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Realizado por: João Pedro Machado Oliveira

Metodologia de Estudos Literários – Português II - Turma 2


Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Na obra Amor de Perdição, desenvolvida por Camilo Castelo Branco,


Tadeu de Albuquerque é o pai rigoroso da protagonista Teresa e o seu
comportamento ao longo da obra é um dos vários obstáculos que o amor entre
Teresa e Simão encara.
O amor entre os dois jovens encontra-se obstruído pela rivalidade e ódio
mútuo entre as suas famílias durante anos. O magistrado e pai de Simão,
Domingos Botelho, sempre teve um rancor para com Tadeu de Albuquerque
por causa de uma desavença litigiosa anos atrás, já para não falar que dois
criados cuja lealdade pertencia a Tadeu se envolveram numa pancadaria da
fonte, sustentando feridas no processo. Quando era a véspera da ida de Simão
para a universidade de Coimbra, Teresa deixou claro para com o seu amado
que tinha intenções de esperar que o seu pai morresse de velhice, não só para
se tornar livre do seu controlo, mas para também ter acesso ao património. O
controlo que Tadeu possuía sobre a filha era grande e o desejo dele de unir a
sua família com a família do seu sobrinho através do casamento entre Teresa e
Baltasar levou-o a ameaçar deixar a própria filha num convento caso ela
recusasse, provando que Tadeu mostrava fome por poder, cujos níveis
ultrapassaram o amor e respeito pela sua filha e as escolhas dela. Sempre que
Teresa se recusava a aceitar tal sacramento, Tadeu mostrou vontade de
agredi-la para colocar a filha “na ordem,” apenas para ser impedido por
Baltasar, que sabiamente insistiu que violência apenas deixaria a situação em
pior estado. Em junho de 1803, era hora de Teresa dar a mão ao primo mas a
jovem não se mostrou nem um pouco agradada com o compromisso que tinha
que cumprir.
Tadeu mostrou ser um indivíduo iludido, apegado à crença de que amor
e felicidade apenas podiam ser encontradas através da violência e imposição e
acreditava cegamente que o casamento entre Teresa e Baltasar traria
contentamento para ele durante os poucos dias que lhe restam. Tadeu
mantinha-se firme de que o casamento entre a filha e o sobrinho não era
nenhum sacrifício como Teresa afirmou, mas um passo essencial para a alma
de Teresa atingir a “transfiguração”. Quando Teresa finalmente se cansou da
atitude teimosa, controladora e delirante do pai, ela firmemente recusou em
cumprir aquilo que o pai esperava dela, levando Tadeu a renegar a filha e jurar
que ela morreria num convento sem qualquer acesso a nenhuma parte do
património da sua família, provando de uma vez por todas que Tadeu se
encontrava mais preocupado com a fortuna do que com o bem-estar da sua
própria filha e a sua felicidade. Quando a sós com Baltasar, apesar de informá-
lo que já não tinha filha, Baltasar não perdeu a esperança de conquistar a
prima e prometeu livrar o coração de Teresa do amor que esta sentia por
Simão. De modo a atingir tal objetivo, ele mostrou-se disposto a atrair o futuro
médico para casa para o matar e removê-lo do caminho, não tendo qualquer
consciência que tal ação apenas provocaria uma fenda irreparável na sua
relação com Teresa. Após perceber que a sua filha nunca aceitaria seguir as
suas ordens, Tadeu acabou por enviá-la para o convento de Monchique no
Porto, onde encorajou a filha a respirar o ar que ele alegava que pertencia aos
anjos, mas tudo o que Teresa sentia era ódio e repugnância com as
circunstâncias. Enquanto Teresa sentia emoções negativas relativamente à sua
situação atual, Tadeu mostrou-se empenhado em conquistar a prioresa e
outras religiosas através de cortesia.
Através do desempenho desta personagem, podemos concluir que
Tadeu corresponde a uma personagem plana, ou seja, uma figura cuja
personalidade não sofreu quaisquer mudanças desde o início até ao fim do
romance. Tal característica tornava Tadeu diferente do herói do romance,
Simão Botelho, que apesar de partilhar com Tadeu um carácter violento no
início, ele acabou por se tornar dedicado em conseguir “salvar” Teresa das
garras de Baltasar e conseguir ter a vida com que sempre sonhou ao lado dela,
independentemente das leis e costumes da sociedade em que vivia e
contestou a falta de honra, valores éticos e cristãos e como os costumes da
sociedade afetavam os laços familiares. Tais mudanças no carácter
conseguem adquirir a surpresa dos leitores, o que leva o escritor a ter sua
atenção total focada na personagem, que através das suas paixões, feições
peculiares e defeitos, consegue levar a um realce do ser humano. Comparando
Tadeu com Domingos Botelho, deve-se reparar que embora Tadeu não
mostrasse qualquer respeito perante as escolhas da filha, ele ainda
demonstrou um certo grau de amor retorcido por ela mesmo que ela
desobedecesse às suas ordens, ao contrário de Domingos, que demonstrou
desgosto perante a revelação de que Simão tinha assassinado Baltasar e
recusou sacrificar a sua carreira como magistrado para proteger o filho dos
inimigos que ele adquiriu, conseguindo fazer com que a sua mulher, D. Rita,
concordasse com a ação dele, mesmo que os instintos maternos dele lhe
dissessem que ela deveria ajudar na fuga do filho.
Após a análise da obra, é essencial notar que a situação paradigmática
em relação à contrariedade dos amores transmite um exemplo dos últimos
anos da sociedade absolutista do século XIX, quando era destacada a
presença dos patriarcas nas decisões dos filhos e eles tomavam a decisão de
decidir os parceiros deles. Durante tal época, as mulheres eram os principais
alvos da crueldade dos homens, tendo desenvolvido uma atitude receosa e
submissa e não podendo participar em numerosas atividades, principalmente a
nível político, com as autoridades supremas acreditando que a mulher não
tinha intelecto suficiente para participar e não tinha permissão para sair de casa
até ser aprovada pelo marido ou dono da sua residência. A análise acima
torna-se num completo oposto da sociedade atualmente no séc. XXI, agora que
todo o povo possui direitos e privilégios equivalentes graças à Instituição da
República, que substituiu a Monarquia nos inícios do séc. XX. Sem as classes
da nobreza e burguesia, o imenso controlo que os patriarcas tinham sobre o
futuro dos filhos desapareceu, tal como a opção de forçar os filhos a entrar na
vida religiosa contra a vontade deles, permitindo a criação de uma sociedade
com os valores de liberdade, igualdade, e justiça social que Simão desejava
que tivessem existido na sua altura.
Concluindo, a personalidade de Tadeu de Albuquerque e as ações que
ele tomou foram dois fatores críticos que contribuíram para o desenrolar e
emoção da obra e as peripécias vivenciadas pelo forte amor entre Simão e
Teresa, que não podia ser abalado nem pela distância física um do outro, nem
pela intensa rivalidade entre as suas famílias nem pelas condições religiosas
que Tadeu impôs sobre Teresa. Esse amor, paralelo ao de Romeu e Julieta,
acabou por ir até ao fim das vidas dos dois jovens, que não se importavam com
nada a não ser terem-se nos braços um do outro.

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