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PROJUDI - Processo: 0009657-51.2020.8.16.0031 - Ref. mov. 1198.

1 - Assinado digitalmente por Adriano Scussiatto Eyng:16250


11/05/2021: JULGADA PROCEDENTE A AÇÃO. Arq: Sentença

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJ86D K3F6V H76NX F57VD


Autos nº 0009657-51.2020.8.16.00311
Autor: Ministério Público do Estado do Paraná
Réu: Luis Felipe Santos Manvailer

SENTENÇA
Vistos e examinados estes autos.

Submetido a julgamento pelo Egrégio Tribunal Popular, os Senhores Jurados,


sempre por maioria de votos:

a. Na primeira série de quesitos, concernente ao crime de homicídio consumado, em


que é vítima Tatiane Spitzner:

Reconheceram a materialidade e autoria delitivas (primeiro e segundo


quesitos). Refutaram as teses absolutórias sustentadas em Plenário, conforme negativa de
resposta ao quesito genérico de absolvição. Reconheceram a presença das qualificadoras do
motivo fútil, da asfixia, do meio cruel e do feminicídio, previstos nos incisos II, III e VI do §2º
do art. 121 do Código Penal.

b. Na segunda série de quesitos relativa ao delito de fraude processual:

Reconheceram a materialidade e autoria delitivas (primeiro e segundo


quesitos). Refutaram teses absolutórias sustentadas em Plenário (terceiro quesito), assim como
reconheceram o quarto quesito (relativo à causa de aumento de pena).

Com efeito, diante das respostas apresentadas pelo Conselho de Sentença


quanto aos quesitos, julgo procedente a pretensão punitiva do Estado para CONDENAR o réu
LUIZ FELIPE SANTOS MANVAILER nas sanções legais pelo cometimento do crime de
homicídio qualificado (incidência de quatro qualificadoras), na modalidade consumada,
positivado no artigo 121, caput c/c §2º, incisos II, III e VI, c/c §2º-A, do Código Penal em
concurso material com o crime previsto no art. 347, parágrafo único, do Código Penal).

Passo a fundamentar e decidir a dosimetria da pena do acusado condenado de


maneira concreta e individualizada, à luz do vasto acervo probatório granjeado aos autos.

1
Autos originários nº 0002713-08.2018.8.16.0159.

1ª Vara Criminal e Tribunal do Júri - Comarca de Guarapuava/PR


Av. Manoel Ribas, 500, Santana - CEP: 85.070-180 - Guarapuava/PR
Telefone: (0**42) 3308-7408 - E-mail: guarapuava1varacriminal@tjpr.jus.br
PROJUDI - Processo: 0009657-51.2020.8.16.0031 - Ref. mov. 1198.1 - Assinado digitalmente por Adriano Scussiatto Eyng:16250
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I – DOSIMETRIA DA PENA

I.I – Homicídio qualificado

Inicialmente, esclareço que, diante do reconhecimento de quatro


qualificadoras pelo Conselho de Sentença, apenas uma (asfixia) será utilizada para qualificar a
pena, elevando os patamares mínimo e máximo da sanção, enquanto as outras qualificadoras
(motivo fútil, meio cruel e feminicídio – crime contra mulher por razões do sexo feminino),
irão agravar a pena, na esteira do entendimento pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça 2.

Aplico, portanto, a circunstância qualificadora do inciso III do §2º do art. 121


do Código Penal (asfixia), enquanto as qualificadoras do motivo fútil, meio cruel e feminicídio
– contra mulher por razões da condição de sexo feminino (art. 121, §2º, II, III e VI, do Código
Penal) irão agravar a reprimenda penal na segunda fase da dosimetria penal (art. 65, II, “a”, “d”
e “f”, do Código Penal).

1.1 – Pena-base - 1ª Fase.

De acordo com as diretrizes traçadas pelo artigo 59 do Código Penal, temos


que, nessa etapa, deverão ser objeto de análise, para valoração, ou não, as seguintes
circunstâncias:

a) culpabilidade: é acentuada no caso dos autos, autorizando um maior juízo


de repreensibilidade da sua conduta, vez que a intensidade de dolo supera aquele inerente ao
tipo penal, ainda que na sua forma qualificada.

Essa reprovabilidade acentuada da elaboração mental do delito é extraída da


intensidade da vontade de consecução do crime e da extrema frieza emocional do réu na
consecução do delito visto como um todo, o que se nota a partir das ações desde o início da
execução do crime e até do comportamento externado após a causação da morte. O acusado,
após asfixiá-la, mediante esganadura, arremessou o corpo da vítima, que era a sua esposa (não
um terceiro qualquer), já sem vida da sacada do apartamento, situado no 4º andar (o qual, na
realidade, corresponde ao 6º andar, pois há dois andares de estacionamento elevado no edifício),
com 22 (vinte e dois) metros de altura, o que eliminaria a possibilidade de eventual pedido de
socorro por terceiros e garantiria o resultado morte, simulando, com isso, um suicídio. Estes
fatos denotam a intensidade exacerbada do dolo da conduta criminosa visada 3.

2 Havendo mais de uma qualificadora do delito, é possível que uma delas seja utilizada como tal e as demais sejam consideradas como
circunstâncias desfavoráveis, seja para agravar a pena na segunda etapa da dosimetria, seja para elevar a pena -base na primeira fase do
cálculo (STJ: AgRg no AREsp 830.554/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, j. Em 20.09.2018).

3
PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. VIA INADEQUADA. NÃO CONHECIMENTO. HOMICÍDIO
SIMPLES. DOSIMETRIA. PENA-BASE. DESFAVORECIMENTO DAS VETORIAIS DA CULPABILIDADE DO AGENTE E DAS
CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA. INOCORRÊNCIA.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. - (…) - Cabe ressaltar que o julgador possui discricionariedade vinculada para fixar a pena-base,
devendo observar o critério trifásico (art. 68, do Código Penal), e as circunstâncias delimitadoras do art. 59, do Código Penal, em decisão

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Importante destacar que a circunstância fática de o réu arremessar o corpo da
vítima da sacada do apartamento não é inerente aos dois delitos imputados ao acusado, pois a
causa do homicídio foi a asfixia, mediante esganadura, sendo certo que o meio cruel consistiu
nas agressões durante o trajeto até a chegada ao apartamento, conforme reconhecido pelos
Senhores Jurados de forma soberana. A conduta da fraude processual, de seu turno, foi a
remoção do corpo da calçada e a limpeza dos vestígios de sangue, nos termos da sentença de
pronúncia e acórdão do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.

b) antecedentes: o acusado, conforme se verifica da certidão de antecedentes


criminais extraída do Sistema Oráculo (evento 1.17), não possui registros criminais anteriores.

c) conduta social: nada a considerar nos autos.

d) personalidade: trata-se do retrato psíquico do agente, de suas qualidades


de boa ou má índole, agressividade e o antagonismo à ordem social, cuja valoração, conforme
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (AgRg no REsp 1.406.058/RS, Min. Rel. Jorge
Mussi, j. Em 19.04.2018), demandando do magistrado a utilização de elementos concretos
inseridos nos autos, justificantes da exasperação da pena-base cominada, sendo prescindível a
realização de laudo pericial para tal constatação. A predisposição agressiva e o descontrole
emocional do acusado estão devidamente comprovados nos autos, cujo somatório foi a mola
propulsora do crime perpetrado no lar conjugal do casal. In casu, conforme se depreende dos
autos, em especial dos depoimentos de amigos que indicavam um comportamento hostil e até
mesmo agressivo em relação a vítima que, em diversas situações de contrariedade a seus
posicionamentos, teria sido agressivo, quebrando objetos da residência, jogando livros no chão
para humilhar a vítima e fazê-la pegar, brigando com conhecidos em festas familiares por não
aceitar brincadeiras4. De mais a mais, conforme se observa da petição do Assistente de
Acusação e das notariais juntadas nos eventos 1.75/1.77, constata-se a índole subversiva do
acusado, com postagem públicas misóginas, de incitação à violência e demonstração de seu

concretamente motivada e atrelada às particularidades fáticas do caso concreto e subjetivas do agente. Assim, a revisão desse processo de
dosimetria da pena somente pode ser feita, por esta Corte, mormente no âmbito do habeas corpus, em situações excepcionais. - Plenamente
justificada a negativação da culpabilidade do paciente, porquanto, após discussão com a vítima, bateu com a sua cabeça diversas vezes
na parede e a enforcou, manifestando intensidade extraordinária do dolo. As particularidades do caso concreto dão conta de que a
gravidade do fato desborda dos feitos da mesma natureza, de modo que o desvalor dessa vetorial deve ser mantido tal como oper ado
pelas instâncias de origem (...) Habeas corpus não conhecido. (HC 459.335/MS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 26/02/2019, DJe 15/03/2019)

4 AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE. VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA. DOSIMETRIA. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. QUANTUM DE
AUMENTO. DISCRICIONARIEDADE VINCULADA DO MAGISTRADO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO VERIFICADO.
APLICAÇÃO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. O
Julgador deve, ao individualizar a pena, examinar com acuidade os elementos que dizem respeito ao fato, obedecidos e sopesado s todos os
critérios estabelecidos no art. 59 do Código Penal, para aplicar, de forma justa e fundamentada, a reprimenda que seja, proporcionalmente,
necessária e suficiente para reprovação do crime. 2. Na hipótese, a negativação da circunstância judicial da culpabilidade está suficientemente
fundamentada, tendo sido declinados elementos que emprestaram à conduta do Agravante especial reprovabilidade, em razão da intensidade
da violência praticada contra a Vítima. Nos termos da sentença condenatória, "[a]s agressões se deram não só com um, mas vários socos.
Houve empurrões e sacudidas". 3. As instâncias ordinárias apresentaram fundamentação lastreada em elementos concretos e específicos
do caso em apreço, os quais efetivamente indicam a personalidade desvirtuada do Acusado, pois já teria agredido a Vítima por diversas
vezes e também teria atacado sua atual companheira; ademais, o filho do Agravante "declarou que o Réu é pessoa 'estourada'" . (...).
8. Agravo desprovido. (AgRg no HC 506.558/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 08/09/2020, DJe 22/09/2020)

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ânimo em infringir as normas legais diante de situações que lhe causam adversidades, inclusive
se vangloriando publicamente de ter sido necessário três seguranças “gordinhos” para retirar o
réu de uma casa noturna, conforme suas próprias palavras publicadas em sua rede social.

e) motivos do crime: nada a considerar no caso dos autos, vez que já


qualificam ou agravam a sanção penal.

f) circunstâncias: são prejudiciais no caso dos autos, considerando os fatores


de tempo, lugar e modo de execução do delito. A despeito das inúmeras câmeras de segurança
existentes no edifício Golden Garden, observa-se que a monitoração não inibiu, em nenhum
momento, a prática delitiva do acusado em desfavor da vítima, demonstrando a ousadia na
empreitada criminosa antes, durante e após a consumação do homicídio. Ademais, as imagens
das câmeras de segurança, bem como os relatos dos vizinhos, indicam o desespero da vítima,
gritando por socorro, a qual, sob o efeito de álcool (cf. Laudo do evento 1.262), teve ainda mais
diminuída sua capacidade de resistência. Por fim, após a prática dos crime de homicídio e fraude
processual, o réu sai da garagem do edifício, localizada na Rua Brigadeiro Rocha, e passa
normalmente no cruzamento da Rua Senador Pinheiro Machado, onde fica localizada a entrada
do prédio e estavam estacionadas três viaturas policiais, todas com os sinais luminosos e
sonoros ligados, empreendendo fuga e se dirigindo sentido a Foz do Iguaçu/PR, oportunidade
em que visava ingressar em território de País estrangeiro (Paraguai), de modo a dificultar fosse
encontrado e responsabilizado por seu ato hediondo. O réu, na tentativa de fuga, conduziu o
veículo sob o efeito de álcool, como reconhecido pelo próprio réu em seu interrogatório na fase
policial, por mais de 300km em rodovia federal de intensa movimentação de veículos, expondo
a risco concreto a vida de outras pessoas, haja vista que se envolveu em acidente de trânsito
mediante capotamento do veículo conduzido na fuga. Tais circunstâncias do crime, somadas,
justificam a valoração negativa, conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. 5

5
PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. HOMICÍDIOS
QUALIFICADOS TENTADOS. LATROCÍNIO TENTADO. DOSIMETRIA. CIRCUNSTÂNCIAS DO
DELITO. MODUS OPERANDI. CULPABILIDADE ACENTUADA. MAIOR GRAU DE CENSURA
EVIDENCIADO. CONCURSO FORMAL. QUATRO VÍTIMAS. AUMENTO NO PATAMAR DE 1/4
CABÍVEL. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. Esta Corte e o Supremo Tribunal
Federal pacificaram orientação no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente
previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de
flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado. 2. A individualização da pena é submetida aos elementos de
convicção judiciais acerca das circunstâncias do crime, cabendo às Cortes Superiores apenas o controle da
legalidade e da constitucionalidade dos critérios empregados, a fim de evitar eventuais arbitrariedades. Assim,
salvo flagrante ilegalidade, o reexame das circunstâncias judiciais e os critérios concretos de individualização da
pena mostram-se inadequados à estreita via do habeas corpus, por exigirem revolvimento probatório. 3. Em
relação às circunstâncias do crime, não se infere ilegalidade na primeira fase da dosimetria, pois o decreto
condenatório demonstrou que o modus operandi dos delitos revela gravidade concreta superior à ínsita aos
crimes de homicídio, pois durante a fuga, enquanto atiravam nos agentes públicos, causaram grave acidente
de trânsito, expondo a perigo a vida de outras pessoas. 4. Para fins de individualização da pena, a culpabilidade
deve ser compreendida como juízo de reprovabilidade da conduta, ou seja, a maior ou menor censurabilidade do
comportamento do réu, não se tratando de verificação da ocorrência dos elementos da culpabilidade para que se
possa concluir pela prática ou não de delito. No caso dos homicídios, o paciente e outros dois agentes teriam

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g) consequências: tidas como o resultado do delito relativamente à vítima, sua
família ou sociedade, são desfavoráveis no caso destes autos e, por isso, devem ser valoradas
negativamente a fim de majorar a pena-base do réu, porquanto extrapolam o resultado típico do
delito e são verdadeiro reflexo do ato criminoso.

No ano de 2018, data do fato criminoso dos autos em mesa, registrou-se 1.225
(um mil, duzentos e vinte e cinco) casos de feminicídios no território nacional, dos quais 69
(sessenta e nove) delitos desta estirpe no Estado do Paraná6. Nenhum dos casos, contudo,
ganhou a tamanha projeção/repercussão midiática do caso de Tatiane Spitzner (certamente,
porque não tiveram registradas com tanta clareza as cenas de violência). Para a família da
vítima, essa consequência da publicidade exacerbada da morte da pessoa querida – decorrente
diretamente, frise-se, do modo bárbaro como o homicídio foi executado – é deveras nefasta, eis
que adia, que estorva, indefinidamente, a estabilização do luto.

O Supremo Tribunal Federal, no Recurso Extraordinário (RE) nº 1010606, com


repercussão geral reconhecida (Tema 786), debateu a aplicabilidade do direito ao esquecimento
na esfera civil quando for invocado pela própria vítima ou pelos seus familiares 7. No recurso
em análise, familiares da vítima de crime de grande repercussão na década de 1950 no Estado
do Rio de Janeiro buscavam reparação civil por reportagem jornalística sobre o caso veiculada
em meio de comunicação social no ano de 2004, ou seja, há mais de 50 (cinquenta) anos do
delito em questão.

No julgamento do mérito, por maioria de votos, o Excelso Pretório julgou


improcedente o pedido e fixou a seguinte tese: "É incompatível com a Constituição a ideia de
um direito ao esquecimento, assim entendido como o poder de obstar, em razão da passagem

efetuado diversos disparos de arma de fogo em direção à viatura na qual estavam as quatro vítimas, policiais
miliares, os quais teriam tentado abordá-los para averiguar a ocorrência da tentativa de latrocínio antes perpetrada.
Quanto a este último delito, a premeditação do crime permite, a toda evidência, a majoração da pena-base a título
de culpabilidade, pois demonstra o dolo intenso e o maior grau de censura a ensejar resposta penal superior. 5. Nos
termos da jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, o aumento decorrente do concurso formal tem como
parâmetro o número de delitos perpetrados, dentro do intervalo legal de 1/6 a 1/2. Nesses termos, aplica-se a fração
de aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações; 1/4 para 4 infrações; 1/3 para 5 infrações e
1/2 para 6 ou mais infrações. In casu, tratando-se de quatro infrações, deve incidir o aumento na fração de 1/4. 6.
Writ não conhecido. Habeas corpus concedido, de ofício, tão somente para estabelecer o aumento na fração de 1/4
pelo concurso formal entre os quatro crimes de homicídio, restando fixada a pena do paciente quanto ao delito em
6 anos e 8 meses de reclusão. (HC 412.848/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado
em 15/10/2019, DJe 25/10/2019)
6
https://especiais.g1.globo.com/monitor-da-violencia/2018/feminicidios-no-brasil/
7
DIREITO CONSTITUCIONAL. VEICULAÇÃO DE PROGRAMA TELEVISIVO QUE ABORDA CRIME
OCORRIDO HÁ VÁRIAS DÉCADAS. AÇÃO INDENIZATÓRIA PROPOSTA POR FAMILIARES DA
VÍTIMA. ALEGADOS DANOS MORAIS. DIREITO AO ESQUECIMENTO. DEBATE ACERCA DA
HARMONIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DO
DIREITO À INFORMAÇÃO COM AQUELES QUE PROTEGEM A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E
A INVIOLABILIDADE DA HONRA E DA INTIMIDADE. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL. (STF,
ARE 833248).

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do tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios
de comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no exercício da
liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a caso, a partir dos
parâmetros constitucionais - especialmente os relativos à proteção da honra, da imagem, da
privacidade e da personalidade em geral - e as expressas e específicas previsões legais nos
âmbitos penal e cível".

O Ministro Dias Toffoli, Relator, votou pelo não provimento do recurso


extraordinário e pelo indeferimento do pedido de reparação de danos formulado pelos
familiares, considerando a preponderância, no caso dos autos, do direito à informação da
sociedade frente ao direito dos familiares ao esquecimento do ato criminoso. Consigne-se
excerto do voto do Ministro Relator8:

“(...) Há que se ter, por certo, um adicional cuidado no


exame do resguardo dos direitos da personalidade das vítimas de crimes (e,
nesse ponto, incluo seus familiares, tão duramente atingidos pelas
consequências do delito), sobretudo no que tange aos crimes bárbaros que
ainda assolam nossa sociedade.

(...)

Por certo que os contornos de exibição, por conterem


elementos de dramaturgia (o que, como já dito, não é ilícito), podem atingir
a sensibilidade de todos os telespectadores – e, de modo muito particular, a
dos familiares da vítima. Essa dor, todavia, não se deve à recorrida, sendo
em verdade reflexo do ato criminoso, que permanecerá, como profunda
cicatriz na família de Aída Curi.

(...)

Por fim, destaco que o referido programa apresenta uma


análise da sociedade da época e indica o desfecho judicial do caso,
finalizando com o seguinte questionamento quanto ao respeito às mulheres:
50 anos depois do crime contra Aída Curi, as mulheres são mais ou menos
respeitadas?

A pergunta não poderia ser mais atual. Passados mais de 60


anos do assassinato de Aída Curi, as mulheres em nosso país são mais ou
menos respeitadas?

Na sessão de ontem, iniciei meu voto apontando os graves


números do feminicídio no país e destacando o compromisso do Judiciário,

8
Disponível em: https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/02/re-1010606-voto-mdt-1.pdf

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dentro de seu âmbito de competências, com a condução de medidas eficazes
ao combate dessa forma de violência tão lamentavelmente materializada em
nossa sociedade. Violência que se apresenta, ademais, como o desfecho de
múltiplas, e por vezes silenciosas, formas de desrespeito cotidiano à mulher.

Casos como o de Aída Curi, Ângela Diniz, Daniella Perez,


Sandra Gomide, Eloá Pimentel, Marielle Franco e, mais recentemente, da
juíza Viviane Vieira, entre tantos outros, não podem e não devem ser
esquecidos.

O crime inclemente chocou não só a cidade de Guarapuava e o Estado do


Paraná, mas, também, todo o País. A brutalidade e a covardia da ação criminosa do condenado
atraíram a cobertura por redes televisivas de âmbito nacional e internacional, demonstrando
que, além do elevado prejuízo psicológico causado à família em decorrência da envergadura da
ação criminosa, transcendeu o resultado típico, exorbitando o prejuízo emocional ínsito ao
momento da perda de um ente querido.

Alcançou a expectativa de pacificação das emoções dos familiares, que estão


– e, indefinidamente, estarão – sujeitos à exposição da dor e do trauma da morte de Tatiane
Spitzner, que já foi erigida a fato histórico (especialmente no estado do Paraná por meio da Lei
Estadual nº 19.873/20199, mas também no país) e pode ser, a qualquer tempo, explorada em
meios de comunicação, ainda que de forma bem intencionada e não depreciativa.

De mais a mais, os familiares da vítima, quando ouvidos, foram capazes de


demonstrar que a sua morte, em especial por conta das circunstâncias concretas da ação delitiva
do acusado, inclusive com o arremesso de seu corpo pela sacada do apartamento, causou grande
abalo psíquico e desestabilização familiar, o qual, devidamente registrado pelas câmeras e pelo
interesse público que o caso assumiu em virtude da brutalidade da conduta delitiva, faz a família
inevitavelmente ter que reviver, frequentemente e com ampla exposição em todos os meios de
comunicação social, o sofrimento da perda de ente familiar querido.

Com efeito, Jorge Valdemir Spitzner, pai da vítima, quando inquirido, ao ser
indagado acerca das características pessoais e profissionais de sua filha, após período em
silêncio em razão do abalo em pensar na perda de sua filha (1h08min do vídeo), disse ter
perdido, além de uma filha, uma sócia e colega de profissão e uma amiga, vide: “que ela era
uma pessoa maravilhosa; que a falta que ela lhe faz, que a falta que ela faz para a família…
todo mundo amava ela; que o que aconteceu com ela foi uma brutalidade; a Tatiane é tudo que
existia de bom; nós estamos sofrendo lá em casa de uma forma, que as vezes acho que não
vou aguentar… ir todo dia para aquele escritório e olhar aquela sala vazia… ela conversava
comigo todos os dias… espero que ninguém passe por isso”.

9
Súmula: Institui o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, a ser realizado anualmente em 22 de julho.

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11/05/2021: JULGADA PROCEDENTE A AÇÃO. Arq: Sentença

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Vê-se, pois, que as consequências do crime foram, no caso concreto, mais
acentuadas do que aquela que normalmente se tem em crimes dessa espécie e, dessa forma,
justifica-se o aumento da pena-base em razão da circunstância judicial nominada de
consequências do crime.

h) comportamento da vítima: não influiu na prática delitiva e deve ser


considerada neutra, com supedâneo na doutrina e jurisprudência pátria que não admitem a sua
desvaloração para recrudescimento da pena-base. O fato de a vítima ter tido uma discussão com
o condenado não demonstra que concorreu para a prática delitiva brutal cometida pelo réu, sob
pena de se responsabilizar indevidamente a vítima pelo delito de natureza hedionda cometido
pelo réu.

A par do exposto, é de se destacar que, conforme jurisprudência de nossos


Tribunais Superiores, inexiste base legal especificando o quantum de aumento na primeira fase
da dosimetria, razão pela qual cabe ao Juiz, na análise do caso concreto, verificar a quantidade
que se mostra proporcional às circunstâncias, à luz da jurisprudência pátria10.

Forte nessas razões, para a necessária e suficiente reprovação e prevenção ao


crime, aumento a pena-base por quatro circunstâncias judiciais desfavoráveis (culpabilidade,
personalidade, circunstâncias e consequências do crime), fixando a pena-base em 21 (vinte e
um) anos de reclusão, tendo em conta o intervalo entre as margens penais mínima e máxima do
delito dividido pelo número de circunstâncias judiciais (12 a 30 anos = 18 anos / 8 = 02 anos e

10
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL. ART. 1.º, INCISO I, DO DECRETO-LEI N.
201/67. PENA-BASE. VALORAÇÃO NEGATIVA DE 4 CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS.
DESPROPORCIONALIDADE NA ELEVAÇÃO DA BASILAR. INEXISTÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. 1. O Legislador não delimitou parâmetros exatos para a fixação da pena-base, de forma que
a sua majoração fica adstrita ao prudente arbítrio do Magistrado, que deve observar o princípio do livre
convencimento motivado e os limites máximos e mínimos abstratamente cominados a cada delito. 2. Para
possibilitar uma distinção entre os diferentes graus de gravidade concreta que um mesmo crime
abstratamente previsto pode implicar, a análise da proporcionalidade, na primeira etapa da dosimetria da
pena, deve guardar correlação com o número total de circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal
reconhecidas como desfavoráveis ao réu, sem prejuízo de que, em hipóteses excepcionais, a especial
gravidade de alguma destas circunstâncias justifique uma exasperação mais incisiva. 3. Não há nenhuma
vinculação a critérios puramente matemáticos - como, por exemplo, os de 1/8 (um oitavo) ou 1/6 (um sexto) por
vezes sugeridos pela doutrina -, mas os princípios da individualização da pena, da proporcionalidade, do dever de
motivação das decisões judiciais e da isonomia exigem que o Julgador, a fim de balizar os limites de sua
discricionariedade, realize um juízo de coerência entre: (a) o número de circunstâncias judiciais
concretamente avaliadas como negativas; (b) o intervalo de pena abstratamente previsto para o crime; e (c)
o quantum de pena que costuma ser aplicado pela jurisprudência em casos parecidos. 4. Como o aumento da
pena-base não está adstrito a critérios matemáticos e considerando-se o intervalo entre as penas mínima e máxima
abstratamente cominadas ao delito previsto no art. 1.º, inciso I, do Decreto-Lei n. 201/67 - 2 a 12 anos de reclusão
-, não se verifica desproporcionalidade na exasperação da basilar em 1 (um) ano e 3 (três) meses acima do mínimo
legal, considerando-se a existência de 4 (quatro) circunstâncias judiciais negativas. 5. Agravo regimental
desprovido. (AgRg no REsp 1817386/PB, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
27/10/2020, DJe 12/11/2020)

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03 meses de aumento por circunstância judicial desfavorável), na esteira da jurisprudência atual
do Superior Tribunal de Justiça 11 e do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná 12.

1.2. Pena Provisória - 2ª Fase.

Consoante se verifica da decisão de pronúncia (evento 1.565/1.569), bem


como do acórdão do Tribunal de Justiça em Apelação (evento 1.592) e do Superior Tribunal de
Justiça (evento 105), tem-se que, no caso, incidiram quatro qualificadoras: i) asfixia; ii) motivo
fútil; iii) meio cruel; iv) feminicídio.

Tendo em conta que a asfixia foi utilizada para qualificação do crime, as


demais (motivo fútil, outro meio cruel e feminicídio), reconhecidas pelo Conselho de Sentença,
serão computadas como circunstâncias agravantes, na medida em que encontram previsão no

11
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. FURTO TENTADO. DOSIMETRIA.
CRITÉRIO DE AUMENTO RECONHECIDO JURISPRUDENCIALMENTE. PENA-BASE PROPORCIONAL.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Considerando o silêncio do legislador, a doutrina e a
jurisprudência estabeleceram dois critérios de incremento da pena-base, por cada circunstância judicial
valorada negativamente, sendo o primeiro de 1/6 (um sexto) da mínima estipulada e outro de 1/8 (um oitavo) a
incidir sobre o intervalo de condenação previsto no preceito secundário do tipo penal incriminador. 2. No
caso dos autos, as instâncias ordinárias utilizaram o critério de um oitavo sobre o intervalo das sanções
mínima e máxima abstratamente prevista para o tipo penal (1 a 4 anos). Dessa forma, o aumento da pena-
base em 4 (quatro) meses, por uma vetorial desabonadora, revela-se proporcional e adequado. 3. Agravo
regimental desprovido. (STJ, AgRg no AREsp 1627579/MG, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA
TURMA, julgado em 08/09/2020, DJe 15/09/2020)
12 REVISÃO CRIMINAL DE SENTENÇA. FEMINICÍDIO (ART. 121, § 2.º, INCISOS IV E VI, CP).
CONDENAÇÃO À PENA DE VINTE E QUATRO (24) ANOS DE RECLUSÃO, EM REGIME FECHADO.
PRETENSÃO DE EXCLUSÃO DA QUALIFICADORA DO EMPREGO DE RECURSO QUE DIFICULTOU
A DEFESA DA VÍTIMA. INVIABILIDADE. DECISÃO, AO CONTRÁRIO DO ALEGADO, RESPALDADA
NA EVIDÊNCIA DOS AUTOS. VEREDICTO EM HARMONIA COM OS ELEMENTOS PROBATÓRIOS.
DOSIMETRIA DA PENA. REDUÇÃO. PARCIAL ACOLHIMENTO. CULPABILIDADE E
CONSEQUÊNCIAS DO DELITO CORRETAMENTE VALORADAS EM DESFAVOR DO SENTENCIADO.
AUMENTO DA PENA EM RAZÃO DE CADA CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL TIDA COMO
DESFAVORÁVEL, CONSISTENTE EM DOIS (2) ANOS, QUE NÃO É EXCESSIVO. MONTANTE
INCLUSIVE INFERIOR AO QUE PODERIA TER SIDO FIXADO (02 ANOS E 03 MESES).
DESNECESSIDADE DE REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA PARA FINS DE RECONHECIMENTO DA
AGRAVANTE PREVISTA NO ART. 61, INC. I, DO CÓDIGO PENAL. COMPENSAÇÃO, PORÉM, COM A
ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. ELEVAÇÃO DA REPRIMENDA, NA SEGUNDA FASE,
EM UM SEXTO (1/6), DIANTE DA INCIDÊNCIA DA AGRAVANTE PREVISTA NO ART. 61, INC. II,
ALÍNEA “F”, DO CÓDIGO PENAL. REDUÇÃO DA PENA DEFINITIVA PARA DEZOITO (18) ANOS E
OITO (8) MESES DE RECLUSÃO, MANTIDO O REGIME INICIAL FECHADO. PEDIDO REVISIONAL
JULGADO PARCIALMENTE PROCEDENTE. (TJPR - 1ª C.Criminal - RC - 5000843-29.2018.8.16.0000 - Rel.:
Desembargador Miguel Kfouri Neto - J. 14.11.2018)

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art. 61, II, a, d e f, do Código Penal, nos termos da sedimentada jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça13.

É perfeitamente admissível o concurso de meios cruéis caso fundamentados


em situações fáticas distintas, devidamente constantes da inicial acusatória e analisadas na
sentença de pronúncia14, tal como no caso dos autos em mesa. Em outros termos, em que pese
a asfixia e o outro meio cruel (expressão mais genérica) se encontrarem no mesmo dispositivo
legal, in casu, foram motivos de reconhecimento por conta de atos praticados em situações
distintas no iter criminis, haja vista que, inicialmente, utilizou-se do meio cruel, agredindo
reiteradamente a vítima por largo período de tempo, desde o trajeto até chegarem no
apartamento, local em que continuaram as agressões e, ao final, foi consumada a infração penal,
mediante novo ato, consistente na asfixia mediante esganadura.

O Superior Tribunal de Justiça, em decisão publicada em 20 de abril de 2020


no HC 567.638/SC15, analisou o tema entre o concurso da qualificadora da asfixia e de outro

13AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. DOSIMETRIA.


FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. MOTIVOS, CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME E CULPABILIDADE.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. AUMENTO PROPORCIONAL. BIS IN IDEM. INOCORRÊNCIA.
EXISTÊNCIA DE DUAS QUALIFICADORAS. UTILIZAÇÃO DE UMA PARA QUALIFICAR O CRIME
E DE OUTRA COMO CIRCUNSTÂNCIA AGRAVANTE. POSSIBILIDADE. AGRAVO DESPROVIDO.
1 (…) 2. Não há bis in idem quando, havendo mais de uma qualificadora, uma delas for utilizada para
qualificar o delito e as demais forem consideradas como circunstâncias desfavoráveis, seja para agravar a
pena na segunda etapa da dosimetria, seja para elevar a reprimenda básica na primeira fase. Precedentes.
3. Como ressaltado pelo Tribunal de origem, as circunstâncias judiciais negativamente valoradas possuem
elementos próprios, como já destacado, e não reproduzem as qualificadoras reconhecidas pelo Tribunal do Júri. 4.
Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 512.372/PE, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 15/08/2019, DJe 22/08/2019)
14
Segue excerto da sentença de pronúncia (obs.: sem destaques no original): “No caso dos autos, as qualificadoras
apontadas na denúncia são: motivo fútil; asfixia; meio cruel; recurso que impossibilitou a defesa da vítima; e
feminicídio.” (...) Ainda de acordo com a acusação, o réu teria inflingido intenso sofrimento físico e psíquico na
vítima mediante sucessivas agressões durante o trajeto entre a chegada no prédio e a subida ao apartamento, as
quais se intensificaram até culminar com o resultado morte através de asfixia, que ficou atestada pelo laudo de
necropsia de mov. 260.2 e pelas imagens degravadas das câmeras de segurança do prédio Golden Garden. (...)
Analisando tais argumentos, entendo que as qualificadoras não podem deixar de ser reconhecidas nesta etapa de
cognição sumária e superficial dos fatos apurados, até porque, em se tratando de decisão de pronúncia, vigora a
máxima in dubio pro societate, de modo a evitar a indevida subtração da análise do meritum causae pelo seu juiz
natural, que é, precisamente, o Tribunal Popular. (...) Ainda, as imagens das câmeras de segurança trouxeram
indícios de que o acusado teria praticado o crime mediante agressões sucessivas contra a vítima que culminaram,
em tese, com a esganadura, cabendo ao Conselho de Sentença decidir se tal fato deve ser considerado cruel e
desumano, bem como se efetivamente houve asfixia e se a superioridade física do acusado teria impedido Tatiane
de se defender.
15
(...) Ainda na segunda fase da dosimetria, consta a agravante do 'meio cruel' (art. 61, II, 'd', do Código Penal).
Também aqui, cabe salientar que a 'asfixia' já está servindo para adequar o crime ao tipo qualificado (art. 121,
§ 2º, III, do Código Penal), conforme reconhecida pelo Conselho de Sentença. Sendo assim, o 'meio cruel' com
que foi cometido o crime também reconhecido pelo Conselho de Sentença, mediante diversos e sucessivos golpes
contra a vítima, pode ser aqui considerado como agravante. Veja-se que, apesar de a 'asfixia' e o 'meio cruel'
(expressão mais genérica) estarem ambos previstos no mesmo dispositivo legal a título de circunstâncias
qualificadoras (art.121, § 2º, III, do Código Penal), devem ambos ser considerados na individualização da pena

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meio cruel (expressão mais genérica), assentando que, caso presentes e fundadas em situações
fáticas distintas, ambas devem ser considerados na dosimetria penal, haja vista que “o
somatório da 'asfixia' e do 'meio cruel' tornaram o crime mais lesivo, pois aumentou o
sofrimento imposto à vítima.”

Atinente ao quantum de exasperação, “a jurisprudência reconhece que


compete ao julgador, dentro do seu livre convencimento e de acordo com as peculiaridades
do caso, escolher a fração de aumento ou redução de pena, em observância aos princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade. Todavia, a aplicação de fração superior a 1/6 exige
motivação concreta e idônea (STJ, HC: 353640 PE 2016/0097910-0, Relator: Ministro FELIX
FISCHER, Data de Julgamento: 07/02/2017, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe
16/02/2017)

Dessarte, conquanto o Código Penal não estabeleça limites mínimo e máximo


de aumento ou diminuição da sanção na segunda fase da dosimetria penal, “o aumento da pena
em patamar superior a 1/6, em virtude da incidência de circunstância agravante, demanda
fundamentação concreta e específica para justificar o incremento em maior extensão. (...)
(STJ, AgRg no HC 611.392/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado
em 27/10/2020, DJe 12/11/2020).

Presentes três agravantes, entendo razoável e proporcional aumentar a pena-


base da seguinte maneira: aumentando-a em 2/6 em virtude das agravantes do motivo fútil e do
meio cruel (sendo 1/6 referente a cada uma destas agravantes, totalizando, portanto, 2/6 de
aumento); e, quanto ao feminicídio (ou da violência contra a mulher na forma da lei específica
– art. 61, inciso II, alínea “a”, do Código Penal), promovendo-se o agravamento na fração de
2/6, em razão dos elementos idôneos do caso concreto que evidenciam a necessidade de maior
resposta estatal para ser proporcional à gravidade concreta dos atos praticados pelo acusado,
resultando na majoração total de 4/6 (ou 2/3).

A Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, foi assim batizada
como forma de reparação simbólica pela omissão do Estado na apuração e punição do agressor
de Maria da Penha Maia Fernandes, Farmacêutica e Bioquímica, nascida no Ceará em 1.945.
No ano de 1983, Maria da Penha foi vítima de dupla tentativa de feminicídio pelo seu marido,
que era economista. Sobreviveu, mas ficou paraplégica, e os julgamentos dos crimes
finalizaram apenas em 1991 e 1996 e, ainda assim, neste último ano, a sentença não foi
cumprida em decorrência de alegação de irregularidades processuais. O Brasil foi condenado

quando presentes cumulativamente no caso concreto, já que ambos têm relevância na apuração da lesividade
do crime. A propósito, no presente caso, não se pode negar, o somatório da 'asfixia' e do 'meio cruel' tornaram
o crime mais lesivo, pois aumentou o sofrimento imposto à vítima. Em tal contexto, impõe-se considerar o 'meio
cruel' nesta segunda fase da dosimetria, uma vez que, a par da 'asfixia', tornou o crime mais lesivo do que o
normal para o tipo penal qualificado. (...) (STJ - HC: 567638 SC 2020/0071779-0, Relator: Ministro NEFI
CORDEIRO, Data de Publicação: DJ 20/04/2020 )

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em âmbito internacional pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, em 2001, em virtude
de sua omissão e negligência na apuração e devida punição dos crimes.

Em breve digressão acerca do fenômeno da violência de gênero, registra-se que


ele é representado por um ciclo de fases que se repetem, formado pelo aumento de tensão →
atos de violência → arrependimento do agressor. Segundo bem representado no sítio virtual do
Instituto Maria da Penha16, “Com o tempo, os intervalos entre uma fase e outra ficam menores,
e as agressões passam a acontecer sem obedecer à ordem das fases. Em alguns casos, o ciclo
da violência termina com o feminicídio, que é o assassinato da vítima.”.

Necessário, ainda, destacar esclarecimento feito pelo referido instituto17 no


sentido de que:“As mulheres que sofrem violência não falam sobre o problema por um misto
de sentimentos: vergonha, medo, constrangimento. Os agressores, por sua vez, não raro,
constroem uma autoimagem de parceiros perfeitos e bons pais, dificultando a revelação da
violência pela mulher. Por isso, é inaceitável a ideia de que a mulher permanece na relação
violenta por gostar de apanhar.”

Pois bem. A Lei Maria da Penha, no seu art. 7º, estabelece, entre outras, as
formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, a exemplo da violência física,
violência psicológica, violência sexual, violência patrimonial e a violência moral 18.

Veja-se que, no caso, o acusado aproveitou da situação de grande


vulnerabilidade emocional e psicológica da vítima que, de há muito tempo, vinha sofrendo com
as atitudes agressivas e de menosprezo do condenado, conforme depoimentos constantes dos
autos e, ainda, conteúdo do Laudo Pericial Juntado no evento 398, dando conta de que, no
mínimo desde o ano de 2017, a vítima já vinha sofrendo com as atitudes agressivas do acusado,

16
https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/ciclo-da-violencia.html
17
https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/ciclo-da-violencia.html
18
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida
como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como
qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o
pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões,
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir
e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência
sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual
não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar,
de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou
que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida
como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,
difamação ou injúria.

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que a deixaram emocionalmente abalada a ponto de manter um relacionamento abusivo,
situação que desencadeou a vulnerabilidade da vítima no momento do crime.

O conteúdo da prova pericial realizada mediante a análise do computador


portátil pessoal da vítima, consoante laudo encartado no evento 398, é um indicativo claro,
corroborado pelos depoimentos colhidos em Juízo, da situação de extrema vulnerabilidade
emocional que a vítima vivia em decorrência do comportamento abusivo do réu, guardando,
para si, diariamente, todas as agruras de atitudes grosseiras, agressivas e de indiferença da
pessoa pela qual nutria sentimento amoroso.

No citado laudo, a título de mera ilustração da reiterada violência sofrida,


constam do histórico de navegação que a vítima, no mínimo desde março de 2017, há mais de
um ano do fato criminoso, ingressava em páginas e assistia vídeos sobre términos de
relacionamento amoroso e acerca de atitudes grosseiras e abusivas do parceiro, vide:

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Imperioso consignar, ademais, que constam do laudo algumas buscas
realizadas pela vítima na rede mundial de computadores relacionadas ao relacionamento
abusivo vivenciado com o réu. Confira-se:

Da mesma forma os depoimentos de amigos e familiares colhidos na fase


judicial, que assim podem ser sintetizados.

Bruna Elisa Sobanski Ferreira, amiga do casal, ouvida na fase judicial da


primeira fase do procedimento bifásico do júri, retratou algumas situações de vulnerabilidade
vivida pela vítima durante o seu relacionamento, tal como crises de ciúmes, reiterado tratamento
pejorativo e de menosprezo da vítima, inclusive dizendo sentir nojo de manter relações sexuais
com a vítima, dentro outras situações de agressão psicológica contra a vítima 19.

19
“conheceu a Tatiane na escola, desde mais ou menos o ano de 1994; que desde então nunca se separaram,
estando uma presente na vida da outra desde então; que Tatiane foi sempre muito feliz, muito animada, muito
disposta; que estava junto, inclusive, quando a vítima e o acusado se conheceram em 2013; que decidiram se
casar e ir para a Alemanha; até então pareciam um casal feliz, que ela tinha encontrado o amor da vida dela e
ele também; que quando ainda estavam na Alemanha Tatiane passou a lhe relatar cenas de ciúmes por parte
do acusado e citavam alguns episódios; que somente quando eles voltaram para o Brasil que passou a ter uma
convivência efetiva com o casal; que nesse momento passou a perceber que o tratamento do acusado para com
a vítima era pejorativo, de menosprezo; que passou a se implicar com isso e perguntar para a vítima a razão
disso; que a vítima ficava sem jeito quando era indagada sobre isso; que ele usava apelidos que a diminuíam,
a exemplo de bosta albina, em razão de ela ter a pele bem clara; que o acusado colocava a mão na cabeça da
vítima e pedia para ela ficar quieto, que ela só falava besteira, sempre tentando diminuir ela; que ela ficava
constrangida; que ele virou professor e passou a dar muita abertura para as alunas; que Tatiane começou a se
irritar e mandar prints de conversas dele; que em uma oportunidade, final de maio, começo de junho, a vítima
pegou uma conversa com acusado com uma aluna e lhe disse que não aguentava mais, que queria se separar; que
nessa ocasião o acusado pediu perdão para a vítima, fez juras de amor e excluiu as redes sócias, sendo que, logo
em seguida, fizeram uma viagem para Goiás; que até essa viagem estavam dormindo em quartos separados; que
voltaram dessa viagem bem no dia do aniversário do acusado, que teve uma festa no Box Lounge; que o acusado
dizia que tinha nojo de ter relações sexuais com ela; que ela lhe relatou que, as vezes, ele acordava durante a
noite e queria ter relação sexual e, quando ela dizia não, ele meio que ‘forçava’, ela fazia para ‘se livrar’; que
em uma oportunidade a vítima chegou a ter sangramento; que ela já havia dito para ele que queria se separar;
que apesar de gostar dele, achava que já teria acabado o relacionamento; que ele sempre dava alguns surtos,
sendo que em um dia mandou uma foto para a vítima de uma champagne e ela disse ‘brinde a vida mesmo

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Caroline Sobanski, também ouvida na fase judicial da primeira fase do
procedimento bifásico do júri, portanto, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, trouxe
aos autos outras situações fáticas que demonstram que a violência física fatal, que ceifou a vida
da vítima, foi resultado direto do relacionamento abusivo e das inúmeras formas de violência
que o réu condenado submeteu a vítima 20.

porque meu casamento já era’ e mandou uma foto do quarto revirado, dizendo que o Luis Felipe teria feito em
um momento de descontrole após ela ter dito que queria dormir e ter colocado algumas provas em uma bancada,
tirando do local em que Luis Felipe teria deixado; que ela disse que Luis Felipe ficava irreconhecível quando
se descontrolava; que quando moravam na Alemanha a vítima lhe contou que o acusado teve uma crise de
ciúmes por conta de um shorts da vítima, que ele julgou muito curto, que ele pegou o shorts e rasgou, falando
que ela não iria sair com aquilo; que uma vez a vítima curtiu umas fotos de um amigo, na fazenda, e o acusado
pegou o celular dela e ficou na cama esperando para ver se o rapaz se manifestaria; que a vítima estava muito
feliz no dia, embora tenha lhe dito antes que não estavam muito bem e que a separação seria certa; que Luis
Felipe controlava muito os gastos, sendo que em algumas oportunidades a vítima lhe pediu para fazer o
pagamento no cartão e que ela lhe dava em dinheiro para Luis Felipe não ficar reclamando, reprimindo sua
conduta; que o tratamento de Luis Felipe, com os outros, era legal, mas, com ela, sempre com desprezo; que
em um episódio, estavam em São Paulo indo para um show e o celular da vítima estavam com problema, sendo
que ela não conseguiu chamar o Uber, sendo que o acusado, grosseiramente, a chamou de burra e disse que
ela não sabia fazer nada, sendo que, logo em seguida, dirigiu-se respeitosamente para a declarante e perguntou
se ela poderia chamar; que ele falava e ela abaixava a cabeça; que o serviço de casa era todo feito pela vítima;
que o acusado praticamente não ajudava em nada; que Luis Felipe a incomodava em público, pegando em sua
bunda e em seus seios, constrangendo-a; que ele a chamava de Marsupilami Albino, mandava ela calar a boca,
que ela era burra; pedia para ela ficar quietinha”.
20
“conheceu a Tatiane na escola, desde mais ou menos o ano de 1994; que desde então nunca se separaram,
estando uma presente na vida da outra desde então; que Tatiane foi sempre muito feliz, muito animada, muito
disposta; que estava junto, inclusive, quando a vítima e o acusado se conheceram em 2013; que decidiram se
casar e ir para a Alemanha; até então pareciam um casal feliz, que ela tinha encontrado o amor da vida dela e
ele também; que quando ainda estavam na Alemanha Tatiane passou a lhe relatar cenas de ciúmes por parte
do acusado e citavam alguns episódios; que somente quando eles voltaram para o Brasil que passou a ter uma
convivência efetiva com o casal; que nesse momento passou a perceber que o tratamento do acusado para com
a vítima era pejorativo, de menosprezo; que passou a se implicar com isso e perguntar para a vítima a razão
disso; que a vítima ficava sem jeito quando era indagada sobre isso; que ele usava apelidos que a diminuíam,
a exemplo de bosta albina, em razão de ela ter a pele bem clara; que o acusado colocava a mão na cabeça da
vítima e pedia para ela ficar quieto, que ela só falava besteira, sempre tentando diminuir ela; que ela ficava
constrangida; que ele virou professor e passou a dar muita abertura para as alunas; que Tatiane começou a se
irritar e mandar prints de conversas dele; que em uma oportunidade, final de maio, começo de junho, a vítima
pegou uma conversa com acusado com uma aluna e lhe disse que não aguentava mais, que queria se separar; que
nessa ocasião o acusado pediu perdão para a vítima, fez juras de amor e excluiu as redes sócias, sendo que, logo
em seguida, fizeram uma viagem para Goiás; que até essa viagem estavam dormindo em quartos separados; que
voltaram dessa viagem bem no dia do aniversário do acusado, que teve uma festa no Box Lounge; que o acusado
dizia que tinha nojo de ter relações sexuais com ela; que ela lhe relatou que, as vezes, ele acordava durante a
noite e queria ter relação sexual e, quando ela dizia não, ele meio que ‘forçava’, ela fazia para ‘se livrar’; que
em uma oportunidade a vítima chegou a ter sangramento; que ela já havia dito para ele que queria se separar;
que apesar de gostar dele, achava que já teria acabado o relacionamento; que ele sempre dava alguns surtos,
sendo que em um dia mandou uma foto para a vítima de uma champagne e ela disse ‘brinde a vida mesmo
porque meu casamento já era’ e mandou uma foto do quarto revirado, dizendo que o Luis Felipe teria feito em
um momento de descontrole após ela ter dito que queria dormir e ter colocado algumas provas em uma bancada,
tirando do local em que Luis Felipe teria deixado; que ela disse que Luis Felipe ficava irreconhecível quando

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Hicham Reda, também amigo do casal, disse em Juízo fatos similares das
outras informantes, acrescentando, outrossim, que o acusado se referida à vítima como “bosta
branca ou albina”21.

A violência doméstica contra a mulher vivenciada pela vítima em todas as suas


formas e durante mais de ano no mínimo, de acordo com as provas produzidas nos autos, pode
ser sintetizada pelas suas próprias palavras em conversa, em 04 de junho de 2018, entre a vítima
e sua amiga Rosenilda Fernandes Bielack por aplicativo de mensagens (evento 76 dos autos
originários), quando a vítima afirma que “Está sendo o inferno na terra”.

A par de todo o exposto, as circunstâncias agravantes devem ensejar o


aumento na segunda fase no patamar 4/6 (ou 2/3), resultando na pena intermediária de 30
(trinta) anos de reclusão, considerando a impossibilidade de, nesta fase da dosimetria penal,
ser ultrapassado o mínimo e o máximo legal cominado abstratamente ao delito, de acordo com
a doutrina e jurisprudência majoritárias.

1.3. Pena Definitiva - 3ª Fase.

Não há majorantes ou minorantes.

Ato contínuo, fixo a pena definitiva do réu em 30 (trinta) anos de reclusão.

se descontrolava; que quando moravam na Alemanha a vítima lhe contou que o acusado teve uma crise de
ciúmes por conta de um shorts da vítima, que ele julgou muito curto, que ele pegou o shorts e rasgou, falando
que ela não iria sair com aquilo; que uma vez a vítima curtiu umas fotos de um amigo, na fazenda, e o acusado
pegou o celular dela e ficou na cama esperando para ver se o rapaz se manifestaria; que a vítima estava muito
feliz no dia, embora tenha lhe dito antes que não estavam muito bem e que a separação seria certa; que Luis
Felipe controlava muito os gastos, sendo que em algumas oportunidades a vítima lhe pediu para fazer o
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conduta; que o tratamento de Luis Felipe, com os outros, era legal, mas, com ela, sempre com desprezo; que
em um episódio, estavam em São Paulo indi para um show e o celular da vítima estavam com problema, sendo
que ela não conseguiu chamar o Uber, sendo que o acusado, grosseiramente, a chamou de burra e disse que
ela não sabia fazer nada, sendo que, logo em seguida, dirigiu-se respeitosamente para a declarante e perguntou
se ela poder sia chamar; que ele falava e ela abaixava a cabeça; que o serviço de casa era todo feito pela vítima;
que o acusado praticamente não ajudava em nada; que Luis Felipe a incomodava em público, pegando em sua
bunda e em seus seios, constrangendo-a; que ele a chamava de Marsupilami Albino, mandava ela calar a boca,
que ela era burra; pedia para ela ficar quietinha”.
21
“que era amigo do casal; que conheceu o acusado por intermédio da Tatiane; que no dia dos fatos Luis Felipe
pegava nos seis e nas bundas de Tatiane, dizendo que ‘hoje tem’; que até então não teria presenciado brincadeira
dele tocando nela; que ficou sabendo que, na época em que a vítima e o acusado residiam na Alemanha, ela
saiu com um shorts e ele, chegando em casa, rasgou o shorts; que já presenciou o acusado chamando a vítima
de bosta branca ou albina; que ouviu sua esposa e a irmã dela comentando um episódio em que Tatiane disse
ao acusado que queria se separar e ele disse que não se separaria, e quebrou um vaso; ”

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I.II – Fraude Processual

2.1 – Pena-base - 1ª Fase.

De acordo com as diretrizes traçadas pelo artigo 59 do Código Penal, temos


que, nessa etapa, deverão ser objeto de análise, para valoração, ou não, as seguintes
circunstâncias:

a) culpabilidade: no caso em exame, não exorbitou a culpabilidade ínsita a


crimes da mesma espécie.

b) antecedentes: o acusado, conforme se verifica da certidão de antecedentes


criminais extraída do Sistema Oráculo (evento 1.17), não possui registros criminais anteriores.

c) conduta social: nada a considerar nos autos.

d) personalidade: trata-se a personalidade do retrato psíquico do agente, de


suas qualidades de boa ou má índole, agressividade e o antagonismo à ordem social, cuja
valoração, conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (AgRg no REsp
1.406.058/RS, Min. Rel. Jorge Mussi, j. Em 19.04.2018), demanda do magistrado a utilização
de elementos concretos inseridos nos autos, justificantes da exasperação da pena-base
cominada, sendo prescindível a realização de laudo pericial para tal constatação. In casu,
conforme se depreende dos autos, em especial dos depoimentos de amigos que indicavam um
comportamento hostil e até mesmo agressivo em relação a vítima que, em diversas situações de
contrariedade a seus posicionamentos, teria sido agressivo, quebrando objetos da residência,
jogando livros no chão para humilhar a vítima e fazê-la pegar, brigando com conhecidos em
festas familiares por não aceitar brincadeiras 22, bem como pela ata notarial de print screen da
rede social facebook e de aplicativo de conversas, constata-se a índole subversiva do acusado,
com postagem misóginas, de incitação a violência e demonstração de seu ânimo em infringir
as normas legais diante de situações que lhe causam adversidades. Assim, deve ser valorada
negativamente.

22 AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE. VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA. DOSIMETRIA. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. QUANTUM DE
AUMENTO. DISCRICIONARIEDADE VINCULADA DO MAGISTRADO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO VERIFICADO.
APLICAÇÃO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. O
Julgador deve, ao individualizar a pena, examinar com acuidade os elementos que dizem respeito ao fato, obedecidos e sopesados todos os
critérios estabelecidos no art. 59 do Código Penal, para aplicar, de forma justa e fundamentada, a reprimenda que seja, propo rcionalmente,
necessária e suficiente para reprovação do crime. 2. Na hipótese, a negativação da circunstância judicial da culpabilidade está suficientemente
fundamentada, tendo sido declinados elementos que emprestaram à conduta do Agravante especial reprovabilidade, em razão da intensidade
da violência praticada contra a Vítima. Nos termos da sentença condenatória, "[a]s agressões se deram não só com um, mas vários socos.
Houve empurrões e sacudidas". 3. As instâncias ordinárias apresentaram fundamentação lastreada em elementos concretos e específicos
do caso em apreço, os quais efetivamente indicam a personalidade desvirtuada do Acusado, pois já teria agredido a Vítima por diversas
vezes e também teria atacado sua atual companheira; ademais, o filho do Agravante "declarou que o Réu é pessoa 'estourad a'". (...).
8. Agravo desprovido. (AgRg no HC 506.558/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 08/09/2020, DJe 22/09/2020)

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e) motivos do crime: nada a considerar no caso dos autos, vez que já majoram
a sanção penal.

f) circunstâncias: são prejudiciais no caso dos autos, considerando os fatores


de tempo, lugar e modo de execução do delito. Com efeito, o crime, quanto à parcela da
execução em que o acusado removeu o corpo, foi executado a despeito de uma pessoa ter
chegado ao local, o que demandou do acusado uma dissimulação, para que pudesse, sem
percalços, retirar o corpo da vítima, mesmo após ser advertido pela testemunha que deveria
esperar a polícia. Além disso, em relação à parte da fraude processual consistente em limpeza
dos vestígios de sangue, o acusado os removeu mesmo estando em local filmado, de modo que
fez o que pôde para fraudar o processo. Por fim, após o crime, conforme consta dos autos,
notadamente do auto de prisão em flagrante, o acusado empreendeu fuga, dirigindo-se sentido
a Foz do Iguaçu/PR, de modo a dificultar fosse encontrado e responsabilizado por seus atos,
circunstância que, aliada às demais, justificam a valoração negativa.

g) consequências: embora reprováveis, são inerentes ao tipo penal de fraude


processual.

h) comportamento da vítima: não influiu na prática delitiva.

Para a necessária e suficiente reprovação e prevenção ao crime, aumento a


pena-base por três circunstâncias judiciais desfavoráveis (personalidade, circunstâncias e
consequências do crime), fixando a pena-base em 10 (dez) meses, 24 (vinte e quatro) dias de
detenção e 13 (treze) dias-multa, tendo em conta o intervalo entre as margens penais mínima e
máxima do delito dividido pelo número de circunstâncias judiciais (03 meses a 02 anos = 01
ano e 09 meses/ 8 = 02 meses e 18 dias de aumento por circunstância judicial desfavorável),
na esteira da jurisprudência atual do Superior Tribunal de Justiça 23 e do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná24.

23AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. FURTO TENTADO. DOSIMETRIA. CRITÉRIO DE AUMENTO
RECONHECIDO JURISPRUDENCIALMENTE. PENA-BASE PROPORCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1.
Considerando o silêncio do legislador, a doutrina e a jurisprudência estabeleceram dois critérios de incremento da pena-base, por cada
circunstância judicial valorada negativamente, sendo o primeiro de 1/6 (um sexto) da mínima estipulada e outro de 1/8 (um oitavo) a
incidir sobre o intervalo de condenação previsto no preceito secundário do tipo penal incriminador. 2. No caso dos autos, as instâncias
ordinárias utilizaram o critério de um oitavo sobre o intervalo das sanções mínima e máxima abstratamente prevista para o tipo penal
(1 a 4 anos). Dessa forma, o aumento da pena-base em 4 (quatro) meses, por uma vetorial desabonadora, revela-se proporcional e
adequado. 3. Agravo regimental desprovido. (STJ, AgRg no AREsp 1627579/MG, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA
TURMA, julgado em 08/09/2020, DJe 15/09/2020)
24 REVISÃO CRIMINAL DE SENTENÇA. FEMINICÍDIO (ART. 121, § 2.º, INCISOS IV E VI, CP). CONDENAÇÃO À PENA DE VINTE
E QUATRO (24) ANOS DE RECLUSÃO, EM REGIME FECHADO. PRETENSÃO DE EXCLUSÃO DA QUALIFICADORA DO
EMPREGO DE RECURSO QUE DIFICULTOU A DEFESA DA VÍTIMA. INVIABILIDADE. DECISÃO, AO CONTRÁRIO DO
ALEGADO, RESPALDADA NA EVIDÊNCIA DOS AUTOS. VEREDICTO EM HARMONIA COM OS ELEMENTOS PROBATÓRIOS.
DOSIMETRIA DA PENA. REDUÇÃO. PARCIAL ACOLHIMENTO. CULPABILIDADE E CONSEQUÊNCIAS DO DELITO
CORRETAMENTE VALORADAS EM DESFAVOR DO SENTENCIADO. AUMENTO DA PENA EM RAZÃO DE CADA
CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL TIDA COMO DESFAVORÁVEL, CONSISTENTE EM DOIS (2) ANOS, QUE NÃO É EXCESSIVO.
MONTANTE INCLUSIVE INFERIOR AO QUE PODERIA TER SIDO FIXADO (02 ANOS E 03 MESES). DESNECESSIDADE DE
REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA PARA FINS DE RECONHECIMENTO DA AGRAVANTE PREVISTA NO ART. 61, INC. I, DO CÓDIGO
PENAL. COMPENSAÇÃO, PORÉM, COM A ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. ELEVAÇÃO DA REPRIMENDA, NA
SEGUNDA FASE, EM UM SEXTO (1/6), DIANTE DA INCIDÊNCIA DA AGRAVANTE PREVISTA NO ART. 61, INC. II, ALÍNEA “F”,
DO CÓDIGO PENAL. REDUÇÃO DA PENA DEFINITIVA PARA DEZOITO (18) ANOS E OITO (8) MESES DE RECLUSÃO,

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2.2. Pena Provisória - 2ª Fase.

Não há agravantes ou atenuantes, razão pela qual mantenho a pena provisória


em 10 (dez) meses, 24 (vinte e quatro) dias de detenção e 13 (treze) dias-multa

2.3. Pena Definitiva - 3ª Fase.

Não há minorantes.

Presente a causa de aumento positivada no parágrafo único do art. 347 do


Código Penal, diante do fato de o delito de fraude processual ter sido praticado pelo réu com o
intuito de produzir efeito em processo penal não iniciado, majoro a pena do dobro e fixo
definitivamente a sanção penal em 01 (um) ano, 09 (nove) meses e 18 (dezoito) dias de
detenção e 26 (vinte e seis) dias-multa.

Considerando o disposto no artigo 49, § 1º, do Código Penal e, ainda, a


situação socioeconômica do réu (professor universitário portador de título de doutorado e dois
empregos), fixo o valor do dia-multa em um salário mínimo vigente à época dos fatos, devendo
ser reajustado a partir da data da prática do crime. A pena de multa deverá ser paga nos termos
e prazos dispostos no artigo 50 do Código Penal, sob pena de execução.

I.III – Concurso Material de Crimes. Regime e Local de Cumprimento


de Pena e Detração.

O acusado praticou, mediante mais de uma conduta, crimes de espécies


diferentes, devendo incidir a regra do art. 69 do Código Penal (concurso material). No tocante
ao delito de homicídio qualificado, a dosimetria penal resultou em 30 (trinta) anos de reclusão.
Ao delito de fraude processual majorada, aplicou-se a sanção penal em 01 (um) ano, 09 (nove)
meses e 18 (dezoito) dias de detenção e 26 (vinte e seis) dias-multa.

Com a devida vênia a entendimento diverso, prevalece atualmente no


Superior Tribunal de Justiça 25, derradeiro hermeneuta da legislação infraconstitucional, a

MANTIDO O REGIME INICIAL FECHADO. PEDIDO REVISIONAL JULGADO PARCIALMENTE PROCEDENTE. (TJPR - 1ª
C.Criminal - RC - 5000843-29.2018.8.16.0000 - Rel.: Desembargador Miguel Kfouri Neto - J. 14.11.2018)
25
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO.
FRAUDE À LICITAÇÃO E DESVIO DE RENDA PÚBLICA EM BENEFÍCIO PRÓPRIO. PRESCRIÇÃO.
INOCORRÊNCIA. NULIDADES. AUSÊNCIA DE DEFESA PRÉVIA E DE INTIMAÇÃO PARA O
JULGAMENTO DOS ACLARATÓRIOS. JULGAMENTO CITRA PETITA. ILEGALIDADE PELA SOMA
DAS PENAS DE DETENÇÃO E RECLUSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
NÃO CONFIGURADO. WRIT NÃO CONHECIDO. (...) 11. As reprimendas de reclusão e de detenção
devem ser somadas para fins de unificação da pena, haja vista que ambas são modalidades de pena privativa
de liberdade e, portanto, configuram sanções de mesma espécie. Precedentes do STF e desta Corte Superior

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interpretação no sentido de que, com supedâneo na redação do art. 11126 da Lei de Execução
Penal em detrimento do art. 76 do Código Penal27, “é possível a soma das penas de reclusão e
de detenção para fixação do regime prisional, uma vez que constituem sanções da mesma
espécie, ou seja, ambas são penas privativas de liberdade.” (STJ, AgRg no AREsp
1749665/PR, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
06/10/2020, DJe 13/10/2020).

A par do exposto, fica fixada e unificada a pena definitiva privativa de


liberdade ao réu LUIS FELIPE DOS SANTOS MANVAILER em 31 (trinta e um) anos, 09
(nove) meses e 18 (dezoito) dias de reclusão e 26 (vinte e seis) dias-multa.

Diante da pena finalmente cominada e de acordo com o art. 33 do Código


Penal, o regime inicial de cumprimento da pena do réu é o fechado, devendo ser cumprido em
estabelecimento prisional adequado.

Em consonância com o artigo 387, §2º, do Código de Processo Penal, o


acusado permaneceu preso provisoriamente durante a instrução processual por 02 (dois) anos,
09 (nove) meses e 19 (dezenove) dias. Considerando que a detração do tempo de prisão
preventiva não altera o regime inicial de cumprimento de pena, deixo de realizar a detração do
acusado, incumbindo ao Juízo da Execução Penal tal mister 28.

I.IV – Substituição da pena e Suspensão da Pena.

Diante da pena finalmente cominada e por se tratar de crime cometido com


violência à pessoa, não é viável a substituição da pena privativa de liberdade por sanção

de Justiça. 12. Writ não conhecido. (STJ, HC 484.690/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA
TURMA, julgado em 30/05/2019, DJe 04/06/2019)
26
Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos,
a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada,
quando for o caso, a detração ou remição. Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-
se-á a pena ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime.
27
Art. 76 - No concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a pena mais grave.
28
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. IMPUGNAÇÃO A TODOS OS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO ATACADA. AGRAVO QUE DEVE SER CONHECIDO. DETRAÇÃO DO ART.
387, §2º, CPP. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SENTENCIANTE. DESCONTO QUE NÃO IMPLICA ALTERAÇÃO
DO REGIME. ANÁLISE DESPICIENDA. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO PARA CONHECER DO AGRAVO
E NEGAR-LHE PROVIMENTO. 1. Reconhecida a impugnação a todos os fundamentos da decisão atacada, deve
ser conhecido o agravo em recurso especial. 2. A jurisprudência desta Corte Superior consolidou-se no sentido
de que, com o advento da Lei 12.736/12, o Juiz processante, ao proferir sentença condenatória, deverá detrair o
período de custódia cautelar para fins de fixação do regime prisional. 3. Tem-se, contudo, por despicienda a
análise da tese de detração do período de prisão cautelar, se o desconto não conduz à alteração do regime inicial
de cumprimento da pena. Precedente. 4. Agravo regimental provido para conhecer do agravo e negar-lhe
provimento. (STJ, AgRg no AREsp 1580576/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
18/02/2020, DJe 27/02/2020)

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restritiva de direitos, conforme dispõe o art. 44, inciso I, do Código Penal. É incabível, de igual
forma, a suspensão de sua pena, nos termos do art. 77, caput, da Lei Substantiva Penal.

II – DO VALOR MÍNIMO COMPENSATÓRIO DOS DANOS


CAUSADOS PELO CRIME

Nos termos do art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal, o Estado-
Juiz, em caso de condenação do acusado, fixará valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pela vítima.

O Superior Tribunal de Justiça, último intérprete da legislação


infraconstitucional, assentou que, no que concerne a eventuais danos materiais, deve existir
pedido prévio e expresso, aliado, ainda, a uma instrução probatória própria, vez que a
responsabilidade civil é medida pela extensão do dano causado nesse ponto, na forma do artigo
944 do Código Civil29. Em relação a eventuais danos morais, noutro giro, assentou-se a
desnecessidade de instrução processual específica, notadamente quando o abalo moral é in re
ipsa, tal como no caso dos autos30.

29
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA A ORDEM
TRIBUTÁRIA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. ART. 387, IV, DO CPP. EXISTÊNCIA DE
PEDIDO EXPRESSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE INSTRUÇÃO ESPECÍFICA NO
CURSO DO PROCESSO. INOBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO. PRECEDENTES. AGRAVO IMPROVIDO. 1. A fixação de valor mínimo para reparação
dos danos materiais causados pela infração exige, além de pedido expresso na inicial, a indicação de valor e
instrução probatória específica. Precedentes. 2. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1856026/SC, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 16/06/2020, DJe 23/06/2020)
30
AGRAVOS REGIMENTAIS NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. ART. 387, INCISO IV,
DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. EXISTÊNCIA DE PEDIDO EXPRESSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
PARA REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS CAUSADOS PELO DELITO. INEXISTÊNCIA DE
INSTRUÇÃO ESPECÍFICA NO CURSO DO PROCESSO. INOBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA
DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. PRECEDENTES. PLEITO PARA FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO
DECORRENTE DE DANOS MORAIS. INSTRUÇÃO PROBATÓRIA PRÓPRIA. PRESCINDÍVEL. AGRAVO
REGIMENTAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL PROVIDO.
AGRAVO REGIMENTAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PARCIALMENTE PROVIDO. 1. No
tocante à pleito atinente aos danos materiais, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça está plasmada no
sentido de que "a fixação de valor mínimo para reparação dos danos materiais causados pela infração exige, além
de pedido expresso na inicial, a indicação de valor e instrução probatória específica, de modo a possibilitar ao réu
o direito de defesa com a comprovação de inexistência de prejuízo a ser reparado ou a indicação de quantum
diverso" (AgRg no REsp 1.724.625/RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
21/06/2018, DJe de 28/06/2018.). 2. No que concerne ao pleito para que seja estabelecida indenização mínima
a título de danos morais, o posicionamento esposado por esta Corte Superior de Justiça é no sentido de que,
havendo pedido expresso na inicial, a fixação do quantum indenizatório a esse título prescinde de instrução
probatória específica. 3. Agravo regimental do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul provido.
Agravo regimental do Ministério Público Federal parcialmente provido. (AgRg no REsp 1745628/MS, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/03/2019, DJe 03/04/2019)

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Há, no caso dos autos, pedido expresso na denúncia e no seu aditamento31
para a condenação do réu em indenização mínima em favor da família da vítima (evento 31.1),
de forma que é possível o conhecimento e deliberação do tema pelo Juízo Criminal.

Registro, no entanto, que “A legitimidade para a propositura da demanda


indenizatória por danos extrapatrimoniais, em regra, é reconhecida restritivamente em favor
dos parentes mais próximos da vítima falecida (cônjuge, companheiro, pais e filhos)”32, salvo
se comprovada situação especial para admitir a legitimidade de outras pessoas em face de sua
especial afinidade com a falecida, o que não restou demonstrado nos autos pelo Ministério
Público.

A par disso, no ordenamento jurídico pátrio, a responsabilidade civil


extracontratual, ou aquiliana, alicerça-se em duas pilastras fundamentais, o ato ilícito e o abuso
de direito, conforme se infere dos artigos 186 e 187 do Código Civil, respectivamente.

O ilícito civil, com a inerente obrigação de reparar o dano causado, decorre


do crime cometido pelo réu em desfavor da vítima, conforme amplamente fundamentado
alhures, restando pendente apenas a fixação de valor mínimo a título de indenização em favor
dos familiares desta, porquanto, na forma do art. 91, inciso I, do Código Penal, a condenação
torna certa a obrigação de indenizar o dano causada pelo delito.

31
Segue o pedido contido no aditamento da denúncia: “Outrossim, em caso de condenação, requer seja fixado
valor mínimo para indenização dos familiares da vítima, nos termos do art. 387, inciso IV do CPP.”
32
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO CIVIL EX DELITO. RÉUS CONDENADOS
PELO ASSASSINATO DO PAI E NAMORADO DAS AUTORAS. CONDENAÇÃO DE UM DOS CORRÉUS
PELO EXCESSO NA LEGÍTIMA DEFESA E OUTRO POR HOMICÍDIO DOLOSO DUPLAMENTE
QUALIFICADO. ANTIJURIDICIDADE QUE REMANESCE. INAPLICABILIDADE DO ART. 188 DO CC.
INDENIZAÇÃO E PENSIONAMENTO. 1. Controvérsia acerca da responsabilidade civil de um dos demandados
pela morte do pai e do namorado das autoras diante do reconhecimento do excesso na excludente da legítima
defesa, do que resultou a sua condenação penal por homicídio culposo. 2. A hipótese dos autos não é de mera
incidência de causa de justificação (inciso II do art. 23 do CP - legítima defesa), em que alguém venha a repelir
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de terceiro, usando moderadamente dos meios de que dispõe.
3. O réu, embora inicialmente defendente, passou a agressor quando excedeu nos meios de que dispunha para a
sua defesa, conduta configuradora de ato ilícito na esfera penal, resultando na sua condenação criminal e na
cominação de pena restritiva de liberdade, cuja execução fora suspensa em face da concessão do sursis. 4.
Inaplicabilidade do disposto no art. 188 do CC. 5. Incidência do art. 935 do CC c/c o art. 91, I, do CP, pois a
condenação criminal torna certa a obrigação de indenizar. 6. A legitimidade para a propositura da demanda
indenizatória por danos extrapatrimoniais, em regra, é reconhecida restritivamente em favor dos parentes mais
próximos da vítima falecida (cônjuge, companheiro, pais e filhos). 7. Em situações especiais, pode ser admitida a
legitimidade de outras pessoas em face de sua especial afinidade com o falecido. 8. Caso concreto em que, apesar
do reconhecimento, na origem, da existência de um namoro entre a coautora e o falecido, identificou-se a existência
da necessária afinidade, intensificada pela geração de uma filha. Situação fática compreendida no acórdão
recorrido que se revela insindicável. Atração do enunciado sumular n. 7/STJ. 9. Manutenção do acórdão, no mais,
em relação ao valor da indenização e do pensionamento à menor, assim como aos termos inicial e final da pensão,
fixados em estrita observância aos precedentes desta Corte Superior. 10. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
(REsp 1615979/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
12/06/2018, DJe 15/06/2018)

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A ocorrência de danos de ordem moral decorre de grave sofrimento
psicológico, traumas ou desequilíbrio emocional de seus genitores, atingindo seus direitos da
personalidade, ou seja, situações que vão além do mero aborrecimento ou dissabor inerentes à
vida na atual sociedade de riscos. In casu, está configurada situação fática ensejadora de
reparação a título de danos morais, conforme explanado acima, o crime de homicídio perpetrado
pelo acusado em face da vítima, sendo seus genitores lesados diretamente em razão da conduta.

Os valores de indenização por danos morais devem ser em um patamar que


possa amenizar o sofrimento causado, embora não existam parâmetros para a sua valoração,
cada caso deve ser visto da ótica do lesado com a capacidade do ofensor. Atinente às condições
socioeconômicas das partes, destaco que o valor não pode ser irrisório, pois, caso contrário,
estar-lhe-ia fomentando a reiteração de prática análoga, uma vez que o benefício auferido com
a conduta superaria os seus custos/riscos. O valor compensatório a ser arbitrado não pode, no
entanto, servir de abrigo para o enriquecimento sem causa, em detrimento injustificado da parte
ré, de maneira que a fixação do valor deve fiel obediência aos postulados da proporcionalidade
e da razoabilidade.

A par do exposto, considerando a extrema gravidade dos fatos, as


consequências graves do delito, como registrado na primeira fase da dosimetria penal, entendo
razoável para indenização mínima o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) a ser pago aos
ascendentes da vítima a título de danos morais.

Ante o exposto, com fulcro no art. 387, inciso IV, do Código de Processo
Penal, condeno o réu a pagar o importe de R$ 100.000,00 (cem mil reais) à vítima a título de
compensação por danos morais, corrigido monetariamente pela média do INPC e IGP-DI, a
partir desta decisão (Súmula 362 do STJ), e juros de mora de 1% desde o evento danoso
(Súmula 54 STJ).

III – DO DIREITO DE APELAR EM LIBERDADE.

Mantenho a custódia preventiva do condenado LUIS FELIPE DOS SANTOS


MANVAILER, ratificando integralmente os fundamentos da decisão que decretou a sua
custódia cautelar (evento 1.42) e das decisões que mantiveram a sua custódia cautelar (eventos
1.569, 96.1 e 514.1), reforçando a necessidade da sua segregação cautelar diante da pena total
fixada, e, ainda, para resguardar a ordem pública, considerando a gravidade concreta do delito
praticado, evidenciada pelas circunstâncias judiciais desfavoráveis que culminaram na elevada
majoração da pena, bem como para garantia da aplicação da lei penal, haja vista que, logo após
o cometimento do crime, o acusado tentou empreender fuga em sentido a fronteira do país com
a República do Paraguai para se furtar da aplicação da lei penal.

Desse modo, presentes os requisitos da segregação preventiva, demonstrados


por elementos concretos a necessidade de garantir a ordem pública e de assegurar a aplicação

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da lei penal, não concedo ao réu o direito de apelar em liberdade e, ato contínuo, mantenho
a prisão preventiva do acusado.

IV – DISPOSIÇÕES FINAIS.

Expeça-se guia de recolhimento provisória do condenado LUIS FELIPE DOS


SANTOS MANVAILER, encaminhando ao Juízo da Execução Penal.

Despesas e custas processuais pelo réu condenado.

Fixo honorários aos defensores dativos nomeados por este Juízo no


movimento 916.1, conforme decisão anexa.

Certificado o trânsito em julgado, determino as seguintes providências pela


Secretaria: a) Registre-se a condenação do réu nos sistemas disponíveis; b) Expeça-se a guia de
recolhimento/execução definitiva, remetendo-a à Vara de Execuções Penais competente para
execução da pena estabelecida; c) Cumpra-se o Código de Normas, relativamente às
comunicações da condenação; d) Expeça-se ofício à Justiça Eleitoral, para fins do disposto no
art. 15, inciso III, da Constituição Federal; e) Encaminhem-se os autos à Contadoria Judicial,
para cálculo dos valores devidos a título de custas processuais e pena de multa, procedendo-se,
na sequência, a intimação do réu para pagamento dos referidos débitos, ou para que formule
pedido de parcelamento, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de execução. Cumpram-se, no que
couber, as demais normas da Corregedoria-Geral da Justiça.

Sentença publicada. As partes saem intimadas. Registre-se.

Sala das Sessões do Tribunal do Júri da Comarca de Guarapuava/PR, aos 10 dias do mês de
maio de 2021.

ADRIANO SCUSSIATTO EYNG


Juiz de Direito Presidente do Tribunal do Júri

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