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narratário da obra, procurando despertar o seu interesse para a história que vai
narrar.
O assentamento transcrito serve, além do já referido, para despertar a
curiosidade e, principalmente, a piedade do leitor e apelar à sua simpatia para
com Simão, acreditando que não ficaria indiferente à tragédia de Simão e de
Teresa: “Não seria fiar demasiadamente na sensibilidade do leitor, se cuido que o
degredo de um moço de dezoito anos lhe há de fazer dó”.
Deste modo, entre toda a informação apresentada na Introdução, o narrador-
autor enfatiza os seguintes dados relativos para sensibilizar o leitor perante o
destino de Simão: a sua juventude, a inocência do primeiro amor, a pena a que foi
condenado (o degredo), a separação definitiva da família, a falta de liberdade. E
fá-lo socorrendo-se de um discurso pautado pela subjetividade e pela emoção
(atente-se na pontuação emotiva), o que pode indiciar o seu envolvimento na
história, ao mesmo tempo que procura envolver também o leitor.
Por isso, dirige-se primeiro ao leitor, no sentido geral (“Não seria fiar
demasiadamente na sensibilidade do leitor…”), ao leitor do sexo masculino (“O
leitor decerto se compungia…”) e, por último, à leitora (“e a leitora…”).
Apesar dessa referência ao leitor, o narratário que visa é a leitora. O narrador tem
a noção de que o homem reagiria à história que irá contar de forma diferente da
mulher, por isso prevê reações diferentes: “O leitor decerto se compungia”; “e a
leitora […] choraria!”.
A leitora é caracterizada como uma figura bondosa e piedosa (“a criatura mais
bem formada das branduras da piedade”) e solidária com os desafortunados
(“amiga de todos os infelizes”) e que choraria, se comoveria, pois a história de
amor entre Teresa e Simão contém todos os ingredientes necessários à comoção
de quem a ler. Dado que, na sua ótica, as leitoras eram mais sensíveis, dirige-se
sobretudo a elas, dando a entender que a história as comoverá muito.
Esta estratégia, por um lado, prepara os leitores para a narrativa que irão ler e, por
outro, é uma forma de o narrador procurar captar a sua empatia com o
protagonista. Afinal, trata-se de uma história triste: a história de um jovem – Simão
Botelho – que perdeu tudo por amor: “honra, reabilitação, pátria, liberdade, irmãs,
mãe, vida”.
• o herói romântico: Simão é o protagonista que perdeu tudo por amor, um herói
romântico;
• Predomínio de frases curtas: “D. Rita quer que seu filho seja cadete de cavalaria”.
• Profusão de verbos associados à ideia de movimento e de dinamismo, como,
por exemplo, “ir”, “quebrar”, “espancar”, “partir”, “fugir”, etc.
• Uso do presente histórico: “Manuel […] tem vinte e dois anos, e frequenta o
segundo ano”.
• Descrições breves: no que se refere à caracterização física de Simão, o narrador
apresenta apenas alguns traços gerais; no episódio dos cântaros, o mesmo
narrador não descreve o local, os objetos ou os intervenientes.
• Predomínio da caracterização indireta das personagens: o retrato psicológico
das personagens é conseguido através, sobretudo, do seu comportamento.
• Uso predominante do discurso indireto: “[…] ele responde que seu irmão o quer
forçar a viver monasticamente…”.
• Uso frequente da coordenativa copulativa: “O pai maravilha-se do talento do
filho, e desculpa-o da extravagância por amor do talento.”
Após o diálogo com o pai, Teresa escreve a Simão para lhe dar conta do
sucedido, por isso, no final do capítulo, assistimos à reação do filho de Domingos
Botelho ao relato da sua amada.
Simão tinha sofrido uma mudança enorme por amor a Teresa, refreando a
sua rebeldia, porém, agora, assume novamente o seu “génio sanguinário”. Assim,
começa por reagir de forma impulsiva, com fúria/cólera e perturbação à leitura da
carta, inclusivamente em termos físicos: “[t]remia sezões, e as artérias frontais
arfavam-lhe entumecidas”. Bastante perturbado, movido pelo orgulho, pela
“índole arrogante do ódio”, que se sobrepõem ao amor, pensa em ir a Castro Daire
assassinar Baltasar para defender a sua honra. Obstinado e ferido pela afronta ao
seu amor por Teresa e receando que o primo da sua amada o tivesse difamado e
que ela o visse de forma diferente, num primeiro momento, deixa-se, pois,
dominar pela irracionalidade e pela intensidade dos sentimentos. É a faceta do
herói romântico de Simão que vem à tona. Note-se, por outro lado, que esta ideia
de assassinar Baltasar é um prenúncio do que sucederá mais tarde.
Num segundo momento, depois da tripla leitura da carta, e enquanto
espera por transporte, as lembranças de Teresa e da felicidade amorosa com ela,
bem como da sua resolução de levar uma vida honrada, levam-no a tomar
consciência das consequências trágicas desse seu ato de vingança. Se o
concretizasse, tornar-se-ia um assassino, o que o afastaria da amada e acarretaria
o ódio do pai: “Fugirei como um assassino, e meu pai será o meu primeiro inimigo,
e ela mesma há de horrorizar-se da minha vingança…”. Simão vive, neste passo,
um conflito entre a defesa da sua honra e o amor por Teresa, como o exemplifica
o seguinte excerto textual: “ – Quem pode ser feliz com a desonra de uma ameaça
impune?!... Mas eu perco-a! Nunca mais hei de vê-la…”.
Deste modo, após três vezes a missiva, reflete melhor, conclui que o seu
orgulho e a sua honra não foram manchados, o bom senso e a serenidade
sobrepõem-se à sua impulsividade e decide ir a Viseu encontrar-se com Teresa no
dia seguinte. Para concretizar o seu propósito, conta com a ajuda do arrieiro, que
lhe indica a casa de um primo ferrador para se acolher durante a estadia em Viseu.
No final do capítulo, sobressai a sua faceta de jovem apaixonado, puro,
tímido, ansioso. Depois de ter marcado um encontro com Teresa (através de cartas
trocadas através de uma mendiga) em casa da fidalga na noite do aniversário
desta, o filho de Domingos Botelho deseja apenas um breve encontro com a
amada, apesar do nervosismo e dos receios que sentia: “Apertar-lhe a mão, sentir-
lhe o hálito, abraçá-la talvez, cometer a ousadia de um beijo…”.
No que diz respeito à linguagem, neste passo do capítulo, encontramos
diversas frases exclamativas, interrogativas, bem como outras suspensas por
reticências. Estes recursos traduzem o estado de perturbação, de inquietação, de
confusão mental e emocional de Simão, que, após a leitura repetida da carta, se
sente, por momentos, perdido e imagina que perdeu Teresa, o seu amor,
recordando o passado de felicidade e antecipando o desenlace trágico.
1. Assuntos abordados:
• Tadeu quer obrigar Teresa a casar com Baltasar.
• Teresa recusa esse casamento por conveniência.
• Face à recusa da filha, Tadeu decide enclausurá-la num convento.
→ a falta de expressão feminina (Teresa e os seus sentimentos não são tidos nem
achados na questão do casamento com Baltasar e é proibida de se relacionar com
Simão);
→ o convento como forma de aprisionamento.
● O amor-paixão