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Análise de fatores determinantes do processo de flexibilização curricular nas escolas

públicas: um estudo a partir da atuação e mediação do docente no projeto político


pedagógico de uma escola para ouvintes e surdos.

Patrícia Borges Costa1

Resumo

Compreende-se que o currículo é um ponto de referência que visa à


transmissão de conhecimentos de uma determinada disciplina, mas ele mostra-se
normatizado e igual em todas as escolas e para todos os professores, pois o
importante é o que se ensina, e não a quem se ensina.
Mediante a tal observação, verifica-se que é atribuído aos docentes o papel
de meros transmissores desses conhecimentos organizados em informações,
levando os discentes a obterem igualmente o mesmo conhecimento, recorrendo à
repetição, que conduz à memorização e à reprodução.
Tais práticas curriculares reproduzem o saber de forma manipuladora com
conhecimentos e saberes baseados na mesmice e tal prática é concretizada em
muitas escolas que não aceitam a flexibilização do currículo como diretriz para
acolher os diversos saberes produzidos pelos sujeitos aprendentes.
Surge então as interrogantes para esta análise: Qual seria o papel principal
do docente na flexibilidade do currículo político pedagógico atual? Quais os
verdadeiros impactos de um currículo flexível dentro da sala de aula? Como o
docente pode atuar como mediador do processo de flexibilização do currículo a partir
do Projeto Político Pedagógico (PPP) escolar? Como trabalhar a inclusão escolar
diante da flexibilização do currículo?
Para que se possa ter um conhecimento concreto sobre a importância do
docente neste processo de flexibilização curricular, para levantar a situação atual
deste envolvimento do docente, demostrando impactos e mudanças em sala aula,
torna-se necessário responder a seguinte questão: Quais são os fatores que
determinam a atuação e mediação no processo de flexibilização curricular a partir do
Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola onde juntos em sala de aula temos
ouvintes e surdos?

Palavras-chave: Flexibilização, Currículo escolar, Inclusão, Projeto Político


Pedagógico, surdo, ouvintes.

1
Graduanda em Letras pela Universidade Federal de Rondônia- nadiapatricia1@seduc,ro,govb.br
2

Abstract
It is understood that the curriculum is a point of reference aimed at transmitting
knowledge of a given subject, but it appears to be standardized and equal in all
schools and for all teachers, as what is important is what is taught, and not to those
who are taught.
Through such observation, it appears that teachers are assigned the role of
mere transmitters of this knowledge organized into information, leading students to
also obtain the same knowledge, resorting to repetition, which leads to memorization
and reproduction.
Such curricular practices reproduce knowledge in a manipulative way with
knowledge based on sameness and this practice is implemented in many schools
that do not accept the flexibility of the curriculum as a guideline to accommodate the
diverse knowledge produced by learning subjects.
The questions for this investigation then arise: What would be the main role of
the teacher in the flexibility of the current political pedagogical curriculum? What are
the true impacts of a flexible curriculum within the classroom? How can teachers act
as mediators in the process of making the curriculum more flexible through the
school Pedagogical Political Project (PPP)? How to work on school inclusion in the
face of curriculum flexibility?
In order to have concrete knowledge about the importance of teachers in this
process of curricular flexibility, to survey the current situation of teacher involvement,
demonstrating impacts and changes in the classroom, it is necessary to answer the
following question: What are the factors that determine the action and mediation in
the process of curricular flexibility based on the Pedagogical Political Project (PPP) of
the school where together in the classroom we have hearing and deaf people?

Keywords: Flexibility, School Curriculum, Inclusion, Pedagogical Political Project,


deaf, hearing.
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Introdução

Na atualidade, a presença de discentes com necessidades educacionais


especiais, provinda de deficiência, como no caso auditiva, vem crescendo de forma
globalizada e enfática, tornando-se tão comum quanto a presença de discentes sem
nenhum grau de deficiência. E o convívio desses no ambiente escolar, tem gerado
preocupações, estudos, debates e ações.
Fundamentada e embasada na Declaração Mundial sobre Educação para
Todos e aprovada na Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em
Jomtien, Tailândia, em março de 1990, especificamente o que preconiza os itens: 1,
2 e 5 do Artigo 3º – Universalizar o acesso à Educação e promover a equidade,
abaixo transcritos:
1. [...] é necessário universalizá-la e melhorar sua
qualidade, bem como tomar medidas efetivas para reduzir
as desigualdades.
2. Para que a educação básica se torne equitativa, é
mister oferecer a todas as crianças, jovens e adultos, a
oportunidade de alcançar e manter um padrão mínimo de
qualidade da aprendizagem [...]
5. As necessidades básicas de aprendizagem das
pessoas portadoras de deficiências requerem atenção
especial [...]

Analisar o processo de flexibilização do currículo, partindo da atuação e mediação do


docente e da proposta do Projeto Político Pedagógico da Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Anísio Teixeira, no Município de Ariquemes, estado de Rondônia,
visando compreender a atuação e a mediação do docente na adequação curricular no que
tange a verdadeira inclusão, uma vez que os discentes surdos e ouvintes acabam por
pertencer a mundos diferentes, a realidade educacional bastante distinta.
Dessa forma investigar as considerações da atuação e da mediação do docente
sobre o currículo e a importância da sua flexibilização, considerando a importância do
Projeto Político Pedagógico (PPP) para o fomento da aprendizagem em um ensino de
qualidade, indagando a necessidade de flexibilização do currículo como promoção da
aprendizagem e averiguar sobre a contribuição do docente neste processo.
O currículo é o enfoque principal da educação. Seu caráter é socializador, onde
repercutem os interesses sociais e políticos. Relacionar as mudanças ao universo escolar é
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sustentar a funcionalidade da escola. Ao contextualizá-lo deve se ter claro que esse


instrumento é cultural e social, onde se alicerça a vida social, visto que a formação real deve
ser sustentada por todos os envolvidos com o fazer educação.
O currículo é visto como um plano de estudo que se apresenta com objetivos,
conteúdo e atividades correspondentes às disciplinas ministradas em sala de aula. Por
muitos anos, ele foi visto subordinado a práticas de ensino tradicionais que pouco
contribuem para a produção do conhecimento.
Baseando-se neste fato, passa-se a entender que o currículo escolar não pode
permanecer na mesmice e adotar uma postura divulgadora do saber. Pensando assim, cabe
a escola, aos funcionários responsáveis pelo processo pedagógico e ao corpo docente
torná-lo flexível de forma a contribuir para uma aprendizagem que valorize a
multiculturalidade dos docentes, independente se ouvinte ou surdo.
Daí então se entende que o currículo é algo que pode ser renovado, logo cabe ao
docente atuar e mediar no contexto do seu Projeto Político Pedagógico buscar e propor
subsídios no sentido de trazer um currículo flexível que contribua para o processo de
aprendizagem enfatizando e valorizando os conhecimentos prévios que o discente leva
consigo para a escola.
Como afirma o autor:

O centro de atenção máxima da escola deve ser o aluno. A escola existe


em função dele, e, portanto, para ele. A sua organização, em qualquer dos
seus aspectos, deve ter em vista a consideração do fim precípuo a que a
escola se destina: a criação de condições e de situações favoráveis ao
bem-estar emocional do educando, e o seu desenvolvimento em todos os
sentidos: cognitivo, psicomotor e afetivo, a fim de que o mesmo adquira
habilidades, conhecimentos e atitudes que lhe permitam fazer face às
necessidades vitais e existências (Lück, 2008).

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA

A teoria Histórico-critica surgiu no final da década de 70, a partir de anos de


análises críticas sobre as demais pedagogias adotadas no sistema educacional
brasileiro e da realidade brasileira, tendo Dermeval Saviani, seu principal articulador.
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A pedagogia histórico-crítica surge então para propor uma educação com


objetivo de superar a visão crítico reprodutivista, se opondo a essas teorias
desvinculadas das relações sociais concretas, de caráter elitista, fora dos
compromissos reais e das condições sociais humanas e contrária ao espírito crítico.

(...) é bom lembrar que na Pedagogia Histórico-Crítica a questão


educacional é sempre referida ao problema do desenvolvimento social e
das classes. A vinculação entre interesses populares e educação é
explícita. Os defensores da proposta desejam a transformação da
sociedade. (SAVIANI, 2005, p. 83).

O problema norteador é uma reflexão que procura elucidar a questão sobre:


como pensar um currículo para os discentes ouvintes e discentes surdos inseridos
no mesmo ambiente de aprendizagem, na formação de docentes para atuar nas
salas inclusivas da educação básica a partir da teoria crítica e pós – crítica.
A análise da questão proposta se apoia nos argumentos teóricos da teoria
curricular crítica, com base nos estudos de Silva (2007) que fala da valorização
educação no contexto das transformações políticas, sociais e culturais, Freire (2003-
2005) que demonstra a teoria crítica curricular, SAVIANI, que fala das teorias críticas
CAMPOS (2008) que mostra como a educação inclusiva de surdos vem
acontecendo no país, CARVALLHO (2009) que aborda a relação entre fator social e
exclusão, LACERDA (2007) que mostra a importância do contato social entre o
surdo e a sociedade, BUENO (1993) que baseia toda a parte histórica dos surdos,
entre outros. LEITE (2012) que demonstra as consequências emocionais e
intelectuais dos alunos surdos quando inseridos em uma escola não inclusiva e
outros.
Para a concretização dessa análise, foram feitas pesquisas bibliográficas,
documental e empírica. Na pesquisa bibliográfica que, segundo Severino (2007, p.
122), “[...]é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de
pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, teses etc. A pesquisa
documental baseou-se em Leis como: A Constituição Federal 1988; Declaração de
Salamanca; Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) Lei nº 9.394/1996; Lei nº
10.436 de 24 de Abril de 2002; Decreto 5.296/04; Decreto nº 5.626 de 22 de
Dezembro de 2005 e o PPP (Projeto Político Pedagógico escolar 2023) que articula
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todas as ações, projetos e programas que devem acontecer na escola, assim como
sua aplicabilidade e eficácia
A análise tem como fundamento contribuir para a evolução do crescimento
humano, de acordo com Mont Alverne (2012, p. 5)

“ Busca oferecer explicações acerca de um fenómeno, mas não é um


dogma, logo é discutível.

Entende-se que uma escola dita para todos não pode orientar-se pelo
paradigma da uniformidade da organização curricular, obedecendo a seus objetivos,
conteúdos, materiais e experiências de ensino e de aprendizagem, pois vale lembrar
que a sua autonomia para o exercício de projetos, a postura do corpo docente são
condições facilitadoras para a positividade da educação com uma clientela
multicultural.

Uma escola que se deseja para todos (e não apenas para alguns) tem de
questionar a sua organização e a formação que oferece e tem de se
esforçar por compreender o que está subjacente às opções curriculares e
aos efeitos por elas gerados, o que exige uma análise do que se ensina, de
como se ensina e de quem é que se deseja ensinar (Leite, 2012, p.37).

O currículo flexível traz consigo um potencial inovador que contribui para


construir e adequar novas maneiras de se ensinar cabendo ao docente adaptar seus
conteúdos perante a diversidade dos discentes em que a ideia de currículo flexível
visa finalidades mais valorizadas para que o promova, pois se observa o caráter
inovador face à diversidade dos alunos e a essa flexibilidade cabe, no caso
específico da escola, a inserção de Libras para todos os discentes e por ser um
projeto piloto, aos poucos as outras instituições poderiam realizar tais adaptações.
Os docentes exercem, sem dúvida, um relativo poder no desenvolvimento
desse currículo pré-determinado. No entanto profundamente limitado ao como fazer
o que já foi determinado, em um papel de interlocutores de propostas “que não sei
quem formulou que já vem tudo montado.
O currículo passa a ser entendido não apenas como meio de fazer coisas,
mas também fazendo coisas às pessoas” (Silva, 2013, p. 194).
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O currículo não é o veículo de algo a ser transmitido e passivamente


absorvido, mas o terreno em que ativamente se criará e produzirá cultura. O
currículo é, assim, um terreno de produção e política cultural, no qual os
materiais existentes funcionam como matéria prima de criação, recriação e,
sobretudo, de contestação e transgressão (Silva, 2013, p. 90).

Assim, percebe-se que o currículo é uma construção que pode ser renovada,
logo cabe ao docente atuar e mediar no contexto do seu Projeto Político Pedagógico
buscando e propondo subsídios no sentido de trazer um currículo flexível, inovador e
aplicável que contribua para o processo de aprendizagem enfatizando e valorizando
os conhecimentos prévios que o aluno leva consigo para a escola e todas as suas
necessidades.

Como afirma o autor:

O centro de atenção máxima da escola deve ser o aluno. A escola existe


função dele, e, portanto, para ele. A sua organização, em qualquer dos seus
aspectos, deve ter em vista a consideração do fim precípuo a que a escola
se destina: a criação de condições e de situações favoráveis ao bem-estar
emocional do educando, e o seu desenvolvimento em todos os sentidos:
cognitivo, psicomotor e afetivo, a fim de que o mesmo adquira habilidades,
conhecimentos e atitudes que lhe permitam fazer face às necessidades
vitais e existências (Lück, 2008).

Sistemas educacionais e políticas públicas têm buscado e proposto melhoria


do ensino público visando uma educação de qualidade e a real inclusão, porém a
passos muito lentos e nosso discente fica até então alheio e/ou a deriva do próprio
aprendizado.
É uma oportunidade em que as políticas educacionais tratam não somente
das questões pedagógicas que denotam as metodologias da aprendizagem,
entretanto; principalmente, da democratização e descentralização do gerenciamento
nas instituições educativas, o que resulta na flexibilização de currículo.
Sabe-se que hoje, o número de discentes surdos tem crescido
substancialmente e que as escolas estão buscando as adequações enquanto
currículo, fator esse que viabiliza a inclusão da disciplina de Libras.
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Ao analisar atual conjuntura que envolve a situação dos deficientes,


principalmente numa abordagem especifica dos surdos, onde é necessário que se
faça uma retrospectiva das diferentes formas de tratamento que é dado a eles e aos
ouvintes inseridos no mesmo ambiente, para que se possa perceber os reflexos que
ocasionaram nas atuais bases educacionais.

Baseando-se em diversas leituras que relatam a história da educação dos


Surdos, no Brasil e no mundo, analisa-se que há quatro fases de fundamental
importância e que são determinantes para a compreensão do histórico da
concepção de deficiência, a saber:

Na era pré-cristã, tendia-se a negligenciar e a maltratar [...]. Num segundo


estágio, com a difusão do cristianismo, passou-se a protegê-los e
compadecer-se deles. Num terceiro período, nos séculos X VIII e XIX, foram
fundadas instituições para oferecer-lhes uma educação à parte. Finalmente,
na última parte do século XX, observa-se um movimento que tende a
aceitar as pessoas deficientes e a integrá-las, tanto quanto possível
(BUENO, 1993, p.55-56).

2 O MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO

Entende-se por método, as diferentes maneiras de proporcionar um


saber e o modo como se realiza o processo de aprendizagem, pode-se definir
método pedagógico como uma ferramenta especifica de organização das atividades
sem perder de vista os objetivos do programa de formação, considerando
principalmente as características individuais dos docentes e os meios disponíveis
para promover a aprendizagem.

Trata-se então de uma ação planejada, com movimentos baseados


em um quadro, partindo do princípio que não haverá transformação senão
considerar os saberes, os questionamentos, as expectativas dos alunos, criando
assim, um ambiente onde alunos e professores trocam informações e juntos
constroem novos conhecimentos.
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Por isso, a metodologia tem como parâmetros as seguintes etapas:


Prática Social Inicial, Problematização, Instrumentalização, Catarse2 e Prática Social
Final.

Na prática social os alunos são estimulados a, de forma prática,


expressarem seus conhecimentos sobre o objeto apresentado, nesse
momento os alunos surdos juntamente com seus intérpretes estão em contato
direto em sala de aula.

Na problematização perfaz o momento da criação, de interesse, da


necessidade, por parte dos discentes sobre o que fora proposto.

No momento da Catarse o discente deverá demonstrar a capacidade


de produzir qualquer tipo de expressão acerca do material explicitado pelos
docentes, tanto os ouvintes como os surdos. Essa etapa é importantíssima
para a curricularização, uma vez que determinará a verdade sobre a proposta
enunciada e por fim, tem-se a prática social, que é a confirmação do processo
pedagógico na perspectiva histórico-critica.

Analisar as perspectivas potenciais e multiculturais que ocorrem ao


inserir diferentes discentes surdos no contexto do desenvolvimento de uma
escola é o que justifica a flexibilização e adaptação curricular no contexto
cultural caracterizado pelo processo evolutivo, crescente ou não, dos
discentes que participam do dia a dia escolar e por fim registrando a
implementação das ações que visam a inclusão e sua inserção na sociedade
pluricultural.

Considerações Finais

Nossa sociedade é formada por uma incrível diversidade cultural, que são
interligadas com valores, costumes e diferenças, contribuindo, assim, para a

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Catarse é a síntese do cotidiano e do cientifico, do teórico e do pratico a que o educando chegou,
marcando sua nova posição em relação ao conteúdo é à forma de sua construção social e sua
reconstrução na escola. Significa a conclusão, o resumo que ele faz do conteúdo aprendido
recentemente.
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formação de sujeitos críticos, aptos a conviver com diferenças étnicas, políticas e


culturais.
Este novo contexto social desafia docentes em relação à produção e
execução de projetos curriculares conscientes e plurais de identidades culturais
existentes, desconstruindo o currículo hegemônico, linear e heterogêneo.
Desta forma, objetiva-se criar um currículo libertador e inclusivo, que respeite
as diferenças e que dê voz aos excluídos.
O multiculturalismo no âmbito educacional vem para reconhecer as diferentes
identidades presentes nos sujeitos envolvidos, procurando incluir os excluídos no
contexto escolar e ao mesmo tempo incluir ao grupo discentes que não apresentam
nenhuma necessidade especial, mas, que também devem e almejam fazer parte e
conhecer de forma articulada a realidade daquele que por alguma razão, genética ou
não, precisa de cuidados dos especialistas.
Nesta perspectiva multicultural, conforme a Lei nº 10.639/03 não pode por si
romper com as desigualdades sociais, mas contribuir para que possamos refletir
sobre as injustiças e exclusões presentes em todos os campos sociais, dentre os
quais destacamos a escola.
Desta forma é imprescindível e recomendável a inclusão da disciplina de
Libras na grade curricular da escola, em estudo, pois de acordo com as pesquisas
realizadas e resultado de conversas (roda de conversa com docentes e discentes),
compreende-se que o caminho para uma efetiva inclusão começa em não separa
mundos e realidades, todos seriam um só, uma vez que com a disciplina, poderiam
comunicar-se, interagir uns com os outros, tornando assim uma única realidade.
É trabalho dos docentes, gestores e coordenadores, como educadores que
são, sobretudo na escola, desmistificar os conteúdos engessados, cristalizados no
currículo escolar, as relações hegemônicas que se manifestam nas linhas divisórias
que separam os diferentes grupos em termos de classe, etnia, gênero e
especificidades.
A própria Lei de Diretrizes e Base (LDB), artigo 26, sugere sobre a
flexibilização dos currículos, na medida em que se admite a incorporação de
disciplinas que podem ser escolhidas levando em conta o contexto e a clientela.
Assim, é validada a proposta da adição curricular em Libras, uma vez que na
escola há um número expressivo de discentes surdos e para o próximo ano serão
matriculados ainda mais, aumentando consideravelmente o quantitativo e ficou
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constatado que os docentes ainda não estão preparados para atuar de forma
globalizadora quando se refere a tal especialidade, fator esse que corrobora ainda
mais para a efetivação da proposta.
Portanto, diante do histórico da Língua de Sinais Brasileira (LIBRAS) e
demais deficiências, pessoas com deficiência são amparadas por lei, tanto pela
Constituição de 1988 quanto pela LDB de 1996, assim fica vetado qualquer forma de
exclusão, apenas por ser diferente.
Fica assim, até contraditória, quando se percebe a inclusão no âmbito
escolar, pois os discentes com deficiência auditiva não são diferentes como a tal
“inclusão” de hoje os rotula e o direito ao saber não pode ser diferente e sim
flexibilizado e encarado como um todo, ou seja, introduzir Libras no currículo
permitirá aos surdos e ouvintes pertencerem ao mesmo mundo.
Perfaz assim na construção da análise o construcionismo, que demonstra
através das diversas abordagens, o real significado das narrativas, criticando e indo
além, demonstrando que a realidade não é construída por uma única verdade e sim
das abordagens sociais e linguísticas, concentrando na diversidade de perspectivas
e na compreensão de como as narrativas e discursos influenciam a nossa
compreensão do mundo. enfatiza a ideia de que o conhecimento e a realidade são
construções sociais e culturais, e que essas construções são permeadas por
relações de poder, linguagem e contexto.
O construcionismo é uma abordagem educacional desenvolvida por Seymour
Papert (1985) que enfatiza a aprendizagem ativa e a construção de conhecimento
por meio da experiência prática e da construção de arquitetos. Essa abordagem
pode ser particularmente eficaz na promoção da inclusão, pois coloca ênfase na
individualização da aprendizagem e no envolvimento ativo dos alunos.
Papert (1985, p 163) ilustra essa sua forma de pensar, da seguinte maneira:

[...] ao invés de sufocar a criatividade da criança, a solução é criar um


ambiente intelectual menos dominado pelo critério de falso e verdadeiro
como acontece na escola. [...] Elas aprendem matemática e ciência um
ambiente onde falso e verdadeiro, certo ou errado não são os critérios
decisivos [...]

Contudo pretende-se a reestruturação curricular adequando todo o ambiente


escolar para que seja, de fato um local de aprendizagem para todos, surdos ou não,
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e então teríamos a tão almejada inclusão, tendo como uma das possíveis vertentes
a adequação curricular na parte diversificada, ganhando a disciplina de Libras,
Uma vez presente no dia a dia da sala de aula projetada de forma inovadora e
realmente inclusiva, o surdo seria finalmente “entendido” em toda sua essência, pois
a realidade é construída socialmente e as interpretações mudam dependendo do
contexto e das experiências assim como o ouvinte teria condições para entender e
fazer parte de um mundo até então desconhecido.
Segundo Jacques Derrida (1967), a ideia de que o significado e a realidade
são construídos por meio da linguagem e que as palavras e conceitos têm múltiplos
significados, teoria essa que traduz o desconstruir dessa construção, ou seja, é
necessário conhecer o mundo para entendê-lo, uma vez que pensamentos pós-
críticos anseiam pela busca do desconstruir as narrativas hegemônicas e os
discursos dominantes para revelar as construções sociais por trás deles.
Então, como a inclusão é um processo contínuo, é relevante o compromisso
com tal discente, docente e a própria comunidade escolar e a equidade na
educação.
Quando se constrói e/ou reestrutura o currículo de forma construcionista,
perfaz -se através de uma abordagem inovadora e assertiva, pois busca promover a
inclusão através das diversas demonstrações, quer seja na tecnologia, ações ou
envolvimento social, desde que atendam as especificidades dos alunos, atores do
processo, pois na teoria e na prática é a ele e para ele que todo o processo se
restringe.
De fato, a flexibilização permite avanço no ensino e ameniza os desafios que
a educação tem que enfrentar para reverter à baixa qualidade oferecida nas escolas
públicas e suas consequências.
Ela também pode transformar a realidade no interior das escolas, mais
especificamente a exemplificada, dando ao professor novos significados e sentido
para o ensino, mediando novas diretrizes para uma nova atuação no processo
curricular contribuindo com Projeto Político Pedagógico da escola na forma de
aprender e ensinar para que se possam formar cidadãos capazes de intervir na
realidade em que está inserido.
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Referências

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