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4.

EXCEPICIONALIDADE DA ADOÇÃO INTERNACIONAL

A legislação brasileira enuncia de forma expressa em seu art. 19 do ECA que a


colocação do menor em família substituta só se dá de caráter excepcional, decido ao
fato de que toda criança ou adolescente tem o direito de ser educado e criado no seio de
sua família natural e, excepcionalmente em família substituta, sendo-lhe assegurado a
convivência familiar e comunitária, portanto, tornando-se regra geral, o cumprimento
das funções de proteção e cuidados da criança pelos pais biológicos. 1

Já com a adoção internacional por ser um assunto polêmico, visto com receito e
ponderação, e sua posição no aspecto jurídico é a “última ratio”, ou seja, o último
recurso a ser considerado, após haver esgotadas todas as exaustivas possibilidades de
adoção em solo brasil, conforme dispõe o ECA:

Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual o pretendente


possui residência habitual em país-parte da Convenção de Haia, de 29 de
maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria
de Adoção Internacional, promulgada pelo Decreto n o 3.087, de 21 junho de
1999 , e deseja adotar criança em outro país-parte da Convenção.

II - Que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou


adolescente em família adotiva brasileira, com a comprovação, certificada
nos autos, da inexistência de adotantes habilitados residentes no Brasil com
perfil compatível com a criança ou adolescente, após consulta aos cadastros
mencionados nesta Lei;2

Nader (2016) destaca que, a adoção internacional é considerada para o


ordenamento jurídico brasileiro, uma medida excepcional, hipótese essa admitida
somente quando ficar provado, que essa é a solução adequada a colocação em família
substituta, para o caso concreto, não havendo a possibilidade de colocação do menor em
família substituta brasileira. Em caso do adolescente, que esteja preparado para a
adoção, com o respectivo formulário emitido por equipe interprofissional, resguardado a
oitiva do adolescente, e anuência do Magistrado, o entendimento nesse sentido é
proteger a criança, como medida de segurança e garantir o princípio do melhor interesse
da criança e adolescente, e o desvio de finalidade da adoção. O princípio da prioridade

1
COSTA, Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional – Um estudo sociojurídico e comparativo da
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 236.
2
ECA
em relação à família brasileira se dá pela prevalência da cultura, da nacionalidade, do
idioma e todo contexto, que de certa forma faz parte dos cidadãos nativos no país. Para
que a criança ou adolescente não sinta o impacto dessa mudança em outro país
estrangeiro.

As medidas acrescentas no Diploma legal pela Lei de adoção (12.010/2009),


regula a adoção internacional com condições e critérios exigentes, com objetivo de
trazer segurança ao processo atendendo o melhor interesse do adotado. Com constante
prevalência em manter a criança ou adolescente em família brasileira, porém por outro
lado, a burocratização e os muitos entraves e obstáculos tronaram-se barreiras
intransponíveis para que os que desejam o intento da adoção internacional.

A Lei Nacional da adoção implementou o Cadastro Nacional de Crianças e


Adolescentes disponíveis à adoção (CNA), bem como o de pais aptos a se tornarem
adotantes, como visto no art. 50 do ECA, medida essa fundamental à garantia do direito
de convivência familiar da criança e do adolescente. O paragrafo 6º do mesmo artigo
determina que deve haver um cadastro separado para os adotantes residentes e
domiciliados em países estrangeiros. A inclusão deste dispositivo é fundamental para
garantir que o cadastro de adotantes estrangeiros só seja acessado caso não haja
adotantes disponíveis no cadastro nacional, evidenciando o caráter de última ratio da
adoção internacional.

Importante ressaltar que considerando a excepcionalidade da adoção, ela só


poderá ocorrer depois de verificada a impossibilidade de sua realização por adotantes do
Cadastro Nacional, de forma que, na prática, as crianças mais velhas, de pele escura,
deficientes ou com irmãos, que não preenchem o perfil dos adotantes nacionais acabam
oferecidas à adoção internacional (GOMEZ, 2017 apud GUIMARAES, 2020).

Estas possibilidades, restringem em muito a adoção internacional, pois destinaria


ao instituto, apenas aquelas crianças com algum tipo de restrição, evidenciando a faceta
excludente da adoção no Brasil e o perfil seletivo dos adotantes do Cadastro Nacional
que põem em risco o direito à convivência familiar das crianças e adolescentes que
necessitam do instituto.

5. ESTATISTICAS DA ADOÇÃO INTERNACIONAL NO BRASIL


Segundo o CNJ (2020)3, os dados informados pelo CNA (Cadastro Nacional de
Adoção) cerca de de 32 (trinta e dois) mil crianças acolhidas que vivem em instituições
de acolhimento nos estão cadastradas, esse cadastro é geral e integrado com todos os
órgãos e entidades que acolhem crianças e adolescentes. Sendo do total, 5 (cinco) mil
crianças estão disponíveis para adoção; 4,7 mil (quatro mil e setecentas) estão em
processo de adoção, além de segundo os dados atualizados ter cerca de 34 (trinta e
quatro) mil pretendes para adotar.

Sobre a adoção internacional o CNJ em 2018 informou, que nos anos de 2015 a
2018, foram adotadas 156 (centro e cinquenta e seis) crianças para países estrangeiros,
sendo essas 126 (cento e vinte e seis) crianças foram adotadas por famílias italianas.
Sendo a Itália o país que mais adota criança no Brasil.

Sobre o perfil das famílias estrangeiras segundo o CNJ, as famílias são menos
exigentes em comparação aos pretendentes brasileiros que em sua maioria, esses
preferem crianças com faixa etária menor de 7 anos para baixo, crianças brancas, sem
doenças ou algum tipo de deficiência. Já o perfil dos candidatos estrangeiros é uma
realidade diferente do perfil das famílias brasileiras que querem adotar.

As adoções estrangeiras são em sua maioria, de crianças que teriam poucas


chances de serem adotadas nacionalmente, são crianças mais velhas e muitas delas com
irmãos, crianças com algum tipo de deficiência física ou mental. Os pretendentes
estrangeiros a adoção, também não tem preferência por cor de pele da criança, nem por
gênero, ou mesmo se a criança não possui um padrão de beleza considerado para
sociedade em geral. O intuito é tão somente de proporcionar um lar e acolher uma
criança.

Os dados são consideráveis, o perfil dos estrangeiros em comparação ao perfil dos


brasileiros que desejam a adoção em solo nacional, são contrastantes e merecem
reflexão, como exemplo de dados informados pelo CNJ 4 a maioria, ou seja, cerca 92%
dos pretendentes brasileiros querem adotar crianças de pele branca, Diante do exposto,
considerando o quadro, até que ponto o Princípio do Melhor Interesse a criança está
sendo tratado dentro do processo do instituto da adoção, para beneficiar positivamente
as crianças ou adolescentes que esperam por uma adoção.

3
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça- CNJ- Relatórios Estatísticos Nacionais. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/adocao/
4
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2011/02/pesq_adocao_brasil.pdf
A excepcionalidade da adoção internacional, sendo ela instituída como última
alternativa, após esgotadas todas as outras possibilidades no processo de adoção. No
entanto, os dados informados pelo CNJ indicam que as famílias estrangeiras têm
adotado crianças que teriam poucas chances no cenário brasileiro de adoção, seja, por
idade, doença, por questão racial ou até mesmo em casos de irmãos que não podem ser
separados, entretanto, está excepcionalidade coloca em relação desigual os candidatos
estrangeiros, que acaba por atrapalhar o processo de adoção, pois se sabe que para uma
criança à espera de uma família, cada dia no abrigo torna a possibilidade de ser adotada
menor.

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