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INQUÉRITO POLICIAL
Natureza Jurídica do Inquérito Policial

O inquérito policial é uma sequência de atos administrativos, sem uma ordem pré-definida em lei, que se
realizam, a princípio, de acordo com a discricionariedade da autoridade policial.

Assim, se o inquérito policial é uma sequência de atos praticados pela autoridade policial ou sob a sua
presidência, caracteriza-se como procedimento de natureza meramente administrativa.

Ressalte-se que os atos do inquérito são praticados, em regra, de acordo com a necessidade, utilidade e
possibilidade para aquela investigação, ou seja, destaca-se a discricionariedade da autoridade policial na orienta-
ção e ordem dos atos de um inquérito policial. Por tal motivo, por não seguir um procedimento pré-definido em lei,
o inquérito policial não é um processo, como ocorre com os procedimentos judiciais.

Juízes, na presidência dos atos processuais, devem seguir um rito formal, cuja ordem dos atos é definida
legalmente. O desrespeito a essa sequência legalmente definida gera, no caso de um processo, nulidade.

Repare que no inquérito policial não há que se falar em nulidades. E tal fato se dá porque o inquérito poli-
cial não é formal.

Conceito de Inquérito Policial

O Inquérito Policial é um procedimento administrativo, presidido pela autoridade policial, de caráter infor-
mativo e inquisitivo, que tem por fim colher prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria, buscan-
do viabilizar o exercício da ação penal.

É, assim, um conjunto de diligências realizadas pela Polícia Judiciária, para a apuração do fato tido como
criminoso e sua autoria, de forma a permitir o exercício da ação penal por parte do seu titular, que, nos crimes de
ação penal pública, é o Ministério Público.

Finalidade e objeto do Inquérito Policial

O art. 4º do CPP estabelece que a polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território
de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.

Assim, a finalidade precípua do inquérito policial é a de recolher indícios de autoria e prova da materiali-
dade do crime, de forma a viabilizar o exercício da ação penal por seu titular.

Contudo, não podemos afirmar que a finalidade do inquérito seria a de garantir o exercício da ação penal,
já que, inúmeras vezes, o inquérito atinge seu objetivo, colhendo provas da materialidade e indícios de autoria, e
nem por isso a ação penal chega a ser exercida. Veja por exemplo a hipótese na qual, muito embora materialida-
de e autoria estejam demonstradas no inquérito, e o Ministério Público acaba por requerer o arquivamento em
face da prescrição do crime, morte do agente, ou qualquer outro motivo que inviabilize a ação penal naquele caso
concreto.

Por tal motivo, apesar de servir como lastro probatório mínimo ou subsídio à futura ação penal, preferimos
indicar que a finalidade do inquérito é mesmo a de colher provas da infração e de sua autoria.

Observa-se então que o objeto de investigação de um inquérito policial é o fato, sendo, de acordo com o
processo penal moderno, completamente equivocada a ideia de que o objeto do inquérito seria o indiciado. Não
estamos mais na Inquisição! E o inquérito policial, embora adote um modelo linear, no qual a autoridade policial,
de forma inquisitiva, ou seja, SEM contraditório e ampla defesa, e impessoal, APURA OS FATOS, e não o indicia-
do.

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Características do Inquérito Policial:

Inquisitivo ou inquisitório

O inquérito policial é um procedimento linear presidido pela autoridade policial, que, regida pela impessoa-
lidade e discricionariedade, realiza as diligências com a finalidade de esclarecer o fato objeto da investigação.
Assim, não se tratando de um procedimento “de partes”, não há que se falar em contraditório e ampla defesa.

O inquérito policial é, portanto, inquisitivo ou inquisitório.

Entretanto, importante ressaltar que o caráter inquisitivo do inquérito não justifica que se encare o indicia-
do como objeto da investigação. Como mencionado anteriormente, o objeto da investigação é o fato.

Discricionário

O delegado de polícia conduz as investigações do inquérito policial de acordo com sua discricionariedade.
Isso significa que a autoridade policial que presidir o inquérito realizará diligências de acordo com seu critério de
necessidade, possibilidade e utilidade ao esclarecimento do fato criminoso, de suas circunstâncias e autoria. Atua,
portanto, dentro de um critério de conveniência e oportunidade.

A discricionariedade do inquérito policial comporta, entretanto, algumas exceções: exame de corpo de de-
lito; requisição do Juiz ou do Ministério Público e auto de prisão em flagrante.

Dispensável

O Inquérito policial não passa de uma peça de informação, podendo ser substituído por peças outras des-
de que os elementos necessários ao exercício da ação penal ali estejam presentes.

Sistemático

Embora não possua um rito pré-estabelecido em lei, o que acarreta a afirmação de que o inquérito não é
formal, é evidente que a autoridade policial realiza as diligências numa ordem que depende de seu próprio juízo
de oportunidade ou conveniência. No entanto, o destinatário do inquérito é órgão distinto daquele que presidiu as
investigações. Espera-se que o delegado, antes de remeter o inquérito ao Ministério Público, elabore um relatório
que demonstre a orientação por ele adotada durante as investigações. Porém, o inquérito não é formal, e eventu-
ais vícios não passam de meras irregularidades, motivo pelo qual um inquérito pode ter um, vários ou nenhum
relatório.

Por tal motivo, é importante que os autos de inquérito estejam organizados respeitando a cronologia das
diligências realizadas. Daí falarmos que o inquérito é sistemático.

Unidirecional

O IP é instaurado para apurar determinado fato, objeto daquela investigação, NÃO podendo a autoridade
policial direcionar as diligências ali realizadas para fatos estranhos àquele procedimento. Assim, as diligências
realizadas em um inquérito visam esclarecer a materialidade e a autoria do fato objeto da investigação policial.

Escrito

Prevalece no inquérito a forma documental. Ainda que existam atos produzidos oralmente, devem eles ser
necessariamente reduzidos a termo. O inquérito é escrito, o que, aliás, é característica eminentemente inquisitiva.

Sigiloso

O sigilo do inquérito tem duas finalidades: a primeira, obviamente, é a de garantir que as próprias diligên-
cias se realizem; enquanto a segunda é garantia do próprio indiciado, contra quem ainda não há indícios suficien-
tes, não se justificando que as meras suspeitas sejam do conhecimento do público em geral. Assim, caso nada
fique comprovado contra o indiciado, será ele devolvido “à sociedade” no status quo ante.

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No momento em que uma das funções do sigilo do inquérito é a de resguardar a figura do próprio indicia-
do, não pode ele ser prejudicado por uma garantia que possui, motivo pelo qual o advogado tem garantido o
acesso às diligências já realizadas. Tal garantia é assegurada pelo art. 7º, XIV, do Estatuto da Ordem dos Advo-
gados do Brasil (Lei no. 8.906/94).

A Súmula Vinculante 14 apenas explicita a prerrogativa estabelecida pela Lei n o. 8.906/94, mas, ressalte-
se, não alcança diligências investigatórias de natureza sigilosa ainda em curso, e sim aquelas já encerradas e
documentadas nos autos do inquérito policial.

Indisponível

Embora regido pela oficialidade (pois o inquérito é conduzido pela polícia judiciária, ou seja, pela Polícia
Federal ou pela Polícia Civil, órgãos de direito público), e pela oficiosidade (em regra, os atos devem ser impulsio-
nados de ofício pela autoridade policial), não poderá o delegado de polícia desistir ou arquivar o inquérito policial.

Prazo do Inquérito

O art. 10 do CPP estabelece que o inquérito deverá ser concluído em 10 (dez) dias em caso de indiciado
preso, e em 30 (trinta) dias no caso de indiciado solto ou quando não houver indiciado.

Este prazo é, no entanto, prazo genérico, devendo ser observada eventual disposição específica em leis
extravagantes. Assim, é no caso dos inquéritos em curso na Polícia Federal, já que o art. 66 da Lei n o. 5.010/66
estabelece o prazo de 15 (quinze) dias no caso de indiciado preso, podendo este prazo ser prorrogado fundamen-
tadamente por mais 15 (quinze) dias. Referida lei não apresenta um prazo para inquéritos de soltos, aplicando-se
o prazo de 30 (trinta) dias do CPP.

Da mesma forma, a Lei de Tóxicos (Lei n o. 11.343/2006 ) apresenta prazo especial no art. 51: 30 (trinta)
dias para inquéritos de presos e 90 (noventa) dias para inquéritos de soltos, podendo tais prazos serem duplica-
dos em caso de extrema necessidade.

Devemos lembrar que o prazo de conclusão do inquérito em qualquer uma das hipóteses acima é, na ver-
dade, prazo para a remessa dele ao Ministério Público que, entendendo pela necessidade de continuidade das
investigações, baixará os autos de volta à delegacia por um novo prazo, requisitando diligências.

Arquivamento e desarquivamento do Inquérito

Uma vez concluído o Inquérito Policial, o mesmo é remetido ao Ministério Público que, na forma do art. 46
do CPP, terá o prazo de 05 (cinco) dias, se o indiciado estiver preso, ou 15 (quinze) dias, se o indiciado estiver
solto, para oferecer denúncia.

Não podemos fazer interpretação literal. A leitura do art. 46 nos indica, na verdade, que o Ministério Públi-
co tem aquele prazo para formar a opinio deliciti, ou seja, analisar as peças de informação, verificando a presença
ou ausência dos requisitos necessários ao exercício da ação penal, podendo: oferecer denúncia, devolver os au-
tos à delegacia para continuidade da investigação ou ainda requerer o arquivamento.

Quando o membro do Ministério Público requer o arquivamento do inquérito ao juiz, havendo discordância,
o mesmo aplicará o disposto no art. 28 do CPP, ou seja, remeterá os autos ao Procurador-Geral, que poderá:
oferecer a denúncia; designar outro órgão do Ministério Público para oferecer a denúncia; insistir no pedido de
arquivamento, ao qual terá o juiz que atender.

Na hipótese do Procurador Geral designar outro promotor ou procurador para oferecer a denúncia, este
membro do MP recebe verdadeira delegação e, apesar de inúmeras críticas doutrinárias, atua como longa manus,
devendo, apesar de sua independência funcional, oferecer denúncia.

O arquivamento do Inquérito Policial tem natureza jurídica de ato administrativo complexo ou composto,
uma vez que somente se concretiza com a participação do Ministério Público, formador da opinião sobre o crime
(opinio delicti), e do Juiz, fiscal do princípio da obrigatoriedade que rege a atuação do MP.

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Por tal motivo, a decisão de arquivamento é administrativa, e dela não há possibilidade de recurso, motivo
pelo qual não faz coisa julgada (exceção à regra geral está na hipótese da promoção de arquivamento fundar-se
na atipicidade da conduta ou ainda na extinção da punibilidade), sendo possível, diante do surgimento de novas
provas, o desarquivamento do inquérito ou mesmo o exercício da ação penal. Neste sentido, temos o art. 18 do
CPP e a súmula 524 do STF.

Art. 18.Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a de-
núncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.

Súmula 524: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode
a ação penal ser iniciada, sem novas provas.

Verifica-se do art. 18 que, mesmo após o arquivamento, é possível ao delegado de polícia a realização de
diligências em razão de notícias de novas provas. Para a ação penal, entretanto, é necessário, como bem observa
a súmula 524 do STF, o surgimento de provas substancialmente novas, que venham a configurar o lastro ou su-
porte probatório mínimo, ou justa causa para a ação penal.

Contudo, embora em regra o arquivamento de inquérito não faça coisa julgada, exceção à regra geral está
na hipótese da promoção de arquivamento fundar-se na atipicidade da conduta ou ainda na extinção da punibili-
dade1. Nestes casos, entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante de que o arquivamento torna-se imutá-
vel, com força de coisa julgada, não sendo possível, ainda que surjam novas provas, o desarquivamento ou a
ação penal.

Há divergências quanto ao arquivamento fundado em excludentes de ilicitude. A jurisprudência é uníssona


quanto à impossibilidade de desarquivamento ou mesmo de ação penal quando o arquivamento está amparado
em atipicidade ou em causa extintiva da punibilidade, mas não há posicionamento pacífico quando os fundamen-
tos do arquivamento estão nas hipóteses do art. 23 do CP. Repare que o STJ2 tem entendimento no sentido de
que também nestes casos o arquivamento tornar-se-ia imutável, mas tal entendimento não encontra guarida no
STF3.

1 "A eficácia preclusiva da decisão de arquivamento de inquérito depende da razão jurídica que, fundamentando-a, não admita desarquivamento nem
pesquisa de novos elementos de informação, o que se dá quando reconhecida atipicidade da conduta ou pronunciada extinção da punibilidade. É que,
nesses casos, o ato de arquivamento do inquérito se reveste da autoridade de coisa julgada material, donde a necessidade de ser objeto de decisão do
órgão competente." (passagem do julgamento da Pet 3943/MG, de 14/04/2008, DJe 23/05/2008).
2 Para o STJ: "DIREITO PROCESSUAL PENAL. EFEITOS DO ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL PELO RECONHECIMENTO DE LEGÍTIMA
DEFESA. Promovido o arquivamento do inquérito policial pelo reconhecimento de legítima defesa, a coisa julgada material impede a rediscussão do caso
penal em qualquer novo feito criminal, descabendo perquirir a existência de novas provas. Isso porque a decisão judicial que define o mérito do caso penal,
mesmo no arquivamento do inquérito policial, gera efeitos de coisa julgada material. Ademais, a decisão judicial que examina o mérito e reconhece a
atípica ou a excludente da ilicitude é prolatada somente em caso de convencimento com grau de certeza jurídica pelo magistrado. Assim, na dúvida, se o
fato deu-se em legítima defesa, a previsão legal de presença de suporte probatório de autoria e materialidade exigiria o desenvolvimento da persecução
criminal. Ressalte-se que a permissão de desarquivamento do inquérito pelo surgimento de provas novas contida no art. 18 do CPP e na Súmula 524/STF
somente tem incidência quando o fundamento do arquivamento for a insuficiência probatória - indícios de autoria e prova do crime. Pensar o contrário
permitiria a reabertura de inquéritos por revaloração jurídica e afastaria a segurança jurídica das soluções judiciais de mérito, como no reconhecimento da
extinção da punibilidade, da atipia ou de excludentes da ilicitude. (...)" (REsp 791.471-RJ, de 25/11/2014, DJe 16/12/2014. (STJ - Inf. 554)
3Segundo o STF: "O arquivamento de inquérito policial em razão do reconhecimento de excludente de ilicitude não faz coisa julgada material. (...) Conso-
ante o Enunciado 524 da Súmula do STF, decisão proferida por juiz competente, em que tivesse sido determinado o arquivamento de inquérito a pedido do
Ministério Público, em virtude de o fato apurado estar coberto por causa excludente de ilicitude, não obstaria o desarquivamento quando surgissem novas
provas. (...) A decisão da Justiça Militar não afastara o fato típico ocorrido, mas sim sua ilicitude, em razão do estrito cumprimento do dever legal, que o
Ministério Público entendera provado a partir dos elementos de prova de que dispunha até então. Nesse diapasão, o eventual surgimento de novos ele-
mentos de convicção teria o condão de impulsionar a reabertura do inquérito na justiça comum, a teor do art. 18 do CPP. Na espécie, a simples leitura das
provas constantes dos autos apontaria uma nova versão para os fatos delituosos, em consequência do prosseguimento das investigações na justiça co-
mum, não havendo impedimento legal para a propositura da nova ação penal contra o paciente naquela seara." (HC 125101/SP, de 25.8.2015).

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Nas infrações de ação penal privada, o pedido de arquivamento por parte do ofendido caracteriza renúncia
ao direito de queixa, extinguindo o juiz, na forma do art. 107, inc. V, do CP, a punibilidade do agente.

ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

Desarquivamento do Inquérito Policial


Como indicado acima, a decisão de arquivamento é ato administrativo composto que, em regra, não faz
coisa julgada material. Por tal motivo, ressaltamos a redação do art. 18 do CPP, e o enunciado da Súmula 524 do
STF:

Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para denún-
cia, a autoridade policial poderá proceder novas diligências, se de outras provas tiver notícia.

Súmula 524 do STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do Juiz, a requerimento do Promotor de Justiça,
não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas.

Destaque-se que o artigo 18 fala em novas diligências em caso de notícia de novas provas. Já a Sú-
mula 524 menciona o início da ação penal, em caso de existência efetiva de novas provas, ou seja, provas já
produzidas e que consubstanciam a justa causa para a ação penal. Há, portanto, distinção entre o art. 18, que
viabiliza o desarquivamento, e a Súmula 524, que se refere ao exercício da ação penal.

Assim, a decisão de arquivamento é rebus sic stantibus, que permanece apenas enquanto não surgir
possibilidade de avanço nas investigações.

Por tudo isso, o professor Afrânio Silva Jardim defende que o desarquivamento deve decorrer de uma
decisão do Ministério Público, fundada em notícias de novas provas e mediante requisição de diligências espe-
cíficas à autoridade policial. Se as novas provas já estiverem produzidas, somente restará apresentar a denúncia,
a qual será apreciada pelo Juiz.

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Embora o art. 18 não condicione a realização de novas diligências à manifestação do Ministério Público, é
entendimento dominante que, numa interpretação a contrario sensu do art. 28 do CPP, a decisão de desarquiva-
mento caberá ao Ministério Público, através do Procurador-Geral de Justiça, o que, inclusive, se encontra estabe-
lecido em diversas leis orgânicas do MP dos Estados.

Desarquivado o inquérito, poderá o mesmo colher os elementos necessários à propositura da ação penal,
o que se espera ocorrer, ou, caso contrário, haverá novamente o arquivamento da investigação.

Surgindo as provas necessárias ao exercício da ação penal, presente estará a justa causa, e, na forma da
Súmula 524 do STF, a denúncia ou a queixa poderá ser oferecida e recebida. Mas vale lembrar que tais provas
podem surgir através das diligências decorrentes de um desarquivamento ou através de outras peças de investi-
gação, já que o inquérito policial é dispensável.

Arquivamento Implícito
O chamado arquivamento implícito é fenômeno que ocorre, segundo parte da doutrina, quando o Ministé-
rio Público deixa de incluir na denúncia algum dos acusados ou parte dos fatos constantes das peças de informa-
ção, sem que sobre eles se manifeste.

Ressalte-se que poderia o titular da ação penal, em sua promoção, requerer ao juiz o traslado das peças
para que elas retornassem à delegacia, com fins de dar continuidade à investigação ou, ainda, entendendo ser
caso de arquivamento, oferecer a denúncia em face dos indiciados contra quem há indícios de autoria e requerer
o arquivamento em relação àqueles cujos indícios estivessem ausentes, o mesmo ocorrendo com fatos suposta-
mente delituosos. Entretanto, o MP nada manifesta, oferecendo uma denúncia, digamos, parcial.

Neste caso, a doutrina que sustenta o arquivamento implícito afirma que ocorreria um pedido tácito de ar-
quivamento, contra o qual o juiz poderia se insurgir, aplicando o art. 28 do CPP, mas, como não o fez, apenas
recebendo a denúncia em relação à parte dos fatos ou agentes, teria se concretizado o arquivamento com relação
aos fatos omitidos na peça de acusação. Neste caso, uma futura denúncia, ou mesmo um aditamento da denúncia
já existente, para a acusação dos fatos anteriormente excluídos de forma tácita, dependeria do surgimento de
novas provas, aplicando-se à hipótese o teor da Súmula 524 do STF.

O arquivamento implícito, assim, pode ser objetivo (arquivamento tácito de fatos) ou subjetivo (arquiva-
mento tácito de supostos agentes). Em ambos os casos, busca a doutrina minoritária garantir a segurança jurídi-
ca.

Entretanto, doutrina majoritária e jurisprudência entendem inaplicável o arquivamento implícito, por des-
respeito à necessidade de fundamentação das decisões.4

4 Vejamos a passagem do julgamento do HC 104356, julgado pelo STF em 19/10/2010 (DJe-233 02/12/2010): "I - Alegação de ocorrência de arquivamen-
to implícito do inquérito policial, pois o Ministério Público estadual, apesar de já possuir elementos suficientes para a acusação, deixou de incluir o paciente
na primeira denúncia, oferecida contra outros sete policiais civis. II – Independentemente de a identificação do paciente ter ocorrido antes ou depois da
primeira denúncia, o fato é que não existe, em nosso ordenamento jurídico processual, qualquer dispositivo legal que preveja a figura do arquivamento
implícito, devendo ser o pedido formulado expressamente, a teor do disposto no art. 28 do Código Processual Penal. III – Incidência do postulado da
indisponibilidade da ação penal pública que decorre do elevado valor dos bens jurídicos que ela tutela. IV – Não aplicação do princípio da indivisibilidade à
ação penal pública."; e no HC 127011 AgR, de 12/05/2015 (DJe-094 21/05/2015): "A jurisprudência deste Supremo Tribunal é firme no sentido de que não
há arquivamento implícito de ação penal pública." No mesmo sentido é o entendimento do STJ (RHC 39468 / RJ, de 16/12/2014, DJe 03/02/2015).

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