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A Lei nº 3.071, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1916 instituiu o Código
Civil dos Estados Unidos do Brasil, cujo do projeto foi Clóvis Bevilacqua. Foi a partir deste
marco que a adoção começou a ser prestigiada no Brasil. O Código caracterizava a adoção
como um ato civil, pelo qual um indivíduo acolhe um estranho na qualidade de filho, não
deixando expresso, no entanto, conceito algum sobre adoção, restringindo-se apenas às suas
limitações.
O Código Civil de 1916 limitou-se a estabelecer que, a idade para os adotantes era de
50 (cinquenta) anos e que a diferença de idade entre o adotante e o adotado deveria ser de no
mínimo 18 (dezoito) anos. Fazia-se necessário que os adotantes não tivessem filhos legítimos
e que comprovassem eventual infecundidade, sucedendo como principal objetivo a
oportunidade de filiação a quem não podia ter filhos biológicos. A adoção era feita mediante
escritura pública, por meio de um negócio jurídico bilateral, onde existia a vontade do
adotante em adotar e a dos pais naturais em dar seu filho1. A posteriori, o Código Civil foi
alterado e regulamentado.
De acordo com GONÇALVES (2014, p.256):
No sistema do Código de 1916, era nítido o instituto. Tratava-se de
negócio jurídico bilateral e solene, uma vez que se realizava por
escritura pública, mediante o consentimento das duas partes. Se o
adotado era maior e capaz, comparecia em pessoa; se incapaz, era
representado pelo pai, ou tutor, ou curador. Admitia-se a dissolução
do vínculo, sendo as partes maiores, pelo acordo de vontades.
Com o advento da Lei nº 3.1332 de 8 de maio de 1957 o Código Civil foi atualizado e
o texto que tratava sobre a idade do adotante mudou, de acordo com o art. 368 para maiores
de 30 (trinta) anos e estabeleceu-se necessidade de vínculo matrimonial em mais de 5 anos,
somente sendo permitida a adoção por duas pessoas formalmente casadas, devendo
obrigatoriamente o adotante e o adotado terem diferença de idade de no mínimo 16 anos.
Havia notável segregação entre os direitos concedidos aos filhos adotivos e aos filhos
biológicos. O art. 378 do Código Civil deixava claro que o ato da adoção não garantia a
sucessão hereditária definitiva perante a família adotiva, uma vez que os direitos e deveres
dos pais biológicos não se extinguiam, apenas havia uma transferência do poder de família
dos pais naturais para os pais adotivos. Desta forma, o Código Civil de 1916 dava ao filho
1
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. Ed. Saraiva, 2013, vol. 6, p.256.
2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L3133.htm
adotivo status de “coisa”, firmando-se em mero objeto que a qualquer tempo poderia ser
transferido e devolvido em caso de insatisfação.3
Em razão da fragilidade da Legislação Civil a respeito da adoção, grandes problemas
sociais sucederam-se, como por exemplo o desamparo de um número significativo de
menores e orfandade.
A adoção Internacional, no que lhe concerne, surgiu após a Segunda Guerra
Mundial, tendo em vista o imenso número de crianças órfãs. De acordo com Serviço
Internacional de Adoção, crianças Alemãs, Italianas, Gregas, Japonesas e Chinesas
predominantemente, foram adotadas por famílias européias ou norte-americanas. O que
consta é que a maioria das crianças foram encaminhadas para adoção sem terem seus
documentos básicos para a sistematização de sua cidadania, restando, portanto o descontrole
das adoções, facilitando, a venda e o tráfico internacional de crianças. Este fato estabeleceu
imprescindibilidade de serem estabelecidas normas eficazes de garantia das adoções e de
proteção aos infantes.
“A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e a saúde;
mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o
nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
dignas de existência.”(ECA, Art. 7, Cap. I)
FATOS HISTÓRICOS E LEIS IMPORTANTES A SEREM MENCIONADAS?
Da institucionalização à adoção
Em conformidade com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), até junho de
2019 havia, aproximadamente, 47 mil crianças e adolescentes em situação de acolhimento no
Brasil. Todavia, deste total, apenas 9 mil estão no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e 5
mil delas estão de fato disponíveis para adoção.4
A grande maioria (não fica muito redundante?) das crianças e adolescentes
institucionalizadas enfrentaram, de alguma forma, problemas de negligência, abandono ou
violência por parte dos genitores, estando entre as motivações também possível doença dos
pais, prisão dos pais/responsáveis, orfandade, abuso sexual, mendicância, carência financeira
3
BARROS, Felipe Luiz Machado. Uma visão sobre a adoção após a Constituição de 1988.op. cit.p.
267
4
Disponível em:
https://observatorio3setor.org.br/wp-content/uploads/2019/06/crian%C3%A7as-no-CNA-todas-25-06-
2019.pdf, acesso em: 02 de março de 2020, às 8:45.
da família e também violência doméstica. Há um percentual de crianças e adolescentes
abrigados que, pelo fato de já terem vivenciado experiências de vida pelas ruas, rejeitam a
própria família e por isso saíram de suas casas, não que tenham esquecido ou deixado de
valorizar a convivência familiar, mas não querem se sujeitar aos conflitos familiares que
viviam.
O Diploma Constitucional, estabelece no art. 227 o dever da família, da sociedade e
do Estado de assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los
a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. Implícito à este5 apura-se o princípio da prioridade absoluta da criança e do
adolescente
Análise do perfil dos pais adotantes e das crianças disponíveis para adoção
Sob a ótica do Direito, a adoção é ato jurídico solene que respalda-se em transferir
todos os direitos e deveres dos pais biológicos para uma família substituta, concedendo a
estes todos os direitos e deveres de progenitores, quando e somente quando cessar todas as
tentativas para que a convivência com a família extensa, na forma do art. 39 ,§ 1º do Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA).
Considera-se tardia, conforme a doutrina majoritária a adoção de crianças com idade
superior a 02 (dois) anos de idade. Contudo, no Brasil, atualmente, o perfil mais desejado
pelos adotantes é o de bebês (com menos de dois anos), ao passo que as crianças “maiores”
continuam abrigadas e têm suas chances de encontrar uma família bastante reduzidas,
considerando-se que os candidatos à adoção, (CAMARGO,2006)6 “ficam presos na ideia do
que eles consideram a criança ideal e não aceitam a possibilidade da criança real, o que bate
de frente com os princípios constitucionais de proteção aos menores em especial ao princípio
da prioridade absoluta da criança e do adolescente.”
Atribui-se à adoção tardia o conceito
5
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, Estatuto da Criança e do Adolescente
Anotado e Interpretado. Curitiba, julho de 1990.
6
CAMARGO, Mário Lázaro. Adoção Tardia: mitos, medos e expectativas. São Paulo: Edusc,
2006, p.64.