Você está na página 1de 28

V2

INQUÉRITO POLICIAL

CONCEITO e NATUREZA JURÍDICA

Para a doutrina majoritária o Inquérito Policial é conceituado como um PROCEDIMENTO


ADMINISTRATIVO preparatório e inquisitório, instaurado e conduzido pela autoridade policial,
tendo como objetivo a apuração de infrações penais, sua autoria e circunstâncias, reunindo os
elementos de convicção que habilitem o órgão da acusação para a posterior propositura da ação
penal – pública ou privada.

Outra função do IP apontada pela doutrina é municiar o juiz com a justa causa necessária para
decretar as medidas cautelares requeridas durante a fase pré processual.

ATENÇÃO
A atribuição da presidência do inquérito policial é EXCLUSIVA do delegado de polícia, conforme
o art. 2°, §1°, da Lei n° 12.830/13.

Cuidado: o Inquérito Policial não é o único procedimento investigativo existente, é uma espécie
do gênero investigação criminal. No entanto, sua presidência é sim exclusiva do Delegado de
Polícia. Quanto aos procedimentos investigativos presididos pelos membros do Ministério
Público, não possuem a nomenclatura de Inquérito Policial (por razões óbvias), mas de PIC
(procedimento investigatório criminal).*

JÁ CAIU - PROVA ORAL – DELEGADO PCSP 2018

EXISTE DIFERENÇA ENTRE PROCEDIMENTO INQUISITIVO E INQUISITÓRIO?


Para fins práticos não há muita diferença, podem ser considerados sinônimos, inclusive. O
próprio Renato Brasileiro, em seu manual, utiliza as duas nomenclaturas para se referir ao
sistema processual. No entanto, caso perguntado em prova oral, é necessário realizar a
distinção entre essas denominações.

A doutrina tradicional sempre trouxe que o Inquérito Policial possuía como uma de suas
características o de ser um PROCEDIMENTO INQUISITIVO. A palavra INQUISITÓRIA estaria mais
ligada à fase processual, porque se trata de um dos sistemas processuais, o sistema
inquisitório, ao lado do sistema misto e do acusatório (o adotado no Brasil).
Contudo, para a doutrina moderna, que traz olhos mais garantidores ao exercício da polícia
judiciária, é interessante que se aponte como característica do inquérito policial o de ser um
PROCEDIMENTO INQUISITÓRIO, porque a característica inquisitiva nos remete

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


automaticamente ao período da Santa Inquisição, em que os investigados eram condenados
sem nenhuma prova a penas muito cruéis. Não havia nenhum tipo de preservação de direitos
na época da Santa Inquisição, assim, a doutrina moderna recomenda que se prefira o termo
inquisitório, para que não se remeta a essa época.

Nesse sentido, a doutrina moderna defende que mesmo que se trate de um procedimento
inquisitório, em que não haveria, em tese, o contraditório e a ampla defesa, é possível que
haja o contraditório, ainda que de forma mitigada, afastando a ideia de que o investigado é
apenas um objeto de investigação, sendo, na verdade, um sujeito de direitos, assim como a
vítima. Tendo, por exemplo, a obrigatoriedade de ser assistido por um advogado, caso seja do
seu interesse, preservando seus direitos fundamentais constitucionalmente assegurados
acompanhando a evolução de um Estado Democrático de Direito.

Quanto à existência de contraditório durante os procedimentos investigatórios, Brasileiro


explica que “à luz do art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal, e em estrita harmonia com uma
tendência crescente de jurisdicionalização do processo administrativo, assim compreendida a
inserção das garantias do devido processo legal no âmbito processual administrativo, a
garantia do contraditório deve, sim, ser inserida na investigação criminal, ainda que de
maneira diferida e restrita, dando-se ciência ao investigado – e a seu defensor –
exclusivamente dos elementos informativos documentados, resguardando-se, logicamente, o
sigilo quanto aos atos investigatórios ainda em andamento, tanto na deliberação quanto na
sua prática, quando o direito à informação inerente ao contraditório puder colocar em risco a
própria eficácia da diligência investigatória (Lei nº 8.906/94, art. 7º, § 11, incluído pela Lei nº
13.245/16)”.*

Observe como a banca Cebraspe abordou o tema da instauração de IP em duas provas recentes:*

JÁ CAIU – DELEGADO PCAL 2023


“O fato de o inquérito policial ser instaurado por promotor de justiça não impede que o delegado
dê prosseguimento ao procedimento e seja eventualmente apontado como autoridade coatora
na hipótese de impetração de habeas corpus”. CERTO
JÁ CAIU – PROMOTOR DE JUSTIÇA MPBA 2023
De acordo com a Resolução n. 181/2017 do CNMP, é vedado ao membro do Ministério Público,
quando em poder de quaisquer peças de informação: instaurar inquérito policial. CERTO
Ambos os gabaritos são apenas preliminares no momento do fechamento deste material.
O fato é que a banca adotou posicionamentos divergentes em concursos realizados com apenas
uma semana de intervalo entre um e outro.
Há quem defenda que no caso da prova da PCAL a banca quis abordar o cenário no qual o MP
requisita a instauração de IP. No nosso entender, se essa foi a intenção, a questão ficou mal

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


elaborada para dizer o mínimo. Instaurar inquérito policial é incumbência exclusiva do delegado
de polícia. O MP pode requisitar a instauração do inquérito policial, porém não pode presidir
tampouco instaurar.
Já o gabarito dado na prova do MP da Bahia está em estrita consonância com a lei e
jurisprudências pátrias. O membro do Ministério Público não pode instaurar inquérito policial.

Perceba que se trata de um PROCEDIMENTO. É incorreto falar em processo, eis que no inquérito
policial não há contraditório e ampla defesa. Além disso, possui natureza inquisitiva, ou seja, o
delegado de polícia é incumbido de iniciar, presidir e decidir todo o procedimento.

ELEMENTOS INFORMATIVOS PROVAS

- Colhidos na fase investigatória - Em regra, produzidas na fase judicial,


sob o crivo do contraditório e ampla
- O juiz não deve intervir de ofício, mas apenas
defesa
quando provocado, sob pena de violação do
sistema acusatório do processo penal - A prova deve ser produzida na presença
de um juiz
- Servem para decretar medidas cautelares e
formar a convicção do ministério público para - Serve para motivar a decisão do juiz –
instaurar a ação penal. livre convencimento motivado
- Os elementos informativos não podem servir, de
forma exclusiva, para embasar eventual decreto
condenatório (art. 155 do CPP). No entanto, podem
servir para decretar a absolvição.

Assim, como o Inquérito é mera peça informativa, eventuais vícios dele constantes, em regra, não
têm o condão de contaminar o processo penal a que der origem – chamados pela doutrina de vícios
endoprocedimentais.

Contudo, em razão da proibição de provas ilícitas, caso haja alguma produzida durante o IP, esta
deverá ser excluída e, caso toda a investigação se desenrole a partir da prova ilícita, tudo deverá ser
excluído, por força da Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada (Fruits of the poisonous tree theory).

VÍCIOS NO INQUÉRITO POLICIAL:


Vícios são defeitos ou inconsistências constantes de investigações conduzidas às margens da Lei ou
dos princípios constitucionais.

Consequências: vícios ocorridos na fase do inquérito policial podem justificar a avocatória por
despacho motivado do chefe de polícia, designando outro delegado para conduzir a investigação.

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


OBS.: a avocatória ainda pode ocorrer por razões de interesse público.

O inquérito policial viciado contamina o futuro processo?

Como regra, não contaminam o processo, haja vista ser o IP dispensável, sendo peça meramente
informativa, ficando os vícios a ele adstritos. Os “vícios” do IP são chamados pela doutrina de vícios
endoprocedimentais.
Se o inquérito policial está integralmente viciado e, ainda assim, o promotor o utiliza para oferecer
denúncia, esta denúncia está desprovida de justa causa. Não existe lastro indiciário idôneo, devendo
juiz rejeitá-la.

E se o juiz receber? Parte da doutrina defende que o processo será nulo. Isso porque, de acordo
com o art. 12 do CPP, sempre que o IP serve de base para a inicial, ele deve acompanhar a denúncia.
De acordo com o § 3º do art. 3C do CPP, ainda suspenso, os autos que compõe matéria de
competência do juiz das garantias ficarão acautelados na secretaria deste juízo, à disposição das
partes, não acompanhando os autos remetidos ao juiz da instrução, salvo as provas irrepetíveis,
assim como as medidas de obtenção e antecipação de provas.
Ademais, caso seja colhida uma prova absolutamente ilícita, por exemplo o acesso ao WhatsApp
sem autorização judicial, haverá contaminação no processo, devendo tal prova ser desentranhada
dos autos. (perceba que o processo não se torna nulo neste caso, mas apenas a prova
reconhecidamente nula é desentranhada).

JURISPRUDÊNCIA
- Não há contaminação do processo penal em casos de inquérito policial conduzido pela polícia
federal, quando na verdade deveria ser conduzido pela polícia civil (informativo 964 – STF).
Não é necessária, mesmo após a Lei 13.245/2016, a intimação prévia da defesa técnica do
investigado para a tomada de depoimentos orais na fase de inquérito policial (informativo 933
– STF).
- A suspeição da autoridade policial não é motivo de nulidade do processo, pois o inquérito é
mera peça informativa, de que se serve o MP para o início da ação penal (informativo 824 – STF).

- É legal o compartilhamento com a CGU de informações coletadas em inquérito em que se apura


suposta prática de crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e
passiva (informativo 764 – STJ).

Não há ilicitude das provas por violação ao sigilo de dados bancários, em razão do
compartilhamento de dados de movimentações financeiras da própria instituição bancária ao
Ministério Público (informativo 731 – STJ).

JÁ CAIU - AGENTE DE POLÍCIA PCDF 2021


"Os elementos informativos do inquérito podem servir como fundamentação em decreto
condenatório no processo penal, ainda que não confirmados pelo contraditório judicial." CERTO.

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


Atenção: a banca Cespe-Cebraspe considera incompleto correto. A questão foi bastante
polêmica e se fosse outra banca a assertiva certamente seria considerada incorreta.

Da natureza instrumental do Inquérito Policial podemos extrair as suas funções, vejamos:

 FUNÇÃO PRESERVADORA: serve para garantir os direitos fundamentais, não


somente das vítimas e testemunhas, mas do próprio investigado, evitando
acusações temerárias ao possibilitar o arquivamento de imputações
infundadas, resguardando a liberdade do inocente e evitando custos
desnecessário para o Estado.
 FUNÇÃO PREPARATÓRIA: fornece elementos de informação para que o
Ministério Público – titular da ação penal – ingresse em juízo, além de acautelar
meios de provas que poderiam desaparecer com o decurso do tempo.
 FUNÇÃO DE BUSCAR FATO OCULTO: se relaciona com a própria característica
insidiosa da infração penal, geralmente praticada de forma dissimulada, oculta,
de índole secreta. Percebe-se, portanto, que uma investigação criminal
eficiente tem aptidão para reduzir as chamadas “cifras negras”, ou seja, o índice
de criminalidade que nem sequer chega ao conhecimento do Estado.
 FUNÇÃO SIMBÓLICA: se relaciona com a sensação de insegurança gerada pela
prática do crime. O fato de uma infração penal ser imediatamente investigada
por órgãos oficiais do Estado mitiga o sentimento de impunidade, passando
uma mensagem a toda a sociedade no intuito de desestimular o
comportamento criminoso. Nesse sentido, aliás, a prisão em flagrante denota
o simbolismo da investigação criminal, servindo como um dos principais
instrumentos na prevenção de infrações penais.

É importante que vocês tenham em mente a noção de que o Inquérito Policial é apenas uma espécie
do gênero INVESTIGAÇÃO CRIMINAL, sendo possível mencionar outras espécies como: Comissões
Parlamentares de Inquérito (CPI); Procedimento Investigatório Criminal (PIC) realizado pelo
Ministério Público; Verificação de Procedência das Informações (VPI), consistentes na realização de
diligências.

VERIFICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA DAS INFORMAÇÕES – V.P.I.


Está previsto no artigo 5º, §3º do CPP, podendo ser escrito ou não, a depender da existência de
regulamentação interna das policias judiciárias.
Art. 5º. (...) §3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração
penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade
policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.
Em termos práticos, o delegado de polícia, ao receber a notícia de um crime, pode entender
pela necessidade de aferição de justa causa, para evitar consequências gravosas da instauração
de um inquérito policial.

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


Poderes de investigação do Ministério Público (teoria dos poderes implícitos).

O Ministério Público pode realizar, por autoridade própria, investigações de natureza penal (STF).

Embora a CF/88 não disponha de forma expressa sobre o tema, adota-se a teoria dos poderes
implícitos. Segundo a referida teoria, se a Constituição outorga determinada atividade-fim a um
órgão, significa dizer que necessariamente devem ser concedidos todos os meios necessários para
a realização dessa atribuição.

Sendo assim, se a CF/88 confere ao Ministério Público a função de promover a ação penal pública
(art. 129, I), serão ofertados também todos os meios necessários para o exercício da denúncia,
dentre eles a possibilidade de investigar.

Isso significa dizer que a CF/88 não conferiu às polícias civis o monopólio da atribuição de investigar
infrações penais (art. 144, §4º). Em outras palavras, a colheita de provas não é atividade exclusiva
da polícia.

Desse modo, é constitucional a investigação realizada diretamente pelo MP, geralmente


formalizado através dos denominados PICs (procedimentos investigatórios criminais). Esse é o
entendimento do STF e do STJ. (Para fixar, basta lembrar do GAECO).

VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

O inquérito policial possui valor probatório relativo, isto é, serve de base para ajuizamento da ação
e para o deferimento de cautelares, mas não basta, por si só, para subsidiar uma condenação.

Entretanto, não obstante o CPP determine que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação
da prova (produzida em contraditório judicial), não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos (colhidos na investigação), o mesmo artigo ressalva o
caso das provas cautelares, não repetíveis e antecipadas (elementos migratórios).

Isso significa dizer que, excepcionalmente, elementos extraídos do Inquérito podem migrar para o
processo e servir para subsidiar eventual condenação.

Elementos de migração: são aqueles extraídos do IP, transportados ao processo e que podem servir
de base para eventual condenação.

Provas cautelares: justificadas pelo binômio necessidade X urgência (ex: interceptação telefônica).

Provas irrepetíveis: provas de fácil perecimento e dificilmente podem ser repetidas na fase
processual (ex: exame de alcoolemia). OBS.: provas irrepetíveis e cautelares possuem contraditório
diferido ou postergado.

Provas antecipadas: na fase do IP, esse incidente é instaurado pelo Juiz e já conta com a intervenção
das futuras partes, bem como possui contraditório e ampla defesa concomitante à produção da
prova. (ex: depoimento especial/depoimento sem dano).

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


ATENÇÃO
É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base
(Súmula 444 do STJ).

JÁ CAIU - DELEGADO PCGO 2022:


“Ante o princípio constitucional da não culpabilidade, inquéritos e processos criminais em curso
são neutros na definição dos antecedentes criminais.” CERTO.

Todavia, atente-se para o fato de que o indiciamento, embora não possa ser considerado como
antecedente criminal para agravar a pena, poderá constar nos registros do próprio Sistema de
Segurança Pública.

COMPETÊNCIA

Para saber qual é a autoridade policial competente para conduzir o inquérito policial, utiliza-se o
critério RATIONE LOCI ou RATIONE MATERIAE (é o local da circunscrição da ocorrência dos fatos)

PRINCÍPIO DO DELEGADO NATURAL:


A regra é que a designação do delegado com atribuição para analisar a matéria seja anterior ao
fato a ser apurado e o exercício de suas atribuições seja permanente, alheio a influências
externas, garantindo a independência, imparcialidade e eficácia das investigações.
De tal modo, evita-se a designação de um delegado posterior ao fato (investigação de exceção),
a avocação ilegal do procedimento investigatório e a remoção injustificada do delegado de
polícia. Assim, eventual restrição de direitos fundamentais do investigado se dará em nome do
interesse maior da coletividade e da persecução penal e não por fatores seletivos.

ATENÇÃO: apesar da doutrina moderna mencionar o princípio do Delegado Natural, é


importante ressaltar que ainda não encontra respaldo na jurisprudência dos Tribunais
Superiores. Vejamos:
A autoridade policial, segundo se observa da Constituição Federal (art. 144, § 4º) e do
Código de Processo Penal (art. 4º), tem atribuição e não competência, ou seja, não lhe
incumbe exercer atividade jurisdicional. Portanto, não há previsão no ordenamento jurídico
pátrio da figura do “Delegado de Polícia Natural”.
STJ. 5ª Turma. HC 145.040/RJ, Rel. Min. Campos Marques, julgado em 13/08/2013.

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL
PROCEDIMENTO ESCRITO: Nos termos do artigo 9º do CPP: “todas as peças do inquérito policial
serão, num só processo, reduzidas a escrito ou datilografadas, e neste caso, rubricadas pela
autoridade”.

ATENÇÃO
- O fato dele ser escrito não quer dizer que ele precisa ser físico, não havendo em que se falar em
mitigação em relação ao inquérito policial eletrônico.
- Embora seja escrito, sempre que possível, deve ser registrado por meio audiovisual, pois a
interpretação extensiva garante a aplicação prevista no CPP para o processo, principalmente
quando se fala em colaboração premiada, que deverá ser feita por meio audiovisual.

PROCEDIMENTO SIGILOSO: Nos termos do artigo 20 do CPP: “a autoridade assegurará no inquérito


o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”.

O sigilo externo atinge toda a sociedade e tem por finalidade evitar a divulgação de informações
essenciais capazes de macular as investigações e a própria pessoa do investigado. Já o sigilo interno
atinge os que atuam no feito, sendo que os magistrados e promotores possuem amplo acesso ao
inquérito, não lhe sendo aplicado o sigilo interno.

Acerca do acesso aos autos de Inquérito pelo advogado, não obstante o procedimento ser revestido
de sigilosidade, prevalece o entendimento de que é garantido ao advogado o pleno acesso às
informações já documentadas nos autos. Além do mais, o advogado não precisa de procuração para
ter acesso aos referidos documentos. Isso significa dizer que mesmo que o causídico não seja
defensor do investigado em questão, poderá ter acesso ao IP.

OBS.: se for declarado "segredo de justiça", o advogado só terá acesso aos autos caso tenha
procuração.

JÁ CAIU - PGE-PE 2019


"É garantido ao defensor de investigado o pleno acesso aos documentos já anexados ao
procedimento investigatório, mesmo que o inquérito policial esteja classificado como sigiloso."
CERTO.

JÁ CAIU - ABIN 2018


“É vedado à autoridade policial negar ao defensor do investigado o acesso a documentos e outros
elementos de prova constantes dos autos de inquérito policial.” CERTO. A banca considerou que
"nos autos" significa que já foram documentados.
Entretanto, há uma exceção ao sigilo do inquérito policial: O RETRATO FALADO. Nesses casos, é
imprescindível a publicidade do retrato falado com a finalidade de constatação de outras vítimas.

Súmula vinculante 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
- Mesmo que a investigação criminal tramite em segredo de justiça, será possível que o
investigado tenha acesso aos autos, inclusive em relatório de inteligência financeira realizado
pelo COAF, sendo permitido que se negue o acesso as peças que digam respeito a terceiros
protegidos pelo segredo de justiça.

- Caso seja injustificadamente negado ao defensor do investigado acesso ao IP, quais são as
medidas judiciais cabíveis? RECLAMAÇÃO AO STF; MANDADO DE SEGURANÇA e/ou HABEAS
CORPUS.

PROCEDIMENTO INDISPONÍVEL: Nos termos do artigo 17 do CPP: “a autoridade policial não poderá
mandar arquivar autos de inquérito”.

QUESTÃO DE PROVA ORAL

Delegado de polícia pode arquivar boletins de ocorrência? A doutrina moderna entende que a
instauração de Inquérito Policial deve ocorrer mediante a presença de justa causa, assim tem-se
sustentado que sim. Os registros de notitia criminis, em regra, submetem-se a um regime de
discricionariedade, sendo que a conveniência e oportunidade para a instauração do Inquérito a
partir deles é mérito aferido pelo Delegado de Polícia, podendo realizar o arquivamento do B.O.

PROCEDIMENTO DISCRICIONÁRIO: A autoridade policial tem autonomia para conduzir o inquérito


policial, pois existe uma margem de autuação conferida pela lei ao delegado, que exerce o seu juízo
de conveniência e oportunidade. Dessa maneira, ao contrário do processo judicial, em que a lei
determina os atos a serem seguidos, o delegado conduzirá a investigação de acordo com a sua
convicção.

Essa discricionariedade permite que o delegado indefira diligência requerida pelas partes, conforme
a previsão do artigo 14 do CPP. Todavia, quando a infração penal deixar vestígios, é indispensável a
realização de corpo de delito, não podendo o delegado de polícia indeferir a diligência.

ATENÇÃO

Há apenas uma perícia que não pode ser requisitada diretamente pelo delegado, que é o
incidente de insanidade mental. Nesses casos, o delegado representa ao juiz competente para a
instauração do incidente, conforme determina o art. 149, §º do CPP.

OBS.: não precisa de autorização judicial para acareação!

JÁ CAIU PROMOTOR MPMG 2022


“São direitos processuais das vítimas no processo criminal o direito probatório, incluindo
requisição de diligência à autoridade policial, direito de ser ouvida e de indicar provas ao juízo.”
INCORRETA. A banca trocou requerimento por requisição, tornando a alternativa incorreta.

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


JÁ CAIU - AGENTE DE POLÍCIA PCPE 2016
"O delegado de polícia, por deter a prerrogativa de condução do inquérito policial, pode se negar
a cumprir diligências requisitadas pelo Ministério Público se entender que elas não são
pertinentes." INCORRETA. A banca (Cespe) adotou o entendimento segundo o qual só se recusa
diligência requisitada pelo MP se for manifestamente ilegal.

JÁ CAIU - JUIZ TJSP 2021


No curso de inquérito policial regularmente instaurado para apurar crime de ação penal pública
condicionada, e antes de seu encerramento, o advogado regulamente constituído pelo ofendido
nos autos efetua requerimento ao Delegado de Polícia que o preside, pleiteando a realização de
várias diligências. Considerando findas as investigações, e sem a realização das diligências
requeridas, a autoridade policial lança o relatório final e encaminha os autos ao Ministério
Público. Diante desse cenário, é correto afirmar que “agiu a d. autoridade policial em
desconformidade com a lei, pois é permitido ao ofendido, ou seu representante legal, requerer
diligências para apuração ou esclarecimento dos fatos, somente podendo ser indeferidas tais
providências, motivadamente, se impertinentes ou protelatórias”. CERTO.

PROCEDIMENTO INQUISITIVO:
Como regra, não há contraditório e ampla defesa no inquérito policial.

Atente-se para a alteração legislativa de 2019 que trouxe a obrigatoriedade de constituição de


defensor em inquéritos policiais, inquéritos policias militares e outros procedimentos extrajudiciais
investigando servidores vinculados aos órgãos de segurança pública e às forças armadas,
envolvendo fatos relacionados ao uso da força letal praticado durante o exercício da profissão:

Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art.
144 da Constituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais,
inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto
for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no
exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações
dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), o indiciado poderá constituir defensor.
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado
da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no
prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação.
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com ausência de nomeação
de defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá
intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência
dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique
defensor para a representação do investigado.
§ 3º Havendo necessidade de indicação de defensor nos termos do § 2º deste
artigo, a defesa caberá preferencialmente à Defensoria Pública, e, nos locais em
que ela não estiver instalada, a União ou a Unidade da Federação correspondente
à respectiva competência territorial do procedimento instaurado deverá
disponibilizar profissional para acompanhamento e realização de todos os atos
relacionados à defesa administrativa do investigado.

10

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


§ 4º A indicação do profissional a que se refere o § 3º deste artigo deverá ser
precedida de manifestação de que não existe defensor público lotado na área
territorial onde tramita o inquérito e com atribuição para nele atuar, hipótese em
que poderá ser indicado profissional que não integre os quadros próprios da
Administração.
§ 5º Na hipótese de não atuação da Defensoria Pública, os custos com o patrocínio
dos interesses dos investigados nos procedimentos de que trata este artigo
correrão por conta do orçamento próprio da instituição a que este esteja
vinculado à época da ocorrência dos fatos investigados.
§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares
vinculados às instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que
os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.

JÁ CAIU - DELEGADO PCSP 2022:


Havendo necessidade de indicação de defensor, a defesa caberá preferencialmente à
Defensoria Pública, e, nos locais em que ela não estiver instalada, a União ou a Unidade da
Federação correspondente à respectiva competência territorial do procedimento instaurado
deverá disponibilizar profissional para acompanhamento e realização de todos os atos
relacionados à defesa administrativa do investigado. CERTO.

Todavia, não confunda: a inclusão do art. 14-A ao CPP não significa que o inquérito policial perdeu
a característica de ser inquisitorial.

Não é necessária a intimação prévia da defesa técnica do investigado para a tomada de


depoimentos orais na fase de inquérito policial (informativo 933 - STF).
Por isso, não confunda: se o investigado está sozinho na delegacia, poderá ser ouvido
normalmente sem falar em nulidade. Só haverá nulidade se o delegado se opor à presença de
advogado ou ficar comprovado que não foi oportunizado ao investigado a referida
possibilidade de defesa técnica quando da oitiva

PROCEDIMENTO DISPENSÁVEL: Nos termos do artigo 39, § 5º do CPP: “o órgão do ministério público
dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que habilitem a
promover a ação penal, e neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias”.

O artigo 12 do CPP também afirma a dispensabilidade do inquérito policial “o inquérito


acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra”.

Todavia, para a doutrina moderna especializada, ou seja, aquelas capitaneadas por delegados de
polícia, defendem que o inquérito policial é INDISPENSÁVEL, e não simplesmente dispensável:
mesmo havendo a possibilidade da denúncia ser feita sem o inquérito policial, a grande maioria das
ações penais é baseada nele.

Henrique Hoffman dispõe que:

“Isso não ocorre por mero acaso, mas sim devido ao sistema persecutório
brasileiro, que adotou a investigação criminal por órgão estatal, sendo que a justa
causa que se busca ter para dar seguimento em uma ação penal, conforme o artigo
395 do CPP, é alcançada na investigação criminal por meio dos elementos

11

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


informativos e probatórios, e esses elementos são obtidos através das diligências
realizadas sob a presidência do Delegado de Polícia em uma investigação criminal.

Vale salientar que, a investigação na fase pré-processual é o elo entre a notícia do


crime e o processo penal. E é por isso, que mesmo o Ministério Público já dispondo
da justa causa, os elementos informativos para dar início a uma ação penal,
mesmo sem o inquérito policial, ainda assim, na grande maioria escolhem pela a
instauração do inquérito policial, pois o mesmo é o que faz o filtro processual,
impedindo assim de dar seguimento em uma ação penal temerária e infundada.”

ATENÇÃO
Somente recomendamos a adoção do entendimento de indispensabilidade do inquérito em sede
de questão discursiva ou oral, bem como que seja pontuado expressamente que não se trata de
entendimento majoritário. Majoritariamente ainda prevalece que o Inquérito Policial é dispensável,
portanto, em provas objetivas sobretudo, adote o posicionamento de dispensabilidade do IP.

PROCEDIMENTO UNIDIRECIONAL: A doutrina tradicional afirma que o IP tem como destinatário útil
o Ministério Público, a quem comente a formalização da opinio delict, sendo que a autoridade
policial tem apenas a função de examinar a existência de autoria e materialidade do delito e analisar
as circunstancias judiciais, como a causa de aumento e diminuição, mas as excludentes e o princípio
da insignificância não.

Entretanto, a doutrina moderna afirma que a Constituição Federal confiou a investigação à polícia
judiciária, logo, o inquérito terá como primeiro destinatário a autoridade policial, o que já é
suficiente para romper o caráter unidirecional. Como a atividade policial é uma atividade jurídica,
o delegado pode realizar a análise técnico-jurídica do fato, podendo analisar as excludentes e
principalmente o princípio da insignificância, sendo prescindível a instauração do inquérito,
podendo apenas registrar o boletim de ocorrência e encaminhar para ciência do Ministério Público.

Na prática, alguns delegados elaboram uma espécie de termo, como se fosse uma V.P.I, e encaminha
ao MP, expondo suas razões pela não lavratura da prisão em flagrante, se o MP concordar determina
o arquivamento, caso contrário se verificar a existência de provas suficientes oferece a denúncia.

PROCEDIMENTO OFICIOSO: Ao tomar conhecimento de crime cuja ação penal seja pública
incondicionada, o delegado deverá atuar de ofício, não dependendo de nenhuma provocação.
Entretanto, caso seja condicionada a representação ou de iniciativa privada, deve aguardar a
referida representação para instaurar os procedimentos cabíveis.

JÁ CAIU - AGENTE DE POLÍCIA PCAL 2021

“Tratando-se de crime de lesão corporal leve, o inquérito policial só poderá ser iniciado mediante
representação da vítima.” CERTO.

Nos crimes de ação penal pública condicionada à representação ou de ação privada o IP também
necessita da mesma condição para ser instaurado.

ATENÇÃO: na verdade, em regra, não caberia IP e sim TCO, pois a lesão corporal leve é crime de
menor potencial ofensivo. Só será IP se no contexto da lei Maria da penha (SÚMULA 542 STJ). A

12

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


banca em questão (Cespe-Cebraspe) possui esse perfil, de desconsiderar uma exceção e
considerar certa a afirmação genérica!

JÁ CAIU - DELEGADO PCGO 2022


“Quando se tratar de delitos processáveis por ação penal privada, a autoridade policial somente
poderá iniciar investigação preliminar após requerimento de quem tenha legitimidade para
oferecer queixa-crime.” CORRETA.

PROCEDIMENTO OFICIAL: o inquérito policial é presidido e desenvolvido por órgão oficial


pertencente às estruturas do Estado. Ainda que o crime seja de ação privada, não é possível que o
inquérito ou outro tipo de investigação criminal seja procedida por particular.

Atenção: a característica da oficialidade não se confunde com a oficiosidade (procedimento oficioso


– aquele que é iniciado de ofício).

PROCEDIMENTO TEMPORÁRIO: o inquérito policial possui prazo para a sua conclusão – PRAZO
IMPRÓPRIO.

PRAZO PRESO SOLTO

J. ESTADUAL 10 (+ 15 – essa 30 – pode ser prorrogado


prorrogação é solicitada sucessivamente
ao juiz das garantias,
todavia, segue suspensa
pelo STF)

J. FEDERAL 15+15 30 – pode ser prorrogado


sucessivamente

LEI DE DROGAS 30+30 90+90

ECONOMIA POPULAR 10 10

PRISÃO TEMPORÁRIA – 30+30 NÃO SE APLICA


HEDIONDOS

J. MILITAR 20 40+20

Art. 3-B § 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá, mediante representação da
autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito
por até 15 (quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída, a prisão será
imediatamente relaxada.

13

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


OBS.: é importante ressaltar que tal dispositivo segue com a eficácia suspensa.

JURISPRUDÊNCIA

- Há excesso de prazo para conclusão de IP, quando, a despeito do investigado se encontrar


solto, a investigação perdura por longo período sem que haja complexidade que justifique
(informativo 747 – STJ).

Então, tenção: o prazo do inquérito é sim impróprio. Mas, diante do excesso de prazo
injustificado, mesmo estando solto o investigado, a autoridade policial poderá incorrer até
mesmo em abuso de autoridade, em razão de constrangimento ilegal.

Nesse sentido, observe o art. 31 da Lei nº 13.869/2019 (Lei de Abuso de autoridade):

Art. 31 Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo do


investigado ou fiscalizado: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

JÁ CAIU – PROCURADOR DE CONTAS MPCSC 2022


“Na hipótese de indiciado preso, o inquérito policial deverá ser concluído, em princípio, no
prazo de dez dias improrrogáveis” CORRETA. A banca examinadora colocou o termo “em
princípio”, ou seja, a regra, tornando a alternativa correta.

JÁ CAIU DELEGADO PCGO 2022


“O prazo de que trata o Código de Processo Penal para término do inquérito é próprio, não
prevendo a lei qualquer consequência processual, máxime a preclusão, se a conclusão do
inquérito ocorrer após trinta dias de sua instauração, estando solto o réu” INCORRETA.

Em relação à parte introdutória do IP em provas objetivas, as bancas costumam trazer as


características básicas do IP (SIGILOSO, DISPENSÁVEL, ESCRITO, INQUISITORIAL, OFICIAL, OFICIOSO,
INDISPONÍVEL, DISCRICIONÁRIO) e os prazos, então fiquem atentos para não perderem questões
“simples”.

INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL


O início do IP está previsto no artigo 5º do CPP, dispondo que em se tratando de ação penal PÚBLICA
poderá ser de ofício ou mediante requisição da autoridade judiciária ou do ministério público ou a
requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

Quando o inquérito for instaurado de ofício – por meio de uma notitia criminis - pode ser por meio
de portaria, auto de prisão em flagrante ou termo circunstanciado de ocorrência.

NOTITIA CRIMINIS – conhecimento do crime pela autoridade policial, podendo ser:


 ESPONTÂNEA (COGNIÇÃO IMEDIATA): mediante atividade rotineira da polícia
 PROVOCADA (COGNIÇÃO MEDIATA): qualquer pessoa do povo que tiver
conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública, poderá,

14

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


verbalmente ou por escrito, comunicá-la a autoridade policial. (Delatio criminis) ou
então quando a autoridade policial recebe algum ato de comunicação formal.
OBS.: A delatio criminis pode ser postulatória (a vítima ou qualquer do povo comunica o fato
a autoridade policial e solicita a abertura de inquérito – art. 5º II do CPP) ou simples (a vítima
ou qualquer do povo só comunica o fato à autoridade).
COGNIÇÃO COERCITIVA: prisão em flagrante
INQUALIFICADA ou APÓCRIFA: denúncia anônima
TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA – TCO
Trata-se de um procedimento investigativo substitutivo do inquérito policial em casos de
flagrante de infrações de menor potencial ofensivo [pena máxima que não ultrapasse 2 anos]
ou contravenção penal.
Assim, em casos de flagrante delito, o termo será encaminhado ao juizado, desde que o autor
assine o termo de compromisso, dispensando-se a lavratura do auto de prisão em flagrante
com a consequente instauração do inquérito policial.
Tem sua previsão expressa na lei dos juizados especiais – 9.099/95:
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará
termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o
autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames
periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em
caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de
cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
vítima.
Em todos os casos de flagrante de infrações de menor potencial ofensivo será lavrado o TCO?
NÃO! Quando a infração for de autoria incerta ou que demandem grande complexidade será
instaurado o inquérito policial, mediante portaria. E nos casos em que o autor se recusar a
comparecer no juizado especial criminal será lavrado o auto de prisão em flagrante.
ATENÇÃO: Julgue a assertiva: “não cabe prisão em flagrante nos crimes de menor potencial
ofensivo”. A assertiva está incorreta. Caberá no caso de recusa do autor de comparecer ao
juizado especial criminal.
Atente-se para o fato também de que no contexto dos crimes de menor potencial ofensivo ou
contravenções, a captura é realizada, isto é, o autor sofre a chamada “prisão captura”, que é
a primeira fase da prisão em flagrante, sendo encaminhado à delegacia. Ocorre que não é
realizada a lavratura do auto de prisão em flagrante, não havendo, por conseguinte, a prisão
em flagrante do autor.
Atenção: no caso de crime de porte de drogas para uso pessoal será lavrado o TCO mesmo
que o autor se recuse a comparecer no juizado especial criminal, tendo em vista que não há

15

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


como impor título prisional ao autor do crime.
Também não cabe lavratura de TCO em substituição ao IP nos crimes contra a mulher no
contexto de violência doméstica. Isso porque o artigo 41 da Lei 11.340/06 vedou
expressamente a aplicação da Lei 9.099/95, independentemente da pena cominada no
preceito secundário da norma aos crimes que envolvam violência doméstica e familiar contra
a mulher.

JURISPRUDÊNCIA – TCO:
- É constitucional norma estadual que prevê a possibilidade da lavratura de termos
circunstanciados pela Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiros Militar. (informativo 1046 –
STF).
O art. 69 da Lei dos Juizados Especiais, ao dispor que “a autoridade policial que tomar
conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado” não se refere exclusivamente à
polícia judiciária, englobando também as demais autoridades legalmente reconhecidas. O
termo circunstanciado é o instrumento legal que se limita a constatar a ocorrência de crimes
de menor potencial ofensivo, motivo pelo qual não configura atividade investigativa e, por via
de consequência, não se revela como função privativa de polícia judiciária.
- O autor da conduta do art. 28 da LD deve ser encaminhado diretamente ao juiz, que irá lavrar
o termo circunstanciado e fará a requisição dos exames e perícias; somente se não houver juiz
é que tais providências serão tomadas pela autoridade policial; essa previsão é constitucional
(informativo 986 – STF).

Quando não for de ofício, o requerimento para a instauração do IP deverá conter SEMPRE QUE
POSSÍVEL: a narração do fato com todas as circunstâncias; a individualização do indiciado;
nomeação das testemunhas com indicação da profissão e residência.

A doutrina minoritária sustenta que a instauração do IP mediante requisição da autoridade


judiciária não foi recepcionada pela CF, pois violaria o sistema acusatório e a garantia da
imparcialidade.

JÁ CAIU - PROVA ORAL DELEGADO PCRS 2019


Delegado pode negar requisição do Ministério Público para instauração do IP?
As requisições dirigidas ao delegado de polícia para que seja instaurado o IP, em tese, devem
conter dados suficientes para que possibilitem à autoridade policial tomar as providências
investigatórias iniciais e nortear a persecução criminal do fato.

Na hipótese de haver requisição genérica para instauração do IP, deverá o delegado, invocando
a sua independência funcional, oficiar à autoridade requisitante, mostrando-lhe, de modo

16

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


fundamentado, a impossibilidade de inicial qualquer investigação.

ALTA INCIDÊNCIA EM PROVA: Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito


caberá recurso para o chefe de polícia.

JÁ CAIU - DELEGADO PCGO 2022


“É irrecorrível o despacho que indeferir requerimento de abertura de inquérito policial, tendo
em vista a prescindibilidade do procedimento investigativo preliminar.” INCORRETO. É
recorrível!
ALTA INCIDÊNCIA EM PROVA: Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá
proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.

JURISPRUDÊNCIA:
- O delegado de polícia não pode instaurar o IP baseado unicamente em denúncia anônima, mas
pode iniciar investigações informais [V.P.I] para apurar a veracidade das informações para
posterior instauração do IP.
- Não pode decretar busca e apreensão baseado unicamente em denúncia anônima.
- A denúncia anônima a respeito da existência de entorpecentes no interior de uma residência
não legitima o ingresso policial no domicilio sem o conhecimento do morador ou determinação
judicial.
- É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria jornalística (informativo
652 - STJ).

JÁ CAIU - PGR 2022

De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, é possível dar início à investigação a partir de
“denúncia anônima”, não havendo ilicitude da prova, desde que haja justa causa para tanto.
CERTO.
INSTAURAÇÃO DE IP BASEADO EXCLUSIVAMENTE EM DENÚNCIA ANÔNIMA: NÃO PODE.

INSTAURAÇÃO DE IP BASEADO EM DENÚNCIA ANÔNIMA + JUSTA CAUSA: PODE.

DESENVOLVIMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

As providências a serem adotadas pelo delegado de polícia no curso do IP estão previstas nos artigos
6 e 7 do CPP, todavia não se trata de um rol taxativo! Vejamos:

Art. 6 - Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade


policial deverá:

17

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;

II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos
peritos criminais;

III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;

IV - ouvir o ofendido;

V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no


Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por
duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura;

VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;

VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a


quaisquer outras perícias;

VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível,


e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; (OBS.: o civilmente identificado
não será submetido à identificação criminal!)

IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar


e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois
do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a
apreciação do seu temperamento e caráter.

X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se


possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos
cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.

Art. 7 - Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de


determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada
dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública.

JURISPRUDÊNCIA (artigos 6º e 7º do CPP):

- Não é possível condução coercitiva para fins de interrogatório do investigado. Todavia, pode
haver condução coercitiva para fins de reconhecimento do investigado e para ouvir as
testemunhas ou vítimas que já foram intimadas. (OBS: ninguém é obrigado a colaborar com:
realização de bafômetro, acareação, reconstituição dos fatos – princípio do nemo tenetur se
detegere).

- Em relação a identificação papiloscópica, os promotores e juízes não podem ser


identificados criminalmente, tendo em vista que não podem ser indiciados - LOMP (art. 41,
III) e LOMAN (art. 33).

18

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


- O descumprimento das formalidades exigidas para o reconhecimento de pessoas – art. 226
do CPP – gera a nulidade do ato, devendo o réu condenado ser absolvido, salvo se houver
provas da autoria que sejam independentes.

- Ainda que o reconhecimento fotográfico esteja em desacordo com o procedimento do art.


226 do CPP, deve ser mantida a condenação quando houver outras provas produzidas sob o
crivo do contraditório e da ampla defesa, independentes e suficientes o bastante, para
lastrear o decreto condenatório.

- Se a vítima é capaz de individualizar o autor do fato, é desnecessário instaurar o


procedimento do art. 226 do CPP.

- Em casos envolvendo violência doméstica contra a mulher e violência contra criança,


adolescente, idoso ou deficiente, haverá prioridade na realização do exame de corpo de
delito.

- A autoridade policial indicará o tipo penal em que acha incurso o investigado. Isso se chama
de juízo de subsunção precária, visto que o juízo de subsunção próprio cabe ao MP, quando
da denúncia.

DEVERES DA AUTORIDADE POLICIAL

Incumbe à autoridade policial: Fornecer as autoridades judiciárias as informações necessárias à


instrução e julgamento do processo; realizar diligências requisitadas pelo juiz ou pelo ministério
público; cumprir mandados de prisão; representar acerca da prisão preventiva.

ATENÇÃO ESPECIAL NOS ARTIGOS 13-A E 13-B DO CPP, ALTA INCIDÊNCIA EM PROVA!!

Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148 [sequestro e cárcere privado], 149
[redução a condição análoga à de escravo] e 149-A [tráfico de pessoas], no § 3º do
art. 158 [extorsão com restrição de liberdade da vítima] e no art. 159 do CP
[extorsão mediante sequestro], e no art. 239 do ECA [envio de criança ou
adolescente ao exterior], o membro do Ministério Público ou o delegado de
polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas
da iniciativa privada, DADOS e INFORMAÇÕES CADASTRAIS da vítima ou de
suspeitos.

Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro)


horas, conterá:

I - o nome da autoridade requisitante;

II - o número do inquérito policial;

III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação.

Nos crimes supracitados, o MP ou o DELEGADO poderá requisitar de qualquer órgão público ou de


empresa privada, DADOS E INFORMAÇÕES CADASTRAIS DA VÍTIMA OU DE SUSPEITO.

19

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


Aqui, independe de autorização judicial, e deverá ser atendido em 24 horas.

Difere do disposto no artigo 13-B, vejamos:

Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao


tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia
poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de
serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente
os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que
permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.

§ 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de


cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência.

§ 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal.

I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que


dependerá de autorização judicial, conforme disposto em lei;

II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período
não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período;

III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a
apresentação de ordem judicial.

§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado


no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva
ocorrência policial. – RESERVA DE JURISDIÇÃO TEMPORÁRIA.

§ 4º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a


autoridade competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de
telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios
técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a
localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata
comunicação ao juiz.

Esse dispositivo cuida do acesso ao posicionamento das ERB’s (Estações Rádio Base). Através dessas
tecnologias, é viável determinar a localização aproximada de qualquer dispositivo móvel em
funcionamento, seja ao receber ou enviar mensagens, realizar ou receber chamadas, e, por
consequência, localizar seu usuário.

Tal disposição legal provoca controvérsias porque ora exige prévia autorização judicial para o acesso
a tais informações, ora a dispensa.

Vale conhecer as duas posições sobre o tema, uma vez que é um “prato cheio” para o examinador
explorar em eventual prova discursiva ou oral:

a) O acesso a ERB não depende de autorização judicial prévia.

20

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


Argumentos:

 A realização da interceptação das comunicações telefônicas está sujeita à cláusula de reserva


de jurisdição, conforme estabelecido no inciso XII do art. 5º da Constituição Federal. No
entanto, é importante não confundir a interceptação das comunicações telefônicas com a
obtenção de informações sobre a localização das Estações Rádio Base (ERBs), que são
consideradas uma forma específica de dados telefônicos.
 O dispositivo deve sofrer interpretação restritiva pois, apesar de fazer referência a
necessidade de autorização judicial, também emprega o verbo “requisitar”, no sentido de
ordem – o que permite concluir pela desnecessidade da autorização do magistrado
 O decurso do prazo de 12 horas sem manifestação do magistrado autoriza que as empresas
forneçam o acesso ao posicionamento da ERB. Se essa medida fosse sujeita à cláusula de
reserva de jurisdição, o legislador não teria previsto um prazo tão exíguo.

b) O acesso a ERB depende de autorização judicial prévia

Argumentos:
 A obtenção das informações da ERB guardam relação com a proteção do direito a intimidade
e à vida privada, já que por meio dela é possível obter a localização aproximada de alguém
 Essa corrente sustenta também a inconstitucionalidade do dispositivo que torna dispensável
a autorização judicial quando ultrapassadas as 12 horas, uma vez que esse lapso temporal
não pode ser apto a dispensar esse filtro judicial relevante

CLÁUSULA DE RESERVA DE JURISDIÇÃO TEMPORÁRIA: é a denominação doutrinária para a situação


exposta acima, em a lei exige autorização judicial para o acesso às ERBS, porém, o decurso de 12
horas sem manifestação do magistrado torna possível o acesso imediato.

JÁ CAIU - JUIZ TJPE 2022


“Após representação do delegado de polícia, nos crimes relacionados ao tráfico de pessoas,
sobre a disponibilização dos meios técnicos que permitam a localização da vítima, se não
houver manifestação judicial no prazo de doze horas, poderá aquele proceder às requisições,
comunicando-se imediatamente ao juiz.” CORRETO.
JÁ CAIU - DELEGADO PCGO 2022
“No crime de sequestro e cárcere privado, o membro do Ministério Público ou o delegado de
polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa
privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.” CORRETO.

Dados Cadastrais -> PODE REQUISITAR DIRETAMENTE (ART. 13-A)

Localização -> MEDIANTE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL (ART. 13-B)

DO INDICIAMENTO

O indiciamento é um ato VINCULADO, realizado de forma EXCLUSIVA PELO DELEGADO DE POLÍCIA,


que após a análise técnico-jurídica do fato, deverá indicar a autoria, materialidade e as suas
circunstancias (art. 2º, § 6º da lei nº 12.830/2013).

21

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


ESPÉCIES DE INDICIAMENTO

Deve ser realizado durante o desenvolvimento da investigação


criminal, sempre que o Delegado de Polícia formar seu
convencimento no sentido de que existem provas da
materialidade do crime e indícios suficientes de autoria.
FORMAL
PEÇAS QUE CONSTITUEM O INDICIAMENTO FORMAL: auto de
qualificação e interrogatório do indiciado, informações sobre sua
vida pregressa e, por fim, o boletim de identificação.

MATERIAL O indiciamento material consiste no despacho do Delegado de


Polícia onde ele expõe as razões e os fundamentos da sua decisão

COERCITIVO Proveniente da lavratura do auto de prisão em flagrante

DIRETO Ocorre com a presença do investigado

INDIRETO Ocorre quando o investigado não é encontrado, estando em local


incerto e não sabido.

COMPLEXO Ocorre nos casos que o delegado de polícia precisa de autorização


para a instauração do inquérito policial, como nos casos de foro de
prerrogativa de função.

Por ser ato exclusivo da autoridade policial, o indiciamento não pode ser requisitado pelo
magistrado na investigação criminal (ele poderá requisitar a instauração do inquérito policial, nos
termos do art. 5º, II do CPP, mas o indiciamento será a critério da análise privativa do delegado de
polícia).

De acordo com a doutrina majoritária, a decisão de indiciamento produz efeitos


EXTRAPROCESSUAIS, pois aponta para a sociedade a provável pessoa responsável pela prática do
crime, bem como efeitos ENDOPROCESSUAIS, representado pela probabilidade de ser a pessoa o
provável autor, acarretando uma possível ação penal.

Quanto ao momento do indiciamento, pode-se concluir que poderá ser realizado em qualquer
momento da investigação até o relatório final do IP, sendo que o indiciamento após o início da ação
penal configura constrangimento ilegal. Por exemplo, em casos de lavratura do auto de prisão em
flagrante, o delegado de polícia já está convencido dos indícios suficientes e necessários de autoria
e materialidade, podendo já concluir pelo indiciamento.

CRIPTOINDICIAMENTO: Designa-se assim o indiciamento infundado, destituído da indispensável


motivação exarada pelo delegado de polícia, expondo os elementos que o justificam (Lei
12.830/13, art.2º,§ 6º); trata-se de expressão que suscita o neologismo “criptoflagrante”, para
simbolizar a arbitrária e ilegal decretação de prisão em flagrante desprovida de fundamentação

22

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


e de acervo mínimo para a justa causa (fundada suspeita – requisito probatório) ou fora das
hipóteses de flagrância delitiva (requisito temporal).

Em regra, autoridades com foro de prerrogativa podem ser indiciadas.

Existem apenas duas exceções previstas em lei de autoridades que não podem ser indiciadas:
Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79); Membros do Ministério Público (art. 18,
parágrafo único, da LC 75/73 e art. 40, parágrafo único, da Lei nº 8.625/93).

Excetuadas as hipóteses legais, é plenamente possível o indiciamento de autoridades com foro por
prerrogativa de função. No entanto, para isso, é indispensável que a autoridade policial obtenha
uma autorização do Tribunal competente para julgar esta autoridade.

JURISPRUDÊNCIA

- É constitucional a norma de Regimento Interno de Tribunal de Justiça que condiciona a


instauração de inquérito à autorização do desembargador-relator nos feitos de competência
originária daquele órgão (informativo 1054 – STF).

- É indispensável a existência prévia de autorização judicial para a instauração de inquérito ou


outro procedimento investigatório em face de autoridade com foro de prerrogativa de função
em tribunal de justiça (informativo 1040 - STF) – É UMA EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DA
OFICIOSIDADE.

- Cabe ao próprio tribunal ao qual toca o foro por prerrogativa de função promover, o
desmembramento de inquérito e peças de investigações correspondentes, para manter sob sua
jurisdição, em regra, apenas o que envolve autoridades com prerrogativa de foro, RESSALVADAS
AS SITUAÇÕES EM QUE OS FATOS SE REVELEM DE TAL FORMA IMBRICADOS QUE A CISÃO, POR
SI SÓ, IMPLIQUE PREJUÍZO A SEU ESCLARECIMENTO.

- É constitucional a portaria, por meio da qual o presidente do STF determinou a instauração do


inquérito com intuito de apurar a existência de fake News, denunciações caluniosas, ameaças e
atos que podem configurar crimes contra a honra e atingir a segurança do STF, de seus membros
e familiares. Contudo, deve ser acompanhado pelo MP, o objetivo do inquérito deve se limitar
a investigar manifestações que acarretem risco efetivo a independência do poder judiciário
(informativo 982 - STF).

Atenção: em relação aos crimes de menor potencial ofensivo não é realizado o indiciamento, tendo
em vista que esses crimes possuem institutos despenalizadores previstos já lei do juizado especial.

JÁ CAIU DELEGADO PCMG 2018

O indiciamento resulta de um juízo de probabilidade e não de mera possibilidade sobre a autoria


delitiva. CERTO

23

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


JÁ CAIU DELEGADO PCRO 2022

“O Ministério Público fica vinculado ao indiciamento realizado pelo delegado.” INCORRETO. O


MP não fica vinculado ao indiciamento.

“É incabível a impetração de habeas corpus para cancelar o indiciamento, apesar dos


constrangimentos causados ao indiciado.” INCORRETO. É possível o manejo de HC para trancar o
IP quando houve constrangimento ilegal, que é observado quando da ocasião do indiciamento
(STJ).

“Do indiciamento — ato privativo da autoridade policial — decorrem diversas consequências


para a ação penal, para a qual o referido ato é imprescindível.” INCORRETO. O indiciamento,
assim como o Inquérito Policial, é prescindível (dispensável).

“Inexiste fundamento jurídico que autorize o magistrado, após receber a denúncia, a requisitar
ao delegado o indiciamento de determinada pessoa.” CORRETA.

“O simples indiciamento de uma pessoa não implica que seu nome e outros dados sejam lançados
no sistema de informações da Secretaria de Segurança Pública relacionados àquele delito e
passem, a partir disso, a constar da folha de antecedentes criminais do indivíduo.” INCORRETO.
Pode sim haver o registro no âmbito interno da SSP.

De acordo com a doutrina majoritária, a decisão de indiciamento produz efeitos endoprocessuais,


indicando que o indiciado é provavelmente o autor do delito; e extraprocessuais, indicando à
sociedade o provável autor do delito.

DO DESINDICIAMENTO

Para a doutrina majoritária pode haver o desindiciamento voluntário, a ser realizado pela própria
autoridade policial, tendo em vista que é um agente da administração pública e possui poder de
autotulela, revogando o ato de indiciamento realizado.

Ainda, pode haver o desindiciamento coacto, quando ocorre êxito no Habeas Corpus e o judiciário
revoga o ato de indiciamento por constrangimento ilegal.

RELATÓRIO FINAL DO INQUÉRITO POLICIAL

O art. 10, § 1º do CPP dispõe que ao final das investigações o delegado de polícia fará minucioso
relatório do que tiver sido apurado e enviará os autos ao juiz competente. [CUIDADO, POIS NÃO
ENVIA DIRETO AO MINISTÉRIO PÚBLICO].

No relatório final, o delegado poderá indicar testemunhas que não tenham sido inquiridas,
mencionando o lugar onde possam ser encontradas.

Atente-se ao fato de que no relatório final a autoridade policial não deve esboçar qualquer juízo de
valor, ressalvado os casos em relação ao porte de entorpecentes para consumo próprio – aqui o
delegado deverá indicar os motivos pelos quais entende ser o art. 28 e não o art. 33 da lei de drogas.

Todavia, para a doutrina moderna, o delegado, como primeiro filtro dos direitos e garantias do
indivíduo, deverá verificar a presença de causas excludentes de tipicidade, ilicitude, culpabilidade e

24

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


punibilidade, e assim, deverá constar do relatório esse juízo de valor acerca da presença dessas
causas, opinando, se for o caso, pelo arquivamento. Esse entendimento deve ser abordado em
provas discursivas e orais! Para provas objetivas, adote o entendimento majoritário. Veja a questão
que caiu recentemente para o cargo de Delegado do estado de Rondônia:

JÁ CAIU DELEGADO PCRO 2022


“Ao elaborar o relatório final do inquérito, a autoridade policial deverá manifestar-se acerca do
mérito da prova colhida.” INCORRETA.

No relatório final, a autoridade policial sempre indicará o tipo penal em que acha incurso o
investigado. Isso se chama de juízo de subsunção precária, visto que o juízo de subsunção próprio
cabe ao MP, quando da denúncia.

ATENÇÃO
Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos
do inquérito.

ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL


O arquivamento do inquérito policial é realizado por uma decisão judicial. Ele depende de pedido
de promoção de arquivamento feito pelo Ministério Público que será analisado pelo juiz.
Mais uma vez: O DELEGADO DE POLÍCIA NÃO PODE ARQUIVAR O INQUÉRITO POLICIAL.

ATENÇÃO!
O pacote anticrime alterou a redação do art. 28 do CPP: quem passará a determinar o arquivamento do
inquérito policial é o PROMOTOR DE JUSTIÇA, que em seguida, submeterá o arquivamento à
homologação por instancia de revisão ministerial. CONTUDO, A EFICÁCIA DESSA DISPOSIÇÃO
ENCONTRA-SE SUSPENSA!

LEI ANTERIOR LEI NOVA

Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de Art. 28. Ordenado o arquivamento do
apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos
inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, informativos da mesma natureza, o órgão do
o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões Ministério Público comunicará à vítima, ao
invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de investigado e à
informação ao procurador-geral, e este oferecerá a
autoridade policial e encaminhará os autos
denúncia, designará outro órgão do Ministério Público
para a instância de revisão ministerial para
para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento,
fins de homologação, na forma da lei.
ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.
§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal,
não concordar com o arquivamento do
inquérito policial, poderá, no prazo de 30
(trinta) dias do recebimento da
comunicação, submeter a matéria à revisão
da instância competente do órgão

25

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


ministerial, conforme dispuser a respectiva
lei orgânica.
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes
praticados em detrimento da União, Estados
e Municípios, a revisão do arquivamento do
inquérito policial poderá ser provocada pela
chefia do órgão a quem couber a sua
representação judicial.

HIPÓTESES DE ARQUIVAMENTO: ausência de justa causa; existência manifesta de atipicidade


formal ou material do fato; causa excludente de ilicitude; excludente de culpabilidade, salvo a
inimputabilidade; causa de extinção da punibilidade.

Caso o juiz discorde do pedido de arquivamento formulado pelo órgão ministerial, poderá invocar
o art. 28 do CPP, com a consequente remessa dos autos ao Procurador-Geral, a quem caberá manter
a decisão pelo arquivamento dos autos ou designar um novo promotor para oferecer a denúncia.

- STF pode de oficio arquivar inquérito quando, mesmo esgotados os prazos para a conclusão
das diligencias, não foram reunidos indícios mínimos de autoria e materialidade (informativo
912 – STF).

Em regra, a decisão que determina o arquivamento do IP é irrecorrível, ressalvado os casos de IP


CONTRA ECONOMIA POPULAR e CONTRAVENÇÕES PENAIS nos quais caberá RESE.

ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO: Ocorre quando o MP deixa de mencionar fatos na denúncia (objetivo)


ou não oferece denúncia contra corréu (subjetivo) sem qualquer fundamentação. Este tipo de
arquivamento não é aceito de forma majoritária pela doutrina e pela jurisprudência.

JÁ CAIU PEFOCE PERITO CRIMINAL 2021:


Para parte da doutrina que entende ser possível o arquivamento implícito, alega que caso o MP
perceba o equívoco de não ter oferecido denúncia, não mais poderá aditar a denúncia para incluir
quem faltou

ARQUIVAMENTO INDIRETO: Ocorre quando o MP declina das suas atribuições por entender que os
autos estão tramitando perante juízo incompetente. Nesta hipótese, deve-se encaminhar a remessa
dos autos ao juízo competente para que o órgão do MP competente possa oficiar junto aos autos.

ARQUIVAMENTO DA AÇÃO PENAL PRIVADA: Ocorre por meio da renúncia do querelante, de


maneira expressa, acarretando a extinção da punibilidade. Pode ocorrer de maneira tácita, com o
transcurso do prazo decadencial de 6 meses para o exercício do direito de queixa.

26

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

Depois de ordenado o arquivamento do IP pela autoridade judiciária, por falta de base para a
denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver
notícias.

SÚMULA 524/STF - arquivado o inquérito policial por despacho do juiz, a requerimento do promotor
de justiça não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas.

MOTIVO DO ARQUIVAMENTO DESARQUIVAMENTO

Insuficiência de prova SIM

Ausência de justa causa SIM

Ausência de condição da ação SIM

Atipicidade NÃO

Excludente de ilicitude STJ: NÃO, pois faz coisa julgada material.


STF: SIM, pois faz coisa julgada formal.
(HC 87395/PR, julgado em 23/3/2017 -
Info 858); (HC 125101/SP, julgado em
10/09/2015).
Sugerimos que somente seja respondido
que faz coisa julgada formal o
arquivamento do IP por excludente de
ilicitude se a questão deixar claro que
pede o posicionamento do STF (vide
questão no quadro abaixo).

Excludente de culpabilidade NÃO

Causa extintiva de punibilidade NÃO, salvo se for certidão de óbito falsa

ARQUIVAMENTO X TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL:

Como já tratado acima, o arquivamento do inquérito policial se dá sempre por decisão da autoridade
judiciária, que determinará o referido arquivamento a pedido do Ministério Público, que é o titular
da ação penal pública, se diante de uma das situações autorizativas.

Instituto diferente do arquivamento é o trancamento do inquérito policial. O trancamento do IP é o


encerramento abrupto, anormal ou anômalo (termos já utilizados pela jurisprudência) do inquérito
policial, que ocorre diante da ausência de justa causa para o seu início ou prosseguimento, e se dá

27

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21


mediante o manejo do remédio constitucional do Habeas Corpus (art. 648, I, CPP), por aquele que
se sente constrangido ilegalmente pela investigação (o investigado ou indiciado).

O instituto do trancamento do inquérito é derivado de uma construção jurisprudencial.


Veja como foi cobrado o tema de arquivamento do inquérito policial:

JÁ CAIU - ESCRIVÃO DE POLÍCIA PCPB 2022


"Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o arquivamento de inquérito em
virtude da prática de conduta acobertada pelo estrito cumprimento do dever legal obsta seu
desarquivamento caso surjam novas provas sobre a excludente de ilicitude." INCORRETA.

JÁ CAIU - DEFENSOR DPU 2017


“De acordo com o STF, o ato de arquivamento com fundamento em excludente de ilicitude fez
coisa julgada formal e material, o que impossibilita posterior desarquivamento pelo parquet,
ainda que diante da existência de novas provas” INCORRETA.

Segundo STF o arquivamento do IP com amparo em excludente de ilicitude faz coisa julgada
formal, de modo que pode ser reaberto caso surjam novas provas.

JÁ CAIU - DEFENSOR PÚBLICO 2017

“A homologação, pelo juízo criminal competente, do arquivamento de inquérito forma coisa


julgada endoprocessual” CORRETA.

A banca (Cespe) generalizou aqui para considerar que o arquivamento faz coisa julgada formal
apenas (endoprocessual significa dizer que a decisão tornou-se imutável dentro do processo em
que foi proferida).

Coisa Julgada Formal: Endoprocessual, os efeitos se limitam ao processo, podendo haver novas
provas.

Coisa Julgada Material: Exoprocessual, os efeitos transcendem ao processo, não há nova


discussão.

Alterações deste material (marcadas com *):

* Páginas 1, 2: Alterações de atualização, correção e complementação de conteúdo.

28

Bianca Mendes - bianca.mendes@uniniltonlins.edu.br - CPF: 025.405.102-21

Você também pode gostar