA CIVIL
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO ESPIRÍTO SANTO
CARGO DE DELEGADO DE POLÍCIA
Prova Discursiva – Questão 3
Aplicação: 06/11/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


Indiciamento é o ato de atribuir a provável autoria ou participação de alguma pessoa em uma infração penal.
Ou, nas palavras do ministro Teori Zavascki, é o “ato de formalização da convicção, por parte da autoridade policial, de que os
elementos indiciários até então colhidos na investigação indiquem ser uma pessoa autora do crime”. É ato privativo do delegado
de polícia, conforme expressamente previsto no art. 2º, § 6.º, da Lei 12.830/2013: “§ 6.º O indiciamento, privativo do delegado
de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade
e suas circunstâncias”.
Trata-se de ato que somente pode ser praticado no curso do inquérito, não havendo possibilidade de
indiciamento após a finalização das investigações, conforme o STF: “1. Sendo o ato de indiciamento de atribuição exclusiva da
autoridade policial, não existe fundamento jurídico que autorize o magistrado, após receber a denúncia, requisitar ao Delegado
de Polícia o indiciamento de determinada pessoa. A rigor, requisição dessa natureza é incompatível com o sistema acusatório,
que impõe a separação orgânica das funções concernentes à persecução penal, de modo a impedir que o juiz adote qualquer
postura inerente à função investigatória. Doutrina. Lei 12.830/2013. 2. Ordem concedida.
(HC 115015, Relator(a): TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 27/08/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-179
DIVULG 11-09-2013 PUBLIC 12-09-2013)”.
Apesar disso, não existe momento certo para o ato durante o inquérito, podendo ele acontecer já no auto de
prisão em flagrante, durante as investigações, ou apenas no relatório final.
Ensina Renato Brasileiro de Lima (Manual de Processo Penal, 2020, p. 224): “O indiciamento deve ser objeto
de um ato formal, ante as implicações jurídicas que ocasiona para o status do indivíduo. Assim, o indiciamento funciona como
um poder-dever da autoridade policial, uma vez convencida da concorrência dos seus pressupostos.” E completa: “Ausente
qualquer elemento de informação quanto ao envolvimento do agente na prática delituosa, a jurisprudência tem admitido a
possibilidade de impetração de habeas corpus a fim de sanar o constrangimento ilegal daí decorrente, buscando-se o
desindiciamento”.
O indiciamento traz reflexos importantes na esfera jurídica de seu sujeito passivo. Além de haver grande
prejuízo ao indiciado em sua dimensão moral, pois passa a figurar como pessoa formalmente investigada no âmbito criminal, o
ato gera registros no instituto de identificação, conforme expressamente previsto no art. 23 do CPP: “Ao fazer a remessa dos
autos do inquérito ao juiz competente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repartição
congênere, mencionando o juízo a que tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à infração penal e à pessoa do indiciado”.
Além disso, há previsão expressa na Lei n.º 9.613/1998 do afastamento do servidor público indiciado por
suposta prática do crime de lavagem de capitais: “Art. 17-D: Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado,
sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada,
o seu retorno”. Todavia esse dispositivo foi declarado inconstitucional pelo STF na ADI 4911: “5. Sendo o indiciamento ato
dispensável para o ajuizamento de ação penal, a norma que determina o afastamento automático de servidores públicos, por força
da opinio delicti da autoridade policial, quebra a isonomia entre acusados indiciados e não indiciados, ainda que denunciados
nas mesmas circunstâncias. Ressalte-se, ainda, a possibilidade de promoção de arquivamento do inquérito policial mesmo nas
hipóteses de indiciamento do investigado. 6. Ação Direta julgada procedente” (ADI 4911, Relator(a): EDSON FACHIN,
Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 23/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-285 DIVULG 02-12-2020 PUBLIC 03-12-2020).
Por fim, destaque-se que a Lei n.º 10.826/2003 estabelece que “Art. 4.º Para adquirir arma de fogo de uso
permitido o interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: I – comprovação de
idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual,
Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios
eletrônicos”, de forma que eventualmente um indiciado poderá ter a autorização negada em razão dos registros de inquérito
contra si.

QUESITOS / CONCEITOS

2.1: i) conceito de indiciamento como o ato de atribuir a característica de provável autoria ou participação de uma
infração penal a uma pessoa em determinada infração penal; ii) ato privativo do delegado; e iii) fundamentado, iv) na
presença de elementos informativos acerca da materialidade e da autoria do delito.
0 – Não discorreu sobre nenhum dos aspectos acima elencados ou o fez de forma totalmente equivocada.
1 – Discorreu corretamente apenas sobre um dos aspectos acima elencados.
2 – Discorreu corretamente sobre dois dos aspectos acima elencados.
3 – Discorreu corretamente sobre três dos aspectos acima elencados.
4 – Discorreu corretamente sobre os quatro aspectos acima elencados.

2.2 i) o indiciamento somente pode ser praticado durante o inquérito, ii) porém não existe momento certo, podendo
acontecer a qualquer tempo, desde que não seja posterior ao término das investigações; iii) é ato formal; iv) contra o qual
se admite a impetração de habeas corpus, quando ausentes os pressupostos para a sua prática; v) e que não pode recair
sobre membro do Ministério Público ou da Magistratura, haja vista os óbices legais.
0 – Não discorreu sobre nenhum dos aspectos acima elencados ou o fez de forma totalmente equivocada.
1 – Discorreu corretamente apenas sobre um dos aspectos acima elencados.
2 – Discorreu corretamente sobre dois dos aspectos acima elencados.
3 – Discorreu corretamente sobre três dos aspectos acima elencados.
4 – Discorreu corretamente sobre os pelo menos quatro aspectos acima elencados.

2.3 i) o indiciamento gera prejuízo moral contra o sujeito passivo; ii) provoca registros no instituto de identificação; iii)
é previsto em lei como causa de afastamento de servidor público investigado por lavagem de dinheiro; iv) porém tal
previsão foi declarada inconstitucional pelo STF; v) pode impedir a aquisição de arma de fogo.
0 – Não discorreu sobre nenhum dos aspectos acima elencados ou o fez de forma totalmente equivocada.
1 – Discorreu corretamente apenas sobre um dos aspectos acima elencados.
2 – Discorreu corretamente sobre dois dos aspectos acima elencados.
3 – Discorreu corretamente sobre três dos aspectos acima elencados.
4 – Discorreu corretamente sobre quatro dos aspectos acima elencados.
5 – Discorreu corretamente sobre os cinco aspectos acima elencados.
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
SECRETARIA DE ESTADO
DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA CIVIL
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO ESPIRÍTO SANTO
CARGO DE DELEGADO DE POLÍCIA
Prova Discursiva – Questão envolvendo Situação Problema
Aplicação: 06/11/2022

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


A conduta praticada por Maria é, inicialmente, a de tráfico de drogas privilegiado, previsto no artigo 33, § 4.º,
da Lei n.º 11.343/2006, na modalidade “trazer consigo”. Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o fato de trazer
consigo drogas dentro de suas roupas íntimas em visita a presídio não é motivo suficiente para afastar a causa de diminuição de
pena prevista no § 4.º. (HC n. 532.434/SP, relator Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 12/11/2019, DJe de
22/11/2019.). Do mesmo modo, o fato de Maria responder a uma ação penal pelo crime de furto não é motivo suficiente para
afastar o privilégio, haja vista que o emprego de ações penais e de inquéritos policiais não são suficientes para obstar a aplicação
do referido parágrafo mencionado, conforme decidiu a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça. (REsp 1.977.027-PR,
Rel. min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 10/08/2022 (Tema 1139)
Aplica-se o artigo 33, § 4.º, da Lei n.º 11.343/2006, cumulado ao artigo 40, III, da mesma lei, pelo fato de o
delito ter sido praticado nas dependências de estabelecimento prisional.
Além disso, tem-se o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, em razão da numeração raspada,
nos moldes do artigo 16, § 1.º, IV, da Lei 10.826/2003. Ressalte-se que o fato de a arma estar desmuniciada não afasta a prática
delitiva, conforme entende o Supremo Tribunal Federal (HC 96.759 2.ª Turma e HC 102.087 – 1.ª Turma)
QUESITOS / CONCEITOS
2.1 TIPIFICAÇÃO CORRETA DO TRÁFICO DE DROGAS
0 – Não fez qualquer menção ao artigo 33 nem à causa de aumento prevista no art. 40, III, ambos da Lei n.º 11.343/2006 ou fez
menção a tipo penal totalmente em desacordo com o espelho.
1 – Mencionou o artigo 33 da Lei n.º 11.343/2006, porém sem abordar o § 4.º, ou mencionou apenas a causa de aumento prevista
no artigo 40, III, da mesma lei.
2 – Mencionou o artigo 33 da Lei n.º 11.343/2006, porém sem abordar o § 4.º, mas mencionou a causa de aumento prevista no
artigo 40, III, da mesma lei.
3 – Mencionou o artigo 33 da Lei n.º 11.343/2006, abordando o § 4.º, sem mencionar a causa de aumento prevista no artigo 40,
III, da mesma lei.
4 – Mencionou o artigo 33 da Lei n.º 11.343/2006, abordando o § 4.º, e mencionou a causa de aumento prevista no artigo 40, III,
da mesma lei, ou não mencionou o § 4.º, alegando que, em razão do porte de arma, de forma justificada, induz que o agente se
dedica a atividades criminosas.
2.2 FUNDAMENTAÇÃO NO ARTIGO 33, § 4.º, DA LEI N.º 11.343/2006
0 – Não fez qualquer menção ao privilégio previsto no art. 33 da Lei n.º 11.343/2006 ou o fez de forma equivocada.
1 – Mencionou erroneamente não ser cabível o privilégio previsto no artigo 33, § 4.º, por entender que o fato de responder à ação
penal ou o de ter a droga apreendida em estabelecimento comercial não permitiriam a concessão do privilégio.
2 – Mencionou erroneamente não ser cabível o privilégio previsto no artigo 33, § 4.º, mas abordou corretamente que o fato de
responder à ação penal ou o de ter sido a droga apreendida em estabelecimento comercial permitiriam a concessão do privilégio.
3 – Mencionou corretamente ser cabível o privilégio previsto no artigo 33, § 4.º, mas não abordou que o fato de responder à ação
penal ou o de ter sido a droga apreendida em estabelecimento comercial permitem a concessão do privilégio.
4 – Mencionou corretamente ser cabível o privilégio previsto no artigo 33, § 4.º, abordando corretamente que o fato de responder
à ação penal ou o de ter sido a droga apreendida em estabelecimento comercial permitem a concessão do privilégio ou, de forma
perfeitamente justificada, alegando as circunstâncias do caso concreto, entendeu não cabível, por vincular conjuntamente com o
porte de arma a dedicação a atividades criminosas.
2.3 PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO
0 – Não mencionou o porte ilegal de arma de fogo.
1 – Entendeu atípica a conduta pelo fato de a arma estar desmuniciada.
2 – Entendeu típica a conduta, mas não subsumiu o tipo penal ao do artigo 16, § 1.º, IV, da Lei n.º 10.826/2003.
3 – Entendeu corretamente a conduta como típica e a subsumiu corretamente ao tipo penal do artigo 16, § 1.º, IV, da Lei
n.º 10.826/2003.
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 1/17

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO


SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA CIVIL
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO ESPIRÍTO SANTO
CONCURSO PÚBLICO PARA O PROVIMENTO DE VAGAS NO CARGO DE DELEGADO DE POLÍCIA

PROVA ORAL

DIREITO CONSTITUCIONAL

QUESTÃO 1
<<D05_dConst_M2200151_0857_821001A01>>
Discorra, à luz do entendimento do Supremo Tribunal Federal, sobre a constitucionalidade de ato normativo
estadual que estabeleça condições para a manutenção do porte de arma de fogo por policiais civis aposentados.

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS


7 Controle da constitucionalidade. 7.1 Conceito. 7.2 Sistemas de controles. 7.3 Inconstitucionalidade por ação e
por omissão. 33 Defesa do Estado e das instituições democráticas. 35 Organização da segurança pública.

PADRÃO DE RESPOSTA

De acordo com o Supremo Tribunal Federal, “é constitucional ato normativo estadual que, respeitando
as condições mínimas definidas em diploma federal de normas gerais, estabelece exigência adicional para a
manutenção do porte de arma de fogo por servidores estaduais aposentados das forças de segurança pública”.
(STF, Tribunal Pleno, ADI nº 7.024/PR, Rel. min. Roberto Barroso, j. em 17/12/2022, DJe-023 div. 08/2/2023
pub. 9/2/2023)

O ministro Roberto Barroso, ao votar na ADI n.º 7.024/PR, consignou que:

9. Discute-se na presente ação direta de inconstitucionalidade a possibilidade de decreto


estadual estabelecer condições específicas para assegurar o porte de armas a policiais
civis aposentados do Estado do Paraná. A questão principal reside em saber se aludida
regulamentação, realizada em âmbito estadual, possui ou não vício de
inconstitucionalidade formal.
10. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal se firmou no sentido de que os arts.
21,VI, e 22, I e XXI, da Constituição atribuem competência privativa à União para
legislar sobre porte de arma, matéria em que haveria predominância de interesse
nacional. Por todos, cito os seguintes precedentes: ADI 3.258, Rel. min. Joaquim
Barbosa; ADI 3.112, Rel. min. Ricardo Lewandoswki; ADI 2.729, Red. p/o acórdão
o min. Gilmar Mendes; ADI 4.962, Rel. min. Alexandre de Moraes.
11. No julgamento da ADI 5.359, Rel. min. Edson Fachin, manifestei o entendimento de
que a questão não envolve propriamente a edição de normas de direito penal ou sobre
material bélico. Parece-me que a legislação sobre porte de armas está mais relacionada
com segurança pública, motivo por que entendo haver competência concorrente entre a
União e os estados (art. 144, caput e § 7º, CF). De toda forma, a divergência que
apresento, acerca da natureza da competência legislativa em matéria de porte de arma,
não conduz a conclusão essencialmente diversa daquela orientada pela jurisprudência
desta Corte.
12. Afirmada a competência concorrente nesta matéria, entendo que há espaço de
autonomia para que os Estados legislem sobre porte de arma, desde que respeitados os
limites impostos pela Constituição e pela lei editada no exercício da competência
federal para a edição de normas gerais (art. 24, § 1º, CF). Considerando que a
competência privativa reconhecida em precedentes do Plenário também envolve a
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 2/17
edição de “normas gerais de (...) material bélico” (art. 22, XXI, CF)[1], os dois
caminhos parecem levar ao mesmo destino. Reservada à União a competência para fixar
normas gerais, uma vez editada a lei federal, caberá aos Estados exercer competência
suplementar em harmonia com os preceitos contidos naquela.
13. Em matéria de porte de arma, a norma geral federal foi veiculada na Lei nº
10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento). O Decreto federal nº 9.847/2019, que
regulamenta a Lei nº 10.826/2003, em seu art. 30, caput, prevê que os servidores
aposentados das forças de segurança, para conservarem a autorização de porte de arma
de fogo de sua propriedade deverão se submeter, a cada dez anos, aos testes de
avaliação psicológica definidos em lei[2]. Trata-se de previsão que visa a resguardar a
segurança pública, ao impedir a manutenção da autorização para porte de arma por
pessoa que não tenha condições psicológicas de exercer esse direito. Por se tratar de
disposição constante de diploma de normas gerais, o prazo de 10 (dez) anos para a
renovação dos testes psicológicos deve ser lido como um patamar mínimo de segurança.
Sendo assim, no exercício de sua competência suplementar, os Estados podem editar
normas específicas, desde que mais restritivas.
14. O art. 14, § 1º, I, do Decreto estadual nº 8.135/2017, ao definir que é de 5
(cinco) anos o prazo para a renovação dos testes psicológicos necessários à manutenção
do porte de arma por policiais civis aposentados, estabelece previsão específica para
servidores estaduais de conteúdo mais — e não menos — protetivo do que o previsto
em diploma de normas gerais. Dessa forma, tendo sido respeitadas as condições
mínimas estabelecidas em normas gerais, não se pode afirmar que a norma específica
editada pelo Estado implique usurpação da competência da União na matéria.
15. Resta analisar a constitucionalidade dos demais dispositivos impugnados na
presente ação direta (arts. 14, § 3º, e 21, § 5º, I a IV, do Decreto nº 8.135/2017).
Considero oportuno transcrevê-los novamente:
Art. 14. A carteira modelo "A" destina-se ao servidor policial civil ativo e os modelos
“B” e “C”, ao inativo.
§ 3º É facultado ao policial aposentado, o requerimento da carteira de identidade
funcional, porém, a restituição do conjunto documental de ativo e demais objetos
recebidos em carga pelo servidor, é obrigatório, conforme dispõe o Art. 21 do presente
Decreto.
(...)
Art. 21. Ao aposentar-se, o servidor policial civil restituirá a carteira de identidade
funcional de ativo, a insígnia e o portadocumentos, no prazo de 10 (dez) dias, contados
da publicação oficial do ato de aposentação, ao Setor de Cédulas do Instituto de
Identificação do Paraná, sendo a primeira inutilizada e os demais objetos redistribuídos
a outro funcionário, se necessário.
(...)
§ 5º Fica vedado o benefício da concessão da identificação funcional aos servidores
policiais civis aposentados que em seus assentamentos funcionais registrem histórico de
exercício com ocorrência de infrações que envolvam:
I - Improbidade funcional;
II - Temperamento violento ou explosivo;
III - Hábito de ingestão de álcool ou substância que provoque dependência física ou
psíquica;
IV - Comportamentos indignos ou infamantes que denigram a instituição policial ou
seus componentes.
16. Observo que esses dispositivos nem sequer tratam da concessão de porte de arma.
Em verdade, eles versam, tão somente, sobre requisitos para a concessão de
identificação funcional ao servidor inativo. Por suas disposições, veda-se a concessão de
identidade funcional aos policiais aposentados que deixarem de devolver à
Administração objetos recebidos em serviço ativo ou que possuírem em seus
assentamentos funcionais registros de determinadas infrações. Logo, infiro que tais
normas materializam competência regulamentar administrativa, própria do Poder
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 3/17
Executivo estadual, de modo que não incorrem em violação ao texto constitucional.
17. Diante do exposto, julgo improcedentes os pedidos, com a fixação da seguinte tese
de julgamento: ‘É constitucional ato normativo estadual que, respeitando as condições
mínimas definidas em diploma federal de normas gerais, estabelece exigência adicional
para a manutenção do porte de arma de fogo por servidores estaduais aposentados das
forças de segurança pública’.”

Sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal decidiu o que se segue.

DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. CONDIÇÕES PARA MANUTENÇÃO DO PORTE
DE ARMA DE FOGO POR POLICIAIS CIVIS APOSENTADOS. COMPETÊNCIA
LEGISLATIVA.
1. Ação direta de inconstitucionalidade contra os arts. 14, § 1º, I, e § 3º; e 21, § 5º, I a
IV, do Decreto nº 8.135/2017, do Estado do Paraná, que estabelecem condições para a
manutenção do porte de arma de fogo por policiais civis aposentados, bem como para a
concessão de identidade funcional a servidores inativos.
2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal se firmou no sentido de que os arts.
21, VI, e 22, I e XXI, da Constituição atribuem competência privativa à União para
legislar sobre porte de arma, matéria em que haveria predominância de interesse
nacional.
3. No julgamento da ADI 5.359 (Rel. min. Edson Fachin, j. em 01.03.2021), manifestei
o entendimento de que a questão não versa propriamente sobre direito penal ou material
bélico, mas sobre segurança pública, matéria de competência concorrente (art. 144,
caput e § 7º, CF). De toda forma, tal divergência não parece conduzir a conclusão
essencialmente diversa daquela orientada pela jurisprudência da Corte.
4. Afirmada a competência concorrente, há espaço de autonomia para que os Estados
legislem sobre porte de arma, respeitados os limites impostos pela Constituição e pela
lei federal de normas gerais (art. 24, § 1º, CF). Considerando que a competência
privativa da União reconhecida em precedentes do Plenário também envolve a edição de
“normas gerais de (...) material bélico parecem levar ao mesmo destino”.
5. Reservada à União a competência para editar lei de normas gerais, caberá aos Estados
exercer competência legislativa suplementar em harmonia com os preceitos contidos
naquela.
6. O art. 30 do Decreto federal nº 9.847/2019, que regulamenta a Lei nº 10.826/2003,
prevê que os servidores aposentados das forças de segurança, para conservarem a
autorização de porte de arma de fogo de sua propriedade, deverão se submeter, a cada
dez anos, aos testes de avaliação psicológica definidos em lei. Trata-se de previsão que
visa a resguardar a segurança pública, ao impedir a manutenção da autorização para
porte de arma por pessoa que não tenha condições psicológicas de exercer esse direito.
Por se tratar de disposição constante de diploma de normas gerais, o prazo de 10
(dez) anos para a renovação dos testes psicológicos deve ser lido como um patamar
mínimo de segurança, de modo que os Estados podem editar normas específicas, desde
que mais restritivas.
7. O art. 14, § 1º, I, do Decreto estadual nº 8.135/2017, ao definir que é de 5
(cinco) anos o prazo para a renovação dos testes psicológicos necessários à manutenção
do porte de arma por policiais civis aposentados, estabelece condição específica para
servidores estaduais, de conteúdo mais — e não menos — protetivo do que o previsto
em diploma de normas gerais. Trata-se de disposição que decorre do exercício da
competência estadual para suplementar normas gerais e que, por respeitar as condições
mínimas estabelecidas em norma federal, não invade a competência da União na
matéria.
8. Pedidos julgados improcedentes, com a fixação da seguinte tese de julgamento: “É
constitucional ato normativo estadual que, respeitando as condições mínimas definidas
em diploma federal de normas gerais, estabelece exigência adicional para a manutenção
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 4/17
do porte de arma de fogo por servidores estaduais aposentados das forças de segurança
pública”. (art. 22, XXI, CF), os dois caminhos” (STF, Tribunal Pleno, ADI nº 7.024/PR,
Rel. min. Roberto Barroso, j. em 17/12/2022, DJe-023 div. 08/2/2023 pub. 9/2/2023)

Portanto, espera-se que o(a) candidato(a) conclua o que se segue.

1) Inexiste vício formal de constitucionalidade, já que se trata de matéria de segurança pública, e não
sobre direito penal ou material bélico, sendo, assim, matéria cuja competência é concorrente (art. 144, caput e
§ 7.º, CF), tendo os estados autonomia para legislar sobre porte de arma, desde que sejam respeitados os limites
impostos pela Constituição Federal de 1988 (CF) e pela lei federal de normas gerais (art. 24, § 1.º, CF).
2) A União tem competência para editar lei de normas gerais e os estados, para exercer competência
legislativa suplementar. Assim, é constitucional ato normativo estadual que, respeitando as condições mínimas
definidas em diploma federal de normas gerais, estabelece exigência adicional para a manutenção do porte de
arma de fogo por servidores estaduais aposentados das forças de segurança pública.

A Constituição Federal de 1988 prevê o que se segue.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é


exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 104, de 2019)
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares.
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades. (Vide Lei nº
13.675, de 2018)
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste
artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
19, de 1998)

QUESITOS / CONCEITOS

Quesito 1
Conceito 0 – Não articula seu raciocínio.
Conceito 1 – Articula seu raciocínio de maneira precária.
Conceito 2 – Articula seu raciocínio de maneira satisfatória.
Conceito 3 – Apresenta excelente articulação.

Quesito 2
Conceito 0 – Não argumenta.
Conceito 1 – Argumenta de maneira precária.
Conceito 2 – Argumenta de maneira satisfatória.
Conceito 3 – Apresenta excelente argumentação.

Quesito 3
Conceito 0 – Não utiliza o vernáculo de forma correta.
Conceito 1 – Utiliza o vernáculo de forma mediana.
Conceito 2 – Utiliza o vernáculo de forma correta.
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 5/17

Quesito 4.1
Conceito 0 – Não responde ou responde incorretamente: 1) inexiste vício formal de constitucionalidade, já que
se trata de matéria de segurança pública, e não sobre direito penal ou material bélico, sendo, assim, matéria cuja
competência é concorrente (art. 144, caput e § 7.º, CF), tendo os estados autonomia para legislar sobre porte de
arma, desde que sejam respeitados os limites impostos pela Constituição Federal de 1988 (CF) e pela lei federal
de normas gerais (art. 24, § 1.º, CF); 2) a União tem competência para editar lei de normas gerais e os estados,
para exercer competência legislativa suplementar. Assim, é constitucional ato normativo estadual que,
respeitando as condições mínimas definidas em diploma federal de normas gerais, estabelece exigência
adicional para a manutenção do porte de arma de fogo por servidores estaduais aposentados das forças de
segurança pública.
Conceito 1 – Responde corretamente apenas em parte.
Conceito 2 – Responde corretamente e de modo completo.

ROTEIRO DE ARGUIÇÃO

Solicite ao candidato que leia o comando da questão.

Ouça a explanação do candidato a respeito da questão e, caso ele não tenha exaurido a resposta esperada de
acordo com o estabelecido no padrão de respostas previsto para a questão, conduza a arguição da forma a seguir
apresentada.

Atenção! Somente deverão ser feitos os questionamentos referentes aos aspectos não explorados ou explorados
de maneira equivocada pelo candidato em sua resposta inicial. Caso ele já tenha abordado corretamente algum
aspecto explorado nas perguntas a seguir, o examinador deverá abster-se de fazê-las e realizar a respectiva
avaliação do candidato.

1 Ato normativo estadual que estabeleça condições para a manutenção do porte de arma de fogo por
policiais civis aposentados é compatível com a Constituição Federal?
2 Os estados têm autonomia para legislar sobre porte de arma de fogo por servidores estaduais
aposentados das forças de segurança pública?

Finalize sua arguição com a expressão: Sem mais perguntas.

PLANILHA DE CORREÇÃO

QUESITOS AVALIADOS VALOR CONCEITO

1 Articulação do raciocínio 0,00 a 1,00 0 1 2 3


2 Capacidade de argumentação 0,00 a 1,00 0 1 2 3
3 Uso correto do vernáculo 0,00 a 1,00 0 1 2
4 Domínio do conhecimento jurídico
Constitucionalidade de ato normativo estadual que
4.1 estabeleça condições para a manutenção do porte de 0,00 a 7,00 0 1 2
arma de fogo por policiais civis aposentados
TOTAL 10,00
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 6/17

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO


SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA CIVIL
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO ESPIRÍTO SANTO
CONCURSO PÚBLICO PARA O PROVIMENTO DE VAGAS NO CARGO DE DELEGADO DE POLÍCIA

PROVA ORAL

DIREITO PENAL

QUESTÃO 2
<<D10_dPenal_M2200152_3036_821001A02>>
Considere a seguinte situação hipotética:

João, inconformado de ter sido traído por sua esposa, Maria, dirigiu-se ao trabalho desta
com intenção de matá-la. Quando a encontrou, ela estava acompanhada por outros colegas de
trabalho, momento em que ele sacou sua arma, que portava legalmente, e realizou um disparo
em direção a Maria. Em razão da má pontaria de João, o projétil acertou a cabeça de
Leonardo, um idoso que estava no ambiente, tendo ele morrido imediatamente em decorrência
do fato. Maria, contudo, saiu fisicamente ilesa da situação.

Com base nessa situação hipotética, responda aos questionamentos a seguir.

1 Qual(is) o(s) crime(s) praticado(s) por João?


2 Em que espécie de erro o agente incorreu?
3 Incide alguma agravante ou atenuante nessa situação?

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS


3.5 Concurso de crimes e crime continuado. 10.1 Crimes contra a pessoa.

PADRÃO DE RESPOSTA

1. Nessa situação, João praticou apenas feminicídio. Ele não pode responder, ao mesmo tempo, por
tentativa de feminicídio contra Maria e homicídio qualificado contra Leonardo, em razão do disposto no
art. 73 do Código Penal (CP). Embora não tenha acertado Maria, sua intenção era matá-la.

Art. 73 Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés
de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se
tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3.º do art. 20
deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender,
aplica-se a regra do art. 70 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

2. Na situação em apreço, houve erro na execução (aberratio ictus), conforme o art. 73 do CP. Não se trata
de erro quanto à pessoa, pois, nessa hipótese, o agente acerta um alvo, mas se engana, diante das
circunstâncias fáticas. Por exemplo: Mata José, achando que era o seu irmão gêmeo, Tiago.
No aberratio ictus, não há falsa percepção da realidade, mas erro de pontaria. Também não se trata de
aberratio criminis (CP, art 74), uma vez que seu erro foi de pessoa para pessoa.
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 7/17
3. Quanto à consequência jurídica desse concurso de crimes, ainda de acordo com o art.73, c/c art. 20,
§ 3.º, do CP, João responderá pelo crime objetivado, embora não tenha sido consumado, já que as
condições e a qualidade da vítima visada foram transferidas para a vítima ofendida. Ele responde apenas
por feminicídio (art. 121, § 2.º, VI, CP), sem a incidência da agravante de a vítima ofendida ser idosa.
Também não incide a agravante da conjugalidade, uma vez que esta já fora utilizada como qualificadora
do homicídio.

Art. 20 (...)
§ 3.º O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não
se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa
contra quem o agente queria praticar o crime.

QUESITOS / CONCEITOS

Quesito 1
Conceito 0 – Não articula seu raciocínio.
Conceito 1 – Articula seu raciocínio de maneira precária.
Conceito 2 – Articula seu raciocínio de maneira satisfatória.
Conceito 3 – Apresenta excelente articulação.

Quesito 2
Conceito 0 – Não argumenta.
Conceito 1 – Argumenta de maneira precária.
Conceito 2 – Argumenta de maneira satisfatória.
Conceito 3 – Apresenta excelente argumentação.

Quesito 3
Conceito 0 – Não utiliza o vernáculo de forma correta.
Conceito 1 – Utiliza o vernáculo de forma mediana.
Conceito 2 – Utiliza o vernáculo de forma correta.

Quesito 4.1 Crime de feminicídio


Conceito 0 – Não menciona o crime de feminicídio ou apresenta resposta completamente errada.
Conceito 1 – Menciona o crime de feminicídio, mas também indica a ocorrência de outros crimes.
Conceito 2 – Afirma tratar-se apenas de feminicídio.

Quesito 4.2 Aberratio Ictus


Conceito 0 – Não indica a espécie de erro ou apresenta resposta completamente errada.
Conceito 1 – Afirma ser aberratio ictus, mas não fundamenta adequadamente.
Conceito 2 – Afirma ser aberratio ictus e fundamenta adequadamente.

Quesito 4.3 Consequência jurídica incidente


Conceito 0 – Não menciona nenhuma consequência jurídica ou apresenta resposta completamente errada.
Conceito 1 – Afirma que as condições da vítima visada são transferidas para a vítima ofendida, mas incide a
agravante.
Conceito 2 – Afirma que as condições da vítima visada são transferidas para a vítima ofendida, mas não
incidindo as agravantes de idoso e de conjugalidade.

ROTEIRO DE ARGUIÇÃO

Solicite ao candidato que leia o comando da questão.

Ouça a explanação do candidato a respeito da questão e, caso ele não tenha exaurido a resposta esperada de
acordo com o estabelecido no padrão de respostas previsto para a questão, conduza a arguição da forma a seguir
apresentada.
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 8/17
Atenção! Somente deverão ser feitos os questionamentos referentes aos aspectos não explorados ou explorados
de maneira equivocada pelo candidato em sua resposta inicial. Caso ele já tenha tratado corretamente de algum
aspecto explorado nas perguntas a seguir, o examinador deverá abster-se de fazê-las e realizar a respectiva
avaliação do candidato.

1 É possível responder por dois crimes?


2 Houve erro quanto à pessoa?
3 Incide a agravante do fato de a vítima ofendida ser idosa?

Finalize sua arguição com a expressão: Sem mais perguntas.

PLANILHA DE CORREÇÃO

QUESITOS AVALIADOS VALOR CONCEITO

1 Articulação do raciocínio 0,00 a 1,00 0 1 2 3


2 Capacidade de argumentação 0,00 a 1,00 0 1 2 3
3 Uso correto do vernáculo 0,00 a 1,00 0 1 2
4 Domínio do conhecimento jurídico
4.1 Crime de feminicídio 0,00 a 1,00 0 1 2
4.2 Aberratio Ictus 0,00 a 3,00 0 1 2
4.3 Consequência jurídica incidente 0,00 a 3,00 0 1 2
TOTAL 10,00
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 9/17

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO


SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA CIVIL
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO ESPIRÍTO SANTO
CONCURSO PÚBLICO PARA O PROVIMENTO DE VAGAS NO CARGO DE DELEGADO DE POLÍCIA

PROVA ORAL

DIREITO PROCESSUAL PENAL

QUESTÃO 3
<<D11_dProcPenal_M2200153_3036_821001A03>>
Considere a seguinte situação hipotética:

Carlos, residente em Miami, na Flórida (EUA), após uma discussão com a namorada,
residente em Vila Velha – ES, enviou-lhe uma mensagem pelo celular, informando-lhe que
embarcaria para o Brasil para encontrá-la e matá-la.

Tendo em vista essa situação hipotética, atenda, à luz do entendimento do Superior Tribunal de Justiça e da
legislação vigente, ao que se pede a seguir.

1 Discorra sobre a competência para processar e julgar a conduta em questão.


2 Considerando que se trata de crime de ameaça — cuja pena é de detenção de um a seis meses —,
explique se é possível realizar a prisão preventiva de Carlos.
3 Explique se, para a deflagração da ação penal, é exigido o ingresso do agente no Brasil.

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS


4 Ação penal. 4.1 Conceito, características, espécies e condições. 4.2 Sujeitos do processo: juiz, Ministério
Público, acusado e seu defensor, assistente, curador do réu menor, auxiliares da justiça, assistentes, peritos e
intérpretes, serventuários da justiça, impedimentos e suspeições. 5 Competência. 7 Termo circunstanciado de
ocorrência; atos processuais; forma, lugar e tempo.

PADRÃO DE RESPOSTA

1. Inicialmente, o tema é de processo penal, referente à competência. Nesse caso, trata-se de crime a
distância, pois envolve dois países soberanos, por isso, pode ser processado tanto nos EUA quanto no
Brasil, diante da teoria da ubiquidade, que considera o lugar do crime tanto o lugar da conduta quanto
do resultado. Como o resultado ocorreria no Brasil, este também poderá processar Carlos. Contudo, a
questão versa sobre jurisdição. Nessa hipótese, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que
compete à justiça federal, e não à justiça estadual, o processamento desse crime, por ser crime
internacional.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N.º 150.712 - SP (2017/0014052-4) RELATOR:


MINISTRO JOEL ILAN PACIORNIK. SUSCITANTE: JUÍZO DE DIREITO DA 2.a
VARA CÍVEL DE CAÇAPAVA - SP SUSCITADO: JUÍZO FEDERAL DA 1.a VARA
DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SJ/SP INTERES.: G DOS S B ADVOGADO:
DAIANE BRIET HASMANN - SP353991 INTERES.: J T H EMENTA CONFLITO
NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO ESTADUAL X JUÍZO FEDERAL.
AMEAÇAS DE EX-NAMORADO A MULHER VIA FACEBOOK. MEDIDAS
PROTETIVAS DE URGÊNCIA. BOLETIM DE OCORRÊNCIA PERANTE
AUTORIDADE POLICIAL BRASILEIRA. PEDIDO DE MEDIDAS PROTETIVAS
DE URGÊNCIA AO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO. REPRESENTAÇÃO DA
OFENDIDA QUE DISPENSA FORMALIDADES. AMEAÇAS REALIZADAS EM
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 10/17
SÍTIO VIRTUAL DE FÁCIL ACESSO. SUPOSTO AUTOR DAS AMEAÇAS
RESIDENTE NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. CRIME À DISTÂNCIA.
FACEBOOK. SÍTIO VIRTUAL DE FÁCIL ACESSO. INTERNACIONALIDADE
CONFIGURADA. O BRASIL É SIGNATÁRIO DE CONVENÇÕES
INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO À MULHER. A LEI MARIA DA PENHA DÁ
CONCRETUDE ÀS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS FIRMADAS PELO
BRASIL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. Está caracterizada nos autos
inequívoca intenção da vítima em fazer a notitia criminis do delito de ameaça, sendo
certo que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – STJ é firme no sentido de
que a representação da ofendida, nas ações penais públicas condicionadas, prescindem
de formalidade. Precedentes. No caso concreto, o boletim de ocorrência, que instrui o
presente incidente, demonstra de forma clara que a suposta vítima narrou as ameaças
sofridas, relatou à autoridade policial que estava com medo, sendo evidente sua intenção
de apuração dos fatos delituosos. A vítima também peticionou junto à Justiça Federal
pleiteando os benefícios da justiça gratuita, bem como medidas protetivas, narrando,
com clareza cristalina, que o suposto autor delituoso praticou ameaça descrita no art.
147 do Código Penal – CP. Diante disso, identifica-se que houve narrativa de fato
típico, sendo evidente a intenção da vítima de dar conhecimento dos fatos às autoridades
policiais e judiciárias, a fim de que fosse garantida a sua proteção. Trata-se, portanto, de
pedido de medida protetiva de natureza penal. 2. Segundo o art. 109, V, da Constituição
Federal – CF, compete aos juízes federais processar e julgar “os crimes previstos em
tratado ou convenção internacional, quando iniciada a execução no País, o resultado
tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente.” Encontrando-se o
suposto autor das ameaças em território estrangeiro, uma vez que não se tem notícia do
seu ingresso no país, tem-se um possível crime à distância, tendo em vista que as
ameaças foram praticadas nos EUA, mas a suposta vítima teria tomado conhecimento
do seu teor no Brasil. 3. O Brasil é signatário de acordos internacionais que asseguram
os direitos das mulheres — a exemplo da Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará, 1994) e
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
(CEDAW, 1979), promulgada pelo Decreto n. 84.460/1984. Tais convenções
apresentam conceitos e recomendações sobre a erradicação de qualquer forma de
discriminação e violência contra as mulheres. Em situação semelhante ao caso concreto,
o argumento da competência da Justiça Estadual diante da ausência de tipificação em
convenção internacional foi derrubado pelo Supremo quando da análise de crimes de
pedofilia na Internet. Com efeito, em julgamento de recurso extraordinário, com
repercussão geral reconhecida, o Ministro Marco Aurélio, relator do feito, entendeu pela
competência da Justiça Estadual fundamentando não haver tratado endossado pelo
Brasil prevendo crime, mas apenas a ratificação do Brasil à Convenção sobre os
Direitos da Criança da Assembleia das Nações Unidas. Todavia, o Ministro Edson
Fachin abriu divergência e foi seguido pela maioria do Plenário. Segundo a tese
vencedora, o Estatuto da Criança e do Adolescente é produto de tratado e convenção
internacional subscritos pelo Brasil. (RE 628.624, Relator(a): min. MARCO AURÉLIO,
Relator(a) p/ Acórdão: min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 29/10/2015,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-062 DIVULG
5/4/2016 PUBLIC 6/4/2016) Destarte, à luz do entendimento firmado pelo Supremo
Tribunal Federal – STF, embora as Convenções Internacionais firmadas pelo Brasil não
tipifiquem o crime de ameaça à mulher, a Lei Maria da Penha, que prevê medidas
protetivas, veio concretizar o dever assumido pelo Estado Brasileiro de proteção à
mulher contra toda forma de violência. 4. No caso concreto é evidente a
internacionalidade das ameaças que tiveram início nos EUA e, segundo relatado, tais
ameaças foram direcionadas à suposta vítima e seus amigos, por meio da rede social de
grande alcance, qual seja, o Facebook. 5. Conflito conhecido, para declarar a
competência do o Juízo Federal da 1.ª Vara de São José dos Campos – SJ/SP, o
suscitado.
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 11/17
2. Em regra, o crime punido com pena abstrata inferior a quatro anos não admite prisão preventiva, na
esteira do art. 313 do Código de Processo Penal (CPP). Entretanto, por envolver violência doméstica, o
inciso III do art. 313 admite a prisão preventiva, conforme se observa nos dispositivos legais transcritos
a seguir.

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação
da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria
e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão
preventiva: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4
(quatro) anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado,
ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).III
- se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das
medidas protetivas de urgência; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

3. Para a deflagração da ação penal, não se exige o ingresso do agente no Brasil. Mesmo o agente estando
em país estrangeiro, é possível deflagrar a ação penal, pois o juízo tem mecanismos para o devido
processamento, como carta rogatória e atos virtuais, cujas formas fazem que a defesa possa insurgir-se
contra a acusação, sem prejuízo ao contraditório e à ampla defesa. Desse modo, a ação poderá ser
intentada e transcorrer, ainda que o réu resida no exterior.

QUESITOS / CONCEITOS

Quesito 1
Conceito 0 – Não articula seu raciocínio.
Conceito 1 – Articula seu raciocínio de maneira precária.
Conceito 2 – Articula seu raciocínio de maneira satisfatória.
Conceito 3 – Apresenta excelente articulação.

Quesito 2
Conceito 0 – Não argumenta.
Conceito 1 – Argumenta de maneira precária.
Conceito 2 – Argumenta de maneira satisfatória.
Conceito 3 – Apresenta excelente argumentação.

Quesito 3
Conceito 0 – Não utiliza o vernáculo de forma correta.
Conceito 1 – Utiliza o vernáculo de forma mediana.
Conceito 2 – Utiliza o vernáculo de forma correta.

Quesito 4.1 Processamento da ação penal — jurisdição


Conceito 0 – Não responde ao questionamento ou apresenta resposta totalmente errada.
Conceito 1 – Afirma ser de competência de ambos os países, mas não soube informar qual o juízo competente.
Conceito 2 – Afirma ser de competência de ambos os países, afirma tratar-se de competência da justiça federal,
mas não fundamenta a resposta.
Conceito 3 – Afirma ser de competência de ambos os países, afirma tratar-se de competência da justiça federal
e fundamenta adequadamente.
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 12/17
Quesito 4.2 Admissibilidade de prisão preventiva no caso concreto pela ameaça envolver violência doméstica
Conceito 0 – Não responde ao questionamento ou apresenta resposta totalmente errada.
Conceito 1 – Afirma ser possível a prisão preventiva, mas não fundamenta a resposta.
Conceito 2 – Afirma ser possível a prisão preventiva e fundamenta adequadamente a resposta.

Quesito 4.3
Conceito 0 – Não responde ao questionamento ou apresenta resposta totalmente errada.
Conceito 1 – Afirma ser possível a deflagração da ação, mas não fundamenta a resposta.
Conceito 2 – Afirma ser possível a deflagração da ação e fundamenta adequadamente a resposta.

ROTEIRO DE ARGUIÇÃO

Solicite ao candidato que leia o comando da questão.

Ouça a explanação do candidato a respeito da questão e, caso ele não tenha exaurido a resposta esperada de
acordo com o estabelecido no padrão de respostas previsto para a questão, conduza a arguição da forma a seguir
apresentada.

Atenção! Somente deverão ser feitos os questionamentos referentes aos aspectos não explorados ou explorados
de maneira equivocada pelo candidato em sua resposta inicial. Caso ele já tenha tratado corretamente de algum
aspecto explorado nas perguntas a seguir, o examinador deverá abster-se de fazê-las e realizar a respectiva
avaliação do candidato.

1 Nessa situação, a competência é da justiça federal ou da justiça estadual?

Finalize sua arguição com a expressão: Sem mais perguntas.

PLANILHA DE CORREÇÃO

QUESITOS AVALIADOS VALOR CONCEITO

1 Articulação do raciocínio 0,00 a 1,00 0 1 2 3


2 Capacidade de argumentação 0,00 a 1,00 0 1 2 3
3 Uso correto do vernáculo 0,00 a 1,00 0 1 2
4 Domínio do conhecimento jurídico
4.1 Competência 0,00 a 3,00 0 1 2 3
4.2 Prisão preventiva 0,00 a 2,00 0 1 2
4.3 Entrada no Brasil para processar 0,00 a 2,00 0 1 2
TOTAL 10,00
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 13/17

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO


SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA CIVIL
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO ESPIRÍTO SANTO
CONCURSO PÚBLICO PARA O PROVIMENTO DE VAGAS NO CARGO DE DELEGADO DE POLÍCIA

PROVA ORAL

LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

QUESTÃO 4
<<D23_LegPenalEsp_M2200154_0472_821001A04>>
Considere a seguinte situação hipotética:

Maria registrou, na delegacia próxima à sua residência, boletim de ocorrência contra o


próprio pai, que a agredira horas antes, por sua condição de mulher transexual. Consta do
boletim de ocorrência que, no dia do fato, o pai de Maria, usuário de drogas e álcool, chegou à
casa onde ambos residem bastante exaltado, gritando com a vítima. Esta, receosa de que algo
ruim pudesse lhe acontecer, pegou sua bolsa para sair de casa, quando seu pai a segurou
pelos pulsos e a arremessou em direção à parede, contra a qual ela bateu a cabeça. Ato
contínuo, ameaçando matá-la, ele pegou um pedaço de pau para agredi-la, tendo a vítima
conseguido desvencilhar-se e sair correndo de casa. Na rua, Maria encontrou uma viatura da
Polícia Militar, que a conduziu até a delegacia para o registro da ocorrência. A vítima pediu
medidas protetivas ao delegado plantonista e foi encaminhada ao Instituto Médico Legal em
decorrência das lesões visíveis nos pulsos e na cabeça.

Com base nessa situação hipotética, responda, de forma fundamentada na legislação bem como no entendimento
do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF), aos questionamentos a seguir.

1 A Lei n.º 11.340/2006 — Lei Maria da Penha — é aplicável à situação em apreço?


2 Qual a natureza jurídica das medidas protetivas aplicáveis a essa situação?
3 O delegado pode determinar o imediato afastamento do agressor em relação à vítima?

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS


28 Lei n.º 11.340/2006 (Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher – Lei Maria da Penha).

PADRÃO DE RESPOSTA

A Lei Maria da Penha é aplicável a essa situação, uma vez que as condutas descritas nos autos são
tipicamente influenciadas pela relação patriarcal e misógina que o pai estabeleceu com a filha. As medidas
protetivas de urgência têm natureza de tutela provisória cautelar, visto que são concedidas em caráter não
definitivo, a título precário, e em sede de cognição sumária. Elas têm caráter eminentemente penal. De acordo
com a norma, introduzida pela Lei n.º 13.827/2019, diante do risco atual ou iminente à mulher em situação de
violência doméstica e familiar ou a seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do local.
A medida poderá ser implementada pelo delegado de polícia quando o município não for sede de comarca (se o
juiz responsável não morar na localidade), ou pelo policial, quando não houver delegado disponível no
município no momento da denúncia. Nesses casos, um juiz deve ser comunicado, em no máximo 24 h, para
decidir sobre a manutenção ou a revogação da medida cautelar.

Legislação

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 14/17
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos
que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por
vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido
com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação
sexual.

Jurisprudência

A aplicação da Lei Maria da Penha não reclama considerações sobre a motivação da


conduta do agressor, mas tão somente que a vítima seja mulher e que a violência seja
cometida em ambiente doméstico, familiar ou em relação de intimidade ou afeto entre
agressor e agredida.
É descabida a preponderância de um fator meramente biológico sobre o que realmente
importa para a incidência da Lei Maria da Penha, cujo arcabouço protetivo se volta a
julgar autores de crimes perpetrados em situação de violência doméstica, familiar ou
afetiva contra mulheres.
A vulnerabilidade de uma categoria de seres humanos não pode ser resumida tão
somente à objetividade de uma ciência exata. As existências e as relações humanas são
complexas e o Direito não se deve alicerçar em argumentos simplistas e reducionistas.
Para alicerçar a discussão referente à aplicação do art. 5.º da Lei Maria da Penha à
espécie, necessária é a diferenciação entre os conceitos de gênero e sexo, assim como
breves noções de termos transexuais, transgêneros, cisgêneros e travestis, com a
compreensão voltada para a inclusão dessas categorias no abrigo da Lei em comento,
tendo em vista a relação dessas minorias com a lógica da violência doméstica contra a
mulher.
A balizada doutrina sobre o tema leva à conclusão de que as relações de gênero podem
ser estudadas com base nas identidades feminina e masculina. Gênero é questão
cultural, social, e significa interações entre homens e mulheres. Uma análise de gênero
pode se limitar a descrever essas dinâmicas. O feminismo vai além, ao mostrar que
essas relações são de poder e que produzem injustiça no contexto do patriarcado. Por
outro lado, sexo refere-se às características biológicas dos aparelhos reprodutores
feminino e masculino, bem como ao seu funcionamento, de modo que o conceito de
sexo, como visto, não define a identidade de gênero. Em uma perspectiva não
meramente biológica, portanto, mulher trans mulher é.
Na espécie, não apenas a agressão se deu em ambiente doméstico, mas também familiar
e afetivo, entre pai e filha, eliminando qualquer dúvida quanto à incidência do
subsistema da Lei n.º 11.340/2006, inclusive no que diz respeito ao órgão jurisdicional
competente — especializado — para processar e julgar a ação penal.
As condutas descritas nos autos são tipicamente influenciadas pela relação patriarcal e
misógina que o pai estabeleceu com a filha. O modus operandi das agressões — segurar
pelos pulsos, causando lesões visíveis, arremessar contra a parede, tentar agredir com
pedaço de pau — são elementos próprios da estrutura de violência contra pessoas do
sexo feminino. Isso significa que o modo de agir do agressor revela o caráter
especialíssimo do delito e a necessidade de imposição de medidas protetivas.
(REsp n.º 1.977.124/SP, rel. min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em
5/4/2022, DJe de 22/4/2022)

As medidas protetivas de urgência têm natureza de tutela provisória cautelar, visto que
são concedidas em caráter não definitivo, a título precário, e em sede de cognição
sumária.
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 15/17
Ademais, visam proteger a vida e a incolumidade física e psíquica da vítima, durante o
curso do inquérito ou do processo, ante a ameaça de reiteração da prática delitiva pelo
suposto agressor.
As medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do art. 22 da Lei Maria
da Penha têm caráter eminentemente penal, porquanto restringem a liberdade de ir e vir
do acusado, ao tempo em que tutelam os direitos fundamentais à vida e à integridade
física e psíquica da vítima. Em caso de descumprimento das medidas anteriormente
impostas, poderá o magistrado, a teor do estabelecido no art. 313, III, do Código de
Processo Penal — CPP, decretar a prisão preventiva do suposto agressor, cuja
necessidade de manutenção deverá ser periodicamente revista, nos termos do parágrafo
único do art. 316 do diploma processual penal.
O reconhecimento da natureza cautelar penal traz uma dúplice proteção: de um lado,
protege a vítima, pois concede a ela um meio célere e efetivo de tutela de sua vida e de
sua integridade, pleiteada diretamente à autoridade policial, e reforçada pela
possibilidade de decretação da prisão preventiva do suposto autor do delito; de outro
lado, protege o acusado, porquanto concede a ele a possibilidade de se defender da
medida a qualquer tempo, sem risco de serem a ele aplicados os efeitos da revelia.
Portanto, as medidas protetivas de urgência previstas nos três primeiros incisos do art.
22 da Lei Maria da Penha têm natureza penal e a elas deve ser aplicada a disciplina do
CPP atinente às cautelares, enquanto as demais medidas protetivas têm natureza cível.
(REsp n.º 2.009.402/GO, rel. min. Ribeiro Dantas, relator para acórdão min. Joel Ilan
Paciornik, Quinta Turma, julgado em 8/11/2022, DJe de 18/11/2022)

Vale conferir os incisos II e III e o § 1.º do art. 12-C da Lei n.º 11.340/2006 — Lei
Maria da Penha, incluído pela Lei n.º 13.827/2019:
Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade
física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes,
o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a
ofendida: I – pela autoridade judicial; II – pelo delegado de polícia, quando o Município
não for sede de comarca; ou III – pelo policial, quando o Município não for sede de
comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia. § 1º Nas hipóteses
dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24
(vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da
medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério público concomitantemente.
1. A autorização excepcional para que delegados de polícia e policiais procedam na
forma do art. 12-C II e III, E § 1º, da Lei nº 11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA),
com as alterações incluídas pela Lei nº 13.827/2019, é resposta legislativa adequada e
necessária ao rompimento do ciclo de violência doméstica em suas fases mais agudas,
amplamente justificável em razão da eventual impossibilidade de obtenção da tutela
jurisdicional em tempo hábil. 2. Independentemente de ordem judicial ou prévio
consentimento do seu morador, o artigo 5º, inciso XI, da Constituição Federal admite
que qualquer do povo, e, com maior razão, os integrantes de carreira policial, ingressem
em domicílio alheio nas hipóteses de flagrante delito ou para prestar socorro, incluída a
hipótese de excepcional urgência identificada em um contexto de risco atual ou
iminente à vida ou à integridade física ou psicológica da mulher em situação de
violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes. 3. Constitucionalidade na
concessão excepcional de medida protetiva de afastamento imediato do agressor do
local de convivência com a ofendida sob efeito de condição resolutiva. 4. A antecipação
administrativa de medida protetiva de urgência para impedir que mulheres vítimas de
violência doméstica e familiar permaneçam expostas às agressões e hostilidades
ocorridas na privacidade do lar não subtrai a última palavra do Poder Judiciário, a quem
se resguarda a prerrogativa de decidir sobre sua manutenção ou revogação, bem como
sobre a supressão e reparação de eventuais excessos ou abusos. 4. Ação Direta de
Inconstitucionalidade julgada improcedente.
Ementa: DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E NECESSIDADE DE MEDIDAS
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 16/17
EFICAZES PARA PREVENIR A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.
CONSTITUCIONALIDADE DE MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA
CORRESPONDENTE AO AFASTAMENTO IMEDIATO DO AGRESSOR DO
LOCAL DE CONVIVÊNCIA COM A OFENDIDA EXCEPCIONALMENTE SER
CONCEDIDA POR DELEGADO DE POLÍCIA OU POLICIAL.
IMPRESCINDIBILIDADE DE REFERENDO PELA AUTORIDADE JUDICIAL.
LEGÍTIMA ATUAÇÃO DO APARATO DE SEGURANÇA PÚBLICA PARA
RESGUARDAR DIREITOS DA VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR. IMPROCEDÊNCIA. (ADI N.º 6138/DF — DISTRITO FEDERAL,
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE, rel. min. Alexandre de Moraes,
Julgamento: 23/3/2022, Publicação: 9/6/2022, Órgão julgador: Tribunal Pleno)

QUESITOS / CONCEITOS

Quesito 1
Conceito 0 – Não articula seu raciocínio.
Conceito 1 – Articula seu raciocínio de maneira precária.
Conceito 2 – Articula seu raciocínio de maneira satisfatória.
Conceito 3 – Apresenta excelente articulação.

Quesito 2
Conceito 0 – Não argumenta.
Conceito 1 – Argumenta de maneira precária.
Conceito 2 – Argumenta de maneira satisfatória.
Conceito 3 – Apresenta excelente argumentação.

Quesito 3
Conceito 0 – Não utiliza o vernáculo de forma correta.
Conceito 1 – Utiliza o vernáculo de forma mediana.
Conceito 2 – Utiliza o vernáculo de forma correta.

Quesito 4.1
Conceito 0 – Não responde ao questionamento ou afirma que não se aplica a Lei Maria da Penha.
Conceito 1 – Afirma que se aplica a Lei Maria da Penha, mas não fundamenta a resposta.
Conceito 2 – Afirma que se aplica a Lei Maria da Penha, fundamentando conforme requisitos da Lei Maria da
Penha, art. 5.º, I e II.
Conceito 3 – Afirma que se aplica a Lei Maria da Penha, fundamentando conforme requisitos da Lei Maria da
Penha, art. 5.º, I e II, correlacionando com a situação hipotética apresentada: agressão se deu em ambiente
doméstico, mas também familiar e afetivo, por parte de pai contra a filha.
Conceito 4 – Afirma que se aplica Lei Maria da Penha, fundamentando conforme requisitos da Lei Maria da
Penha, art. 5.º, I e II, correlacionando com a situação hipotética apresentada e demonstrando conhecer a
jurisprudência do STJ: agressão se deu em ambiente doméstico, mas também familiar e afetivo, por parte de pai
contra a filha, bem como com fundamentação na distinção entre sexo e gênero.

Quesito 4.2
Conceito 0 – Não responde ao questionamento ou informa erroneamente a natureza jurídica das medidas
protetivas.
Conceito 1 – Informa ser a natureza jurídica de medida cautelar, mas não fundamenta a resposta.
Conceito 2 – Informa ser a natureza jurídica de medida cautelar, fundamentando que são concedidas em caráter
não definitivo, a título precário.
Conceito 3 – Informa ser a natureza jurídica de medida cautelar, fundamentando que são concedidas em caráter
não definitivo, a título precário, em sede de cognição sumária.
Conceito 4 – Informa ser a natureza jurídica de medida cautelar, fundamentando que são concedidas em caráter
não definitivo, a título precário, em sede de cognição sumária, de caráter eminentemente penal.
CEBRASPE – PCES – Edital: 2022 – 17/17

Quesito 4.3
Conceito 0 – Não responde ao questionamento ou afirma que o delegado não tem atribuição para conceder a
medida protetiva.
Conceito 1 – Responde que o delegado tem atribuição para conceder a medida protetiva, mas não fundamenta a
resposta.
Conceito 2 – Responde que o delegado tem atribuição para conceder a medida protetiva, fundamenta conforme
o caput do art. 12-C da Lei Maria da Penha (existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física
da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será
imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida).
Conceito 3 – Responde que o delegado tem atribuição para conceder a medida protetiva, fundamenta conforme
o caput do art. 12-C, bem como o teor do inciso II do mesmo artigo da Lei Maria da Penha (existência de risco
atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de
seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a
ofendida), bem como afirma que tal situação se dará quando o município não for sede de comarca.
Conceito 4 – Responde que o delegado tem atribuição para conceder a medida protetiva, fundamenta conforme
o caput do art. 12-C, bem como o teor do inciso II do mesmo artigo da Lei Maria da Penha (existência de risco
atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de
seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a
ofendida), bem como afirma que tal situação se dará quando o município não for sede de comarca e, ainda,
correlaciona a resposta com a situação hipotética, demonstrando conhecer a jurisprudência do STF.

ROTEIRO DE ARGUIÇÃO

Solicite ao candidato que leia o comando da questão.

Ouça a explanação do candidato a respeito da questão e, caso ele não tenha exaurido a resposta esperada de
acordo com o estabelecido no padrão de respostas previsto para a questão, conduza a arguição da forma a seguir
apresentada.

Atenção! Somente deverão ser feitos os questionamentos referentes aos aspectos não explorados ou explorados
de maneira equivocada pelo candidato em sua resposta inicial. Caso ele já tenha tratado corretamente de algum
aspecto explorado nas perguntas a seguir, o examinador deverá abster-se de fazê-las e realizar a respectiva
avaliação do candidato.

1 Nessa situação, aplica-se a Lei Maria da Penha?


2 Qual a natureza jurídica da medida protetiva que deve ser aplicada?
3 O delegado pode conceder medida protetiva à vítima, determinando o afastamento do agressor do lar?

Finalize sua arguição com a expressão: Sem mais perguntas.

PLANILHA DE CORREÇÃO

QUESITOS AVALIADOS VALOR CONCEITO

1 Articulação do raciocínio 0,00 a 1,00 0 1 2 3


2 Capacidade de argumentação 0,00 a 1,00 0 1 2 3
3 Uso correto do vernáculo 0,00 a 1,00 0 1 2
4 Domínio do conhecimento jurídico
4.1 Aplicabilidade da Lei Maria da Penha 0,00 a 2,00 0 1 2 3 4
4.2 Natureza da medida protetiva 0,00 a 2,00 0 1 2 3 4
4.3 Competências do delegado 0,00 a 3,00 0 1 2 3 4
TOTAL 10,00
CEBRASPE – DELEGADO PC/AL – Edital: 2022

• Nesta prova, faça o que se pede, usando, caso deseje, os espaços para rascunho indicados no presente caderno. Em seguida,
transcreva os textos para o CADERNO DE TEXTOS DEFINITIVOS DA PROVA DISCURSIVA, nos locais apropriados, pois
não será avaliado fragmento de texto escrito em local indevido.
• Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de linhas disponibilizadas será desconsiderado. Também será
desconsiderado o texto que não for escrito na(s) folha(s) de texto definitivo correspondente.
• No Caderno de Textos Definitivos, a presença de qualquer marca identificadora no espaço destinado à transcrição dos textos
definitivos acarretará a anulação da sua prova discursiva.
• Em cada questão, ao domínio do conteúdo serão atribuídos até 10,00 pontos, dos quais até 0,50 ponto será atribuído ao quesito
apresentação (legibilidade, respeito às margens e indicação de parágrafos) e estrutura textual (organização das ideias em texto
estruturado).

PROVA DISCURSIVA
QUESTÃO 1

Conceitue os crimes de tráfico de influência e exploração de prestígio [valor: 6,00 pontos], abordando os seguintes aspectos:

1 semelhanças e diferenças entre os referidos crimes; [valor: 2,00 pontos]


2 momento de consumação dos delitos; [valor: 1,00 pontos]
3 enquadramento adequado caso o funcionário supostamente influenciado seja delegado de polícia. [valor: 0,50 pontos]
CEBRASPE – DELEGADO PC/AL – Edital: 2022

QUESTÃO 1 – RASCUNHO
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CEBRASPE – DELEGADO PC/AL – Edital: 2022

QUESTÃO 2

O Pacote Anticrime (Lei n.º 13.964/2019) tornou pública condicionada à representação da vítima a ação no crime de estelionato, que,
antes, era pública incondicionada. Considerando a condição de procedibilidade, em que fatores intertemporais são afetados, redija um
texto respondendo, de forma justificada, aos questionamentos que se seguem.

1 Como se posicionam os tribunais superiores acerca da aplicabilidade da nova norma aos fatos anteriores à sua vigência?
[valor: 6,00 pontos]
2 Quais são os fundamentos desses entendimentos? [valor: 3,50 pontos]

QUESTÃO 2 – RASCUNHO
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CEBRASPE – DELEGADO PC/AL – Edital: 2022

QUESTÃO 3

Um jornal eletrônico publicou matéria na Internet com críticas contundentes a um prefeito


municipal do estado de Alagoas, na qual eram apontados indícios de fraude a licitação em um contrato do
município, superfaturamento e desvio de verbas públicas, com base em fonte não identificada no texto.
O prefeito registrou ocorrência policial, na qual indicou o jornalista signatário da matéria como
autor de crime contra a honra, e requereu que a polícia civil representasse em juízo pela imediata
exclusão da página da Internet e pela proibição de que novas publicações fossem feitas sobre o assunto.

Considerando essa situação hipotética, redija um texto atendendo ao que se pede a seguir, à luz das normas constitucionais aplicáveis
à comunicação social e do entendimento do Supremo Tribunal Federal.

1 Discorra a respeito do papel da imprensa na divulgação, por meio de fonte não identificada, de possíveis atos ilícitos de
autoridades. [valor: 4,00 pontos]
2 Responda, justificadamente, se é possível a caracterização de crime contra a honra em publicações jornalísticas.
[valor: 2,50 pontos]
3 Explique se há cabimento de decisão judicial para proibir publicações potencialmente ofensivas à honra e de representação
perante a autoridade policial para suprimir páginas jornalísticas da Internet. [valor: 3,00 pontos]
CEBRASPE – DELEGADO PC/AL – Edital: 2022

QUESTÃO 3 – RASCUNHO
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ESTADO DE ALAGOAS
SECRETARIA DO PLANEJAMENTO, GESTÃO E PATRIMÔNIO
SUPERINTENDÊNCIA DA POLÍCIA CIVIL
CARGO DE DELEGADO DA POLÍCIA CIVIL
DO ESTADO DE ALAGOAS (PC/AL)
Prova Discursiva – Questão 1
Aplicação: 09/07/2023

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


Trata-se de crimes contra a administração pública. Na exploração de prestígio, o bem jurídico protegido é a
administração da justiça e, no tráfico de influência, o prestígio da administração pública. O sujeito ativo de ambos os crimes é
qualquer pessoa e, no tráfico de influência, a vantagem é solicitada a pretexto de influir falsamente em ato de funcionário público.
Na configuração da exploração de prestígio, alega-se, levianamente, influir em ato de juiz, jurado, órgão do Ministério
Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha.
O delegado não está indicado nos funcionários previstos no delito de exploração de prestígio, motivo por que configura
o crime de tráfico de influência solicitar vantagem a pretexto de influir em ato praticado a ser praticado por ele.
Em se tratando do crime de tráfico de influência, há previsão de condutas mais graves como “exigir” e “cobrar”, sendo
a pena de 2 a 5 anos e multa. Na exploração de prestígio, as condutas são “solicitar” e “receber”, com pena de 1 a 5 anos e multa.
Os crimes são formais, ou seja, consumam-se com a solicitação/exigência/cobrança/promessa, sendo a obtenção da
vantagem mero exaurimento do crime – na modalidade obtenção/recebimento, quando este ocorrer.

Fundamentação: Código Penal

Tráfico de influência
Art. 332 – solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de
influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único – a pena é aumentada a metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao
funcionário.

Exploração de prestígio
Art. 357 – solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do
Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único – as penas aumentam um terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se
destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo.

QUESITOS/CONCEITOS

Quesito 2.1 Conceito de tráfico de influência


0 – Não conceituou tráfico de influência ou o fez de forma totalmente equivocada.
1 – Conceituou parcialmente.
2 – Conceituou tráfico de influência, abordando a maior parte dos elementos do tipo penal.
3 – Conceituou tráfico de influência, abordando todos os elementos do tipo penal.

Quesito 2.2 Conceito de exploração de prestígio


0 – Não conceituou exploração de prestígio ou o fez de forma totalmente equivocada.
1 – Conceituou parcialmente.
2 – Conceituou exploração de prestígio, abordando a maior parte dos elementos do tipo penal.
3 – Conceituou exploração de prestígio, abordando todos os elementos do tipo penal.

Quesito 2.3 Semelhanças entre os delitos: sujeito ativo, bem jurídico protegido (detalhando a administração da
justiça) e causa de aumento de pena (detalhando que é por insinuar que também se destina ao funcionário público)
0 – Não abordou as semelhanças entre os delitos ou o fez de forma totalmente equivocada.
1 – Indicou apenas uma semelhança entre os delitos.
2 – Indicou as duas semelhanças entre os delitos, mas não detalhou a administração da justiça.
3 – Indicou as duas três semelhanças entre os delitos e detalhou a administração da justiça.

Quesito 2.4 Diferenças entre os delitos: pessoa que supostamente será influenciada, crimes condutas mais graves
(conduta, pena e/ou aumento de pena mais grave). Obs.: não precisa indicar a pena mínima e a máxima.
0 – Não abordou as diferenças entre os delitos ou o fez de forma totalmente equivocada.
1 – Indicou apenas uma diferença entre os delitos ou duas, sem detalhar.
2 – Indicou parcialmente as duas diferenças, citando pelo menos 3 cargos indicados na exploração de prestígio.
3 – Indicou satisfatoriamente as duas diferenças, citando mais de pelo menos 4 cargos da exploração de prestígio.

Quesito 2.5 Momento da consumação dos delitos. Obs.: não precisa classificar como formal, deve ficar claro que a
consumação não é ao obter a vantagem.
0 – Não abordou o quesito ou o fez de forma absolutamente equivocada.
1 – Abordou o quesito parcialmente.
2 – Abordou completamente o quesito.

Quesito 2.6 Delegado: tráfico de influência


0 – Não abordou o enquadramento ou o fez de forma absolutamente equivocada.
1 – Abordou corretamente o enquadramento.
ESTADO DE ALAGOAS
SECRETARIA DO PLANEJAMENTO, GESTÃO E PATRIMÔNIO
SUPERINTENDÊNCIA DA POLÍCIA CIVIL
CARGO DE DELEGADO DA POLÍCIA CIVIL
DO ESTADO DE ALAGOAS (PC/AL)
Prova Discursiva – Questão 2
Aplicação: 09/07/2023

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


Segundo o Superior Tribunal de Justiça (STJ), a norma trazida no Pacote Anticrime é irretroativa, quando já oferecida
a denúncia (cf. AgRg nos EARESP 1.378.944 – 3.ª Seção). O Supremo Tribunal Federal (STF) concordava com a
irretroatividade, conforme se vê em alguns julgados (cf. HC 203.398), todavia, a 2.ª Turma passou a exigir a representação
mesmo após o oferecimento da denúncia, a fim de que a vítima possa efetuar a representação, desde que antes do trânsito em
julgado (cf. ARE 1.249.15-AgR-ED). Ou seja, enquanto a visão do STJ e da 1.ª Turma do STF é no sentido de que se trata de
uma norma puramente processual penal, aplicando-se, assim, a regra prevista no artigo 2.º do Código de Processo Penal, a 2.ª
Turma do STF entende ser uma norma de natureza mista (penal e processual penal), a qual deve retroagir em casos nos quais
seja benéfica ao acusado (art. 5.º, XL, da Constituição Federal de 1988), afastando-se, assim, o brocardo tempus regit actum (cf.
HC 207.686), aplicável às normas puramente processuais, e não cabendo falar em decadência sem a prévia intimação do acusado
(cf. HC 211.753).

QUESITOS/CONCEITOS
Quesito 2.1
0 – Não abordou nenhum posicionamento dos tribunais superiores.
1 – Acertou apenas um dos posicionamentos (o do STJ e da 1.ª Turma do STF ou o da 2.ª Turma do STF).
2 – Acertou o posicionamento do STJ, mas não distinguiu os posicionamentos do STF de acordo com as turmas, ou mencionou,
de forma invertida, o posicionamento de cada turma.
3 – Acertou todos os posicionamentos supramencionados, de forma integral.

Quesito 2.2
0 – Não abordou a natureza jurídica de direito penal ou processual penal do dispositivo ou o fez de forma absolutamente
equivocada.
1 – Abordou, de forma parcialmente correta, a discussão sobre a natureza jurídica do dispositivo legal.
2 – Abordou, de forma correta, a discussão sobre a natureza jurídica do dispositivo, mas não fez menção à discussão sobre a
(ir)retroatividade da norma nem fez qualquer menção à ocorrência ou não da decadência.
3 – Abordou, de forma correta, a discussão sobre a natureza jurídica do dispositivo, mencionando a (ir)retroatividade da norma,
porém não fez qualquer menção à ocorrência ou não da decadência.
4 – Abordou, de forma correta, a discussão sobre a natureza jurídica do dispositivo, mencionando a (ir)retroatividade da norma,
bem como a ocorrência ou não da decadência.
ESTADO DE ALAGOAS
SECRETARIA DO PLANEJAMENTO, GESTÃO E PATRIMÔNIO
SUPERINTENDÊNCIA DA POLÍCIA CIVIL
CARGO DE DELEGADO DA POLÍCIA CIVIL
DO ESTADO DE ALAGOAS (PC/AL)
Prova Discursiva – Questão 3
Aplicação: 09/07/2023

PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO


O § 1.º do art. 220 da Constituição Federal de 1988 (CF) assegura à imprensa plena liberdade de informação em qualquer
veículo de comunicação social. No julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n.º 130/DF, o Supremo
Tribunal Federal (STF) reafirmou o amplo alcance da liberdade de imprensa e a sua importância para a democracia e para a
sociedade, bem como reforçou a impossibilidade de censura sob qualquer forma, com base no disposto no art. 220, caput e § 2.º,
e no art. 5.º, inciso IX, da CF. O inc. XIV do art. 5.º da CF resguarda o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.
Quanto à exposição de atos ilícitos de autoridades, registrou o STF: “O exercício concreto da liberdade de imprensa assegura ao
jornalista o direito de expender críticas a qualquer pessoa, ainda que em tom áspero ou contundente, especialmente contra as
autoridades e os agentes do Estado. A crítica jornalística, pela sua relação de inerência com o interesse público, não é
aprioristicamente suscetível de censura, mesmo que legislativa ou judicialmente intentada.” (STF, Plenário, ADPF n.º 130/DF,
relator ministro Carlos Ayres Britto, 30/4/2009). A proteção constitucional à liberdade de imprensa abrange o meio digital.

A liberdade de imprensa, qualificada por sua natureza essencialmente constitucional, assegura aos profissionais de
comunicação social, inclusive àqueles que praticam o jornalismo digital, o direito de buscar, de receber e de transmitir
informações e ideias por quaisquer meios, ressalvada, no entanto, a possibilidade de intervenção judicial —
necessariamente a posteriori — nos casos em que se registrar prática abusiva dessa prerrogativa de ordem jurídica,
resguardado, sempre, o sigilo da fonte quando, a critério do próprio jornalista, este assim o julgar necessário ao seu
exercício profissional. Precedentes. O exercício da jurisdição cautelar por magistrados e tribunais não pode converter-
se em prática judicial inibitória, muito menos censória, da liberdade constitucional de expressão e de comunicação, sob
pena de o poder geral de cautela atribuído ao Judiciário transformar-se, inconstitucionalmente, em inadmissível censura
estatal. Precedentes. (STF. 2.ª Turma. Agravo Regimental na Reclamação n.º 16.074/SP. Relator ministro Celso de
Mello. 4/5/2020. DJe 119, 14/5/2020)

Apesar disso, a liberdade de imprensa, assim como, em geral, os demais direitos fundamentais, não possui caráter
absoluto, de modo que existe possibilidade de responsabilização penal e civil, no caso, por exemplo, de crime contra a honra,
como decorre do inc. X do art. 5.º da CF, conforme os tipos do Código Penal: “Não obstante esta Corte Suprema ter declarado a
não recepção da Lei de Imprensa pela CF/88 (ADPF 130, Rel. min. Ayres Britto), as condutas ofensivas à honra continuam
tipificadas nos arts. 138, 139 e 140 do Código Penal.” (STF. 1.ª Turma. Agravo Regimental no Habeas Corpus n.º 115.432.
Relatora ministra Rosa Weber. 28/5/2013, maioria. DJe n.º 123, de 27/6/2013).
Na ADPF n.º 130/DF, o STF considerou inconstitucionais as normas da antiga Lei de Imprensa (Lei n.º 5.250/1967)
que puniam mais severamente crimes contra a honra praticados por meio da imprensa.
Considerando-se a proteção constitucional da liberdade de imprensa e a proscrição de censura, não cabe decisão judicial
para impedir publicação de matérias jornalísticas por serem potencialmente ofensivas à honra de alguém, muito menos com base
em representação policial, porquanto esse não é papel da polícia criminal, que, nesse caso, agiria como advogada do suposto
ofendido.
Tampouco cabe medida judicial para supressão liminar de textos jornalísticos: “A medida própria para a reparação do
eventual abuso da liberdade de expressão é o direito de resposta e não a supressão liminar de texto jornalístico, antes mesmo de
qualquer apreciação mais detida quanto ao seu conteúdo e potencial lesivo.” (STF. 1.ª Turma. Agravo Regimental na Reclamação
n.º 28.747/PR. Relator ministro Alexandre de Moraes. Redator para acórdão: ministro Luiz Fux. 5/6/2018, maioria. DJe de
12/11/2018).
QUESITOS/CONCEITOS
Quesito 2.1
0 – Não abordou o aspecto ou afirmou a impossibilidade de a imprensa divulgar ilícitos de autoridades e de usar fonte não
identificada.
1 – Abordou a liberdade de imprensa, mas tratou de apenas um dos seguintes aspectos: (a) importância da imprensa para a
democracia e para a sociedade; (b) vedação constitucional de censura; (c) garantia do sigilo da fonte; (d) proteção do jornalismo
da atividade jornalística por meio digital.
2 – Abordou a liberdade de imprensa, mas tratou de apenas dois dos aspectos supracitados.
3 – Abordou a liberdade de imprensa, mas tratou de apenas três dos aspectos supracitados.
4 – Abordou a liberdade de imprensa, tratando de, pelo menos, quatro aspectos supracitados.
Quesito 2.2
0 – Não abordou o caráter relativo da liberdade de imprensa e a possibilidade de responsabilização penal, ou defendeu
erradamente o caráter absoluto desse direito fundamental.
1 – Abordou corretamente apenas um dos seguintes aspectos: (a) caráter relativo da liberdade de imprensa e dos direitos
fundamentais em geral; (b) possibilidade de responsabilização penal por crime contra a honra praticado por meio da imprensa.
2 – Abordou corretamente os dois aspectos supracitados.
Quesito 2.3
0 – Não abordou o aspecto ou o fez de forma totalmente errada.
1 – Abordou corretamente apenas um dos seguintes aspectos: (a) vedação constitucional da censura; (b) proibição de decisão
judicial prévia para impedir publicação jornalística; (c) descabimento, no mérito, de representação policial para supressão de
página jornalística na internet.
2 – Abordou corretamente apenas dois dos aspectos supracitados.
3 – Abordou corretamente os três aspectos supracitados.

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