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▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 50 ▪

CONTEÚDO: Características do inquérito policial. MATERIAL


Forma escrita. Dispensabilidade. Sigilo. Acesso aos DE APOIO
advogados. Inquisitorialidade. Discricionariedade.
Oficiosidade. Oficialidade. Indisponibilidade.
Temporariedade. Ausência de nulidade. Ilicitude das
provas.
06
CARACTERÍSTICAS DO IP15

a) Procedimento Escrito / Documentado

▪ Art. 9º, CPP. O CPP é antigo e fala em escrito (à mão) ou datilografado.


▪ Em 2008 o procedimento para a fase judicial foi alterado (Lei 11.719/08),
com nova redação ao art. 405 §1º do CPP: § 1º Sempre que possível, o
registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e
testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética,
estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a
obter maior fidelidade das informações.
▪ Nesse sentido, “documentado” é expressão mais adequada que
“escrito”.
▪ A doutrina tem entendido que o dispositivo acima pode ser aplicado
subsidiariamente ao inquérito policial, desde que não seja clandestino.
Aliás, a gravação magnética terá mais fidedignidade, evitando inclusive
acusações de coação.

b) Procedimento Dispensável

▪ Art. 27 CPP; art. 39 §5º CPP. Se o titular da ação penal contar com
elementos de informação oriundos de procedimento investigatório
diverso, o inquérito policial será dispensável.
– EX.: Sindicância ou Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra
servidor público.
– EX.: COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
– EX.: INSS faz investigações.
– EX.: Receita Federal faz investigações de crimes tributários.
– EX.: IBAMA em delitos ambientais.
▪ Art. 12, CPP. Se o inquérito policial servir de base ele deve ser anexado à
denúncia.

15 Fonte: Renato Brasileiro de Lima (Manual de Processo Penal, 2016). Henrique Hoffmann (Site
Conjur). Geilza Diniz (PDF GranConcursos, 2020).
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▪ Tese de indispensabilidade do inquérito policial (Henrique Hoffmann)16:


▪ Possui fundamental papel que exerce num sistema processual penal
que se pretenda garantista e democrático (função preservadora do
IP), sendo instrumento de tutela de direitos fundamentais da vítima,
das testemunhas e do investigado.
▪ O IP é a ponte que liga a notitia criminis ao processo penal,
retratando a transição de um juízo de possibilidade para
probabilidade (que autoriza o indiciamento, a decretação de
medidas cautelares e o recebimento da denúncia).
▪ Se o processo penal pode ser tomado como um instrumento em prol
da aplicação do direito objetivo, o inquérito policial, que ampara o
processo, denota uma instrumentalidade qualificada.
▪ O inquérito policial traduz uma salvaguarda contra apressados e
errôneos juízos, formados antes que seja possível uma precisa visão de
conjunto dos fatos, nas suas circunstâncias objetivas e subjetivas,
inibindo a instauração de processo penal temerário, resguardando a
liberdade do investigado e evitando custos estatais desnecessários.
▪ O processo penal sem a investigação preliminar é um processo
irracional, uma figura inconcebível e monstruosa que abala os
postulados garantistas.
▪ É comum que o Ministério Público, ao receber a notícia de um
crime, ainda que já disponha de elementos suficientes para dar
suporte à denúncia, prefira encaminhar os documentos à polícia
judiciária, requisitando a instauração de inquérito policial. Essa
providência nada mais é do que o reconhecimento da instrução
preliminar (investigação policial) como freio aos excessos da
perseguição estatal, para que a persecução penal tenha início
perante órgão imparcial antes que o órgão acusador tome frente. É
bastante raro encontrar ações penais não precedidas de inquérito
policial.
▪ A polícia judiciária é a instituição constitucionalmente vocacionada
a presidir investigações criminais no Brasil. Cuida-se de instituição sem
compromisso com a acusação ou a defesa, e exatamente por isso o
ordenamento jurídico outorgou a condução da instrução preliminar
ao delegado de polícia. Ao presidir o inquérito policial, a autoridade
policial deve agir com isenção e independência, garantindo os
direitos fundamentais de todos os envolvidos e tendo como norte
unicamente a busca da verdade.
▪ E justamente por esse motivo, ainda que o Ministério Público possa
propor a ação penal sem o inquérito policial, na esmagadora maioria
dos casos o parquet não abre mão desse filtro processual.
▪ A leitura apressada dos arts. 12, 27, 39 §5º, 46 §1º, todos do CPP,
conduzem a falsa ideia de que o IP é dispensável, todavia, a regra é
que a denúncia seja amparada no IP (art. 5º, CPP) e a exceção é
que a ação penal não seja precedida de inquérito policial.
▪ Não se pode apregoar a dispensabilidade desse importante filtro
16 Henrique Hoffmann Monteiro de Castro: https://www.conjur.com.br/2015-dez-01/inquerito-policial-
indispensavel-persecucao-penal. Publicado em 2015.
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constitucional de busca da verdade baseado unicamente nas


deficiências estruturais decorrentes do descaso político.

c) Procedimento Sigiloso

Dupla função do sigilo


a) Função utilitarista: assegura a b) Função garantista: preserva
eficácia das investigações. direitos dos investigados.

▪ Art. 20, caput, CPP.

▪ Inquérito Policial é um procedimento administrativo em relação ao qual


a surpresa é fundamental para a sua eficácia. Assim, em regra, tramitará
de forma sigilosa.
▪ O art. 5º, XXXIII, CF, ressalva a publicidade em casos de segurança da
sociedade e do Estado.
▪ O sigilo endógeno deve ser guiada exclusivamente pela
necessidade de preservação da eficácia das investigações. Assim,
deve-se impor menor sigilo ao advogado dos investigados.

▪ Adverte-se, ainda, como fundamento constitucional do sigilo a


necessidade de preservação da imagem e da honra das pessoas (art. 5º,
X, CF).
▪ O sigilo exógeno, deve ser guiado pela necessidade de
preservação da honra e da imagem das pessoas investigadas. Assim,
deve-se impor maior sigilo à imprensa.

▪ Há situações em que a publicidade é desejável para atos de


investigação:
– EX.: Retrato falado.

▪ OBS.: A CF, art. 93 IX e art. 5º LX, assegura publicidade para atos


processuais. Esse dispositivo vale apenas para a fase judicial.

▪ Direito de acesso ao IP (não se opõe o sigilo do IP):


a) Juiz: acesso amplo.
b) Ministério Público: acesso amplo.
c) Advogado: De acordo com o STF, o advogado tem acesso aos autos
do inquérito policial se a diligência já tiver sido documentada. Porém, se a
diligência ainda não tenha sido realizada ou estiver em andamento, o
advogado não terá o direito de acesso.
▪ (Art. 5º, LXIII, CF) O preso será informado de seus direitos, entre os
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência
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da família e de advogado.
▪ Para o advogado dar assistência ao preso é necessário acesso
as informações.
▪ Interpretação extensiva: “Preso” deve ser interpretado como
investigado / suspeito / investigado.
▪ (Súmula Vinculante 14): “É direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão
com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício
do direito de defesa”.
▪ No caso de dados sigilosos, o advogado terá acesso apenas
aos elementos que tenham interesse na defesa do seu cliente.
Não terá acesso a dados de investigação de outros acusados.
▪ O acesso do advogado é restrito aos elementos investigativos
já documentados. Não abrange eventuais diligências em
andamento.
▪ A doutrina estende a Súmula Vinculante a todas as demais
formas de investigação criminal.
▪ (Art. 7º, XIV, Lei 8.906/94 – com redação dada pela Lei 13.245/16) De
regra, o advogado tem acesso com ou sem procuração a autos de
investigação criminal de qualquer natureza, mas havendo
informações sigilosas (quebra de sigilo bancário, telefônico etc.)
somente o advogado com procuração terá acesso.

d) Acesso do advogado ao IP
▪ Lei 13.245/16, que altera o art. 7º, XIV, XXI, §10, §11 e §12, Lei 8.906/94.

Lei 8.906/04 (Redação dada pela Lei 13.245/16)

Art. 7º São direitos do advogado:


(…)
XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir
investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de
investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda
que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar
apontamentos, em meio físico ou digital;
(...)
§ 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar
procuração para o exercício dos direitos de que trata o inciso XIV.
§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá
delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados
a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos,
quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia
ou da finalidade das diligências.
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§ 12. A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o


fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em
que houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo
implicará responsabilização criminal e funcional por abuso de
autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o
intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito
subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz
competente.

▪ ACESSO AOS AUTOS: Lei 8.906/94, Art. 7º, XIV: assegura ao advogado
acesso aos autos do flagrante e de investigações de qualquer natureza,
mesmo sem procuração, ainda que conclusos, podendo copiar peças e
tomar apontamentos, em meio físico ou digital. O novo dispositivo legal
não delimita “ao interesse de seu cliente”.
▪ Qualquer natureza abrange, por exemplo, investigações presididas
pelo Ministério Público e mesmo investigações não criminais.
▪ §10: Em autos sujeitos a sigilo exigir-se-á procuração.
– EX.: art. 234-B, CP (crimes sexuais).
▪ §11: O Delegado poderá delimitar o acesso do advogado aos
elementos de prova relacionados a diligências em andamento e
ainda não documentados nos autos, quando houver risco de
comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das
diligências.

▪ NEGATIVA DE ACESSO AO ADVOGADO: Lei 8.906/94, art. 7º, §12: A


negativa de acesso do advogado aos autos, o fornecimento incompleto
dos autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de peças
já incluídas no caderno investigativo:
▪ Implicará responsabilização criminal e funcional por abuso de
autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com
o intuito de prejudicar o exercício da defesa,
▪ sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso
aos autos ao juiz competente.
▪ Acesso negado pelo Delegado → Caberá:
▪ Simples petição ao juiz competente.
▪ Representação no Ministério Público.
▪ Mandado de Segurança em nome do advogado (ferindo
prerrogativa do advogado);
▪ Reclamação constitucional diretamente ao STF, por haver
Súmula Vinculante;
▪ Habeas Corpus, estando soltou ou preso, em nome do
paciente.
▪ Cuidado: Crime de porte de drogas para uso pessoal
(art. 28 Lei de Drogas). Como não há possibilidade de
prisão, em nenhum caso, não caberá habeas corpus.
▪ Havendo risco de potencial a liberdade de
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locomoção do investigado (ainda que ele esteja solto),


será cabível a impetração de habeas corpus, desde
que seja cominada pena privativa de liberdade para o
delito. O STF tem admitido habeas corpus contra
quebra ilegal de sigilo bancário, pois poderá ser
utilizado como prova para aplicação de prisão.

▪ Negar acesso ao advogado aos autos de investigação preliminar,


ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro
procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa,
assim como impedir a obtenção de cópias, constitui crime de abuso
de autoridade (art. 32, Lei 13.869/19).
▪ OBS.: Um indeferimento desse gera motivo para prequestionamento
às instâncias superiores.

▪ Atenção! É permitido que se negue o acesso a peças que digam


respeito a dados de terceiros protegidos pelo segredo de justiça (EX.:
relatório de inteligência financeira do COAF). Essa restrição parcial
não viola a súmula vinculante 14. Isso porque é excessivo o acesso de
um dos investigados a informações, de caráter privado de diversas
pessoas, que não dizem respeito ao direito de defesa dele. (STF. 1ª
Turma. Rcl 25872 AgR-AgR/SP, J.: 17/12/2019).

▪ DISCRICIONARIEDADE DO MOMENTO DE JUNTADA DE DOCUMENTOS AO


INQUÉRITO POLICIAL:
▪ O Delegado de Polícia poderá avaliar no caso concreto o melhor
momento para juntar aos autos do inquérito policial documentos
provenientes das investigações (discricionariedade do delegado).
▪ (Lei 8.906/94, art. 7º, § 11.) No caso previsto no inciso XIV, a
autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos
elementos de prova relacionados a diligências em andamento e
ainda não documentados nos autos, quando houver risco de
comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das
diligências.
– EX.: Uma testemunha depõe dizendo que o investigado
mantém droga armazenada em determinada casa. O
Delegado pode manter esse depoimento fora dos autos do
inquérito policial até que obtenha e cumpra mandado de busca
e apreensão domiciliar.
▪ “Ao praticar o delito, o criminoso toma certas precauções para
subtrair-se à ação da Justiça, colocando a vítima e o Estado em
posição de desvantagem. Para estabelecer a igualdade, tendo em
vista esse desnível provocado pelo próprio criminoso, é preciso que o
Estado tenha alguma primazia no início da persecução penal a fim
de que possam ser colhidos os vestígios do crime e os indícios de
autoria. Nada mais correto. Afinal, fossem as diligências precedidas
de prévio aviso ao investigado e os atos investigativos acessíveis a
qualquer tempo, seriam inviáveis a localização de fontes de prova e
▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 56 ▪

a colheita dos elementos probatórios sem sobressaltos, impedindo a


regular atuação do aparato policial”17.

▪ NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PARA ACESSO AOS AUTOS DO


INQUÉRITO POLICIAL:
▪ Regra: advogado não precisa de autorização para acesso aos
autos do inquérito policial, podendo requerer diretamente a
autoridade policial.
▪ Exceção: Lei de Organizações Criminosas (art. 23 da Lei 12.805/13).
▪ Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser decretado pela
autoridade judicial competente, para garantia da celeridade e
da eficácia das diligências investigatórias, assegurando-se ao
defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos
elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito
de defesa, devidamente precedido de autorização judicial,
ressalvados os referentes às diligências em andamento.
▪ Parágrafo único. Determinado o depoimento do investigado, seu
defensor terá assegurada a prévia vista dos autos, ainda que
classificados como sigilosos, no prazo mínimo de 3 (três) dias que
antecedem ao ato, podendo ser ampliado, a critério da autoridade
responsável pela investigação.

e) Procedimento Inquisitorial

▪ Não se deve enquadrar o inquérito policial nas noções de “sistemas”,


pois os sistemas (acusatório, misto, inquisitorial) são descritivos de
“processos” e não de procedimentos.
▪ Possui natureza inquisitiva, pois decorre da reunião, em uma mesma
pessoa, das funções de iniciar, presidir e decidir o procedimento.
▪ Dizer que o procedimento é inquisitorial não é afirmar que o inquérito
policial é arbitrário como na Idade Média. Mesmo considerando que
continua sendo inquisitorial, o investigado é titular de direitos
fundamentais, entre os quais o de permanecer em silêncio, de ser assistido
por advogado e de integridade física e psíquica (STJ, HC 34.322-ES, 2014).
▪ O caráter inquisitorial está associado ao aspecto de sigilo, mas também
a ausência de contraditório e ampla defesa.
▪ O tema é objeto de grande discussão face as alterações trazidas pela
Lei 13.245/16 (13/01/16), que altera o Estatuto da Advocacia. Antes, a
lição era pacífica no sentido de que o Delegado poderia até abrir o
contraditório e ampla defesa, mas não seria obrigatório. Com a nova
redação do art. 7º, XXI, EOAB (dada pela Lei 13.245/16), passou a ser
prerrogativa do advogado assistir a seu cliente em todos os atos (sob pena

17 Henrique Hoffmann Monteiro de Castro: https://www.conjur.com.br/2016-nov-01/academia-


policia-sim-contraditorio-ampla-defesa-inquerito-policial. Publicado em 2016.
▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 57 ▪

de nulidade absoluta) bem como apresentar razões e quesitos.


▪ (Lei 8.906/94, art. 7º XXI) “assistir a seus clientes investigados durante
a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do
respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de
todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou
derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da
respectiva apuração: a) apresentar razões e quesitos; b) (VETADO).”
▪ Tecnicamente nulidade é sanção aplicada a atos processuais
defeituosos, portanto, o que se tem é uma ilegalidade /
irregularidade. E ainda que se entenda ser nulidade, o STF
entende que mesmo sendo a nulidade absoluta, o prejuízo deve
ser comprovado.
– EX.: Delegado impede o advogado de adentrar na sala de
interrogatório e o cliente permanece calado. Não há prejuízo.

▪ EXISTE DIREITO DE CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA NO IP?

▪ 1ªc) Não. Prevalece que continua sendo procedimento inquisitorial,


não sendo obrigatória a observância de contraditório e ampla
defesa.
▪ A investigação preliminar não é processo, nem judicial e nem
administrativo. Da investigação preliminar não resulta
diretamente a imposição de nenhuma sanção, sendo mero
procedimento preparatório.
▪ A investigação preliminar tem como objetivo colher elementos
informativos que não poderão ser utilizados de forma exclusiva
na formação da convicção condenatória. Há uma
compensação de falta de valor probatório com ausência de
obrigatório contraditório.
▪ A investigação está concentrada na discricionariedade da
autoridade que a preside, sob pena de esvaziamento da
eficácia.
▪ A característica inquisitorial é essencial para assegurar a
eficácia da investigação preliminar.
▪ Art. 107, CPP impede a oposição de suspeição em relação às
autoridades policiais, embora elas devam se declarar como tal.
Ou seja, não se impõe imparcialidade ao Delegado.
▪ Art. 306, §1º, CPP. Se o preso em flagrante não tiver advogado,
a remessa do APF à defensoria pública ocorrerá em até 24 horas
após a prisão.
▪ Súmula Vinculante 05. A falta de advogado em processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição Federal,
embora existe ampla defesa. Embora a súmula não fale em
inquérito policial, pode se extrair o sentido dela. Note que se
num processo administrativo do qual se pode resultar sanções
gravíssimas (como demissão de cargo público) não se exige
advogado, menos num inquérito policial, do qual não resulta
▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 58 ▪

direta aplicação de sanção.


▪ O contexto no qual foi pensado o art. 7º, XXI, da Lei 8.906/94 foi
o de dar direitos ao advogado; a alteração pela Lei 13.245/16 foi
de reafirmar prerrogativas do advogado diante de
arbitrariedades de Delegados e Promotores. Se fosse para
beneficiar o investigado seria alterado o CPP.
▪ As alterações não deram ao Delegado instrumentos para
nomear advogado e sabe-se que nem todos os distritos possuem
Defensoria Pública.
▪ Os tribunais superiores nunca impuseram obrigatoriedade de
contraditório e ampla defesa em inquérito policial, aliás,
decidem mencionando a ausência (STJ, HC 34.322-ES, 2014).

▪ 2ªc) Sim. Minoria defende ser a investigação preliminar um


procedimento sujeito ao contraditório diferido e à ampla defesa
(Henrique Hoffmann)18. Era posição já sustentada por minoria
doutrinária mesmo antes da Lei 13.245/16.
▪ Art. 5º, LV, CF assegura contraditório e ampla defesa aos
“acusados em geral”. O dispositivo não pode ser interpretado
restritivamente, devendo a expressão “processo …
administrativo” abranger procedimentos administrativos.
“Acusados em geral” não pode ser restringido apenas àquele
com denúncia admitida por juiz.
▪ O inquérito policial pode ser interpretado como processo
administrativo “sui generis”. Apesar da ausência de partes, há
imputado em sentido amplo e os atos de investigação afetam o
exercício de direitos fundamentais, havendo certa
coercibilidade que gera certo risco à liberdade e ao patrimônio
(ex.: prisão temporária e apreensão de bens).
▪ As duas indicações acima representam a máxima efetividade
dos direitos fundamentais.
▪ Contraditório consiste no acesso do interessado à informação
(conhecimento) do que foi praticado no procedimento,
podendo então exercer a reação (resistência). A Súmula
Vinculante 14 e o art. 7º, XIV, Lei 8.906/94, permitem o acesso do
defensor ao resultado de diligências concluídas e
documentadas.
▪ O contraditório no inquérito policial é diferido, pois o direito a
informação não abrange as diligências em andamento (art. 7º,
§11º, Lei 8.906/94). O contraditório é mitigado, mas existe.
▪ Já a ampla defesa abrange a possibilidade de manifestação,
pessoalmente (autodefesa) ou por meio de defensor (defesa
técnica). O art. 7º, XXI, Lei 8.906/94 permite assegura ao
advogado acompanhar o interrogatório, bem como apresentar
razões e quesitos. O art. 14, CPP, permite requerimento de

18 Henrique Hoffmann Monteiro de Castro: https://www.conjur.com.br/2016-nov-01/academia-


policia-sim-contraditorio-ampla-defesa-inquerito-policial. Publicado em 2016.
▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 59 ▪

diligências. A ampla defesa é mitigada, mas existe.


▪ O debate reside mais numa questão terminológica do que
propriamente substancial ou de conteúdo. Cuida-se de objeção
mais de amplitude da atuação defensiva do que de sua
existência.
▪ Art. 5º, LXIII, CF assegura ao preso a assistência de advogado e
o direito de permanecer calado. A expressão “preso” deve ser
lida de modo extensivo a qualquer pessoa imputada pela
prática de infração penal. Ao assegurar o direito de permanecer
calado, implicitamente está assegurado o direito de ser ouvido
(direito de audiência), que é um desdobramento da
autodefesa.
▪ O inquérito possui função preservadora, evitando acusações
infundadas. Por isso deve ser dado ao imputado o direito de se
manifestar.

▪ COMO É EXERCIDO O DIREITO DE DEFESA TÉCNICA NO IP?

(i) Exercício exógeno: É o direito de defesa exercido fora dos autos


da investigação preliminar.
– EX.: Habeas corpus.
– EX.: Mandado de segurança.
– EX.: Requerimentos ao juiz e ao Ministério Público.

(ii) Exercício endógeno: É o direito de defesa exercido dentro dos


autos da investigação preliminar.
▪ (Art. 14, CPP) O ofendido, ou seu representante legal, e o
indiciado, poderão requerer qualquer diligência, que será
realizada, ou não, a juízo da autoridade.
▪ (Art. 7º, XXI, “a”, Lei 8.906/94 – redação dada pela Lei
13.245/16) É prerrogativa do advogado a faculdade de
apresentar razões e quesitos.
▪ A Lei 13.245/16, em seu projeto aprovado, previa a prerrogativa
do advogado requisitar diligências (art. 7º, XXI, “b”, Lei 8.906/94),
todavia, foi vetado por entender que tumultuaria o inquérito
policial. Vale ressaltar, que o art. 5º, XXXIV, CF, assegura o direito
de petição na defesa de direitos, bem como contra ilegalidades
ou abuso de poder.

▪ (OBS.) O direito de defesa na fase inquisitorial é muito


importante em crimes de competência do juri, pois os jurados
não decidem conforme a ciência processual mas sim conforme
a consciência (livre convicção desmotivada). Portanto, no
plenário do juri o art. 155 do CPP torna-se letra morta.

▪ EXISTE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL COM CONTRADITÓRIO OBRIGATÓRIO?


▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 60 ▪

▪ No Procedimento de Apuração Disciplinar da LEP (para apurar falta


disciplinar), segundo o STF, necessariamente deve ter defesa técnica
de advogado. Não se aplica a Súmula Vinculante 5.

▪ ART. 14-A, CPP (CITAÇÃO DE AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA


INVESTIGADOS EM FATO ENVOLVENDO USO DE FORÇA LETAL NO EXERCÍCIO
DAS FUNÇÕES):
Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições
dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como
investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e
demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação
de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício
profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações
dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado
deverá ser citado da instauração do procedimento investigatório,
podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito)
horas a contar do recebimento da citação. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de
nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável
pela investigação deverá intimar a instituição a que estava
vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que
essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para
a representação do investigado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 3º Havendo necessidade de indicação de defensor nos termos do
§ 2º deste artigo, a defesa caberá preferencialmente à Defensoria
Pública, e, nos locais em que ela não estiver instalada, a União ou a
Unidade da Federação correspondente à respectiva competência
territorial do procedimento instaurado deverá disponibilizar
profissional para acompanhamento e realização de todos os atos
relacionados à defesa administrativa do investigado. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º A indicação do profissional a que se refere o § 3º deste artigo
deverá ser precedida de manifestação de que não existe defensor
público lotado na área territorial onde tramita o inquérito e com
atribuição para nele atuar, hipótese em que poderá ser indicado
profissional que não integre os quadros próprios da Administração.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º Na hipótese de não atuação da Defensoria Pública, os custos
com o patrocínio dos interesses dos investigados nos procedimentos
de que trata este artigo correrão por conta do orçamento próprio
da instituição a que este esteja vinculado à época da ocorrência
dos fatos investigados. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 61 ▪

§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores


militares vinculados às instituições dispostas no art. 142 da
Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam
respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

▪ Requisitos:
▪ (i) Investigado é servidor vinculado às instituições do art. 144 da
CF ou do art. 142 da CF (neste caso, quando em missões
destinadas a Garantia da Lei e da Ordem).
▪ (ii) O objeto de investigação são fatos relacionados ao uso da
força letal praticados no exercício profissional, tentados ou
consumados, inclusive nas hipóteses de exclusão de ilicitude.

▪ Procedimento:
→ Citação (notificação) do investigado, para que constitua
defensor em 48 horas.
▪ Tecnicamente, seria melhor chamar o ato de notificação
(pois não existe relação processual a ser integrada).
→ Caso o investigado fique inerte, intimação da instituição a
que estava vinculado o investigado, para que constitua defensor
para o investigado, em novo prazo de 48 horas.
▪ Preferencialmente, a atribuição deve recair sobre a
Defensoria Pública. Havendo manifestação de que não há
Defensoria Pública, será possível a indicação de profissional
que não integre a Administração, com os custos por conta
do orçamento da instituição a que o servidor estiver
vinculado.

f) Procedimento Discricionário

▪ “O sistema de investigação preliminar policial caracteriza-se por


encarregar à polícia judiciária o poder de mando sobre os atos destinados
a investigar os fatos e a suposta autoria. É importante destacar que nesse
sistema a polícia não é um mero auxiliar, senão o titular (verdadeiro diretor
da instrução preliminar), com autonomia para dizer as formas e os meios
empregados na investigação e, inclusive, não se pode afirmar que exista
uma subordinação funcional em relação aos juízes e promotores” 19.
▪ A fase preliminar de investigações é conduzida de maneira discricionária
pela autoridade policial, que deve determinar as diligências de acordo
com as peculiaridades do caso concreto (discricionariedade) e de
acordo com seu livre convencimento técnico-jurídico.

19 Henrique Hoffmann Monteiro de Castro: https://www.conjur.com.br/2015-dez-01/inquerito-policial-


indispensavel-persecucao-penal. Publicado em 2015.
▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 62 ▪

▪ Discricionariedade é liberdade de atuação dentro de limites


estabelecidos por lei. Não se confunde com arbitrariedade.
– EX.: Não pode torturar.
▪ (Art. 14, CPP) O elemento informativo do inquérito será determinada pelo
Delegado de acordo com o juízo de conveniência e oportunidade.
▪ (Art. 6º e 7º, CPP) O CPP apresenta um mero roteiro, mas a realização ou
não e a ordem das diligências é definida pelo Delegado.
– EX.: Num IP revela-se melhor ouvir o suspeito no início. Em outro IP se
revela melhor primeiro uma busca domiciliar para depois ouvir o
suspeito.
▪ A discricionariedade não tem caráter absoluto. Discricionário é liberdade
dentro de limites:
▪ Para os Tribunais, não obstante a redação do art. 14 do CPP, há
diligências que devem ser obrigatoriamente realizadas (ato
vinculado):
– (Art. 158, CPP) Exame de corpo de delito nos crimes que
deixam vestígios.
– (Art. 5º, LXIII, CF) Oitiva do investigado é obrigatória (STJ, HC
69.405). O investigado tem o direito de ser ouvido, o que é
implícito no art. 5º, LXIII, CF.
▪ (Art. 129, VIII, CF) O Delegado é obrigado a realizar as diligências
requisitas com fundamentação pelo Ministério Público.
▪ Essa, inclusive, foi a razão do veto ao §3º do art. 2º da Lei
12.830/13, que conferiria ao delegado livre convencimento na
condução do inquérito policial.

g) Procedimento Oficioso

▪ Oficiosidade: Tratando-se de crime de ação penal pública


incondicionada, a autoridade policial é obrigada a agir de ofício,
independentemente de provocação da vítima (art. 5º, I, CPP).

▪ Necessidade de manifestação da vítima:


(i) Representação da vítima: ação penal pública condicionada a
representação (art. 5º, §4º, CPP).
▪ A representação rege-se pela informalidade. Assim, o mero
comparecimento para registrar ocorrência e fazer exame de
corpo de delito já é o suficiente, sendo desnecessária a
representação em forma especial.
(ii) Requerimento da vítima: ação penal privada (art. 5º, §5º, CPP).
▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 63 ▪

h) Procedimento Oficial

OFICIOSIDADE OFICIALIDADE AUTORIDADE

▪ Dever de ofício de ▪ O inquérito deve ser ▪ Pessoa física


instaurar inquérito presidido por órgão componente do órgão.
policial, sob pena de oficial do Estado. É presidido por
responsabilidade autoridade pública.
pessoal por
descumprimento de
dever funcional.

▪ Detetive particular (Lei 13.432/17):


Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se detetive particular o
profissional que, habitualmente, por conta própria ou na forma de
sociedade civil ou empresarial, planeje e execute coleta de dados
e informações de natureza não criminal, com conhecimento
técnico e utilizando recursos e meios tecnológicos permitidos,
visando ao esclarecimento de assuntos de interesse privado do
contratante.
(…)
Art. 5º O detetive particular pode colaborar com investigação
policial em curso, desde que expressamente autorizado pelo
contratante.
Parágrafo único. O aceite da colaboração ficará a critério do
delegado de polícia, que poderá admiti-la ou rejeitá-la a qualquer
tempo.
(…)
Art. 10. É vedado ao detetive particular:
(…)
IV - participar diretamente de diligências policiais;

i) Procedimento Indisponível
▪ (Art. 17, CPP) O Delegado não pode arquivar o inquérito policial.
▪ O Delegado tem até uma certa discricionariedade para instaurar o
inquérito, mas instaurado não poderá arquivar.
▪ Essa característica se dirige ao Delegado.

j) Procedimento Temporário
▪ (Art. 10, CPP) Inquérito Policial tem prazo para ser concluído.
▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 64 ▪

SITUAÇÃO INVESTIGADO PRESO INVESTIGADO SOLTO

CPP, art. 10 10 dias* 30 dias

Inquérito na Polícia CIVIL (Prevalece que é (PRORROGÁVEL


sucessivas vezes,
IMPRORROGÁVEL*) enquanto houver
razoabilidade)
Se já tem elementos
para manter preso STJ, HC 96.666: Um IP
tem elementos para de sete anos de
ser denunciado. prorrogação foi
trancado pelo STJ.
Divergência: Interpretação
a) PRAZO PENAL análoga à razoável
(art. 10, CP). Nucci. duração do processo.
b) PRAZO
PROCESSUAL PENAL PRAZO PROCESSUAL
(art. 798, §1º, CPP) PENAL (art. 798, §1º,
(para essa corrente, CPP).
apenas a prisão é
que tem natureza
material, o prazo do
IP é processual).
Mirabete.

*Art. 3º-B (…) § 2º Se o investigado estiver


preso, o juiz das garantias poderá, mediante
representação da autoridade policial e
ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma
única vez, a duração do inquérito por até 15
(quinze) dias, após o que, se ainda assim a
investigação não for concluída, a prisão será
imediatamente relaxada. (Redação incluída
pela Lei 13.964/19, atualmente com eficácia
suspensa por medida cautelar na ADI 6.298)

Inquérito Polícia FEDERAL 15 + 15 dias 30 dias, prorrogáveis


(Lei 5.010/66, Art. 66) (CPP, Art. 10)

Lei de Drogas 30 + 30 dias 90 + 90 dias


(Lei 11.343/06, art. 51)

Crimes contra a 10 dias 10 dias


economia popular
(Lei 1.521/51, art. 10, §1º)

Prisão Temporária Crimes 5 + 5 dias


Comuns
▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 65 ▪

(Lei 7.960/89, art. 2º, (Somada a prorrogação, fica igual ao do CPP


“caput”) para réu preso)

Prisão Temporária Crimes 30 + 30 dias


Hediondos e Equiparados (Portanto, considerando que se trata de uma
(Lei 8.072/90, art. 2º, §4º) lei para investigações, o prazo do IP será o da
prisão temporária)

▪ NATUREZA DO PRAZO DE CONCLUSÃO DO INQUÉRITO:


▪ Relevância: os prazos penais contam o dia de início (art. 10, CP); os
prazos processuais penais desconsideram o dia de início, iniciando no
dia útil subsequente (lembrando que no processo penal contam-se os
dias não úteis).
▪ Réu solto: Tem natureza processual penal.
▪ Ré preso:
1ªc) Prazo penal. Aplica-se o art. 10, CP. Conta-se o dia de início.
Nucci.
2ªc) Prazo processual penal. Não se deve confundir o prazo da
prisão (que tem natureza penal) com o prazo procedimental de
conclusão do inquérito policial. Assim, no caso de um preso
temporário, no quinto dia ele será solto; já o inquérito deve ser
contado excluindo o dia de início. Mirabete.

▪ EXCESSO DE PRAZO: Quando se trata de indiciado preso, salvo as


hipóteses de prorrogação previstas em lei (Polícia Federal, Lei de Drogas e
Temporária), não poderá haver prorrogação20.
▪ Os tribunais entendem que o prazo de conclusão do inquérito
policial, mesmo em se tratando de réu preso, não é um prazo fatal,
podendo ser compensando numa contagem global.
▪ Ainda que exista um excesso de prazo para conclusão do inquérito
policial, em tese, ele poderá ser compensado no decorrer da
persecução criminal.
▪ Para o STJ, a prisão que perdura por prazo superior ao previsto em lei
há de ser relaxado pelo Juiz (art. 5º, LXV, CF), por ofensa de forma
manifesta ao princípio da razoabilidade. No caso, o indiciado estava
preso há mais de 06 meses, sem oferecimento de Denúncia (STJ, 6ª
Turma, HC 44.604, em 2006).

▪ RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO: Um IP de sete


anos de prorrogações foi trancado pelo STJ em interpretação análoga à
razoável duração do processo (STJ, HC 96.666, em 2008).
– EX.: Tramitava, no STF, um inquérito para apurar suposto delito
20 *Art. 3º-B (…) § 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da
autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até 15
(quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será imediatamente
relaxada. (Redação incluída pela Lei 13.964/19, atualmente com eficácia suspensa por medida cautelar na ADI
6298)
▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 66 ▪

praticado por Deputado Federal. O Ministro Relator já havia


autorizado a realização de diversas diligências investigatórias, além
de ter aceitado a prorrogação do prazo de conclusão das
investigações. Apesar disso, não foram reunidos indícios mínimos de
autoria e materialidade. Com o fim do foro por prerrogativa de
função para este Deputado, a PGR requereu a remessa dos autos à
1ª instância. O STF, contudo, negou o pedido e arquivou o inquérito,
de ofício, alegando que já foram tentadas diversas diligências
investigatórias e, mesmo assim, sem êxito. Logo, a declinação de
competência para a 1ª instância a fim de que lá sejam continuadas
as investigações seria uma medida fadada ao insucesso e
representaria apenas protelar o inevitável.
▪ O STF pode, de ofício, arquivar inquérito quando verificar que,
mesmo após terem sido feitas diligências de investigação e
terem sido descumpridos os prazos para a instrução do inquérito,
não foram reunidos indícios mínimos de autoria ou
materialidade. STF. 2ª Turma. Inq 4420/DF, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 21/8/2018 (Info 912)

k) Inexistência de nulidade
▪ Eventuais vícios do Inquérito Policial não contaminam a futura ação
penal. Sendo o inquérito um procedimento administrativo e não processo
(dele não decorre sanções), não há que se falar em “nulidade no
inquérito”.
▪ Inquérito policial não tem nulidade, mas mera irregularidade (vícios). Um
ato ilegal (viciado) não contamina todo o inquérito.
– EX.: Perícia feita por um só perito não oficial. Depois pode ser feita
nova perícia.
– EX.: Falha na Portaria de instauração do inquérito policial.
– EX.: Polícia Civil investiga crime eleitoral.
– EX.: Não é necessária a intimação prévia da defesa técnica do
investigado para a tomada de depoimentos orais na fase de
inquérito policial. Não haverá nulidade dos atos processuais caso essa
intimação não ocorra. A Lei nº 13.245/2016 implicou um reforço das
prerrogativas da defesa técnica, sem, contudo, conferir ao
advogado o direito subjetivo de intimação prévia e tempestiva do
calendário de inquirições a ser definido pela autoridade policial. (STF.
2ª Turma. Pet 7612/DF, J.: 12/03/2019)
▪ Exceção 1: Provas ilícitas produzidas na investigação preliminar podem
contaminar o processo judicial, por derivação (art. 157, §1º, CPP).
▪ A aplicação da teoria da ilicitude por derivação (art. 157, §1º, CPP)
leva a ilicitude do inquérito policial para dentro do processo judicial.
– EX.: Caio, mediante tortura, confessa o crime e informa o local
onde se encontram o cadáver e a arma do crime. Em seguida, a
polícia diligencia nos locais informados no interrogatório e
localiza o cadáver e a arma do crime. As perícias serão ilícitas
▪ Direito PROCESSUAL PENAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ Página 67 ▪

por derivação.
▪ Exceção 2: Art. 7º, XXI, Lei 8.906/94 (redação dada pela Lei 13.245/16):
XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de
infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório
ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos
investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou
indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração:

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