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Movimentos de Parceria no Sistema Nacional de Educação em

Moçambique: Definição e Origens


Estudante: Lúcia Lurdes da Conceição Promoja
Email: lpromoja@gmail.com
Prof. Doutor Gaspar Lourenço Tocoloa

Resumo:

O presente estudo aborda de movimentos de parceria no sistema nacional de educação em Moçambique, tendo
como foco definição e origens. O artigo tem como objectivo de analisar os movimentos de parceria no sistema
nacional de educação em Moçambique; e tem como objectivos específicos contextualizar o sistema nacional de
educação em Moçambique; Descrever os movimentos de parceria do sistema nacional de educação e conhecer
origens destes. Neste âmbito que a pesquisa busca perceber os movimentos de parceria no sistema nacional de
educação surge a questão de partida na qual pretende saber o seguinte “Qual é o papel dos parceiros do sistema
nacional de educação em Moçambique tendo em conta no melhoramento dos problemas que a educação em
Moçambique enfrenta?”. Portanto, para a realização deste trabalho consistiu na revisão de literatura, a consulta
de obras bibliográficas e pesquisas feitas na internet, que consiste na recolha, crítica e interpretação dos dados
cujas referências estão citadas dentro do trabalho e na referência bibliográfica final. Os problemas, as dificuldades
no SNE são evidentes e com está pesquisa espera-se que traga resultado positivo, os parceiros, o governo
encontrem uma estratégia viável de modo que o funcionamento da educação em Moçambique traga bons frutos.

Palavras-chave: Parceria, Sistema Nacional de Educação, Educação e Financiadores.

Abstract:

This article addresses partnership movements in the national education system in Mozambique, focusing on
definition and origins. The objectives of this article are presented in two: general and specific, the general objective
is to understand the partnership movements in the national education system in Mozambique; specific objectives
involve contextualizing the national education system in Mozambique; describe the partnership movements in the
education system and learn about their origins. In this context, the research seeks to understand the partnership
movements in the national education system, starting with the starting question in which it seeks to know the
following “What is the role of the partners in the national education system in Mozambique taking into account
the improvement of the problems that education in Mozambique faces?”. Therefore, to carry out this work it
consisted of a literature review, consultation of bibliographic works and research carried out on the internet,
which consists of the collection, criticism and interpretation of data whose references are cited within the work
and in the final bibliographic reference. The problems and difficulties in the SNE are evident and this research is
expected to bring positive results, the partners and the government find a viable strategy so that the functioning of
education in Mozambique brings good results.

Keywords: Partnership, National Education System, Education and Financiers.

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1. INTRODUÇÃO

A educação é um elemento indispensável e constituinte das relações sociais que contribuem


contraditoriamente para a transformação e a manutenção dessas relações, na qual destaca-se a escola
como um espaço institucional de produção e de disseminação do saber sistemático e historicamente
produzido pela humanidade.

Moçambique é uma ex-colônia portuguesa a qual se tornou independente em 1975, herdando de


Portugal uma longa história e experiência educativa. Após a independência, o país herdou condições
económicas e sociais muito precárias deixadas pelos portugueses, fazendo com que o primeiro Governo
moçambicano traçasse, até o final dos anos 80, estratégias de transformação socialista da sociedade e
implantasse programas amplos na área de educação, saúde e habitação (Bastos & Duarte, 2017).

Na era colonial o governo português não tinha nenhum interesse em educar o povo africano, procurava
implantar nas colónias os sistemas de assimilação que objectivava “europeizar” o povo dominado,
aculturando-o através da escola ou por outro meio de difusão e propaganda do seu aparelho ideológico.
Percebido isso, o governo definiu como prioridades do país, após a independência, a expansão,
promoção e nacionalização dos principais serviços sociais, entre eles a educação, passando o Estado a
ser o único fornecedor de serviços no sector da educação e fazer da educação não apenas um direito,
como também um imperativo para o desenvolvimento nacional com vista a alcançar a meta de, até
2015, oferecer o ensino primário para todas as crianças em idade escolar.

Não obstante, o esforço que se empreende para atingir as metas de expandir e oferecer uma educação
de qualidade a todas as crianças em idade escolar, não tem surtido muito efeito. Observa-se que, com o
passar do tempo os gastos do sector da educação aumentam, ao contrário dos recursos alocados que
reduziram na mesma proporção, contribuindo deste modo, com a queda da qualidade dos serviços de
educação e para que haja um impacto insignificante nas reformas introduzidas no sector educativo.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO

A presente pesquisa surge numa altura em que é contestada a qualidade de ensino em Moçambique
suportada por vários factores, desde as questões organizacionais, estruturais, pedagógico e didáctico.
Falando das questões organizações e estruturais nos deparamos com escassez de salas de aulas
devidamente equipadas e estruturadas que correspondem o modelo do ensino actual do Séc. XXI
“modernidade”, falta de carteiras visto que ainda temos caso dos alunos que estudam sentados no chão
e ao relento, falta de material didáctico que auxiliem o professor nas suas actividades lectivas.

Contudo, nas escolas moçambicanas, a estrutura física é inadequada e os recursos humanos com
formação são escassos. Essas deficiências podem ser consideradas como elementos limitadores para
efectivação das políticas de inclusão escolar recomendadas pelo Estado na tentativa de responder às
recomendações internacionais.

Conforme Pinte, (2012, p. 23), a boa organização escolar reúne pessoas interagindo entre si e age via
estruturas e processos organizativos próprios, com a finalidade de atingir seus objectivos de ensino e
aprendizagem. A escola para realizar esses objectivos necessita de uma gestão para a tomada de
decisões e a direcção e controle dessas decisões.

Portanto, diante desses problemas mencionados levanta-se a questão de partida que irá nortear a
pesquisa durante o processo de investigação: qual é o papel dos parceiros no sistema nacional de
educação em Moçambique tendo em conta no melhoramento dos problemas que a educação em
Moçambique enfrenta?

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3. JUSTIFICATIVA

Tendo em conta as situações que se vivem dia-a-dia por um pouco por todo país, como uma
moçambicana creio que a pesquisa poderá buscar soluções dos problemas mais chaves aqueles que
precisam de uma intervenção directa dos financiadores, de modo que os alunos passem a estudar de
forma condigna como as normas recomendam.

A pesquisa tem uma grande relevância científica, porque proporciona a ampliação do conhecimento
teórico já existente em relação a educação e seus parceiros ou seja potenciais financiadores, a pesquisa
ainda neste âmbito propõem buscar soluções de forma científica de modo a melhorar dos problemas
que a educação enfrenta actualmente em Moçambique.

No âmbito social esta pesquisa vai proporcionar um ambiente socialmente saudável nas instituições de
ensino, trazendo uma relação saudável e bem-estar social. E ainda, para a sociedade, o tema vai trazer
uma reflexão sobre a forma como os parceiros devem adoptar novas estratégias para melhorar o
ambiente, o clima, a liderança, a cultura e outros aspectos ligados ao funcionamento e a organização
das unidades de ensino.

4. ESTRUTURA DO ARTIGO

O artigo está estruturado da seguinte forma: Resumo, onde é apresentado o tema do artigo, os
objectivos da pesquisa, questões de pesquisa, metodologias usadas e os resultados esperados.
Introdução onde ilustra a problematização da pesquisa, justificativa, desenvolvimento, conclusão onde
apresenta-se a síntese, recomendações e sugestões e referências bibliográficas.

5. MOVIMENTOS DE PARCERIA NO SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO


5.1. Conceitos básicos

Segundo Lemmer (2005, p. 135), apud Bonde & Matavel (2022), parceria educativa é “partilha do poder,
responsabilidade e posse embora não necessariamente de forma igual; metas e objectivos partilhados,
baseados em pontos de vista comuns”.

As parcerias se referem a relações estabelecidas entre a escola e actores externos à instituição que
actuam para dar apoio ao processo de inclusão escolar. Patrinos et all (2009) apud Bonde & Matavel
(2022), demonstram que a partilha dos serviços pode variar desde a construção, gestão e manutenção
dos espaços, como também a execução pedagógica.

Araújo (2016) afirma que educação é todo conhecimento adquirido com a vivência em sociedade, seja
ela qual for. Para ele, não existe um modelo nem uma única maneira para se educar, uma vez que a
educação ocorre a partir do momento em que se observa, entende, imita e aprende-se. Este processo
não ocorre somente dentro de uma sala de aula onde existe um professor formado para educar. Em
todos os povos, em todas as classes, a aprendizagem está presente, de várias maneiras.

Na visão de Muniz (2002) apud Bonde & Matavel (2020), a educação deve cultivar a moral, despertando
para que o homem tome consciência de que ela deve estar presente em todas as acções de sua vida, em
todo o seu desenvolvimento, em todo o ser e, por efeito, deixando raízes sobre o direito, que não
subsiste sem a moral.

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Segundo Bonde & Matavel (2022), entende-se por financiamento da educação o conjunto das condições
financeiras de suporte e implementação de políticas educacionais, contemplando várias dimensões
como por exemplo: pedagógica (processo de ensino aprendizagem, material didáctico), ambiente
escolar (infra-estrutura físicas e tecnológicas), desporto escolar (construção de infra-estruturas
desportivas e promoção e massificação do desporto escolar). Entretanto, antes da criação fundo externo
de apoio ao sector da educação, qualquer seu financiamento era canalizado directamente no
Orçamento do Estado.

A parceria educativa envolve as famílias, comunidade, sociedade civil, sector privado e parceiros
internacionais (PEE, 2020-2029). Para Segundo Bonde & Matavel (2022), propõe dois modelos de
parcerias educacional:

Modelo vouchers adoptado por Holanda, Bélgica, Dinamarca, Colômbia e Suécia


e, principalmente, o Chile, é uma parceria firmado entre o governo e algumas
escolas privadas, no qual o governo emite um certificado de financiamento
público (por meio de um comprovante ou vale educacional) e a escola privada
fornece todo o serviço pedagógico para os alunos desse programa, ficando a
cargo dos pais dos alunos a escolha da escola. Modelos de escolas charters, com
origem nos Estados Unidos, no início dos anos 1990 consistem na prestação de
serviços educacionais gratuitos à população pelo agente privado, por meio de
recursos públicos dos governos.
Em Moçambique, a estratégia de financiamento da educação privilegia o alinhamento com os
instrumentos de planificação a nível macro (Programa Quinquenal do Governo, Programa Alargado a
Redução da Pobreza Absoluta, Cenário de Despesas de Médio Prazo, Plano Estratégico da Educação,
etc.) e com as directivas internacionais na área da Educação, como a Declaração de Dakar e as Metas de
Desenvolvimento do Milénio. Ou seja, as organizações internacionais que financiam a educação visam
em parte defender alguns interesses.

5.2. FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO E ÀS AGENDAS INTERNACIONAIS

O financiamento da educação é uma política pública educacional fruto do neoliberalismo. Muitas nações
estão vinculadas em organismos internacionais em diversas áreas de interesse, com efeito ao
cumprimento de algumas políticas públicas, como por exemplo saúde, educação agricultura, governação
e diplomacia, seguem padrões internacionais e acima de tudo pela crise económica moçambicana.

Entretanto,

A contribuição da ajuda internacional sobre orçamento do Estado tem vindo,


paulatinamente, a decrescer ao longo dos anos e, de forma mais acentuada,
após a crise das ‘dívidas não declaradas’, contraídas pelo Governo de
Moçambique sem a aprovação do Parlamento. Paralelamente, apesar do
aumento da capacidade de recolha de receitas por parte do Governo, com o
corte da ajuda externa, os OE dos últimos anos têm-se mostrado insuficientes
para cobrir as actividades já em curso, facto que tem afectado a prestação de
serviços públicos" (MOÇAMBIQUE – PEE, 2020, p. 22).
Assim, para o financiamento da educação é parte integrante da concretização dos oito Objetivos de
Desenvolvimento do Milénio (ODM), nomeadamente: Erradicar a pobreza extrema e a fome;
Atingiro ensino primário universal; Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres;
Reduzir a mortalidade infantil; Melhorar a saúde materna; Combater o VIH/SIDA, a malária e outras
doenças; Garantir a sustentabilidade ambiental e; Estabelecer uma parceria mundial para o
desenvolvimento.
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Os financiamentos, para além de responder as necessidades educativas do povo moçambicano, visam
apoiar o cumprimento de metas das políticas educativas nacionais e internacionais. Outrossim, a
materialização das reformas curriculares e outras políticas educativas que para além das Leis
reguladoras do Sistema Nacional de Educação existem também marcos regulatórios de dimensões
internacionais.

5.3. SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

A primeira lei do SNE, estruturava-se em 5 subsistemas de educação, nomeadamente: (1) educação


geral, (2) educação de adultos, (3) educação técnico-profissional, (4) formação de professores e (5)
educação superior. Esta lei organizava-se em quatro níveis, (1) primário, (2) secundário, (3) médio e (4)
superior.

O subsistema de Educação Geral, era considerado o eixo central do SNE, conferia a formação integral e
politécnica base para ingresso nos outros subsistemas. Os níveis e conteúdos constituíam ponto de
referência para outros os subsistemas do SNE. Este compreendia o ensino primário, ensino secundário e
pré-universitário. A educação pré-escolar e o ensino especial e vocacional estavam acoplados a
Educação geral e eram frequentados por jovens dos 9 aos 19 anos; Esta lei previa o ensino a distância
como uma modalidade de educação alternativa, que visava potencializar as acções já contempladas no
SNE, de acordo com os objectivos de cada subsistema.

O ensino a distância destinava-se a todos os moçambicanos que não puderam realizar ou continuar os
seus estudos no regime considerado normal com vista melhoria continua de conhecimentos técnicos e
profissionais. O Ministério da Educação e Cultura, na época, era responsável pela organização e
implementação progressiva do ensino a distância, através de cursos por correspondência. Em relação ao
subsistema de educação Técnico-Profissional, constituía o principal instrumento para materialização da
política de formação da força de trabalho qualificada em resposta às exigências do desenvolvimento
económico e social do país. Esta caracterizava-se pelo crescimento quantitativo e qualitativo da força de
trabalho qualificada através de uma formação integral dos jovens e trabalhadores.

Os níveis que compreendiam este subsistema eram o ensino elementar técnico profissional, ensino
básico técnico profissional e ensino médio técnico profissional. Os principais beneficiários deste
subsistema eram jovens em idade escolar e pré-laboral, adultos sem experiência nem qualificação
profissional, e trabalhadores em exercício na produção e nos serviços. No que tange ao subsistema de
educação de professores, visava assegurar uma qualificação pedagógica, metodológica, científica e
técnica do corpo docente para os vários subsistemas.

6. METODOLOGIA

Para responder ao problema e aos objectivos propostos na pesquisa, optou-se pela abordagem
qualitativa sem a elaboração de pressupostos a serem analisados, na qual se limitou em fazer uma
descrição precisa da situação e procurar descobrir ideias e soluções na tentativa de obter maior clareza
com o tema em análise. Como técnica para colecta de dados utilizou-se instrumentos qualitativos
(pesquisa documental).

7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Analisar a educação em Moçambique pressupõe compreender seus antecedentes, desde a época da
educação tradicional até os tempos de hoje. Parceiro da educação é um dos problemas que a maioria
dos países subdesenvolvidos enfrenta no seu dia-a-dia. Muitos desses países, devido à fragilidade de

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seus respectivos Estados e sua condição pós-colonial, apresentam dependência económica e
Moçambique não é alheio a essa situação.

Para o caso de Moçambique, desde que o país ficou independente, em 1975, o Estado moçambicano
enfrenta problemas para o financiamento de sua educação. Sobre esta realidade, Bastos & Duarte,
(2017) afirma que “viabilizar a educação pública democrática e de qualidade implica prever fontes de
financiamento”.

Autores como Silva & Oliveira (2020) nos advertem que “recursos educacionais adequados contribuem
fortemente para impulsionar a diminuição das desigualdades educacionais e sociais”. (Silva, 2021, p. 2) e
outros estão entre os autores que destacam que o financiamento da educação é um dos eixos para o
avanço social, económico e político de uma Nação.

A dificuldade de financiar a educação moçambicana fez com que o país, mais


tarde, optasse por pedir apoio a seus parceiros internacionais para ajudar a
financiá-la. Numa primeira fase os financiamentos externos provinham de vários
países (bilaterais e multilaterais), desde o período de orientação socialista
(1975-1986) e na fase posterior do Multipartidarismo (1990). Estes
financiamentos eram direccionados directamente para o Orçamento Geral do
Estado, com término em 2001. (Bastos & Duarte, 2017).
Em 2002, foi Criado o Fundo de Apoio ao Sector da Educação (FASE), que é o instrumento principal para
a canalização de fundos externos ao sector – “O fundo comum (FASE) é o instrumento mais alinhado
para a canalização dos fundos externos para o financiamento do plano anual do sector, usando os
procedimentos e instrumentos do Estado no que respeita à planificação, orçamentação, execução e
monitoria”, afirma o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH, 2010, p. 56).

O Fundo Comum (FASE), através do qual é canalizada a maior parte do financiamento externo ao sector,
contribui para o financiamento de programas-chave com enfoque no financiamento de programas para
o ensino básico, como o livro escolar, apoio direito às escolas, formação de professores, supervisão e
construção acelerada de salas de aula. Metade da despesa do FASE é despesa corrente.

Dentre os vários objectivos do FASE, destacam-se:

1. Alcançar o objectivo de Desenvolvimento do Milénio;


2. Atingir o Ensino Básico Universal para todos; e
3. Assegurar a conclusão de um ensino primário para todas as crianças em 2015. O Fundo de Apoio
ao Sector de Educação foi criado pela Iniciativa Acelerada de Educação para Todos (FTI). A FTI
segue o compromisso da comunidade internacional firmado no 4º Fórum Mundial sobre
Educação para Todos, em Dakar, segundo o qual nenhum país comprometido com a provisão de
uma educação básica para todos e com um plano credível ficaria limitado de alcançar este
objectivo por falta de recursos financeiros (MINEDH, 2010, p. 8). Portanto, foi por meio da
Iniciativa Acelerada de Educação para Todos (FTI) que se introduziu o Apoio Direito às Escolas
(ADE1).

Hanlon (1997) considera que “Moçambique tornou-se o país “mais dependente da ajuda externa do
mundo e provavelmente ainda o é” (Hanlon, 1997, p. 15) Abrahamsson e Nilsson (1994) afirmam que
“Moçambique encontra-se hoje numa situação consideravelmente pior do que na altura da
independência”.

Somos da opinião de que o país deve diminuir a ajuda externa e criar as suas próprias fontes de
investimento para a educação e outras áreas sociais e económicas. Enquanto a educação continuar a ser

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Apoio Direito às Escola
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financiada pelos parceiros da educação, serão eles que continuarão a traçar as políticas educacionais de
Moçambique e, dificilmente, sairemos dessa dependência externa. Os documentos do Banco Mundial
(1995) evidenciam esta realidade.

O relatório de Monitoramento Global de Educação Para Todos alerta-nos que “modelos externos de
boas práticas educacionais, defendidos sem muita convicção por diferentes grupos de agências,
geralmente não estão suficientemente sintonizados com as circunstâncias locais” (UNESCO, 2005, p. 23).

Na incapacidade de gerir e financiar a educação, o Estado moçambicano optou pela privatização da


educação desde 1990 como forma de se livrar dos encargos financeiros. Portanto, Moçambique se
esqueceu de que não há uma única experiência no mundo que desenvolveu altos padrões educacionais
com discursos, mas, sim, com recursos. Silva e Oliveira (2020, p. 14) nos alertam que “[...] quando os
Estados dependem da privatização para expandir o acesso a educação, essa abordagem pode entrar em
conflito com a promoção da universalização do acesso, especialmente para as populações mais
marginalizadas”.

7.1. MODALIDADES DE FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

No Plano Estratégico da Educação 2020-2029: por uma educação inclusiva, patriótica e de qualidade –
PEE 2020-2029 (MINEDH, 2020), do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano de
Moçambique, lê-se:

[...] a Estratégia de Financiamento adoptada em anos anteriores reunia em si a


angariação de recursos, de modo combinado, de diferentes formas. Recursos do
Estado, Recursos dos Parceiros de Cooperação (em diferentes modalidades),
Recursos dos Pais e Encarregados de Educação e Contribuições do Sector
Privado e Organizações Não-Governamentais (em espécie ou em numerário).
(MINEDH, 2020, p. 174).
Dentre as maiores contribuições no Sector, destacaram-se os recursos do Estado via Orçamento do
Estado e os recursos dos Parceiros de Cooperação, canalizados através de um fundo comum chamado
Fundo de Apoio ao Sector de Educação (FASE).

A fonte externa de financiamento é constituída por apoio direito ao orçamento do sector (ou
semelhante a esta modalidade), projectos bilaterais e multilaterais (que podem ser implementados em
conjunto ou por uma das partes ou com inputs distintos e que variam caso a caso e dependendo da
entidade financiadora), contribuições e doações em espécie e parcerias com o sector privado (ainda em
número e volume reduzidos). (MINEDH, 2020, p. 176). São canalizados anualmente em Moçambique
cerca de 75% dos fundos externos ao sector através de Fundo de Apoio ao Sector de Educação (FASE).
Deste valor, somente 30% são usados para as construções escolares.

Nos últimos anos, o número de parceiros e o volume de contribuições do grupo da FASE reduziram,
porque alguns parceiros que apoiavam orçamento do Estado e o financiamento do sector de Educação
em Moçambique abandonaram o país quando se despoletaram as famosas dívidas ocultas de 2,2
milhões de dólares em 2015. Alguns países permaneceram e outros voltaram mais tarde a exercer os
seus compromissos de ajuda externa. Por exemplo, em resposta à crise económica e social nacional
provocada pela Covid-19, a União Europeia (EU) retomou o apoio ao Orçamento do Estado (OE) por
meio do programa de curto prazo denominado de Contrato de Construção da Resiliência do Estado
(SRBC, sigla em inglês). De acordo como o Movimento da Educação Para Todos (MEPT), o programa visa
auxiliar o governo de Moçambique a mitigar os impactos socioeconómicos da pandemia, com enfoque
específico na educação, protecção social e saúde, o que se traduziu na assinatura deste novo programa
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em Novembro de 2020, com um acordo de financiamento assinado entre a EU e o governo
moçambicano de duração de três anos. Para garantir o uso eficiente e eficaz desse fundo, foi confiada
ao MEPT a realização da “monitoria dos fundos alocados ao Sector de Educação no Contexto da Covid-
19”.

É importante salientar que o Memorando de Entendimento que norteou o mecanismo de financiamento


da FASE terminou em 2019 e teve a sua extensão para um período subsequente, de 2020 até 2029. O
financiamento externo também provém de ONG nacionais e internacionais que apoiam directamente as
escolas, com doações de material, construção e reabilitação de salas de aulas, capacitação dos
professores em exercício, bem como nas áreas de alfabetização e do desenvolvimento das actividades
de primeira infância (Ensino Pré-Escolar).

O sector privado tem contribuído timidamente para o crescimento do sector da Educação e é orientado,
em particular, à reforma da Educação Técnico-Profissional. O Plano Estratégico 2012-2019 “teve um
contributo em termos de provisão de serviços educativos, através da construção de escolas técnicas
privadas, disponibilização de equipamento e materiais escolares e de bolsas de estudo” (MINEDH, 2020,
p. 176).

O sector da Educação, tal como outros sectores, prioritários ou não, obedece à modalidade de
financiamento composta por contribuição de recursos internos e externos. A fonte interna financia a
maior parte da despesa do sector da educação (cerca de 83%, em 2018, e 89%, em 2019), como os
salários do pessoal docente e não docente e os bens e serviços para o funcionamento das instituições. A
contribuição interna (fonte interna de financiamento) é aquela cuja dotação provém de recursos
internos derivados de colectas fiscais do Estado.

O relatório de políticas educacionais do sector aponta que, “em Moçambique, o orçamento corrente
representa cerca de 81% do orçamento total da educação, enquanto o restante é dedicado ao
investimento” (MINEDH; UNESCO, 2019, p. 89). A outra contribuição interna provém da pequena
contribuição dos encarregados de educação, em certos casos, para o pagamento dos guardas. Esta
contribuição tem criado polémicas entre os pais e encarregados de educação, os quais afirmam: “não
temos a obrigação de contribuir para o salário dos guardas, porque é direito do Estado pagar o salário
deles”. Mesmo assim, o sector não recuou até hoje, defendendo que:

Estas contribuições são bem-vindas e devem ser encorajadas, geridas e


reportadas com transparência à comunidade escolar, mas não devem ser
entendidas, pelos pais e encarregados de educação, como uma obrigação ou
condição de acesso ao ensino. (MINEDH, 2020, p. 176).
Uma outra fonte interna do financiamento da educação provém das receitas das escolas. No sector da
Educação, as receitas próprias são aquelas que vêm através da cobrança de taxas de matrículas, aluguel
de estabelecimentos, produção escolar, principalmente em escolas técnicas e internatos. Este valor é
colectado pelas instituições de ensino, que são obrigadas a declará-lo nas Direcções da Educação, e
estas, por sua vez, encaminham os valores para as finanças.

Este dinheiro colectado nas instituições de ensino e, mais tarde, enviado às finanças tem criado vários
constrangimentos nas escolas. As escolas ficam ressentidas com a falta de tudo um pouco. Segundo as
orientações dadas às instituições de ensino, “quem precisar, deve solicitar”, processo que não tem sido
fácil devido à excessiva burocratização.

8. CONCLUSÃO

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O presente estudo buscou analisar o movimento dos parceiros como forma de contribuir para a
melhoria no processo de ensino aprendizagem do SNE em Moçambique. Procurou-se reflectir aspectos
que contribuam para o melhoramento das estruturas e funcionamento escolar tendo em conta a acção
dos financiadores.

Portanto, a pesquisa mostra que o financiamento da educação é extremamente importante para o


funcionamento pleno de qualquer sistema de ensino de um país. Ele garante a melhoria do processo de
ensino-aprendizagem e a qualidade do ensino de um país. Para o caso concreto do sistema de ensino
em Moçambique, ela acaba não sendo eficiente, porque os valores repassados pelo Estado para as
instituições de ensino primário e secundário costumam ser insuficientes.

As dificuldades de financiamento da educação em Moçambique trouxeram outros problemas para o


sector. O Estado privatizou as instituições de ensino e, como corolário disso, as famílias de baixa renda
passaram a não ter acesso à educação. As dificuldades de financiamento para a educação trouxeram
outros problemas relacionados à baixa qualidade ensino. A melhoria do financiamento do sector de
educação pode ser o pilar fundamental para a melhoria da qualidade de ensino.

O financiamento da educação em Moçambique é assegurado por duas fontes (interna e externa). Desde
que Moçambique alcançou a sua independência, em 1975, o sector passou a ser dependente de apoios
externos. Esta dependência também traz outros problemas. Faz com que o país perca oportunidade de
elaborar as suas próprias políticas educacionais. Os parceiros de cooperação e as agências internacionais
têm objectivos ocultos nas suas ajudas. Ditam regras para serem cumpridas, as quais, muitas vezes, não
estão de acordo com a realidade do sistema de ensino de cada país.

8.1. SUGESTÕES/RECOMENDAÇÕES

Os desafios são vários e nessa perspectiva é pertinente deixar algumas recomendações para
melhoramento:

O Estado moçambicano deve colocar a educação como prioridade número um para o desenvolvimento
do país. Enquanto continuar colocando a educação em segundo e terceiro lugares a nível das
prioridades orçamentais do Estado, como aparece nas Contas Gerais do Estado do período em análise,
continuaremos a estar na lista dos 10 países mais pobres do mundo.

O governo deve aumentar o seu financiamento para a construção de escolas, funcionamento das
instituições de ensino, pagamento de salário dos professores e para os demais problemas que o sector
enfrenta. O Estado moçambicano precisa criar um fundo específico através das contribuições internas
para financiar a sua educação.

O governo adopte uma abordagem metodológica baseada na planificação e gestão participativa,


envolvendo atores do governo e do sector privado local para a definição de políticas do sector da
educação, num ambiente de autonomia e parceria público-privado. O estabelecimento de parcerias é
essencial para que as redes de ensino possam concretizar o ideal de educação que almejam para seus
alunos.

A escola pode efectuar a aquisição de material, porém as verbas que recebem vêm definidas para quais
finalidades podem ser utilizadas. A escola pode, ainda, elaborar o projecto político-pedagógico, porém
será avaliada posteriormente de acordo com os conteúdos e parâmetros que foram definidos
centralmente.

9. BIBLIOGRAFIA
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