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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

CAMPUS BUTANTÃ

Direito – 6º semestre / Turma: DIR1AM-BUD

A3 – disciplina: UC Relações Jurídicas Internacionais | Profs.: Claudia Maria Carvalho


do Amaral Vieira e Luis Fernando de Paiva Baracho Cardoso

Integrantes: Caio Vinícius Martins Rodrigues – 819118506; Edvânia Benedito da Silva –


820250681; Luiz Felipe da Silva Abreu – 819145345

SÃO PAULO

2021
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 1ª VARA DA
SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA

PEDIDO URGENTE – SEGREDO DE JUSTIÇA (criança em situação de risco)

REQUERENTE: ALBERTO
REQUERIDA: PATRÍCIA
INTERESSADO: PIERLUIGI

ALBERTO, italiano, solteiro (...), vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, por
intermédio dos seus advogados, propor a presente AÇÃO CAUTELAR DE BUSCA,
APREENSÃO E RESTITUIÇÃO DO MENOR COM PEDIDO DE TUTELA DE
URGÊNCIA, em face de PATRÍCIA, brasileira, solteira (...), pelas razões de fato e de direito
delineadas a seguir.

TRAMITAÇÃO PRIORITÁRIA – CRIANÇA OU ADOLESCENTE. Considerando que a


ação envolver matéria regulada pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança
e do Adolescente), requer prioridade da tramitação, nos termos do artigo 152, § 1º do ECA.

1. SÍNTESE FÁTICO-PROCESSUAL

Em 2004, Alberto e Patrícia se casaram em Milão. Ele italiano e ela brasileira.

Em maio de 2007, o casal teve seu único filho, Pierluigi, nascido na Itália e devidamente
registrado no Consulado brasileiro em Milão.

Em 2013, o casamento se dissolveu pelo divórcio do casal, em que foi atribuído a guarda
compartilhada de Pierluigi.

Em 2016, com dificuldades de se manter na Itália, Patrícia volta ao Brasil. Nesta ocasião,
tribunais italianos atribuíram a guarda da criança ao pai, Alberto, mas determinaram a
possibilidade de o menor passar as férias de verão com a mãe, no Brasil, e de pelo menos duas
semanas com a mãe quando esta viajasse à Itália para visitar o filho.

Em janeiro de 2020, Patrícia recebe uma ligação de Alberto, que comunica que Pierluigi está
se consultando em uma psicóloga, por orientação da escola, uma vez que, aos 13 anos, começou
a demonstrar ações e comportamentos que indicavam desconformidade de gênero. Alberto
completou dizendo que iria seguir as instruções dos profissionais de saúde e a vontade
adolescente e, por isso, já estavam sendo agendados exames para preparar Pierluigi para sua
transição assim que ele voltasse de férias de verão no Brasil.

Patrícia se opõe fortemente ao planejamento de Alberto e diz que quer levar o filho ao médico
no Brasil, para obter opiniões. Alberto diz que deve ser feito o melhor para o filho deles e não
se opõe a que a mãe faça isso durante o período de férias no Brasil.

Ainda com quadro pandêmico não controlado, Alberto autoriza a ida de Pierluigi ao Brasil de
2 de julho a 16 de agosto de 2020.

Patrícia com as informações que recebera no início do ano e com o comportamento do filho,
decide não o mandar de volta na data prevista, mantendo-o no Brasil. Em seguida, leva o menor
para um profissional no Basil a fim de reverter seus trejeitos que demonstram desconformidade
de gênero.

Alberto aciona a Autoridade Central italiana para a Convenção sobre os Aspectos Civis do
Sequestro Internacional de Crianças de Haia (1980), comunicando a possível retenção do menor
no Brasil pela genitora ao Dipartimento per la giustizia minorile e di comunità para solicitar
um pedido de cooperação jurídica internacional.

Ao receber o pedido em outubro de 2020, a Autoridade Central Brasileira para a Cooperação


Jurídica Internacional (Autoridade Central Administrativa Federal ACAF/DRCI/Senajus),
órgão do governo federal brasileiro para mesma convenção, após intervenção do Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que teria visitado Patrícia e Pierluigi, nega o
retorno.

A Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos declarou à impressa à época que o
Ministério faria de tudo para proteger a família brasileira e o menor, com fundamento na alínea
“a” do art. 13 da Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças
de Haia (1980), uma vez que seria violação dos direitos de guarda proceder com tamanha
invasão ao corpo do adolescente.

A ACAF, em decisão de janeiro de 2021, justificou o não retorno com fundamento na alínea
“b” do art. 13 da Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças
de Haia (1980) por entender que a pandemia da COVID-19 colocava o menor em risco e que
seu retorno não seria recomendável até o devido controle do quadro pandêmico ou autorização
para sua vacinação.

Patrícia, que já havia matriculado o adolescente na escola no Brasil, passa a proibir as visitas
de Alberto, que veio ao Brasil para tratar do caso.

Ocorre, no entanto, que a transferência e retenção do adolescente Pierluigi acontece de


forma ilícita – uma vez que viola o direito de guarda atribuído a Alberto na Itália, local
de residência habitual do menor, nos termos do artigo 3º, alínea “a” e “b”, da Convenção
sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças de Haia (1980).

2. DO DIREITO
2.1 DA COMPETÊNCIA PARA APLICAÇÃO DA CONVENÇÃO DE HAIA E
LEGITIMIDADE PROCESSUAL

Nos termos do artigo 109, incisos I e II da Constituição da República Federativa do Brasil


(1988), a competência para julgar as ações de interesse da União e de causas fundadas em
tratado é da Justiça Federal. Isto é, em regra, é a União quem detém o interesse em cumprir com
as obrigações internacionais de cooperação com previsão na Convenção sobre os Aspectos
Civis do Sequestro Internacional de Crianças de Haia (1980).

Entretanto, conforme o caso, o requerente (Adalberto) também pode agir em nome próprio e
assumir a posição de autor, conforme disposição no artigo 124 do Código de Processo Civil
(2015). No mesmo sentido, a Convenção de Haia (1980), em seu artigo 29, estabelece que
qualquer pessoa, que julgue ter havido violação do direito de guarda ou de visita, poderá dirigir-
se diretamente às autoridades judiciais ou administrativas de qualquer dos Estados
Contratantes.

As relações jurídicas de Direito Internacional Privado detêm o elemento de estraneidade, no


qual diante de uma pretensão resistida são submetidas as regras processuais limitadoras de
jurisdição; pois, a fim de darem provimento jurisdicional, estabelecem o foro (lex fori)
competente a partir dos elementos de conexão.

No caso do Brasil, a partir da interpretação da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro


(LINDB), artigo 12, quem tem competência de julgar é a autoridade judiciária brasileira, uma
vez que a Ré (Adriana) é domiciliada no Brasil.

Cabe destacarmos íntegra da decisão do Ministro Relator João Otávio de Noronha, que em um
julgado do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu sobre a competência do juiz para
aplicação da Convenção de Haia:

É que, no juízo federal, tramita a ação de busca e apreensão, amparada no


compromisso de cooperação internacional previsto na Convenção de Haia sobre
Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças. Nesse feito, o magistrado
limita-se ao exame da configuração da transferência ou retenção ilícitas da criança
e, uma vez reconhecida a prática do ilícito, à existência ou não dos motivos que
justifiquem a recusa da restituição pretendida, conforme exceções previstas na
própria convenção. (STJ, 2015, on-line).

Referente à decisão supracitada, percebe-se que a decisão do juízo federal deve ser
contida, limitando-se ao exame da configuração da transferência ou retenção ilícita do
adolescente e reconhecendo ou não a prática do ilícito.

2.2 DA POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA CONVENÇÃO DE HAIA,


LEGISLAÇÃO BRASILEIRA, DIREITO DE GUARDA E VISITA DO
ADOLESCENTE

É evidente o preenchimento de todos os requisitos previstos no artigo 3º da Convenção sobre


os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças de Haia (1980), isto porque nos autos
são demonstrados que Adalberto detinha o direito de guarda do adolescente Pierluigi; sendo
concedido de forma temporária o direito de visita a genitora Patrícia - que decide não o mandar
o menor de volta na data prevista, mantendo-o no Brasil.

No entendimento do advogado e escritor Jeremy D. Morley (2001, p. 11), a Convenção de Haia


(1980) é aplicável nos seguintes casos:

1. O país de residência habitual da criança e o país em que a criança foi levada


aderiram à Convenção;
2. A criança em questão é menor de 16 anos de idade; e

3. A criança foi ‘ilicitamente transferida ou retida’, em violação do direito de guarda


nos termos da lei do Estado da residência habitual da criança

Percebe-se o preenchimento de todos os requisitos acima, tendo em vista que o país de


residência habitual de Pierluigi (Itália) e o país em que o adolescente foi levado (Brasil),
aderiram à Convenção; o adolescente é menor de 16 anos; e, foi indevidamente transferido e
retido, em violação ao direito de guarda do requerente.

Imperiosa se faz a aplicação da Convenção.

De acordo com definição do artigo 5º, inciso “a” da Convenção citada, o direito de guarda
compreenderá com os direitos relativos aos cuidados com a pessoa da criança e, em particular,
o direito de decidir sobre o lugar da sua residência.

O artigo 5º, inciso “b” da mesma Convenção, estabelece que o “direito de visita” compreenderá
o direito de levar uma criança, por um período limitado de tempo, para um lugar diferente
daquele onde ela habitualmente reside.

Adalberto exercia a guarda de forma exclusiva em razão de normas do ordenamento jurídico da


Itália, cuidando e decidindo o lugar da residência habitual do adolescente. Já Patrícia, exercia
o direito de visita; em que, no Brasil, passa a proibir as visitas de Alberto.

Evidente violação dos direitos e deveres conferidos a cada cônjuge.

O Autor (Adalberto), encontra-se preocupado com as consequências que esta situação pode
causar ao menor, que vem sofrendo fortemente por alienação parental praticada pela mãe. Sofre
demasiadamente com tal situação, uma vez que se encontra privado do convívio com Pierluigi.

A conduta da Ré (Patrícia) se enquadra na Lei 12.318/2010 (legislação brasileira), que dispõe


sobre alienação parental, uma vez que interfere na formação psicológica do adolescente e gera
prejuízo à manutenção dos vínculos com o pai (artigo 2º); dificultando o exercício da autoridade
parental (II); e dificultando o exercício da convivência familiar (IV).

O Código Civil (brasileiro), em seu artigo 1.634, estabelece que compete a ambos os pais,
qualquer que seja a situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar.
Apesar das divergências com a Ré, o Autor sempre presou pelo diálogo e pela melhor
convivência e interesse do menor, já que sua única preocupação é com o bem estar de seu filho,
motivo que entende que os problemas entre os genitores não podem afetar Pierluigi.

É notável a flagrante ilegalidade da transferência e retenção do adolescente Pierluigi no Brasil,


haja vista que viola a legislação brasileira, a Convenção internacional de Haia e o acordo de
guarda e visita firmado na Itália.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), em seu artigo 3º e parágrafo único,


expressa que a criança e ao adolescente são garantidos todos os direitos fundamentais inerentes
à pessoa humana, sendo assegurado por lei todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes
proporcionar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade; sem discriminação de quaisquer naturezas.

Nesse contexto, destaca-se que é preciso proteger, acolher e respeitar o adolescente Pierluigi
em sua integridade, não submetendo-o, então, a imposições relativas ao seu gênero. Numa
percepção ético afirmativa de acolhimento das diferenças no marco da diversidade, em que o
processo de desenvolvimento e crescimento pessoal respeitados e garantidos por lei.

Ademais, na aplicação da Convenção de Haia de 1980, não há que se discutir sobre o


direito de quem tem direito à guarda do menor, mas sim que o adolescente retorne
imediatamente ao seu domicílio habitual; sendo a Itália é o Estado competente para
resolver questões relativas à guarda e visitas do adolescente, e não o Brasil (artigo 16 da
Convenção).

2.3 DA RESIDÊNCIA HABITUAL DO ADOLESCENTE

A Convenção da Haia (1980) estabelece regras de Direito Internacional Privado para solução
de conflitos em territórios distintos (elemento de estraneidade). Nesse sentido, entende-se que
a “residência habitual” é utilizado como elemento de conexão aplicável à análise do caso
concreto.

Na identificação da “residência habitual, para o Conselho da Justiça Federal no “Manual de


aplicação da Convenção da Haia de 1980”, é necessário identificarmos 2 (dois) elementos
essenciais: o “ânimo” (vontade de criar laços com um novo país) e “tempo” (decorrência de
determinado prazo). Assim, interpreta-se que terá residência habitual em determinado Estado a
criança/adolescente que nele estiver residindo com a intenção de lá permanecer – com vínculos
robustos e importantes com seus genitores, ambiente escolar, social, familiar.

Nesse sentido, na concepção de Clóvis Beviláqua (1949, p.195), acerca da definição de


domicílio, que muito se assemelha a ideia de “residência habitual”:

a de morada e a de centro de atividades; aquela referindo-se à família, ao lar, ao


ponto, onde o homem se acolhe para a vida íntima e o repouso; esta acenando à vida
externa, às relações sociais, ao desenvolvimento das faculdades de trabalho, que todo
homem possui

Pierluigi, vítima de subtração ilícita, deverá ser restituído ao local de sua residência habitual,
sendo descartados as noções de nacionalidade e domicílio. Isto é, ainda que o adolescente fosse
reconhecido como brasileiro nato e mantivesse residência no Brasil, deverá ser sendo
sobrepesado o local de sua “residência habitual”, conforme previsão expressa na Convenção
(art. 3º, “a”).

2.4 DA NÃO APLICAÇÃO DAS EXCEÇÕES QUANTO AO RETORNO DO


ADOLESCENTE E DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO BRASIEIRO

A legislação interna do Brasil, Constituição Federal (1988), em seu artigo 227, estabelece que
é dever da família da sociedade e do Estado assegurar a criança, ao adolescente e ao jovem,
com a absoluta prioridade, o direito à diversas garantias, colocando a salvo toda forma de
negligência discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Percebe-se claramente que Patrícia, ao decidir não o mandar Pierluigi de volta na data prevista,
mantendo-o no Brasil, agride diretamente ao texto constitucional e promove riscos psíquicos
graves ao adolescente – uma vez acarreta em sérios riscos de adaptação.

A Convenção de Haia (1980), em seu artigo 13, alínea “b”, estabelece exceções ao retorno do
adolescente para quando existe um risco grave a perigos de ordem física ou psíquica, ou para
situação cujo ambiente se torne intolerável.

Não há no caso em questão quaisquer riscos de retorno ao adolescente de ordem física ou


psíquica, tampouco situação que seja intolerável - tendo em vista que Adalberto, genitor, está
salvaguardando o melhor interesse do menor.
A justificação da Ministra da Mulher, da Família e Dos Direitos Humanos quanto a declaração
da impressa com fundamento na alínea “a” do artigo 12 da Convenção de Haia (1980) – carece
de argumentos – uma vez que Adalberto exercia efetivamente o direito de guarda do adolescente
e não haveria quaisquer riscos de invasão ao corpo do menor. Aliás, Adalberto segue as
instruções dos profissionais de saúde e a vontade do adolescente.

É justificável a decisão da ACAF pelo não retorno do adolescente com fundamento na alínea
“b” do art. 13 da mesma Convenção, por entender que a pandemia da COVID-19 colocava o
menor em risco e que seu retorno não seria recomendável até o devido controle do quadro
pandêmico ou autorização para sua vacinação. Entretanto, a decisão deve ser sobrepesada
no melhor interesse do adolescente, a fim de assegurar o retorno imediato; fazendo
respeitar de maneira efetiva os direitos de guarda e de visita; e, sendo uma obrigação
estabelecida que vincula o Estado brasileiro.

De acordo com o entendimento do Ministro relator César Asfor Rocha, em decisão do REsp
1.239.777/PE:

No âmbito internacional, as regras e os costumes devem ser aplicados e interpretados


diferentemente, com mais racionalidade e menos apego aos costumes e às normas
nacionais, de forma a alcançar um ponto de equilíbrio, suportável para todos os
envolvidos nessas novas relações e indispensável para disciplinar os efeitos delas.
(STJ, 2012, on-line).

A Convenção de Haia (1980), em seu artigo 1º, alíneas “a” e “b”, estabelece que o objetivo do
tratado é de assegurar o retorno imediato de crianças ilicitamente transferidas para qualquer
Estado Contratante ou nele retidas indevidamente; fazendo respeitar de maneira efetiva os
direitos de guarda e de visita existentes.

O Decreto nº 3.951/2001, que designa a Autoridade Central brasileira (Secretaria de Estado dos
Direitos Humanos do Ministério da Justiça) para dar cumprimento às obrigações impostas pela
Convenção de Haia (1980), disciplina em seu artigo 2º que compete à Autoridade Central
representar os interesses inerentes do Estado brasileiro na proteção de crianças e adolescentes
dos efeitos prejudiciais resultantes de mudança de domicílio ou retenção ilícita (I);
estabelecendo procedimentos que garantam o ingresso imediato das crianças e adolescentes ao
estado de sua residência habitual (II).
O Objetivo da Convenção é o retorno ao status quo ante, qual seja, o retorno imediato do
adolescente retido e mantido em Estado distinto de sua residência habitual, prevalecendo o
princípio da dignidade da pessoa humana e o superior interesse da criança; isto é, os Estados
Contratantes devem respeitar mutuamente os direitos de guarda e visita regentes em seus
territórios.

Nesse sentido, cabe o Estado brasileiro no campo do Direito Internacional, a


responsabilidade/obrigação de garantir a ordem jurídica para a manutenção e equilíbrio da
equivalência dentre os Estados-membros da comunidade internacional, a fim de aplicar as
regras com maior racionalidade, sem apegos aos costumes e normas nacionais.

É preciso deixar claro que o tratado internacional concedido e desenvolvido visa a atender o
melhor interesse do menor. Isso significa dizer que não é possível negar o retorno com base
exceções que não se encontram na Convenção.

Isto é, não se deve proceder de forma diversa, desrespeitar e ignorar o pacto internacional;
pois, como mencionado, foi constituído com objetivo de proteger as crianças e
adolescentes vítimas de subtração internacional.

Não há dúvidas da ilicitude do ato cometido - inexistindo quaisquer comprovações para


aplicação das exceções previstas na Convenção.

2.5 DA NECESSIDADE DE APLICAÇÃO DE MULTA E EXPEDIÇÃO DE


MANDADO DE BUSCA, APREENSÃO E RESTITUIÇÃO DO MENOR

Conforme exposto, à Ré (Patrícia) vem ignorando a existência de acordo sobre o direito guarda
e direito de visitação do adolescente na Itália, local de residência habitual do menor.

Assim, não resta alternativas ao Autor senão requerer EXPEDIÇÃO DE MANDADO DE


BUSCA, APREENSÃO E RESTITUIÇÃO DO MENOR à Itália, conforme expressado no
artigo 535, § 1º do CPC, em que no cumprimento de sentença que reconheça a legibilidade de
obrigação de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, a requerimento da parte, para
efetivação da tutela específica, determinar as medidas necessárias a satisfação do exequente;
sendo possível o juiz determinar a imposição de multa, a busca e apreensão.
Deverá, ainda, ser aplicada à Ré multa diária, a qual requer-se seja fixada em 20% do
salário mínimo vigente, como forma de forçar o cumprimento do acordo realizado na
Itália e, assim, retomar ao convívio com o adolescente.

2.6 DA TUTELA DE URGÊNCIA

Os fatos acima relatados, comprovados por documentação que Adalberto detinha o direito de
guarda do adolescente Pierluigi na Itália, evidenciam a gravidade da situação, uma vez que o
adolescente foi transferido e retido de forma ilícita no Brasil.

O perigo na demora reside no fato de que aguardar o curso natural do processo poderá
gerar graves danos psicológico irreversíveis ao adolescente, bem como risco de
rompimento dos laços existentes entre filho e pai.

Desta forma, pugna a concessão de tutela de urgência, inaudita altera pars, a fim que seja
determinada a busca, apreensão e restituição do menor para cumprimento do acordo celebrado
na Itália; e, que seja determinada a imediata realização de estudo psicológico, considerando-se
que a demora na resolução do presente caso prolongará os danos psicológicos que o adolescente
está submetido.

3. DOS PEDIDOS

Diante dos fatos e direitos apresentados, vem a Excipiente, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, requerer:

a) que seja concedida em caráter liminar a expedição do MANDADO DE BUSCA,


APREENSÃO E RESTITUIÇÃO DO MENOR PIERLUIGI, a ser cumprido no
atual endereço da Ré (...), nos termos da Convenção sobre os Aspectos Civis do
Sequestro Internacional de Crianças de Haia (1980) e legislação brasileira (art. 535, §
1º do CPC);
b) que seja fixada multa diária no percentual de 20% sobre o salário mínimo a cada dia que
a Ré descumprir o acordo;
c) que seja concedida a tutela de urgência a fim de que seja determinada a realização
imediata do estudo psicológico.

Termos em que pede deferimento. São Paulo, 15 de dezembro de 2021.


Bibliografia

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Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção
Internacional, concluída na Haia, em 29 de maio de 1993. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3087.htm. Acesso em: 12 dez. de 2021.

BRASIL, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 12 dez. de
2021.

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 12 dez. de
2021.

BRASIL, Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015.


Código de Processo Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
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BRASIL, Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às normas do


Direito Brasileiro. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del4657compilado.htm. Acesso em: 12 dez. de 2021.

STJ - CC: 132100 BA 2014/0002719-9, Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,


Data de Julgamento: 25/02/2015, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe
14/04/2015. JusBrasil, 2015. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/181121081/conflito-de-competencia-cc-132100-ba-
2014-0002719-9/relatorio-e-voto-181121098. Acesso em: 12 dez. de 2021.

Cf. MORLEY, Jeremy D. Hague international child abduction cases: the future of the grave
risk of harm defense. The Matrimonial Strategist. fev. 2007 apud MERIDA, 2001, p. 11.

BRASIL, Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010.


Dispõe sobre a alienação parental. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm. Acesso em: 12 dez.
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BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 12 dez. de
2021.

BRASIL, Decreto nº 3.951, de 4 de outubro de 2001. Designa a Autoridade Central para dar
cumprimento às obrigações impostas pela Convenção sobre os Aspectos Civis do
Sequêstro Internacional de Crianças. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/d3951.htm. Acesso em: 12 dez. de 2021.

BRASIL, Conselho da Justiça Federal. Manual de aplicação da Convenção da Haia de 1980.


Disponível em: https://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
judiciarios-1/publicacoes-1/outras-publicacoes/manual-haia. Acesso em: 12 dez. de 2021.

BRASIL, Advocacia-Geral da União. Combate à Subtração Internacional de Crianças.


Disponível em: https://legado.justica.gov.br/sua-protecao/cooperacao-internacional/subtracao-
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BEVILÁQUA, Clóvis. Theoria geral do Direito Civil. Atualizada por Achilles Beviláqua. 4a
ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1949, p. 195

STJ - REsp: 1239777 PE 2010/0180753-9, Relator: Ministro CESAR ASFOR ROCHA, Data
de Julgamento: 12/04/2012, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 19/04/2012.
JusBrasil, 2012. Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21520721/recurso-
especial-resp-1239777-pe-2010-0180753-9-stj/inteiro-teor-21520722. Acesso em: 12 dez. de
2021.

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