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REDAÇÃO PARA CORREÇÃO NO PRIMEIRO SEMAÇO DO comportamentos percebidos como “de risco” associados à
SEGUNDO SEMESTRE vida de solteira, tais como relações sexuais sem parceiros
fixos e exposição à rua; (3) o desejo das meninas e/ou
TEXTO I membros da família de ter segurança financeira; (4) uma
expressão da autonomia das meninas e um desejo de sair
Na última semana, veio a tona uma notícia que gerou da casa de seus pais, pautado em uma expectativa de
revolta no país: o prefeito de Araucária (PR), Hissam liberdade, ainda que dentro de um contexto limitado de
Hussein, de 65 anos, se casou com uma adolescente de 16 oportunidades educacionais e laborais, bem como de
anos. Entretanto, apesar da repercussão, o casamento não experiências de abuso ou controle sobre a mobilidade das
é ilegal, pois no Brasil é permitido casar a partir dessa idade, meninas em suas famílias de origem; (5) o desejo dos futuros
se houver consentimento dos pais. Segundo dados da maridos de se casarem com meninas mais jovens
ONG Girls not Brides, mais de 2,2 milhões de (consideradas mais atraentes e de mais fácil controle do que
brasileiras adolescentes são casadas, o que representa 36% as mulheres adultas) e o seu poder decisório
das menores de idade do país. Além disso, o Fundo das desproporcional em decisões maritais.
Nações Unidas para a Infância (Unicef) aponta que, em Paula Tavares e Quentin Wodon, Nexo, 21 de julho de 2019
números absolutos, o país é o quarto do mundo com
registros de casamentos infantis. TEXTO III
Mais de 7 mil menores de idade se casaram no Brasil
de 2021 até março deste ano, de acordo com dados
enviados ao Correio pela Associação Nacional dos
Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). Em 2021, foram
registrados 3.334 casamentos infantis, outros 3.176
ocorreram em 2022 e nos três primeiros meses de 2023
foram contabilizados 718 casórios de menores de idade.
Apesar de ter a brecha legal no Brasil, o casamento
antes dos 18 anos é visto como uma "violação" pela
Organização das Nações Unidas (ONU), pois pode
prejudicar o alcance da igualdade de gênero e o pleno
exercício dos direitos femininos. "O casamento infantil quase
sempre precede a gravidez na adolescência. Em países em
desenvolvimento, as meninas que são casadas são a maioria
das que dão à luz. Estas gravidezes precoces representam
riscos sérios a meninas cujos corpos ainda não estão prontos
para a maternidade. Em todo o mundo, complicações da
gestação e nascimento de crianças são a principal causa de
morte de meninas entre 15 e 19 anos", pontua a ONU.
Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2023/04/5090333-casamento-
infantil-22-milhoes-de-adolescentes-brasileiras-sao-casadas.html (Adaptado)
TEXTO II
Apesar do avanço na educação das meninas, o Brasil
ainda registra altas taxas de casamentos infantis. As taxas
de prevalência do casamento infantil no Brasil podem ser
estimadas com dados dos dois últimos censos, de 2000 e
2010, e da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostras de
Domicílios) de 2015. Embora sejam aproximadas, visto que
o país não realizou nos últimos anos os tipos de pesquisa
normalmente utilizados para medir a prevalência da prática,
nossas estimativas sugerem, como mostra o gráfico abaixo,
que, apesar do aumento da escolaridade das meninas entre
2000 e 2015, a prevalência de casamento infantil continua
alta. Em 2015, a taxa de casamentos infantis no Brasil era
de 19,7%, pouco abaixo do nível observado em 2000, de
21,9%.
O casamento infantil é frequentemente visto como
uma questão que afeta meninas nas áreas rurais e no
interior. De fato, a prevalência no Brasil é maior nessas
áreas, mas também é comum nas áreas urbanas.
Pesquisas realizadas pela ONG Promundo sugerem
cinco causas principais do casamento infantil: (1) o desejo de
um membro da família, em função de uma gravidez
indesejada, de proteger a reputação da menina ou da família Disponível em: https://observatorio3setor.org.br/noticias/casamento-infantil-
e para assegurar a responsabilidade do homem de “assumir” quando-a-dona-da-casa-e-uma-crianca/
ou cuidar da menina e do bebê potencial; (2) o desejo de
todo o mundo, complicações da gestação e nascimento de
PROPOSTA DE REDAÇÃO crianças são a principal causa de morte de meninas entre 15 e
19 anos", pontua a ONU.
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos O advogado e sócio do escritório Nelson Wilians
conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija Advogados Sérgio Vieira explica que, com o casamento, as
texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita adolescentes passam a adquirir direitos e deveres de alguém
formal da língua portuguesa sobre o tema “A persistência maior de idade. “Após o casamento, a adolescente é
do casamento infantil no Brasil”, apresentando proposta emancipada, o que permite a jovem ter direitos e deveres de
de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, alguém maior de idade, possibilitando realizar transações
organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos bancárias, responder a processos judiciais, ter emprego formal,
e fatos para defesa de seu ponto de vista. administrar seus próprios bens e assinar contratos em seu
próprio nome”, ressalta o especialista.
TEXTO DE APOIO A ONU chama a atenção para esse aspecto. "Nem todas
as uniões infantis resultam de decisões de pais ou guardiães do
TEXTO 1 menor. Existem adolescentes que decidem se casar para
exercer sua independência, escapar de dificuldades incluindo
Casamento infantil: 2,2 milhões de adolescentes pobreza, violência familiar ou porque são restringidos do sexo
brasileiras são casadas fora do casamento. Conflito, deslocamentos, desastres naturais
No Brasil, é permitido casar a partir dos 16 anos, se houver e mudança climática agravam os fatores do casamento infantil
consentimento dos pais. Mas apesar da brecha legal, esses destruindo subsistências, sistemas de educação e aumentando
casamentos são vistos por especialistas como um cenário os riscos de violência sexual. Além disso, a situação eleva
preocupante receios com a segurança das meninas", emenda a instituição.
Casamento infantil x igualdade de gênero
A igualdade de gênero é um dos 17 objetivos de
desenvolvimento sustentável da ONU, a serem alcançados até
2030. E eliminar os casamentos prematuros é visto como uma
das ações fundamentais para chegar a um cenário de
equiparação de direitos, além de empoderar meninas e
mulheres.
"Muitas mudanças são necessárias para acabar com o
casamento infantil incluindo o fortalecimento das leis contra a
prática, avançando com igualdade de gênero e assegurando os
direitos das meninas. Mas muitas jovens também devem ter
autonomia para saber e reclamar seus direitos. Isso significa
informações corretas sobre saúde sexual e reprodutiva,
oportunidades de educação e habilidades para desenvolvimento
e participação na vida civil", aponta a ONU.
Além disso, a ONG Girls not Brides frisa que investir em
educação é primordial para enfrentar essa realidade. "A maioria
(crédito: Fernando Lopes/CB/D.A Press) das meninas que se casam abandona a escola antes de se
casar e, portanto, o acesso à educação afeta o momento do
Na última semana, veio a tona uma notícia que gerou casamento mais do que o casamento afeta o acesso à
revolta no país: o prefeito de Araucária (PR), Hissam Hussein, educação. Fornecer 12 anos de educação de qualidade para
de 65 anos, se casou com uma adolescente de 16 anos. uma menina não apenas atrasa o casamento desse indivíduo,
Entretanto, apesar da repercussão, o casamento não é ilegal, mas também atrasa o casamento de gerações de meninas e
pois no Brasil é permitido casar a partir dessa idade, se houver mulheres que a seguirão", diz a organização.
consentimento dos pais. Segundo dados da ONG Girls not Para a psicóloga Marília Veiga, da Universidade de
Brides, mais de 2,2 milhões de brasileiras adolescentes são Brasília (UnB), a ausência ou insuficiência de políticas de
casadas, o que representa 36% das menores de idade do país. proteção e acessos aos direitos básicos contribuem para que
Além disso, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) as meninas se casem. "Nesse cenário, figuram meninas negras
aponta que, em números absolutos, o país é o quarto do mundo e pobres que enxergam na união informal uma saída para a
com registros de casamentos infantis. situação de risco e vulnerabilidade a qual estão submetidas.
Mais de 7 mil menores de idade se casaram no Brasil de Apesar de as meninas se juntarem com a esperança de
2021 até março deste ano, de acordo com dados enviados ao melhores condições de vida, frequentemente o casamento se
Correio pela Associação Nacional dos Registradores de torna mais um fator de risco", comenta a especialista, que
Pessoas Naturais (Arpen). Em 2021, foram registrados 3.334 pesquisou sobre o tema junto com a psicóloga Valeska Maria
casamentos infantis, outros 3.176 ocorreram em 2022 e nos três Zanello de Loyola.
primeiros meses de 2023 foram contabilizados 718 casórios de "No interior de Goiás, onde fiz minha pesquisa de
menores de idade. campo, as meninas que entrevistei se casaram aos 12, 13, 17
Apesar de ter a brecha legal no Brasil, o casamento anos sem qualquer interposição estatal. Sendo psicóloga e não
antes dos 18 anos é visto como uma "violação" pela jurista, compreendo, entretanto, que o endereçamento legal
Organização das Nações Unidas (ONU), pois pode prejudicar o desta questão imprime uma força simbólica à discussão, capaz
alcance da igualdade de gênero e o pleno exercício dos direitos de trazer luz a um problema que tem se mantido invisibilizado
femininos. "O casamento infantil quase sempre precede a no Brasil. Não estamos enxergando essas meninas! E sabemos
gravidez na adolescência. Em países em desenvolvimento, as que, quanto mais velhas mulheres se casam e/ou têm filhos,
meninas que são casadas são a maioria das que dão à luz. menos propensas estão à violência doméstica", acrescentou
Estas gravidezes precoces representam riscos sérios a meninas Marília.
cujos corpos ainda não estão prontos para a maternidade. Em Aline Gouveia, Correio Braziliense, 27 de abril de 2023.
TEXTO 2 casamento precoce, causa frequente do abandono do ensino
por parte das meninas. Estudos mostram que o casamento
30 anos do ECA e a proteção das meninas infantil reduz a probabilidade de conclusão do ensino médio
A cada hora, quatro meninas de até 13 anos são — no Brasil, de cada 10 meninas que engravidam na
estupradas, de acordo com o Anuário Brasileiro de adolescência, sete não o concluem. Além disso, 75% das
Segurança Pública de 2019. adolescentes de 15 a 17 anos que têm filhos estão fora da
escola.
Ao mesmo tempo, a permanência das meninas na
escola reduz enormemente os riscos de casamento e
gravidez precoces. Assim, para além de estabelecer
proteções na lei, investir mais na educação para melhorar o
acesso e a qualidade do ensino contribuiria de maneira
eficaz para mudar o atual quadro. No país onde quase 2
milhões de crianças e adolescentes estão fora da escola,
segundo dados do IBGE, o impacto seria significativo.
Apesar das evidências, relatório recente do Banco
Mundial mostrou que, aproximadamente, 340 mil meninas se
casam por ano no Brasil antes dos 18 anos. A redução das
uniões, formais ou informais, tem sido muito lenta — entre
2000 e 2015, a incidência de casos caiu apenas dois pontos
percentuais. Com taxa de casamentos precoces de 19,7%, o
Brasil continua entre os países com os mais numerosos
(foto: Cristiano Gomes/CB/D.A Press) registros dessa prática na América Latina e no mundo.
Por seu lado, apesar dos avanços, o Código Civil
Ao comemorar o 30º aniversário do Estatuto da ainda permite o casamento aos 16 anos mediante
Criança e do Adolescente (ECA), casos hediondos como o autorização dos pais ou judicial. Até pouco tempo atrás, as
da criança capixaba de 10 anos violada sexualmente pelo tio exceções à idade legal para o casamento, capacidade
mostram que estamos longe de garantir a plena proteção de adquirida aos 18 anos com a maioridade civil, eram ainda
nossas meninas. Violências desse tipo são ainda comuns no mais numerosas. Antes da revisão de março de 2019, o
Brasil. A cada hora, quatro meninas de até 13 anos são código permitia que meninas se casassem, a qualquer idade,
estupradas, de acordo com o Anuário Brasileiro de em caso de gravidez ou para evitar a imposição ou o
Segurança Pública de 2019. cumprimento de pena criminal. Se o caso da menina de 10
Segundo a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos anos tivesse ocorrido antes da recente alteração do Código
(Disque 100), em 2019, foram registrados 86,8 mil casos de Civil, ela poderia se casar.
violação de crianças e adolescentes, dos quais 11% se Impulsionada em grande parte por estudo do Banco
referem à violência sexual. Além da altíssima incidência, os Mundial de 2017, evidenciando a importância de fechar
dados representam aumento de 14% de registros em relação brechas na legislação quanto ao casamento infantil, a
a 2018. recente reforma do Código Civil eliminou as lacunas mais
É grave notar que, em 73% dos casos, a violência sérias, passando a proteger, sem exceções, meninas abaixo
sexual acontece na casa da própria vítima ou do agressor e, dos 16 anos. Aproximou, assim, as previsões do código das
em 40%, é cometida por pai ou padrasto. Em 87% das proteções garantidas pelo ECA, revisado também em 2019
ocorrências, o agressor é homem, enquanto 46% das vítimas para instituir medidas preventivas e educativas visando
são adolescentes de 12 a 17 anos. diminuir a incidência da gravidez na adolescência.
O horror dessa realidade evidencia a importância de Como indicam os fatos recentes e as estatísticas no
garantir que o ECA e leis que protejam os direitos de crianças Brasil, resta muito a fazer para garantir, no campo legal e das
e adolescentes se façam valer plenamente. políticas públicas, a efetiva proteção de meninas e mulheres
Adotado em julho de 1990, o estatuto é taxativo na contra a desigualdade, a discriminação e algumas de suas
proteção de indivíduos de até 18 anos contra a violência manifestações mais extremas — a violência sexual e o
física, psicológica ou sexual, e visa seu pleno casamento e a gravidez precoces.
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social em Faltando só 10 anos para prestarmos contas dos
condições de liberdade e dignidade. Os preceitos estão compromissos assumidos com base na Agenda 2030 de
alinhados ao combate de violação igualmente danosa e Desenvolvimento Sustentável e o Objetivo 5 de “alcançar a
frequente praticada contra meninas: o casamento infantil. igualdade de gênero e empoderar as mulheres e meninas”,
As evidências mostram que a violência sexual está precisamos acelerar esforços e priorizar a questão. Só assim
muitas vezes vinculada às questões, intimamente estaremos cumprindo responsabilidades e deveres
correlacionadas, de casamento e gravidez precoces. Nesses estabelecidos pelo ECA de assegurar os direitos e a
casos, as violações aos direitos da criança e do adolescente, proteção integral da infância e da adolescência.
bem como os riscos e danos, multiplicam-se. Com o trauma PAULA TAVARES, Correio Braziliense, 10 de setembro de 2020.
do abuso, meninas que engravidam podem sofrer sequelas
graves de saúde física, mental e emocional. As chances de
morte de gestantes com 15 anos ou menos são quatro vezes
maiores do que entre as mais velhas. As vítimas enfrentam
diversas outras consequências que prejudicam seu bem-
estar socioeconômico, como o dos filhos, da família e da
comunidade.
Um dos impactos mais claros é na educação. As
garantias do ECA, de igualdade de condições no acesso e
permanência na escola, são também afetadas pelo
TEXTO 3 a à educação sexual. Isso vale tanto para as próprias crianças e
adolescentes, quanto para as famílias e a população em geral. “Os
Brasil fica atrás apenas de Índia, Nigéria e Bangladesh em sistemas que garantem os direitos das crianças e adolescentes,
casamentos infantis como postos de saúde e escolas, não são espaços onde se discute
São 877 mil mulheres com idades entre 20 e 24 anos que se casaram na educação sexual, mas deveriam ser, porque todas as crianças do
infância, segundo a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança Brasil deveriam estar matriculadas em escolas e ter acesso à
e da Mulher (PNAD) saúde”, cobra Ramos.
TEXTO 4
TEXTO IV
TEXTO III