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Amarildo Benjamim Victor Valane

Domingas Abacar Carlitos Momade

Nenita Paulo Amala

Leis que estão a favor dos alunos com NEE

(Licenciatura em Psicologia Educacional)

Universidade Rovuma

Nampula

2019

Amarildo Benjamim Victor Valane


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Domingas Abacar Carlitos Momade

Nenita Paulo Amala

Leis que estão a favor dos alunos com NEE

Trabalho de carácter avaliativo a ser


entregue ao respectivo docente, na cadeira de
Necessidades Educativas Especiais, no curso
de Licenciatura em Psicologia Educacional,
20 ano, regime regular. Cadeira pela qual
leccionada pelo (a).

Docente: MA. Maria Esperança Anastácio Gomes

Universidade Rovuma

Nampula

2019

Índice
3

Introdução.........................................................................................................................................5

1. Contextualização.......................................................................................................................6

2. Exclusão social..........................................................................................................................6

3. Inclusão social...........................................................................................................................7

4. Leis Internacionais....................................................................................................................7

4.1. 1990 – Declaração Mundial de Educação para Todos..........................................................7

4.2. 1994 – Declaração de Salamanca..........................................................................................7

4.3. 1999 – Convenção da Guatemala..........................................................................................8

4.4. 2000-Milénio.........................................................................................................................8

4.5. 2009 – Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência......................................8

4.6. 2015 - Declaração de Incheon...............................................................................................9

4.7. 2015 - Objectivos de Desenvolvimento Sustentável.............................................................9

5. Leis Nacionais.........................................................................................................................10

Brasil...............................................................................................................................................10

5.1. 1988 – Constituição da República Federativa do Brasil.....................................................10

5.2. 1989 – Lei nº 7.853/89........................................................................................................10

5.3. 2007 – Decreto nº 6.094/07.................................................................................................10

5.4. 2011 – Plano Nacional de Educação (PNE)........................................................................11

Moçambique...................................................................................................................................11

5.5. Evolução histórica das políticas educacionais em Moçambique.........................................11

5.6. Política Educacional Adoptada por Moçambique...............................................................12

6. Estratégia de inclusão do Governo nos demais sectores.........................................................12

7. Desafios da Implementação da Inclusão Escolar....................................................................15

Conclusão.......................................................................................................................................18

Bibliografia.....................................................................................................................................19
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5

Introdução

A garantia de um ensino fundamental de boa qualidade para todos vem assumidamente expressa
no número 2 dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (2000). Nos objectivos e metas de
Dakar (2000), Moçambique assumiu o compromisso colectivo para a acção em prol da educação
e, no ponto 3 da mesma, reafirmou a visão da Declaração Mundial de Educação Para Todos
Jontien, (1990), apoiada pela Declaração Universal de Direitos Humanos e pela Convenção sobre
os Direitos da Criança, baseia-se no pressuposto de que toda criança, jovem e adulto têm o direito
humano de se beneficiar de uma educação que satisfaça as suas necessidades básicas de
aprendizagem, no melhor e mais pleno sentido do termo e que inclua aprender a aprender, a fazer,
a conviver e a ser. É uma educação que se destina a captar os talentos e potenciar cada pessoa e
desenvolver a personalidade dos educandos para que possam melhorar suas vidas e transformar
suas sociedades.

Os mesmos documentos apontam a necessidade da eliminação das desigualdades de género no


Ensino Primário e Secundário como também oferecem oportunidades de aprendizagem àqueles
que tenham necessidades educativas especiais, através da implementação de políticas
desenvolvidas no Plano Estratégico do Ministério de Educação e cultura para uma educação
inclusiva para todas as crianças. Equidade e inclusão constituem valores fundamentais na visão
desse mesmo Plano.
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1. Contextualização

Os fenómenos de exclusão social têm merecido grande atenção dos investigadores, sendo que
alguns (e.g. Hunter, 2000; Kowarick, 2003; Lesbaupin, 2000; Proença, 2005; Sen, 2000)
consideram a exclusão social um conceito recente, introduzido por René Lenoir em 1974, que
abrange grande variedade de problemas socioeconómicos. Lesbaupin (2000, p. 30-1) acrescenta
que o termo deriva da teoria da marginalidade dos anos 1960, cujo fenómeno compreendia a
mão-de-obra marginalizada na América Latina. Para o mesmo autor o conceito de exclusão está
presente em todos os países, independentemente do seu nível de desenvolvimento, tendo em
comum a questão social.

O afastamento da sociedade contemporânea das propostas políticas de bem-estar proporciona


situações de vulnerabilidade social que fragilizam a sociedade. Este tipo de vulnerabilidade
provoca a exclusão social (Castells, 1998; Lopes, 2006; Proença, 2005). Kowarick (2003, p. 69)
defende que o combate às situações de vulnerabilidade é uma função essencial do Estado, sendo
os programas de intervenções intitulados de inclusão social.

O estudo da exclusão e inclusão social pressupõe o conhecimento prévio do conceito, sendo esta
a razão pela qual se apresenta uma síntese das definições no Quadro 1.

A concepção de exclusão e inclusão social evolui conforme a época e situação caracterizando-se


por uma definição aberta e flexível (Lopes, 2006; Wixey et al., 2005).

2. Exclusão social

É um processo através do qual certos indivíduos são empurrados para a margem da sociedade e
impedidos de nela participarem plenamente em virtude da sua pobreza ou da falta de
competências básicas e de oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, ou ainda em
resultado de discriminação (COM, 2003, p. 9).

É um processo dinâmico, multidimensional, por meio do qual se nega aos indivíduos — por
motivos de raça, etnia, género e outras características que os definem — o acesso a oportunidades
e serviços de qualidade que lhes permitam viver produtivamente fora da pobreza (Mazza, 2005, p.
183).
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3. Inclusão social

Processo que garante que as pessoas em risco de pobreza e exclusão social acedam às
oportunidades e aos recursos necessários para participarem plenamente nas esferas económica,
social e cultural e beneficiem de um nível de vida e bem-estar considerado normal na sociedade
em que vivem(COM, 2003, p. 9).

Processo pelo qual a exclusão social é amenizada. Caracteriza-se pela busca da redução da
desigualdade através de objectivos estabelecidos que contribuam para o aumento da renda e do
emprego. Ou seja a inclusão social está relacionada com a procura de estabilidade social através
da cidadania social, ou seja, todos os cidadãos têm os mesmos direitos na sociedade. A cidadania
social preocupa-se com a implementação do bem-estar das pessoas como cidadãos. (Wixey et al.,
2005, p. 16).

4. Leis Internacionais

4.1. 1990 – Declaração Mundial de Educação para Todos

No documento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura


(Unesco), consta: “as necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de
deficiências requerem atenção especial. É preciso tomar medidas que garantam a igualdade de
acesso à Educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte integrante
do sistema educativo”. O texto ainda usava o termo “portador”, hoje não mais utilizado.

4.2. 1994 – Declaração de Salamanca

O documento é uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) e foi concebido na
Conferência Mundial de Educação especial, em Salamanca (Espanha). O texto trata de princípios,
políticas e práticas das necessidades educativas especiais, e dá orientações para acções em níveis
regionais, nacionais e internacionais sobre a estrutura de acção em Educação Especial. No que
tange à escola, o documento aborda a administração, o recrutamento de educadores e o
envolvimento comunitário, entre outros pontos. Acrescentar que contribui com Regras Padrões
sobre Equalização de Oportunidades para Pessoas com Deficiências, o qual demanda que os
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Estados assegurem que a educação de pessoas com deficiências seja parte integrante do sistema
educacional.

4.3. 1999 – Convenção da Guatemala

A Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as


Pessoas Portadoras de deficiência, mais conhecida como Convenção da Guatemala, resultou, no
Brasil, no Decreto nº 3.956/2001. O texto brasileiro afirma que as pessoas com deficiência têm
“os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos,
inclusive o direito de não ser submetidas a discriminação com base na deficiência, emanam da
dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano”. Novamente, o texto ainda utiliza
a palavra “portador”, hoje não mais utilizado.

4.4. 2000-Milénio

Garantia de um ensino fundamental de boa qualidade para todos vem assumidamente expressa no
número 2 dos Objectivos de Desenvolvimento do Nos objectivos e metas de Dakar (2000),

4.5. 2009 – Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

A convenção foi aprovada pela ONU e tem o Brasil como um de seus signatários. Ela afirma que
os países são responsáveis por garantir um sistema de Educação Inclusiva em todas as etapas de
ensino. Descrita no artigo numero 1 e assegurando no artigo 3 destacando seus princípios.

Artigo 1 Propósito O propósito da presente Convenção é promover, proteger e assegurar o


exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as
pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente. Pessoas com
deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interacção com diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efectiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.

Artigo 3

Princípios gerais:

Os princípios da presente Convenção são:


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a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as


próprias escolhas, e a independência das pessoas;

b) A não-discriminação;

c) A plena e efectiva participação e inclusão na sociedade;

d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da
diversidade humana e da humanidade;

e) A igualdade de oportunidades;

f) A acessibilidade;

g) A igualdade entre o homem e a mulher;

h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito
das crianças com deficiência de preservar sua identidade.

4.6. 2015 - Declaração de Incheon

O Brasil participou do Fórum Mundial de Educação, em Incheon, na Coréia do Sul, e assinou a


sua declaração final, se comprometendo com uma agenda conjunta por uma Educação de
qualidade e inclusiva. Com uma nova visão para a educação a declaração incheeon contribui com
a seguinte declaração comprometemo-nos, em carácter de urgência, com uma agenda de
educação única e renovada, que seja holística, ousada e ambiciosa, que não deixe ninguém para
trás. Essa nova visão é inteiramente captada pelo ODS 4 “Assegurar a educação inclusiva e
equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para
todos” e suas metas correspondentes.

4.7. 2015 - Objectivos de Desenvolvimento Sustentável

Originada da Declaração de Incheon, o documento da UNESCO traz 17 objectivos que devem ser
implementados até 2030. No 4º item, propõe como objectivo: assegurar a Educação Inclusiva,
equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para
todos. Destacando alguns pontos como objectivos:
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 Até2030, eliminar as disparidades de género na educação e garantir a igualdade de acesso


a todos os níveis de educação e formação profissional para os mais vulneráveis incluindo
as pessoas com deficiência, povos indígenas e as crianças em situação de vulnerabilidade;
 A construir e melhorar instalações físicas para educação, apropriadas para crianças e
sensíveis às deficiências e ao género e que proporcionem ambientes de aprendizagem
seguros, não violentos, inclusivo se eficazes para todos.

5. Leis Nacionais

Brasil

5.1. 1988 – Constituição da República Federativa do Brasil

Estabelece “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação”(art.3º inciso IV). Define, ainda, no artigo 205, a
educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício
da cidadania e a qualificação para o trabalho. No artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de
condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e garante,
como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na
rede regular de ensino (art. 208).

5.2. 1989 – Lei nº 7.853/89

Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência e sua integração social. Define como
crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a matrícula de um estudante por causa de
sua deficiência, em qualquer curso ou nível de ensino, seja ele público ou privado. Apena para o
infractor pode variar de um a quatro anos de prisão, mais multa.

5.3. 2007 – Decreto nº 6.094/07

Estabelece dentre as directrizes do Compromisso Todos pela Educação a garantia do acesso e


permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos
alunos, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas.
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5.4. 2011 – Plano Nacional de Educação (PNE)

Projecto de lei ainda em tramitação. A Meta 4 pretende “Universalizar, para a população de 4 a


17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino.”. Dentre as
estratégias, está garantir repasses duplos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos profissionais da Educação (FUNDEB) a estudantes
incluídos; implantar mais salas de recursos multifuncionais; fomentar a formação de professores
de AEE; ampliar a oferta do AEE; manter e aprofundar o programa nacional de acessibilidade nas
escolas públicas; promover a articulação entre o ensino regular e o AEE; acompanhar e monitorar
o acesso à escola de quem recebe o benefício de prestação continuada.

Moçambique

5.5. Evolução histórica das políticas educacionais em Moçambique

Assim, em 1992 foi revista a Lei do SNE pela Lei nº 6/92, de 6 de Maio e, no contexto da
estratégia global de desenvolvimento, o Governo Moçambicano adoptou a Política Nacional de
Educação, através da Resolução nº 8/95, que operacionalizou o SNE, tendo sido concebido o
primeiro Plano Estratégico da Educação (PEE-I), que foi publicado em 1997 e implementado
entre 1999 e 2005. A Lei do SNE surge com uma nova roupagem, abordando a questão da
inclusão de educandos que sejam PPD nas escolas regulares, em turmas especiais ou escolas
especiais (art. 29).

Ademais, o PEEC IPEEC - Plano Estratégico da Educação e Cultura (que tinha como lema
“Combater a Exclusão, Renovar a Escola”), realça o compromisso do Governo em tornar a
educação acessível para todos, envidando todos os esforços para que tal objectivo seja alcançado.

Em 1999, foi aprovada a Política para a Pessoa com Deficiência através Resolução nº 20/99, de
29 de Junho, que preconiza o acesso e a sua integração nos estabelecimentos de ensino, com
condições humanas, materiais e pedagógicas apropriadas.

Em 2006, foi aprovado o Plano Estratégico de Educação e Cultura II (2006-2011) que versa
essencialmente os mesmos objectivos chave, dando maior ênfase à melhoria da qualidade da
educação e à Educação Inclusiva (EI).
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5.6. Política Educacional Adoptada por Moçambique

Ao nível nacional, a Constituição da República de Moçambique (1990), no seu Artigo 92,


estabelece que a educação constitui um direito e uma tarefa de cada cidadão e que o Estado
promove a extensão e o acesso equitativo para que todos os cidadãos beneficiem deste direito.

Estando em consonância com a Constituição da República de Moçambique e com a dinâmica


global (mundial) e nacional sobre a educação e seu papel na sociedade, o Plano de Acção para a
Redução da Pobreza Absoluta (PARPA II) e a Agenda 2025, dois importantes documentos
oficiais do Governo de Moçambique, consideram que a Educação Básica é obrigatória e gratuita.
Os mesmos documentos apontam a necessidade da eliminação das desigualdades de género no
Ensino Primário e Secundário como também oferecem oportunidades de aprendizagem àqueles
que tenham necessidades educativas especiais, através da implementação de políticas já
desenvolvidas no Plano Estratégia do Ministério de Educação e Cultura para uma educação
inclusiva para todas as crianças. Equidade e inclusão constituem valores fundamentais na visão
do Plano Estratégico de Educação e Cultura.

Ressaltar que Moçambique é signatário da Declaração de Salamanca, tendo ratificado a CIDPD-


Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, e nessa base assumido a
obrigação de criar Políticas Educacionais Inclusivas no nosso país, conforme resulta do art. 24 da
CIDPD: “Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação. Para
realizar este direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os Estados
Partes deverão assegurar um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o
aprendizado ao longo de toda a vida.

6. Estratégia de inclusão do Governo nos demais sectores

No âmbito desta política compete ao Governo adoptar, coordenar, desenvolver a estratégia de


cooperação e articular medidas e acções sectoriais, de modo a favorecer a autonomia pessoal, a
independência económica, a integração e a participação mais completa possível, da pessoa
portadora de deficiência na vida do país.

Para o efeito, o Governo desenvolvera acções nas seguintes áreas:


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a) No âmbito do Sistema Jurídico-legal

Sistema Jurídico-legal deve garantir:

i. A não discriminação da pessoa portadora de deficiência e o respeito das leis existentes;


ii. A revisão e elaboração de leis para adequação do quadro jurídico às novas realidades da
sociedade moçambicana;
iii. A assinatura e a rectificação pela República de Moçambique das Convenções
Internacionais ligadas à área da deficiência;
iv. A fiscalização do cumprimento das leis e normas vigentes.
b) No âmbito do Sistema de Educação

O Sistema de Edução deve garantir à pessoa portadora de deficiência, em geral, e as pessoas com
necessidades educativas especiais, em particular, o acesso e a integração em estabelecimentos de
ensino ou em escolas especializadas, em condições pedagógicas, técnicas e humanas apropriadas.

c) No âmbito do Sistema de Saúde

Ao Sistema Nacional de Saúde incumbe:

i. Assegurar a educação para a saúde, a prevenção da doença e da deficiência, o despiste e o


diagnóstico precoce, o tratamento e a reabilitação médico-funcional;
ii. A gestão e a coordenação dos serviços públicos de fornecimento, adaptação, manutenção
e renovação de próteses, orteses e outros meios de compensação necessários.
d) No âmbito do Sistema de Acção Social

Ao Sistema de Acção Social compete:

i. Estimular a efectiva interacção em actividades pré-escolares da criança portadora de


deficiência;
ii. Promover actividades de informação e educação pública sobre a problemática da
deficiência;
iii. Promover nas comunidades iniciativas de apoio às pessoas portadoras de deficiência, em
particular, as desamparadas e mais vulneráveis;
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iv. Fomentar e apoiar todas as iniciativas que tenham por finalidade a defesa dos direitos da
pessoa portadora de deficiência, bem como a promoção da sua dignidade e autonomia
pessoais;
v. Garantir a protecção social da pessoa portadora de deficiência e da sua família, por
intermédio de mecanismos que favoreçam a sua autonomia e a sua integração na
comunidade.
e) No âmbito do Sistema de Emprego

Ao Sistema de Emprego incumbe:

i. Promover o desenvolvimento de formação profissional específica em condições


pedagógicas, técnicas e humanas apropriadas para a pessoa portadora de deficiência;
ii. Criar condições que permitam a manutenção, integração ou a reinserção profissional da
pessoa portadora de deficiência no mercado de trabalho, através de medidas de
reabilitação e reconversão técnico-profissional;
iii. Permitir a introdução progressiva de um mecanismo de percentagens tendente a garantir a
admissão daqueles cidadãos no sector público e privado, rnediante atribuição de
adequados incentivos;
iv. Incentivar a criação de modalidades alternativas de emprego para as pessoas portadoras
de deficiência, bem como fiscalizar as medidas adoptadas.
f) No âmbito do Sistema Fiscal

Sistema Fiscal deve:

i. Introduzir benefícios e isenções, com vista a permitir a autonomia pessoal e a


independência económica da pessoa portadora de deficiência:
ii. Contribuir para que as pessoas portadoras de deficiência tenham um efectivo acesso ao
mercado de trabalho e a sua participação activa na vida económica do país.
g) No âmbito do Sistema de Urbanização e Edificações

O Sistema de Urbanização e Edificações deve adoptar, de modo progressivo, medidas que


possibilitem, à pessoa portadora de deficiência, o acesso, a circulação e a utilização de edifícios e
lugares de uso público, bem como de habitação em geral.

h) No âmbito do Sistema de Transportes


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Ao Sistema de Transportes compete:

i. Criar condições, de forma progressiva, que permitam à pessoa portadora de deficiência o


acesso e a utilização de transportes públicos;
ii. Promover medidas de informação e prevenção de acidentes de forma a garantir a
segurança dos cidadãos.
i) No âmbito da Cultura, Desporto e Recreação

No domínio da Cultura, Desporto e recreação devem ser criadas condições para:

i. Possibilitar a participação activa da pessoa portadora de deficiência nas mencionadas


áreas de actividade;
ii. Incentivar a expressão cultural das pessoas portadoras de deficiência;
iii. Promover modalidades desportivas e de recreação integradas e/ou adaptadas para as
pessoas portadoras de deficiência.
j) No âmbito da Comunicação Social

Aos meios de comunicação social cabe:

i. Sensibilizar a sociedade para a problemática da deficiência, garantindo a sua educação;


ii. Proporcionar uma informação completa utilizando meios de comunicação adaptados à
especificidade das deficiências;
iii. Contribuir para a defesa dos direitos da pessoa portadora de deficiência;
iv. Valorizar a participação da pessoa portadora de deficiência na vida social;
v. Institucionalizar canais de acesso, que possibilitem à pessoa deficiente exercitar o seu
direito de informar a sociedade sobre a sua situação, e de ser informada de tudo o que
possa contribuir para melhorar a sua condição e participar no desenvolvimento do país.

7. Desafios da Implementação da Inclusão Escolar

Para Sá (2012) “a escola inclusiva exige novas estruturas e novas competências. Observa-se que
as escolas públicas não têm correspondido às características individuais e socioculturais
diferenciadas de seu alunado, funcionando de forma selectiva e excludente”.
16

O grande desafio que se coloca à escola é o de encontrar formas de responder efectivamente às


necessidades educativas de uma população escolar cada vez mais diferente, de construir uma
escola efectivamente inclusiva. Uma escola que aceite todos e trate de forma diferenciada.

Para tal, implica uma nova filosofia assente na organização da inclusão, integração e participação
de todos. As mudanças devem ser operadas também ao nível da organização e gestão curricular,
na gestão escolar, na formação dos professores, na capacitação dos técnicos inspectores escolares.
À que se definir as políticas de articulação e implementação de serviços externos de apoio, uma
política que olhe para as necessidades da escola, para o seu funcionamento pleno rumo à
inclusão. Se a inclusão é a garantia do acesso de todas as crianças no mesmo espaço escolar, a
diferenciação é um instrumento operacionalizador das políticas da inclusão. No nosso ver não
basta colocar, matricular ou integrar alunos com necessidades educativas especiais na
escola/turma sem olhar para a diferença que caracteriza a actual escola.

A diferenciação pedagógica é um instrumento catalisador, na medida em que a inclusão de


pessoas diferentes exige sempre o respeito e valorização pela diferença. A aceitação do outro
como igual nunca foi algo pacífico. A inclusão é precisamente uma viagem, um caminho a
percorrer, um desafio, acima de tudo um compromisso. E para que isso aconteça é necessária
uma mudança de mentalidade na planificação, gestão e implementação do projecto educativo das
escolas. A inclusão enfrenta hoje alguns obstáculos como a difícil conciliação da necessidade de
atender à diversidade dos alunos sem que exista uma diminuição da qualidade do ensino ou
aposição dos pais e alunos ditos “normais” e até mesmo dos professores.

Para o processo de inclusão surtir os efeitos almejados, é indiscutível que haja uma transformação
no sistema de ensino, que vai beneficiar toda e qualquer criança, levando em conta a
especificidade do sujeito e não mais as suas deficiências e limitações. Para que a inclusão seja
efetivamente uma realidade é necessário rever uma série de barreiras, além das políticas de
formação de professores, práticas pedagógicas dos professores e dos processos de avaliação. É
necessário conhecer o desenvolvimento humano e as suas relações com o processo de ensino
/aprendizagem, levando em conta que se este se processa para cada aluno. Deve utilizar-se as
tecnologias de comunicação e informação para investir em capacitações, actualizações,
sensibilização, envolvendo toda a comunidade escolar.
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Concordamos com Formosinho (2009) ao considerar que a escola de massas, como qualquer
outra organização complexa, só pode responder adequadamente às suas novas tarefas diferentes,
aceitando o desafio da diferenciação, de modo a poder oferecer os novos alunos serviços
educativos que realmente se adequam às suas necessidades. De partilha do que cada um tem e do
que cada um sabe. Isto só é possível quando existir uma estrutura de organização pedagógica
efectiva na sala de aula. É a valorização do sentido social das aprendizagens.

Estão associados a estes factores, as más condições em que o ensino moçambicano é ministrado.
Falta de infra-estruturas adequadas, falta de material didáctico, falta de equipamento e mobiliário
escolar, turmas numerosas e aglomeradas, turmas ao ar livre, em suma, falta tudo.

Face a esta situação, os projectos apresentam como elemento de mudança as práticas de


Diferenciação Pedagógica que se revelam como caminho para a Inclusão Escolar e instrumento
da resolução dos problemas do fracasso escolar.
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Conclusão

Como fomos referenciando ao longo deste capítulo, são inúmeros os esforços e movimentos a
nível mundial e nacional visando assegurar que as barreiras que impedem o acesso de todas as
crianças à educação sejam removidas. Alinhado com as recomendações de alguns fóruns
internacionais como Jomtien (1990), Salamanca (1994) e Dakar (2000) houve um
reconhecimento da necessidade de assegurar o cumprimento das necessidades básicas de
aprendizagem de todas as crianças e um maior investimento dos diferentes países para que este
desiderato seja concretizado. Com efeito, esses movimentos propiciaram à educação inclusiva
bases políticas e sociais para se posicionar como uma modalidade que concorre para assegurar
uma educação para todos em ambiente de aceitação da diversidade, no qual as diferenças, sejam
de que tipos forem, não separam nem limitam as crianças da materialização do seu direito pleno à
educação, aqui assumida necessariamente como uma educação de qualidade.

A educação inclusiva vem a posicionar-se como uma estratégia que aumenta a participação de
todos os alunos na comunidade educativa, promovendo experiências enriquecedoras e, em alguns
casos, desafiantes considerando a visão profundamente arraigada da homogeneidade como mote
das práticas de muitos docentes e escolas.
19

Bibliografia

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