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Dados do Relatório
Nome do Plano O PAPEL DA EDUCAÇÃO PARA PROMOÇÃO DA IGUALDADE DE GÊNERO: OS
DESAFIOS PARA INCLUSÃO DE MENINAS NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO
Introdução
Direitos fundamentais são inerentes ao homem e positivados pela Constituição Federal de
1988, que estabelece diversas garantias, dentre elas, o direito ao acesso à educação, previsto
no artigo 205, sendo um direito de todos e dever do Estado. Também está disposto no plano
infraconstitucional no artigo 53 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) sendo um
direito da criança e do adolescente.
Nesse sentido, diante da busca dessa construção, Jane Felipe (2008), dispôs que é importante
que na educação infantil sejam abordadas problematizações para descontruir o sexismo, a
heteronormatividade e outros preconceitos, com didáticas para a abordagem dessas crianças,
para que assim, preconceitos, em alguns casos reforçados dentro de casa, não possam ser
levados para a escola, lugar que deve ser de acolhimento com a ampliação de conhecimento
para alunos e professores.
Objetivo Geral
Analisar o papel da educação e os desafios para a promoção da igualdade de gênero.
Objetivos Específicos
Estudar o desenvolvimento da Agenda 2030 da ONU no Brasil, em especial os ODS 4 e ODS 5; Analisar dados
acerca da inclusão de crianças no sistema educacional brasileiro; Investigar em que medida o Brasil está
cumprindo (ou deixando de cumprir) as metas relacionadas aos Objetivos Desenvolvimento Sustentável, com foco
nas metas da ODS4 e ODS5, estudando a implementação de programas e políticas educacionais para a
promoção de igualdade de gênero.
Materiais e Métodos
No presente trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica, documental, através de artigos
científicos e relatórios já produzidos, além de uma colheita de dados como método de
pesquisa. Também foi elaborada uma abordagem qualitativa de forma a se aproximar da
realidade. A pesquisa foi desenvolvida com base no método dedutivo, a partir de pesquisas na
legislação, em bibliografia especializada e em dados secundários.
Por fim, também foram analisados dados de relatórios do Ministério da Educação do Brasil,
IPEA, IBGE, estudos da UNESCO e a análise dos documentos da Agenda 2030, focando nos
objetivos 4 e 5. Simultaneamente, ocorrerá a pesquisa com base no Estatuto da Criança e do
Adolescente, passando pela Convenção sobre os Direitos da Criança e leis implementadas
voltadas para o sistema educacional brasileiro.
Resultados
Acerca da importância da busca pela acessibilidade para que meninas tenham acesso à uma
escolarização com qualidade, o relatório “Full Force: Why the world works better when girls go
to school” (Força total: por que o mundo vai melhor quando meninas vão para a escola)
demonstrou a realidade de milhões de meninas e mulheres que se veem à margem da
garantia desse direito, em todo o mundo, 955,6 milhões de meninas e mulheres (65% do total)
de até 24 anos não têm acesso à educação e têm poucas chances de competir no ambiente
corporativo.
Ainda, em uma análise ao ODS 5, o IV Relatório Luz da Sociedade Civil da Agenda 2030, do
ano de 2020, identificou o retrocesso sofrido no Brasil. Segundo o relatório, questões como o
casamento infantil que, mesmo com lei que proíba o casamento para menores de 16 anos, o
Brasil ocupa o posto de quarto no mundo em números absolutos de casamentos infantis. Da
mesma forma, o IBGE (2018), identificou que de cada dez jovens de 15 a 19 grávidas, sete
são negras e seis não trabalham e não estudam.
Nesse sentido, houve a criação da campanha “Adolescência primeiro, gravidez depois – Tudo
tem seu tempo”, que busca desencorajar a iniciação sexual de adolescentes, diminuindo o
índice de gravidez precoce e, consequentemente, o índice de evasão escolar causado por
esse fator.
O sítio eletrônico “Educação Integral” (2018), expôs falas de Viviana Santiago, gerente de
Gênero e Incidência Política da Plan International Brasil, onde foi apontado que dentre os
jovens que não trabalho e não estudam o índice de mulheres represente quase o dobro do dos
homens, sendo que, muitas meninas precisam lidar com os papéis tradicionais de gênero,
como desempenhar com exclusividade os trabalhos domésticos, o que acaba levando a uma
frequência irregular ou à evasão escolar.
A pesquisa “Por Ser Menina”, da Plan International Brasil (2014), reuniu diversas percepções
de meninas de 6 a 14 anos sobre aspectos que facilitam ou dificultam seu desenvolvimento de
suas habilidades e a garantia de seus direitos em âmbitos como a escola. Na pesquisa, foi
apresentados dados como nível de frequência às aulas, onde ficou evidenciado um número
preocupante visto que 30,3% das meninas declararam que costuma faltar muito às aulas,
sendo 6,6% dos casos nas escolas públicas rurais, 4,7% em escolas públicas urbanas e em
nenhum caso nas escolas urbanas particulares.
Além disso, segundo Lêda Gonçalves de Freitas, coatora do livro Ser Menina no Brasil
Contemporâneo (2016), discorreu, no sítio eletrônico “Educação Integral” (2018), da seguinte
forma sobre os avanços do acesso à escolarização às meninas: “As meninas gostam da
escola, sentem-se bem quando estão na escola. Vejo que este direito à educação está bem
compreendido, apesar de fazer-se necessário avançar na garantia da permanência com a
aprendizagem de todos e todas”.
Portanto, através dos dados acima apontados, fica claro que, apesar de evoluções em alguns
setores, o Brasil ainda depende de muitos esforços para que a igualdade de gênero possa ser
alcançada para que o acesso de meninas à escolarização possa ser algo dentro da realidade
de milhares de crianças e adolescentes brasileiras.
Discussão
O direito à educação é um direito básico garantido na Constituição Federal de 1988 e, ao falar
acerca do ensino na vida de crianças e adolescente, é importante ressaltar sua função como
ferramenta na formação e desenvolvimento desses indivíduos.
A educação é um dos pilares da vida humana, sendo essencial a sua garantia em diversos
cenários, indispensável à evolução político-social da sociedade. Acerca da importância da
educação, Paulo Freire, preceitua que:
Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar
gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a
sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. (FREIRE, 2000, p. 31)
Um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas,
em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. Estes são os objetivos para os quais as Nações
Unidas estão contribuindo a fim de que possamos atingir a Agenda 2030 no Brasil. (ONU, 2020)
Nesse sentido, podem ser destacados dois objetivos, como, o ODS 4, que visa uma educação
de qualidade, inclusiva e equitativa com oportunidades de aprendizagem para todos e todas,
com a busca de ampliar o acesso de pessoas mais vulneráveis à educação e,
consonantemente, o ODS5, como foco na igualdade de gênero, com o objetivo de alcançar a
igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas, acabado com todas as
formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda parte.
Pensando nisso, ao falar sobre a igualdade de gênero é importante trazer a reflexão a questão
da educação como ferramenta para contribuição na igualdade de meninos e meninas.
Sabe-se que, ao longo da evolução das relações humanas, a visão da sociedade em relação
ao papel de meninas e mulheres foi se modificado. Entretanto, por muito tempo, as mulheres
foram colocadas numa realidade que deveriam crescer para formar famílias, cuida de suas
casas, seus cônjuges e filhos.
Com o passar do tempo, esse pensamento tem mudado e a mulher tem ganhado um espaço
de independência, com direito de escolha, de voto, de optar ou não por formar uma família e,
um dos pilares responsáveis por esses marcos históricos, foi o acesso à educação. Acerca da
importância desse processo, Paulo Freire, em sua obra Ação Cultural Para a Liberdade,
leciona que:
[...] ponto de partida para uma análise, tanto quanto possível sistemática, da conscientização, deve ser uma
compreensão crítica dos seres humanos como existentes no mundo e com o mundo. Na medida em que a condição
básica para a conscientização é que seu agente seja um sujeito, isto é, um ser consciente, a conscientização, como
a educação, é um processo especifica e exclusivamente humano. É como seres conscientes que mulheres e homens
estão não apenas no mundo, mas com o mundo. Somente homens e mulheres, como seres “abertos”, são capazes
de realizar a complexa operação de, simultaneamente, transformando o mundo através de sua ação, captar a
realidade e expressá-la por meio de sua linguagem criadora. E é enquanto são capazes de tal operação, que implica
em “tomar distância” do mundo, objetivando-o, que homens e mulheres se fazem seres com o mundo. Sem esta
objetivação, mediante a qual igualmente se objetivam, estariam reduzidos a um puro estar no mundo, sem
conhecimento de si mesmos nem do mundo. [...] Somente os seres que podem refletir sobre sua própria limitação
são capazes de libertar-se desde, porém, que sua reflexão não se perca numa vaguidade descomprometida, mas se
dê no exercício da ação transformadora da realidade condicionante. Desta forma, consciência de e ação sobre a
realidade são inseparáveis constituintes do ato transformador pelo qual homens e mulheres se fazem seres de
relação. (FREIRE, 1981, p. 53)
No processo de desenvolvimento da educação brasileira, medidas públicas foram
fundamentais para a mudança de perspectivas sociais e para alcançar um melhor resultado
dos objetivos estabelecidos pela ONU, como, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB),
que tornou obrigatório o ensino básico, para a faixa a 4 a 17 anos, pautada na garantia que
meninos e meninas tenham acesso a um desenvolvimento de qualidade na infância.
Entretanto, apesar dessa garantia, é possível perceber os desafios para inclusão de meninas
no processo de escolarização, em relação ao Brasil, os são preocupantes, em 2015, a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo IBGE, demonstrou que
por mais que a porcentagem de meninas de 5 a 9 anos e 10 e 14 anos ser de 2% a 1% fora da
escola, respectivamente, na faixa etária de 15 a 17 anos esse percentual é de 15%.
Uma realidade que se faz presente para os parâmetros da dificuldade de inclusão de meninas
no processo de escolarização é a desigualdade social. A Unesco, durante os anos de 1965 a
2010, realizou uma pesquisa que monitorou a relação entre educação e erradicação da
pobreza, no estudo foi constatado que das 61 milhões de crianças que não frequentam escolas
de ensino primário, ainda, alertou que quase 30% nunca pisarão numa sala de aula e as que
mais sofrem com essa estatística são as meninas nos países pobres. Em noção de baixa
renda, mais de 11 milhões de meninas em idade escolar primária encontram-se fora dos
colégios em comparação a 9 milhões de meninos. Assim, fica evidenciado a série de
problemáticas que devem ser sanadas para atingir a igualdade de gênero, principalmente no
campo educacional.
Conclusão
A desigualdade de gênero em questão de oportunidades e de acesso às garantias fundamentais é uma
problemática que assola diversos países, bem como, o Brasil. Nesse sentido, a Agenda 2030 possibilitou a
instrução para que essa realidade fosse modificada. O crescimento de mulheres na política e em situações de
poder, com certeza, foi uma conquista que proporcionou a visão de milhares de meninas a buscarem uma vida
mais digna, onde seus direitos são garantidos e possuam uma igualdade no âmbito educacional, profissional e
salarial. Entretanto, em análise aos dados apresentados, fica perceptível a necessidade da implementação de
programas e políticas educacionais para a promoção de igualdade de gênero para se ter um avanço na inclusão
de meninas na escolarização. Ademais, cumpre destacar que o Brasil ainda precisa avançar e garantir que o
Objetivo 5 da Agenda 2030 e suas metas sejam veemente cumpridas e que o direito à educação seja garantido,
de modo igualitário, a meninos e meninas.
Referências
ARTIGO19; GESTOS (org). IV Relatório Luz da Sociedade Civil da Agenda 2030 de
Desenvolvimento Sustentável Brasil Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a
Agenda 2030. [s.l.], 2020. Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030.
Disponível em: <https://brasilnaagenda2030.files.wordpress.com/2020/07
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Campanha: “Adolescência primeiro, gravidez depois – Tudo tem seu tempo”. 2020.
Disponível em: < https://sinajuve.ibict.br/blog/2020/03/02/campanha-visa-reduzir-altos-indices-
de-gravidez-precoce-no-brasil/>. Acesso em 10 de setembro de 2021.
Centro de Referências em Educação Integral. Como a desigualdade de gênero se manifesta
na educação das meninas. 2018. Disponível em: <https://educacaointegral.org.br/reportagens
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FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade. 5º ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1981.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Rio de Janeiro. 2015.
Disponível em:< https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98887.pdf> . Acesso em 23
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JUBILUT, Liliana Lyra [et al.]. Direitos Humanos e Vulnerabilidade e a Agenda 2030. Boa
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/348009972_O_Trafico_de_Pessoas_no_Ambito_das_Cadeias_de_Suprimento_Globais_reflexoes_sobr
/links/5fecdf5445851553a0099c2b/O-Trafico-de-Pessoas-no-Ambito-das-Cadeias-de-
Suprimento-Globais-reflexoes-sobre-abusos-e-vulnerabilidades-da-exploracao-do-ser-humano.
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MULHER 360. Quase 1 Bilhão de Meninas e Mulheres no Mundo Não Têm Acesso À
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2014 Disponível em: <https://plan.org.br/wp-content/uploads/2018/12
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