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PRINCÍPIOS INFORMADORES DO PROCESSO PENAL

1.Princípio da Verdade real


A análise desse princípio inicia-se pelo conceito de verdade, sempre de caráter relativo, até findar
com a conclusão de que há impossibilidade real de se extrair, nos autos, o fiel retrato da realidade
do crime.
A verdade é a “conformidade da noção ideológica com a realidade” e que a certeza é a crença
nessa conformidade, gerando um estado subjetivo do espírito ligado a um fato, sendo possível
que essa crença não corresponda à verdade objetiva.
Portanto, pode-se afirmar que “certeza e verdade nem sempre coincidem; por vezes, duvida-se do
que objetivamente é verdadeiro; e a mesma verdade que parece certa a um, a outros parece por
vezes duvidosa quiçá até mesmo falsa a outros ainda”
Trata-se, com efeito, de atividade concernente ao poder instrutório do magistrado, imprescindível
à formação de sua convicção, de que, inequivocamente, se faz instrumento; e à qual se agrega,
em múltiplas e variadas circunstâncias, aquela resultante do poder acautelatório, por ele
desempenhado para garantir o desfecho do processo criminal.
O princípio da verdade real significa, pois, que o magistrado deve buscar provas, tanto quanto as
partes, não se contentando com o que lhe é apresentado, simplesmente
Princípio da Legalidade
Estabelece-se o seguinte:
a) “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei” (art. 5.º, LXI, CF);
b) “a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada” (art.
5.º, LXII, CF);
c) “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-
lhe assegurada a assistência da família e de advogado” (art. 5.º, LXIII, CF);
d) “o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial” (art. 5.º, LXIV, CF);
e) “a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária” (art. 5.º, LXV, CF);
f) “ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
com ou sem fiança” (art. 5.º, LXVI, CF);
g) “o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses
previstas em lei” (art. 5.º, LVIII, CF);
3. Princípio da Oficialidade

Significa ser a persecução penal uma função primordial e obrigatória do Estado.


As tarefas de investigar, processar e punir o agente do crime cabem aos órgãos
constituídos do Estado, através da polícia judiciária, do Ministério Público e do
Poder Judiciário. Igualmente, relaciona-se à legalidade, no âmbito penal.
A atividade é iniciada por denúncia ou queixa, “não só não deixa a ação penal de
ser um instituto de direito público, como conserva, em toda a sua extensão, caráter
perfeitamente público, sob a direção e sujeita à decisão do juiz, órgão da justiça
pública.
4. Princípio da Oficiosidade

Apesar de a iniciativa da ação ser do Ministério Público ou do ofendido, não é


necessário que, ao término de cada fase processual, requeiram que se passe à
próxima.
Pelo princípio do impulso oficial deve o juiz, de ofício, determinar que se passe à
fase seguinte.

OBS: Ação penal pública condicionada e ação penal privada


5.Princípio da Autoritariedade

Os órgãos investigantes e processantes devem ser autoridades públicas, tais como


um delegado de policia, um Promotor ou procurador de justiça, etc

OBS: Tal princípio não possui integral aplicação aos crimes de ação penal privada,
haja vista ser a queixa-crime ofertada por um particular
6.Princípio da Indisponibilidade

Nos termos do art. 42 do Código de Processo Penal, o Ministério Público não pode
desistir da ação por ele proposta e tampouco pode desistir de recurso que tenha
interposto (art. 576 do CPP).
A criação do instituto da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n. 9.099/95)
atenuou este princípio para os crimes com pena mínima não superior a 1 ano, em que o
Ministério Público pode propor, ao acusado que demonstre méritos, a suspensão do
processo pelo prazo de 2 a 4 anos, mediante o cumprimento de certas condições, sendo
que, ao término desse período, sem que o réu tenha dado causa à revogação, será
declarada extinta da punibilidade.
Não chega a ser uma exceção efetiva ao princípio porque o Ministério Público não
desiste da ação, já que, em caso de revogação do benefício, a ação prosseguirá até a
sentença.
Ademais, com o cumprimento das obrigações, o que ocorre é a extinção da punibilidade
declarada judicialmente, e não uma desistência da ação penal por parte de seu autor
7.Princípio da Publicidade

Tal principio garante que a instrução seja acompanhada não apenas pelos sujeitos
processuais, mas pelo público, vedando, assim, qualquer atividade secreta (art. 93, IX, da CF).
Quando o interesse público ou a tutela da intimidade exigir a restrição à presença popular, no
entanto, a lei pode estabelecer a publicidade restrita dos atos instrutórios (art. 5º, LX, da
CF)78. O Código de Processo Penal prevê as seguintes exceções à regra da publicidade ampla:
a) possibilidade de o juiz determinar, para tutela da intimidade, vida privada, honra ou
imagem do ofendido, dentre outras providências, o segredo de justiça em relação a dados,
depoimentos e outras informações constantes dos autos a respeito da vítima, para evitar sua
exposição aos meios de comunicação (art. 201, § 6º);
b) possibilidade de o juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério
Público, determinar que o ato processual seja realizado a portas fechadas e com número
limitado de pessoas, sempre que da publicidade puder resultar escândalo, inconveniente
grave ou perigo de perturbação da ordem (art. 792, § 1º).
O Código Penal, por outro lado, estabelece que as ações em que se apuram crimes contra a
dignidade sexual tramitarão em segredo de justiça (art. 234-B).
8. Princípio do Contraditório

Estabelece a necessidade de garantir a ambas as partes o direito de presenciar a produção das provas ou de conhecer o seu
teor, de manifestar-se sobre elas e, ainda, de influir no convencimento do juiz por meio da produção de contraprova. Tem
como corolário o princípio da igualdade de armas, que garante aos litigantes a paridade de instrumentos processuais para a
defesa de seus interesses.- Art. 5º, LV, CF/88

OBS: Denomina-se prova emprestada (ou trasladada) aquela colhida em um processo e reproduzida documentalmente
(usualmente por meio de fotocópia) na ação pendente de julgamento. Na definição de João Mendes de Almeida Júnior,
provas emprestadas “são as tiradas de uma causa anterior, ou consistentes em documentos e depoimentos produzidos em
outro feito judicial”. Conquanto haja corrente que repute válida a prova emprestada somente quando sua juntada destinar-
se a produzir efeitos apenas em relação a quem foi parte no processo originário, há que se distinguir, para efeito de sua
aceitação, se havia ou não necessidade de observância do contraditório no momento da formação da prova. A propósito: “I.
Prova emprestada e garantia do contraditório. A garantia constitucional do contraditório — ao lado, quando for o caso, do
princípio do juiz natural — é o obstáculo mais frequentemente oponível à admissão e à valoração da prova emprestada de
outro processo, no qual, pelo menos, não tenha sido parte aquele contra quem se pretenda fazê-la valer; por isso mesmo,
no entanto, a circunstância de provir a prova de procedimento a que estranho a parte contra a qual se pretende utilizá-la só
tem relevo, se se cuida de prova que — não fora o seu traslado para o processo — nele se devesse produzir no curso da
instrução contraditória, com a presença e a intervenção das partes. Não é a hipótese de autos de apreensão de partidas de
entorpecentes e de laudos periciais que como tal os identificaram, tomados de empréstimo de diversos inquéritos policiais
para documentar a existência e o volume da cocaína antes apreendida e depositada na Delegacia, pressuposto de fato de
sua subtração imputada aos pacientes: são provas que — além de não submetidas por lei à produção contraditória (CPP.,
art. 6º, II, III e VII e art. 159) — nas circunstâncias do caso, jamais poderiam ter sido produzidas com a participação dos
acusados, pois atinentes a fatos anteriores ao delito” (STF — HC 78.749/MS — 1ª Turma — Rel. Min. Sepúlveda Pertence —
DJ 25.06.1999 — p. 4)
9. Princípio da Iniciativa das partes

Segundo esse princípio, o juiz não pode dar início à ação penal. Antes da
promulgação da Constituição de 1988, existiam os chamados processos
judicialiformes em que o magistrado, mediante portaria, dava início à ação penal
para apurar contravenções penais (art. 26 do CPP) e crimes de homicídio ou lesão
corporal culposos (art. 1º da Lei n. 4.611/65).
É evidente que esses dispositivos não foram recepcionados pela Constituição,
posto que o art. 129, I, da Constituição Federal conferiu ao Ministério Público a
titularidade exclusiva para a iniciativa da ação nos crimes de ação pública.
Nos crimes de ação privada exclusiva não existe previsão específica no texto
constitucional, mas é evidente que o juiz não pode dar início à ação neste tipo de
delito por absoluta falta de legitimidade e interesse de agir
10. Princípio da Identidade física do juiz

O juiz que colher a prova deve ser o mesmo a proferir a sentença (art. 399, § 2º, do
CPP).
Sua adoção deve-se à conclusão de que o juiz que ouviu as testemunhas e interrogou
o réu na audiência de instrução tem melhores condições de apreciar a prova e
proferir a sentença.
“Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a
audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério
Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. (Redação dada pela Lei nº
11.719, de 2008).
§ 1o O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o
poder público providenciar sua apresentação. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008)”.
Princípio do devido processo legal

Para todas as espécies de crimes deve existir lei regulamentando o procedimento para a sua
apuração. Esse procedimento descrito em lei, por se tratar de matéria de ordem pública, não
pode ser modificado pelas partes, que também não podem optar por procedimento diverso
daquele previsto.
A finalidade do dispositivo constitucional é estabelecer que o descumprimento das
formalidades legais pode levar à nulidade da ação penal, cabendo aos tribunais definir
quando esse error in procedendo constitui nulidade absoluta ou relativa.
As hipóteses de nulidade serão analisadas oportunamente em relação a cada um dos atos
processuais, mas podemos elencar como exemplos de nulidade absoluta, pela inobservância
do devido processo penal: vícios na citação do réu; inversão na ordem dos atos processuais
(ex.: réu ouvido antes das testemunhas); adoção, por engano, de rito diverso daquele
estabelecido em lei; não observância da fase da resposta escrita para a defesa no rito
ordinário ou sumário; condenação por fato criminoso diverso daquele narrado na denúncia
sem que tenha havido aditamento etc.
“Art. 5º, LIV, da CF — Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal”.
LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO
O art. 2º do Código de Processo Penal adotou o princípio da imediata aplicação da lei processual
penal:
“Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo, da validade dos atos realizados
sob a vigência da lei anterior”.
De acordo com esse princípio, os novos dispositivos processuais podem ser aplicados a crimes
praticados antes de sua entrada em vigor.
O que se leva em conta, portanto, é a data da realização do ato (tempus regit actum), e não a da
infração penal.
Veja-se o exemplo da Lei n. 11.719/2008, que criou a citação com hora certa no processo penal.
Se uma pessoa cometeu o crime antes da entrada em vigor da referida lei, mas por ocasião de seu
chamamento ao processo, o oficial de justiça certificou que ele estava se ocultando para não ser
citado, plenamente possível se mostra a citação com hora certa.
Importante também mencionar o exemplo da Lei n. 11.689/2008, que revogou o recurso do protesto
por novo júri em relação às pessoas condenadas a 20 anos ou mais por crime doloso contra a vida, em
que se firmou entendimento de que as pessoas que cometeram o crime antes de referida lei, mas que
foram levadas a julgamento depois de sua entrada em vigor (quando já não existia o protesto por novo
júri), não poderão requerer novo julgamento.
OBS: Leis processuais penais mistas
LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO

O processo penal, em todo o território nacional, rege-se pelo Decreto-lei n.


3.689/41, mais conhecido como Código de Processo Penal.

Tal regra encontra-se em seu art. 1º, caput, que, portanto, adotou, quanto ao
alcance de suas normas, o princípio da territorialidade, segundo o qual seus
dispositivos aplicam-se a todas as ações penais que tramitem pelo território
brasileiro.

De acordo com o item 2 da Exposição de Motivos do referido Decreto-lei, a


apresentação de seu projeto decorreu da “necessidade de coordenação sistemática
das regras do processo penal num Código único”, afastando-se peculiaridades
existentes nos códigos estaduais.
Exceções à incidência do Código de Processo previstas em seu art. 1º Nos cinco
incisos do próprio art. 1º do Código foram elencadas hipóteses em que este não terá
aplicação, ainda que o fato tenha ocorrido no território nacional.
Tais exceções referem-se:
I- Os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II- O Tribunal Penal Internacional
III-Prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado,
nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo
Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e
100);
IV- Processos da competência da Justiça Militar;
V- Processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, n. 17);
VI-processos por crimes de imprensa
VII- Exceções à incidência do Código de Processo decorrentes de leis especiais
VIII- Extraterritorialidade da lei penal e territorialidade da lei processual

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