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Direito Processual Penal- João Andrade

Inquérito Policial
Olá, meus alunos! Professor João Andrade. Nesta unidade de aprendizagem
nós vamos tratar do inquérito policial.

A pergunta provocadora que inicia a nossa unidade é a seguinte:

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Antes de enfrentarmos diretamente a nossa pergunta provocadora,
precisamos traçar uma definição prévia do inquérito policial.

Então, o inquérito policial nada mais é que um procedimento administrativo de


natureza inquisitorial e preliminar, presidido por uma autoridade pública - em
regra, o delegado de polícia - no bojo do qual são realizadas diligências
investigatórias pelos órgãos de polícia, com a finalidade de colher elementos
de informação acerca de materialidade e autoria de um delito, de forma a
viabilizar a formação da justa causa para a instauração da Ação Penal pelo
legitimado - seja o Ministério Público (MP), seja o querelante, nas ações
penais de natureza privada.

Então, deste conceito fundamental, a gente consegue extrair as principais


características do inquérito policial. Inquérito policial é, portanto, um
procedimento administrativo, no bojo do qual são praticados diversos atos
administrativos, com a finalidade investigatória e sob a presidência, sob a
supervisão e responsabilidade de uma autoridade pública, o delegado de
polícia.

É bem verdade que, atualmente, o inquérito policial não ocupa mais uma
posição de centralidade como em outrora, como nos tempos passados, né? A
gente tem aí - principalmente nas duas últimas décadas - um fortalecimento,
uma profusão de mecanismos investigatórios paralelos ao inquérito policial,
como as atividades desenvolvidas pelas Comissões Parlamentares de

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Inquérito, os procedimentos administrativos a cargos de órgãos específicos,
como, por exemplo, as representações fiscais para fins penais, no âmbito das
secretarias e da receita tributária das secretarias com atividades de
lançamento tributário e no âmbito federal da Secretaria da Receita Federal do
Brasil, a atividade exercida pelo COAF/UIF (Unidade de Inteligência
Financeira) e, mais notadamente, pelo MP, através dos procedimentos
investigatórios criminais, já que hoje encontra-se sedimentado na
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) o poder investigatório do
MP.

Então, paralelamente aí, há o inquérito policial que, nos tempos passados,


ocupava uma posição de maior proeminência na tarefa investigatória, na fase
preliminar do processo criminal, nós temos aí esses outros procedimentos.

Avançando sobre o tema, vamos debulhar as principais características do


inquérito policial.

Uma delas é que ele é um procedimento de natureza inquisitorial, não


submetido, portanto, a um contraditório e à ampla defesa, tal qual sucede no
processo judicial. Isso, por uma questão, na verdade, muito simples: o
inquérito policial não se destina à aplicar uma sanção, à aplicar uma pena.
Bem por essa razão - por não se destinar à aplicar uma sanção - é que as
garantias do contraditório e da ampla defesa não incidem em toda a sua
plenitude, em toda a sua latitude.

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Então, em regra, por se tratar de um procedimento inquisitorial, não destinado
à aplicação de uma sanção, mas destinado à coleta de elementos de
informação sobre materialidade e autoria delitiva que possivelmente poderão
subsidiar a propositura de uma ação penal, é que o inquérito policial não se
sujeita a contraditório e ampla defesa plenas.

Aqui, eu retomo a nossa pergunta provocadora, que deu início a nossa


unidade: houve uma mitigação da natureza inquisitorial ao longo do
tempo, por conta de modificações legislativas que nosso direito positivo
passou e vem passando?

Sem dúvida nenhuma. Uma dessas grandes mitigações à natureza


inquisitorial do inquérito policial diz respeito à alteração promovida lá no ano
de 2016, pela Lei 13.245, que alterou a Lei 8.906/94 - o Estatuto da Advocacia
- ao prever aí, no art. 7º, que arrola os direitos e prerrogativas do advogado, a
possibilidade do investigado constituir um defensor no curso da investigação e
este defensor, por exemplo, poder apresentar petições, arrazoados, em uma
prova pericial, eventualmente, apresentar quesitos a serem respondidos pelo
perito designado pelo delegado de polícia.

Então, essa lei - sem dúvida nenhuma - mitigou esse caráter inquisitorial do
inquérito policial. Ao lado dessa lei, a gente pode indicar ainda jurisprudência
sumulada do STF, que garante acesso amplo do advogado aos
procedimentos investigatórios, inclusive ao inquérito policial, no que toca às
diligências não sigilosas já registradas no bojo desse procedimento
administrativo.

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Mais recentemente, no ano de 2019, com o advento da Lei nº 13.964/2019, o
nosso conhecido Pacote Anticrime, podemos afirmar aqui, sem medo de
incorrer em alguma erronia, que a gente teve mais uma atenuação do caráter
inquisitorial do inquérito policial, porque o art. 14-A - introduzido pelo Pacote
Anticrime no nosso Código de Processo Penal (CPP) - passou a prever uma
presença quase que obrigatória, mandatória do advogado naqueles delitos em
que investiga-se o uso de força letal, praticados no exercício da atividade
profissional pelos órgãos de segurança pública, previstos no art. 144 da
Constituição Federal (CF/1988).

Então, vejam aí que o art. 14-A do CPP, diz que

Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas


no art. 144 da Constituição Federal figurarem como investigados em
inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos
extrajudiciais, - evidentemente com a finalidade investigatória - cujo objeto for
a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no
exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações
dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), - aquelas situações de excludentes de ilicitude - o indiciado
poderá constituir defensor.

Veja aí que é uma franquia, uma faculdade do investigado, mas se - na


forma do § 1º e § 2º, do art. 14-A - o investigado quer dar-se inerte, é dever da
autoridade policial promover a comunicação ao órgão respectivo (à Polícia
Militar, à Secretaria de Segurança Pública, à Polícia Civil), para que esse
órgão ao qual o servidor se encontra vinculado providencie a constituição de
um defensor formal para acompanhar o procedimento investigatório. 

Então, sem dúvida nenhuma, tem-se, aqui, ainda uma vez, mais um elemento
a indicar a atenuação, a mitigação do caráter inquisitorial no inquérito policial.

Por ser um procedimento administrativo, no bojo do qual são praticados atos


administrativos - atos administrativos, estes, sujeitos a todos aqueles atributos
da teoria geral do ato administrativo que a gente estuda no Direito
Administrativo (a presunção de veracidade e legitimidade, a
autoexecutoriedade, por exemplo), por se tratar de um procedimento

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administrativo, eventuais irregularidades, eventuais nulidades praticadas no
bojo do inquérito, sujeito seria às nulidades próprias do direito administrativo.
Significa dizer que essas nulidades, essas irregularidades administrativas não
têm o condão de contaminar a validade de eventual ação penal que venha a
se instaurar posteriormente à conclusão no inquérito policial.

Então, eventuais vícios, nulidades, irregularidades praticadas no bojo de um


inquérito policial não afetam a validade da ação penal.

Então, vou dar aqui um exemplo: se, no curso de um depoimento, de um


interrogatório, colhido pelo delegado de polícia no inquérito policial, o
investigado, na presença de seu defensor, por exemplo, esquece de rubricar
todas as folhas do interrogatório e o seu defensor esquece de assinar o termo
de interrogatório. Esta irregularidade na documentação do interrogatório não
irá prejudicar a validade de eventual ação penal que venha a suceder este
inquérito policial, tá certo?

Então, fique atento à nossa jurisprudência.

JURISPRUDÊNCIA

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Avançando aqui na nossa unidade, quais as finalidades do inquérito
policial?

Se nós voltarmos lá àquele conceito inicial, vamos perceber que a finalidade


do inquérito policial não é aplicar uma sanção, como eu já deixei assentado. O
inquérito policial destina-se a coletar, a apurar, a levantar elementos de
informação acerca de materialidade do delito e de sua autoria, investigando o
fato criminoso em toda a sua plenitude, em todas as suas circunstâncias, de
forma a viabilizar essa atividade investigatória a eventual instauração da ação
penal, pelo órgão do MP ou pelo querelante, tá certo?

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Além dessas diligências investigatórias - não há dúvida disso - pode ser
praticada também, no curso do inquérito policial, uma atividade probatória em
sentido estrito, aquela prova sujeita ali à supervisão seja ex ante, seja ex
post da autoridade jurisdicional, do Judiciário.

Exemplo: uma medida de busca e apreensão domiciliar, uma medida de


interceptação telefônica e podem ser, ainda, praticadas, no bojo do inquérito
policial, também, medidas acautelatórias, como o sequestro e o arresto de
bens ou mesmo a concessão de fiança, seja pelo delegado de polícia, nas
autoridades em que está habilitado a tanto, seja pela autoridade judicial, tá
certo?

Então, na forma da Lei nº 12.830/2013, a condução do inquérito policial cabe


ao delegado de polícia. Então, o § 1º, do art. 2º, da Lei nº 12.830 deixa claro
que:

Art. 2º. § 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe


a condução da investigação criminal - veja aí que a palavra investigação tem
que estar aí com uma tônica, com a ênfase, pois ela constitui a finalidade
precípua do inquérito policial - cabe a condução da investigação criminal, por
meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem
como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria
das infrações penais.

A presidência do inquérito policial - a gente já viu, eu já antecipei - cabe à


autoridade policial que, em regra, é o delegado de polícia, tá certo?

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Então, a investigação e a condução do inquérito ficarão a cargo, em regra, do
delegado de polícia que tem aí atribuição para atuar no local em que praticado
o delito. Essa é a regra geral.

Ao delegado de polícia que incumbe conduzir as investigações, adotando


aquele conjunto de diligências - que a gente vai ter oportunidade de ver aqui -
do art. 6º, do CPP, cabe ainda o dever de guardar o devido sigilo na apuração
de sorte, a não prejudicar a eficácia, não prejudicar a frutuosidade da
investigação, a frutuosidade do inquérito policial.

Vejamos aqui, quem é a autoridade competente para instaurar e conduzir o


inquérito policial em delitos de competências jurisdicionais diversas.

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Tratando-se da Justiça Militar da União e da Justiça Militar do Estado. A gente
sabe aí que há uma bipartição da nossa Jurisdição Militar em Justiça Militar
da União e Justiça Militar do Estado e a gente vai ter oportunidade de estudar
isso no momento oportuno. Na Justiça Militar Estadual, cabe à Polícia Militar
conduzir, instaurar e presidir o inquérito policial militar, já na Justiça Militar da
União, cabem às Forças Armadas, ao Exército, à Marinha ou Aeronáutica,
conforme for caso, investigar os delitos de sua atribuição também por meio do
inquérito policial militar.

Delitos de competência da Justiça Federal ou Eleitoral, em regra, são


investigados pela Polícia Federal. Cabe, portanto, a um delegado da Polícia
Federal instaurar e conduzir essa investigação, pautado na atribuição que lhe
é dada, lhe é confiada, diretamente pelo art. 144, §1º da Constituição Federal.

Veja, aqui, que esse dispositivo é claro ao dispor que:

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e


mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:        

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento


de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,
segundo se dispuser em lei;

Que lei é essa?

Está aí indicada para vocês, é a Lei nº 10.446/2002 que estrutura as


atribuições da Polícia Federal, tá certo? Então, da leitura deste dispositivo
surge, claro, aí, que, no plano constitucional e infraconstitucional, a Polícia
Federal tem a atribuição de investigar não só delitos de competência da
Justiça Federal, mas como delitos de competência da Justiça Eleitoral e
também delitos de competência da Justiça Estadual, desde que estes delitos
tenham repercussão interestadual ou internacional e se exija - conforme a Lei
nº 10.446/2002 - uma repressão uniforme.

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Por fim, na Justiça Estadual, os delitos que se processam na Justiça Comum
Estadual são, em regra, investigados pela Polícia Civil, portanto, inquérito
policial, nessa situação, é instaurado e conduzido por um delegado de Polícia
Civil.

Em desfecho ao tópico, não erre.

NÃO ERRE
Reforçando a advertência que eu já fiz:

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Os poderes da autoridade que preside o inquérito policial - a gente viu:
cumpre ao delegado de polícia, mesmo de ofício - por portaria - ou havendo
uma comunicação de uma prisão em flagrante, instaurar o inquérito policial e,
no bojo desse procedimento investigatório, adotar uma série de diligências
investigatórias, previstas lá em rol não exaustivo no art. 6º, do CPP.

Aí, indaga-se: é dever, é obrigação a autoridade policial está jungida a


adotar todas aquelas diligências previstas ali no art. 6º, como, por
exemplo, a preservação do local do crime, a coleta dos instrumentos e
do objeto do crime, a realização de uma prova pericial, oitiva de
testemunhas, oitiva do flagranteado, reconstituição simulada dos fatos?
A autoridade policial, em todo e qualquer crime, deve adotar todas essas
diligências?

Evidentemente que não, porque a investigação está sujeita a uma


discricionariedade regrada da autoridade policial. A autoridade policial tem
uma liberdade, um campo de conformação, de formação do convencimento
para adoção das diligências que, à juízo desse delegado de polícia, sejam
necessárias e eficazes para apuração do fato.

Então, a autoridade policial é dotada de uma discricionariedade regrada para


adoção das diligências investigatórias.

O inquérito policial é, ainda, um procedimento investigatório, ele tem prazo


certo para terminar. Ele não pode se protrair indefinidamente no tempo, sob
pena de causar não só uma situação, um estado de insegurança para o
investigado, como, também, um dispêndio desnecessário de recursos
públicos, de atividade do Estado, atividade esta custeada pelo contribuinte,
está certo?

Então, o inquérito policial, sendo um procedimento temporário, tem o seu


prazo de duração previsto em lei.

E que prazos são esses?

Fique atento ao nosso conteúdo importante.

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CONTEÚDO IMPORTANTE
A regra geral, disposta no CPP, adota como parâmetro, como baliza para a
duração do inquérito policial, o fato de o investigado estar ou não
encarcerado, preso.

• Se o investigado estiver preso, em regra, o inquérito policial deve ser encerrado em 10 dias
improrrogáveis - essa é a regra geral do CPP.
• Se o réu estiver solto, o prazo de duração é de 30 dias, prorrogáveis a requerimento do
delegado de polícia e com autorização judicial.
• Se o inquérito, no entanto, for conduzido pela Polícia Federal e o réu estiver preso, o seu
prazo de duração não é de 10 dias, mas sim de 15 dias, podendo - nesta situação de
inquéritos conduzidos pela Polícia Federal - ser prorrogado uma única vez por autorização
judicial, tá certo?
• Se o réu estiver solto, o inquérito deverá durar 30 dias, sendo prorrogável diversas vezes a
requerimento da autoridade policial e, também, com autorização judicial.
• Crimes contra a economia popular: estando o réu preso ou solto, o prazo de encerramento do
inquérito policial é de 10 dias.
• Na Lei de Drogas, estando o réu preso, o prazo é de 30 dias (é um prazo mais dilatado),
podendo ser duplicado para 60 dias com autorização judicial.
• Se o réu estiver solto, esse prazo é de 90 dias, podendo ser duplicada em ambos os casos, a
requerimento da autoridade policial, ouvido o MP e com autorização judicial.

É importante que você tenha em mente, meu aluno, que em todas essas
situações de inquéritos com réu preso, se o inquérito não é concluído no

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prazo legal, tem-se uma situação conducente à ilegalidade da prisão, a
demandar o seu relaxamento pela autoridade judicial. 

A conclusão do inquérito policial.

A conclusão do inquérito policial, em regra, se dá através da elaboração do


relatório conclusivo, no qual o delegado de polícia vai narrar a forma pela qual
ele instaurou o inquérito policial, o conjunto de diligências que foram
adotadas, as diligências investigatórias de ofício, eventuais medidas
cautelares que foram adotadas, com ou sem autorização judicial, eventuais
medidas probatórias que foram adotadas no curso da investigação e,
descritos todos esses conjuntos de diligências, todos os incidentes que
aconteceram no curso da investigação, a autoridade elabora, portanto, esse
relatório que tem uma natureza eminentemente descritiva.

Embora possa constar - e, em regra, consta esse juízo de valor do delegado


de polícia - quando o relatório conclusivo é acompanhado também do
indiciamento.

Então, em regra, o relatório é um ato eminentemente descritivo, mas que


pode conter alguma espécie de valoração jurídica, valoração sobre tipicidade,
ilicitude, culpabilidade, elementos de materialidade e autoria, quando, no bojo
do relatório, é praticado o indiciamento.

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Durante muito tempo, o indiciamento era apenas uma categoria doutrinária no
processo penal. Se você for se debruçar sobre livros, sobre a doutrina
processual clássica e mais antiga, livros desatualizados, vai perceber da
literatura dogmática do processo penal, que muitos doutrinadores ou não
fazem referência ao indiciamento, ou falam que o indiciamento era um ato
sem previsão, sem base legal. Essa afirmação, atualmente, não é mais
verdadeira.

Então, o indiciamento está previsto formalmente em nosso direito positivo, ele


é o ato pelo qual a autoria de um fato delituoso é atribuído formalmente a uma
pessoa determinada. O indiciamento é praticado no curso da investigação, é
um ato privativo do delegado de polícia, da autoridade policial, ele é um ato
vinculado e que deve ser feito de forma fundamentada, com a indicação dos
elementos de materialidade e de autoria, e - conforme já dito - cabe à
autoridade policial.

Essa previsão se extrai aí da Lei nº 12.830/2013, que diz aí no seu § 6º, do


art. 2º que:

§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato


fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a
autoria, materialidade e suas circunstâncias.

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O momento para a realização do indiciamento é em qualquer fase da
investigação preliminar, inclusive no seu limiar, no início da investigação
preliminar.

Embora, em regra, o indiciamento como ato vinculado e fundamentado, seja


feito aí de ordinário, no relatório final pelo qual a autoridade policial conclui a
sua investigação, conclui o inquérito policial.

Eu indago a vocês: se ele pode ser feito a qualquer momento, poderia


mesmo depois de instaurada a persecução criminal em juízo a
autoridade policial promover o indiciamento? Oferecida e, por exemplo,
recebida uma denúncia, pode a autoridade policial promover o
indiciamento após a instauração da persecutio criminis em juízo?

A jurisprudência, em regra, não tem admitido o indiciamento após a


instauração da ação pena, de modo que, balizado nessa premissa, a gente
pode dizer que o indiciamento pode ocorrer em qualquer fase na investigação
preliminar, mas ele tem como termo o oferecimento da denúncia pelo
legitimado - seja o MP, seja o querelante nas ações penais de natureza
privada.

Pode haver o chamado desindiciamento, ou seja, a não atribuição de


materialidade e autoria a uma pessoa determinada?

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Sim, é possível. A jurisprudência admite essa figura do desindiciamento,
inclusive, mediante a impetração de habeas corpus quando há aí um abuso,
um erro evidente, manifesto, por parte da autoridade policial em atribuir a
autoria e materialidade a uma pessoa determinada, que não tem qualquer
vinculação com a investigação. Então, nessa situação de indícios
manifestamente frágeis, seja de autoria ou materialidade, o Judiciário pode
promover o controle de legalidade do ato de indiciamento, chamando-se essa
figura de desindiciamento.

O juiz pode requisitar o indiciamento de investigados?

JURISPRUDÊNCIA
Você já deve estar aí inferindo qual é a nossa resposta. A nossa resposta vem
da jurisprudência do STF. Então, veja aí.

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Jurisprudência do ano de 2013, do STF.

Não confunda, entretanto, essa situação de requisição de indiciamento pelo


Judiciário com as situações do indiciamento de pessoas sujeitas à foro por
prerrogativa de função.

Essas pessoas que gozam do foro de prerrogativa de função, a investigação


destas autoridades públicas é supervisionada pelo Poder Judiciário - em
regra, por um relator designado nos Tribunais Superiores ou nos Tribunais de
Segundo Grau, certo? Então, para que haja o indiciamento dessas pessoas -
nos termos da jurisprudência do STF - deve haver aí uma autorização prévia,
por parte do Judiciário.

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Quais são as medidas posteriores passíveis de serem adotadas, após a
conclusão do inquérito policial?

Muito simples: ou se oferece a denúncia pelo MP, ou a queixa pelo


querelante, pelo ofendido; ou se promove o arquivamento do inquérito policial,
pelo MP, não podendo a autoridade policial desarquivar o inquérito policial
sem o surgimento de novos indicativos, de novos elementos de informação
acerca da prática do delito; ou o próprio órgão do MP chega à conclusão de
que são necessárias, ainda, outras diligências para a formação da sua opinio
delicti. Aí, ele devolve o inquérito policial para que a autoridade policial
prossiga na investigação, com a adoção de novas diligências.

Então, além do oferecimento da denúncia ou queixa, além da possibilidade de


requerimento de novas diligências por parte do MP ou além do arquivamento
do inquérito, são possíveis, ainda, o oferecimento de medidas negociais.
Notadamente, o SURSIS processual, previsto no art. 89 da Lei 9.099, ou o
nosso acordo de não-persecução penal, previsto, hoje, no art. 28-A, do CPP.

Então, em resumo, são essas as quatro situações passíveis de ocorrência em


momento posterior à conclusão do inquérito policial. 

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