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Título e Subtítulo - Amor de Perdição tem como subtítulo Memórias de Uma família. De facto,
o autor narra episódios da família Correia Botelho, ou seja, muitas das situações vividas pelo
escritor e pela sua própria família. Os seus fundamentos são históricos, embora não se possa
determinar com exatidão até onde vai a verdade histórica e onde começa a fantasia. Simão
Botelho existiu na realidade. Por detrás dele, tio de Camilo, o próprio escritor apaixonado e
desequilibrado.
Linguagem, Estilo e Estrutura da Obra - O livro de Camilo é rico em cartas entre Simão e Teresa.
O discurso epistolar contém uma linguagem emotiva, apelativa, exclamativa e expressiva. As
cartas têm frequentemente frases curtas e vocativos, como “Não receies nada por mim,
Simão.” O livro também é rico em diálogos e adjetivos. Os adjetivos estão presentes em todas
as fases do romance. A frase “Amou, perdeu-se e morreu amando” pode ser utilizada para
sintetizar a obra Amor de Perdição da seguinte maneira: “Amou” representa a introdução da
obra, onde faz referência a dados biográficos do Camilo e a apresentação global do infortúnio
de Simão Botelho. “perdeu-se”, correspondendo ao desenvolvimento da obra que vai do
capítulo I até ao capítulo XX. Ocorrem vários factos como a paixão entre Teresa e Simão. Por
fim, “morreu amando”, reenvia para o desfecho da obra com a morte trágica de Simão e o
suicido de Mariana.
Simão Botelho - O narrador da obra na introdução faz uma caracterização de Simão. Este passa
a dizer: “Simão António Botelho, que assim disse chamar-se, ser solteiro e estudante na
universidade de Coimbra, natural da cidade de Lisboa (…) filho de Domingos José Correia Botelho
e de D. Rita Preciosa Caldeirão Castelo Branco; estatura ordinária, cara redonda, olhos
castanhos, cabelo e barba preta, vestido com jaqueta de baetão azul, colete de fustão pintado
e cala de pano pedrês.” Após a visão de Teresa, Simão transforma-se: distancia-se da ralé de
Viseu; torna-se caseiro; cumpre os seus deveres de estudante; passeia pelo campo, procurando
o espaço natural, em detrimento do espaço social. Mas quando Teresa é obrigada a sair da
janela, local onde via Simão e, posteriormente, quando lhe comunica o desejo do seu pai de que
ela se case com o seu primo Baltasar, Simão revela-se de novo rebelde. A par desta faceta, irá,
porém surgir uma outra: a sua nobreza de alma, que se manifesta no momento em que deseja
poupar um dos criados de Baltasar, que tentara matar Simão, pelo facto de o homem se
encontrar ferido. O seu sentimento exacerbado de honra é também notável – ele manifesta-se
pelo facto de Simão enfrentar sempre aqueles que se lhes opõem, pelo facto de se ter negado
a fugir, depois de ter morto Baltasar, em legítima defesa, e ainda por recusar qualquer ajuda da
família, aceitando a sua condenação à forca e, depois, ao degredo. O seu código de honra
conduzi-lo-á, em última análise, à sua tragédia. O sentimento de dignidade é, por outro lado,
inseparável da possibilidade de realização do seu amor – é assim que Simão não acede ao pedido
de Teresa, para que cumpra os dez anos de pena, em Portugal, na cadeia.
Mariana - Mariana é a figura mais humana e mais complexa da obra. Mariana é vista como um
símbolo de gratidão desinteressada: é a enfermeira sempre vigilante do filho do desembargador
Domingos Botelho que salvara seu pai da forca. É um símbolo de generosidade discreta e
delicada, pois dá ao hóspede bens pessoais, cuidava do preso com abundância e limpeza, e a
todos dizia que ali estava por ordem e à custa da senhora D. Rita. Mariana como um símbolo de
amor humilde, puro: contenta-se com amar sem ser amada, fazendo do amor um serviço
gratuito, uma dádiva prestada sem quaisquer esperanças de reciprocidade.
Baltasar Coutinho - Baltasar vive na dupla função para que o autor o criou: ser, por um lado,
uma simples peça dinâmica da intriga; por outro, surgir, pelos defeitos que encarna (covardia,
perversão pelo interesse do sentimento amoroso, cinismo, vaidade, desdém), como elemento
contrastante de Simão, cujas qualidades e simpatia avultam neste jogo de oposições
intencionais.
João da Cruz - O ferrador ergue-se, ainda sobre o esqueleto do bom bandido, tão caro a ficção
ultrarromântica, que Camilo nele de certo modo e insinua e absolve na apóstrofe com que
comenta a morte do generoso protetor de seu tio paterno. Mas a carne que veste esqueleto é
viva – e tão naturalmente viva, que até a função dinâmica para que o narrador criou a figura se
perde e apaga.