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Didática do
Ensino Superior
ESTRATÉGIAS DE ENSINO EFICAZES
PARA O ENSINO SUPERIOR
Sumário
2
UNIDADE
INTRODUÇÃO
1 UNIVERSIDADE: PARA QUÊ SERVE O ENSINO SUPERIOR?
6
O que você vê na figura anterior? Você conhece o jogo de xadrez? Ao analisar a ima-
gem, podemos observar um indivíduo executando uma jogada em um dos jogos
mais conhecidos por exigir habilidades estratégicas. Você entende como o termo
“enxadrista” pode ser utilizado como sinônimo de uma pessoa que age com estra-
tégia? É sobre isso que discutiremos nesta unidade. Então, o que seria estratégia
para você? Quais tipos de estratégias você considera válidas e efetivas na atuação
docente no ensino superior?
Começamos nossa discussão entendendo a relevância das universidades e da edu-
cação superior na sociedade. No primeiro tópico deste material, estudaremos sobre
a finalidade do ensino superior, destacando a importância de situar a influência e a
necessidade do treinamento nesse nível em um contexto social e histórico.
Abordaremos organização do ensino superior, diferenciando-a da educação básica,
já preconizada em nossa Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), e,
também, apresentaremos um retrato sobre a forma como os estudantes matricula-
dos em nosso país têm acessado o ensino superior, a partir de pesquisas realizadas
pelo Ministério da Educação (MEC), e, além disso, também definiremos os tipos de
formação presentes no sistema brasileiro, bem como as áreas de atuação.
No segundo tópico, entenderemos como a didática pode contribuir para a rela-
ção entre ensino e ensino superior. Conheceremos alguns autores que abordam
a importância da formação de professores e da formação continuada para o de-
senvolvimento do pensamento crítico e do trabalho em equipe. Finalizaremos esta
segunda seção abordando a importância de políticas públicas pautadas na forma-
ção de professores e na progressão de carreira que estimulem a continuidade dos
estudos pelos docentes ao longo de sua vida, melhorando, assim, a qualidade da
educação ofertada.
No terceiro tópico desta unidade, trataremos das reflexões sobre o funcionamento
das universidades no cenário de acumulação capitalista. Entenderemos como esse
cenário tem influenciado a tomada de decisões governamentais, a fim de pautar
as avaliações educacionais estruturadas e observadas a partir de dados quantitati-
vos que estimulam o produtivismo acadêmico, incorrendo em um sistema de pre-
carização da educação superior no país. É importante que as universidades sejam
valorizadas por suas capacidades de impulsionar o desenvolvimento econômico e
social do país. No entanto, para isso, é necessário definir objetivos claros e limitar a
implementação de políticas neoliberais que visam privatizar a educação e explorar
excessivamente os professores.
1 UNIVERSIDADE: PARA QUÊ
SERVE O ENSINO SUPERIOR?
É um prazer tê-lo conosco neste tópico. Apresentamos para você algumas orien-
tações essenciais sobre como a educação superior deve ser estruturada e operada.
Primeiramente, é importante destacar que a nossa Constituição Federal garante o
direito à educação como um direito social aplicável para todas as pessoas. Acredita-
-se que, por meio da educação, é possível buscar um futuro com maior qualidade
de vida. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estabelece as normas para
o funcionamento da educação em nosso país, enfatizando a importância do estu-
dante no processo educacional. É dever da família e do Estado promover o acesso
e a vinculação às unidades escolares. O Ministério da Educação (MEC) foi criado em
1930, proporcionando uma série de reformas, dentre elas, a publicação da primeira
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), após 13 anos de intensos de-
bates no período entre 1948 e 1961.
Muitas modificações foram promovidas a partir da publicação da primeira LDB, com
a promoção da separação entre Estado e Igreja, a Reforma Universitária que, em
1968 determinou a adoção dos ensinos público e privado no país, o ensino obriga-
tório para crianças entre 7 e 14 anos em 1971 e a inclusão das creches e pré-escolas,
formação continuada aos professores, a criação de um fundo para o financiamen-
to da Educação Básica, dentre outras medidas que foram implementadas a partir
da publicação de nossa LDB mais recente (BRASIL, 1996). A seguir, destacamos as
premissas apresentadas pela LDB acerca do estímulo à educação (BRASIL, 1996,
on-line):
SAIBA MAIS
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional visa regularizar e sistematizar o
ensino no país, e está diretamente relacionada à nossa Constituição Federal. Atu-
almente, nós nos encontramos na terceira versão de nossa LDB, de modo que sua
primeira versão foi publicada em 1961, a segunda em 1971, e a terceira em 1996.
ATENÇÃO
Atualmente, é possível ingressar no ensino superior por meio de vestibular,
Enem e Sisu.
PÓS-GRADUAÇÃO
STRICTO SENSU
CATEGORIA ACADÊMICO
CATEGORIA PROFISSIONAL
Embora haja uma diferença de foco entre as categorias, não há impedimento para
que os estudantes de mestrado profissional que possuem formação acadêmica
possam se dedicar à pesquisa e iniciar um doutorado após a conclusão do mestra-
do. Além disso, é importante destacar que as carreiras do Ensino Superior são orga-
nizadas em diferentes blocos que contemplam as diversas áreas do conhecimento.
FIGURA 5 – CARREIRAS DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
FONTE: elaborada pela autora (2023).
#PraTodosVerem: quadros indicativos das carreiras/áreas a partir dos quais se organiza o
ensino superior no país.
2 A DIDÁTICA NO ENSINO
SUPERIOR
Até aqui, estudamos o tema da didática no Ensino Superior. Antecipamos que a
temática deve ser interpretada enquanto ciência que nos auxilia a compreender os
saberes indispensáveis para a atuação docente, que são capazes de influenciar a for-
mação de professores e impactar as ferramentas utilizadas nos processos de ensino
e aprendizagem. Ao pensarmos sobre a atuação no Ensino Superior, é relevante
trazer novamente os pilares indispensáveis para o funcionamento das universida-
des: ensino, pesquisa e extensão. Nesse sentido, na docência, esses elementos são
considerados, sobretudo, na formação de professores. Existem muitas críticas em
relação a essa formação, uma vez que alguns dos maiores problemas identificados
por estudantes em formação são dificuldades na didática.
Ao considerar a didática no Ensino Superior, estamos considerando estudantes de
cursos de graduação e pós-graduação que atuarão nas educações básica ou supe-
rior.
De acordo com Nóvoa (2009), a formação de professores deve se dar a partir do
trabalho com situações práticas e concretas que tragam inovação e potencializem
os conhecimentos. O trabalho em equipe deve ser valorizado, inclusive, na troca de
experiências entre professores mais e menos experientes. Outro ponto importante
destacado pelo autor é a capacidade de publicizar as boas experiências, a fim de
inspirar outras práticas e tornar visível seu trabalho.
Para que os docentes desenvolvam um trabalho consistente ao longo de sua atua-
ção, a formação continuada mostra-se um elemento indispensável. De acordo com
Morosini (2000, p. 12):
De acordo com o fragmento anterior, nos cursos de formação e nas formações con-
tinuadas, a didática é um elemento primordial e que deve ser destacado para que
os professores possam lidar de forma eficaz com as novas demandas da atualidade.
Gradativamente, novos paradigmas vão sendo quebrados e substituídos por outros
e, com a prática pedagógica, é possível que os professores atuem como verdadeiros
mediadores dos conhecimentos, compartilhando incertezas e aprendendo ao lon-
go dos processos de ensino e aprendizagem.Através da prática do diálogo, a troca
de informações é fundamental para estabelecer uma abordagem pedagógica co-
letiva e para permitir a avaliação da própria prática.
Ao longo dos momentos de aprendizagem compartilhada, de acordo com Tardif
(2002), docentes e discentes podem estabelecer parcerias válidas, com objetivos
concretos e práticos. Não basta que os saberes pedagógicos sejam desenvolvidos.
Para além deles, estão os saberes políticos, que levam em consideração análises
mais sistematizadas sobre a conjuntura social ante a conscientização das mazelas e
das dificuldades que nosso século enfrenta. Por esse motivo, a formação continuada
é considerada tão importante, uma vez que o desenvolvimento das potencialidades
docentes deve ser constante, acompanhando as mudanças e as novas perspectivas
que impactam o ensino.
SAIBA MAIS
Maurice Tardif é um importante pesquisador vinculado à Université de Montréal
(Universidade de Montreal) no Canadá, que se dedica às investigações relacio-
nadas às trajetórias docentes, profissionalização do ensino e aos movimentos de
valorização do magistério.
O principal objetivo da formação continuada é contemplar as três dimensões que
a abarcam: científica, pedagógica e pessoal. Por dimensão científica, entende-se a
busca pela compreensão sobre como o ser humano aprende e a importância da
atualização constante acerca das novas descobertas científicas. A dimensão peda-
gógica diz respeito à utilização de técnicas e metodologias capazes de melhorar as
estratégias de ensino e aprendizagem utilizadas. Por fim, a dimensão pessoal trata
dos indivíduos de suas crenças, de seus valores ou de suas atitudes, e faz isso a partir
de reflexões críticas e que problematizem a realidade.
A seguir, apresentamos um diagrama que resume as dimensões explicitadas ante-
riormente.
• Foco no compartilhamento de
Dimensão informações e aperfeiçoamento
científica
NA PRÁTICA
Como você deve ter percebido, as três dimensões da formação continuada
são muito importantes. Destacamos, sobretudo, a dimensão pessoal. Não é
possível que haja uma relação de respeito entre docentes e discentes se um
discente for interpretado por seu professor como incapaz de aprender, por
exemplo. De acordo com a dimensão pessoal, é imprescindível que os docen-
tes compreendam os contextos da vida dos estudantes e passem a considerar
suas histórias e suas experiências na redefinição de sua prática docente.
Chamamos a atenção para o cuidado Aperfeiçoamo-nos ao longo de toda
que o poder público deveria ter com a uma vida. Logicamente, o cenário no
formação em nível superior, sobretudo, qual nos encontramos impacta a for-
com as dimensões que abarcam esses ma como o docente atua, e é sobre isso
níveis: ensino, pesquisa e extensão. En- que falaremos na próxima seção, ao
tende-se, portanto, que a falta de des- abordar a docência e a aprendizagem
tinação de recursos, em muitos casos, no cenário capitalista, refletindo sobre
está relacionada a uma crença errônea os efeitos do capitalismo no contexto
de que o Ensino Superior não necessi- atual.
taria de tantos investimentos como na
educação básica, uma vez que no En-
sino Superior o corpo discente é com-
posto por adultos.
Em comparação aos adultos, as crian-
ças e os adolescentes demandam
maior atenção e dedicação do corpo
discente, além de demandar os investi-
mentos públicos de acordo com a fina-
lidade educativa. Não cabe estabelecer
um juízo de valor entre a educação bá-
sica e a educação superior. Ambas são
importantes e contemplam diferentes
fases de desenvolvimento humano, ca-
recendo, cada uma a seu modo, de de-
dicação e cuidado.
Como é possível visualizar ao longo
desta seção, é preciso que os educado-
res observem uma série de elementos
que os façam aperfeiçoar a dimensão
pedagógica, contribuindo com uma
aprendizagem mais efetiva e subs-
tancial. A atividade de ensinar envolve,
acima de tudo, a consciência de que o
aprendizado deve ser contínuo. É im-
portante buscar novas abordagens
para o processo de ensino e aprendiza-
gem constantemente, refletindo sobre
seus resultados na prática docente.
A universidade apenas abre as portas
para o início de nossas aprendizagens
quando iniciamos um curso. Contudo,
nossa formação não termina ao final de
um bacharelado ou de uma licenciatu-
ra.
3 DOCÊNCIA E APRENDIZAGEM
NO CENÁRIO CAPITALISTA
Conforme debatemos ao longo deste material, é notório que a educação superior
se expandiu a partir da intensificação do capitalismo no mundo com as institui-
ções de ensino superior privadas. A capitalização da sociedade faz com que passe-
mos a viver em uma realidade na qual a velocidade tem tônica constante, o capital
tem centralidade e as pessoas são facilmente substituídas. Por esse motivo, um dos
meios que se tem prezado para assegurar a qualidade do ensino ofertado é a qua-
lificação do corpo docente, que deve estar cada vez mais capacitado. Ao longo do
tempo, passamos a vivenciar um ensino compartimentado, fruto da superespecia-
lização dos conhecimentos, algo que tem sido combatido em prol da construção
plural e coletiva de saberes.
Em uma sociedade cada vez mais competitiva, é inegável que a formação busca,
em grande parte, atender às exigências do mercado, e isso impacta a atuação do-
cente, que deve instrumentalizar seus alunos para atuarem na sociedade. De acor-
do com Maués (2010), a atuação docente vem se reconfigurando desde meados de
1990, chegando à configuração atual, que entende que a educação está relacionada
ao desenvolvimento econômico dos países.
No Ensino Superior, essa responsabilidade se intensifica, já que esse nível de ensi-
no e as universidades são essenciais para os desenvolvimentos econômico e social,
considerando o avanço da ciência, o uso e o desenvolvimento de novas tecnologias,
e o destaque internacional. Conforme o fragmento a seguir aponta, hoje, a educa-
ção busca atender às exigências do mercado:
ENTENDA O CONCEITO
A cultura acadêmica é uma expressão que designa as práticas típicas do ambien-
te acadêmico, realizadas por discentes e docentes. Cada ambiente social deman-
da conhecimentos específicos para que os indivíduos lidem e transitem nele. Nas
universidades diversas, são as atividades que compõem a cultura acadêmica,
como a participação nas aulas, a realização de atividades nas disciplinas, a parti-
cipação em eventos acadêmicos, e a escrita do trabalho de conclusão de curso,
entre outras.
SAIBA MAIS
Você pode ler mais informações sobre a Síndrome de
Burnout e o assédio moral causados pelo produtivismo
acadêmico a partir do estudo de Zandoná, Cabral e
Sulzbach (2014), no seguinte o link.
SAIBA MAIS
Para saber mais sobre a Revolução Burguesa no Brasil, indicamos a obra de
Florestan Fernandes: “A Revolução Burguesa no Brasil” (FERNANDES, 1987). A
obra foi escrita por Florestan Fernandes (1920-1995), um sociólogo brasileiro,
considerado o patrono da sociologia em nosso país. Florestan é reconhecido
como um dos intelectuais mais influentes do século XX.
VÍDEO
Vamos reforçar os conteúdos estudados nesta
unidade?
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I, II e III.
d) III, apenas.
a) Capitalização da educação.
b) Pós-graduação.
c) Cultura acadêmica.
d) Educação superior.
GABARITO
1 - Na última avaliação do Enade, di- d) O público predominante no ensino
vulgada em 2021, foram avaliadas superior brasileiro é masculino, advin-
trinta áreas do conhecimento, a par- do de famílias muito escolarizadas, e
tir de 492.461 inscrições. Estas di- que realiza o curso em modalidade à
vidiram-se em Licenciaturas (74%), distância ao mesmo tempo em que
Bacharelado (19%) e Tecnológico trabalham.
(7%). Dentre os estudantes partici-
pantes, “a maioria dos participantes 2 - Ao longo dos momentos de
são mulheres, têm mais de 24 anos, aprendizagem compartilhada, de
são solteiros, os pais não têm ensino acordo com Tardif (2002), docentes e
superior, tem renda até 3 salários mí- discentes podem estabelecer parce-
nimos e trabalham mais de 20 horas rias válidas com objetivos concretos
semanais” (BRASIL, 2021, p. 20). Além e práticos. Não basta que os saberes
disso, mais da metade dos concluin- pedagógicos sejam desenvolvidos.
tes que prestaram o exame estu- Para além deles, estão os saberes
daram em cursos à distância (52%), políticos que levam em conta análi-
conciliando o trabalho e o estudo ses mais sistematizadas sobre a con-
durante a realização dos estudos su- juntura social ante à conscientização
periores (70%). das mazelas e dificuldades que nos-
so século enfrenta. Por esse motivo,
Considerando as informações apre- a formação continuada é conside-
sentadas, assinale a alternativa COR- rada tão importante, uma vez que
RETA. o desenvolvimento das potenciali-
dades docentes deve ser constante
a) O público predominante no ensino acompanhando as mudanças e as
superior brasileiro é feminino, advin- novas perspectivas que impactam o
do de famílias pouco escolarizadas e ensino.
realizando o curso em modalidade à
distância ao mesmo tempo em que Considerando as informações apre-
trabalham. sentadas, analise as afirmações a se-
b) O público predominante no ensino guir.
superior brasileiro é masculino, advin-
do de famílias pouco escolarizadas e I - O poder público deve se compro-
realizando o curso em modalidade à meter com o ensino superior, a fim
distância ao mesmo tempo em que de que os três pilares para a forma-
trabalham. ção das universidades possam con-
c) O público predominante no ensino tribuir de fato com transformações
superior brasileiro é feminino, advindo efetivas na sociedade.
de famílias pouco escolarizadas, e que II - É evidente que a falta de investi-
realiza o curso em modalidade presen- mento e de recursos, em muitos ca-
cial ao mesmo tempo em que traba- sos, está relacionada à uma crença
lham. errônea de que o ensino superior não
necessitaria de tantos investimentos
GABARITO
como na educação básica, uma vez que no ensino superior o corpo discente é
composto por adultos.
III - O poder público deve estabelecer um juízo de valor entre a educação bási-
ca e a educação superior, a fim de determinar quais recursos serão destinados
para cada modalidade de ensino.
É correto o que se afirma em:
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I, II e III.
d) III, apenas.
a) Capitalização da educação.
b) Pós-graduação.
c) Cultura acadêmica.
d) Educação superior.
REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 25 fev. 2023.