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SÃO LUÍS-MA
2023
RESUMO
Para nós, historiadores, cabe ressaltar a devida questão: qual a importância das
cartas de remissão como valor documental? É necessário despir o documento de
elementos ficcionais, nessa trama de contra verdades, evidenciando o meio histórico.
Vale lembra que os aspectos ficcionais são os elementos formadores, modeladores e
construtivos, ou seja, a elaboração de uma narrativa. Buscar aspectos ficcionais nessa
carta não significa buscar índices de fraudes no documento. Hayden White acentuava
que o mundo não se apresenta na forma de histórias bem feitas, com começo, meio e
fim. No caráter da narrativa é necessário haver escolhas formativas de linguagem,
detalhes e ordem para apresentar um relato condizente com a verdade.
Zemon acentua que havia ocasiões em que o assassino fugia com intuito de
chegar ao rei, em Paris. Chegando lá, poderia pedi ao rei que solicitava ao notário real
que redigisse uma carta de remissão. Todos buscavam uma ordem na chancelaria real.
Até mesmo a Igreja enviava advogados quando havia casos de seus membros
envolvidos em escândalo de assassinatos. Em alguns casos, quando o rei visitava as
cidades, pessoas eram entrevistadas por quaisquer crimes cometidos.
Vale ressaltar, que ter o documento em mãos não significava o fim do processo.
Era necessário ratificar na jurisdição regional. A carta era lida em voz alta, com o
solicitante fazendo juras de verdade e implorando o benefício da graça. Os juízes faziam
perguntas que deviam se ajustar ao relato do rei. Não se deve esquecer o que foi escrito
na carta de remissão. Com tudo em ordem, a carta era ratificada com a condição de: o
solicitante custeasse orações pelas as almas de suas vítimas, pagasse uma soma as
famílias da vítimas ou fizesse doações aos pobres. Havia casos em que o requerente saia
da cidade pelo um período de dois anos.
O primeiro autor da carta de remissão era o próprio requerente, sendo sua voz a
mais marcante dessa criação coletiva. O corpo do documento é composto pelo notário;
que faz a introdução e conclusão da carta, o advogado, de senhores a pastores e padres,
estes que usavam em seus testemunhos os exames de consciência coletado durante a
quaresma, onde as pessoas se confessavam não demonstrando vergonha. A carta surge
do intercâmbio entre diversas pessoas sobre os acontecimentos, pontos da lei e o estilo
da chancelaria. Todos os autores conservam certas ligações com as tradições narrativas
literárias e orais. Os acontecimentos locais, frequentemente, se transformavam em
canções, acentuando as histórias de maneira natural. Às vezes, os vizinhos
aconselhavam o requerente a fugir.
Natalie Zemon Davis nos contempla com uma obra de proximidade do hábitos
cotidianos francês do século XVI. Esses relatos de remissão apresenta etapas de um
crime como moldes de uma história. O modo de como a sociedade trata e julga o
processo criminal tece um pano de fundo de fontes empíricas para base do
conhecimento histórico. Percebemos as diferentes formas de tratamento entre homens e
mulheres, ressaltando que a quantidade de crimes remissíveis masculina é muito maior
quando se tratava de mulheres. Em suma, as cartas de remissão situa-nos um mundo da
sociedade francesa, diante de um crime, privilegiando o relato da pessoa que pede
perdão, mas que apresenta ao leitor do século XXI um universo de formas de
sociabilidade, crime e justiça.
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, G. Infância e história: destruição da experiência e origem da história.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
Celso Barbosa, I. R. (2023). Representações do papel da mulher nos estudos de Natalie
Zemon Davis sobre a Europa Moderna. Revista Cantareira, (37). Recuperado de
https://periodicos.uff.br/cantareira/article/view/46590
DAVIS. Natalie Zemon. Histórias de Perdão e seus narradores na França do século
XVI. 2001. Companhia das Letras. Páginas 13-61
HARTOG. François. Evidência da história - O que os historiadores veem. Capitulo 5: A
Testemunha e O Historiador. Pagina 203- 228. Título original: Évidence de l’histoire –
ce que voient les historiens. Editora origem: Éditions de l’EHESS. ISBN:
9788575265840. Código: 28153. 2011