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Parte 1

História, Cultura e
Linguística da Libras e
dos Surdos
tema1
Aspectos Históri-
cos, Conceituais e
Sociais
Atualmente, a língua de sinais vem se tornando cada
vez mais popular, mas será que sabemos realmente
tudo sobre os surdos e qual a verdadeira importância
da Libras (Língua Brasileira de Sinais)?

Nesse tema vamos perpassar pelas árduas histórias e


lutas dos surdos no mundo, apresentando os avanços
históricos de sua comunidade, bem como suas con-
quistas a liberdade e autonomia a partir da legaliza-
ção da Língua Brasileira de Sinais.

Segundo o censo do IBGE 2010, 6,2% dos brasileiros


tem algum tipo de necessidade especial e dentre es-
ses, quase 10 milhões desta população possuem al-
gum tipo de surdez, sendo 10% crianças e jovens até
19 anos, o que inegavelmente, mostra uma necessi-
dade de todos nós em melhorar a comunicação entre
pessoas com surdez e ouvintes. Assim, os conheci-
mentos desse tema nos convidam também, a fazer um
passeio a partir dos aspectos culturais para compre-
ender toda a base interpessoal de sua comunidade.

História, cultura e implicações sociais nos impugnam


a questionar: o que é a surdez? Como ocorre? Como
evitar? Diagnósticos, enfim os conhecimentos bioló-
gicos nos dão base para entender e fundamentar até
chegar aos estudos linguísticos com finalidade de ini-
ciar uma proposta inovadora, sempre com o objetivo
de consolidar a comunicação e a efetiva integração na
vida em sociedade.
1.1
NOMENCLATURAS E CONCEITOS

Língua de Sinais Brasileira

A Libras, popularmente conhecida no Brasil, é também conhe-


cida como LSB (Língua de Sinais Brasileira), sigla que segue padrões
internacionais de denominação das Línguas de Sinais, assim como, a
American Sign Language (LSA), ou seja, Língua de Sinais Americana,
bem como a Língua de Sinais Francesa (LSF), Língua de Sinais Mexi-
cana (LSM) e assim por diante.

Como Libras é a sigla mais conhecida por todos e sempre uti-


lizamos seu sinal, não necessariamente precisamos inserir o sinal de
“Brasil” conforme imagem acima. Basta o sinal de “língua de sinais”
que o contexto já se enquadra como sendo a brasileira. Caso haja uma
conferência internacional, onde discorrerá diversas línguas de sinais,
assim então, será necessária a realização do sinal por completo com a
inserção do sinal de “Brasil”.

Libras é uma língua de modalidade quiroarticulatória ou visu-


al-espacial que se utiliza da visão para receber as informações e das
mãos e do corpo para emitir as informações via espaço a frente do cor-
po. É a língua da comunidade surda e não uma opção de comunicação.
Já a modalidade oroarticulatória-auditiva ou oral auditiva, se dá através
da oralização (boca) para passar elementos e ouvido para receber.
14 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Língua oral-auditiva

Língua visual-espacial

Língua de Sinais é o verdadeiro equipamento da vida mental do


Surdo; ele pensa e se comunica apenas por este meio (CAPOVILLA,
2006, p. 1479).

Esta língua é considerada a língua materna, nativa dos surdos,


conhecida também em seu meio cultural como L1 (primeira língua) e
usada pela maioria deles no Brasil.

Por que Libras é uma língua e não uma linguagem?


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Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Toda língua é um conjunto de palavras e ex-


pressões com regras gramaticais utilizadas por
uma nação, conhecidas também como idioma.
Ela pode ser verbal ou sinalizada, porém, a lín-
gua deve ser sancionada por lei e haver es-
tudos relacionados a sua ampliação e
melhoria que permitem a comunicação
comum entre os indivíduos de sua na-
tureza e de um fato social, ou seja, um
sistema coletivo.

Portanto, o correto é “Língua de Sinais” porque se trata de uma


língua viva, e, logo, a quantidade de sinais está em aberto, podendo
ser acrescentados novos sinais.

O sinal de “amigo” representado ao


lado, é um sinal de uma língua e não
de linguagem.

Linguagem
São formas de comunicação sem re-
gras ou gramáticas próprias. Tudo é válido
para que a informação seja passada para
se expressar, sejam ideias, sentimentos ou
modos de comportamento. Este sistema
serve como meio de interação entre indiví-
duos em grupos ou meio familiares. A lin-
guagem própria de uma pessoa ou familiar não é uma língua, pois,
permite várias interpretações e se restringe a um pequeno grupo
que se comunica de forma visual, auditiva ou tátil.
16 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Há surdos que criam sua própria linguagem para conseguir


comunicar-se em casa por falta de conhecimento da Libras por seus
familiares, esta comunicação é restrita a sua família e não é compre-
endida por pessoas de fora.

Este sinal na figura ao lado tem o sig-


nificado de “trabalhar” em um grupo
familiar em que não há uma língua
padronizada. Como eles trabalham
com computadores, criaram este si-
nal para dizer que vai trabalhar, por-
tanto, somente este grupo entende o
seu significado, assim, este sinal não é língua e sim linguagem.

Já nesta figura, sinal de


“trabalhar” em Libras, deixou de
ser linguagem por se tratar de um
significado concreto e conhecido
pela comunidade surda.

‘Falar com as mãos’ não é apenas agitar as mãos no ar, fazer


algumas caretas e inflexões, ela é muito mais que uma simples lingua-
gem, ela traz qualquer informação desejada.

Há muito mais a aprender sobre Libras do que apenas memo-


rizar o alfabeto e os sinais. Libras tem sua própria gramática, cultura,
história, terminologias e outras características que a torna única. As-
sim como uma língua oralizada, será preciso prática, tempo e esforço
para se tornar um signatário qualificado.

Quando um profissional, ao concluir a graduação, partir para um


atendimento, uma consulta ou o ensino, surgem, de imediato, barrei-
ras comunicativas que comprometem a assistência a ser prestada, in-
viabilizando a abordagem inicial no tratamento adequado.
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Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Os problemas de comunicação visual estão presentes em todos


os sistemas de atendimento ao público e, até hoje, nos perguntamos:
como se estabelece a relação entre surdo e profissional?

A comunicação é uma necessidade diária de todos nós e esta


interação firmada com propósitos bem claros vai além da “oferta” e
busca por compreensão, traz qualificação profissional e garantia de
satisfação.

O contato inicial entre profissional e cliente surdo ou profissional


surdo e cliente ouvinte geralmente se faz através de mecanismos ver-
bais ou escritos, habitualmente não utilizados pelos surdos em sua vida
social. Aí vem a grande importância da Libras em relação profissional/
cliente que envolve um surdo. Inegavelmente, há uma necessidade de
todos nós em melhorar a comunicação e interação entre surdo/ouvinte.
O que faltava já foi deferido em 2002 que é a legalização e reconheci-
mento da Libras como língua oficial no Brasil e inserção dessa língua
em algum grau educacional, o que aconteceu nos ensinos superiores.
Agora nos falta oferecer e valorizar a prática das ações interativas.

Imaginar que Libras tem a mesma estrutura que as línguas orais


é um grande erro. Podemos diferenciar inicialmente que uma se ‘fala
com as mãos’ e a outra ‘com a ‘boca’. Outro disparate (erro) ao ver uma
pessoa sinalizando, é indagar que para cada palavra feita em uma fra-
se em Português será destinada um sinal.

Surdo-Mudo, Mudo, Audição Impedida, Dificuldade de


Ouvir, Deficiência Auditiva (DA) ou surdo?
Todas as investigações atuais têm chamado a atenção para a
adequação do emprego do termo correto. Algumas nomenclaturas
são conhecidas e outras, são consideradas pejorativas, insultantes ou
politicamente incorretas.
18 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Os próprios surdos têm lutado incansavelmente ao longo dos


anos para mudar a terminologia usada para descrever indivíduos com
diferentes níveis de audição.

Surdo-Mudo

Possivelmente você ainda fala ou ouviu muito falar em “surdo e


mudo”. Sabemos que “mudo” se refere a uma incapacidade de falar, mas
o outro significado da palavra faz-se ver as pessoas surdas como men-
talmente diminuída de alguma forma. Surdo-Mudo é a mais antiga e in-
correta designação atribuída às pessoas que não ouvem. O fato de uma
pessoa ser surda não significa que ela seja muda. Muitos surdos fazem a
leitura labial e falam normalmente, afinal, aprendemos que os surdos têm
a capacidade de emitir som, então, “mudo” não é apropriado.

Audição Impedida
Ainda não é o termo correto. Esse rótulo novamente enfatiza
o que uma pessoa surda não pode fazer, ao invés das coisas infinitas
que eles podem fazer.
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Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Deficiente Auditivo (DA)

A maioria das pessoas surdas não se vê como deficientes. Elas


podem fazer tudo, exceto ouvir.

Até o fim dos anos 90, a nomenclatura “deficiente auditivo”


ou “DA” era muito utilizado e referenciado por todos no Brasil. O uso
da expressão DA já foi muito criticado refletindo uma visão precon-
ceituosa. É visto como portador de uma enfermidade localizada que
precisa ser tratada, para que seus efeitos sejam sobrepujados. Já os
profissionais ligados às áreas médicas científicas têm ainda utilizado
largamente este termo Deficiente Auditivo (DA), até porque o CID-10
H90 (Classificação Internacional de Doenças) descreve como tal.

Surdo
Está aí a terminologia mais adequada.

A Federação Nacional de Educação e In-


tegração dos Surdos (FENEIS) apoia este
termo, e é usado pela maioria das orga-
nizações envolvidas com a comunidade
20 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

surda. Essa terminologia permite que os indivíduos se descrevam


com base em seu status auditivo e orientação cultural.

É muito importante considerar que o surdo difere do ouvinte,


não somente pela ausência da audição, mas também, pela elevada
percepção vibratória.

Geralmente, pessoas com surdez leve a moderada referem-se a


si mesmas como tendo uma deficiência auditiva. Já as que têm sur-
dez severa profunda preferem ser consideradas surdas, mas não há
nada especificamente detalhando quem é surdo ou quem é defi-
ciente, esses termos não se relacionam à inteligência ou ao potencial.

Intérprete: definição, deveres, descrição de trabalho


e requisitos.

Intérprete de Libras é uma profissão que foi regulamentada so-


mente em 2010 pela lei 12.319. Esse profissional tem como competên-
cia converter a língua oral em língua de sinais ou de língua de sinais
para língua oral, o que envolve surdos e ouvintes a compreenderem o
que está a ser comunicado, seja em grupo ou individualmente.
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Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Para ser um Tradutor ou Intérprete de Libras, são exigidas habi-


lidades agudas de conhecimentos que abrangem histórias e culturas
das duas línguas e seus usuários.

O seu papel é exclusivamente assegurar a acessibilidade à co-


municação e interação entre surdo/ouvinte.

O campo de atuação de um Intérprete de Libras é amplo, afinal,


pode trabalhar em escolas, hospitais, associações, canais de TV e até
mesmo em repartições governamentais.

No Brasil ainda não há uma graduação de formação que institui


especificamente “Intérpretes”, assim, caracteriza que este profissional
não necessita ter um ensino superior.

A certificação máxima, única e reconhecida em nível nacional


é o “Prolibras” (Proficiência no Uso e Ensino da Libras e Proficiência
em Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa), realizada
por meio de exames práticos de âmbito nacional. As certificações são:

DD Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa até


o ensino médio;

DD Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa no


ensino superior;

DD Uso e Ensino da Libras até o ensino médio;

DD Uso e Ensino da Libras no ensino superior.

Agências reguladoras de Língua de Sinais Francesa preveem


que a procura de Intérpretes seja elevada, uma vez que as oportu-
nidades de emprego no mundo crescerão a uma taxa de 29% entre
2014 e 2024.
22 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Interpretação e suas modalidades

A interpretação é a ação que converte um pensamento ou uma


expressão de uma língua origem em uma expressão com um signifi-
cado comparável em uma língua-alvo, ou seja, estabelece a transição
comunicativa de um idioma para outro.

Na interpretação não há tempo para pesquisa, o profissional que faz


a mudança de idiomas deverá estar seguro e fluente nas duas línguas. Para
discursos, aulas de qualquer nível e palestras escritas, às vezes a pré-leitu-
ra de textos é usada independentemente do tipo de interpretação.

Interpretação Simultânea

A interpretação simultânea é mais comum, mas, exige expe-


riência e contato direto com surdos, pois, a transição acontece em
tempo real a fala da língua fonte. Uma das principais habilidades do
intérprete simultâneo é a determinação: simplesmente não há tempo
para pesar os méritos de traduções variantes, ou para lembrar apenas
o idioma da língua-alvo. Qualquer atraso ou atrapalhada nas informa-
ções poderá comprometer todo o trabalho. Este tipo de interpretação
exige que o profissional faça o melhor que puder dentro do tempo per-
mitido e pelo ritmo da fala da fonte dentro do seu lag-time (intervalo
entre a recepção da língua e o processamento cerebral). Esse processo
leva em torno de 4 segundos ou mais, dependendo do profissional.
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Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Interpretação Intermitente

Na interpretação intermitente o processo de interpretação


é feito sentença por sentença, ou seja, o orador é obrigado a pausar
trecho a trecho, enquanto o Intérprete processa a informação e faz a
interpretação nestes intervalos. Logo após, o enunciador entra nova-
mente com sua oração e assim sucessivamente. Sempre um esperan-
do ao outro, frase a frase até completar a informação. Para essa opção,
a previsão de tempo gasto, possivelmente será o dobrado.

Interpretação Consecutiva

Na interpretação consecutiva, o Intérprete baseia-se principal-


mente na memória. É a forma interpretativa utilizada em textos ou
informações sucintas (breves), ou seja, a passagem para a língua alvo
acontece somente após a conclusão do enunciador da língua fonte,
sem a necessidade de ser uma comunicação completa ou detalhada.
24 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Tradução
A tradução é um pro-
cesso de alterar palavras, tex-
tos, músicas ou falas de uma
língua para outra.

A escrita original (língua


fonte) que será modificada à língua alvo poderá ser de qualquer mo-
dalidade comunicativa, seja oral ou em sinais. O tradutor que irá fazer
a ponte entre as duas línguas terá um tempo considerável para fina-
lizar a tradução, assim sendo, o profissional poderá pesquisar livros,
dicionários, internet e até mesmo outros profissionais.

Assim, com os conhecimentos até aqui adquiridos, estamos


prontos para conhecer a histórica trajetória dos surdos no mundo até
os dias de hoje, comparando a evolução das terminologias, o que será
visto no próximo conteúdo.

Leitura Complementar
DD INSTITUTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DE SURDOS – (INES).
[Online]. Disponível em: <http://www.ines.gov.br>. Acesso em:
30 maio. 2017.

Para conhecer as estruturas relacionadas ao apoio integral as pessoas


com surdez, é importante que visite o site da primeira escola de sur-
dos do Brasil, o INES. Fundada em meados do século XIX pelo então
Imperador D. Pedro II, o INES tem como atribuições regimentais, subsi-
diar a formulação da política nacional de Educação de Surdos e divul-
gação de conhecimentos científicos e tecnológicos na área da surdez,
bem como, promover o desenvolvimento global da pessoa surda, em
sua plena socialização.
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Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

DD FEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E INTEGRAÇÃO DE


SURDOS – (FENEIS). [Online]. Disponível em: <http://www.fe-
neis.org.br/>. Acesso em: 30 maio. 2017.

Outra ótima opção de pesquisa é navegar no site da Feneis - Fe-


deração Nacional de Educação e Integração dos Surdos. Essa entida-
de sem fins lucrativos designa a valoração dos surdos desde crianças
à terceira idade. Tem por finalidade a defesa em políticas de educação,
cultura, saúde e assistência social, bem como, a defesa de seus direi-
tos. A Feneis oferece, também, atividades de turismo social, progra-
mas de saúde e de educação.

Para Refletir
Nesse conteúdo conhecemos todas as termi-
nologias ligadas às pessoas com surdez e os
conceitos relacionados a sua língua materna, mas você
consegue descrever corretamente qual é a melhor maneira de classifi-
car esta pessoa? E sua língua natural, a Libras, seria realmente a sigla
que boa parte de nossa população diz? É correto falar que Libras “é a
linguagem dos surdos mudos”!?
26 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

1.2
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DOS SURDOS E DA LÍNGUA DE
SINAIS NO MUNDO

A Língua de Sinais, na maioria das nações, é vista como uma


língua natural de comunicação e educação as pessoas com surdez. No
entanto, nem sempre foi assim.

Libras não é universal, o que significa que cada país possui sua
própria língua de sinais, desenvolvida através de influências históri-
cas e culturais locais e dentro de um único país como o próprio Brasil,
há sinais que mudam de região para região e as vezes ainda de cidade
para cidade em um mesmo estado.

Atualmente, existem por volta de 130 línguas de sinais, entre


as quais, a Língua Americana de Sinais (ASL), Língua Gestual Portu-
guesa (LGP), Língua de Sinais Francês (LSF), Língua de Sinais Catalã
(LSC), Língua de Sinais Japonesa (JSL), Língua de Sinal do Sul Africa-
no (SASL), entre outras.

Cada comunidade de surdos tem sua longa biografia de lutas e


conquistas. Por isso, é importante conhecer um pouco da história para
refletirmos melhor sobre o presente.
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Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

História das pessoas com surdez

A história antiga dos surdos até os dias atuais é de certa forma


fascinante, mas, ao mesmo tempo cruel, afinal, coligava entre as prin-
cipais vertentes da cultura em estudos sobre deficiências que, firma-
vam como diferença física e pessoas impossibilitadas.

Idade antiga (de 4000 a.c. a 476 d.c.)


Na maioria das regiões do mundo, os surdos eram sacrificados
por entenderem que eram pessoas amaldiçoadas devida sua falta de
linguagem e comunicação.

Aristóteles teorizou que as pessoas só podem aprender através


da audição na linguagem falada, assim, os surdos eram, portanto, vis-
tos como incapazes de aprender ou ser educados.

Acreditava-se que a linguagem e comunicação era apenas uma


habilidade de verbalizar e ouvir e, por isso, os surdos foram categorizados
na mesma classe dos inválidos e retratados como corpos defeituosos.

Em cada região do mundo, os surdos tinham uma sina diferen-


ciada de acordo com a cultura local:
28 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

DD Na Grécia, os surdos eram vistos como pessoas sem con-


dições de raciocinar, assim, eram arremessados do alto dos
penhascos para não terem como sobreviver. Historiadores
dizem ainda que, após o choque ao chão, o corpo servia para
alimentar animais de rapina e leões.

DD Os Romanos, os quais eram influenciados pelo povo grego,


tinham ideias semelhantes sobre os surdos, vendo-os como
seres imperfeitos, sem direito a pertencer a sociedade. Era
comum lançar as crianças surdas (especialmente as pobres)
ao rio Tibre pelos próprios pais.

DD Na Turquia, os Surdos realizavam algumas tarefas, tais como


o serviço de corte, como pajens das mulheres, ou como bo-
bos da corte, de entretenimento do sultão.

DD Em Gália, que compreende partes da Bélgica, França, Ale-


manha e norte da Itália, sacrificavam os surdos para o deus
Teutates a fim de receber bens.

DD Na China, os surdos eram jogados ao mar para não deixar


marcas ou chances de se reproduzirem.

DD No Egito, as pessoas com surdez eram consideradas Deuses


e a população egípcia os respeitava como intercessores aos
faraós.

DD A igreja católica também tinha suas teorias quanto as pes-


soas com surdez. Santo Agostinho que era um proeminente
“doutor” da igreja, pregava aos seus seguidores que, a sur-
dez de um filho era um castigo aos pais devido algum pe-
cado realizado por eles. Assim, os pais trancafiavam seus
filhos surdos em casa para não apresentarem a sociedade e
resguardarem de algum comentário.
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Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

“Naquele tempo, Jesus encontrou no seu caminho um


cego de nascença. Os discípulos perguntaram-Lhe:
Mestre, quem é que pecou para ele nascer cego? Ele,
ou seus pais? Jesus respondeu-lhes: Isso não tem nada
a ver com os pecados dele ou dos pais; mas aconteceu
assim para se manifestarem nele as obras de Deus”. (BÍ-
BLIA, João, 9, 1-3).

Idade Média (476 d.c. a 1453)


Época em que as hipóteses de Aristóteles foram indagadas. Es-
tudiosos europeus tentam educar as pessoas com surdez e pela pri-
meira vez, após dois milênios, começam a provar que estavam erra-
das. Essa marca na história dos surdos é o que começou a criação de
uma linguagem que não fosse oralizada.

Idade Moderna (1453 – 1789)

O matemático e médico italiano Gerônimo Cardano foi prova-


velmente, o primeiro estudioso a identificar que para obter a apren-
dizagem, não requer audição. Ele descobriu, nos anos de 1500, que
os surdos podiam ser educados usando palavras escritas após educar
seu próprio filho surdo.

O ensino aprendizado preparado exclusivamente para surdos,


não existia até 1750, quando L’Epee, um padre católico francês, fun-
dou a primeira associação social e religiosa para surdos, em Paris.
Abade Charles Michel de L’Epee é uma das pessoas mais importantes
na história da linguagem gestual. Tanto é que, ficou reconhecido na
história dos Surdos como o “Pai dos Surdos” por causa das dezenas
escolas que fundou.
30 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Idade Contemporânea (1789 até os dias de Hoje)

Não há como falar do crescimento da língua de sinais sem citar


a Instituição Gallaudet, fundada em 1864 nos Estados Unidos. Úni-
ca universidade do mundo especializada e desenvolvida para atender
pessoas surdas desde o nascimento até à universidade. Uma verda-
deira referência em educação de surdos.

A universidade recebeu o nome de Gallaudet para homenage-


ar o fundador da educação de surdos do EUA, o bacharel em Direito,
Thomas Hopkins Gallaudet que deu início a luta pela educação dos
surdos em 1814 ao ajudar uma menina surda e que, também, estabe-
leceu a Língua de Sinais Americana – ASL como língua das pessoas
com surdez.

Congresso de Milão
Embora a língua de sinais tenha se tornado usual em todo o
mundo, defensores do método oralismo defendiam que os surdos
deveriam aprender a oralização para compreender e se incluir plena-
mente na sociedade.

Foi então, em 1880 com o “Congresso de Milão” na Itália, que os


surdos levaram o primeiro grande golpe, depois de anos de luta para
ter sua língua legítima difundida como a melhor técnica de linguagem
às pessoas com surdez.

Neste congresso Internacional sobre Educação de Surdos, ou-


vintes e defensores do método de oralismo, tomou-se a decisão de
excluir a língua gestual do ensino de surdos, substituindo-a pelo ora-
lismo. Assim então, o “Congresso de Milão”, como ficou conhecido, de-
clarou que o método oral deve ser prioridade na educação e instrução
dos surdos-mudos.
31
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

O resultado do congresso foi devastador. O uso das línguas de


sinais na educação de surdos diminuiu drasticamente nos dez anos
seguintes ao congresso.

Esse marco na história dos surdos e da língua de sinais, quase


trouxe o surdo de volta ao ponto zero depois de todo o progresso de
construção e aprimoramento da língua de sinais.

Anos depois, os próprios organizadores do Congresso de Milão


afirmaram que o oralismo era um “fracasso sombrio” e que o método
oralista tomado na “Conferência de Milão” deveria ser revogado ime-
diatamente.

Comunicação Total
Em 1970, surgiu uma nova filo-
sofia para a educação de surdos,
que agrupou vários métodos edu-
cacionais, a “Comunicação Total”.

Este método expõe a criança à língua oral acompanhada simul-


taneamente da língua de sinais, da escrita, da pantomima, retratos,
gestos, mímicas, leitura, expressões faciais, aparelhos auditivos ou
de quaisquer outros meios que se considerem importantes para o seu
desenvolvimento. O importante é comunicar, independentemente do
modo.

Desde então, há uma grande divergência entre pesquisadores e


historiadores, quando se pergunta:

DD Quem inventou a língua de sinais?


32 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Uns dizem que foi o próprio Abade de L’Epee, fundador da pri-


meira escola pública para surdos em 1771, conhecida como “Instituto
Nacional para Surdos-Mudos”. Nesta escola, L’Epee usou a linguagem
de sinais padrão que ele mesmo criou. Então, as pessoas, obviamente,
pensaram que ele inventou a linguagem de sinais.

Outros historiadores afirmam que a linguagem de sinais foi in-


ventada por Juan Pablo de Bonet devido autoria de seu livro registro
no ano de 1620, no livro de Bonet continha o primeiro sistema alfabé-
tico manual conhecido.

Então: quem inventou a linguagem de sinais?

A resposta para esta pertinente pergunta, infelizmente fica em


aberto, podendo ser:

DD O homem primitivo que possivelmente utilizou uma linguagem


por gestos não disseminados;

DD Os próprios surdos por meio dos movimentos naturais das


mãos e da face para se comunicar;

DD Gerônimo Cardano, por meios de seus métodos de ensino


aplicado em seu próprio filho;

DD Abade Charles Michel de L’Epee, que indicou a aprendizagem


exclusivamente para surdos através da primeira língua de
sinais francesa;

DD Juan Pablo de Bonet, que registrou o primeiro sistema


alfabético manual.

DD Thomas Hopkins Gallaudet, que constituiu a Língua de


Sinais Americana.
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Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Língua de Sinais para surdocegueira


A metodologia de comunicação e ensino a uma pessoa surdo-ce-
ga, foi se atualizando com o passar dos tempos. Afinal, tinha que des-
cobrir o melhor meio de leitura e comunicação deste grupo de pessoas.

Superar os desafios educacionais da surdocegueira implica co-


nhecimento das habilidades individuais. Se o sujeito possui visão sufi-
ciente para usar a língua de sinais ou ler lábios, ou então, a desenvoltura
de se comunicar através da língua de sinais por meio do tato.

Hellen Keller é a pessoa surda-cega mais conhecida no mundo,


pois, foi a primeira pessoa com esta deficiência a se formar na faculdade.

H. Keller (1880) ficou cega e surda antes mesmo de completar


2 anos de idade e somente em 1887 que sua família encontrou Anne
Sullivan, que se tornou sua referência pessoal, a professora que a en-
sinou a ler, escrever e se comunicar. Hellen virou escritora, conferen-
cista e citou algumas frases impactantes como:
34 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

DD “A surdez é o mais infortune dos sentidos humanos”;

DD “Nunca se deve rastejar quando o impulso é voar “;

DD “As melhores e mais belas coisas do mundo não podem ser


vistas nem tocadas, mas o coração as sente”;

DD “Não ouçam o mal, nem vejam o mal”;

DD “Andar com um amigo no escuro é melhor do que andar so-


zinho na luz”;

DD “O resultado mais sublime da educação é a tolerância”.

Em todo o mundo, existem diversas línguas de sinais e diversas for-


mas de se comunicar por este meio, conforme visto no início do conteúdo.
Todos os países que possuem língua de sinais desenvolveram sua língua
gestual, pela necessidade de uma linguagem, comunicação e educação das
pessoas surdas ou surdocegueira. A linguagem gestual foi criada devido a
um processo natural e ao fato de ser a linguagem nativa dos surdos.

A vida das pessoas surdas hoje está diretamente relacionada à ma-


neira como elas foram tratadas no passado. Como todas as línguas orais,
a Libras é uma língua viva e está em constante mudança para atender às
necessidades de comunicação no mundo moderno. Se a linguagem está
na fala ou nos sinais, os seres humanos têm uma prestigiosa capacidade
de se comunicar e de se identificar. Pense como seu idioma é valioso para
você. É assim que as pessoas surdas se sentem sobre Libras.

A longa história construída pelos surdos no mundo colaborou


para que o Brasil caminhasse por melhores caminhos na língua de si-
nais, afinal, nosso país foi dependente de outros idiomas visuais para
ter sua própria cultura e língua de sinais, o que veremos no próximo
conteúdo.
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Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Leitura Complementar
DD O Milagre de Anne Sullivan. [Online] Direção: Arthur Penn. Pro-
dução: Fred Coe. 1’18” min, color. Disponível em: <https://youtu.
be/9Zqn_pHoni0> Acesso em: 15 maio. 2017.

Se você quer conhecer a educação de uma criança surdocegueira, “O


Milagre de Anne Sullivan” é um excelente filme, disponível nos sites
de pesquisa em forma tradicional e em desenho animado que fala da
adaptação e educação da surda-cega “Helen Keller”, pela incansável
professora “Anne Sullivan” citado neste capítulo. Ane Sullivan tenta
mudar sua vida e educa-la, tanto fez que a tornou uma das mulheres
mais notáveis de
​​ todos os tempos. Para isso, entra em confronto com
os pais da menina que, por compaixão, a tratam de forma mimada.

DD Uma breve história dos surdos no Brasil e no mundo. [Online]


Apoio: FAPEMIG. Produção: UFMG. 3” min, color. Disponível em:
<https://youtu.be/jc9X1i9zy3o> Acesso em: 15 maio. 2017.

Acessando o link indicado, você pode conhecer o outro lado da histó-


ria dos surdos no mundo e no Brasil de forma criativa e sintetizada.
Vale a pena, são apenas 3 minutos.
36 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Para Refletir
Ouvir pessoas associando surdez como
uma falta de capacidade mental ou mesmo
como ‘loucura’, era comum nos tempos antigos.
Hoje, os surdos estão cada vez mais capacitados, com
ótimos acessos a sociedade e sua língua tem sido frequentemente
debatido.

Conforme estudado neste capítulo, vimos que os surdos passaram


por fortes momentos de opressão e que, ao fim, obtiveram êxito es-
plendor. Será que a história oprimida dos surdos ainda ofusca o de-
senvolvimento coletivo e pessoal deste grupo de pessoas?
37
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

1.3
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS DOS SURDOS E DA
LÍNGUA DE SINAIS NO BRASIL

Como visto no conteúdo anterior, as pessoas com surdez estão


na sociedade desde a pré-história, entretanto, sua vida foi sempre re-
pleta de crueldades, obstáculos e proibições por serem considerados
amaldiçoados e ineducáveis até que, com esforços pessoais, conse-
guiram a identificação de uma pessoa normal com uma simples perda
de audição.

O Brasil só passou a ter uma referência no ensino de surdos a


partir do momento em que o francês Hernest Huet, então aluno de
Abade L’Epee (vide capítulo 1.2) chegou ao Rio de Janeiro em 1857
por intermédio de D. Pedro II para garantir o ensino ideal aos surdos
brasileiros. Portanto, a LIBRAS tem origem francesa e muitos sinais
ainda têm relação com a Língua de Sinais Francesa, assim como o
alfabeto manual.

Logo após a chegada de Huet, fundou-se a primeira escola de


surdos no Brasil: a “Imperial Instituto de Surdos-Mudos”, atualmente
o “Instituto Nacional de Educação de Surdos” (INES) situada na cida-
de do Rio de Janeiro onde recebeu a legitimação da língua de sinais
no Brasil.

O “Congresso de Milão” em 1880 também teve grande influência


no Brasil, fazendo que os surdos mudassem a forma comunicativa de
língua de sinais para a oralização.

Pouco tempo depois, logo com a abominação desta metodolo-


gia, o INES começou a ter como competência: promoção à educação,
sob múltiplas formas e graus, na estrutura do MEC, como centro de
38 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

referência nacional na área da surdez, exercendo os papéis de subsi-


diar a formulação de políticas públicas e de apoiar a sua implementação
pelas esferas subnacionais de Governo”.

Em 1986, o Brasil ganhou outro parceiro na luta dos direitos dos


surdos, a “Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos”
- Feneis, filiada à Federação Mundial dos Surdos tendo como matriz
a cidade do Rio de Janeiro e com filiais por todo o país. A Feneis foi a
instituição brasileira a qual se comprometeu em “disseminar o conhe-
cimento nos diversos campos do saber, contribuindo para a qualidade
de vida dos surdos, bem como, assegurar a cidadania mediante co-
munidade surda, de forma humanista, crítica e reflexiva, preparando
profissionais competentes e atualizados para o mundo do trabalho e
para a melhoria das condições de vida”.

Dois anos após sua existência, a Feneis organizou o “I Encontro


de Intérpretes de Libras”. Foi a primeira vez que houve um encontro
nacional entre Intérpretes de Libras do Brasil e a avaliação sobre ética
do profissional Intérprete.
39
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Evolução dos aparelhos auditivos1

01
O primeiro aparelho auditivo que se Se quiser conhecer to-
tem registro foi criado em 1830, chamado dos os aparelhos auditi-
vos desde a sua criação
de “trombeta auditiva” que, aos poucos, e na e a linha do tempo desta
necessidade de diminuir o tamanho deste evolução, acesse o site
<http://www.museudo-
aparelho auditivo foi se modernizando gra- aparelhoauditivo.com.
dativamente até o fim dos anos 40, quando br> e transite por toda
essa história.
surgiram os primeiros aparelhos a pilha no
próprio aparelho.

A modernização em busca de fazer o surdo a ouvir precisava


avançar, e em 1970 ocorreram os primeiros “implantes cocleares”.

O implante coclear é um aparelho implantado cirurgicamente na


cóclea do surdo e tem o papel de estimular diretamente o nervo audi-
tivo, o que causa sensações sonoras.
40 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Este implante é delicado e, de início, gerou muita


discussão em relação ao surdo e a reabilitação da
audição, pois, quem fizesse este implante deveria se
sujeitar a não pular, nadar e outras atividades comuns
de criança. Com os avanços tecnológicos, estas
restrições foram diminuindo significativamente.

Cultura surda

Ao longo dos séculos, os surdos foram formando uma cultura


própria centrada principalmente em sua forma de comunicação.

Os surdos têm uma cultura de característica própria, são utili-


zadores de uma comunicação espaço-visual, ou seja, comunicam-se
através da visão e de sinais.

Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o


mundo e de modificá-lo a fim de se torná-lo acessível
e habitável [...] Isto significa que abrange a língua, as
ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo
surdo. (STROBEL, 2008 p.27).
41
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

O processo de busca por uma identidade de uma pessoa com


surdez pode ser afetado desde o seu processo de aprendizagem, pois
é o período em que os pais descobrem a surdez.

O condicionamento do surdo junto à sociedade tem se tornado


cada vez mais comum, porém, muitos ainda têm o olhar de “deficiente”
quando relacionados a certas ocasiões como profissões, atividades es-
colares e até mesmo posições afetivas dentro de um lar onde os pais os
superprotegem com medo das afrontas e até mesmo dos preconceitos
que seu filho surdo venha receber. Outros encaram a Língua de Sinais
como gestos sem significância linguística, bem baixo da língua oraliza-
da. O preconceito ou a ausência de conhecimento a língua de sinais, faz
com que alguns surdos se sintam inferiores e incomunicáveis.

Todos sentem a necessidade de se fazer entender. A comunica-


ção e a interação são essenciais para qualquer ser humano. Estamos
em um país com uma vasta cultura oralista trazida há décadas e in-
fluenciados por ouvintes.

Os ouvintes e os surdos precisam entender e reconhecer as


verdadeiras fronteiras que a Libras pode ultrapassar quanto as habili-
dades comunicativas e interativas.

Hoje, ainda há uma certa desconfiança dos surdos relacionados


aos ouvintes, o que não seria difícil de entender, afinal, ouvintes deci-
diram o futuro dos surdos naquele “Congresso de Milão”.

Agora lhe faço uma pergunta: se você estivesse em um ambiente


fechado, andar acima do térreo e necessita chamar um surdo que está
há uns 5 metros de distância e de costas para você, o que você faria?

Não adianta gritar ou chamá-los pelo nome, seria em vão, afinal,


o surdo não ouve. Mas pela descrição da pergunta, você teria algumas
possibilidades de chamar a atenção desta pessoa surda, como:
42 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

DD Fazer um movimento com o braço, o qual incidiria uma som-


bra perto dele;

DD Se estiver perto do interruptor, poderia piscar a luz;

DD Pedir que outra pessoa perto dele o chame;

DD Bater o pé no chão para que a vibração do piso o faça procu-


rar a fonte desta vibração;

A oportunidade que tem nesse momento, através desta leitura,


certamente não ficará mais confuso, assim que, encontrar ou atender
um surdo. O que poderia se tornar constrangedor ou de certa forma
“sem jeito” para um iniciante se aproximar de um surdo, agora com
alguns conhecimentos até aqui adquiridos, será uma ótima oportuni-
dade de aproximação e contato direto com ele. Não se exime em ten-
tar interagir, no momento em que o surdo percebe sua intenção e que
você conhece o mínimo da Libras, ele irá lhe ajudar na comunicação,
tornando-se fácil e prazeroso.

A visão crítica, às vezes pode ser confundida com a visão do


conhecimento em tratar um surdo como se não houvesse nada de
diferente, estaríamos ignorando suas características pessoais, se é
um fato que existe, devemos tentar, ao máximo, comunicar através
das mãos.

Por causa da surdez é evidente que o surdo venha a encontrar


dificuldades na sociedade, por outro lado, tem uma extraordinária ha-
bilidade em fazer atividades gráficas e promover diversas ações em
relação a arte.

A maioria das pessoas com surdez não se importa em respon-


der perguntas a respeito da sua característica ou sobre sua cultura.
Quando alguém deseja alguma informação de uma pessoa surda, o
43
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

correto é dirigir-se diretamente a ela, e não a seus acompanhantes ou


Intérpretes.

Identidade surda
STROBEL (2008, p. 29) descreve a identidade surda como: “O
surdo, aceita-se como surdo, sabe que é surdo, e assume comporta-
mentos de pessoas surdas.” Dentre os diversos tipos de identidades
surdas temos:

Surdos Híbridos
DD Pessoas que ficaram surdas após o nascimento até desenvolver
uma linguagem (entre 0 – 3 anos de idade);
DD Utilizam muito da tecnologia.

Surdos Flutuantes
DD Surdos que não tem contato com a comunidade surda;
DD Tem resistência a LIBRAS;
DD Geralmente são surdos bilíngues;
DD Não utilizam das tecnologias dos surdos.

Surdos Embaraçados
DD Não consegue dominar a oralização;
DD Não sabe LIBRAS;
DD São analfabetos.

Surdos Diáspora
DD Divergem no regionalismo;
DD Sentem dificuldades quando mudam de estado ou região.
44 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Surdos Intermediários ou Oralizadores


DD Tem surdez leve ou moderada e leva uma vida de ouvinte;
DD Comunicam apenas pela leitura labial e fala;
DD Dão muita importância ao aparelho auditivo;
DD São contra Intérpretes;
DD Tem dificuldade de encontrar sua identidade.

Surdos Sinalizadores
DD Utilizam unicamente a Libras como meio de comunicação;
DD Lutam por conquistas de sua comunidade;
DD Necessitam de Intérpretes.

Surdos de transição ou Bimodais


DD Utilizam tanto a sinalização quanto a oralização;
DD Está em transição entre uma cultura e outra;
DD Na maioria são filhos de pais ouvintes.

Surdos Oralizadores

Surdos Sinalizadores
45
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Expressões Corporais e Faciais


Para os ouvintes, o tom e o volume da voz torna-se um diferen-
cial e um fator determinante quando expressa sentimentos ou expan-
são de raiva ou alegria. Já para os surdos, essa possibilidade não se
tornaria enérgica, mas se a gradação da voz for bem substituída pela
expressão corporal e facial, terá a mesma significação e eficácia.

Como terá a oportunidade de ver nos 02


próximos conteúdos, as expressões facio- Lembre-se: todo movi-
mento corporal e facial é
corporais2 são algumas das características uma expressão e todos
fortes e importantes para os surdos e para os movimentos feitos
com as mãos, são sinais.
a Libras. É através desse recurso que se ex-
põe e impõe em determinadas orações que
necessitaria do volume da voz, do significado de uma palavra rela-
cionada a sentimento ou situações de tempo verbal. Assim, podemos
afirmar que as expressões faciais e corporais falam, certas vezes,
muito mais que um simples sinal, uma palavra e até mesmo frases.

A extensa possibilidade de significados através


desse recurso abrange conceitos emocionais,
tais como “desculpe” para conceitos específi-
cos da cultura.

Na Libras, as expressões faciocorporais


são recursos importantes da comuni-
cação e interação que você sobrepõe ao
fazer um sinal e caso seja mal feito ou não acrescentado, afetará
diretamente no significado desse sinal. Veja:
46 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Triste sem expressão Triste com expressão

Felicidade sem expressão Felicidade com expressão

Sinal Próprio
Quando conhecemos alguém, logo fa-
lamos e nome ou se não conhecemos,
perguntamos seu nome. O sinal pró-
prio serve para que, todas as vezes que
quisermos nos referir àquela pessoa
na comunidade surda, tenhamos um signo, um batismo que nos re-
presenta, assim, denominado “Sinal Pessoal” ou “Sinal Próprio”.

Vale destacar que o sinal é da pessoa em si que se trata de uma


marca, um traço ou personalidade e não do nome de uma pessoa.
Geralmente os surdos não dão um sinal referente a etnia, deficiência
ou fator idade, podendo então ser pelos traços de expressão, olhos,
47
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

sorriso, cabelos, formas de se vestir, de sentar, um cacoete, pintas,


cicatrizes, covinhas, entre outras.

Esse sinal pessoal deve ser indicado sempre por um surdo e nun-
ca por um ouvinte. Uma vez recebido o sinal, não mais se pode trocar.

Comemorações
Em 1857, exatamente no dia 26 de setembro3 foi inaugurada
a primeira escola de surdos no Brasil, hoje INES. Assim então, ficou
determinado no calendário brasileiro como
03
o “Dia Nacional dos Surdos”. Essa data é
Neste dia, procure a
sempre lembrada pelas lutas em busca de associação de surdos ou
melhorias principalmente em relação a dig- escolas inclusivas mais
perto de sua casa e par-
nidade e cidadania. Já o “Dia mundial do ticipe dos movimentos
Surdo” determinado pela Federação Mun- que acontecerão. Este é
um ótimo momento de
dial de Surdos, é celebrado no dia 30 de contato e fluência com
setembro. E o dia mundial das línguas de surdos e a língua.

sinais é no dia 10 de setembro.

O mês de setembro é conhecido como o mês do “Orgulho Surdo”


pela grande representatividade envolvida em um único período, assim,
simboliza a opressão enfrentada pelos surdos ao longo da história.

Surdos: exemplos de superação


DD Thomaz Edson, inventor da lâmpada elétrica;

DD Helen Keller, professora surda e cega que revolucionou o


ensino dos surdos e cegos;

DD Beethoven, músico que compôs a famosa 9ª sinfonia;


48 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

DD Vanessa Vidal, Miss Ceará e 2ª colocada na Miss Brasil 2008;

DD Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos;

DD Marlee Martlin, única surda a ganhar o Oscar de melhor


atriz em 1986;

Leslie Nielson, ator que se destacou interpretando o persona-


gem principal no filme “Corra que a polícia vem ai”. Fez mais de 100
filmes e 1500 programas de tv, interpretou cerca de 220 personagens
diferentes.

Aqui estão alguns exemplos em que a surdez não interfere no


desenvolvimento intelectual do surdo. Mas mesmo assim, é impor-
tante que continue a leitura no próximo capítulo para entender as cau-
sas e prevenções da surdez.

Leitura Complementar
DD Coisas que os Surdos não gostam. [Online]. 13 min, color. Disponí-
vel em: <https://youtu.be/7A6YkwGRyP0> Acesso em: 15 maio.
2017.

“Coisas que os surdos não gostam” é um vídeo desenvolvido por La-


rissa Jorge, blogueira, surda, que posta diversos vídeos na internet
falando justamente sobre curiosidades da comunidade surda e nessa
oportunidade ela aborda ações ou reações das pessoas que os surdos
não gostam. Vale a pena conferir.

DD Superação: garota surda tocando violino. [Online]. 4 min, co-


lor. Disponível em: <https://youtu.be/K18bsrp0AR4> Acesso em: 15
maio. 2017.
49
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Esse curta metragem fala sobre uma menina surda que se prepara
para um concurso de música e por diversas vezes sofre discrimina-
ções e agressões. Com o apoio de seu treinador, também surdo, con-
segue superar e se apresentar com seu precário violino restaurado,
sendo aplaudida de pé.

Para Refletir
Os surdos têm uma cultura própria, des-
se modo, certamente você já deve ter
visto surdos conversando ou já conver-
sou com eles e, percebeu que eles utilizam
as expressões faciocorporais a todo o momento em
sua comunicação e interação. Assim, convido a você listar diversas
palavras referentes a sentimentos e contextos que necessitam de ex-
pressões e pratique-as em frente ao espelho.
50 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

1.4
ASPECTOS BIOLÓGICOS E SUAS DEFINIÇÕES
Neste conteúdo você terá a oportunidade de conhecer melhor o
sentido que nos auxilia na linguagem e na fala, além de compreender
as funções básicas da audição, como: as causas e períodos da surdez,
classificações, consequências, prevenções e formas de detecções.

Formação do Ouvido
O ouvido é um órgão avançado e muito sensível do corpo hu-
mano. Sua função é manter nosso senso de equilíbrio e traduzir sons.

Sobotta (1995) e Pedroso (2006) apresentam a parte biológica


do ouvido humano. A transmissão e a tradução das ondas sonoras
até chegar ao cérebro passam pelas seguintes partes: ouvido externo,
ouvido médio e ouvido interno.
51
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Ouvido externo
É constituído pelo pavilhão auricular, conduto auditivo e pela
membrana timpânica. Essas estruturas são responsáveis pela captação
e condução dos sons.

Ouvido médio
Nela encontramos os ossículos, ou seja, os três menores ossos
do corpo humano: martelo, bigorna e estribo. A orelha média é res-
ponsável pela transformação da energia sonora em energia mecânica
e pela proteção da orelha interna de sons mais intensos.
52 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Ouvido interno

Possui formato de caracol e compreende a cóclea e canais semi-


circulares. Nesses canais, encontram-se as estruturas responsáveis
pelo equilíbrio e no interior da cóclea há o órgão de Corti, que trans-
forma a energia mecânica em impulso nervoso.
Do ouvido interno, o som é conduzido pelo nervo auditivo e
demais estruturas da via auditiva até chegar ao córtex cerebral.

Para ter uma compreensão mais clara do funcionamento destes


três ouvidos, vamos unir estas informações.
53
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

O som é captado pelo pavilhão auricular, passa pelo canal au-


ditivo e é transmitido até a membrana timpânica, fazendo-a vibrar.
Essa vibração é transmitida aos ossículos. O estribo provoca a mo-
vimentação da membrana da janela oval, que liga o ouvido médio ao
ouvido interno. Essa movimentação provocada pelo estribo faz com
que ocorra um deslocamento nos líquidos que se encontram dentro
da cóclea, estimulando o órgão de Corti, ocorrendo a transmissão do
impulso nervoso para o nervo auditivo. A partir dessa transmissão,
o som passa por diversas estruturas, até o córtex cerebral, onde é
interpretado.

Se vier a acontecer alguma lesão em algumas dessas estruturas,


poderá haver danos na sensibilidade auditiva.

Graus da Perda Auditiva


A surdez consiste em um impedimento para detectar a energia
sonora e, com isso, há graus de perdas auditivas.

Perda Leve ou Ligeira (26 a 40 dB4)


A palavra é ouvida, mas certos ele- 04
mentos fonéticos ficam complicados de dB (decibéis) é a
unidade de medida do
entender. Tem, por exemplo, dificuldade volume ou da intensida-
em compreender uma conversa a uma dis- de do som.
tância superior a 3 metros. Nesse grau a
surdez não provoca atraso na aquisição da linguagem, pode haver
dificuldades em ouvir a voz em tom natural (são pessoas tidas como
muito distraídas).
54 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Perda Moderada (41 a 70 dB)


Só consegue ouvir a palavra, quando esta é de intensidade forte, alta.
Essa perda traz dificuldades na linguagem, tanto na escrita
quando na leitura. A pessoa que tem uma surdez moderada utiliza
muito do apoio visual dos lábios para facilitar no entendimento. Per-
gunta-se muito “hein, o quê”? Troca palavras foneticamente idênticas
como (linha/pinha, mão/não).

Perda Severa (71 a 90 dB)


A pessoa que possui a perda auditiva severa não é capaz de
entender uma palavra em seu tom normal. Será necessário agravar a
voz. O uso do aparelho auditivo é indicado nestes casos para que fa-
cilite o entendimento. Essas pessoas ouvirão somente sons intensos
ou ao pé do ouvido.

Perda profunda (superior a 90 dB)


A audição neste caso está totalmente comprometida.
Não é capaz de reagir de forma adequada aos sons ambientais,
pois, escuta somente sons graves que transmitam vibrações, como
trovão, aviões, explosões, foguetes, etc.

Causas da surdez
As perdas auditivas podem ter diversas origens, seja por formas
congênitas ou adquiridas e em diversas fases da vida. Para conhecer
as causas da surdez, teremos como auxílio os sites (www.abcdasaude.
com.br) e (www.otorrinousp.org.br).

Pré-parto
As causas pré-parto são aquelas ocasionadas antes do nas-
cimento, quando a mãe ainda está gestante e a principal causa é a
55
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

hereditariedade que é transmitida geneticamente de geração em ge-


ração, particularmente quando existem casos de surdez na família, de
forma hereditária. Quando o pai e a mãe são surdos e essas surdezes
não são hereditárias, seus filhos não necessariamente serão surdos.
Há ainda outros destaques:

DD Rubéola: é a principal causa congênita. Vírus que é transmi-


tida por via respiratória, infectando gestantes;

DD Sífilis: adquirida na relação sexual;

DD Toxoplasmose: parasita presente em animais;

DD Medicamentos Ototóxicos: a ingestão de drogas por gestan-


tes sem indicação médica leva à lesão do ouvido do bebê.
Antibióticos, diuréticos e anti-hipertensivos.

DD Citomegalovírus: vírus herpes que contagia principalmente


por falta de cuidados higiênicos.

Peri parto (durante o parto)


Neste período, a surdez é originada no momento do parto e, ge-
ralmente o médico aconselha que o “parto normal” seja substituído
pela cesárea. As causas são:

DD Citomegalovírus: vírus que contagia principalmente por falta


de cuidados higiênicos;

DD Herpes: é a que mais se destaca neste período. Doença se-


xualmente transmissível (DST) acontece durante o nasci-
mento e pode até levar o bebê à morte;

DD Hipóxia: diminuição da oferta de oxigênio para o feto.


56 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Pós parto
As causas pós-parto direcionam a surdez quando o bebê já nasceu.
Alguns especialistas dizem que pode haver algumas ocorrências durante o
parto, mas, que a surdez venha a ser detectada somente após alguns dias.
É neste período em que ocorrem as maiores ocorrências, destacamos:
05
DD Amamentação5: o bebê faz ingestão Para evitar a surdez por
do leite deitado sem qualquer incli- este meio é muito sim-
ples: basta não cortar
nação. O leite passa pela Trompa de o bico da mamadeira
Eustáquio e chega ao ouvido médio, e dar uma pequena
inclinação no bebê ao
provocando uma otite média; amamentar.

DD Meningite: infecção por vírus ou


bactérias é maior causador da surdez em bebês;

DD Ruído ocupacional: perda auditiva induzida por ruído (PAIR),


exposição diária a sons graves e estrondos, a exemplo as
músicas através dos fones de ouvido em volumes elevados;

DD Presbiacusia: perda auditiva gradual devido ao fator idade,


mais comum em pessoas com mais de 65 anos;

Surdez por condução


A surdez por condução é aquela surdez que foi ocasionada por
algum ato próprio e é uma surdez que há possibilidades de reversão, a
depender de sua gravidade, assim, podemos citar:

DD Excesso de cerúmen, (Cera do ouvido) ou limpeza incorreta


do ouvido (ao invés de limpar você empurra o cerúmen para
o fundo do conduto auditivo);

DD Perfuração timpânica com objetos ou estrondos;

DD Introdução de objetos, penetração de insetos ou alimentos


no ouvido.
57
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Surdo-cegueira
É uma deficiência múltipla que apresenta perda da audição e da
visão simultaneamente, não necessariamente perdas completas, mas
impossibilita o uso destes sentidos, criando necessidades de comuni-
cação e causa dificuldades na conquista de metas educacionais, voca-
cionais e sociais.

A quantidade de perda em visão ou audição varia de pessoa


para pessoa e NASCIMENTO (2006), descreve ainda que, nestes ca-
sos, uma criança pode nascer surda e eventualmente, perder a visão
ou perde a visão e a audição devido a alguma doença, trauma, lesão
no nascimento ou condições genéticas, após meses ou anos de vida.

Algumas pessoas surdas-cegueira são retraídas e iso-


ladas, pois, se deparam com a dificuldade de se co-
municar, não apresentam curiosidade, normalmente
apresentam problemas de saúde que acarretam sérios
atrasos no desenvolvimento, não gostam do toque das
pessoas, não conseguem se relacionar em sociedade,
encontram dificuldade na habilidade com a alimentação
e com a rotina do sono, têm problemas de disciplina,
atrasos no desenvolvimento social, emocional e cogni-
tivo e o mais importante, desenvolvem estilo único de
aprendizagem. (HONORA, s/d, p. 122).
58 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Essa foto representa o ato de comunicar com uma pessoa


surdo-cegueira. A utilização da Libras é indispensável, sendo tam-
bém necessário o uso do tato sobre as mãos , acompanhando toda
movimentação dos sinais.

HONORA (s/d, 25-35), em diversos momentos apresenta algu-


mas informações quanto a surdo-cegueira:

Classificação:
DD Surdo cegueira total;

DD Surdez profunda com resíduo visual;

DD Surdez moderada ou leve com cegueira;

DD Surdez moderada com resíduo visual;

DD Perdas leves, tanto auditivas quanto visuais.


59
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Tipos:
DD Cegueira congênita e surdez adquirida;

DD Cegueira e surdez adquirida;

DD Surdez congênita e cegueira adquirida;

DD Baixa visão com surdez congênita ou adquirida;

DD Cegueira e surdez congênita.

Causas:
DD Prematuridade;

DD Síndrome de West;

DD Retinose pigmentar;

DD Síndrome de Usher;

DD Consanguinidade.

Fatores de risco:
DD Doenças como rubéola, sarampo e meningite;

DD Doenças sexualmente transmissíveis;

DD Infecções hospitalares;

DD Gravidez de risco;

DD Falta de saneamento básico.


60 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Como pudemos verificar, são muitas as causas que podem in-


duzir a insurdescência em crianças e adultos, seja ela, apenas surdez
ou surdo-cegueira. A detecção precoce é fundamental para minimizar
suas consequências.

Hoje em dia, é disponibilizado o “Teste 06

da Orelhinha” em recém-nascidos de forma Precocemente diag-


nosticado, a criança
gratuita que é uma (triagem auditiva ne- terá maiores e me-
onatal), é indolor e de rápido diagnóstico. lhores condições no
seu desenvolvimento
Este sim é o primeiro exame a ser feito e linguístico.
que vai diagnosticar6 a surdez ou um futuro
problema de audição.

Além do “Teste da Orelhinha”, vamos conhecer outros exames


que poderão ser indicados:

DD Audiometria de tronco cerebral (BERA): revela as capacida-


des auditivas do paciente;

DD Imitanciometria: avalia o funcionamento das estruturas da


orelha média e da tuba auditiva;

DD Timpanometria: avalia a condutância sonora das estruturas


das orelhas externa e média;

DD Reflexo estapédico, avalia a integridade do arco reflexo esta-


pediano e, por consequência, de forma indireta, as estrutu-
ras das orelhas média e interna, nervo auditivo e tronco ce-
rebral. É de extrema utilidade para o diagnóstico das otites
crônicas em crianças.

É importantíssimo ficar atento quando alguém troca as letras


na fala e na escrita, que tenha dificuldade de aprendizado e em fazer
amizades, é desatento e procura estar sempre isolado. Isto pode ser
61
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

um indicativo de um problema na audição, assim, encaminhe-o para


um especialista o mais rápido possível.

07
Independente do tipo e
Período verbal da surdez o grau de surdez de um
indivíduo. É essencial
que ele aprenda a
O período7 verbal da surdez é a épo- Libras assim que for
ca em que um indivíduo perde a audição, detectado a surdez,
se assim feito, ele terá
assim, são classificados em pré-verbal ou um melhor desenvol-
pós-verbal, independente do grau auditivo. vimento na comu-
nicação, interação e
aprendizado escolar.

Surdez Pré-verbal:
É o surdo que nasceu ou perdeu a audição antes mesmo de
desenvolver a linguagem.

Surdez Pós Verbal


É aquele que perdeu a audição após a linguagem, ou seja,
desenvolveu a comunicação oral antes de ficar surdo.

Após passar por conhecimentos técnicos, históricos, culturais


e biológicos do surdo e das Libras, concluímos o tema com o objetivo
alcançado, interligar essas fases, para assim, dar início ao processo
gramatical e prático da Libras.
62 Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Leitura Complementar
DD Reação de surdos voltando a ouvir. [Online]. 2” min, color. Dispo-
nível em: <https://youtu.be/4sIpDxpY074> Acesso em: 15 maio. 2017.

Emocione-se com o vídeo em que pessoas de diversas idades e sexo


passam a ouvir, após o implante coclear.

DD Tudo sobre Sistema Auditivo. [Online]. 2” min, color. Disponível


em: <https://youtu.be/5MeNw1UdJqQ> Acesso em: 15 maio. 2017.

Neste conteúdo você conheceu toda a estrutura do ouvido, doenças que


causam a surdez entre outras curiosidades, agora, com este vídeo, você
pode ver dinamicamente o caminho que o som faz em nosso ouvido.

Para Refletir
As vezes afirmamos: “É muito difícil nascer
ouvinte!”

São muitas doenças que podem gerar essa carência


sensorial e mesmo assim é possível prevenir para evitar a surdez e
até mesmo amenizar os problemas de desenvolvimento linguístico,
comunicativos e sociais.

Como podemos contribuir para que a prevenção da surdez seja eficaz


e como cooperar para que o surdo não tenha atraso cognitivo? Reflita
sobre isso.
63
Tema 1
Aspectos Históricos, Conceituais e
Sociais

Resumo

No primeiro conteúdo deste tema, iniciamos os conhecimentos bási-


cos do que é Libras, suas estruturas, nomenclaturas e compreende-
mos melhor conceitos relacionados às pessoas com surdez e toda sua
habilidade no que envolve à sua língua materna, para que, no momen-
to propício, você possa falar os termos corretos.

Explorando os conceitos históricos dos surdos e da Libras, observa-


mos no conteúdo 1.2, o vasto e desastroso conceito que os povos ti-
nham em relação a uma pessoa com surdez e toda biografia cronoló-
gica desse grupo até a invenção da língua de sinais no mundo que deu
apoio a novas conquistas.

No capítulo 1.3, perpassamos por todas as características culturais


dos surdos brasileiros e de sua língua natural, alinhando os tipos de
surdos existentes e suas identidades, conhecendo pessoas ilustres e
públicas no mundo que são exemplos de superação e que até hoje re-
fletem as novas visões do silêncio.

Fechando o tema, observamos toda formação do ouvido, desde a per-


cepção das ondas sonoras até a interpretação destas ondas pelo cé-
rebro e os tipos de surdos os quais teremos como cliente, paciente ou
aluno, além de adquirir respostas importantes para o desenvolvimento
e aprendizado das pessoas com surdez, além de auxiliar na prevenção
e detecção da surdez.

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