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INTRODUÇÃO:

Foi, através do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e da Lei nº 12.010/2009 (Lei da


Adoção), que os procedimentos para a Adoção de crianças e adolescentes no Brasil foram
direcionados de forma a garantir direito à convivência familiar e comunitária dos adotados.
Por conseguinte, o ato de adotar no Brasil dá-se sob uma perspectiva particular, todavia, esta
decisão unilateral privada exige avaliação e acompanhamento psicossocial e jurídico do
Estado, concedendo, ou não aos possíveis candidatos a habilitação à adoção. Deste modo, a
adoção se dá por iniciativa particular, mas a realização da construção familiar é pública e
determinada pelo Estado.
No Brasil, a grande maioria das crianças que conseguem ser adotadas com mais
facilidade são aquelas que têm menos de dois anos de idade. Posteriormente a esta idade as
chances de adoção diminuem significativamente e, sendo assim, grande parte destas crianças
continuam institucionalizadas ou são adotadas por estrangeiros. (SILVA, 2011)

Tardia é um adjetivo usado para designar a adoção de crianças maiores. Considera-se


maior a criança que já consegue se perceber diferenciada do outro e do mundo, ou seja, a
criança que não é mais um bebê, que tem uma certa independência do adulto para satisfação
de suas necessidades básicas. (...) Pode acontecer que crianças com dois, três anos ainda não
apresentem comportamentos compatíveis com a sua faixa etária, ou seja, não andam
sozinhas, não falam ou usam fraldas e a adaptação delas não apresentará características
típicas de uma adoção tardia, como as fases decomportamentos agressivos ou regressivos,
pelas quais passam a maioria das crianças adotadas a partir dessa idade (VARGAS, 1998,
s/n).

HISTÓRICO DA PROTEÇÃO À INFÂNCIA E AO ADOLESCENTE NO BRASIL

A Lei nº 3.071, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1916 instituiu o Código
Civil dos Estados Unidos do Brasil, cujo do projeto foi Clóvis Bevilacqua. Foi a partir deste
marco que a adoção começou a ser prestigiada no Brasil. O Código caracterizava a adoção
como um ato civil, pelo qual um indivíduo acolhe um estranho na qualidade de filho, não
deixando expresso, no entanto, conceito algum sobre adoção, restringindo-se apenas às suas
limitações.
O Código Civil de 1916 limitou-se a estabelecer que, a idade para os adotantes era de
50 (cinquenta) anos e que a diferença de idade entre o adotante e o adotado deveria ser de no
mínimo 18 (dezoito) anos. Fazia-se necessário que os adotantes não tivessem filhos legítimos
e que comprovassem eventual infecundidade, sucedendo como principal objetivo a
oportunidade de filiação a quem não podia ter filhos biológicos. A adoção era feita mediante
escritura pública, por meio de um negócio jurídico bilateral, onde existia a vontade do
adotante em adotar e a dos pais naturais em dar seu filho1. A posteriori, o Código Civil foi
alterado e regulamentado.
De acordo com GONÇALVES (2014, p.256):
No sistema do Código de 1916, era nítido o instituto. Tratava-se de
negócio jurídico bilateral e solene, uma vez que se realizava por
escritura pública, mediante o consentimento das duas partes. Se o
adotado era maior e capaz, comparecia em pessoa; se incapaz, era
representado pelo pai, ou tutor, ou curador. Admitia-se a dissolução
do vínculo, sendo as partes maiores, pelo acordo de vontades.

Com o advento da Lei nº 3.1332 de 8 de maio de 1957 o Código Civil foi atualizado e
o texto que tratava sobre a idade do adotante mudou, de acordo com o art. 368 para maiores
de 30 (trinta) anos e estabeleceu-se necessidade de vínculo matrimonial em mais de 5 anos,
somente sendo permitida a adoção por duas pessoas formalmente casadas, devendo
obrigatoriamente o adotante e o adotado terem diferença de idade de no mínimo 16 anos.
Havia notável segregação entre os direitos concedidos aos filhos adotivos e aos filhos
biológicos. O art. 378 do Código Civil deixava claro que o ato da adoção não garantia a
sucessão hereditária definitiva perante a família adotiva, uma vez que os direitos e deveres
dos pais biológicos não se extinguiam, apenas havia uma transferência do poder de família
dos pais naturais para os pais adotivos. Desta forma, o Código Civil de 1916 dava ao filho

1
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. Ed. Saraiva, 2013, vol. 6, p.256.
2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L3133.htm
adotivo status de “coisa”, firmando-se em mero objeto que a qualquer tempo poderia ser
transferido e devolvido em caso de insatisfação.3
Em razão da fragilidade da Legislação Civil a respeito da adoção, grandes problemas
sociais sucederam-se, como por exemplo o desamparo de um número significativo de
menores e orfandade.
A adoção Internacional, no que lhe concerne, surgiu após a Segunda Guerra
Mundial, tendo em vista o imenso número de crianças órfãs. De acordo com Serviço
Internacional de Adoção, crianças Alemãs, Italianas, Gregas, Japonesas e Chinesas
predominantemente, foram adotadas por famílias européias ou norte-americanas. O que
consta é que a maioria das crianças foram encaminhadas para adoção sem terem seus
documentos básicos para a sistematização de sua cidadania, restando, portanto o descontrole
das adoções, facilitando, a venda e o tráfico internacional de crianças. Este fato estabeleceu
imprescindibilidade de serem estabelecidas normas eficazes de garantia das adoções e de
proteção aos infantes.
“A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e a saúde;
mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o
nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
dignas de existência.”(ECA, Art. 7, Cap. I)
FATOS HISTÓRICOS E LEIS IMPORTANTES A SEREM MENCIONADAS?
Da institucionalização à adoção
Em conformidade com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), até junho de
2019 havia, aproximadamente, 47 mil crianças e adolescentes em situação de acolhimento no
Brasil. Todavia, deste total, apenas 9 mil estão no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e 5
mil delas estão de fato disponíveis para adoção.4
A grande maioria (não fica muito redundante?) das crianças e adolescentes
institucionalizadas enfrentaram, de alguma forma, problemas de negligência, abandono ou
violência por parte dos genitores, estando entre as motivações também possível doença dos
pais, prisão dos pais/responsáveis, orfandade, abuso sexual, mendicância, carência financeira

3
BARROS, Felipe Luiz Machado. Uma visão sobre a adoção após a Constituição de 1988.op. cit.p.
267
4
Disponível em:
https://observatorio3setor.org.br/wp-content/uploads/2019/06/crian%C3%A7as-no-CNA-todas-25-06-
2019.pdf, acesso em: 02 de março de 2020, às 8:45.
da família e também violência doméstica. Há um percentual de crianças e adolescentes
abrigados que, pelo fato de já terem vivenciado experiências de vida pelas ruas, rejeitam a
própria família e por isso saíram de suas casas, não que tenham esquecido ou deixado de
valorizar a convivência familiar, mas não querem se sujeitar aos conflitos familiares que
viviam.
O Diploma Constitucional, estabelece no art. 227 o dever da família, da sociedade e
do Estado de assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los
a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. Implícito à este5 apura-se o princípio da prioridade absoluta da criança e do
adolescente

Análise do perfil dos pais adotantes e das crianças disponíveis para adoção

Sob a ótica do Direito, a adoção é ato jurídico solene que respalda-se em transferir
todos os direitos e deveres dos pais biológicos para uma família substituta, concedendo a
estes todos os direitos e deveres de progenitores, quando e somente quando cessar todas as
tentativas para que a convivência com a família extensa, na forma do art. 39 ,§ 1º do Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA).
Considera-se tardia, conforme a doutrina majoritária a adoção de crianças com idade
superior a 02 (dois) anos de idade. Contudo, no Brasil, atualmente, o perfil mais desejado
pelos adotantes é o de bebês (com menos de dois anos), ao passo que as crianças “maiores”
continuam abrigadas e têm suas chances de encontrar uma família bastante reduzidas,
considerando-se que os candidatos à adoção, (CAMARGO,2006)6 “ficam presos na ideia do
que eles consideram a criança ideal e não aceitam a possibilidade da criança real, o que bate
de frente com os princípios constitucionais de proteção aos menores em especial ao princípio
da prioridade absoluta da criança e do adolescente.”
Atribui-se à adoção tardia o conceito

5
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, Estatuto da Criança e do Adolescente
Anotado e Interpretado. Curitiba, julho de 1990.
6
CAMARGO, Mário Lázaro. Adoção Tardia: mitos, medos e expectativas. São Paulo: Edusc,
2006, p.64.

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