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UNISUAM

DIREITO CIVIL VI
PROFESSORA LIDIA CALDEIRA
RESENHA DA OBRA MANUAL DE DIREITO DAS FAMÍLIAS DA
PROFESSORA MARIA BERENICE DIAS, EDITORA REVISTA DOS
TRIBUNAIS
ADOÇÃO

HISTÓRICO:
 O CC/16 chamava de simples a adoção tanto de maiores como de menores de
idade. Só podia adotar quem não tivesse filhos. A adoção era levada a efeito por
escritura pública e o vínculo de parentesco estabelecia-se somente entre o
adotante e o adotado.
 A lei 4.655/65 admitiu a chamada legitimação adotiva. Dependia de decisão
judicial, era irrevogável e fazia cessar o vínculo de parentesco com a família
natural.
 O Código de Menores, lei 6.657/79 , revogado pelo ECA, substituiu a
legitimação adotiva pela adoção plena. O vínculo de parentesco foi estendido à
família do adotante.
 A CF/88 ao admitir as igualdade dos filhos, eliminou qualquer distinção entre
adoção e filiação.
 Quanto aos maiores, permaneceu o entendimento do CC/16. Podia ser levada a
efeito por escritura pública. O adotado só tinha direito à herança se o adotante
não tivesse filhos biológicos. Advindo filhos biológicos após a adoção, este
somente faria jus a metade do que recebesse os filhos biológicos por herança.
Com a promulgação da CF/88, estes artigos foram considerados
inconstitucionais.
 Com o advento do CC/02 grande polêmica se instaurou. O ECA tratava somente
da adoção de crianças e adolescentes. O CC também trazia dispositivos. Foi
então que a Lei Nacional da adoção 12.010/09 regulou a matéria atribuindo ao
ECA a adoção de crianças e adolescentes, mas mandando aplicar seus princípios
à adoção de maiores.

CONCEITUAÇÃO
Trata-se de modalidade de filiação construída no amor, na feliz expressão de Luiz
Edson Fachin, gerando vínculo de parentesco por opção. A adoção consagra a
paternidade socioafetiva, baseando-se não em fator biológico, mas sociológico.
Segue-se a doutrina da proteção integral da pessoa, afastando-se a natureza jurídica
contratual.
A filiação não é um dado da natureza, mas uma construção cultural, fortificada na
convivência , no entrelaçamento dos afetos, pouco importando sua origem.
Não cabe mais falar em filho adotivo, mas filho por adoção.
O adotado adquire os mesmos direitos e obrigações como qualquer filho. Em
contrapartida, também correspondem ao adotado os deveres de respeito e obediência.
Os pais por sua vez têm o mesmo dever de guarda, criação, educação e fiscalização.
A adoção desliga o adotado de qualquer vínculo com os pais biológicos, salvo quanto
aos impedimentos para o casamento.
A relação de parentesco se estabelece entre o adotado e toda a família do adotante.
A adoção é irrevogável (ECA 39 § 1º). No entanto, muitas vezes “devolvem” a criança
que retorna à opção de ser adotada por quem a queira.
A jurisprudência tem imposto a estes adotantes o dever de pagar alimentos, indenização
por danos morais e materiais e atendimento psicológico, aos adotados devolvidos.
A morte do adotante não restabelece o poder familiar dos pais naturais (ECA 49). Não
há possibilidade dos pais adotarem seus próprios filhos. A doutrina contesta. Se o filho
ficou órfão, nada impede que seja novamente adotado, agora pelos pais biológicos.
Avós não podem adotar netos , nem irmãos uns aos outros, mas pode haver guarda ou
tutela.
Não há óbice à adoção entre colaterais de terceiro e quarto grau.
A alteração do sobrenome do adotado é obrigatória. A adoção do prenome pode ocorrer
se for da vontade do adotado, se menor de 18 anos.
Idade do adotante: 18 anos ou mais. Entre adotante e adotado deve existir uma diferença
de 16 anos. Se forem dois os adotantes, basta a diferença para um deles.
Qualquer pessoa pode adotar: solteiros, divorciados, viúvos, qualquer orientação sexual.
Se casados ou companheiros, e um deles não quiser adotar em conjunto, basta sua
concordância.
A adoção pode ser concedida aos divorciados e aos ex-companheiros, desde que o
período de convivência tenha se iniciado durante a constância da união.
O consentimento dos pais ou do representante legal do adotando é dispensável se os
pais forem desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar.
Se o menor já convive com os adotantes, desnecessária a concordância dos pais
biológicos.
O tutor e o curador podem adotar o pupilo ou o interdito, mas é necessária apresentação
das contas.
Adoção híbrida ou unilateral: o padrasto tem legitimidade para ajuizar ação de
destituição do poder familiar do pai biológico que abandonou o menor, cumulada com
pedido de adoção.
Multiparentalidade. Ocorre quando o menor convive com pai e padrastos presentes.
Pode-se acrescentar a filiação socioafetiva , inclusive com acréscimo de sobrenomes, à
certidão de nascimento.
Adoção de maiores: artigo 1.619 CC. Os pais devem ser citados.
Adoção internacional. Grandes entraves burocráticos. Regulada pela lei de adoção.
Somente se admite depois de esgotadas todas as possibilidades de colocação em família
substituta e com preferência a brasileiros que residam no exterior. O CNJ admitiu a
inclusão dos estrangeiros no cadastro nacional de adoção, num subcadastro e somente
será concedida depois de esgotadas todas as possibilidades por famílias nacionais. Em
caso de concessão, o adotado continua a ser brasileiro nato.
Adoção póstuma
Embora a sentença de adoção possua eficácia constitutiva e seus efeitos passem a ser
verificados após o trânsito em julgado da mesma, no caso de o adotante falecer no curso
do processo, abre-se uma exceção no interesse do adotando.
No entanto, o STJ modificou esta posição legal, entendendo que basta a manifestação
inequívoca da vontade de adotar, antes do falecimento.
Isso porque a adoção se liga a uma série de atos , e não a uma sentença, que apenas
convalida a vontade de adotar. Adoção nuncupativa.
Opera-se simultaneamente a extinção do poder familiar e a constituição do vínculo de
filiação civil.
Adoção à brasileira
Há uma prática disseminada no Brasil – daí o nome de adoção à brasileira – de o
companheiro da mulher perfilhar o filho dela, simplesmente registrando como se fosse
filho seu. Crime quanto o estado de filiação (CP 242) que pela motivação afetiva, é
concedido perdão judicial.
O registro é irreversível e gera dever de alimentos e direitos sucessórios. Só cabe
anulação se tiver havido vício de vontade.
A intenção de formar uma família deveria gerar o vínculo da adoção, e não o simples
registro.
Diferentemente, o filho pode fazer uso da ação anulatória do registro, pois está a
vindicar seu estado de filiação, que pode buscar o reconhecimento da filiação biológica.
Adoção dirigida ou intuito personae
Duplo cadastro de crianças e adolescentes a serem adotados e outrem deseja adotar.
No entanto, muitas vezes se tem uma criança já dirigida ao interessado como por ex, a
criança deixada à sua porta.
A tendência é não reconhecer à mãe o direito de escolher quem vai adotar o seu filho,
muito embora se exija o consentimento dos pais para dar o filho em adoção, se ambos
detém o poder familiar.
Neste caso, o Ministério Público entra com busca e apreensão.
O STJ tem admitido o uso de mandado de segurança, mesmo antes de recurso especial.
No caso de filiação socioafetiva, há impedimento da busca e apreensão.
A Lei da adoção admite que uma pessoa ou um casal cadastrado para o acolhimento
familiar receba crianças mediante guarda (ECA 33 § 2º). E quem detém a guarda legal
de criança maior de 3 anos ou adolescente, pode adotar mesmo que não esteja
cadastrado à adoção. Basta a presença de laços de afinidade e afetividade e não exista
má-fé (ECA 50 § 13 III).
Adoção homoparental
Não existe óbice à adoção por casal homossexual. Após reconhecimento da união
estável homoafetiva, a justiça passou a permitir a adoção por estes casais.
Adoção de nascituro
Impossibilidade, haja vista que para adotar será necessário o período de acolhimento.
Ademais, enquanto não nasce não tem personalidade jurídica, impedindo a adoção.
Habilitação
O procedimento é de jurisdição voluntária.
A competência é da vara de infância e juventude onde deve o candidato comparecer.
Não é necessário estar acompanhado de advogado.
Se casados ou vivendo em união estável, deve o casal comparecer junto, embora a
adoção possa ser efetuada por um deles, mas terá de haver a concordância do outro.
Petição inicial informada com comprovante de renda, de domicílio, atestado de saúde
física e mental, de certidão de antecedentes criminais e negativa de distribuição cível.
Os candidatos devem apontar o perfil de quem deseja adotar.
Possibilidade de audiência a pedido do MP.
Preparação psicossocial e jurídica.
Deferida a habilitação, o postulante é inscrito no cadastro de adoção. A ordem
cronológica deve ser obedecida.
A adoção de maiores é de competência das varas de família.

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