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LINGUA, LINGUAGEM E AS DIFERENTES SITUAÇÕES
SOCIOCOMUNICATIVAS
Língua
Esta língua é como um elástico que espicharam pelo mundo.
Com o tempo, se foi amaciando, foi-se tornando romântica, incorporando os termos nativos
e amolecendo nas folhas de bananeira as expressões mais sisudas.
Um elástico que já não se pode mais trocar, de tão gasto; nem se arrebenta mais, de tão
forte.
Todas as línguas vivas mudam com o tempo. É um processo dinâmico, contínuo e gradativo.
Toda a língua possui variação.
Linguagem
Desde os primórdios, a humanidade se organizou socialmente, e uma das necessidades
principais da vida em sociedade é a comunicação. O homem desenvolveu a linguagem
porque precisava se comunicar, e assim ele faz até hoje, e a cada dia de forma mais
complexa e com novas ferramentas.
A linguagem nasce a partir de uma necessidade primordial do homem: a de viver em
sociedade e de interagir não apenas com o próprio homem, mas com o mundo que o cerca.
É, como disseram Heidegger e Gadamer, o solo de uma cultura, aquilo que possibilita o
homem a participar e a estar integrado, antropologicamente, a esse “acervo de tudo aquilo
que a espécie humana veio acumulando ao longo de sua experiência histórica” (REALE, 2002,
p. 1). A sociabilidade e o saber humano estão, na linguagem, fundamentados.
Linguagem verbal
A linguagem verbal é aquela que usa a palavra, escrita ou falada, para comunicação. É
amplamente utilizada em diferentes situações: jornais, revistas, diálogos, sites, filmes,
reportagens, livros, cartas etc.
Linguagem mista
Na linguagem mista, usam-se simultaneamente a linguagem verbal e a linguagem não verbal.
É o uso de palavras escritas e figuras simultaneamente. A linguagem mista também é
bastante comum em nossos dias; pode aparecer em placas, histórias em quadrinhos,
charges, outdoors, filmes, peças de publicidade etc.
A linguagem mista, em alguns casos, reforça o que a linguagem não verbal já apresenta por si
só, que é o caso da placa: proibido fumar, cão bravo e risco de morte. Vai depender do
objetivo e do público que essa mensagem quer atingir.
Se a língua emana do coletivo, o mesmo não se pode dizer da fala. Ela é entendida como um
ato individual, pois cada indivíduo pode optar em usar variedades da língua quando fizer uso
da fala. A fala é sempre individual e seu uso depende da vontade do falante. No entanto,
língua e fala estão interligadas. Uma não sobrevive sem a outra. Para compreendermos a
fala, é necessário a língua, mas também há a necessidade da fala para que uma língua se
estabeleça.
Variação histórica
A variação histórica, como o nome já indica, acontece dentro de um determinado período de
tempo. Só pode ser identificada quando comparamos a língua em dois momentos diferentes.
Para termos uma ideia clara, vejamos, por exemplo, o texto a seguir, no qual a princesa
Isabel, em 1888, assina a Lei Áurea:
De lá para cá, algumas palavras sofreram modificação na grafia, como Brazil (Brasil),
extincção (extinção), súbditos (súditos), d’esta (desta), princeza (princesa), n’ella (nela), dentre
outras que facilmente podem ser identificadas, o que prova justamente o caráter dinâmico.
Variação geográfica
A variação geográfica, como também sua denominação já indica, diz respeito às diferentes
formas de pronúncia, à diferença de vocabulário e também à estrutura sintática das frases
dos falantes de uma mesma língua, ou seja, diz respeito às diferenças que uma mesma
língua apresenta na dimensão do espaço, quando falada em diferentes regiões de um
mesmo país ou em países diferentes.
Da mesma forma, pessoas que pertencem a determinados grupos sociais, como tribos
urbanas, ou mesmo a determinados grupos étnicos (que nada mais são do que pessoas que
se identificam ou são identificadas com base em semelhanças culturais e/ou biológicas) que
também se comunicam com uma linguagem própria daquele grupo. Portanto, essa variação,
também conhecida como variação diastrática, se refere à organização socioeconômica e
cultural de uma comunidade, e se relaciona ainda à idade, como já mencionamos, ao
mercado de trabalho, à classe social e ao
grau de escolaridade.
Variação situacional
Outro tipo de variação é a chamada de
situacional, que envolve diretamente os
diferentes espaços e situações
comunicacionais. Em diferentes contextos,
usa-se diferentes formas de linguagem. A
mesma pessoa pode, por exemplo, no seu
trabalho, usar linguagem formal e, entre
amigos ou família, usar linguagem
informal.
A linguagem informal, por sua vez, é a linguagem que usamos no cotidiano. É uma linguagem
despreocupada em relação à norma padrão. É usada com os amigos, família, com pessoas
com as quais temos grande familiaridade e em ambientes despreocupados, em que não se
exige formalidade. Saber jogar com todas as formas de linguagem e perceber sua influência
nas relações sociais, dentre elas as que ocorrem dentro do universo do trabalho, é o que
começaremos a debater daqui para frente.
Comunicar-se bem, hoje, não é apenas mais uma habilidade capaz de colocar o sujeito em
destaque dos demais em um ambiente de trabalho, mas essencial para que ele
simplesmente o acesse. É exatamente o que nos mostra Rosa e Landim, no artigo
intitulado Comunicação: a ferramenta profissional, afirmando que:
“O papel da comunicação começa bem antes de sua atuação em uma determinada função,
começa na hora de conseguir um emprego ou um contrato para prestar um serviço [...]. Sem
essa habilidade ele [o sujeito] já sai em desvantagem em relação aos seus concorrentes”
(2009, p. 142).
Decorrente dos acontecimentos sociais e econômicos mais recentes, o contexto atual nos
mostra que estamos vivendo diversas mudanças em torno das concepções de carreira
profissional e de mercado de trabalho, oriundas não só do avanço da tecnologia, mas da
multiplicidade de funções, da maior expectativa de vida, do alto nível de desemprego, entre
outros fenômenos. Nesse cenário, em que a carreira é cada vez menos linear ou pensada
dentro de uma ideia segura de progressão, a arte da boa comunicação é, sem dúvida, um dos
instrumentos vitais para o desenvolvimento de um indivíduo dentro de uma organização ou
de forma autônoma, imprescindível àqueles que buscam um nível de profissionalismo à
altura de seus planos.
Se você observar com atenção, vai notar que todo o profissional de sucesso possui uma
característica em comum: a de comunicar-se bem, seja ele um gestor de empresa, que vende
de forma única suas ideias; ou um professor, que cativa seus alunos e os encanta; ou mesmo
alguém da área de saúde ou tantas outras que, por meio da palavra, escrita ou falada, se
aproxima daqueles a quem se dirige e os conforta, passa segurança, confiança ou mesmo os
acolhe. Do contrário, sem uma comunicação eficiente, as portas se fecham, mesmo que o
conhecimento específico do indivíduo seja de excelência.
Não adianta ser uma pessoa formada em determinada área, ter uma pós-graduação,
mas ter dificuldade em comunicação. É preciso saber como proceder em uma reunião,
falar com os clientes, com os superiores, saber redigir documentos, e-mails etc.
Resumindo, tudo o que fará em sua vida profissional terá a comunicação como
prioridade [...]. (CUNHA, 2009, p. 9-10)
Não basta ser um “um gênio” em sua área de atuação se ninguém entende o que você fala.
Suas ideias brilhantes pouco lhe valerão alguma coisa se, na hora de apresentá-las ao
público, não souber ordená-las de forma convincente, e argumentar de maneira clara e
objetiva. Seu sucesso é do tamanho de suas habilidades de comunicação. Se você não ocupa
o lugar que acredita merecer, é porque ainda não aprendeu a comunicar ao mundo suas
habilidades. (LIMA, 2015, p. 1)
Isso tudo não significa, de forma alguma, que o conhecimento gramatical seja dispensável ou
visto como algo menos importante. Não mesmo. Significa, isso sim, que o grau de
competência comunicacional de um indivíduo vai além desse importante conhecimento. O
conhecimento gramatical apenas está ligado a um rol muito maior de destrezas no que se
refere à boa capacidade comunicacional, que podem ser desenvolvidas a partir da prática da
leitura, de exercícios de prática de escrita, do exercício de leitura em voz alta, de exercícios de
comunicação oral, como veremos mais para frente, quando tratarmos mais especificamente
dessa questão, entre outros, assim como uma visão atual e voltada para as inúmeras
demandas sociais da linguagem, como as estudadas anteriormente e que devem ser levadas
sempre em conta.
A forma como nos comunicamos é responsável pela primeira impressão causada sobre
nós em qualquer espaço, seja ele um ambiente de lazer ou organizacional.
Independentemente de suas habilidades, a primeira a ser testada é sua capacidade de
comunicação, pois dificilmente, em um processo seletivo, por exemplo, que exija uma
exposição escrita ou verbal, você será capaz, pelo curto tempo ou demais limitações, de
mostrar todo seu potencial técnico e todo seu conhecimento, que só serão revelados no
decorrer de suas práticas e de sua caminhada a partir de seu trabalho. Nesse primeiro
momento, a grande responsabilidade está na sua aptidão comunicativa e comportamental.
A história da humanidade nos mostra que o ser humano se relaciona com o mundo e
organiza o mundo, para si, por meio da linguagem, e que, dentre as várias formas de
linguagem, a palavra, verbalizada ou escrita, é a matéria-prima da formação de nosso saber
cultural, político, científico, filosófico, religioso e tecnológico. Ter a ciência de que a natureza
comunicacional do ser humano é uma complexa rede de relações e de variáveis, e que ela
sempre foi decisiva no desenvolvimento dos indivíduos e em sua posição social é um dado
indispensável para quem pretende traçar um caminho sólido (pessoais e profissionais) em
uma sociedade como a nossa.
Saber se relacionar é justamente perceber que todo ser humano possui uma personalidade
própria e, mais do que isso, saber respeitar essa singularidade, fazendo com que uma das
formas mais simples de compreendermos o que se denomina de relação interpessoal não
seja nada além do que uma disposição para a aceitação e compreensão do outro, visível na
maneira de olhar, de falar e de agir.
Fala e corpo
Saber se comunicar verbalmente, assim como na linguagem escrita, cada uma em suas
particularidades, é saber, em primeiro lugar, adaptar-se: apenas conhecendo o outro existe a
probabilidade de uma aproximação coerente. Cada situação exige uma estratégia própria.
Conforme Magda Soares (1999), é preciso adaptar o conteúdo da mensagem ao interesse do
ouvinte, e, junto a isso, ter a criatividade para motivar. O entusiasmo, de acordo com a
autora, é uma espécie de combustível da expressão verbal, nunca esquecendo a observação,
a teatralização, a síntese, o ritmo, a voz, a respiração, a dicção, o vocabulário e a expressão
corporal. Cada espaço e grupo de pessoas exige uma determinada postura, uma
determinada cadência, um determinado nível técnico etc. Para isso, no entanto, a
necessidade de autoconhecimento torna-se, da mesma forma, uma importante ferramenta.
Conhecendo bem o outro e conhecendo bem a si mesmo você terá a possibilidade de se
ajustar perfeitamente as mais diversas necessidades.
Conhecer não só suas potencialidades, mas também suas fragilidades, permite, a você, uma
possibilidade maior de organização na hora de comunicar. Faz com que você possa jogar
melhor com essas questões, destacando aquilo que lhe traz benefícios no momento da fala e
minimizando aquilo que você considera como ponto fraco seu, proporcionando-lhe mais
confiança. Estar confiante faz com que sua mensagem saia de forma mais precisa e assertiva.
Se você costuma tremer as mãos, por exemplo, evite segurar qualquer objeto enquanto está
falando. Fazendo isso, você saberá que as pessoas não irão perceber e, assim, ficará mais
tranquilo. Apenas você sabe o que é melhor para sua comunicação, como, em outro
exemplo, se é melhor para você (havendo ambas as possibilidades) estar em pé ou sentando,
dentre outros tantos detalhes.
Todos nós sabemos que nossos movimentos e expressões revelam aqueles que estão nos
ouvindo toda nossa ansiedade e insegurança, e trabalhar sobre isso é necessário. A
confiança, ou melhor, a autoconfiança, essencial à comunicação oral, nada mais é do que o
resultado de um autoconhecimento e uma reflexão sobre si. Somente assim, conhecendo
melhor a si próprio, você poderá criar mecanismos e estratégias que inibam aqueles detalhes
que você considera problemáticos em sua forma de se comunicar oralmente.
Não esqueça, crie suas estratégias para se comunicar melhor e com mais tranquilidade.
Existem pessoas, por exemplo, que pecam pelo excesso de informalidade ou de formalidade,
e precisam, a partir dessa constatação, ajustar o discurso, a postura e tudo o que se liga
diretamente a questões de adaptação, conforme já́ menciona- mós e discutimos mais de
uma vez, e de empatia, que nada mais é do que a sensibilidade de se colocar no lugar do
outro. Fazer essa leitura de forma coerente é essencial. Há inúmeras técnicas para o
desenvolvimento da oralidade, mas também existe a necessidade de uma forte sensibilidade
em relação a esse processo, para que, a partir dessa percepção, os ajustes sejam feitos e o
canal de comunicação seja devidamente estabelecido.
Por outro lado, se o domínio do tema é deficitário, as frases tendem a ser menos assertivas e
eficazes, geralmente permeadas por uma prolixidade desnecessária e evidente, próprio dos
discursos que possuem mais tempo a ser preenchido do que assunto a ser tratado, e o olhar
do comunicador parece nunca se fixar em nada, mantendo-se em fuga e geralmente para
baixo. Isso coloca você̂ em uma posição de fragilidade, desprotegido em relação ao outro e
suscetível ao ataque de argumentos contrários.
É comum, quando estamos nos preparando para algum tipo de fala ou apresentação,
treinarmos previamente não apenas nosso texto, mas também nossos trejeitos: como nos
posicionaremos, que tipo de material de apoio fará parte de nossa explanação etc. Porém,
por mais que exercitemos nossa apresentação, nada simula verdadeiramente o local (o
espaço) e o momento de contato direto com o público ou com a pessoa com quem vamos
falar.
Por isso, e principalmente se não for um espaço comum a você, é fundamental chegar antes
para que haja uma familiarização com o ambiente. Observe-o, caminhe um pouco, faça uma
espécie de reconhecimento do território em que atuará. E mesmo se o lugar for de seu
convívio, como em seu ambiente de trabalho ou em uma sala de aula de sua universidade, na
qual irá apresentar um trabalho aos colegas e professores, chegue mais cedo, teste seu
material, seus recursos tecnológicos etc. Chegar muito próximo do início ou atrasado para
um compromisso desse tipo, seja uma reunião, uma seleção de emprego ou mesmo a
exposição de um trabalho acadêmico, faz com que seu nível de estresse se eleve muito, e
dificilmente você conseguirá se recompor, pois não terá tempo para se acalmar. Chegar
antes possibilita a você, também, conversar de modo mais informal com a pessoa ou as
pessoas para quem irá falar, fazendo, assim, com que seu primeiro contato não seja o exato
momento de sua comunicação. Isso abre o canal, possibilita testá-lo, observar o humor das
pessoas, entre outros detalhes.
Saber falar, mas também saber ouvir: o diálogo como base da boa
relação pessoal e profissional
Em um diálogo, ninguém está tentando ganhar. Todo mundo ganha se alguém ganhar. Há
uma espécie de jogo diferente quando se dialoga. Trata-se de um jogo onde não há
tentativas de ganhar pontos ou de fazer prevalecer um lado. Ao invés disso, sempre que um
erro é descoberto por parte de alguém, todo mundo sente ter ganho. É um jogo chamado
ganha-ganha, enquanto o outro jogo é chamado ganha–perde. No diálogo não estamos
jogando uns contra os outros, mas todos com todos. (BOHM, 2017, p. 09)
Enquanto em uma discussão ou em um debate o oponente é derrotado, no diálogo, os
participantes deixam um pouco de lado suas convicções e mostram um nível mais elevado de
escuta e de compreensão. Um bom relacionamento em grupo depende exatamente disso, de
saber dialogar, adotar um modo de pensamento participativo, não competitivo. É comum
encontrarmos pessoas que não concordam com nossas ideias, e somente o diálogo será
capaz de fazer com que haja compreensão de ambas as partes e, inclusive, aprendizagem. De
acordo com Gustavo Matos (2006, p. 12), “a cultura do diálogo é construída pela disposição
de abertura, ao mesmo tempo íntima e coletiva, para a comunicação”, o que gera
produtividade.
Dialogar requer justamente o exercício de alteridade, de personalidade, de ética, de
autoestima e principalmente de empatia. Não é uma tarefa fácil. É dar liberdade ao outro,
aceitar diferentes perspectivas, possibilitar a você mesmo a revisão de suas convicções e,
mais ainda, buscar e oferecer, mesmo no pensamento diverso, conexão com o seu, o que
possibilita o crescimento mútuo. Dialogue. Dialogue sempre. Fale, mas também ouça. Não
exija apenas que te ouçam. Ceda, também, espaço para a voz alheia.
ARGUMENTAÇÃO E
PRODUÇÃO ESCRITA
A proficiência na expressão
escrita e o êxito acadêmico
e profissional
Muitos acreditam que quem escreve bem são
somente algumas raras pessoas ou escritores, isto
é, aqueles que escrevem livros. Mas isso não é
verdade. Todos nós podemos escrever bem, com
criatividade e domínio dos aspectos da língua
culta. E, para isso, devemos praticar a escrita, uma
vez que só aprendemos a escrever bem,
escrevendo.
O que é argumentação?
A argumentação é uma tipologia discursiva que é marcada pela intenção do argumentador
de fazer o interlocutor admitir seu ponto de vista ou simplesmente fazer o argumentador
defender a pertinência de seu próprio ponto de vista. Com isso, o ato de argumentar é visto
como o ato de persuadir ou convencer alguém. Sempre que argumentamos, temos o intuito
de convencer alguém a pensar como nós.
Interrogação:
Defi nição:
Alusão histórica:
Citação:
Comparação:
Desenvolvimento: defesa da tese
Consiste na apresentação dos argumentos que fundamentam a tese apresentada na
introdução, por meio de razões ou provas, que podem ser por fatos, exemplos, ilustrações,
dados estatísticos, testemunhos, comparações, alusões históricas, entre outros. Os
argumentos de um texto são facilmente localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por
quê? Para elaborarmos um desenvolvimento com qualidade, podemos escolher entre os
tipos de ordenação, os quais variam conforme o objetivo do argumentador (GUIMARÃES,
2012):
Argumento de consenso:
Você já deve saber que, além do respeito às regras gramaticais, uma das características do
texto argumentativo é a impessoalidade da linguagem. Texto impessoal significa que deve
ser evitado o discurso na primeira pessoa do singular (eu) e adotar o uso da primeira pessoa
do plural ou da terceira pessoa do singular ou do plural. Expressões como: nossas
conclusões, procuramos demonstrar, o governo não entregou, aprende-se na escola,
cientistas reconhecem, os parlamentares votaram.
O machismo e a misoginia são promovidos pela própria sociedade. Meninas são ensinadas a
aceitar a submissão ao posicionamento masculino, ainda que estejam inclusas agressões e
violência, do abuso psicológico ao sexual. Os meninos, por sua vez, têm seu caráter
construído conforme absorvem valores patriarcais e abusivos, os quais serão refletidos em
suas condutas ulteriores.
Um dos conceitos filosóficos de Francis Bacon, que declara o comportamento humano como
contagioso, se aplica perfeitamente à situação. A violência de gênero, conforme continua a
ser reproduzida, torna-se enraizada e frequente. Concomitantemente, a voz das mulheres é
silenciada e suas manifestações são reprimidas, o que favorece o mantimento das atitudes
misóginas.
Comentários
O texto está estruturado em cinco parágrafos, organizados em blocos temáticos
independentes, mas bem articulados entre si. Apresenta as três estruturas básicas:
introdução, desenvolvimento e conclusão.
Nos segundos, terceiro e quarto parágrafos, que fazem parte do desenvolvimento, a autora
confirma e justifica sua tese por meio de argumentos. No segundo parágrafo, por meio de
exemplificação, analisa e critica o ensinamento das meninas e meninos. No terceiro
parágrafo, por meio de argumento de autoridade, legitima a sua tese citando Francis Bacon,
demonstrando conhecimento sociocultural. No quarto parágrafo, a autora reforça o seu
ponto de vista, apresentando ter informações relacionadas ao papel da educação, dos
veículos de comunicação e de instituições que reforçam a desigualdade entre os gêneros e o
preconceito contra a mulher.
Para a conclusão, no último período, a autora aponta uma perspectiva de solução para a
situação-problema, esta apresentada na tese e defendida nos argumentos do
desenvolvimento. A transição entre o desenvolvimento e a conclusão é feita pelo recurso
coesivo “diante do exposto”.
Você deve ter observado que a autora demonstra domínio da modalidade escrita formal da
Língua Portuguesa, tanto pelas estruturas linguísticas construídas como pela seleção lexical.
Além disso, o texto é objetivo, claro e impessoal, omitindo marcas de subjetividade no
discurso.
Ler e compreender um texto envolve apreensão dos significados nele contidos e capacidade
de relacionar o lido às experiências/conhecimentos pré-existentes no “mundo” já conhecido.
Freire (1988) explica essa habilidade intrínseca ao ato de ler quando afirma que “a leitura do
mundo precede a leitura da palavra” e, assim, “linguagem e realidade se prendem
dinamicamente”.
Sem dúvida, o leitor, ao construir o sentido do texto, baseia-se em seus valores sociais, seus
conhecimentos prévios e suas experiências de vida. Tal tarefa exige muitas habilidades
ligadas aos processos mentais que viabilizam a compreensão. Para entender um pouco
melhor esses processos, leia o seguinte texto:
Esse trabalho consciente na busca das conexões textuais é a atividade de interpretação. Por
meio dela, você foi conduzido a comparar os dois textos por meio das três questões que
orientaram o seu raciocínio de forma intertextual. Já a compreensão, como destaca Leffa
(2012, p. 267), “é vista como uma camada subterrânea, invisível e impregnada de conexões
possíveis”, ou seja, compreender abre um leque de outras percepções e entendimentos que
as questões dadas não alcançam.
Nessa perspectiva, texto é lugar de interação, são os enunciados concretos que se realizam
nas práticas sociais vivenciadas diariamente. É no contato com o texto que construímos o
processo pessoal da leitura, por meio de fatores especialmente ligados às habilidades de ler
e interpretar.
Koch e Elias (2010) destacam os seguintes fatores como essenciais ao
processamento textual:
Conhecimento linguístico
O conhecimento linguístico refere-se ao conhecimento gramatical e lexical necessários para a
compreensão dos recursos utilizados na organização do que se lê. Abrange o conhecimento
do vocabulário, das regras da língua e dos seus usos. Ou, como destaca Leffa (2012), é a
tradução do código; o que significa afirmar que o leitor aplica seus conhecimentos, acerca do
código linguístico, na tarefa de decifrar o texto a ser lido.
Conhecimento enciclopédico
O conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo, por sua vez, está ligado aos
conhecimentos gerais sobre o mundo, relativos a vivências pessoais e eventos já arquivados
na memória que são evocados na tarefa de produzir sentidos. Para exemplificar, leia o
excerto a seguir retirado do texto “Para que servem as ficções?”, de Contardo Calligaris:
Cresci em uma família em que ler romances e assistir a filmes, ou seja, mergulhar em ficções, não
era considerado uma perda de tempo. Podia atrasar os deveres ou sacrificar o sono para acabar
um capítulo, e não era preciso me trancar no banheiro nem ler à luz de uma lanterna. Meus pais,
eventualmente, pediam que organizasse melhor meu horário, mas deixavam claro que meu
interesse pelas ficções era uma parte crucial (e aprovada) de minha "formação". Eles sequer
exigiam que as ditas ficções fossem edificantes ou tivessem um valor cultural estabelecido. Um
policial e um Dostoievski eram tratados com a mesma deferência. Quando foi minha vez de ser
pai, agi da mesma forma. Por quê?
Contardo Calligaris
Perceba que, neste trecho, Calligaris faz referência a Dostoievski, autor russo do clássico
“Crime e Castigo”. E não o faz por acaso. No texto, elabora uma comparação entre qualquer
romance do gênero policial (sem citar obra ou autor) e um Dostoievski, no intuito de frisar
que as leituras eram tratadas com a mesma importância pelos pais, independentemente do
seu valor cultural ou possíveis ensinamentos. Nesse sentido, se o leitor tem essas
informações na sua memória, consegue processar melhor as intenções do texto, bem como a
argumentação construída pelo autor. Além disso, fica mais fácil chegar ao significado de
“deferência”, caso o leitor desconheça o termo.
Conhecimento interacional
Por último, o interacional é o conhecimento das formas de interação por meio da linguagem.
Esse tipo de conhecimento refere-se à capacidade de compreender os objetivos do autor, a
situação comunicativa em que o texto se insere e a variante linguística empregada; o que
também inclui a percepção do gênero textual quanto, por exemplo, aos seus aspectos
estruturais e à sua função social.
Trata-se evidentemente de horóscopo. Mas o que permite ter certeza disso? A forma de
estruturação do texto, o diálogo com o leitor no intuito de orientá-lo em suas ações ou ainda
a estruturação curta, pois equivale aos conselhos para o dia. Essas marcas são as
interacionais, mas só se tornam eficientes se o leitor souber a que signo se refere (Touro) e o
período de nascimento que o identifica (21 de abril a 20 de maio).
Compreender um texto, portanto, exige que o leitor aplique vários tipos de conhecimento
necessários à leitura. Nessa tarefa de produção de sentidos, o conhecimento prévio é
essencial, posto que “no processo de compreensão, desenvolvemos atividades inferenciais”
(MARCUSCHI, 2008, p. 239). Mas o que são as atividades inferenciais?
Inferência consiste no resultado de um processo cognitivo por meio do qual uma informação
nova é gerada com base em uma informação velha, ou seja, chega-se à conclusão de algo a
partir de um dado conhecimento. São, pois,
conexões que as pessoas fazem na tarefa de
interpretar o que leem.
O pesquisador Jorge Yudice (p. 91) chamou a atenção para o modo como empresas de mídia
estão usando essa estratégia para atingir os consumidores de mídia de forma personalizada,
através de fenômenos como o streaming, que permite disponibilizar conteúdo on-line, o qual
é acessado pelo usuário quando e como ele decidir, desde que pague uma taxa mensal ou
anual. Plataformas de filmes e séries como Netflix, de música como Deezer e mesmo de
livros como Amazon ou Scribd são exemplos do uso desse recurso. Nas palavras de Yúdice,
Enquanto as redes de televisão oferecem programas que nem todo espectador quer ver e
precisam desenvolver estratégias para manter a atenção desses espectadores ao longo de
uma noite, para assim alcançar bons ratings e, portanto, anunciantes, os novos serviços de
streaming e OTT (over-the-top content ou conteúdo transmitido sem a intervenção de um
operador) oferecem o que e quando os espectadores querem ver, sem se preocuparem com
a publicidade.
Essa dispersão na produção e na recepção, típica das mídias digitais, ocorre porque a
digitalização permite que um mesmo conteúdo migre entre muitas plataformas, tornando
flexíveis as condições de tempo e espaço para os processos comunicativos. Lister et al. (2009,
p. 19) sintetizam essa característica afirmando o seguinte:
As mídias analógicas tendem a ser fixas, ao passo que as mídias digitais tendem a um
estado permanente de fluxo. [...] As mídias digitais também existem como uma cópia física
analógica, mas quando o conteúdo de uma imagem ou texto está digitalizado, fica
disponível como uma sequência de números binários armazenados na memória de um
computador.
Por exemplo, se eu leio uma notícia interessante em algum jornal on-line, posso transmiti-la,
a qualquer momento, através de sites de redes sociais, mas também posso enviá-la
diretamente para apenas alguns de meus contatos por e-mail ou através de outros canais.
Além disso, também é possível enviar livros inteiros, filmes, músicas – desde que estejam
digitalizados –, por e-mail, através de sites das redes sociais ou de outras plataformas
compatíveis. Em poucos termos, a notícia flui através de muitas plataformas porque consiste
em conteúdo digitalizado (bits, pixels). Portanto, pode-se dizer que, de certo modo, o
conteúdo digital é volátil, no sentido de que não está preso ou fixo a um único suporte ou
plataforma, o que não significa que seja instável, pois sempre que for acessado, estará
disponível de modo idêntico, independentemente do suporte utilizado para o acesso (por
exemplo, um celular, um tablet, um desktop).
Outra característica forte da linguagem no espaço das mídias digitais é o uso de signos
visuais mesclados à linguagem verbal, principalmente os assim chamados emoticons.
Dessa forma, ocorre um hibridismo entre a linguagem verbal e a linguagem visual quando
nos comunicamos através de plataformas digitais.
Conforme esclarece Anderson Cristiano da Silva, (p. 98), para alguns professores, o Internetês
compromete o aprendizado da língua portuguesa padrão, mas outros acreditam que “toda
forma de comunicação é válida, com a ressalva de que é preciso que os alunos estejam
atentos para que a linguagem virtual não extrapole situações que exigem o uso do português
padrão culto.” Em poucos termos, embora algumas pessoas considerem esse tipo de
linguagem como “errada”, em nossa perspectiva, trata-se de uma “variação linguística” válida
em contextos comunicativos informais do ambiente digital, como os chats, os e-mails, as
mensagens rápidas em redes sociais e outros canais.
Entretanto, é muito importante que você saiba que essa linguagem não é adequada em
contextos formais de comunicação, como, por exemplo, em uma redação acadêmica, em um
documento oficial vinculado ao ambiente de trabalho, entre outros tantos espaços que
exigem o domínio da norma padrão da língua escrita. A pesquisadora Ana Elisa Ribeiro
sintetiza essa discussão, afirmando que o problema não é utilizar linguagem de internet para
se comunicar, mas dominar apenas um modo de operar com textos:
A remixagem e os memes
Como esclarece o pesquisador Henry Jenkins (2014), cada vez mais, a tecnologia digital tem
sido desenvolvida de modo a facilitar a convergência das mídias e o compartilhamento dos
conteúdos. Segundo Jenkins, essa lógica tem estimulado um modelo mais participativo de
cultura, que vê o público não simplesmente como consumidores de mensagens pré-
construídas, mas como pessoas que estão formando, compartilhando, reconfigurando e
remixando os conteúdos de mídia de modos que anteriormente não poderiam ser
imaginados. E as pessoas não estão fazendo isso como indivíduos isolados, mas dentro de
comunidades maiores e de redes, o que lhes permite espalhar conteúdos muito além de sua
proximidade geográfica imediata.
O remix (ou remixagem, em português) é uma dessas práticas às quais se refere Jenkins,
tendo se tornado tão popular no ambiente digital que a revista Wired (julho de 2005) chegou
a afirmar que estamos vivendo “na era do remix”. O pesquisador Chris Barker (2011)
esclarece que, em geral, o remix envolve as funções de “cortar e colar”, mas também
processos mais complexos para desconstruir e reconstruir conteúdos dos mais diversos
campos da cultura, desde obras de arte, literatura, filmes, animação e música. A intenção do
remix é sempre produzir algo novo e distinto a partir das formas pré-existentes, sejam elas
animações, filmes, charges, fotos ou canções. Nas palavras de Dudeney, Hockly e Pegrum
(2016, p. 54),
o remix pode implicar mudar o slogan de um anúncio para subverter a mensagem original.
Pode envolver o uso de Photoshop em determinada imagem de uma figura política numa
foto anterior para lançar nova luz sobre a política que ela pratica. Pode acarretar mashing
up, isto é, combinar duas canções preexistentes para criar um diálogo inesperado entre
duas letras. Pode incluir dublar ou legendar criativamente um filme para surpreender os
espectadores. O remix é um jogo de saber, no qual as reivindicações de verdade
frequentemente não têm lugar. E, como em todos os outros jogos, tem a ver com diversão
ao longo do trajeto.
Um exemplo recente muito popular de canção que foi submetida a inúmeros processos de
remixagem é Despacito, composta originalmente pelo cantor porto-riquenho Luis Fonsi e o
rapper Daddy Yankee. Recentemente, circularam inúmeras versões remixadas da letra e da
coreografia dessa canção, através das redes sociais, geralmente remetendo a vídeos no
Youtube. Algumas remixagens que ficaram muito populares incluem versões com os
personagens da animação Minions, versões em japonês, alemão e inclusive adaptações com
a música nativista gaúcha.
Outro fenômeno típico do ambiente virtual são os assim chamados memes, conteúdos
capazes de despertar o interesse de um número gigantesco de pessoas conectadas à rede –
principalmente nas redes sociais – e que, por isso, são compartilhados e difundidos de forma
vertiginosa. O vídeo da escocesa Susan Boyle, já citado anteriormente, é um exemplo de
meme, mas também algumas remixagens de Despacito. Alguns memes são construídos com
técnicas de remixagem, embora outros sejam gravações de situações do cotidiano ou
fragmentos de canções ou programas televisivos. Popularmente, afirma-se que um conteúdo
se transformou em meme quando foi viralizado, o que remete a uma metáfora do campo da
Biologia.
Versões mais recentes de livros digitais incluem também os assim chamados book apps
(também chamados de livros-aplicativos ou livros interativos). Ao passo que o e-book é um
arquivo que pode ser replicado e enviado através de e-mail e das redes sociais, o livro
interativo é um tipo de software de aplicação que precisa ser baixado de lojas como iTunes,
Google Play ou do site de alguma editora independente. Juntamente com os traços
tradicionais dos e-books, tais como texto e imagens mostrados de forma digital, ícones de
navegação e telas iniciais, por exemplo, os livros interativos também permitem mover
imagens e letras com o toque dos dedos, iniciar pequenas animações, ouvir músicas e efeitos
sonoros que acompanham as narrativas. Eles também permitem ouvir a história ao invés de
lê-la, pois estão equipados com dispositivos de leitura automática. Em poucos termos, os
livros interativos estão dotados de recursos de hipermídia, multimídia e interatividade.
Na era das tecnologias digitais, contudo, ficou muito mais fácil criar e participar de redes
sociais, pois, como esclarece a pesquisadora Raquel Recuero,
enquanto no mundo off-line, manter uma conexão social, seja forte ou fraca, necessita
investimento de atenção, sentimento etc. tanto para a sua criação quanto para a sua
manutenção, nos sites de rede social as conexões são inicialmente mantidas pela própria
ferramenta [...]. Mesmo que nenhuma interação ocorra, a menos que um dos atores delete
a conexão, esta, uma vez estabelecida, permanece.
Os sites de rede social, portanto, influenciam as nossas redes sociais na medida em que
possuem modos particulares de funcionamento. Devido ao fato de agregarem uma
quantidade imensa de pessoas conectadas em redes e por contarem com tecnologia digital,
esses sites proporcionam uma facilidade antes impensada de compartilhamento de
informações, transformando-se, dessa forma, em um dos espaços mais importantes da
atualidade para a difusão de todos os tipos de conteúdo, desde notícias muito relevantes até
informações deliberadamente falsas e discursos violentos.
Alguns pesquisadores, como Paula Sibilia (2016), demonstraram que as redes sociais da
internet incentivam o narcisismo e o culto ao eu, valores que têm se tornado cada vez mais
fortes na atual sociedade em que vivemos, voltada para o consumo.
Nesse sentido, as pessoas parecem cada vez mais interessadas em exibir suas próprias vidas
na rede, geralmente transmitindo a ideia de um protagonismo antes destinado apenas aos
famosos e exibindo uma felicidade construída e frequentemente artificial. Algumas das
práticas mais comuns, nesse sentido, são a exposição espetacularizada de tudo o que se faz
durante a maior parte do dia, fotos em situações sempre muito felizes – como viagens,
festas, encontros etc. –, além dos famosos selfies. Nas palavras de Sibilia (2016, p. 42),
afinal, o que se busca ao se exibir nas redes? Seduzir, agradar, provocar, ostentar,
demonstrar aos outros – ou a alguém em particular – o quanto se é belo e feliz, mesmo que
todos estejam a par de uma obviedade: o que se mostra nessas vitrines costuma ser uma
versão "otimizada" das próprias vidas. Nessa performance de si, cada usuário faz uma
cuidadosa curadoria do próprio perfil visando a obter os melhores efeitos na maior
audiência possível.
Independentemente das razões que nos levam a participar das redes sociais da Internet, é
muito importante levarmos em conta que, pelo simples fato de estarmos conectados a elas,
produzimos uma identidade on-line naquele espaço, que alguns pesquisadores denominam
de identidades digitais. Elas são formadas pelas informações que disponibilizamos nos perfis
das plataformas das redes sociais, sites e blogs, mas também pelo tipo de conteúdo que
produzimos, postamos e compartilhamos nesses espaços. É cada vez mais comum, no
mundo em que vivemos, que empregadores utilizem essas informações, juntamente com
outros critérios, para selecionar candidatos a vagas de trabalho. Por essa e outras razões,
antes de compartilhar conteúdo, você deve refletir sobre como quer ser conhecido e
reconhecido on-line.
Alguns pesquisadores (Recuero, 2012) têm demonstrado que as redes sociais da Internet
também são um espaço onde se produz e se adquire capital social, um tipo de valor ou
benefício obtido através do pertencimento a um ou vários grupos sociais. Esse aspecto
aponta para o imenso potencial dos sites de redes sociais como espaço para a educação,
para o crescimento pessoal e para o desenvolvimento da carreira profissional.
Recuero esclarece que o capital social tem um duplo aspecto, pois, de um lado, é preciso
investimento nas relações sociais para, apenas num segundo momento, obter os benefícios
advindos dessas relações. Em outros termos, o capital social está relacionado com o
investimento que cada pessoa está disposta a realizar nas redes, o qual, por sua vez, está
relacionado com as expectativas de retorno. Nesse sentido, a maior parte das pessoas
conectada nas redes parecem estar interessadas em obter recursos como reputação,
visibilidade, popularidade, conhecimento, suporte social e laços sociais. Os principais
investimentos para atingir esse capital, por sua vez, geralmente demandam a criação e a
manutenção das conexões (que pode acontecer através de conversações ou outras
atividades de interação com os contatos), a construção de um perfil e o compartilhamento
constante de recursos na rede (conteúdos e informações).
Isso nos leva a concluir que, acima de tudo, é necessário aprender a se relacionar nas redes
mediadas pela internet, investindo em práticas que nos tragam benefícios como informação
atualizada e de qualidade, fortalecimento de nossas relações sociais, entretenimento.
Por outro lado, é importante saber que a linguagem escrita também possui uma dimensão
visual que se manifesta, por exemplo, quando dizemos que a letra de uma pessoa é bonita,
feia, legível, ilegível. Além disso, com recursos de computação, podemos mudar e manipular
facilmente as fontes das letras que usamos para digitar um texto, às vezes, apenas por
questões estéticas, mas também para expressar algum significado adicional. Na comunicação
mais informal que predomina em redes sociais da internet ou em aplicativos como o
Whatsapp, as pessoas costumam utilizar a visualidade das letras para expressar emoções ou
para criar efeitos estéticos nas mensagens. Por exemplo, se alguém faz um convite para ir a
um restaurante ou a uma festa, é possível reagir de várias maneiras, algumas muito
empolgadas e outras muito negativas: repetindo a mesma letra, usando maiúsculas ou
minúsculas, acrescentando sinais de pontuação, mudando o tipo de fonte, mudando a cor
das fontes.
O uso do ponto de exclamação pode acrescentar uma dimensão mais afetiva a uma
afirmação ou a uma resposta.
Geralmente, escrever com todas as letras maiúsculas acrescenta intensidade a uma resposta.
O ponto de exclamação aumenta ainda mais essa intensidade.
Outra maneira de enfatizar uma resposta, acrescentando uma dimensão emotiva, é repetir
uma das letras ou um ponto de exclamação várias vezes.
Como você percebeu a partir desses exemplos, a visualidade da linguagem escrita pode
agregar sentidos emotivos e contextuais às mensagens.
Embora na linguagem formal isso seja pouco adequado, o uso da visualidade das letras é
utilizado intencionalmente como forma de expressão em alguns tipos de discurso, não
apenas na linguagem informal das redes sociais, mas também na publicidade e na literatura,
especialmente na poesia.
Para vender uma versão do refrigerante Coca-Cola que vinha em uma garrafa de gelo (e não
de vidro), os publicitários que criaram a peça que está no hiperlink fizeram uso da estética
visual das letras que compõem o enunciado em espanhol "Fría hasta la última gota" (Fria até
a última gota).
Nesse caso, chama atenção principalmente o contraste entre o uso da cor branca para as
palavras “frio; até; gota” e o uso do preto para “a última”. O objetivo provavelmente é
ressaltar a ideia de frescor dessa embalagem com o uso do branco associado ao frio, de um
lado, e, de outro, associar a palavra “última” ao próprio líquido, que é preto.
Nesse sentido, é possível modificar as formas, cores, tamanhos, disposições das letras no
espaço da página, entre outras possibilidades, de modo a criar efeitos estéticos e sentidos
literários surpreendentes. Trata-se de uma maneira criativa e prazerosa de exercer a
criatividade artística e literária. Observe como o poeta português E. M. Melo e Castro, no
poema Pêndulo , conferiu dinamismo e iconicidade à palavra pêndulo unicamente através da
disposição das letras, criando um belo e sugestivo poema visual.
O processo de significação das imagens
Para compreender o processo de significação de uma imagem, é importante pensar,
primeiro, sobre como nós compreendemos as palavras.
Devido à semelhança que mantêm com os objetos que representam, a compreensão das
imagens seria, aparentemente, mais fácil do que a compreensão das palavras faladas ou
escritas. No entanto, isso é verdadeiro apenas em parte, pois o que compreendemos, de
imediato, em uma imagem, é apenas o seu significado mais óbvio, que pode ser chamado de
significado literal ou denotativo, mas não os seus significados conotativos, simbólicos,
culturais e ideológicos.
Por exemplo, as casas das imagens são diferentes umas das outras, apontando para
diferentes culturas, sociedades, tecnologias de construção, classes sociais etc. Para
compreender esses significados mais amplos, você também precisaria aprender sobre as
culturas e as sociedades onde cada uma dessas casas foi construída.
No caso de imagens artísticas, embora seja possível reconhecer imediatamente o significado
denotativo de “casa”, para compreender os seus significados conotativos você precisaria
pesquisar e aprender um pouco sobre os códigos estéticos e artísticos de cada pintor que as
produziu.
Como interpretar diagramas ou
gráficos?
Podemos afirmar que o diagrama é uma imagem criada como a
representação gráfica de alguma informação que se quer veicular e não de um objeto físico.
A compreensão desse tipo de signo demanda, portanto, que você faça um exercício para
entender a relação entre a forma visual da imagem e a informação que essa forma visual
representa.
Um exemplo bastante simples de diagrama são os mapas, que, em última análise, não
passam de representações visuais de determinados espaços geograficamente definidos.
Ao pensar no território brasileiro, por exemplo,
provavelmente a primeira imagem que vem à sua mente é o
mapa do Brasil. Mas existem muitos outros tipos de diagramas,
alguns muito simples e outros mais complexos.
Representações diagramáticas muito simples são, por exemplo, flechas alinhadas uma do
lado da outra para representar a ideia de sequência, progressão ou evolução, círculos
fatiados para indicar a ideia de comparação ou proporção entre partes, colunas para criar
grupos, classificar ou hierarquizar informações, entre tantas outras possibilidades.
Por outro lado, utilizando diferentes imagens articuladas entre si em um mesmo diagrama, é
possível não apenas representar visualmente ideias mais complexas e sofisticadas, mas
também tornar a sua compreensão mais simples e mais rápida.
Na prova do ENADE de 2014, por exemplo, uma das questões gerais colocadas para os
estudantes perguntava sobre a relação entre a pegada ecológica e a biocapacidade do
planeta: se for maior que 1, a exigência humana sobre os recursos disponíveis em nosso
planeta é mais alta do que a capacidade que o planeta possui para se recuperar. Como você
pode observar no gráfico abaixo de antes de 1975, as colunas estão na cor verde e abaixo da
linha divisória que marca o número 1. Depois de 1975, por sua vez, as colunas se invertem e
passam a ser representadas em vermelho. O que isso significa? De forma muito simplificada,
esse gráfico revela que, desde 1975, estamos usando gradativamente mais recursos naturais
do que nosso planeta consegue prover!
Pegada ecológica X Biocapacidade do planeta.
Devido à sua incrível capacidade de sistematizar e esquematizar um grande volume de
informação de forma rápida e simples, os gráficos estão presentes em muitas dimensões de
nossa vida letrada, sendo também muito utilizados em provas e testes. Por isso, é muito
importante que você aprenda a interpretá-los corretamente.
Primeira, o destino final de toda mercadoria colocada à venda é ser consumida por
compradores. Segunda: os compradores desejarão obter mercadorias para consumo se, e
apenas se, consumi-las for algo que prometa satisfazer seus desejos. Terceira: o preço que o
potencial consumidor em busca de satisfação está preparado para pagar pelas mercadorias
em oferta dependerá da credibilidade dessa promessa e da intensidade desses desejos.
Essa facilidade para produzir imagens (e outros tipos de texto) a partir de conteúdos já
disponíveis nos espaços digitais levou alguns teóricos a afirmar que estamos vivendo na
cultura da remixagem, pois, conforme afirma o teórico das mídias Henry Jenkins, basta um
conteúdo digital ser propagado para que seja refeito:
Quando o material é propagado, ele é refeito: seja literalmente, ao ser submetido aos vários
procedimentos de remixagem e sampleamento, seja figurativamente, por meio de sua
inserção em conversas em andamento e através de diversas plataformas. (JENKINS, 2014, p.
54)
Os processos de remixagem e sampleamento a que se refere Jenkins significam que as
pessoas utilizam amostras, partes ou fragmentos (samples, em inglês) de imagens retiradas
da internet para construir seus próprios textos visuais, mas também sonoros ou multimídia.
Quando uma remixagem se torna tão popular que é replicada de forma vertiginosa, passa a
ser chamada de meme.
Para finalizar, é importante afirmar que grande parte das produções remixadas e dos memes
que circulam na Internet se destinam ao entretenimento. No entanto, a facilidade para
remixar e propagar imagens no ciberespaço também tem levado à proliferação de imagens
manipuladas com o objetivo de difamar e estigmatizar certas pessoas e grupos sociais,
frequentemente estimulando a cultura do ódio e do preconceito.
Por isso, antes de replicar qualquer conteúdo imagético, lembre-se sempre de que é muito
fácil manipular imagens no mundo digital e que, talvez, aquilo que você está vendo na
imagem que lhe foi passada seja algum tipo de edição e pode estar servindo a algum
propósito pouco ético. Em síntese, antes de compartilhar, verifique sempre a origem e a
legitimidade do que está sendo propagado.