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10 TESES

DEFENSIVAS E
INOVADORAS
NA EXECUÇÃO
PENAL

CEI Acadêmico
INTRODUÇÃO

Elas podem diferenciar sua Mais e mais dessas teses serão


atuação defensiva no ensinadas no Curso de Cálculo de
processo de execução penal. Execução Penal na Prática, com
A atuação defensiva e ativa profundidade. Neste momento te
na Execução Penal depende apresentarei somente alguns
muito mais do que pontos sobre as teses que serão
simplesmente saber aplicar a verticalmente trabalhadas nas
lei no caso concreto. Ela exige aulas.
ciência do funcionamento do BÔNUS: Neste mesmo documento
processo de execução penal te disponibilizarei uma tabela,
para estrategicamente atuar apelidada pelos alunos das
frente aos obstáculos que se edições anteriores do curso, de
apresentam – a teoria dos “Tabelinha milagrosa”, que
jogos reina na execução contém todas as frações e
penal. porcentagens necessárias para
Pensando nisso e na evolução atuar na Execução Penal.
da jurisprudência em Aproveite-a!
determinadas matérias Inscreva-se para o evento
dentro do Direito de Execução gratuito que ocorrerá no dia 22 de
Penal, preparei este material junho de 2022 (22/06/2022 –
para você se orientar e se quarta-feira), às 19h, quando te
preparar para alguns desses apresentarei “TUDO QUE VOCÊ
casos. PRECISA SABER SOBRE
Essas são discussões que ora PROGRESSÃO DE REGIME”.
encontram respaldo nos Tenho certeza de que essa aula
Tribunais, ora são refutadas. irá mudar sua forma de enxergar
Algumas delas o Direito à Progressão de Regime
verdadeiramente inovadoras e o Direito de Execução Penal.
e promissoras. Te aguardo lá!

Projeto Gráfico
Thamara Hipólito O. Costa

Revisão
Matheus Oliveira Patricio
Professor
José Flávio Ferrari

Pós-Graduado em Direito Penal e


Criminologia pela PUC/RS. Pós-
Graduando em Execução penal pelo
CEI. Professor de Execução Penal.
Assessor de Juiz do TJPR.
Administrador do perfil Puxando
Pena (@puxandopena).

E-mail: joseflavioferrari@gmail.com
SUMÁRIO
PROGRESSÃO DE REGIME PER SALTUM 5

MONITORAÇÃO ELETRÔNICA 7

FALTA GRAVE – RECUSA À SUBMISSÃO

AO PERFILAMENTO GENÉTICO 9

LIMITE DA REVOGAÇÃO DE ATÉ 1/3 DOS

11
DIAS REMIDOS

CUMPRIMENTO INICIAL DA PENA MAIS GRAVE 13

RETROATIVIDADE INDIVIDUALIZADA DA LEI

PENAL MAIS BENÉFICA – NÃO É LEX TERTIA 15

COMUTAÇÃO E INDULTO EM CRIME DE

ASSOCIAÇÃO PARA FINS DE TRÁFICO 17

AFASTAMENTO DA HEDIONDEZ POR

EQUIPARAÇÃO DO CRIME DE TRÁFICO DE

19
DROGAS

UNIFICAÇÃO DE PENAS COM REGRESSÃO DE


22
REGIME – A DATA-BASE

DETRAÇÃO PENAL DE PERÍODO CUMPRIDO

24
POR CRIME DIVERSO
PROGRESSÃO DE

REGIME PER SALTUM


Os regimes prisionais são o fechado, semiaberto e
aberto. Somente a progressão direta é admitida pelos
tribunais, ou seja, do fechado ao semiaberto e do
semiaberto ao aberto.
Mas será que existem possibilidades de a progressão
ser do regime fechado ao aberto? De Direito não, mas
de fato sim. Explico.
Os Tribunais Superiores não admitem a progressão do
regime fechado ao semiaberto, por ofender os
princípios basilares do sistema progressivo. Por outro
lado, existem situações que uma vez configuradas,
permitem a espécie de progressão (inclusive,
descaracteriza a progressão per saltum).

Esses casos normalmente decorrem da demora do


Estado, em que o interno é obrigado a permanecer no
regime fechado apesar de preencher o requisito para a
progressão ao regime semiaberto, e até que tenha o
direito reconhecido, atingiu novamente o requisito para
a progressão ao aberto.
Nesse caso o juiz reconhecerá duas progressões
sucessivas, levando à progressão de regime do fechado
para o aberto, ao menos de fato (no direito essa pessoa
progrediu duas vezes).

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Algumas dessas situações são:
1.Adequação do regime prisional quando da
juntada da Carta de Guia e consequente
progressão de regime prisional levando em
conta o tempo de detração penal;
2.Quando a pessoa privada de liberdade
atinge o direito a uma nova progressão de
regime enquanto aguarda no regime fechado
a conclusão de um exame criminológico ou a
liberdade em processo diverso;
3.Pode acontecer também quando uma falta
grave longínqua é reconhecida e resulta na
regressão de regime prisional, mas em razão
do tempo desde a data-base (falta grave) ele
já preencheu os requisitos para as
progressões (vale lembrar que a reabilitação
da falta grave deve respeitar o artigo 112, §7º
da LEP).

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MONITORAÇÃO

ELETRÔNICA
Às vezes é difícil justificar o injustificável,
não é?
Muitas vezes a justificativa eficaz foca em
questões circunstanciais do descumprimento
das condições estabelecidas para a
monitoração eletrônica.
Por vezes a simples comprovação de contato
ou tentativa de contato com o setor
administrativo no instante imediato após a
infração é capaz de demonstrar a
necessidade ou culpa da infração.
Minimizar o dano no cumprimento da pena
pode ser um bom justificador. Demonstrar
que aquela infração disciplinar não resultou
em prejuízo ao cumprimento da pena e à
execução penal, seja porque a infração foi
pontual e não se prolongou no tempo, seja
por existir um motivo relevante para o
descumprimento.

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Outro argumento consiste em demonstrar que
a infração não foi dolosa, mas sim culposa,
decorrente de falha no carregador ou outro
componente eletrônico. Fotos e gravações
podem ajudar.
E aqui vai uma das teses e lições mais
promissoras:
A regressão de regime não é a única solução
para o caso.
Podem existir outras consequências menos
graves a serem tomadas, como a advertência,
multa, até mesmo a suspensão do
cumprimento da pena no dia da infração,
revogação da tornozeleira sem regressão e
outras imagináveis.
Importante lembrar que para a aplicação das
sanções disciplinares, levar-se-ão em conta a
natureza, os motivos, as circunstâncias e as
consequências do fato, bem como a pessoa do
faltoso e seu tempo de prisão.
Trabalhe bem isso.

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FALTA GRAVE – RECUSA À SUBMISSÃO

AO PERFILAMENTO GENÉTICO
Sobre a falta disciplinar grave decorrente da
negativa da pessoa privada de liberdade em
realizar o procedimento de identificação do
perfil genético, inserido no inciso VIII, do
artigo 50 da Lei 7.210/84 (Lei de Execução
Penal), pela Lei Anticrime (Lei 13.964/2019)
há muito o que falar.
A inconstitucionalidade, ilegalidade e
autoritarismo da norma são evidentes.
Desde a motivação aos efeitos decorrentes
de sua aplicação são vários os motivos pelo
qual espera-se ser declarada
inconstitucional.

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A nova hipótese de falta disciplinar de natureza
grave foge completamente à lógica disciplinar da
execução penal brasileira. Ao criar uma hipótese
de falta grave que nada de disciplinar possui,
consistente na recusa ao perfilamento genético,
fica evidenciada sua origem estritamente
probatória e autoritária.
Além disso, a novidade legislativa quebra com o
direito de todo cidadão à não autoincriminação e
viola a dignidade da pessoa humana por ofensa à
vedação de prisão perpétua e cruel. Viola a
individualização da pena, possibilita a imposição
de regime integralmente fechado e pode
configurar verdadeiros maus tratos e
eventualmente tortura.
A falta disciplinar instituída pela Lei “Anticrime”
(Lei 13.964/2019) nos artigos 9º-A, §8º e 50, inc. VIII
da Lei de Execução Penal, caracterizada pela
recusa ao perfilamento genético, não possui
nenhuma base sólida que a justifique. Muito pelo
contrário, a forma como foi prevista ofende
princípios mais basilares de aplicação da pena e
produção probatória.

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LIMITE DA REVOGAÇÃO DE ATÉ

1/3 DOS DIAS REMIDOS


A revogação dos dias remidos pode retroagir
somente até a data da última falta grave
praticada, sob pena de bis in idem, tendo em
conta que o período de remição anterior àquela
falta grave já foi descontado por conta da ofensa
disciplinar.
Sobre esta última afirmação, o STJ já decidiu
questão similar, conforme observa-se do caso
julgado no HC 398.850/SP.
Além disso, a revogação dos dias remidos que já
foram declarados em decisão transitada em
julgado não ofende a coisa julgada, pois a decisão
concessiva da remição tem cunho meramente
declaratório, possui efeito de coisa julgada formal
e está revestida da cláusula rebus sic stantibus.¹
Discordamos desse posicionamento. Ao nosso ver
ofende sim a coisa julgada. Mas precisamos saber
lidar com isso.
Aqui está a tese que pretendo abordar:
1- Sobre o tema: (HC 286.791/RS, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, QUINTA
TURMA, julgado em 03/06/2014, DJe 06/06/2014); HC 286.791-RS, Quinta Turma,
DJe 6/6/2014; REsp 1.517.936-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado
em 1º/10/2015, DJe 23/10/2015; Informativo 571.

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O texto de lei não limita o período de abrangência
da revogação dos dias remidos, isto é, se a perda
dos dias remidos em razão de uma falta grave
recairá sobre o tempo de pena remido desde o
início do cumprimento da pena pelo sentenciado
ou se encontrará obstáculo em qualquer outro
marco interruptivo que seja. Sob esta ótica, caso
determinado sentenciado tenha cumprido 5 anos
de pena em regime fechado, período no qual
trabalhou no interior da unidade prisional, e
venha a incorrer numa falta greve, este evento
poderá ensejar a revogação de até 1/3 de todo o
período supostamente trabalhado nos últimos 5
anos? Ou tal amplitude ofende a
proporcionalidade?
A meu ver, deve encontrar limite no prazo
prescricional da falta grave. Segundo os tribunais
superiores, 3 anos (menor prazo do CP – art. 109,
VI); por outro lado, defende-se seja considerado o
prazo de 1 ano da reabilitação (art. 112, §7º da
LEP).

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CUMPRIMENTO INICIAL DA PENA

MAIS GRAVE
O artigo 76 do Código Penal preleciona que “no concurso
de infrações, executar-se-á primeiramente a pena mais
grave”. A ordem de cumprimento das penas é, portanto,
tida com base na gravidade da pena imposta.
Mas o que é a pena mais grave? Quais são os critérios?
O STJ mantém posicionamento no sentido de que “na
hipótese de existirem duas ou mais condenações, a todas
imposta pena de reclusão, não há falar em reprimenda
mais grave em razão da natureza do crime praticado, se
hediondo ou comum, devendo ser aplicado o critério
cronológico na ordem de cumprimento das penas” ².
Não se ignora o critério cronológico para o cumprimento
das penas, mas este deve ser apenas um deles, quando a
gravidade dos crimes for igual, ou quando do crime
anterior for mais grave.

2- Precedentes STJ: AgRg no HC 668.982/MS; AgRg no HC 577.548/MS; AgRg

no HC 604.920/MS; e AgRg no REsp 1.858.048/SP.

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Embora divergente na doutrina e jurisprudência, data vênia a
quem entende de forma diversa, a gravidade da pena não
está tão somente vinculada à espécie da pena privativa de
liberdade, se prisão simples, se detenção ou se reclusão.
Deve-se ter em mente também se o crime possui natureza
hedionda ou equiparada e também a quantidade da pena
aplicada.
Nesta linha, em caso de concurso de crimes, se o primeiro
crime cometido for mais grave, ainda que por este o réu
responda em liberdade, ele será cumprido antes do crime
posterior pelo qual responde preso. É prescindível o nexo
processual entre a prisão e a pena pela qual se pretende
auferir a detração penal, e nesse mesmo sentido já se
posicionou o STJ ³.
Isso nos leva à conclusão de que, se o primeiro crime gerar
uma pena mais branda e posteriormente lhe for imposta uma
pena mais grave (quantitativa e qualitativamente falando)
esta que passará a ser cumprida a partir de seu cometimento,
e não mais a primeira. Esse entendimento harmoniza o artigo
76 do Código Penal com o cumprimento da pena em ordem
cronológica, porque tempo anterior de pena cumprida não
será considerado em fato posterior, mas a partir do
cometimento do fato posterior mais grave a pena dele será
descontada.

3- STJ - HC 160.866 - 5.ª T. - Rel. Napoleão Nunes Maia Filho - j. 10.05.2011.

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RETROATIVIDADE

INDIVIDUALIZADA DA LEI PENAL

MAIS BENÉFICA – NÃO É LEX TERTIA

Tanto o STJ quanto o STF aderiram o


entendimento de que as alterações promovidas
pela Lei “anticrime”, no tocante à reincidência
específica para a progressão de regime, devem
retroagir em benefício da pessoa condenada.
Precedentes: STJ – REsp 1.910.240/MG; Segunda
Turma do STF – RHC 200.879; Plenário do STF –
ARE 1.327.963, em sede de Repercussão Geral.
Depois disso o entendimento ganhou
contornos não tão favoráveis. O Ministro Jorge
Mussi, por exemplo, durante elaboração de sua
decisão monocrática no RE nos EDcl no AgRg no
HC 619.787/SP, afirmou ser vedada a
combinação de leis após a Lei Anticrime, no
tocante à progressão de regime prisional. No
mesmo sentido o Tribunal de Justiça de São
Paulo, no acórdão prolatado nos autos
0005604-90.2020.8.26.0502.

15 / 25
Por outro lado, conclui-se que os novos
parâmetros para a progressão de regime
devem incidir tão somente sobre as penas cujo
resultado for benéfico ao apenado, mantendo-
se as frações da lei anterior quanto às demais
que foram prejudiciais, sem que isso
caracterize lex tertia.
Não se trata de retroagir uma lei somente
apenas na parte que é benéfica ao condenado,
ignorando seus malefícios. Na verdade, a lei
incidirá em toda a sua plenitude, atendendo-se
à individualização das penas de acordo com os
critérios fixados pela nova legislação, mas
também nos limites daquilo que era previsto
pelo legislador.
Desde a edição da Lei 11.464/06, o cálculo da
execução penal é individualizado, conferindo
tratamento diferenciado às penas oriundas de
crimes comuns, hediondos e equiparados,
respeitando-se o princípio da individualização
executiva das penas. É o que se observa no
caso em questão, para além de se atender à
coisa julgada.

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COMUTAÇÃO E INDULTO EM CRIME DE
ASSOCIAÇÃO PARA FINS DE TRÁFICO

Por mais que uma legislação estabeleça em sentido


contrário, o Decreto Presidencial, ao obedecer somente a
CF/88, poderá confrontar o texto legal. Será ilegal, porém
constitucional. Essa constatação não afasta a validade da
norma.
No caso do crime de associação para fins de tráfico, o
artigo 44 da Lei 11.343/06 estabelece: “Os crimes previstos
nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis
e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade
provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas
de direitos”.
Porém, o crime não está inserido nas vedações do Édito
Presidencial 9.246/2017:

“O indulto natalino ou a comutação de pena não será


concedido às pessoas condenadas por crime: [...] II - tipificado
nos art. 33, caput e § 1º , art. 34 , art. 36 e art. 37 da Lei nº
11.343, de 2006 , exceto na hipótese prevista no art. 1º, caput ,
inciso IV, deste Decreto; III - considerado hediondo ou a este
equiparado, ainda que praticado sem grave ameaça ou
violência a pessoa, nos termos da Lei nº 8.072, de 25 de julho
de 1990.”

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O crime tampouco é considerado hediondo ou equiparado a
ele, cf. artigo 5º, XLIII, da CF/88 (STJ, cf. item 12 da Edição 45 de
Jurisprudência em Teses - HC 296207/SP).
E ao Poder Judiciário somente cabe analisar a
constitucionalidade do Decreto Presidencial, e não sua
legalidade ou mérito, de modo tal que frear a incidência da
norma ao caso é evidente afronta à tripartição dos poderes e à
competência legislativa do Presidente da República.
Análise da Rcl 34850/RJ:

TJRJ reconheceu indulto de pena em caso de condenado por


crime de associação para fins de tráfico de drogas (art. 35 da
Lei 11.343/06).
Ministério Público do RJ, inconformado, impetrou Reclamação
sob o fundamento de ofensa à Súmula Vinculante 10 do STF.

O Ministro Fux, em decisão monocrática, julgou improcedente


a Reclamação.
Ele reafirmou a tese julgada na ADI 5.874, de relatoria do min.
Alexandre de Moraes, que julgou a constitucionalidade do
Decreto 9.246/2017, “estando assentada a premissa de que não
são oponíveis limitações materiais à atuação presidencial na
concessão do indulto, ressalvados aqueles que decorram
diretamente da Constituição”.
Nesse sentido, por mais que o artigo 44 da Lei 11.343/06 vede a
concessão do indulto ao crime de associação para o crime de
tráfico de drogas, ele não pode ser invocado para obstar o
indulto, por ter origem infraconstitucional.

18 / 25
AFASTAMENTO DA HEDIONDEZ POR

EQUIPARAÇÃO DO CRIME DE

TRÁFICO DE DROGAS

Discute-se se o crime de tráfico de drogas (art. 33


da Lei 11.343/06), após a vigência da Lei
13.964/2019, deixou de ser considerado
equiparado a hediondo.
A discussão foi iniciada em artigo publicado pelos
Defensores Públicos Érico da Silveira e Felipe
Takayassu 4 e desde então muitos juízes de
primeiro grau adotaram o posicionamento.
Em linhas gerais, o mandamento de
criminalização constitucional do artigo 5º, XLIII da
CF/88 foi respeitado pelo legislador
infraconstitucional, e a Lei “anticrime”, ao
revogar o §2º do artigo 2º da Lei 8.072/90 e
concentrar os prazos para a progressão de regime
prisional no artigo 112 da LEP, revogou o único
artigo de lei que exigia o agravamento da fração
para a progressão de regime do tráfico de drogas.

4
DA SILVEIRA, Érico Ricardo; TAKAYASSU, Felipe de Mattos. Tráfico de
drogas e a progressão de regime: a lei anticrime e a não hediondez do delito.
ConJur. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-mai-18/tribuna-
defensoria-trafico-drogas-progressao-regime-delito-comum .

19 / 25
A Constituição Federal/88, no artigo 5º, XLIII estabelece:
“a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os4 que, podendo evitá-los, se
omitirem” (o mandado de criminalização é expresso
para os fins mencionados). A Lei 8.072/90 traz redação
similar: “Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura,
o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de: I – Anistia, graça e indulto;
II – fiança” (o legislador infraconstitucional atendeu ao
mandado de criminalização tal como indicado). O artigo
44 da Lei 11.343/06 igualmente estabelece as mesmas
diretrizes e ainda acrescenta algumas: “Os crimes
previstos nos arts. 33, caput e §1º, e 34 a 37 desta Lei são
inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto,
anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas
penas em restritivas de direitos. Parágrafo único: Nos
crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o
livramento condicional após o cumprimento de dois terços
da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico”
(o legislador ampliou o âmbito de proteção do mandado
de criminalização para dispor sobre o livramento
condicional, liberdade provisória e conversão da PPL
por PRD).

20 / 25
A CF/88 e as Leis 8.072/90 e 11.343/06 não equipararam o crime
de tráfico de drogas ao crime hediondo, mas tão somente
conferiram tratamento diferenciado (em razão da gravidade e
do mandado de criminalização), para os fins especificamente
(taxativamente) apontados, dentre eles, a inafiançabilidade e a
insuscetibilidade à graça, anistia e indulto, além da fração
diferenciada para o livramento condicional. Interpretar tais
dispositivos legais sob justificativa da “intenção do legislador”
(mens legis) ou para preencher a lacuna (para estender os
efeitos à progressão de regime) é vedado pela proibição do
ativismo judicial (papel do legislador) e da analogia in malan
partem.
A lei infraconstitucional poderia ter apontado o crime de
tráfico de drogas como equiparado a hediondo, mas não o fez.
Resguardou-se copiar o texto constitucional e ampliar a
proteção em relação ao livramento condicional e outros.
Portanto, por se tratar de crime comum (com tratamento
diferenciado em relação à fiança, graça, anistia e indulto)
cometido sem violência ou grave ameaça, deve obedecer às
frações de 16% se primário e 20 % se reincidente específico na
prática de crime de tal natureza. Apesar disso, o entendimento
foi refutado pelo STJ, que definiu que o crime de tráfico de
drogas é sim equiparado a hediondo.
Um alerta: Ambas as Turmas que versam sobre matéria
criminal decidiram, por unanimidade, que o tráfico continua
sendo hediondo.
Quinta Turma do STJ: HC 726.166/SC.
Sexta Turma do STJ: HC 726.166/SC.
Próximo passo?
O STF é o guardião da Constituição Federal e o responsável pela
última decisão sobre a matéria, de cunho eminentemente
constitucional.
Mas, convenhamos que a atual composição não é lá muito
favorável.

21 / 25
UNIFICAÇÃO DE PENAS COM REGRESSÃO

DE REGIME – A DATA-BASE
Qual será a data-base em caso de regressão de
regime em razão da unificação das penas? A
hipótese está prevista no artigo 118, II da LEP.
Segundo decidido no REsp 1.557.461/SC, nova
condenação não altera data-base para nenhum
Direito na Execução Penal.
E se o apenado já havia progredido de regime
quando ocorreu a unificação com posterior
regressão?
Trata-se da hipótese em que o apenado inicia o
cumprimento de pena em regime mais severo,
progride para o regime mais brando e, em razão da
superveniência de uma nova condenação por crime
anterior ao início do cumprimento da pena, por
ocasião da soma e unificação das penas, regride para
o regime fechado. Esquematicamente:

22 / 25
Natural pensar que seria a data da progressão
de regime prisional. Pois, a progressão de
regime prisional altera a data-base para uma
nova progressão. Contudo, caso fosse essa a
data-base, resultaria em prejuízo
desproporcional à pessoa em cumprimento de
pena. O Ministro Rogerio Schietti sabidamente
exemplificou em seu voto esse caso.
Em resumo, será considerada a data-base ficta
anterior, seja ela o início do cumprimento da
pena, uma falta grave ou o cometimento de
novo crime, mas nunca a data da progressão de
regime.

23 / 25
DETRAÇÃO PENAL DE PERÍODO

CUMPRIDO POR CRIME DIVERSO

Consoante o artigo 42 do Código Penal,


“computam-se, na pena privativa de liberdade e
na medida de segurança, o tempo de prisão
provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de
prisão administrativa e o de internação em
qualquer dos estabelecimentos referidos no
artigo anterior”.
A detração penal é considerada pena cumprida.
Portanto, da pena imposta não será extirpado o
tempo da detração, mas ele será incluído no
cálculo de pena cumprida.
Ela pode ser tanto utilizada na sentença, cf. artigo
387, §2º, do CPP, para definir qual será o regime
prisional por meio de simples subtração ou
antecipação da análise da progressão de regime,
quanto em fase de execução penal, quando será
incorporado no cálculo da pena cumprida para
fins de calcular o remanescente, se anterior a
uma data-base ou para ser considerado para o
reconhecimento de direitos se posterior à data-
base.

24 / 25
Ao realizar a soma e unificação das penas (art. 111 da
LEP) o juiz deverá levar em consideração a detração
penal.
Importante esclarecer que a detração penal é instituto
que admite aproveitamento. Não se trata de crédito de
pena, mas de aproveitamento em processo diverso,
desde que o fato gerador desse período de detração
penal seja posterior ao crime que se pretende
aproveitar a detração.
O STJ admite que eventual período de detração de um
processo seja contabilizado em outro, desde que
naquele o sentenciado tenha sido absolvido ou
declarada a extinção da sua punibilidade, e que o
tempo de detração penal seja posterior ao crime que se
pretende operar a detração. Caso contrário, não seria
possível a detração
Importante mencionar5 que, considerando o artigo 76 do
Código Penal, caso o crime anterior seja mais grave,
eventual período de detração penal posterior por
motivo diverso poderá ser aproveitado naquele
primeiro. Essa medida respeita tanto a cronologia dos
fatos quanto o cumprimento da pena mais grave.

5
-STJ, REsp 711054/RS, 5ª T. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 17-4-2007,
DJ 14-5- 2007.

25 / 25
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