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Coordenação Pedagógica: Da Informação à Formação

Coordenar práticas pedagógicas além de se fazer presente nas situações


cotidianas da escola, engloba estar atualizado com as políticas e orientações
educacionais buscando colocá-las em prática na instituição de trabalho em
consonância com a realidade da comunidade de inserção da escola e com o
apoio do corpo docente devidamente orientado. As expectativas contempladas
por diversos estudiosos citados no decorrer deste estudo, a excelência no
desempenho do coordenador pedagógico é responsável pela autonomia
pedagógica da escola por existir nesta a necessidade de um profissional que
possa intervir e orientar na organização dos projetos como prioridade. O
presente estudo traz em seu desfecho a rotina do coordenador pedagógico,
seus anseios, desafios e a carência de formação continuada deste diante da
política educacional. Teve por finalidade compreender a função do coordenador
pedagógico e aprimorar os conhecimentos sobre suas atribuições em
consonância às políticas educacionais. O ponto de partida foi à necessidade de
formação sobre a postura e os procedimentos adotados na rotina de ações do
coordenador e o contexto real de suas atribuições, tendo em vista as
dificuldades enfrentadas pelos profissionais das escolas públicas. A
metodologia utilizada contemplou pesquisa e leitura de artigos e periódicos
online, via plataforma do curso, consultam em obras de autores relacionados,
dados da instituição onde se realizou a pesquisa, reflexões sobre a educação
pública, gestão financeira e pedagógica, políticas educacionais, avaliação,
organização curricular, diversidade educacional, organização do projeto político
pedagógico, práticas e espaços de comunicação na escola, aprendizagem na
realidade escolar e o trabalho pedagógico.

1. INTRODUÇÃO

Conforme as expectativas contempladas por diversos estudiosos citados


no decorrer deste estudo, a excelência no desempenho do coordenador
pedagógico é responsável pela autonomia pedagógica da escola por
existir nesta a necessidade de um profissional que possa intervir e
orientar na organização dos projetos como prioridade.

Segundo Veiga (1998, p. 16-19) a autonomia pedagógica é baseada no


projeto pedagógico da escola pela liberdade de propor modalidades de
ensino e pesquisa ligadas à identidade, à função social, à clientela, à
organização curricular, à avaliação, aos resultados.

Nessa concepção o corpo docente em conjunto com os demais


profissionais da educação devem ser os principais atores do
desenvolvimento do Projeto Político Pedagógico (PPP) cuja finalidade é
guiar as ações pedagógicas da instituição conforme o perfil da
comunidade atendida. Para orientar e organizar em conjunto com a
equipe as ações propostas no PPP as instituições de ensino público do
Estado de Mato Grosso contam com o trabalho do coordenador
Pedagógico, cujo profissional deve ser um professor eleito a cada biênio
(dois anos) que tenha capacidades específicas entre as quais estão a
capacidade de analisar, argumentar, criticar e propor métodos
alternativos ao trabalho desenvolvido pela instituição conforme a política
educacional vigente.

O presente estudo traz em seu desfecho a rotina do coordenador


pedagógico, seus anseios, desafios e a carência de formação
continuada deste diante da política educacional e foi desenvolvido
conforme o cotidiano de uma escola pública estadual situada na Região
Sul na periferia da cidade de Várzea Grande-MT. Teve por finalidade
compreender melhor a função do coordenador pedagógico a aprimorar
os conhecimentos sobre suas atribuições em consonância às políticas
educacionais. Partiu da necessidade de informações sobre a rotina de
ações do coordenador e o contexto real de suas atribuições, tendo em
vista as dificuldades enfrentadas pelos profissionais das escolas
públicas de MT.

A metodologia utilizada contemplou pesquisa e leitura de artigos e


periódicos online, via plataforma do curso, leituras de livros de diversos
autores relacionados, consulta de dados da instituição onde se realizou
a pesquisa e reflexões sobre a educação pública, gestão financeira e
pedagógica, políticas educacionais, avaliação, organização curricular,
diversidade

educacional, organização do projeto político pedagógico, práticas e


espaços de comunicação na escola, aprendizagem na realidade escolar
e o trabalho pedagógico.

2. 2. DESENVOLVIMENTO

2.1 O CONTEXTO ESCOLAR

A Unidade Escolar pesquisada para a realização deste trabalho tem


aproximadamente dez anos de existência na cidade de Várzea Grande,
estado de Mato Grosso. Iniciou suas atividades como salas anexas de
outra escola da região. Em 2004 foi autorizada como instituição escolar
apta a ofertar a modalidade regular do Ensino Médio e atendia somente
o período noturno. Em 2010 passou a ofertar o Ensino Fundamental-3º
Ciclo de Formação Humana e a Educação de Jovens e Adultos, sendo a
primeira modalidade no período vespertino e a segunda no período
noturno. A partir do ano de 2012, continuou com as modalidades
anteriores e acumulou Ensino Fundamental - 2º Ciclo de Formação
Humana para alunos egressos na 3ª fase devido ao redimensionamento
de alunos atendidos no sistema municipal de ensino passando a
funcionar em três turnos. Inicialmente a Escola atendia cerca de
aproximadamente trezentos alunos com corpo docente de 15
professores na etapa inicial, 1 apoio administrativo educacional-
segurança, 1 apoio administrativo educacional-nutrição, 1 apoio
administrativo educacional-manutenção e 1 técnico administrativo
educacional, 1 coordenador e o diretor. Atualmente contabilizam-se mil
alunos, 35 professores regentes, 3 coordenadores, 4 técnicos
administrativo educacional, 8 apoio administrativo educacional-
manutenção, 2 apoio administrativo educacional-segurança, 3 apoio
administrativo educacional-vigia, 1 técnico administrativo educacional-
laboratório, 1 técnico administrativo educacional-biblioteca e 5 apoio
administrativo educacional-nutrição além de secretário e diretor.

Quanto ao Projeto Político Pedagógico uma realidade cuja construção partiu de


um processo coletivo do planejar para a instituição e para a comunidade
escolar como um todo e foi realizado com muita dificuldade, por um lado
professores atarefados com o planejamento e a execução de suas aulas com
pouco tempo para se dedicar a mais uma atividade e pais que não se
consideram como partes do processo e por isso não se comprometem a
comparecer às reuniões para as discussões coletivas. Diante desta situação
quem fica com a maior sobrecarga nesta tarefa são o diretor, os
coordenadores, o secretário, enfim a equipe gestora e o Conselho Escolar.
Mesmo com toda essa problemática ainda temos algumas famílias e membros
da

comunidade que assumem suas responsabilidades, mas seria bem melhor se a


comunidade envolvesse e tivesse mais compromisso com as propostas da
instituição de ensino. Para efetivar o envolvimento de todos na construção do
PPP cabe aqui pensar algumas estratégias para que isso aconteça, tais como:
formação de grupos de trabalho, utilização das mídias na divulgação dos
encontros, esclarecer legalmente às famílias sobre seus direitos trabalhistas
quando se trata de dar assistência ao processo educacional de seus filhos,
fazer rodízio de participantes nas reuniões, promover encontros em horário e
data alternativos.
A escola pesquisada busca contemplar em consonância com o seu Projeto
Político Pedagógico toda a comunidade escolar com atividades que envolvam
cultura, arte e opinião. Anualmente são realizadas as comemorações cívicas
dos pais, consciência negra, amostra cultural e folclórica, jogos escolares e
formatura dos estudantes que concluem o Ensino Fundamental e o Ensino
Médio. Nas comemorações cívicas em alusão as datas comemorativas, os
alunos são incentivados a refletir sobre a realidade que envolve cada data,
realizando pesquisas, estudos, seminários, mesas redondas por turma de
modo que todos são envolvidos no processo. Para a amostra cultural e
folclórica são formados grupos de trabalho por série/ano/fase onde cada um
destes, contribui na confecção dos trabalhos manuais, na gastronomia, na
dança e em outras apresentações regionais. Nesta festividade os alunos
também são orientados a buscar parcerias para as apresentações culturais fato
que auxilia no aprendizado da mobilização e valorização dos aspectos e
manifestações culturais e artísticos da comunidade em geral. Os jogos
escolares dão aos discentes momentos de lazer e diversão e ao mesmo tempo
contribuem para que os mesmos exercitem sua convivência com o grupo
desenvolvendo melhor suas habilidades de relacionamento interpessoal, este
último de extrema importância para o pleno exercício da cidadania. As
festividades de formatura são uma maneira de celebrar em conjunto a todos os
formandos e suas famílias a conquista de todos os envolvidos no processo
educacional.

As avaliações do rendimento escolar nos remetem a uma reflexão profunda


das intervenções que devemos fazer para melhorar os índices da instituição,
porém não é a única responsável pelas taxas demonstradas. A instituição
necessita urgente de mais investimentos na sua infraestrutura, pois há diversos
problemas como falta de acessibilidade e espaços educativos mais
organizados e seguros. As condições de trabalho dos docentes e técnicos se
esbarravam em princípio na falta de equipamentos tecnológicos em boas
condições de uso e na quantidade destes.

O trabalho coletivo é algo que precisa ser melhorado para que as decisões
sejam tomadas com mais democracia e menos desgaste entre as partes, pois
os resultados

apresentados pela escola, o desempenho escolar, é de responsabilidade geral


dos membros da escola.

Dentro do ambiente escolar muito se questiona a gestão democrática, a


responsabilidade pelo exercício da gestão democrática não pode ser
direcionada apenas à equipe gestora, uma vez que sem o comprometimento de
todos os atores envolvidos não há como se desencadear o processo de
construção coletiva e democrática. A garantia do acesso, permanência e
qualidade do ensino, exercício da cidadania são de incumbência de todos os
envolvidos no processo educacional por esse motivo todos tem o direito e mais
ainda o dever de participar das construções coletivas.

2.2 A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

Ser coordenador pedagógico é um exercício de aprendizado constante.


Como todas as profissões têm sua especificidade, ser professor é algo
que envolve o exercitar o lado pacífico diariamente, concomitante aos
lados inovador, exigente, perspicaz, prévio, enfim. Quando o professor
opta por coordenar as atividades de ensino aprendizagem em uma
unidade escolar se dá muito mais valor a importância do conviver na
coletividade. Para desenvolver um bom trabalho de coordenação
pedagógica torna-se necessária a formação de uma boa equipe na qual
haja a facilidade de distribuir os afazeres diários que não são poucos.

O trabalho do coordenador pode nortear o desenvolvimento de toda a


prática pedagógica no cotidiano escolar. A ele são atribuídas funções de
orientar, coordenar, propor alternativas de trabalho para melhorar o
ensino e a aprendizagem, mediar conflitos, dialogar com as famílias,
realizar atividades administrativas, entre outras. Com esta gama de
trabalho a coordenação pedagógica perpassa algumas vezes pela falta
de identidade. Em um espaço de trabalho onde há restrição na
quantidade de funcionários ao número de alunos, o trabalho não é tarefa
fácil. Porém ao refletir sobre a função no cotidiano escolar percebe-se a
fundamental importância do coordenador nas atividades formativas para
que assim seja possível levar mais reflexão sobre a prática pedagógica
e a necessidade da formação continuada para melhor exercer a prática
almejada.

Nesta atividade laboral diária, somos cercados o tempo todo pela busca
incessante de informações pedagógicas pelos professores, prestação de
informações acadêmicas dos alunos aos pais, a participação nos cursos
de formação para melhor compreensão e sistematização das políticas e
programas educacionais, encaminhamentos relativos a problemas de
relacionamento com a classe ou com o professor e o inverso,
organização do Projeto Político

Pedagógico Escolar, reuniões pedagógicas e administrativas,


preparação de material de expediente quando a escola não possui
atendimento de um técnico em multimeios didáticos, entre outras
atividades. Refletindo sobre essa extensa lista de atividades que
compõe a rotina do coordenador pedagógico percebe-se que este é um
elo essencial entre todos os atores envolvidos no processo educativo e
faz a diferença na equipe quando realiza o seu trabalho com
responsabilidade, interesse em melhorar o ensino e as condições de
oferta do mesmo no campo pedagógico, porém para que tais mudanças
atinjam êxito, o diálogo com a equipe de trabalho e com a comunidade
escolar é extremamente importante.

O planejamento diário e a distribuição das tarefas entre coordenadores,


técnicos e professores, o diálogo constante com os pais, responsáveis e
os docentes é algo que facilita o trabalho pedagógico, assim como o
apoio da direção da unidade no direcionamento prévio das ações
tomadas. Na maioria das formações continuadas dadas nos assuntos
educacionais concebe-se a função do coordenador pedagógico como
um formador de professores inserido na escola. Realmente é algo que
deveria ocupar a maior parte do tempo deste profissional e com isso
teríamos excelência em formação pedagógica, porém é uma situação
muito distante da nossa realidade institucional. Como os problemas com
a indisciplina são constantes, esta situação dificulta o trabalho do
coordenador sem respaldo da legislação atual. Pouco se consegue fazer
na questão disciplinar com o aluno que infringe as regras e normas
estabelecidas para se ter um mínimo possível de organização na escola
já que o Regimento Escolar deve ser pautado pela legislação na qual as
brechas para atos infracionais são muitas.

3. Na maioria das vezes precisamos tomar decisões mais enérgicas e para


a manutenção da ordem no ambiente escolar e somos barrados por
normativas, portarias, resoluções e leis em geral com condutas pré-
estabelecidas. Diante desta ditadura de leis o coordenador pedagógico
se vê acuado, com poucas opções seguras e legais para realmente
executar o seu trabalho, já que havendo qualquer brecha legal contra a
atitude tomada pela gestão pedagógica, todos os gestores da unidade
poderão ser penalizados.

A coordenação pedagógica é vista como multiplicadora das atividades


formativas para a equipe docente. Cabe a ela buscar participar das
atividades de formação e organizar os encontros semanais ou
quinzenais para refletir e debater dobre o contexto de cada atividade de
formação com a finalidade de qualificar o ensino dado pela instituição
por meio dos professores. A dificuldade para realizar os encontros se
esbarra nos horários de trabalho dos professores, há casos que o
professor trabalha apenas alguns dias da semana, em apenas um turno,
ou tem aulas em diversas escolas não havendo a possibilidade de reunir
todos em um mesmo encontro. Nesse cenário,
[...] as escolas chegam a ter vários horários diferentes para atender ao
objetivo de reunir seus professores, que dificilmente partilham momentos
realmente coletivos em que prevaleça a reflexão, a formação, a busca
de alternativas para os problemas cotidianos e, até mesmo, o
desenvolvimento de projetos gestados pela própria escola
(FERNANDES, 2013 p. 12)

Segundo Moreira (2003, p. 35), "para os sociólogos das disciplinas


escolares, a história do currículo tem por meta explicar por que certo
conhecimento é ensinado nas escolas em determinado momento e local
e por que ele é conservado, excluído ou alterado".

Os traços de currículo oculto estão presentes no sistema de ensino


público, uma vez que a educação é gratuita e para todos. Esta forma de
oferta dá aos educadores a possibilidade de trabalhar com diferentes
realidades e cada uma delas exige do educador uma retomada
constante de valores necessários ao convívio em sociedade. Não se
trata de imprimir nos discentes regras morais, mas sim de dar a eles
condicionantes para que consigam ter aproveitamento do processo de
ensino e aprendizagem em meio a uma realidade de carência, pobreza e
violência.

A avaliação deve ser o acompanhamento da evolução do aluno durante


o processo da busca do conhecimento, deve servir para educar não para
julgar e classificar, mas para reconhecer no aluno as suas capacidades
de aprendizagem dando-lhe condições para que o mesmo aprenda. São
apresentadas diversas formas avaliativas tendo como parâmetro
essencial e avaliação diagnóstica, formativa e somativa que buscam
avaliar toda a prática educativa. Dessa maneira a utilização dos registros
diários do desenvolvimento individual e coletivo em caderno específico,
as fichas avaliativas e conceitos que substituem as notas, realizam auto-
avaliação constante, envolvem a comunidade e as práticas locais com a
escola e usam as atividades de campo dentro da comunidade como
avaliação, criam ambientes de aprendizagem por meio de projetos, salas
ambientes de aprendizagem para envolver os alunos, consideram a
realidade social dos alunos e criam novas situações de aprendizagem
para contemplar o individualismo do aluno.

Neste processo de avaliação há a possibilidade de recuperação contínua do


aluno com atividades específicas e acompanhamento individual, reunir e
buscar melhorar o sistema avaliativo discutindo com os alunos e os pais e os
alunos o que deu certo e o que poderia ser melhorado e com isto utilizar
mecanismos avaliativos mais concretos com contextos da realidade dos alunos
e não especificamente de uma lista de conteúdos da cultura livresca.
2.3 REALIDADE ESCOLAR E TRABALHO PEDAGÓGICO

Para Fernandes e Freitas (2008, p.18) em seu olhar sobre a escola e o papel
do coordenador:

[...] Se a escola é o lugar da construção da autonomia e da cidadania, a


avaliação dos processos sejam eles das aprendizagens, da dinâmica escolar
ou da própria instituição, não deve ficar sob a responsabilidade apenas de um
ou de outro profissional, é uma responsabilidade tanto da coletividade, como de
cada um, em particular.

Ainda sobre as responsabilidades e habilidades, Gomes (2008, p.30) diz que


"conviver com a diferença é construir relações que se pautem no respeito, na
igualdade social, na igualdade de oportunidades e no exercício de uma prática
e postura democráticas".

Rangel (2008) também conceitua a coordenação, quando diz que


"coordenação implica criar e estimular oportunidade de organização comum e
de integração do trabalho em todas as suas etapas".

Para Placco (2008) "no papel do coordenador pedagógico como formador de


professores ressalta-se a possibilidade de, por meio do trabalho formativo do
coordenador, auxiliar o professor a tomar consciência das dimensões
envolvidas na sua prática".

Refletir com os demais professores e compartilhar erros e acertos, negociar


significados e confrontar pontos de vista surge como algo estimulador para
uma prática pedagógica comprometida. (RAUSCH e SCHLINDWEIN, 2001, p.
121).

Já dizia Saviani (2008, p.7):

A compreensão de que a natureza humana não é dada ao homem, mas é por


ele produzida, leva ao entendimento do trabalho educativo como o ato de
produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade
que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.

Moreira e Candau (2008, p. 2) "defendem que são indispensáveis


conhecimentos escolares que facilitem ao aluno uma compreensão da
realidade em que está inserido, que possibilitem uma ação consciente no
mundo e que promovam a ampliação de seu universo cultural".
Conforme Isambert-Jamati (1990, p. 41), a "escola é ao mesmo tempo o reflexo
da sociedade e o meio de consolidar sua ordem é fácil, porém é bem mais
árduo ir além das correspondências aproximativas e colocar em dia as
mediações".

Torres, Alcântara e Irala (2004 p. 129) salientam que, apesar de suas


diferenças teóricas e práticas, os termos cooperação e colaboração derivam de
dois postulados principais:

rejeição ao autoritarismo e promoção da socialização, não pela aprendizagem,


mas na aprendizagem.

O trabalho colaborativo possibilita, além disso, o resgate de valores como o


compartilhamento e a solidariedade que se foram perdendo ao longo do
caminho trilhado por nossa sociedade, extremamente competitiva e
individualista (DAMIANI, 2008, p. 225).

É no espaço concreto de cada escola, em torno de problemas pedagógicos ou


educativos reais, que se desenvolve a verdadeira formação. Universidades e
especialistas externos são importantes no plano teórico e metodológico. Mas
todo esse conhecimento só terá eficácia se o professor conseguir inseri1-lo em
sua dinâmica pessoal e articulá-lo com seu processo de desenvolvimento
(NÓVOA, 2001, p. 25).

Ao estudar as interações interpessoais percebemos que "simplesmente colocar


indivíduos em grupo e dizer então para trabalharem juntos, não promove, por si
só, o sucesso no alcance dos objetivos" (RAPOSO e MACIEL, 2005, p.315).

Se a escola é constituída por um grupo de estudantes, outro grupo de


professores e outro de funcionários administrativos que trabalham juntos são
necessários que ambos estejam ligados a um objetivo em comum que é a
garantia de ensino e aprendizagem de qualidade e ao mesmo tempo, que
todos tenham satisfação em ensinar e aprender.

Conforme Pimenta (1993 p. 79) a escola deve possibilitar que os alunos


adquiram os conhecimentos da ciência e da tecnologia, desenvolvam as
habilidades para operá-los, revê-los, transformá-los e redirecioná-los em
sociedade e as atitudes sociais - cooperação, solidariedade, ética. Dessa
forma,

[...] os saberes escolares podem ser divididos em saberes de tipo alfabético,


que repousam sobre uma tradição acadêmica; os saberes que privilegiam o
individualismo intelectual; os saberes abstratos, que obedecem a uma lógica de
estruturação independente da experiência subjetiva dos indivíduos; os saberes
que se distanciaram da vida e da experiência cotidiana (YOUNG, 1973).

Na visão do autor Barroso (1996, p. 186), a autonomia construída:

[...] corresponde ao jogo de dependências e de interdependências que os


membros de uma organização estabelecem entre si e com o meio envolvente e
que permitem estruturar a sua ação organizada em função de objetivos
coletivos próprios [...]. Neste sentido, a autonomia da escola resulta, sempre,
da confluência de várias lógicas e interesses (políticos, gestionários,
profissionais e pedagógicos) que é preciso saber articular, através de uma
abordagem que podemos designar de caleidoscópica. A autonomia da escola
não é a autonomia dos professores, ou a autonomia dos pais, ou a autonomia
dos gestores. A autonomia, neste caso, é o resultado do equilíbrio de forças

numa determinada escola, entre diferentes detentores de influência (externa e


interna), das quais se destacam: o governo e os seus representantes, os
professores, os alunos, os pais e outros membros da sociedade local.

4. CONCLUSÃO

Ao refletir sobre as metodologias do trabalho na coordenação antes


desta formação de especialização percebo que planejamento diário é
algo que não difere da sala de aula já o aspecto de lidar e submeter-se a
orientar professores com anos de docência no ensino público, que já
assumiram função de coordenadores muitos destes extremamente
críticos ao sistema e resistentes à política estadual de ensino, faltas
constantes de professores, a violência, o tráfico e uso de entorpecentes,
as diversidades de caráter e conduta, o racismo, o bullyng que acabam
interferindo na rotina educacional dos alunos e instigam o coordenador a
mediar as situações de conflito oriundas dos problemas ora citados.

Conforme Guerreiro (2011, p 01) o coordenador é hoje o elo a unir


projeto pedagógico da escola, conteúdo programático e as pessoas
envolvidas no projeto: professores, gestores, pais e alunos.

Cabe ao coordenador promover a escola como local de encontro e


convívio pacífico com as diversidades de formação e, além disso,
demonstrar que as diversas formações ali existentes devem estar a
serviço da informação do cidadão comum para que este possa
conseguir concretizar seus planejamentos com conhecimento técnico e
científico e ciente de seus direitos e deveres no convívio em sociedade.
É importante para os coordenadores compreender que a construção de
conhecimento junto aos professores não acontece porque o
coordenador ensina o professor como ensinar, e sim porque existe o
intercâmbio entre eles (GUERREIRO, 2011 p. 01)

O coordenador não deve interferir na metodologia do professor quando


este está atingindo êxito em suas aulas. Já se observada a dificuldade
do profissional e comprovada mediante reclamação coletiva ou por alto
índice de indisciplina nas aulas, cabe a intervenção do coordenador
inicialmente em um diálogo onde a capacidade do profissional não seja
posta à prova e sim as dificuldades encontradas para o sucesso da aula
sejam uma fonte de pesquisa para a inserção de novas metodologias de
ensino. Estas novas metodologias não devem ser impostas e sim
sugestões dadas ao professor cabendo a este acatar ou buscar outras
que possam contribuir para alavancar o progresso do ensino e
aprendizagem da classe.

Como cita Guerreiro (2014) não é recomendável padronizar métodos e


técnicas didáticas para serem usados entre coordenadores e
professores, assim como é difícil crer que alunos aprendem e atribuem
significado aos conteúdos da mesma forma.

Sobre a disposição do coordenador cabe mencionar,

[...] O mesmo precisa, também, conhecer os fundamentos e as teorias


do processo de ensinar e aprender, relacionar princípios, teorias e
normas legais a situações reais, identificar os impactos de diretrizes e
medidas educacionais, objetivando a melhoria do padrão de qualidade
do ensino e aprendizagem, comunicar-se com clareza com diferentes
interlocutores e em diferentes situações, socializar informações e
conhecimentos, conduzir democraticamente suas práticas, identificar
criticamente a interferência das estruturas institucionais no cotidiano
escolar, promover o desenvolvimento da autonomia da escola e o
envolvimento da comunidade escolar, buscar e produzir conhecimentos
relativas à formação permanente de pessoal, compreender e valorizar o
trabalho coletivo no exercício profissional, além de ter disponibilidade de
trabalhar em grupo, reconhecendo e respeitando as diferenças pessoais
e as contribuições dos participantes (BEZERRA, 2007 p. 20-21).

Segundo Rosa (2004, p. 142-144) o coordenador pedagógico deve zelar


pela formação continuada dos professores na escola, promovendo a
atualização, reflexão do currículo e das práticas pedagógicas dos
professores frente às mudanças do sistema educacional.
As atribuições do Coordenador Pedagógico ficam bastante expressas a seguir,

[...] o coordenador deve desenvolver para a efetivação da formação docente


em serviço, tais como: deve prestar assistência pedagógica didática aos
professores, coordenar grupos de estudo, supervisionar e dinamizar o projeto
pedagógico, trazer propostas inovadoras para utilização de novos recursos
tecnológicos e midiáticos (LIBÂNEO, 2004, p.229).

Conforme Oliveira (2014 p.08) as interações diárias com o grupo de


professores e a gestão da formação docente exercida pelo coordenador
pedagógico proporciona que este conheça bem seus pares, observando seus
comportamentos, necessidades e limitações.

Todo coordenador deve ter a capacidade de se submeter à crítica por meio de


uma reflexão de seu desenvolvimento, e mediante a equipe docente para
compreender em quais circunstâncias o grupo necessita de mais apoio e até
mesmo de alterações em seu desempenho. Estas ações são importantes para
que o coordenador possa estreitar os relacionamentos profissionais e com isso
conseguir a união dos pares entre eles e consigo mesmo.

Sobre a visão de supervisor concebida no sistema capitalista, não se deve agir


apenas como fiscal da atividade pedagógica, atitudes de superioridade e que
inferiorize a docência não são bem vistas pelo grupo e despertam indignação e
revolta. Afinal o coordenador é antes de tudo um professor que por sua
capacidade de organização e dinâmica de equipe deve ser capaz de liderar os
demais não pela imposição autoritária, mas por relacionar-se com a equipe de
forma ativa e responsável.

A busca por informações sobre as alterações da política educacional pelo


gestor pedagógico deve ser incessante, isto porque as dúvidas apresentadas
pela equipe docente sempre surgem em momentos inoportunos e devemos
estar aptos a esclarecê-las. O professor que exerce a função de coordenação
não pode ser alheio à estrutura e funcionamento de sua instituição que é
submissa à legislação específica.

Outro aspecto importante a ser levado em questão é liberdade que o


coordenador pedagógico deve ter para a realização dos projetos. Se a gestão
dos recursos financeiros que devem ser aplicados em material pedagógico
pudesse ser gerida pela coordenação, as facilidades de realização dos projetos
seriam melhores. Por mais que o Projeto Político Pedagógico contemple estas
ações, ainda somos submetidos à morosidade para a aquisição dos materiais
necessários, pois os recursos se concentram nas mãos do gestor escolar e
este possui inúmeras outras atribuições que consomem o seu tempo deixando
o pedagógico muitas vezes em segundo plano, algo que deveria ser de
extrema importância em uma unidade escolar.

Coordenar o trabalho pedagógico é estar junto aos docente orientando,


colaborando, avaliando as ações, incentivando novas metodologias.

4. REFERÊNCIAS

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