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EXPLICAÇÕES:
Cada mediador tem o seu próprio estilo de correção,
apresentação do gabarito e forma de se manifestar;
I.
Espelho de Correção da 2 ª rodada - Página |2
PROCESSO CIVIL
Gabarito comentado:
Questão no estilo aberta, onde o examinador quer saber mais se o candidato é articulado
e tem conteúdo. Ultimamente é bastante comum este tipo de questão, quanto mais que
não há jurisprudência formada sobre o tema. E aí? O preso pode ser ou não parte nas ações
que tramitam pelos juizados especiais não criminais, obviamente?
Pela simples leitura do caput do artigo 8º da Lei 9.099/95, o preso não poderia figurar
como parte nos processos dos juizados cíveis da Justiça Estadual. Porém, em confronto
com o princípio da inafastabilidade da jurisdição, previsto no artigo 5º, XXXV, de nossa
Carta Maior, deve aquele dispositivo infraconstitucional ser considerado inconstitucional,
sem afastar também a aplicação do inciso XLIX do artigo da Constituição da República de
1988 em comento, onde é assegurado ao preso o respeito a sua integridade moral.
Em relação ao Juizado Especial Cível Federal, embora o artigo 1º da Lei 10.259/01 preveja
a subsidiariedade da Lei 9.099/95 no caso de omissão, o artigo 6º, I, daquela lei, estabelece
quem pode ser parte, e ali não há nenhuma exceção em relação ao preso poder figurar no
polo ativo dos processos em trâmite nesses juizados. Onde o legislador não excluiu, não
pode o intérprete fazê-lo Na mesma linha, sem dúvida, devemos desenvolver o raciocínio
alhures citado em relação à Lei n.º 12.153/09, que instituiu os Juizados Especiais da
Fazenda Pública.
Embora haja renomados autores que entendam que os critérios norteadores dos juizados
especiais (art.2º, Lei 9.099/95) são incompatíveis com a legitimação do preso para figurar
como parte em processos da competência, o certo é que o princípio da inafastabilidade da
jurisdição deve imperar, com o apoio e avivamento do princípio da dignidade da pessoa
humana.
Melhores respostas:
Por se tratar de questão bastante aberta, escolhi apenas 2 respostas, salientando que a grande maioria das
respostas estão excelentes, e nenhuma delas está totalmente completa, naturalmente.
Marília Perez:
O art. 8º da lei 9099 é categórico ao vedar que o preso seja parte (autora ou ré) no
processo desta lei. Diz-se que a ideia da do legislador na referida vedação teria lastro na
dificuldade de comparecimento aos atos processuais. Contudo, apesar de ser previsão
expressa da lei, nota-se a violação ao art. 5º, XXXV da CR, vez que a só alegação de difícil
locomoção do preso não poderia ser suficiente para se proibir o exercício constitucional
do direito de ação.
É cediço que a lei 9099/95 se aplica subsidiariamente às leis 10.259/01 e
12.153/09, mas no que toca à restrição do preso ser parte nos procedimentos afetos a
estas lei, tal proibição não se aplica, em razão do princípio do amplo acesso à Justiça, que
só pode ser limitado por expressa disposição legal, como ocorre somente na lei 9099.
O recluso tem capacidade de ser parte e capacidade processual, e o art. 5º, I, da Lei
nº 12.153/2009, não possui qualquer exceção, admitindo como autores as pessoas
naturais, as microempresas e as empresas de pequeno porte. Portanto, não se pode limitar
a presença de presos nos Juizados Especiais da Fazenda Pública, o que seria inclusive
Samuel Albuquerque:
A Lei 9099/95 proíbe expressamente em seu artigo 8º que o preso seja parte em qualquer
processo que siga o rito dos juizados especiais cíveis estaduais. Porém, a Lei 10259/2001, que
institui os Juizados Especiais Cíveis Federais, não previu disposição semelhante. A saber, esta
lei foi clara ao dispor quem poderia ser parte no processo no âmbito dos juizados especiais
federais. Esta lei previu que as pessoas físicas poderiam ser autores, sem fazer nenhuma
limitação quanto aos presos. Cabe ressaltar que a Lei 9099/95 somente se aplica
subsidiariamente aos processos regidos pela Lei 10259/2001, de modo que quando esta tem
previsão expressa e não é lacunosa, como ocorre no caso em questão, não há que se falar em
aplicação subsidiária da Lei 9099/95. Além disso, deve-se fazer uma interpretação dos dois
diplomas normativos de acordo com o Texto Constitucional. A Constituição Federal consagra
o princípio da inafastabilidade da prestação jurisdicional. Logo, a regra deve ser o pleno acesso
ao Poder Judiciário, em qualquer nível. Além disso, como a Lei 10259/2001 não previu
exceções quando se referiu às pessoas físicas como autoras, deve-se observar o princípio
constitucional da isonomia previsto no art. 5º, o qual estabelece que todos são iguais perante a
lei. Portanto, nos Juizados Especiais Cíveis Estaduais, a Lei 9099/95 veda expressamente a
possibilidade de o preso ser parte, autora ou ré, nos processos regidos por esta lei. Por outro
lado, nos Juizados Especiais Cíveis Federais, a Lei 10259/2001 não veda expressamente a
possibilidade de o preso ser parte autora, o que implica que há esta possibilidade em face do
princípio constitucional da isonomia. Quanto a ser réu no JEF, o preso não poderia, tendo em
vista que o rol de legitimados passivos do JEF, previsto no art. 6º, inciso II, da lei de regência
é taxativo e não inclui pessoa física.
CAIO PAIVA
Defensor Público Federal em Manaus/AM e editor do site www.oprocesso.com
Mediador das disciplinas de Direito Penal, Processo Penal, Direito Constitucional e Princípios Institucionais
da Defensoria Pública
Caso o Congresso Nacional aprove lei federal que atribua à Defensoria Pública da
União a defesa judicial de servidores públicos federais processados civil ou
criminalmente em razão do regular exercício do cargo, tal norma conflitaria com a
Constituição Federal? Responda motivadamente.
Gabarito comentado:
Caros alunos, inicio esse gabarito comentado, como de costume, com algumas impressões
a respeito do desempenho (geral) dos alunos, pois a correção individualizada é
transmitida no instante da interação aluno-professor quando recebemos a resposta/peça
para avaliar. Fosse a prova real e eu, o examinador, certamente a grande maioria seria
aprovada com uma pontuação considerável, mas não posso deixar de dar algumas dicas.
Primeiro, o mesmo cuidado que deve-se tomar com a objetividade extrema, que pode
demonstrar o desconhecimento acerca do assunto proposto, deve ser tomado em relação
à prolixidade, que pode evidenciar insegurança. Há que se encontrar o meio termo,
sempre. Não é porque a questão prevê, p. ex., o limite máximo de vinte linhas que vocês
devem, necessariamente, preencher todas.
um erro grave, mas uma singela confusão; ocorre que o examinador pode não ser tão
compreensivo quanto eu...
No que diz respeito ao conteúdo da resposta esperada, essa deveria abranger pelo menos
três pontos: (1) missão constitucional da Defensoria Pública, qual seja, atender – em regra
– os economicamente necessitados; (2) violação do art. 134 da CF e ampliação indevida
das atribuições da Defensoria; e (3) menção ao precedente do Supremo Tribunal Federal
acerca de texto da Constituição do Estado do RS, questionado por via de ADI.
Finalizo com apenas mais um comentário geral acerca das respostas dos alunos. Não há
que se falar em vedação da assistência jurídica “ex lege”, pois tal atribuição existe em
Melhores respostas:
Richardy Videnov:
Daniel Paiva:
Esta norma conflitaria com a Constituição Federal. Primeiro porque a Carta Magna, em
seu art. 134, caput, prevê que à Defensoria Pública incumbiria a orientação jurídica e a
defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV. Este dispositivo,
por seu lado, estabelece que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos
que comprovarem insuficiência de recursos. Portanto, vê-se que a Constituição é clara ao
determinar a vocação da DP apenas para a defesa jurídica e judicial daqueles que
comprovarem não possuírem recursos suficientes – tem como objetivo vetor, portanto, a
democratização do acesso à justiça - não devendo servir a instituição para a defesa de
outros cidadãos que não se encaixem dentro dos parâmetros impostos, sob pena de
desvirtuamento do modelo constitucional. Não se diga que nenhum servidor público
federal poderá gozar da assistência prestada pelo órgão. Desde que seja carecedor de
recursos, terá direito também à assistência jurídica integral e gratuita prestada pela DP,
posto ser corolária da garantia de ampla defesa. Inclusive, esta questão já foi debatida no
STF em relação a uma norma estadual que previa o direito à assistência judiciária dos
servidores processados civil ou criminalmente em razão de ato praticado no exercício
regular de suas funções. Naquela oportunidade, a Corte asseverou a inconstitucionalidade
do dispositivo estadual, uma vez que prolongaria implicitamente as atribuições da
Defensoria Estadual, extrapolando o modelo preconizado pelo Constituinte de 1988.
Juarez Reis:
Conflitaria, pois a CRFB/88 em seu art. 134 prevê que cabe a Defensoria Pública, como
instituição essencial à função jurisdicional do Estado, a orientação jurídica e a defesa, em
todos os graus, dos necessitados, ou seja, prestará a assistência jurídica integral e gratuita
aos que comprovarem insuficiência de recursos (art. 5, LXXIV, da CRFB/88). Assim, caso
o Congresso aprove lei federal atribuindo à Defensoria Pública da União a defesa judicial
de servidores públicos federais processados civil ou criminalmente em razão do regular
exercício do cargo estará conflitando com a Carta Maior, como já se posicionou o STF
sobre o tema. Tal lei iria restringir a atuação da Defensoria Pública da União, que além de
ofensa direta ao que prevê a Constituição em seu art. 5, LXXIV, restringiria o acesso dos
verdadeiros necessitados hipossuficientes, que hoje já sofrem com a pouca quantidade de
defensores que não são em números suficientes para atender a demanda carente e que,
ainda, não conta com uma estrutura equiparada ao Ministério Público, para que o
assistido tenha igualdade de armas e condições. Além disso, não há tal previsão na LC
80/94. Sendo assim, haveria um flagrante conflito caso essa lei viesse a ser aprovada, pois
nasceria com vício de constitucionalidade, conforme já se posicionou o Supremo quando
foi instado a falar em caso semelhante.
Cindra Bussade:
Vanessa Bertolo:
Sim, lei federal que atribua à Defensoria Pública da União a defesa judicial de servidores
públicos federais processados civil ou criminalmente em razão do regular exercício do
cargo conflitaria com a Constituição Federal de 1988. O art. 134 da Constituição outorga
à Defensoria Pública a incumbência de orientação jurídica e a defesa, em todos os graus,
apenas dos necessitados, e não de qualquer pessoa. A remissão desse dispositivo ao art.
5º, LXXIV, o qual determina que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita
aos que comprovarem insuficiência de recursos, reforça essa ideia. O Supremo Tribunal
Federal já decidiu, em caso análogo, que atribuições estranhas à previsão do texto
Sim, tal norma conflitaria com a Constituição Federal. O rol das atribuições da Defensoria
Pública da União está descrito no art. 134 da Constituição Federal, bem como na Lei
Complementar nº 80/1994. Em nenhum momento dessas normas a defesa judicial de
servidores públicos federais processados civil ou criminalmente em razão do regular
exercício do cargo está inserida. Sendo assim, diante da limitação das atividades da
mencionada Instituição à defesa dos interesses do grupo de pessoas necessitadas,
qualquer outra atuação que contrarie os textos citados, estarão fadados à
inconstitucionalidade e ilegalidade, pois a Defensoria Pública estaria atuando em patente
desvio de finalidade. Sobre essa temática, o STF já se manifestou afirmando que a norma
estadual que atribui à Defensoria Pública do estado a defesa judicial de servidores
públicos estaduais processados civil ou criminalmente em razão do regular exercício do
cargo extrapola o modelo da CF (art. 134), o qual restringe as atribuições da Defensoria
Pública à assistência jurídica a que se refere o art. 5º, LXXIV. Entretanto, nada impede que
a Defensoria Pública defenda judicialmente ou extrajudicialmente os direitos de um
servidor público, desde que se enquadre no conceito de hipossuficiente ou necessitado na
forma da lei.
Patrícia Farias:
Sim, lei federal que atribua à Defensoria Pública da União a defesa judicial de servidores
públicos federais processados civil ou criminalmente em razão do regular exercício do
cargo conflitaria diretamente com a Constituição Federal de 1988, pois extrapola o
ALEXANDRE CABRAL
Defensor Público Federal em Brasília/DF
Mediador das disciplinas de Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Direito
Administrativo
DIREITO ADMINISTRATIVO
Gabarito comentado:
Há debate na doutrina e posição de vulto que entende possível desapropriar bens de entes
da Administração indireta federal sem tais requisitos, desde que não afetados ao fim
institucional do ente ou a serviço público. Todavia, tal posição é minoritária.
* * *
A proposta desta dissertativa era dar ciência das divergências doutrinárias sobre a
desapropriação (notadamente, importância e efeitos da afetação ou não dos bens públicos
para a expropriação em tela) e propiciar uma revisão ampla sobre a matéria.
Alguns alunos não atentaram que o governador queria desapropriar a pessoa jurídica
(construtora privada) em si, e responderam (erroneamente) pela possibilidade de
desapropriar por claro equívoco na leitura da pergunta – muito cuidado com isso!
Merece Leitura:
RE 115.665/MG
RE 172.816 / RJ
DESAPROPRIAÇÃO, POR ESTADO, DE BEM DE SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA
FEDERAL QUE EXPLORA SERVIÇO PÚBLICO PRIVATIVO DA UNIÃO. 1. A União pode
desapropriar bens dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos territorios e os
Estados, dos Municípios, sempre com autorização legislativa especifica. A lei estabeleceu
uma gradação de poder entre os sujeitos ativos da desapropriação, de modo a prevalecer o
ato da pessoa jurídica de mais alta categoria, segundo o interesse de que cuida: o interesse
nacional, representado pela União, prevalece sobre o regional, interpretado pelo Estado, e
este sobre o local, ligado ao Município, não havendo reversão ascendente; os Estados e o
Distrito Federal não podem desapropriar bens da União, nem os Municípios, bens dos
Estados ou da União, Decreto-lei n. 3.365/41, art. 2., par. 2.. 2. Pelo mesmo princípio, em
relação a bens particulares, a desapropriação pelo Estado prevalece sobre a do Município,
e da União sobre a deste e daquele, em se tratando do mesmo bem. 3. Doutrina e
jurisprudência antigas e coerentes. Precedentes do STF: RE 20.149, MS 11.075, RE
115.665, RE 111.079. 4. Competindo a União, e só a ela, explorar diretamente ou mediante
autorização, concessão ou permissão, os portos marítimos, fluviais e lacustres, art. 21, XII,
f, da CF, está caracterizada a natureza pública do serviço de docas. 5. A Companhia Docas
do Rio de Janeiro, sociedade de economia mista federal, incumbida de explorar o serviço
portuário em regime de exclusividade, não pode ter bem desapropriado pelo Estado. 6.
Inexistência, no caso, de autorização legislativa. 7. A norma do art. 173, par. 1. da
Constituição aplica-se as entidades públicas que exercem atividade econômica em regime
de concorrência, não tendo aplicação as sociedades de economia mista ou empresas
públicas que, embora exercendo atividade econômica, gozam de exclusividade. 8. O
dispositivo constitucional não alcança, com maior razão, sociedade de economia mista
federal que explora serviço público, reservado a União. 9. O artigo 173, par. 1. nada tem a
ver com a desapropriabilidade ou indesapropriabilidade de bens de empresas públicas ou
sociedades de economia mista; seu endereço e outro; visa a assegurar a livre concorrência,
de modo que as entidades públicas que exercem ou venham a exercer atividade econômica
não se beneficiem de tratamento privilegiado em relação a entidades privadas que se
dediquem a atividade econômica na mesma área ou em área semelhante. 10. O disposto no
par. 2., do mesmo art. 173, completa o disposto no par. 1., ao prescrever que "as empresas
públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais não
extensivos as do setor privado". 11. Se o serviço de docas fosse confiado, por concessão, a
uma empresa privada, seus bens não poderiam ser desapropriados por Estado sem
autorização do Presidente da República, Súmula 157 e Decreto-lei n. 856/69; não seria
razoável que imóvel de sociedade de economia mista federal, incumbida de executar
serviço público da União, em regime de exclusividade, não merecesse tratamento legal
semelhante. 12. Não se questiona se o Estado pode desapropriar bem de sociedade de
economia mista federal que não esteja afeto ao serviço. Imóvel situado no cais do Rio de
Janeiro se presume integrado no serviço portuário que, de resto, não e estático, e a serviço
da sociedade, cuja duração e indeterminada, como o próprio serviço de que esta investida.
13. RE não conhecido. Voto vencido.
S.618 STF
Desapropriação Direta ou Indireta - Taxa dos Juros Compensatórios
Na desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos juros compensatórios é de 12% (doze
por cento) ao ano.
S.408 STJ
Nas ações de desapropriação, os juros compensatórios incidentes após a Medida
Provisória n. 1.577, de 11/6/1997, devem ser fixados em 6% ao ano até 13/09/2001, e, a
partir de então, em 12% ao ano, na forma da súmula n. 618 do Supremo Tribunal Federal”.
“Desapropriação Indireta”
“Art. 46. É nulo de pleno direito ato de desapropriação de imóvel urbano expedido sem o
atendimento do disposto no § 3o do art. 182 da Constituição, ou prévio depósito judicial do
valor da indenização.”
Debatia-se qual o prazo para a ação de desapropriação indireta por parte do prejudicado,
prevalecendo, dada a compreensão de que seja ação de natureza de direito real, o
entendimento que seria de 15 (quinze) anos – mesmo prazo prescricional da usucapião
extraordinária1, havendo posição minoritária pela aplicação de prazo prescricional de 05
(cinco) anos (art. 10 do Decreto-Lei 3.365/1941, pós- MP. 2.183-56/2001 e art. 1 Decreto
20.910/1932).
O STJ decidiu recentemente sobre o tema nesse sentido, mas com atenção ao art. 1238,
parágrafo único do atual CC, de 2002, sedimentando que:
STJ 2ª Turma RESP 1.300.442/SC. Rel. Min. Herman Benjamin. Julgado: 18.06.2013 (Info
523).
Melhores respostas:
Kelly Bizinotto:
Segundo art. 2º, § 2º, do Decreto-Lei 3365/41, os bens de domínio dos entes federativos
só podem ser desapropriados em ordem gradativa, ou seja, a União em relação aos bens
dos Estados e Municípios, e os Estados em relação aos bens dos Municípios, pois o
interesse nacional prevalece sobre o regional e o local e assim sucessivamente. Segundo
STF (RE 172816/RJ), tal entendimento aplica-se tanto à administração direta como a
indireta, o que engloba empresa pública federal seja ela em regime de livre concorrência
ou em prestação exclusiva de serviço público. Se contudo, a empresa fosse privada em
regime de concessão com ente federal, necessário seria autorização do Presidente da
República para que a situação reversa (Súmula 157, STF), isto é, desapropriação pelo
Estado de bem de uso do serviço público federal, fosse possível.
No que diz respeito à pessoa jurídica, esta, em si, não pode ser desapropriada, apenas seus
bens, nos termos do art. 2º do Decreto-Lei 3364/41 (“todos os bens”). E ainda que assim
fosse, a declaração pelo chefe do Executivo deveria ser de utilidade pública, uma vez que
a finalidade da desapropriação por interesse social restringe-se a promover a justa
distribuição da propriedade ou condicionar o seu uso ao bem-estar social.
Mari Perez:
A desapropriação por parte do Estado de bens de uma empresa pública federal há de ser
vista sob dois prismas. De um lado se entende que com relação aos bens pertencentes às
Camila Orzil:
A desapropriação, prevista no art. 5º, inciso XXIV, da CF/88 pode ocorrer por necessidade,
utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos na Constituição.
A desapropriação pelo estado do imóvel pertencente à empresa pública federal somente
será possível se houver uma prévia autorização do Presidente da República concedida
mediante decreto, conforme entendimento jurisprudencial consagrado no âmbito do
Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça. Do contrário, apenas a União
seria competente para desapropriar. Assim, não seria plenamente possível a
desapropriação como afirmou a procuradoria do estado.
A desapropriação da pessoa jurídica da área de construção civil não pode ocorrer, uma
vez que, ela é sujeito de direitos e não um objeto. O que poderia ocorrer seria a
desapropriação dos bens dessa pessoa jurídica.
Rafael Vilela:
A desapropriação é um procedimento pelo qual o poder público transfere para si, de
forma compulsória, a propriedade particular de terceiros, mediante fundamentos de
utilidade pública, interesse social ou necessidade pública, em regra, precedida pelo
pagamento de justa indenização.
Podem ser expropriados tantos os bens móveis e imóveis, como os bens corpóreos e
incorpóreos. Registre-se que excluem dessa autorização tão somente os direitos
personalíssimos, contudo, as pessoas jurídicas privadas jamais podem ser expropriadas,
somente os bens que tais entidades possuem e os direitos representativos do capital
delas, que podem sofrer essa medida desde que comprovadamente motivadas por alguns
dos requisitos autorizadores da desapropriação.
Então, conclui-se pelo não cabimento da desapropriação da pessoa jurídica privada.
No tocante à possibilidade de expropriação de bens imóveis, não vinculados a atividade
essencial de empresa pública federal. É cabível a expropriação desses imóveis em
decorrência de que a empresa pública é uma pessoa jurídica de direito privado, e, no caso
em questão, tais bens não estão vinculados a um serviço público.
Em suma, conclui-se pela possibilidade de expropriação de bens e direitos de pessoas
jurídicas de direito privado, a exemplo de empresa pública federal, desde que tal bem
esteja desvinculado de um serviço público em razão do princípio da continuidade dos
serviços públicos.
Luciana Chuvalski:
ALDO COSTA
Assessor de ministro do STF. É bacharel em direito pela USP (1999). Foi professor substituto da Faculdade
de Direito da UnB (2002-2006), conselheiro da Comissão de Anistia (2002), pesquisador visitante no Max-
Planck-Institut für ausländisches und internationales Strafrecht (2007) e assessor especial do Ministro da
Justiça (2010-2011) Mediador das disciplinas Direito Penal e Processo Penal Militar, Direito Internacional
Público e Direitos Humanos
DIREITOS HUMANOS
Gabarito comentado:
Os instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos contêm regras que, como
quaisquer outras, necessitam de ser interpretadas. Nesse sentido a doutrina2 apresenta
os seguintes princípios vetores da interpretação dos textos internacionais alusivos à
proteção daqueles direitos, os quais deveriam ser indicados ("quais são?") e conceituados
2Cf. RAMOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos na ordem internacional. 2ª
edição, São Paulo: Saraiva, 2012, pp.
CEI – Círculo de Estudos pela Internet: www.cursocei.com
E s p e l h o d e C o r r e ç ã o d a 2 ª r o d a d a - P á g i n a | 22
- O princípio da primazia da norma mais favorável ao indivíduo, que assevera que nenhuma
norma de direitos humanos pode ser invocada para limitar, de qualquer modo, o exercício
de qualquer direito ou liberdade já reconhecida por outra norma internacional ou
nacional.
Melhores respostas:
Diego Gomes:
André de Carvalho Ramos afirma que, além dos princípios de interpretação dos tratados
internacionais básicos, constantes da Convenção de Viena, outros princípios
informadores da interpretação dos textos internacionais relativos à proteção de direitos
humanos podem ser extraídos da jurisprudência dos órgãos internacionais de direitos
humanos. Assim, temos inicialmente o princípio da interpretação pro homine, pelo qual
se entende que os tratados de direitos humanos devem ser interpretados sempre no
sentido da máxima proteção ao ser humano e não restritivamente, com o fim de preservar
a soberania dos Estados. Temos também o princípio da (máxima) efetividade (effet utile),
pelo qual deve-se assegurar às disposições convencionais os seus efeitos pretendidos,
evitando-se que sejam consideradas meramente programáticas, razão pela qual a
interpretação deve contribuir para o aumento da proteção dada ao ser humano e para a
plena aplicabilidade dos dispositivos convencionais. Decorrendo do princípio da
efetividade, aparece o princípio da “interpretação autônoma”, pelo qual os conceitos e
termos inseridos nos tratados de direitos humanos podem possuir sentidos próprios,
distintos dos sentidos a eles atribuídos pelo direito interno, para dotar de maior
efetividade os textos internacionais de direitos humanos. Outro princípio é o da primazia
da norma mais favorável ao indivíduo, que possibilita a harmonização das diversas
normas internacionais e internas de proteção aos direitos humanos. De acordo com tal
princípio deve prevalecer a norma que ofereça a maior proteção ao ser humano.
Vanessa Steffens:
Identificam-se princípios informadores do Direito Internacional dos Direitos Humanos. O
princípio da interpretação pro homine consiste na aplicação da norma que mais amplia o
gozo de um direito, de uma liberdade ou de uma garantia. Busca-se a interpretação mais
favorável ao destinatário da norma. Quanto ao princípio da interpretação autônoma
apreende-se que a terminologia do direito internacional dos direitos humanos é própria,
não devendo ser buscado significado de conceitos nos ordenamentos nacionais. No que se
refere à primazia da norma mais favorável, objetiva-se garantir, ampliar e fortalecer a
proteção a partir da coexistência de vários instrumentos legais. O princípio da máxima
efetividade deve ser entendido no sentido de que as normas de direitos humanos tenham
a mais ampla efetividade social. Toca ao princípio da margem de apreciação a permissão
de que determinadas questões polêmicas sejam resolvidas pelas comunidades nacionais,
respeitando-se a diversidade de valores morais e culturais. O princípio da interpretação
evolutiva amolda-se à ideia de que os tratados de direitos humanos são instrumentos
vivos que devem acompanhar a evolução, jamais retrocedendo. Por fim, o princípio da
proporcionalidade diz com métodos de ponderação no embate entre o interesse público
e as garantias individuais.
EDILSON SANTANA
Defensor Público Federal em Manaus/AM e ex Defensor Público do Estado do Maranhão
Mediador das disciplinas de Direito Internacional Privado e Direito Civil
PEÇA CÍVEL
No ano 2000 o imóvel em questão passou a ser capinado por pessoas que passaram
erguer humildes casas de diferentes dimensões. Tais moradores, ou seus
descendentes, lá permanecem até os dias atuais, com animo de moradia definitiva.
Ainda segundo informou o assistido, “os donos da terra nunca lá apareceram”.
Tício afirmou, ainda, que nenhum dos moradores da área tem para onde ir, pois não
possuem condições de adquirir um imóvel, e que o sonho de todos sempre foi ter
uma casa própria, o que considera impossível, pois em suas palavras “os mesmos
nunca foram e nunca serão proprietários de qualquer imóvel, seja na cidade ou no
campo”.
Gabarito comentado:
Caros amigos,
Muitos elaboraram Embargos de Terceiro. Notem, todavia, que a questão não fornece
dados suficientes sobre a atual situação do processo de execução, a fim de aferir o prazo
previsto no artigo 1.048 do CPC. Na narrativa da peça diz-se que o assistido informou que
o imóvel estava em vias de ser alienado, quando compareceu à DPU. Porém,
propositalmente, não se informa quanto tempo decorreu entre a ciência do assistido e seu
Observo que no último concurso para a DPU, a peça esperada (conforme gabarito) era um
Recurso Extraordinário. Todavia, quem elaborou Recurso Especial, teve a resposta aceita,
desde que tivesse abordado os temas de direito (mérito e processual) exigidos.
Por fim, ninguém conseguiu abordar todos os pontos esperados. Ou seja, nenhuma peça
apresentada estava totalmente correta. De toda forma, escolhemos algumas que se
complementam e servem para a demonstração de respostas que mereceriam ser
Os pontos específicos das peças mais comuns, suscetíveis de serem cobradas no concurso,
devem ser conhecidos. O arcabouço basilar, todavia, vai ser utilizado sempre, e na maioria
dos casos garantirá alguns pontos na prova, ainda que nem tudo seja lembrado. Assim,
vamos usar sempre a estrutura básica que consta abaixo, inserindo as especificidades em
cada caso:
FATOS
DIREITO
PEDIDOS
LOCAL, DATA.
Justiça Gratuita, por serem pessoas que não estão em condições de arcar com as custas
e despesas do processo, sem prejuízo do sustento próprio ou da família, com esteio nos
termos da Lei n° 1.060/50, bem como que, em sua defesa, sejam observadas as
prerrogativas dos Defensores Públicos Federais, mormente as intimações pessoais e a
contagem de todos os prazos processuais em dobro, à luz do disposto no inciso I do art.
44 da Lei Complementar n° 80/94 e no art. 5º, § 5º, da Lei n° 1.060/50.
2. DA COMPETÊNCIA
3. DA LEGITIMIDADE
4. DOS FATOS
5. DO DIREITO
6. DOS PEDIDOS
Melhores peças:
Beno Koatz:
demais moradores da área, vem por meio da Defensoria Pública da União, propor a
presente
AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL COLETIVA COM PEDIDO DE LIMINAR,
com base no art. 10 da Lei 10.257/2001 – Estatuto da Cidade e 941 e seguintes do CPC
em face da Empresa XXX, pessoa jurídica de direito privado, CNPJ nº ______, com sede no
endereço Rua _____________, nº ____, Bairro _______, cidade ______, pelos fatos e fundamentos a
seguir expostos.
1- FATOS
Fatos já narrados.
2- DO DIREITO
Inicialmente, os autores vêm demonstrar que são pobres na forma da lei, conforme se
observa nos documentos acostados à presente inicial, não obstante o art. 12, § 2º do
Estatuto da Cidade garantir aos autores das Ações de Usucapião Especial Coletivas, os
benefícios da justiça gratuita.
O art. 10 do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) assegura que serão usucapidas
coletivamente as áreas urbanas com mais de 250 m² (duzentos e cinquenta metros
quadrados), ocupados por população de baixa renda para sua moradia, por 5 (cinco) anos,
ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados
por cada possuidor, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel
urbano ou rural.
Pelos fatos que foram narrados na presente inicial, vê-se que os autores preenchem todos
os requisitos necessários e exigidos pelo dispositivo legal mencionado, já que:
A área objeto da presente ação é bem superior ao mínimo de 250 m² exigidos.
As famílias requerentes são, todas, extremamente pobres, de baixa renda, conforme se
demonstra pelos documentos juntados em anexo.
As famílias requerentes utilizam o imóvel objeto da presente ação para a sua moradia.
O tempo em que as famílias residem no local ultrapassa bastante o mínimo de 5 (cinco)
anos exigidos pela legislação correspondente.
Ademais, o tempo em que vivem as famílias no local transcorreu de forma ininterrupta e
sem oposição da empresa ré e de terceiros.
As casas das famílias requerentes possuem diferentes dimensões, não sendo, por esta
razão, possível identificar os possíveis terrenos ocupados por cada possuidor.
Os requerentes não são proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
Todos os requisitos acima expostos foram objeto de demonstração, por meio de
documentos, no Procedimento de Assistência Jurídica em anexo.
Ademais, vê-se que os requerentes tem a posse da área em questão, com ânimo de donos,
ou seja intenção de serem donos (Animus Domini).
Ocorre que os requerentes foram surpreendidos ao tomarem conhecimento de Ação de
Execução Fiscal promovida pela União em face da Empresa ré, na qual o imóvel em que
vivem está em vias de ser leiloado, o que não pode ser permitido conforme se passa a
expor.
As famílias requerentes vivem no local há muitos anos com o ânimo de donos, sem terem
lugar para ir ou recursos para adquirirem um outro imóvel.
Ademais, preenchem todos os requisitos para a aquisição da propriedade objeto da
Execução Fiscal promovida pela União.
A presente situação exige a atenção de V. Excelência, em razão da premente necessidade
dos requerentes de continuarem residindo no local, em razão das dificuldades pelas quais
passam diariamente. O Leilão do presente imóvel acarretará danos graves e de difícil
reparação para as famílias em razão da já exposta pobreza que lhes é inerente e por não
terem outro local para ir.
Sendo assim, presentes os requisitos da fumaça do bom direito e do perigo da demora, é
de lídima justiça que V. excelência suspenda o leilão do imóvel objeto da presente ação,
marcado para o dia _____, bem como a Ação de Execução Fiscal nº xxxxx-xx.xxxx.x.xx.xxxx,
promovida pela União, com base no art. 11 do Estatuto da Cidade, a fim de evitar os
aludidos danos irreparáveis aos requerentes.
3- DOS PEDIDOS
Isto posto, pedem os autores que seja julgada procedente a presente ação, concedendo
aos autores o domínio útil do imóvel em questão. Para tanto requerem:
a) A concessão dos benefícios da Justiça Gratuita, com base nas disposições da Lei
1060/50 e 12, § 2º do Estatuto da Cidade bem como nos documentos que demonstram o
cabimento do presente pedido;
b) Que seja citado o réu, proprietário do imóvel litigioso, para responder a presente
ação e para comparecer na audiência de conciliação, tendo em vista que a presente ação
segue o rito sumário, conforme o art. 14 do estatuto da Cidade;
c) Que sejam citados todos os confinantes e, por edital, para os eventualmente
interessados (art. 942 do CPC);
d) Que sejam intimados, por via postal, os representantes da Fazenda Pública da
União, Estados, Distrito federal, Territórios e Municípios para que manifestem eventuais
interesses na causa (art. 943 do CPC);
e) Intimação do Ministério Púbico, cuja manifestação se faz obrigatória (art. 944 do
CPC e 12, §1º do Estatuto da Cidade));
f) Liminarmente, a suspensão do leilão do imóvel em questão bem como da Execução
Fiscal promovida pela União, devendo ser determinado a proibição de qualquer ato
executório por parte da exequente, sob pena de multa diária em razão do
descumprimento (art. 11 do Estatuto da Cidade);
g) Que a sentença seja transcrita no registro de Imóveis, mediante mandado, por
constituir esta, título hábil para o respectivo registro junto ao Cartório de Registro de
Imóveis (at. 10, § 2º do Estatuto da Cidade)
h) Que a sentença atribua igual fração ideal do terreno a cada família possuidora,
independentemente da dimensão do terreno que cada uma ocupe (art. 10, § 3º do Estatuto
da Cidade).
Pretendem os autores provar suas argumentações fáticas, documentalmente,
apresentando, desde já, os documentos acostados à peça exordial, protestando pela
produção das demais provas que eventualmente se fizerem necessárias no curso da lide.
Para efeitos meramente fiscais, dá-se à causa o valor de R$ XXXX,XX.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Fortaleza, 25 de Janeiro de 2014
________________________
Defensor Público Federal
Gabrielle Lins:
I – receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com vista, intimação
pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa, contando-
se-lhes em dobro todos os prazos;
(...)
VI - ter vista pessoal dos processos fora dos cartórios e secretarias, ressalvadas as
vedações legais;
(...)
XI - representar a parte, em feito administrativo ou judicial, independentemente de
mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais.”
Assim sendo, requer desde já a observância das prerrogativas previstas na referida
Lei Complementar.
III. DO SUPORTE FÁTICO (dispensada a narrativa dos fatos)
IV. DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
IV.1. Do preenchimento dos pressupostos da usucapião especial coletiva
Assegura o art. 10 da Lei 10.257/2001 (conhecida como Estatuto das Cidades) a
propriedade do imóvel, mediante usucapião especial coletiva, ao possuidor, desde que
alguns elementos fáticos sejam preenchidos, quais sejam: a área a ser usucapida tenha
mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, seja ocupada por população de baixa
renda para a sua moradia, por cinco anos, ininterruptos e sem oposição, não seja possível
identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, e que os possuidores não sejam
proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
Esses pressupostos legais estão em perfeita consonância com as circunstâncias do
caso, pois a área objeto da presente ação tem a extensão de mil metros quadrados, essa
posse é exercida por 20 (famílias), de pobreza evidente, vivendo nesse terreno há mais de
12 anos, tendo conseguido o mesmo através de posse mansa e pacífica, já que o “lote” em
apreço se encontrava abandonado ‒ inclusive, servindo para o acúmulo de lixo e de
consumo de drogas, não tendo nunca sequer a proprietária do imóvel, a Empresa XXX
LTDA, reivindicado o seu direito de propriedade aos moradores. Estes relatam que “os
donos da terra nunca lá apareceram”.
Aline Bezerra:
Nesse sentido vale lembrar o artigo 109 da Constituição da República que diz em síntese
que cabe aos juízes federais processar e julgar as causas em que a União, entidade
autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras.
Assim, resta claro e fundamentado o porque da competência da presente ação de
usucapião especial urbano coletivo ser da justiça federal.
b. DO USUCAPIÃO ESPECIAL URBANO COLETIVO
Como já resumido nos fatos, o imóvel ora em questão, mesmo sendo de propriedade da
Ré, estava abandonado e não cumpria sua função social. Por esse motivo foi ocupado
pelas famílias carentes, ora requerentes, e serve de moradia a mais de doze anos para as
mesmas.
Diante dos fatos comprovados pelo ilustre Defensor Público que esta subscreve, ficou
claro que todos os requisitos exigidos pelo artigo 10 da lei supracitada para a concessão
do Usucapião de bem imóvel foram preenchidos.
A área usucapida tem mil metros quadrados, ou seja, mais de duzentos e cinquenta metros
quadrados, que é o mínimo exigido. Além disso a área serve para a moradia das famílias,
há mais de 12 (doze) anos, sem nunca terem saído e nem terem sido avisados que ali era
um imóvel privado, o que supre mais dois requisitos da Lei que fixa o tempo mínimo de 5
(cinco) anos para moradia e exige que não tenha ocorrido oposição. enquanto o mínimo
exigido nesse caso é 5 (cinco) anos, com animus definitivo.
Veja ainda que não há como identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, já que
as casas foram erguidas de maneira desordenada, principal motivo para a presente
usucapião ser coletivo. Por fim vale lembrar que os possuidores não são proprietários de
outro imóvel urbano ou rural.
Por tudo exposto é que fica claro o direito dos possuidores de obterem a tutela
jurisdicional com a efetiva concessão ao usucapião ora discutido.
Bárbara Mariane:
I – Da Gratuidade de Justiça:
Inicialmente, o embargante requer seja concedido o benefício da Gratuidade de Justiça,
nos termos do artigo 5º, inciso LXXIV, da CF/88, e da Lei n.º 1.060/50, uma vez que não
possui condições de arcar com as despesas do processo sem prejuízo do sustento próprio
ou de sua família, consoante declaração e documentos de hipossuficiência em anexo.
II – Dos Fatos: narrativa dispensada.
III – Do Direito:
Tramita perante esta Meritíssima Vara a Ação de Execução Fiscal n.º ___, promovida pela
União em face da empresa XXX LTDA.
Conforme de depreende dos fatos, a executada é proprietária de um lote de mil metros
quadrados e que está em vias de ser leiloado.
Ocorre que o ora embargante vive, há mais de 12 anos, no lote objeto da presente ação,
sendo tal lote ocupado por 20 famílias extremamente pobres, que ali estabeleceram sua
moradia, com ânimo definitivo.
Vale destacar que, conforme exposto na narrativa dos fatos, no ano de 2000, o imóvel
passou a ser capinado pelas pessoas que hoje lá vivem, as quais passaram a erguer
humildes casas de dimensões diversas, sendo que os referidos moradores, ou seus
descendentes, permanecem morando no local até os dias atuais. Observa-se que o
proprietário do bem nunca apareceu no local, não havendo registro de impugnação da
referida posse exercida pelo embargante e pelas famílias que no local se estabeleceram. O
embargante demonstrou, também, que nenhum dos moradores do local tem para onde ir,
pois não possuem condições de adquirir um imóvel, bem como que nunca foram
proprietários de qualquer imóvel, seja urbano ou rural.
Ocorre que Tício e os demais moradores do local foram surpreendidos ao tomarem
conhecimento da Ação de Execução Fiscal n.º___, promovida pela União em face da
empresa XXX LTDA, na qual o imóvel onde residem encontra-se em vias de ser leiloado.
Pelos fatos expostos, resta evidente a admissibilidade dos presentes embargos de
terceiro, tempestivamente opostos, com fundamento no artigo 1.046, do CPC, uma vez que
o embargante, não sendo parte no processo de execução ajuizado em face da embargada,
está sofrendo turbação na posse que exerce, por ato de apreensão judicial consistente na
alienação do bem em hasta pública (leilão).
Conforme dispõe o parágrafo 1º, do mencionado artigo, os embargos de terceiro podem
ser opostos pelo possuidor do bem, como ocorre no presente caso. Dessa forma, resta
demonstrada a qualidade de terceiro do embargante.
Ademais, a posse do imóvel pelo embargante, que vige há mais de 12 anos, também resta
claramente demonstrada nos presentes autos e será confirmada pelas testemunhas ao
final arroladas, em observância ao artigo 1.050, do CPC.
Cumpre demonstrar, também, que o ora embargante possui todos os requisitos
autorizadores da Usucapião Especial Coletiva de Imóvel Urbano, prevista na Lei n.º
10.257/01, e que pode ser invocada como matéria de defesa, segundo dispõe o artigo 13,
da referida legislação.
Isso porque, ele, juntamente com outras famílias de baixa renda, ocupa área superior a
250 metros quadrados, por mais de 5 anos, ininterruptamente e sem oposição, possuindo
os terrenos ocupados pelas famílias diferentes dimensões e não sendo, nenhum deles,
proprietários de outros imóveis, urbanos ou rurais.
O artigo 10, da Lei n.º 10.257/01, dispõe que:
“As áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupadas por
população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são
susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam
proprietários de outro imóvel urbano ou rural.”
Ademais, os parágrafos do referido dispositivo estabelecem que o possuidor pode, para o
fim de contar o prazo exigido pelo artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor,
contanto que ambas sejam contínuas, bem como que a usucapião especial coletiva de
imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante sentença, a qual servirá de título para
registro no cartório de registro de imóveis.
Assim, a posse, por parte do embargante, do imóvel objeto dos presentes embargos, resta
tão evidente que é possível, inclusive, que o mesmo adquira a propriedade originária do
bem, através de uma ação de usucapião especial coletiva urbana, a ser ajuizada pela via
adequada e com fulcro nos artigos 10 a 14, da Lei n.º 10.257/01.
Outrossim, a pretensão do embargante também encontra-se amparada pelo direito social
à moradia, consagrado pela CF/88, no seu artigo 6º, bem como pela dignidade da pessoa
humana (art. 1º, III, da Carta Maior), uma vez que o embargante exerce a posse sobre o
lote em questão há mais de 12 anos, juntamente com outras várias famílias de baixa renda,
que ali encontraram uma maneira de viver dignamente.
Por essas razões, visa-se requerer a expedição de mandado de manutenção de posse em
favor do embargante, anulando-se o leilão determinado, de modo a favorecer o
embargante, bem como às famílias que no mesmo lote e nas mesmas condições vivem,
uma vez que não é possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor.
IV- Da liminar:
O artigo 1.051, do CPC, dispõe que, julgando suficientemente provada a posse, o juiz
deferirá liminarmente os embargos e ordenará a expedição de mandado de manutenção
de posse em favor do embargante.
No tocante ao “fumus boni iuris”, resta claramente demonstrada a posse do embargante
conforme o exposto acima. No que diz respeito ao “periculum in mora”, mostra-se clara a
necessidade do embargante de permanecer no lote em questão, no qual estabeleceu
moradia há mais de 12 anos, com ânimo definitivo.
Requer-se, assim, a expedição liminar de mandado de manutenção de posse.
V – Do Pedido:
Diante do exposto, requer-se, respeitosamente:
a) a distribuição dos presentes embargos, por dependência, à Ação de Execução Fiscal
n.º _____;
b) a concessão dos benefícios da justiça gratuita, na forma da Lei 1.060/50 e do art.
5º, LXXIV, da CF/88;
c) a intimação pessoal da Defensoria Pública da União, no endereço ____, na forma do
artigo 44, inciso I, da LC 80/94;
d) a expedição liminar de mandado de manutenção de posse em favor do embargante,
anulando-se o leilão determinado, bem como que sejam ao final julgados procedentes os
presentes embargos de terceiro para o fim de se determinar a permanente manutenção
do embargado, e das demais famílias que no mesmo lote residem, na posse do imóvel
indevidamente constrito;
e) sejam citados as embargadas para a devida apresentação de defesa, no prazo de 10
dias, sob pena revelia, na forma do artigo 1.053, do CPC;
f) sejam as embargadas condenadas ao pagamento de custas judiciais e honorários
advocatícios, a serem depositados em favor da Defensoria Pública da União, em
observância ao artigo 20, do CPC, e ao artigo 4º, XXI, da LC 80/94;
g) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial a prova
testemunhal.