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ADELINO PAULO & BENILDO ANDRÉ WAISSONE


ANÁLISE DO ENSINO BASICO EM
MO Ç A M B I Q U E

Machona Dias e Benildo André Waissone


ANÁLISE DO ENSINO BASICO EM MOÇAMBIQUE
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RESUMO

A educação é um processo pelo qual a sociedade prepara os seus membros para


garantir a sua continuidade e o seu desenvolvimento. Tratase de um processo
dinâmico que busca, continuamente, as melhores estratégias para responder aos
novos desafios que a continuidade, transformação e desenvolvimento da
sociedade impõem.A sociedade moçambicana, em particular, tem estado, nos
últimos tempos, em mudanças profundas motivadas por factores socio-
economicos.O principal desafio, que se coloca é tornar o ensino mais relevante,
no sentido de formar cidadãos capazes de contribuir para a melhoria da sua vida,
da vida da sua família, da sua comunidade e do país, dentro do espírito da
preservação da unidade nacional,manutenção da paz e estabilidade nacional,
aprofundamento da democracia e respeito pelos direitos humanos, bem como
da preservação da da cultura moçambicana.

Palavra de chave: Análise Ensino Básico

Machona Dias e Benildo André Waissone


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INTRODUÇÃO

Se a escolha do objecto e principalmente a perspectiva a partir da qual é feito o seu estudo


são determinadas segundo nosso ponto-de-vista, ou seja, se existe uma conexão essencial
entre uma teoria e uma visão do mundo, não há como se pretender a chamada "suspensão
do julgamento" na actividade científica. Se é ilusão acreditar na completa isenção
intelectual no exercício da ciência não é menos ingênuo ignorar que essa analise do Ensino
Bilingue em Moçambique estará: inevitavelmente embebida de conteúdos ideológicos,
ditados por interesses e valores específicos dos grupos sociais aos quais interessa a
produção do conhecimento. A decisão ainda que gerada nos impenetráveis domínios da
mente de cada um, é engendrada socialmente.
“Quando ainda rascunhávamos um esboço deste artigo, na busca de ferramentas teóricas
para o nosso estudo,” percorremos tres (3) planos de Ensino Basico, colhendo
aleatoriamente elementos no acervo teórico disponível em suas prateleiras. Ao cabo da
leitura de manuais da Implementação do Novo Curriculo em Moçambique referente ao ano de 2004,
onde inicia-se a implementação do novo currículo do Ensino Básico, com a entrada da 1ª, 3ª e 6ª
classes, o principal desafio deste currículo era tornar o ensino mais relevante, no sentido de
formar cidadãos capazes de contribuir para a melhoria da sua vida, da vida da sua família, da
sua comunidade e do país. Descartados estes últimos ainda restaram vários, sugerindo
cada um deles um caminho a percorrer. Essa situação gerou uma incômoda dúvida, pois
havia muitas boas alternativas a escolher. Sabíamos que, em cada uma dessas jornadas
teóricas, encontraríamos subsídios para esta proeza. Todavia, não nos sentimos com
fôlego suficiente para percorrer todos os bons caminhos, pois o máximo que
conseguiríamos, nessa ginástica intelectual, seria um desaconselhável sincretismo teórico,
possivelmente às custas da acomodação superficial de pensamentos potencialmente
inconciliáveis, o que colocaria em risco princípios que são caros ao exercício científico,
impactos gerados pelo Ensino Basico pois sua implementação em Moçambique.
Perante esse contexto, o presente artigo apresenta uma discussão sucinta fazendo uma analise
dos tres planos (1998, 2004 e 2018). enquadrando em aspectos sociais, económicos e
educacionais e em sua repercussão.

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O Ensino Básico desempenha um papel muito preponderante no processo de socialização da criança e


aquisição de competências básicas para o seu desenvolvimento pleno, para além de preparar para
sua melhor inserção social e na vida (MINED, 2003).

No Ensino Básico são criadas as linhas orientadoras que visam conduzir/colocar o aluno ao
ensino secundário geral ou técnico profiss ional, respeitando-se aqui os seus interesses, habilidades,
aptidões para além do seu percurso escolar.

A educação é um processo pelo qual a sociedade prepara os seus membros para garantir
a sua continuidade e o seu desenvolvimento. Trata-se de um processo dinâmico que
busca, continuamente, as melhores estratégias para responder aos novos desafios que a
continuidade, transformação e desenvolvimento da sociedade impõem. A sociedade
moçambicana, em particular, tem estado, nos últimos tempos, em mudanças profundas
motivadas por factores político-económicos e sócio-culturais.
Com essa visão nos remete a uma duvida olhando para as futuras gerações: se não podemos

prever o futuro, devemos aprender com o passado, mas qual é o futuro referenciado? E que passado?
Com essas inquietação remetemo-nos numa querela cientifica com os seguintes objectivos:
Geral
❖ Analisar o Ensino Basico em Moçambique;
Especificos
❖ Explicar os factores que transcendem às mudanças do Ensino Basico;

METODOLOGIAS.

O presente artigo, faz analise aos planos Estratégicos do Ensino Básico em Moçambique, Plano Curricular
Ensino Básico e Implementacao do Ensino Bilingue em Moçambique.

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Moçambique, de acordo com o censo de 1997, tem uma população estimada em


16.542.700 habitantes (INE, 1998: 23). A população moçambicana é, predominantemente,
rural, tendo a agricultura como base de subsistência.

O país vive, desde os meados da década 80, transformações profundas com a introdução
do Programa de Reabilitação Económica (PRE) que, mais tarde, com a integração da
componente Social, passou a designar-se PRES. O programa foi e é caracterizado,
fundamentalmente, pela adopção das leis de economia do mercado. Em 1990, introduz-se
o sistema político multipartidário, através da adopção de uma nova Constituição1 , que
consagra Moçambique como um Estado de Direito e reconhece, constitucionalmente, o
sistema político multipartidário.

Entre os finais da década 70 e os princípios da década 90, o país foi devastado por uma
guerra sem precedentes que, aliada aos efeitos das calamidades naturais, colocou o país
na penúria. As redes escolar e sanitária foram destruídas; sofreram também destruição a
rede comercial rural e as vias de comunicação. A destruição física foi acompanhada por
uma destruição profunda do tecido social, o que resultou em traumas profundos. Para além
disso, a guerra e as calamidades naturais fizeram milhões de deslocados e de refugiados
nos países vizinhos.
É interessante que em Moçambique quando se fala de qualidade de ensino, há maior concentração
para e no Ensino Básico, onde pressupõe-se que esteja a condicionar a situação actual que se vive
no País, ou seja, vê-se este subsistema como sendo o mais lacunoso, e que propala esses
problemas para os níveis subsequentes.
A qualidade da educação precisa ser encarada de forma sistêmica: da creche ao pós-doutorado. O sistema
educacional é formado de muitas partes inter-relacionadas, interdependentes e interactivas: o que ocorre em
uma delas repercute nas outras. A educação só pode melhorar no seu conjunto. ‘Nenhuma política
educacional pode produzir resultados positivos sem uma integração orgânica entre os diversos níveis de
ensino, particularmente entre a Educação Básica e o Ensino Superior’ (MACHADO, 2007 apud GADOTTI,
2013).
Mas importa referenciar que o Ensino Básico enquanto subsistema, constitui um sistema, e
enquanto sistema é composto por uma série de elementos interdependentes entre si, e estabelece
comunicação com outros sistemas, não podendo assim ser visto de forma isolado.
Como vem explícito, neste trabalho analisarei todos aspectos propostos no plano curricular como
ideais e a práxis educativa. Assim constituem elementos de análise, os seguintes: políticas do
Ensino Básico, objectivos, perfil de saída, principais inovações, estrutura curricular do Ensino
Básico e estratégias de implementação do novo currículo.
Gostava de deixar claro que a análise que fiz relativamente ao EB não é profunda, apenas tive em

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consideração alguns elementos básicos e que a vista mostram algumas lacunas e necessitam de
um redesenho para garantir sua eficiência.
A leitura e análise de diferentes documentos referentes ao Ensino Básico constituiu a principal
metodologia usada para concretização do presente artigo.

2. Políticas do Ensino Básico


De acordo com a Política Nacional de Educação, o Ensino Primário e a Alfabetização de
Adultos são prioritários e correspondem à educação de base, que o Governo procura dar
a cada cidadão, à luz da Constituição da República de Moçambique.

O Ensino Primário joga um papel importante no processo de socialização das crianças, na


transmissão de conhecimentos fundamentais como a leitura, a escrita e o cálculo e de
experiências comummente aceites pela nossa sociedade.
Assim, torna-se importante que o currículo responda às reais necessidades da sociedade
moçambicana, tendo como principal objectivo formar um cidadão capaz de se integrar na
vida e aplicar os conhecimentos adquiridos em benefício próprio e da sua comunidade.

Analisando o que vem plasmado na Política Nacional de Educação para o nível do Ensino
Básico e aquilo que é a práxis educativa, pode-se notar que está longe de ser cumprido,
uma vez que até ao final deste nível o aluno ainda não apresenta domínio dos propósitos
considerados imprescindíveis (competências de leitura, escrita e cálculos matemáticos
básicos).

O que pode-se notar ainda, usando palavras/pensamento de MATE (2013), é a falta de


paralelismo entre este subsistema de ensino e o subsistema de Formação de Professores
Primários, porque para ensinar a ler, escrever e operar cálculos matemáticos exige do
professor uma didáctica específica, a qual não teve ao longo da sua formação como
professor.

Para além da falta de paralelismo e integração interna, um outro aspecto está ligado com
a questão de coerência e continuidade dentro do subsistema, ciclo, classe, disciplina ou
unidade temática que possa facilitar de facto a aquisição daquelas competências julgadas
básicas para este sistema.

3. Factores transcendetes às mudanças do Ensino Básico

Muitas práticas socioeconómicas e a divisão social do trabalho


na comunidade, que constituem aprendizagens no âmbito da
educação familiar, são factores que, muitas vezes, condicionam
a participação das crianças nas actividades escolares e põem
em causa o próprio valor da escola. Muitas crianças, desde
muito cedo, participam em actividades produtivas, ajudando os
pais na machamba, guardando o gado e em outras tarefas
domésticas em geral (Conceição, R. et alii; 1998:19)

4. Objectivos do Ensino Básico

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À luz dos Objectivos Gerais do SNE, os objectivos do Ensino Básico traduzem-se em:
a) Proporcionar à criança um desenvolvimento integral e harmonioso;
b) Capacitar a criança, o jovem e o adulto com um conjunto de padrões de conduta, que o
tornarão um membro activo e exemplar na sua comunidade e um cidadão responsável na
sociedade;
c) Capacitar a criança, o jovem e o adulto para desenvolver valores e atitudes positivas
para a sociedade em que vive;
d) Dar à criança, ao jovem e ao adulto a oportunidade de apreciar a sua cultura, incluindo
a língua, tradições e padrões de comportamento;
e) Garantir que a criança, o jovem e o adulto conheçam o meio em que vivem, isto é,
conheçam as leis da natureza, a sua comunidade, o país e o mundo;
f) Ajudar a criança, o jovem e o adulto a desenvolver plenamente as suas potencialidades;
g) Encorajar a criança, o jovem e o adulto para observar, reflectir e desenvolver um sentido
de crescente autonomia e auto-estima;
h) Desenvolver a imaginação, a criatividade e o gosto pelas artes;
Na verdade podemos notar que para além dos aspectos acima descritos também os
professores que actuam neste subsistema não possuem uma formação suficiente para
concretizar uma vasta gama de objectivos de natureza científica, técnica e social.

5. Estratégias de Implementação do Novo Currículo do Ensino Básico


As linhas orientadoras do Plano Curricular do Ensino Básico, propõem um conjunto de
estratégias de implementação que, associadas a outros factores psico-pedagógicos,
sócio-económicos e políticos, permitem o desenvolvimento educacaional sem
sobressaltos.

Na formação inicial, o futuro professor adquire as bases conceptuais e metodológicas


para o exercício da docência, bem como a ferramenta para sua auto-formação contínua.
Para garantir que a missão das instituições de formação de professores acompanhasse
as mudanças em curso, desenvolvidas acções de capacitação dos instrutores,
introduzidos novos cursos e estando em curso a elaboração dos novos planos curriculares
e respectivos programas nos IMAP´s e CFPP’s, aactualmente IFPs.

A formação em exercício visa actualizar os professores para implementação do currículo,


no que diz respeito aos princípios metodológicos, às abordagens propostas, às inovações
(estrutura, plano de estudo, sistema de avaliação).

Tendo em conta o universo de professores primários do país, as disparidades de formação

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e a baixa qualidade do ponto de vista académico e pedagógico, o tempo disponível e os
custos, o INDE recomendando uma capacitação em cascata centrada nas Zip’s e escolas.
Assim, os vectores da dinamização do processo de implementação são a Direcção da ZIP
e a Direcção da escola, pois, estas constituem, no dia-a-dia, a estrutura básica de
organização e direcção do processo de Ensino/Aprendizagem.

6. Perfil de saída no Ensino Básico


Pretende-se que, ao concluir o Ensino Básico, o graduado tenha adquirido conhecimentos,
habilidades e valores que lhe permitam uma inserção efectiva na sua comunidade e na sociedade
em geral. Cabe ao Ensino Básico formar um aluno capaz de reflectir, ser criativo, isto é, capaz de
se questionar sobre a realidade, de modo a intervir sobre ela, em benefício próprio e da sua
comunidade (PCEB, 2003:21).
Como se pode depreender, cabe ao Ensino Básico graduar um indivíduo com um desenvolvimento
pleno, harmonioso, competente e íntegro (saber ser/estar, saber, saber fazer) a fim de responder
de forma pontual aos desafios da sua vida para o seu bem-estar, da sua família e da comunidade
onde ele é membro.
Fazendo uma análise minuciosa pode-se notar que o currículo foi desenhado para responder este
fim último, aliás não aparece claramente em que ciclo o aluno poderá desenvolver estas habilidades
ou tarefas que constituem como indicadores que se caminhe para uma direcção certa.
Como também não está claro que tarefas conjuntas devem ser desenvolvidas pelo professor e
aluno para de facto formar àquele cidadão íntegro numa vertente de desenvolvimento pessoal, no
âmbito de desenvolvimento socioeconómico, desenvolvimento técnico-científico e no âmbito de
desenvolvimento cultural.

7. Principais Inovações do Ensino Básico


O Ensino Básico trouxe consigo um conjunto de inovação visando cada vez mais responder de
forma efectiva aos metabolismos sociais e as solicitações de natureza política, económica e do
mercado de trabalho para além de melhorar a própria qualidade de ensino; assim temos:

7.1. Organização do Ensino Básico (ciclos de aprendizagem)


Idade 6 7 8 9 10 11 12
Classe 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª
Ciclo 1º 2º 3º
Graus 1º 2º
Fonte: PCEB, 2003:25

Os ciclos são unidades de aprendizagem com o objectivo de desenvolver habilidades e


competências específicas. Assim:

• O 1º ciclo vai desenvolver habilidades e competências de leitura e escrita, contagem de


números e realização das operações básicas: somar, subtrair, multiplicar e dividir; observar e

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estimar distâncias, medir comprimentos; noções de higiene pessoal, de relação com as outras
pessoas, consigo próprio e com o meio;
• 2º ciclo aprofunda os conhecimentos e as habilidades desenvolvidas no primeiro ciclo e
introduz novas aprendizagens relativas às Ciências Sociais e Naturais sem, contudo, querer
dizer que estas matérias não sejam abordadas no 1º ciclo. Neste âmbito, visa ainda levar o
educando a calcular superfícies e volumes.
• O 3º ciclo, correspondente ao 2º grau, para além de consolidar e ampliar os conhecimentos,
habilidades adquiridos nos ciclos anteriores, vai preparar o aluno para a continuação dos
estudos e/ou para a vida.
Sem dúvidas para efetivação destes propósitos ora descritos exige mais uma vez uma acção
didáctica específica por parte do professor. Aqui também podemos notar um desfasamento
entre o subsistema do Ensino Básico, já que não comunica com o de formação de professores
primários. Não existe professores especializados para actuar em cada um dos ciclos que
exigem uma postura própria, mas sim professor formado para todo o EB.

MATE (2013), tentando estabelecer um equilíbrio entre o crescimento da quantidade e a


qualidade do sistema chama atenção para a formação e colocação de professores em áreas
de aprendizagem segundo os objectivos do ciclo, para melhorar o perfil dos absolventes.

7.2 Ensino Básico Integrado

O Ensino Básico Integrado caracteriza-se por desenvolver, no aluno, habilidades, conhecimentos


e valores de forma articulada e integrada de todas as áreas de aprendizagem, que compõem o
currículo, conjugados com as actividades extracurriculares e apoiado por um sistema de avaliação,
que integra as componentes sumativa e formativa, sem perder de vista a influência do currículo
oculto (PCEB, 2003:26).
Contrariamente o que vem expresso no PCEB, ao nível do EB predomina a avaliação sumativa,
discriminatória realizada principalmente nos finais de trimestre ou semestre. Ainda nota-se
ausência das actividades extracurriculares que possam complementar aquilo que fora tratado em
sala de aula, o que de certo modo pode estar a pôr em causa os propósitos para os quais a inovação
foi concebida.
Está claro que ainda não temos recursos suficientes que possam garantir a eficácia e eficiência
dum ensino integrado ao nível do EB.

7.3 Currículo local

Quero recordar que este trabalho objectiva reflectir em torno do novo currículo do Ensino Básico,
e neste item o faço na matéria da implementação das principais inovações que traz no geral, mas
particularmente sobre o currículo local. Basta recordar que ao nível do EB no currículo local é onde
está reservada a questão da abordagem dos temas transversais que constituem, na minha opinião,
mais-valia para o processo de formação do homem hodierno que se almeja.

A implementação eficaz e eficiente do currículo local no Ensino Básico assim como em outros níveis
de ensino em Moçambique é um assunto de interesse de todos intervenientes no processo de
ensino e aprendizagem, neste caso os professores, a direcção da escola, alunos, pais e
encarregado de educação e a comunidade.

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Para tal, PCEB (2003:27), sustenta que: Os programas de ensino


devem prever uma margem de tempo, que permite a acomodação
do currículo local. Isto é, a escola tem à sua disposição um tempo
para a introdução de conteúdos locais, que se julgar relevante para
uma inserção adequada do educando na respectiva comunidade;
Os conteúdos locais devem ser estabelecidos em conformidade com as aspirações das
comunidades, o que implica uma negociação permanente entre as instituições educativas e as
respectivas comunidades;
As matérias propostas para o currículo local, devem ser integradas nas diferentes disciplinas
curriculares, o que pressupõe uma planificação adequada das lições;

7.4 Distribuição de Professores

As turmas do 1º grau (1º e 2º ciclos) do Ensino Básico serão leccionadas por um professor cada e
as do 2º grau (3º ciclo), por 3/4 professores. Cada professor do 2º grau leccionará três a quatro
disciplinas curriculares, podendo ser ou não da mesma área, conforme a sua especialização ou
inclinação. Aos professores bivalentes, ser-lhes-ão ministrados cursos de capacitação para
poderem leccionar mais uma ou duas disciplinas, de acordo com a sua preferência e em função
das necessidades da escola, e estes, deverão fazer um aproveitamento de todas as possibilidades
que os meios escolares e circunvizinho oferecem para uma formação integral do aluno.
Na prática não tem havido capacitação que permita aos professores adquirirem habilidades para
leccionar mais que 2 ou mais disciplinas, o que suscita algumas incertezas sobre o domínio técnico-
científico dos mesmos. A verdade é que ao longo da sua formação como professores não aprendem
como trabalhar com mais disciplinas nem uma didáctica específica para o efeito.

7.5 Progressão por Ciclos de Aprendizagem

A promoção por ciclo de aprendizagem dos alunos pressupõe a criação de condições de


aprendizagem para que todos os alunos atinjam os objectivos mínimos de um determinado ciclo, o
que lhes possibilita a progressão para estágios seguintes. Estas condições assentam,
fundamentalmente, numa avaliação predominantemente formativa, onde o processo de ensino
aprendizagem está centrado no aluno, e permite, por um lado, que se obtenha uma imagem o mais
fiável possível do desempenho do aluno em termos de competências básicas descritas no currículo
e, por outro, o de servir como mecanismo de retroalimentação do processo de ensino
aprendizagem.
Esta inovação se baseou no pressuposto pedagógico porque corresponde princípio de
organização ensino de acordo com as características da aprendizagem humana, que é gradual
e assenta na aquisição de competências básicas e num pressuposto psicológico, uma vez que
o desenvolvimento ocorre através de estádios, que são universais e implicam uma ordem
sucessiva fixa e invariável independentemente do contexto sociocultural (MATE, 2013).

Ao nível do EB a avaliação é predominantemente sumativa, discriminatória e vista como um fim em


si mesmo, realizada principalmente nos finais trimestrais e semestrais. Para além disso o ensino
está mais centrado no professor, sendo que a exposição dogmática caracteriza as aulas deste
nível, o que de certa forma contraria o que vem plasmado no PCEB.
Ainda no PCEB está claro de que quando o aluno não reúne requisitos básicos exigidos num

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determinado ciclo, este pode ser retido desde que o professor, em coordenação com a direcção da
escola e o encarregado de educação tenham o mesmo consenso, mas na prática este princípio
não se verifica, sendo que são progredidos alunos incompetentes.
Para além dos aspectos acima descritos as horas de contacto entre o aluno e o professor não é
suficiente, o que de certa forma dificulta o alcance dos objectivos. O professor não dispõe de tempo
suficiente para acompanhar a evolução das crianças, não tem como conhecer as particularidades
individuais de cada uma aliada com a questão da superlotação das turmas.

7.6. Línguas Moçambicanas

O processo educacional, em qualquer sociedade, só terá sucesso se for conduzido através duma
língua que o aprendente melhor conhece, respeitando-se, deste modo, os pressupostos
psicopedagógicos e cognitivos, a preservação da cultura e identidade do aluno e os seus direitos
humanos.
De facto a língua é um veículo que é usado no processo de transmissão/mediação de
conhecimentos, desempenhando um papel fundamental no processo de ensino aprendizagem. E
esta questão de abordagem de línguas moçambicanas aparece para reforçar a política do currículo
local como uma das formas encontradas ao nível do EB para valorização da cultura dos educandos
e fortificar a relação escola-comunidade, para além de tornar a aprendizagem do aluno mais
significativa.

O aluno usando a língua vernácula, pode e expressa-se melhor do que quando se trata de língua
portuguesa, que é a considerada L2. Em contrapartida, os professores colocados nas diferentes
escolas moçambicanas não são locais, o que muitas vezes dificulta que falem a língua local e
tenham domínio da cultura local. E não tendo habilidades para se expressar em língua local, o
professor sempre priorizará a L2 e os alunos também não poderão se expressar em língua local.
Mais uma vez temos uma prova de falta de coerência dentro do sistema, entre os elementos que
compõem o sistema, etc.

8. Estratégias de Implementação do Currículo


Para PCEB (2003:54), o sucesso de qualquer plano curricular está, indiscutivelmente, associado à
concepção de estratégias adequadas para a sua implementação. Essas estratégias, por sua vez,
prendem-se com inúmeros factores, tais como os psicopedagógicos, linguísticos, socioeconómicos
e políticos.
Para isso avançam-se as seguintes estratégias de implementação do novo currículo no Ensino
Básico:

• Criação e expansão das Escolas Primárias Completas;


• Formação de Professores;
• Capacitação de professores;
• Formação de professores para as disciplinas novas;
• Língua Inglesa; e
• Línguas Moçambicanas.
Olhando aquilo que é a nossa realidade poderemos notar um esforço na expansão da rede escola,
mas continuamos com o mesmo modelo de formação de professores, continuamos com o mesmo
ritmo das supervisões pedagógicas que culminam com capacitações irregulares.

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Apresentação e Análise dos Resultados.

Muitas práticas socioeconómicas e a divisão social do trabalho na comunidade, que constituem


aprendizagens no âmbito da educação familiar, são factores que, muitas vezes, condicionam
a participação das crianças nas actividades escolares e põem em causa o próprio valor da
escola. Muitas crianças, desde muito cedo, participam em actividades produtivas, ajudando os
pais na machamba, guardando o gado e em outras tarefas domésticas em geral (Conceição,
R. et alii; 1998:19).

A questão da língua é um dos factores que maior influência exerce no processo de ensino-
aprendizagem, sobretudo, nos primeiros anos de escolaridade, na medida em que a maior
parte dos alunos moçambicanos, que entra na escola pela primeira vez, fala uma língua
materna diferente da língua de ensino. Este factor faz com que muitas das competências e
habilidades, sobretudo a competência comunicativa, adquiridas pelas crianças, antes de
entrarem na escola, não sejam aproveitadas (PEBIMO, 1996: 1).

A carga horária do currículo local é de 20% do total do tempo previsto para a leccionação em cada
disciplina.

Verifica-se uma falta de comunicação entre a escola e a comunidade, que é o órgão que pode
fornecer informações/conhecimentos de interesse local, e consequentemente não existe material
de apoio referente ao currículo local.
Os professores não tendo material de apoio com fraco domínio daquilo que são os conteúdos
relevantes da zona, não reservam os 20% da sua carga horaria para abordagem e,
consequentemente não se trata dos temas transversais ao nível do EB, pondo em causa o homem
que se pretende graduar neste subsistema enquanto sistema de ensino.

Qualidades de ensino em Moçambique

5
Qualidade
4 de ensino
3
Qualidade
2 de ensino2
2003
1
2018
Qualidade
2022 0 de ensino3
PCEB PCEB PCEB 2022
1998 2003 2018

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Considerações Finais

O Currículo do Ensino Básico traz consigo um conjunto de políticas que não encontram alicerces para sua
concretização devido a falta de comunicação dos diferentes subsistemas e os seus constituintes. Na verdade
as grandes inovações desenhadas neste currículo distanciam-se com aquilo que são as condições reais das
escolas moçambicanas, sendo que há dificuldades de sua concretização.

Entre o subsistema do Ensino Básico e o subsistema de Formação de Professores não existe um


paralelismo, daí que os professores graduados por esta via não sempre em condições de responder
com eficiência os desafios propostos nos planos curriculares, como é o caso de didácticas
específicas para ensino de crianças.
Outro elemento de discrepância está ligado a questão de ensino centrado no aluno e a avaliação
formativa, que é um dos princípios do novo currículo, mas a praxis educativa indica uma outra
versão: encontramos um ensino voltado ao professor, uso excessivo do método expositivo e
predominância de uma avaliação sumativa.
O tempo de permanência das crianças na escola é deveras insuficiente, o rácio aluno professor é
elevado o que não permite que o professor faça um acompanhamento de cada um dos alunos e
tenha uma imagem fiel em relação o desempenho de cada um deles
O currículo de Ensino Básico é um currículo baseado em competências, mas parece o inverso, pois
há maior preocupação no que concerne ao cumprimento do programa de ensino do que
propriamente no cumprimento das competências exigidas em cada ciclo, grau, etc.

ENSINO BILINGUE

Transição à L2 como meio de ensino


Manutenção da L1 como disciplina

100%
80%
60%
40%
20%
L2
0%
2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª

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BIBLIOGRAFIA

1. BR nº 19, I série (1992). Lei 6/92 de 6 de Maio: Sistema Nacional de Educação.


Maputo: Imprensa Nacional.

2. Baker, R; et al (1998). Fundamentos de Educación Bilingue e Bilinguismo. Madrid.

3. Conceição, R. et al (1998). Relatório das Pesquisas Antropológicas Sobre a


Interação Entre a Cultura Tradicional e a Escola Oficial, Realizadas nas Províncias de
Nampula, Manicae Inhambane. UEM; Maputo.

4. Gómez, Miguel Buendia (1999). Educação Moçambicana - História de um Processo:


1992-1984. Maputo: Livraria Universitária.

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Transformação Curricular da Educação Básica”.Maputo.

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7. INE (1998). II Recenseamento Geral da População e Habitação 1997: Resultados


preliminares.

8. INE (1997). Anuário Estatístico - 1997. INE; Maputo.

9. MIPF (1998). Política Nacional da População. DNP; Maputo.

10. MINED (1996). Educação Básica em Moçambique: Situação actual e Perspectivas.


Maputo.

11. MINED (1997). Plano Estratégico da Educação, 1997-2001: Combater a Exclusão,


Renovar a Escola. Maputo.

12. MINED (1998). Plano Estratégico da Educação: Projecto de Promoção da


Transformação Curricular. Maputo:

13. PEBIMO (1996). Ensino Bilingue: Uma Alternativa para a Escolarização Inicial
(EP1) nas Zonas Rurais. INDE; Maputo.

Se queres colher em três anos, plante trigo,


Se queres colher em dez anos, plante uma árvore
Mas se queres colher para sempre, desenvolva o homem.
Provérbio Chinês

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