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Direito Processual Penal- João Andrade

Condições De Procedibilidade
Olá meu caro aluno! Nesta unidade de aprendizagem nós vamos tratar das
denominadas condições de procedibilidade.

E eu faço a seguinte pergunta a você, meu aluno:

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Essa pergunta provocadora se relaciona de forma muito íntima com as
condições de procedibilidade do processo penal, que não se confundem com
as condições genéricas da ação penal no processo penal.

Então, condições de procedibilidade consistem em requisitos específicos da


ação penal, incidentes em apenas determinadas espécies de delitos.

Então, só haverá condição de procedibilidade, como a gente vai ver aqui,


quando a própria legislação, seja de direito material, seja de direito
processual, preveja uma condição para que a persecução penal possa ser
instaurada.

São as seguintes situações de condições de procedibilidade no âmbito do


processo penal:

1 - A representação do ofendido nas ações penais públicas condicionadas à


representação. Aí a previsão é no art. 100, § 1º do Código Penal (CP)
e no próprio art. 24 do Código de Processo Penal (CPP).

2 - A requisição do ministro da Justiça é outra condição de procedibilidade


que a gente vai estudar aqui cm bastante detença.

3 - Uma outra condição de procedibilidade é a entrada do agente brasileiro em


território nacional, nos crimes cometidos no estrangeiro. Então, quando um

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brasileiro comete um crime fora do território nacional, para que a ação penal
seja instaurada em território nacional, necessariamente nós teremos que o
agente criminoso que ingressar em território brasileiro, satisfazendo, portanto,
a condição de procedibilidade prevista no art. 7º, § 2º, do CP.

4 - Uma outra condição de procedibilidade é a existência de uma sentença cível de anulação de


casamento, no crime do art. 236 do CP. Então, este delito, o
parágrafo único deste dispositivo exige que para que a ação penal seja instaurada, previamente
se preencha esta condição de procedibilidade de anulação do casamento.

5 - O exame pericial homologado pelo juiz nos crimes contra a propriedade imaterial é uma
condição de procedibilidade, prevista no CPP, art. 529
caput.

6 - E ainda se aponta como condição de procedibilidade, a autorização por parte do Poder


Legislativo, para processar o presidente da República, o vice-presidente e os governadores -
muita atenção -, tanto nos crimes comuns, como nos denominados crimes de responsabilidade
que, como sabemos, não são propriamente crimes, mas infrações de natureza político-
administrativa.

Estão aí elencadas as seis hipóteses de condições de procedibilidade no


âmbito do processo penal.

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Vamos agora tratar especificamente de uma dessas condições, de
procedibilidade, que é a requisição do ministro da Justiça nos casos de ação
penal pública condicionada.

Qual o conceito?

Esta requisição é um ato de natureza político-jurídica ou jurídico-política, por


meio da qual o ministro da Justiça autoriza a propositura da ação penal por
parte do Ministério Público (MP) em determinadas espécies de delito.

Aqui, muito importante, um ponto de sumo relevo para o bom entendimento


da questão: nós vimos que tanto na ação penal privada, quanto na ação penal
pública condicionada à representação, há estas duas categorias a finalidade
de se evitar o escândalo do processo, o strepitus judicii.

Essa mesma finalidade ocorre, informa aqui o instituto da requisição por parte
do ministro da Justiça. Aí, a requisição vai funcionar como um instrumento
para se reputar conveniente ou não a instauração da ação penal, tanto para
evitar um escândalo processual, quanto para evitar, eventualmente, uma
turbulência, uma ranhura no âmbito das relações de direito público
internacional, no âmbito das relações travadas entre o Governo brasileiro e
nações soberanas estrangeiras.

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Isso porque a requisição do ministro da Justiça é prevista nos crimes contra a
honra, cometidos contra chefes de governo estrangeiros. Em dadas situações,
o Governo brasileiro, para manutenção de uma boa relação em âmbito
internacional, pode reputar mais conveniente não se requisitar, não autorizar a
instauração da persecução penal em juízo.

Então, trata-se, portanto, de uma condição de procedibilidade que deve ser


lida como uma mera autorização para eventual instauração da ação penal.
Então, é importante a gente notar aqui que, embora fale-se em requisição,
este ato emanado do ministro da Justiça não é um ato de natureza
mandatória, não é um ato de natureza obrigatória.

Então, quando um ministro da Justiça requisita, ele não está emitindo uma
ordem ao membro do MP, e nem poderia sê-lo, já que não há entre eles uma
relação de hierarquia, e mais importante ainda, o membro do MP, por força de
preceito constitucional, é dotado de independência funcional para avaliar a
presença ou não de autoria e materialidade, de tipicidade, de ilicitude, de
culpabilidade no fato que tenha sido objeto da requisição. Então, não obstante
a nomenclatura, referido ato praticado pelo ministro da Justiça não implica
ordem ao membro do MP.

Sobre o ponto, eu trago aqui importante visão do especialista.

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VISÃO DO ESPECIALISTA

Então, muita atenção, a requisição não é vinculativa, não é mandatória, não é


obrigatória.

E quais são os delitos que exigem, que demandam a requisição do


ministro da Justiça?

Basicamente dois:

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• Crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil. Então, veja aí
que são três requisitos:

1. o estrangeiro figure como sujeito ativo;


2. o brasileiro configure como sujeito passivo da conduta delituosa; e
3. o delito tenha, necessariamente sido cometido fora do Brasil.

Então, na forma do CP, art. 7º, § 3º, "b", há aí a exigência


da condição de procedibilidade da requisição do ministro da Justiça.

• E a outra hipótese é no caso de delitos contra a honra praticados contra o


Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro, é a previsão
do art. 141, I c/c com o art. 145 do CP e, também, o art. 26 da Lei nº
7.170/1983.

Então, muita atenção em relação a esta previsão.

A requisição do ministro da Justiça:

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Prazo para apresentação da requisição do ministro da Justiça, aqui é muito
importante. Diferente da representação, que deve ser ofertada em seis
meses, a requisição não se sujeita a este prazo de decadência.

Então, ela pode ser oferecida, a requisição do ministro da Justiça, a qualquer


tempo, deve-se observar somente o prazo de prescrição do ius puniendi
para a persecução penal, prazo de prescrição penal do delito, objeto da
requisição do ministro da Justiça.

Então, muita atenção a este conteúdo importante.

CONTEÚDO IMPORTANTE

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Não se aplica, portanto, repito aqui à exaustão, o prazo de decadência de seis
meses, aplica-se apenas o prazo de prescrição penal.

E uma indagação que eu faço a vocês meus alunos:

É possível haver a retratação da requisição? Em outros termos, se o


ministro da Justiça apresenta a requisição, endereça ao chefe do MP,
mas posteriormente, de acordo com o seu próprio juízo de conveniência
e oportunidade, ele venha a se arrepender, ele pode retirar, revogar esta
requisição e cassar a autorização que foi dada?

Esta questão é turbulenta na doutrina, por conta da omissão no CPP. O CPP


não trata, não enfrenta esta questão, diferentemente do que ocorre na
representação. 

Nos casos dos crimes de ação penal pública condicionada a representação,


nós temos aí a previsão do art. 25 do CPP, onde está dito:

Art. 25.  A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia.

Ou seja, a contrario sensu, na representação, pode haver a retratação até o


oferecimento da denúncia.

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Indaga-se: Este dispositivo poderia ser aplicado por analogia à
requisição do ministro da Justiça?

É este o grande ponto de divergência doutrinária sobre o tema, mas o


entendimento majoritário e que me parece mais acertado, é que admite-se a
hipótese de retratação, aplicando-se analogicamente o regramento do art. 25
do CPP. Então, o ministro da Justiça pode se retratar e retirar a requisição,
desde que o faça até o oferecimento da denúncia, até o oferecimento da peça
acusatória.

Me parece aqui que é o regime mais consentâneo com a natureza jurídico-


política do ato requisição, é um ato que está sujeito, orientado, ordenado pelo
juízo de conveniência e oportunidade política, do ministro da Justiça, estando
sujeito este juízo de conveniência e oportunidade, ele pode ser revogado,
desde que o seja até o oferecimento da ação penal, que ostenta a natureza
de indisponível, depois de oferecida não se encontra mais na esfera de
disponibilidade do Ministério da Justiça e tampouco do MP, que não pode
desistir da ação penal já ofertada.

Esse me parece o melhor entendimento a respeito desta questão.

Por fim, um tema bastante interessante é a chamada eficácia objetiva da


requisição.

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O ministro da Justiça requisita a apuração, autoriza a instauração da ação
penal contra determinados fatos e não contra determinados sujeitos, então, se
a requisição que tem por objeto o fato A, indica-se como praticante, como
suposto agente deste delito A a figura de João, eventualmente, se o MP
descobre a participação ou a coautoria de uma outra pessoa, juntamente com
João, que foi objeto da requisição, poderá, tranquilamente, haver a
instauração da ação penal contra este outro sujeito, que não fora,
originalmente, objeto da requisição.

Em outras palavras, a requisição se pauta, se funda em fatos e não


propriamente em sujeitos. Feita a requisição sobre um fato, o MP pode ajuizar
a ação penal contra quem quer que seja o seu coautor ou partícipe. Essa é a
chamada Eficácia Objetiva da Requisição.

E sobre o ponto, eu trago aqui um conteúdo importante para a gente finalizar


a nossa exposição.

CONTEÚDO IMPORTANTE

Significa dizer, em desfecho à nossa exposição, que pode tranquilamente o


MP propor a ação penal contra outros sujeitos que não tenham sido referidos
na requisição do ministro da Justiça, mas cuja investigação tenha
demonstrado a prática ou indícios de participação.

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Então, com essa exposição acerca da eficácia objetiva da requisição, a gente
encerra esse estudo da primeira parte das condições de procedibilidade e,
mais a frente, nós vamos nos debruçar sobre o chamado estudo da
representação nos crimes de ação penal pública condicionada.

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