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SUMÁRIO: Introdução; 1.Legislação brasileira; 2. Por que pesquisar casamento na infância e adolescência no
Brasil?; 3. Motivação primária para o casamento; 4. Impactos e mudanças durante e depois do casamento; 5.
Meninas adaptando-se às preferências dos homens; 6. Violência contra a parceira; 7. Consequências para as
vidas de milhões de meninas e jovens mulheres; 8. Materiais e métodos; Considerações finais; Referências
bibliográficas.
RESUMO:
O presente trabalho, baseando em pesquisa do tipo documental, visa à análise da inovação
atual ocorrida no Código Civil (em face do casamento infantil) e demonstrar as evidências
que sustentaram o projeto de Lei n°.7.119 de 2017, apresentada pela Deputada Federal Laura
Carneiro, que confere uma nova redação ao artigo 1520 da lei n°.10.406/2002, o qual não
permite, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil. Desta forma, este
artigo tendo caráter pioneiro, tem como objetivo central tornar público a alteração da lei, bem
como contribuir para a discussão em torno da problemática do casamento entre menores de 16
anos, assim como a necessidade de intervenções específicas, como novas pesquisas e a
criação de projetos de políticas públicas, com a finalidade de trazer a tona o cenário fático do
casamento precoce.
Palavras- chave: Código Civil; Casamento infantil; Idade Núbil; Políticas Públicas;
Casamento precoce.
ABSTRACT:
The present study, based on documentary research, aims to analyze the recent update of the
Brazilian Civil Code (about the child marriage) and display the evidences that supported the
Bill No. 7,199 of 2017, presented by the Federal Deputy Laura Carneiro, which grants a new
wording to the article 1.520 of Law No. 10.406/2002, which in any case, allow the marriage
of those who did not reach the marriageable age. This pioneering article has as its central
objective to make public the modifications of the law, as well as contribute to the discussion
about the issues of marriage among childrens under 16 years old, and the need for specific
interventions, with new research and creation of public policy projects in order to bring out
the factual scenario of early marriage.
Palavras- chave: Keywords: Civil Code, Child Marriage, Marriageable Age, Public Policy,
Early Marriage.
INTRODUÇÃO:
Enquanto ciência social e cultural, o Direito tem sua aplicabilidade em diversas áreas
do conhecimento a fim de compreender os hábitos o qual o homem se envolve para que seu
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campo de incidência seja mais preciso e eficaz, com o objetivo de preencher as lacunas ainda
existentes no ordenamento jurídico brasileiro. Dentro dessa esfera se encontra o Direito Civil
como ramo do direito, que regula os direitos e obrigações de ordem privada, que direcionam e
determinam a maneira de agir dos indivíduos em sociedade, como por exemplo, o direito do
nascituro, a sucessão familiar e o casamento.
Em meio à complexidade das relações sociais, o Código Civil assim como o Direito
Constitucional, vem repleto de princípios e fundamentos que orientam e limitam alguns
direitos e capacidades. Exemplo disso é a capacidade para o casamento, disciplinada no Livro
IV do Código Civil (Do Direito De Família), Capítulo II, artigo 1.517, o qual exige a
autorização de ambos os pais, ou representantes legais, para que jovens de dezesseis anos
possam se casar, enquanto não atinjam a maioridade civil, e o 1520 que é foco desse artigo,
que permitia como excepcionalidade, o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil
referente no artigo 1517, em caso da jovem declarar gravidez.
O projeto de lei da Câmara (PL 56/18), que foi sancionado recentemente em 12 de
março deste ano Lei n° 13.811/2019, veio com a ideia de uma necessária e urgente alteração
do dispositivo, considerando a necessidade de dar visibilidade não apenas a supressão ou
revogação pura da letra da lei, mas da importância da proteção da dignidade relativa à
infância e adolescência, assegurada constitucionalmente no artigo 227 e no Estatuto da
criança e do adolescente, que os consideram pessoas especiais em condição de
desenvolvimento psicológico e social como sujeitos de direitos.
A mudança partiu diante da justificativa utilizada pela deputada, com embasamento a
partir das pesquisas de campo realizadas pelo Instituto Promundo (Instituição não
governamental brasileira) e o Promundo (Estados- Unidos), entre os anos de 2013 a 2015 com
apoio da Fundação Ford, que exploraram as práticas envolvendo casamento na infância e
adolescência, nos estados do Maranhão e Pará, que evidenciaram que os casamentos na
infância e adolescência na América Latina, são em sua maioria, são informais e consensuais,
ou seja, coabitação, sem Registro em cartório ou na igreja, em razão da limitação de faixa
etária.
O Brasil entrou no ranking elevado do país da América latina, que mais casa, e 4°
lugar no mundo, com números absolutos, especificados no livro publicado pelo Promundo,
intitulado “Ela vai no meu barco - Casamento na infância e adolescência no Brasil” no qual
relata que:
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1. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA:
No Brasil, a idade legal para contrair o matrimônio é de 18 anos para homens e mulheres, no
entanto ambos podem se casar com o consentimento e autorização concedida de ambos os
pais, ou representantes legais, a partir dos 16 anos. Caso haja divergência quanto o poder
familiar de um dos pais, o juiz competente poderá ser requerido para solucionar o desacordo,
quando injusta. Tal como é exposto nos Arts. 1.517, 1.519 e 1.631 do Código Civil:
Uma análise superficial dos registros obtidos pela ONG Promundo, revela que apesar
de anterior a nova atualização do Código Civil, os números de casamentos consensuais (sem
registro civil, com linguagem popular mais conhecida com estar “amigado ou ajuntado”),
lidera, principalmente por envolver menores de 16 anos. Sendo potencialmente indicativo que
existem inúmeras ambiguidades e lacunas na legislação, principalmente no que diz respeito ao
consentimento e as causas que levam cada vez mais jovens a contraírem uniões.
A pesquisa, portanto tem a finalidade de construir evidências que sustentem
programas e políticas públicas para a prevenção e mitigação das consequências da prática em
todo o Brasil, já que o número de locais da pesquisa foi limitado territorialmente em apenas
em dois Estados brasileiros (Pará e Maranhão), que possuem um dos estados com menor
população, mas com um dos maiores índices de casamento infantil. (TAYLOR et al., 2015).
Muitos fatores podem ser considerados como determinantes para a motivação dos
casamentos, conforme foi descrito por homens, meninas e suas respectivas famílias,
entrevistadas nas pesquisas de campo do Instituto Promundo, que poderiam ser interpretadas
como motivações “forçadas”, já que o principal fator vem devido à “gravidez”, que em sua
maioria não é planejada ou desejada, também associada à pressão familiar, que tem a intenção
de proteger a honra das meninas, ainda que não nesses termos, sendo descrita como forma de
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se não tivesse se casado estaria na mesma trajetória de uma de suas imãs, que entrou no
caminho para a prostituição.
ENTREVISTADORA: Como é que tu acha que a tua vida seria hoje se tu não
tivesses morado, ido morar com ele. O quê que tu estaria fazendo?
MENINA CASADA: Acho que eu estaria quase no mesmo caminho que a minha
irmã, que a minha irmã ta quase no caminho da prostituição. (TAYLOR et al., 2015,
p. 58).
A expressão “respeito” ecoa, no entanto de maneira similar por parte das esposas, em
fazerem os maridos se sentirem respeitados e realizados a partir do apoio total e submissão
que elas transmitem. Noção que muitos homens descrevem como uma conexão com sua
masculinidade de provedor e responsável pela nova família adquirida, enquanto a esposa
(menina), como responsável de cuidar dele, dos filhos e da casa.
AVÓ: Quando ela fez 15 anos, ele [aos 23 anos de idade] era mais esperto que ela e
“encheu a cabeça dela”.
ENTREVISTADOR: Por que você acha que ele era mais esperto que ela?
AVÓ: Porque ele tem mais experiência: ele sabe conversar com as pessoas na rua,
com mulher, entende? E ela não é; ela nunca foi saideira; ela sempre ficava em casa.
Ela saia só de vez em quando com uma vizinha, com a filha de um vizinho. Durante
a festa de São João eu deixava ela sair, eu não pedia muita coisa; mas quando eu
saia, eu sempre levava ela. (TAYLOR et al., 2015, p.78).
Ao passo que essas restrições evoluem, se tornam mais frequentes a violência física
bem como a violência sexual dentro do casamento, um exemplo nítido é o caso relatado pela
pesquisa, em que uma jovem de 15 anos casada com um homem de 18 anos, relata que é
obrigada a permitir que seu marido tenha outras parceiras e outros relacionamentos, mas que
ela seja fiel e o obedeça. Situação descrita por muitas como uma condição de total isolamento
e impotência em recorrer a possíveis soluções. (TAYLOR et al., 2015, p.87).
Ainda que esses acontecimentos ocorram em boa parte após o casamento, muitos
homens demonstram pequenos indícios antes do matrimonio, em especial pela “insistência”
em acelerar a relação, como é identificado em uma parte da entrevista:
ENTREVISTADOR: E no teu caso assim, o que te fez decidir morar junto com uma
mulher mais nova?
HOMEM CASADO: Também pelo meio social. A pessoa vê que rapidinho de
menino já passou pra homem, não e mais aquele menininho da brincadeira e tal, leva
as coisas mais sérias, ter sua própria casa ter seu trabalho, ser visto na sociedade
como uma pessoa padrão, uma pessoa responsável.
ENTREVISTADOR: Mas tu procuraste morar com uma mulher mais nova pra
mudar nas pessoas o jeito que as pessoas te viam?
HOMEM CASADO: Mas ou menos a relação entendeu? Pra relação, mostrar que é
a pessoa imatura cresceu né?
Homem de Belém que se casou, aos 25, com uma menina de 15 anos. (TAYLOR et
al., 2015, p.66).
O nível de poder que o homem tem sobre a jovem mulher, incide principalmente sobre
a gravidez, em que alguns casos, durante a relação sexual, o parceiro influência em não
utilizar métodos contraceptivos (preservativos, DIU e pílula contraceptiva), como forma de
segurar a companheira dentro da relação, demostrando assim uma forma de violência física e
até mesmo psicológica, com consequências não apenas presente mais futura.
Como já exposto o casamento infantil carrega uma relação complexa, entre a gravidez,
familiares, escolarização e o casamento. Revelando um cenário aliado a baixas expectativas
de educação, profissionalização, salários e estabilidade, definindo um cenário de casamentos
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em massa e o desinteresse escolar, com poucas perspectivas de retorno. Apesar de ser uma
realidade dentro do casamento, a educação de qualidade é desafio em todo Brasil,
principalmente nos Estados em questão (Maranhão e Pará), os quais enfrentam altos índices
de pobreza, desigualdade e baixo rendimento escolar. Quando nos referimos a esses
problemas esperamos uma atuação mais energética do Estado, entretanto não basta apenas
injetar uma resolução de “proporção única”, mas observando os diversos contextos e
implicações, como as motivações que levam ao abandono e a falta de perspectiva sobre o
futuro como: uma gravidez; o abandono antes da gravidez ou casamento; a falta de um
cuidador para os filhos; incentivo do cônjuge; necessidade de trabalhar para sustentar os
filhos, em caso de ser a única provedora do lar, etc. Sendo de extrema importância notar a
necessidade de abordar a questão do casamento, bem como da gravidez e suas consequências
na escolarização, vida profissional, assim como na saúde. Realidade que só é compreendida
por parte das meninas após o casamento como demonstra uma jovem que atribui o
afastamento da escola ao casamento precoce e a falta de autorização, incentivo e dependência
de seu marido:
ENTREVISTADORA: Em relação a sua vida se ele não tivesse casado como você
acha que seria? Você acha que teria tido alguma diferença, na escola assim?
MENINA CASADA: Acho que na escola. Seria muito melhor né? Não to dizendo
que não é bom, mas nesse sentido assim, sem ter marido, sem ter me amigado, num
ter engravidado acho que minha vida seria um pouco mais fácil, muito melhor…
Que eu sou muito nova né? Deveria… como é? Aproveitado mais a minha vida, não
é pelo fato que eu não vou aproveitar, mas vou ter filho agora, tem que pensar mais
ele fala assim, que quer me ajudar que quer que eu estude mas na verdade eu que
não queria isso entendeu, que ele me dava a vida que eu queria, me dá, só que agora
ele ta desempregado, ele tem dificuldade. (TAYLOR et al., 2015, p.91).
reprodutiva e sexual, talvez relacionada a pouca motivação dos parceiros, onde existe de
varias formas o controle das relações sexuais, especialmente pela relação de desigualdade
entre as idades e a ideia gerada de “confiança” em não utilizar preservativos. E em muitos
casos de gravidez a decisão de manter ou não a criança se torna previamente uma decisão e
influência apenas marital, crescendo assim a prática do aborto, o qual é devidamente proibido
pela legislação brasileira, que acaba se tornando uma opção viável por muitos casais.
(TAYLOR et al., 2015, p.102).
Portanto, não basta entender apenas que o casamento infantil como qualquer
casamento formal ou união informal em que uma ou ambas as partes tenham menos de 18
anos de idade, mas é entender todas as consequências que desencadeiam através de tal ato, o
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qual trás todos os anos, 12 milhões de meninas antes dos 18 anos a contraírem matrimonio,
onde cerca de 23 garotas se casam por minuto, quase 1 a cada 2 segundos.
8. MATERIAIS E MÉTODOS:
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Pode-se concluir, portanto que a nova legislação analisou todos os pontos importantes
que envolvem o casamento infantil e as problemáticas acerca deste assunto que é tão presente
na atual sociedade brasileira, visando garantir que os direitos das crianças e adolescentes não
sejam violados. É importante reforçar a relevância deste tópico, pois como citado no presente
artigo muitas pessoas ainda não possuem ciência da nova legislação e nem mesmo dos
problemas que podem acompanhar o casamento precoce, como os problemas sociais,
interrupção no processo escolar, problemas de saúde relacionados à atividade sexual,
violência, entre outros. Infelizmente o casamento infantil não é algo recente, e acontece no
mundo inteiro. O recomendável para a redução do número de casamentos precoces seria que
as crianças fossem orientadas desde cedo de que é necessário muito mais do que um simples
“sim” para que um casamento aconteça. Muitos jovens descobrem tarde demais e acabam
jogando fora a sua infância para cumprir as obrigações da nova vida e parte deles nem mesmo
quer ou concorda com o casamento, como pro exemplo em casamentos forçados. Cabe ao
governo, por meio de políticas públicas, levar esse tipo de informação tanto às crianças
quanto aos pais para que os direitos das crianças e dos adolescentes sejam assegurados e
respeitados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Setembro 2015.