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DESCRIÇÃO

As teorias da argumentação e sua relação com a moral e o Direito.

PROPÓSITO
Compreender as teorias da argumentação e suas proposições na construção de critérios racionais para as práticas morais e jurídicas é
importante para sua formação, pois facilitará o exercício da aplicação e justificação de normas morais e jurídicas em situações concretas.

PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha à mão um dicionário de lógica e argumentação.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Identificar os principais elementos conceituais das teorias da argumentação de Chaïm Perelman

MÓDULO 2

Reconhecer os principais elementos conceituais das teorias da argumentação de Robert Alexy e Klaus Günther
INTRODUÇÃO
Aprenderemos a identificar os principais elementos teóricos de algumas das teorias da argumentação que tiveram forte influência nos
debates morais e jurídicos na atualidade. No módulo 1, estudaremos a Nova retórica dos filósofos Chaïm Perelman (1912-1984) e Lucie
Olbrechts-Tyteca (1899-1987). No módulo 2, reconheceremos os elementos das teorias da argumentação de Robert Alexy (discurso jurídico
como caso especial do discurso prático geral) e Klaus Günther (discursos de justificação e discursos de aplicação na moral e no Direito).

MÓDULO 1

 Identificar os principais elementos conceituais das teorias da argumentação de Chaïm Perelman

APRESENTAÇÃO
Antes de introduzirmos o pensamento filosófico de Chaïm Perelman, cabe apresentar um pouco de sua biografia.

Chaïm Perelman foi um filósofo, de nacionalidade belga, que nasceu em Varsóvia, capital da Polônia. Em 1944, Perelman se tornou professor
de lógica e metafísica na Universidade Livre de Bruxelas. Também foi coordenador da faculdade de Letras e diretor da Escola de Ciências da
Educação, e escreveu muitos artigos sobre a lógica da Matemática.

Ao longo de sua carreira, também foi secretário-geral da Federação Internacional das Sociedades de Filosofia, presidente da Sociedade
Belga de Filosofia e da Sociedade Belga de Lógica e Filosofia da Ciência. Foi, ainda, membro do corpo governante da Universidade Hebraica
e secretário-geral da Sociedade de Amigos Belgas da Universidade Hebraica.

Foto: Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos/ Wikimedia Commons/ Licença CC BY-SA 4.0
 Chaïm Perelman.

Em suas últimas obras, Perelman se dedicou aos temas da justiça e às formas do raciocínio discursivo e dedutivo. As principais estão
traduzidas para a língua portuguesa: Tratado da argumentação: a nova retórica (1996), escrito em conjunto com Lucie Olbrechts-Tyteca;
Retóricas (1999); Lógica jurídica (2000); Ética e Direito (2002).

LUCIE OLBRECHTS-TYTECA
Lucie Olbrechts-Tyteca foi coautora do Tratado da argumentação: a nova retórica em conjunto com Chaïm Perelman. Sua contribuição
para o desenvolvimento da retórica foi marcante, tendo ocupado posições em organizações civis hebraicas.


SAIBA MAIS

Além de suas obras principais, numa busca refinada na internet, em língua portuguesa, podemos encontrar pelo menos 49 mil referências
sobre Perelman. Lido nos programas de pós-graduação, em eventos acadêmico-científicos, bem como pelos juízes em suas práticas nos
tribunais, não seria equivocado afirmar que sua obra encontra espaço no pensamento jurídico brasileiro, estando ao lado de outros filósofos e
juristas como Hans Kelsen (1881-1973), Herbert L. A. Hart (1907-1992), Ronald Dworkin (1931-2013), Robert Alexy, Manuel Atienza, entre
outros.

NOVA RETÓRICA: UM LUGAR PARA A RAZÃO


Neste módulo sobre as teorias da argumentação, queremos mostrar a você que a argumentação possui uma estrutura racional que vai
além da forma científica e que exige uma compreensão acerca dos valores.

Fonte: Shutterstock.com

Se observarmos as práticas jurídicas em sua dinâmica social, poderemos ver que o raciocínio dedutivo e o formalismo da aplicação da norma
são suficientes para satisfazer às expectativas dos cidadãos em relação às suas instituições formais e aos valores com os quais podem se
engajar. O sentido das práticas jurídicas institucionais, sejam elas decisões judiciais ou proposições legislativas, não consegue ser
apreendido em sua completude pela demonstração científica, tampouco pelo silogismo dedutivo. Porém, se a demonstração científica não é
conformável às práticas jurídicas, poderíamos afirmar que estamos, então, num ambiente irracional?

Para responder a esse questionamento, as teorias da argumentação, jurídicas ou não, visam demonstrar que as práticas jurídicas, embora
não se apoiem única e exclusivamente em raciocínios dedutivos, são passíveis de outra racionalidade: a racionalidade discursiva da
argumentação.
Uma primeira e central resposta é dada com a Nova retórica de Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca (1996) que, nos próprios termos
de seus autores, constitui “uma ruptura com a concepção da razão e do raciocínio, oriunda de Descartes, que marcou com seu cunho a
Filosofia ocidental dos três últimos séculos”.

A Nova retórica pretende demonstrar que a razão pode percorrer caminhos diferentes, em que seja possível a articulação dos valores,
evitando, por um lado, sua negação (neutralidade cientificista), e, por outro, o relativismo, mantendo o cognitivismo segundo o qual os valores
possuem o predicado de verdade.

O prefácio de Michel Meyer à edição brasileira de 2002 resume:

Entre o ‘tudo é permitido’ e a ‘racionalidade lógica é a própria racionalidade’, surgiu a Nova retórica e, de um modo geral, toda a obra de
Perelman. Como atribuir à Razão um campo próprio, que não se reduz à lógica, demasiado estreita para ser modelo único, nem se submete
à mística do Ser, ao silêncio wittgensteiniano, ao abandono da Filosofia em nome do fim – aceito por Perelman – da metafísica, em proveito
da ação política, da literatura e da poesia? A retórica é esse espaço de razão, onde a renúncia ao fundamento, tal como o concebeu a
tradição, não se identificará forçosamente à desrazão. [...] A Nova retórica é, então, o ‘discurso do método’ de uma racionalidade que já não
pode evitar os debates e deve, portanto, tratá-los e analisar aos argumentos que governam as decisões.

A Nova retórica é, ao mesmo tempo, uma teoria da argumentação, mas, também, da razão colocada diante do pluralismo de valores que
nos permite ir além dos limites impostos pela ciência e lógica formal. Ao mesmo tempo, não nega a possibilidade de racionalidade ancorada
nos valores dos indivíduos que vivem em sociedade. Como ela, podemos ter uma racionalidade que se certifica a partir das razões dadas
pelos indivíduos que utilizam a força não coercitiva do melhor argumento – portanto, uma alternativa ao irracionalismo.

Importante destacar que o Direito não pode ser demonstrado única e exclusivamente pelo silogismo dedutivo, tampouco pelas evidências
empíricas reveladas pelos fatos brutos da natureza. Embora saibamos a estrutura do raciocínio válido no âmbito de uma argumentação
jurídica ou política, tomam corpo e forma as questões jurídicas que possuem em sua substância elementos valorativos que não se deixam
reduzir ao cálculo racional da lógica dedutiva.

Para resgatar a racionalidade dos valores, bem como estruturar um método capaz de organizar sua constituição, a Nova retórica retoma a
Retórica aristotélica entendendo que esta não conseguiu visualizar adequadamente o papel dos valores no discurso epidíctico.
Aristóteles divide os gêneros do discurso em três:

I
O judicial, voltado para a análise dos fatos, cujo tempo é o passado.

II
Deliberativo e político, voltado para o bem-estar da comunidade.

III
O epidíctico, voltado para os aspectos cerimoniais e apologéticos de situações presentes.

Segundo a Nova retórica , o discurso epidíctico não foi suficientemente explorado por Aristóteles, na medida em que o discurso deixou de
verificar que sua centralidade está pautada nos valores. O discurso judicial é circunscrito pelos fatos; o político pelas possibilidades ou não de
aumentar o bem-estar da comunidade; e ambos apresentam limites no que tange à relação entre orador e público. Tais limites são mediados
pela objetividade dos fatos que sustentam o conteúdo dessas modalidades de discurso. Todavia, o discurso epidíctico traz uma relação
diferente entre o orador e o auditório. Nele o auditório se relaciona diretamente com o orador, à medida que, no tempo presente, o público
precisa avaliar o discurso do orador.

Nessa relação direta, não existe o limite da “objetividade” dos fatos, das evidências, mas, sim, uma liberdade de avaliar se esses valores
foram ou não organizados de forma racional. Uma vez que o discurso epidíctico não está sujeito às questões passadas do fato, nem às
questões futuras do bem-estar, a audiência precisa julgar aqui e agora se o discurso do orador é válido ou não. Assim, os destinatários do
discurso, o auditório, são centrais na construção dos elementos persuasivos do orador.

A Nova retórica considera que:

Ao contrário da demonstração de um teorema de geometria, que estabelece de uma vez por todas um vínculo lógico entre verdades
especulativas, a argumentação do discurso epidíctico se propõe a aumentar a intensidade da adesão a certos valores, sobre os quais não
pairam dúvidas quando considerados isoladamente, mas que, não obstante, poderiam não prevalecer, contra outros valores que viessem a
entrar em conflito com eles. O orador procura criar uma comunhão em torno de certos valores reconhecidos pelo auditório, valendo-se do
conjunto de meios de que a retórica dispõe para amplificar e valorizar. [...] Os discursos epidícticos apelam com mais facilidade a uma ordem
universal, a uma natureza ou a uma divindade que seriam fiadoras dos valores incontestáveis. Na epidíctica o orador se faz educador.
(PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2002).

AUDITÓRIO
Para quem o orador, que exerce o papel de educador, articula a ordem universal dos valores? Qual é o seu público? Quem é o destinatário
de seu discurso? A Nova retórica considera que existem dois tipos de audiências, de auditórios: particular e universal.

Para a particular, temos que todo argumento é dirigido a uma audiência específica em que o orador tem de escolher quais são os fatos, as
informações e as abordagens que irão gerar a maior aderência possível. Por sua vez, o auditório universal tem como conteúdo os valores e
sua ordem. Ambos os auditórios não se constituem em algo fixo, pois dependem do orador, do conteúdo, dos propósitos, da audiência.

Auditório particular

Audiência específica a quem o orador endereça os argumentos.

Audiência física que está presente.

Fatos, verdades e presunções.


Auditório universal

Potencial para escutar e concordar com o discurso do orador.


Formada pelo maior número possível de pessoas razoáveis e competentes para concordar.

Valores.

Confira a seguir um exemplo de auditório particular:

EXEMPLO
Podemos agora verificar um público específico, tal qual uma turma de alunos a quem um professor se dirige; um grupo de pacientes a
quem o médico realiza sua clínica; um grupo de mecânicos a quem um piloto de Fórmula 1 passa um rádio; os eleitores a quem se dirige o
político; o tribunal a quem se dirige o advogado.

O auditório universal é uma construção mental e que não se confunde com a imagem de assembleia ou de uma vastidão de pessoas. É
importante que as razões trazidas sejam universais, que tenham em sua estrutura a universalização dos argumentos. A questão está em
endereçar as razões ao público universal. O auditório universal modela o discurso do orador em dois aspectos: o primeiro é que passa a ser
um mecanismo heurístico que calibra as escolhas dos argumentos selecionados pelo orador; o segundo é que passa a ser um critério de
seleção da qualidade do discurso que precisa ter aderência à qualidade do público. Ao propor argumentos passíveis de
universalização, é possível chegar a uma racionalidade universal capaz de persuadir o maior público possível.

Agora, entenda como o discurso é direcionado no auditório universal:

EXEMPLO
Um argumento endereçado à associação de desportos marítimos pode ser convincente para esses atletas específicos. Certamente, não fará
sentido para todos os cidadãos ou para aqueles que não estão relacionados com desportos marítimos. Todavia, nada impede que um
discurso dirigido a um auditório particular carregue potenciais argumentos para um auditório universal. Então, no mesmo exemplo, se
estivermos falando da liberdade individual da prática de desporto marítimos, ou seja, da escolha em torno da possibilidade de praticar
desportos, nada nos impede de ter razões universais sendo articuladas.

Mas o que torna possível o endereçamento de razões aos auditórios?


Tanto auditórios particulares quanto universais são possíveis porque entre orador e público existe uma rede de significados comuns sobre os
quais é possível fazer inferências, resgatar sentidos, compreender palavras, vocabulário etc. Essa rede comum, na tradução em língua
portuguesa, é compreendida como contato de espíritos, aquilo que Perelman e Olbrechts-Tyteca entenderam ser uma linguagem comum.

Fonte: Shutterstock.com

Para que haja uma relação entre orador e auditório é necessário que essa rede de significados comuns esteja compartilhada, caso contrário
a comunicação certamente se tonará sem sentido e não será possível estabelecer as condições de exercício da racionalidade, ou seja, da
retórica.

Podemos verificar a quebra de comunicação utilizada na Nova retórica com o seguinte exemplo:

EXEMPLO
Na obra Alice no País das Maravilhas , Alice, personagem central da história de Lewis Carroll, não consegue estabelecer uma conversação
com seus interlocutores porque, entendem Perelman e Olbrechts-Tyteca, não há entre o País das Maravilhas e o nosso mundo (mundo de
Alice) regras comuns.

ARGUMENTAÇÃO E SEUS PONTOS DE PARTIDA


A Nova retórica faz uma distinção entre demonstração e argumento.

Demonstração

Visa produzir verdade por meio do raciocínio consequente entre premissas e conclusões, as quais podem ser produzidas num exercício
solitário do cientista ou lógico, sem a necessidade de conhecer as fontes ou as pessoas envolvidas na construção desse raciocínio. O que
interessa é a verdade do sistema, sua forma, sua capacidade de prever, o rigor formal de seus axiomas, a ausência de ambiguidade de seus
termos. Nesse aspecto, então, a demonstração pode ser inteiramente um constructo do lógico formal, do cientista ou do lógico.


Argumento

Leva em consideração os aspectos psicológicos e sociais, sob pena de perder seus efeitos ou seu objeto. Como sustentam Perelman e
Olbrechts-Tyteca, o argumento visa à adesão dos espíritos e, por isso mesmo, pressupõe a existência de um contrato intelectual. Só é
possível a argumentação, conforme vimos, se houver uma comunidade efetiva dos espíritos que esteja de acordo, antes de mais nada e em
princípio, sobre a comunidade intelectual.

Feita a presente distinção, podemos ver que o argumento parte de um quadro comum de significados compartilhados entre os participantes
da argumentação. Toda argumentação parte de premissas aceitas pelo público, de um ponto de concordância, de uma base comum, que
Perelman e Olbrechts-Tyteca entendem ser dividida em duas categorias: a primeira lida com fatos, verdades e presunções; a segunda lida
com valores, hierarquias e lugares ou topos . Com a primeira categoria, podemos afirmar que existem pontos de partida que lidam com a
realidade. Com a segunda categoria, podemos dizer que existem pontos de partida que lidam com o preferível.

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Demonstração Argumento

Ponto de partida da realidade Pontos de partida do preferível

Verdades Hierarquias

Presunções Loci do preferível (Loci communes )


Categorias da argumentação.

Fonte: Davi José de Souza da Silva

DEMONSTRAÇÃO

- Solipsista (pode ser pensada sozinha)

- Axiomática
- Matemática

- Verdade

ARGUMENTO

- Intersubjetivo

- Social

- Psicológico

- Persuasão/Adesão

PONTO DE PARTIDA DA REALIDADE

Fatos

- Ideias discretas aceitas universalmente.


PONTOS DE PARTIDA DO PREFERÍVEL

Valores

- Ideias ou posições que são universais como generalizações, mas que só tem aderência a certas audiências quando aplicadas sob
certas circunstâncias. Valores podem ser concretos ou abstratos. Concretos servem mais à manutenção das condições e abstratos, à
mudança das condições.

VERDADES

- Princípios ou ideias que são sustentados universalmente e que sistematizam fatos.

HIERARQUIAS

Sistemas que relacionam coisas de diferentes ou homogêneos tipos.


PRESUNÇÕES

Concepções que espelham a expectativa universal das audiências sobre o que é a natureza e a realidade.

LOCI DO PREFERÍVEL (LOCI COMMUNES )

- Correspondem aos Topoi aristotélicos e constituem hierarquias baseadas em coisas comuns ou diferentes.

Importante destacar os lugares-comuns (Loci communes ) ou Topoi . São quadros gerais organizativos, “premissas de ordem geral que
permitem fundar valores e hierarquias”. Para a Nova retórica os lugares-comuns nos ajudam a “justificar a maior parte das nossas
escolhas”. Perelman e Olbrechts-Tyteca organizam seis categorias de lugares-comuns:

LUGARES DE QUANTIDADE
Afirmam que alguma é melhor que a outra por razões quantitativas.

LUGARES DA QUALIDADE
Contestam a virtude do número.

LUGARES DA ORDEM
Afirmam a superioridade do anterior sobre o posterior.
LUGARES DO EXISTENTE
Afirmam a superioridade do existente, real, sobre o que é possível, eventual ou impossível.

LUGAR DA ESSÊNCIA
Afirma que o que é mais próximo do ideal é superior ao que se aproxima menos.

LUGAR DA PESSOA
Favorece o valor da vontade e do indivíduo.

PRESENÇA E COMUNHÃO
O argumento é um empreendimento intersubjetivo, ou seja, depende da ligação entre pessoas. Diferentemente da demonstração, em que o
lógico-matemático pode, de forma solitária, realizar suas deduções, na argumentação é necessário que haja uma ligação entre o orador e o
auditório.

Já pudemos ver que essa ligação começa pela rede de comunicação compartilhada entre eles, como a fábula Alice no País das Maravilhas
nos mostrou. Assim, a argumentação reforça a rede de comunicação existente. Considerando a diversidade de pontos de partida, sejam eles
os dados da realidade ou os valores, é necessário que o orador faça escolhas quando pretende persuadir seu auditório. Essas escolhas
devem ser suficientes para que o orador gere presença e comunhão com o auditório.

PRESENÇA
A presença consiste em conseguir ganhar a atenção plena do auditório diante do discurso, conduzindo-a para que leve em consideração os
elementos relevantes da argumentação.

Poderíamos dizer, numa linguagem mais atual, que a presença é a capacidade do orador de prender a atenção do público de modo a
conduzir seu foco para os elementos relevantes do diálogo persuasivo.

Para que a presença se efetive, é necessário que o orador saiba dispor de maneira precisa quais elementos trará para o discurso. Tais
elementos precisam criar uma conexão com o público.

Na Nova retórica , a presença atua de modo direto sobre a nossa sensibilidade, sendo um dado psicológico que exerce uma ação no nível
da percepção. O que está presente na consciência adquire uma importância que a prática e a teoria da argumentação devem levar em conta.

Veja, a seguir, exemplos de criação de presença:

EXEMPLO
Vejamos a história bíblica do encontro de Moisés com Javé. Ao se manifestar por meio da sarça de fogo, que inibia Moisés de ver a força de
Javé, o efeito da presentificação preparou Moisés para que pudesse receber a mensagem. No filme O lobo de Wall Street , o personagem
Jordan Belfort, antes de iniciar uma venda, apresenta ao público, a um destinatário específico, uma caneta. Prendendo a atenção do ouvinte
com a visão da caneta esferográfica, afirma: “venda-me esta caneta”. O clima, a ambiência e as imagens de um Ted Talk prendem a
atenção do público e para a mensagem.

COMUNHÃO

Quando a conexão psicológica é estabelecida com o público, podemos falar em , que ocorre quando orador e auditório passam a
compartilhar crenças comuns, valores e sentimentos, gerando uma identificação.
Quando o orador comunga dos mesmos sofrimentos, das experiências, vivências e inquietações, há maior possibilidade de persuadir o
auditório em função do estabelecimento da relação de identidade entre orador e público.

Veja, a seguir, um exemplo de comunhão:

EXEMPLO
Um técnico consagrado como Bernadinho tem bastante relação de identidade com jogadores e profissionais do esporte em geral. Mas,
também, por ter vivido em ambientes competitivos e de muito estresse, Bernadinho tem a mesma comunhão com o mundo empresarial e de
executivos. Veja, a mesma pessoa é capaz de gerar comunhão em diferentes grupos, porque sua vivência, história, suas crenças e atitudes
podem ser compartilhadas.

LIGAÇÃO E DISSOCIAÇÃO
Conforme pudemos ver até aqui, o argumento é uma forma de expressão da racionalidade discursiva existente entre o orador e o auditório.
Nessa tarefa é necessário que o orador crie conexões com o auditório. Para poder criar tais conexões é preciso organizar o discurso de modo
que reste fortalecido no sentido de que as premissas apresentadas possam levar às conclusões indicadas. Nesse processo, devem ser
estabelecidos esquemas argumentativos que sejam sólidos e capazes de mobilizar o auditório para a conclusão defendida.

Por isso, a Nova retórica dedica uma parte de seu estudo à análise da estrutura dos argumentos, considerados em si como maneira de
explicitar em que bases podem ser criados.

Ligação

Dá-se quando um esquema argumentativo, do ponto de vista de sua estrutura interna, reforça reciprocamente suas partes, ou seja, cada
elemento contribui para a força do outro elemento (E¹ + E² + E³....En).
Para a Nova retórica , a ligação está presente em esquemas argumentativos nos quais seus elementos internos visam se reforçar
reciprocamente, promovendo entre esses elementos uma valorização positiva ou negativa. A ligação promove o reforço sistemático do
argumento, gerando solidez.


Dissociação

Está presente quando visamos deslocar o sentido de reforço mútuo, gerando uma força de deslocamento, repulsão e criação de novo
sentido.

 ATENÇÃO

Ligação e dissociação, entende a Nova retórica , constituem, para efeitos psicológicos, os dois lados da mesma moeda. Para gerar ligação
entre dois elementos de um argumento, é necessário gerar uma dissociação em relação a um aspecto não desejado pelo orador. Sem exaurir
a temática e não deixando de contextualizar, a Nova retórica busca apresentar e introduzir esses esquemas argumentativos para orientar os
praticantes do discurso.

ESQUEMAS DE LIGAÇÃO
Focaremos no primeiro e mais explícito esquema de ligação argumentativa, sobretudo para ligar você aos estudos de lógica e retórica: o
argumento quase-lógico, semelhante aos argumentos lógico-dedutivo ou comparável às inferências da lógica formal.
Nessa modalidade, há muita semelhança entre o argumento e a demonstração formal da lógica dedutiva. Todavia, a complexidade desses
argumentos não se deixa reduzir à estrutura da demonstração lógico-formal.

 ATENÇÃO

Para tornar persuasivo o argumento, há todo um trabalho, por parte do orador, de tornar os elementos do argumento semelhantes aos
elementos do silogismo dedutivo.

Nesse esforço é que reside, justamente, sua natureza não lógica, pois, para sustentar o formalismo, o orador terá de fazer escolhas,
reduções, simplificações, ampliações, todas dependentes de um acordo geral de pano de fundo passível de problematização pelo auditório.

Quando explicitadas essas “incoerências”, “insuficiências” ou “reduções simplificadoras”, contestáveis, no esquema de argumentação quase-
lógico, entram em cena argumentos de autoridade ou ad hominem para sustentar sua “persuasão”:

“O rigor da demonstração é evidente”, “veja como é matemática a conclusão”, “estar contra essa exposição é contrariar a lógica” etc.

A seguir, confira o exemplo de um esquema quase-lógico:

EXEMPLO
“P1: A santidade da vida constitui-se um valor intrínseco”; “P2: por isso, todos os seres viventes devem ter sua vida protegida”; logo,
“devemos aprovar leis que protejam animais humanos e não humanos”. Perceba que existe uma série de elementos nessa argumentação
que dependem de acordos prévios sobre fatos da realidade e sobre valores que demandam muito mais argumentação do que a forma
silogística pode abarcar.

Os demais esquemas de ligação, que não poderemos esgotar aqui, podem ser classificados como:

ESQUEMAS QUE APELAM À ESTRUTURA DA REALIDADE


Buscam estabelecer uma relação de ligação entre os fenômenos da realidade e as conclusões que visam defender. Esquemas que apelam à
estrutura da realidade irão trabalhar os dados, fatos e as sequências de fatos para estruturar suas conclusões. Nesse sentido, a Nova
retórica apresenta tais esquemas em:

Ligações de sucessão: a causalidade dos fatos irá resultar em revelar causas primeiras, consequências, efeitos etc.

Ligações de coexistência: visam reunir realidades de níveis diferenciados para que uma dê sustentação à outra. Diferentemente da
ligação de sucessão, que visa demonstrar a série sucessiva de fenômenos como consequente e inevitável – por isso explicativa –, a
ligação de coexistência visa gerar uma linha de explicação em que diferentes ordens estão relacionadas, sendo uma determinante da
outra. Um primeiro exemplo dado por Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996) é a da relação entre essência e aparência. Todavia, nossos
autores consideram a relação entre pessoa e ato uma ligação de coexistência fundante.

ESQUEMAS QUE ESTABELECEM A ESTRUTURA DO REAL


Nesses esquemas as ligações de sucessão e coexistências serão articuladas para fundamentar os acordos sobre os fatos. No esquema
anterior, se partiam de “fatos já existentes”; neste, procura-se formular o acordo sobre o que podem ser considerados fatos na argumentação.
Aqui são centrais três conhecidas formas nossas:

A argumentação por exemplo: procuramos resolver o desacordo em torno de um fato, trazendo seus elementos para o caso em
dissenso;

A argumentação por ilustração e modelo: visa dar suporte, ampliar a força persuasiva de um argumento, aumentando, assim, a
aderência ao acordo;

A argumentação por analogia: visa estabelecer relações entre os termos, entidades, elementos, do argumento visando ampliar a
adesão à sua concordância.
ESQUEMAS DE DISSOCIAÇÃO
Se esquemas de ligação visam reforçar a estrutura dos argumentos, as técnicas de dissociação visam evidenciar que determinadas
associações não podem ser feitas, isto é, que certos elementos do argumento não deveriam ser unidos, mas sim ficar separados, distintos ou
não associados.

Porém, muito mais do que dividir (decompor, analisar), as técnicas de dissociação visam à restruturação profunda dos elementos do
argumento, procurando recompô-los com outro significado. Não se trata apenas de dividir, separar, decompor, mas de decompor para
recompor um novo elemento argumentativo capaz de gerar persuasão.

A dissociação das noções, como a concebemos, consiste num remanejamento mais profundo, sempre provocado pelo desejo de remover
uma incompatibilidade, nascida do cotejo de uma tese com outras, trata-se de normas, fatos ou de verdades. Algumas soluções práticas
possibilitam resolver a dificuldade no plano exclusivo da ação, evitar que a incompatibilidade se apresente, diluí-la no tempo, sacrificar um
dos valores que entram em conflito, ou os dois. A dissociação das noções corresponde, nesse plano prático, a um compromisso, mas
conduz, no plano teórico, a uma solução que valerá igualmente no futuro porque, ao reestruturar nossa concepção do real, ela impede o
reaparecimento dessa mesma incompatibilidade. (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA; 2002).

Então, como o argumento dissociativo se dá? Confira a seguir um caso prático da Filosofia moral:

EXEMPLO
Diante da crença moral de que matar um ser humano é errado, ao mesmo tempo admitimos que a legítima defesa é moralmente permissível.
Nesse caso, estamos diante de uma incompatibilidade: como matar um ser humano pode ser errado moralmente e a legítima defesa parece
ser razoável? Uma das formas de conseguir resolver essa incompatibilidade é entender a vida como um bem sob o qual tenho um direito. Em
circunstâncias normais, o direito à vida não pode ser de forma alguma ameaçado por um terceiro. Mas, se a minha vida é ameaçada por
alguém, posso, então, defender meu direito à vida contra aquele que me ameaça, uma vez que, ao cometer um ilícito moral contra mim,
aquele que me ameaça renuncia a seu direito moral a fim de preservar sua própria vida. A introdução das distinções em torno do direito à
vida entra no argumento para que a dissociação se opere de modo a reconciliar aquilo que, num primeiro momento, era incompatível.

Na prática jurídica, sobretudo a judicial, os magistrados a todo momento são levados a fazer distinções para resolver aparentes conflitos
entre as leis. Em alguns casos, essas distinções apelam a um esquema formal de hierarquia de normas, mapeando a possibilidade de
invalidar uma norma em detrimento da outra por meio de uma subsunção baseada na compatibilidade ou não da norma com o ordenamento
jurídico.

Contudo, em outros casos, é preciso que o magistrado interprete e dê solução a um conflito aparente de normas, sem, necessariamente,
invalidar uma delas, mas antes preservando as duas, ao mesmo tempo que encontra uma solução para a aparente incompatibilidade.

 ATENÇÃO

Em nosso ordenamento jurídico temos uma diversidade de técnicas dissociativas para as quais podem apelar os juízes diante de casos
difíceis, entendendo a Lei de Introdução às Normas Brasileira (Lei nº 12.376, de 2010) em seu art. 4º que na omissão da norma o magistrado
poderá decidir pautado na analogia, nos costumes e nos princípios gerais do Direito.

Se nossa legislação permitiu de início a possibilidade de reconstrução por meio da dissociação, podemos encontrar nas práticas
interpretativas dos tribunais constitucionais e superiores o constante exercício dissociativo, à medida que, provocados, precisam resolver
sobre conflitos aparentes de normas, mantendo as mesmas e sustentando em que casos e de que forma podem ser compreendidas as
noções que lhes sustentam.

Um caso interessante é o da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 187, mais conhecida como o caso da
marcha da maconha, na qual os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram de forma favorável aos manifestantes.

Fonte: Shutterstock.com

A marcha da maconha é uma manifestação de cidadãos no mundo inteiro em favor de mudança das leis em torno do uso da maconha,
sobretudo clamando pela sua legalização, regulamentação do comércio e seu uso. Ocorre que, no ordenamento jurídico penal brasileiro, a
norma do art. 287 do Código Penal afirma que constitui crime “fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime: Pena –
detenção, de três a seis meses, ou multa”. Dessa maneira, manifestar-se a favor da legiferação da economia, do uso, da medicina etc.
envolvendo a maconha constituiria apologia ao crime?

Eis então que a procuradoria-geral da República demandou que o referido dispositivo fosse interpretado conforme a Constituição de modo
que as manifestações não fossem proibidas. O dispositivo previsto no art. 287 do Código Penal Brasileiro tipifica a apologia ao crime ou a um
criminoso.

Aqui começa o exercício dissociativo do STF:


Foto: Fernando2jr/Wikimedia Commons/Domínio Público

MINISTRO CELSO DE MELLO

Em primeiro lugar, por meio do voto do ministro Celso de Melo, houve uma caracterização da marcha como um evento cultural que reúne
uma série de atividades musicais, literárias, cinematográficas, discursivas, políticas etc. Em segundo lugar, entendeu à época decano que
debater a descriminalização de um fato não pode ser constituído um ilícito penal, sendo compreendida a marcha como um movimento dos
cidadãos que não pode ser limitado, ainda que suas ideias sejam contrárias às da maioria ou pareçam ruins.

Foto: Superior Tribunal de Justiça STJ/Wikimedia Commons/licença CC BY 2.0

MINISTRO LUIZ FUX

Na mesma linha, porém, complementando, o ministro Luiz Fux entendeu por criar critérios segundo os quais a caracterização da marcha
poderia ser considerada um movimento dos cidadãos na sua liberdade de expressão. Assim, indicou que as marchas devem ser pacíficas,
que não podem utilizar armas, tampouco incitar a violência, e que devem ser informadas às autoridades públicas, indicando data, horário,
local e objetivo do evento.

Podemos então perceber que o exercício dissociativo faz parte do cotidiano do exercício da magistratura. O Direito está repleto de
problemas, conflitos, incompatibilidades, apresentando aos seus praticantes, a todo momento, a possibilidade de exercer esquemas e
técnicas de dissociação. Estas, muitas vezes, são realizadas para:

Excluir a tipicidade penal de determinado fato;


Excluir a tipicidade tributária de um fato na arena tributária;

Caracterizar uma justa causa na seara trabalhista;

Caracterizar ou descaracterizar um ato como ilícito ou não, dando ensejo à indenização;

Modular ou não um entendimento acerca dos contratos.

Podemos, então, encerrar com um exemplo do Direito privado:

EXEMPLO
É possível dizer que a função social dos contratos exerce um papel heurístico de análise de cláusulas contratuais, à medida que modulam
seu exercício para que nenhuma das partes se beneficie ilicitamente com ganhos que não poderiam ser suportados, tampouco que haja
afetação da sociedade em geral, devendo o contrato distribuir seus ganhos para além das partes contraentes.

A NOVA RETÓRICA COMO UM CONVITE À RECONSTRUÇÃO


RACIONAL DAS NOSSAS PRÁTICAS MORAIS
Ao final deste módulo, queremos uma vez mais destacar que a Nova retórica tem por objetivo fundamental apresentar que o mundo
prático, das nossas questões em sociedade, não pode ser reduzido à investigação empírica da natureza e sua ferramenta clássica,
a lógica formal.
A vida cotidiana moral, política e jurídica abraça nuances muito mais abrangentes e significativas que a mera regularidade formal da
natureza, o que hoje nem ao menos representa a visão mais adequada do exercício da realização da ciência, uma vez que também depende
de acordos sobre fatos e valores.

Se os acordos são necessários para que possamos compreender fatos e valores, será que tais acordos seriam meramente voluntaristas,
dependentes das vontades das partes, sem objetividade alguma? A Nova retórica apresenta para todos nós a forma pela qual é possível
pensar uma racionalidade discursiva que seja capaz de articular nossos problemas, nos dando uma objetividade com a qual podemos lidar, à
medida que nos vemos envolvidos em práticas recíprocas de justificação. A obra de Perelman e Olbrechts-Tyteca é uma leitura indispensável
para o desenvolvimento da formação de cidadãos e juristas.

Fonte: Shutterstock.com

A Nova retórica poderia ser considerada um exercício de reconstrução da racionalidade das nossas práticas morais cotidianas.
No vídeo a seguir, o especialista Davi José de Souza da Silva descreve a Nova Retórica de Chaïm Perelman como uma teoria da
argumentação que pretende dar racionalidade ao discurso acerca dos valores na moral e no Direito.
VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. NA NOVA RETÓRICA , CHAÏM PERELMAN E LUCIE OLBRECHTS-TYTECA (1996) CONSIDERAM QUE


ARISTÓTELES NÃO LEVOU SERIAMENTE DETERMINADA MODALIDADE DE DISCURSO. ASSINALE A
SEGUIR A ALTERNATIVA QUE CORRETAMENTE INDICA QUAL FOI ESSA MODALIDADE.

A) Deliberativo

B) Judicial

C) Epidíctico

D) Dialético

E) Sofístico

2. LEVANDO EM CONTA A DISTINÇÃO ENTRE DEMONSTRAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO, PODEMOS AFIRMAR


QUE NA NOVA RETÓRICA :

A) Demonstrações científicas são adequadas para fundamentar nossos acordos morais.

B) Argumentos possuem estrutura lógica, por isso são capazes de dizer a verdade sobre o mundo.

C) A lógica dedutiva do silogismo é capaz de captar o sentido das nossas práticas morais.
D) A estrutura argumentativa não se restringe à mera descrição dos fatos, captando o sentido dos valores em dada comunidade.

E) A racionalidade científica depende, em sua demonstração, de um empreendimento investigativo coletivo.

GABARITO

1. Na Nova retórica , Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca (1996) consideram que Aristóteles não levou seriamente
determinada modalidade de discurso. Assinale a seguir a alternativa que corretamente indica qual foi essa modalidade.

A alternativa "C " está correta.

Na Nova retórica , a modalidade de discurso que Aristóteles deveria ter considerado é o epidíctico. Por estar situado no presente, permite
que se estabeleça uma relação atual entre orador e auditório de modo a possibilitar um debate sobre os fatos e valores que importam para a
comunidade diante de uma situação concreta.

2. Levando em conta a distinção entre demonstração e argumentação, podemos afirmar que na Nova retórica :

A alternativa "D " está correta.

A argumentação ultrapassa a lógica científica porque é capaz de captar fenômenos distintos que não se reduzem à causalidade natural.

MÓDULO 2
 Reconhecer os principais elementos conceituais das teorias da argumentação de Robert Alexy e Klaus Günther

APRESENTAÇÃO
O objetivo deste módulo é identificar e reconhecer alguns dos principais elementos de duas teorias da argumentação jurídica para que
possamos melhorar nossa compreensão acerca dos fenômenos sociais e jurídicos. Para isso, apresentaremos dois autores que possuem
teorias acerca da argumentação aplicadas ao Direito. Diferentemente de Perelman e Olbrechts-Tyteca, esses dois pensadores não estavam
formulando uma teoria geral da argumentação para explicar como nossos acordos sobre valores podem ser racionais – na vida em
sociedade, na política ou no Direito.

As teorias que abordaremos aqui, de Robert Alexy e Klaus Günter, foram apresentadas inicialmente para resolver problemas específicos do
Direito e que poderiam ser reunidas de forma didática num questionamento: como as decisões judiciais podem ser consideradas
racionais?

ROBERT ALEXY

Fonte: Foto: Contrib32523/Wikimedia Commons/CC BY-SA 4.0


 Robert Alexy.

Alexy é, de longe, um dos mais influentes e ricos pensadores do Direito de tradição romano-germânica. Sua obra tem alcance em seu país de
origem, Alemanha, e nos países continentais europeus, como Espanha e Portugal, e na América Latina, tendo grande impacto em nosso
país, na Argentina, no Peru etc.

Desde 2008, Robert Alexy tem recebido uma série de títulos de Doutor Honoris Causa , muitos deles em universidades brasileiras, como a
Universidade Federal do Piauí, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade do Estado
do Amazonas e Universidade Federal de Roraima.

Neste módulo veremos, principalmente, os pontos centrais expressos por Robert Alexy na sua tese de doutorado, já citada, a Teoria da
argumentação jurídica , daqui em diante denominada TAJ.
ROBERT ALEXY

Nascido em 1945 na cidade de Oldenburgo, tem uma carreira acadêmica de ampla envergadura. Graduado em Direito e Filosofia pela
Universidade Georg-August em Göttingen, Alemanha, em 1978 obteve o título de doutor em Filosofia com a obra Teoria da
argumentação jurídica (2001). Em 1984, obteve a livre-docência com a sua tese Teoria dos direitos fundamentais (2015). Alexy hoje
ocupa a cadeira de Direito público e Filosofia do Direito da Universidade Christian-Albrechts de Kiel (Alemanha).

PROBLEMA DA JUSTIFICAÇÃO DAS SENTENÇAS JURÍDICAS


Robert Alexy (2001) apresenta o problema de plano: como justificar as decisões dadas pelos juízes em suas sentenças?

Tal questionamento é ampliado quando se enxerga a insuficiência dos métodos de raciocínio lógico-formal diante dos desafios da decisão
judicial. A aplicação dedutiva de normas encontra muitas dificuldades diante de pelo menos quatro problemas apontados por Robert Alexy:

I
A linguagem jurídica é imprecisa, portanto, cheia de ambiguidades, vaguezas, indeterminações etc.

II
Normas jurídicas entram em conflitos – vimos com Perelman e Olbrechts-Tyteca que uma norma pode ter exatamente o sentido contrário da
outra.
III
Casos novos e novas situações podem surgir e não estar previstos em uma norma jurídica prévia.

IV
Casos especiais, situações únicas, ímpares, em que podem demandar novas decisões, diferente das que foram dadas até aqui.

O desafio é conseguir sistematizar a justificação das decisões judiciais. A primeira tentativa de sistematização se deu com o estabelecimento
de cânones interpretativos. Porém, mesmo que esses cânones tenham se desenvolvido (utilizados até hoje, por exemplo, “normas penais são
interpretadas restritivamente”), os estudiosos da metodologia jurídica (o que poderíamos chamar, atualmente, de hermenêutica jurídica) não
conseguiram chegar a um acordo sobre a quantidade de regras interpretativas, se possuem alguma hierarquia, qual a sua natureza, sua
utilização de forma prioritária etc. Uma segunda tentativa se deu com a conclusão de que seria impossível tratar da decisão judicial e avançar
possibilidades de justificação do processo decisório dos juízes sem o apelo aos valores.

Essa segunda tentativa de resposta introduziu de maneira bastante conclusiva a ideia de que não há como decidir casos sem que se
recorram a valores. Porém, mesmo com a introdução do valor como elemento da decisão judicial, muitas dúvidas sobrevieram, por exemplo:
como se dá a relação entre os valores e os cânones interpretativos?

Introduzir os valores nas decisões judiciais não diminuiu a demanda por justificação, levando a questionamentos centrais feitos por Robert
Alexy (2001), como veremos a seguir.

Até que pontos os valores são necessários no julgamento?

Como os julgamentos de valor se relacionam com os cânones da interpretação jurídica e da dogmática?

Os julgamentos de valor podem ser racionalmente justificáveis?

Mas será que a introdução dos valores nas decisões judiciais levaria necessariamente a um subjetivismo? Três repostas a esse problema
foram dadas.

PRIMEIRA TENTATIVA
SEGUNDA TENTATIVA
TERCEIRA TENTATIVA

PRIMEIRA TENTATIVA

Segundo Robert Alexy, deu-se com a possibilidade de justificar as decisões judiciais com valores universais ou com valores específicos de
uma comunidade. Porém, o problema de como justificar as decisões judiciais permanece ante a multiplicidade de valores, comunidades e
fatos.

SEGUNDA TENTATIVA

Deu-se com a possibilidade de justificar os valores das decisões judiciais fazendo referência ao próprio ordenamento jurídico. Todavia, a
multiplicidade das normas, de sua hierarquia, de momentos e fatos também traz imensa dificuldade para que se encontre uma metodologia
capaz de dar conta da justificação das decisões judiciais baseada em valores.

TERCEIRA TENTATIVA

A última tentativa levantada por Robert Alexy é o apelo a uma ordem valorativa “objetiva” e “transcendente”, portanto atemporal, com o
jusnaturalismo. Nesse caso, o problema ainda permanece: como saber qual dos valores deve ser utilizado na ordem suprapositiva? Por
último, caberia apenas aos dados empíricos, mas estes não são passíveis de fundar normas.
UMA TEORIA ANALÍTICO-NORMATIVA
Para tentar solucionar o problema de justificação com base em valores de decisões judiciais, Robert Alexy propõe conceber a atividade
jurídica como um discurso prático. Discurso porque é uma atividade essencialmente linguística, argumentativa; prático porque trata de
normas, ou seja, do estabelecimento de padrões coercitivos para a conduta. Alexy (2001) concebe então que o “discurso jurídico é um caso
especial do discurso prático geral”.

Como discurso, poderíamos pensar que o discurso jurídico pode ser visualizado em pelo menos três possibilidades:

EMPÍRICO
ANALÍTICO
NORMATIVO

EMPÍRICO

Visa descrever o discurso em frequência, relevância, motivações, situações e outros elementos que podem caracterizar o discurso do ponto
de vista dos fatos. Nessa abordagem, deve ser estudado por cientistas sociais.

ANALÍTICO

Dedica-se à análise da estrutura do discurso pelo ponto de vista da lógica.


NORMATIVO

Visa propor critérios justificatórios para a prática judicial.

Considerando essas três formas de abordagem, Alexy entende que sua teoria é uma proposta analítico-normativa. Analítica porque
pretende demonstrar a estrutura interna dos discursos jurídicos como um caso especial do discurso prático geral. Normativa porque visa
prescrever em que situações, circunstâncias e regras uma decisão judicial pode ser justificada. Para isso, pretende desenvolver os “critérios
em que pode ser considerada racional uma decisão judicial” (ALEXY, 2001). Uma vez que o discurso jurídico é um caso especial do discurso
prático, Robert Alexy já nos diz que uma das primeiras implicações dessa constatação é o fato de que o discurso jurídico opera sobre
circunstâncias limitadoras determinadas pelo próprio ordenamento jurídico. O ordenamento jurídico possui limites impostos por si mesmo,
devendo a decisão judicial, como caso especial do discurso prático geral, atender a esses constrangimentos impostos pelo ordenamento.

Um segundo aspecto a ser enfrentado pela TAJ concerne à relação entre discurso jurídico e discurso prático geral, entre argumentação
jurídica e argumentação prática geral. Nesse sentido, estamos diante da relação entre Direito e moral, aqui traduzidos em termos de teoria da
argumentação. Segundo Robert Alexy (2001), essa relação tem sido descrita em pelo menos três possibilidades:

TESE DA SUBORDINAÇÃO
TESE DA SUPLEMENTAÇÃO
TESE DA INTEGRAÇÃO

TESE DA SUBORDINAÇÃO
A justificação das decisões judiciais é fundamentada no argumento prático geral, sendo o argumento jurídico meramente subordinado a este,
uma forma de legitimação secundária ao argumento prático.

TESE DA SUPLEMENTAÇÃO

Os argumentos jurídicos têm limites e quando os alcançam passam a ser suplementados por argumentos morais.

TESE DA INTEGRAÇÃO

Quando são combinados argumentos jurídicos e argumentos morais.

DISCURSO JURÍDICO COMO CASO ESPECIAL DO DISCURSO


PRÁTICO
Um discurso prático é um argumento sobre normas morais. Assim, um conselho, “você deveria estudar mais hermenêutica”, faz parte de um
discurso prático. Uma regra proibindo entrar de sapatos em casa é um discurso prático. Uma orientação médica é um discurso prático. Uma
norma de trânsito é um discurso prático.

Trata-se de discurso no âmbito de uma conversação que se comunica por meio de uma linguagem comum. Trata-se de prático no sentido
de que estabelece regras para o comportamento dos agentes. Padrões de conduta.
Mas em que condições podemos considerar válida a formulação desses discursos que afetam nosso comportamento?

A teoria de Alexy é uma teoria justificatória, porque se preocupa em investigar em quais condições podemos considerar válido um discurso
prático geral. Mas qual é a forma desse discurso prático geral?

REGRAS DO DISCURSO PRÁTICO GERAL

Robert Alexy (2001) entende em primeiro lugar as regras básicas:

“Nenhum orador pode se contradizer.”

“Todo orador pode afirmar apenas aquilo em que crê.”

“Todo orador que aplique um predicado F a um objeto tem de estar preparado para aplicar F a outro objeto que seja semelhante a Z em
todos os aspectos importantes.”

“Diferentes oradores podem não usar a mesma expressão com diferentes significados.”

Somadas às regras básicas do discurso prático geral, temos as regras da racionalidade do discurso prático geral. Nesse caso, Alexy
(2001) quer nos demonstrar quando um discurso prático geral pode ser considerado racional, portanto, válido. Assim:

“Todo orador tem de dar razões para o que afirma quando lhe pedem para fazê-lo, a menos que possa citar razões que justifiquem uma
recusa em dar justificação” – Regra geral de justificação.

e.1. “Qualquer pessoa pode participar de um discurso.”


Da regra geral de justificação decorrem, ainda, as regras que regem a liberdade de discussão:

e.1.1 “Todos podem transformar uma afirmação num problema.”

e.1.2 “Todos podem introduzir qualquer afirmação no grupo.”

e.1.3 “Todos podem expressar suas atitudes, seus desejos e necessidades.”

e.1.4 “A liberdade de discurso é importante no discurso prático.”

Por último, a regra que visa proteger o discurso de qualquer coerção:

“Nenhum orador pode ser impedido de exercer os direitos estabelecidos por qualquer tipo de coerção interna ou externa.”

Somadas, (e) e (f) podem ser consideradas o que Robert Alexy (2001) denomina de regras de racionalidade do discurso.

Existem ainda as “regras para partilhar a carga da argumentação”, que irão distribuir os encargos de justificar o discurso; as “regras de
justificação” (ALEXY, 2001), conjunto de regras que testa a validade das regras sendo aplicadas, e que, em sua maioria, constitui testes de
generalização; as “regras de transição” (ALEXY, 2001), para resolução de problemas tais como questões de fato, previsão de consequências
etc. Considerando que discurso jurídico é um caso especial do discurso prático geral, resta explicitar as suas regras, lembrando que há uma
conexão com o discurso moral.

REGRAS DO DISCURSO JURÍDICO


Visto o discurso prático geral, Robert Alexy (2001) parte para definir as regras do discurso jurídico. Assim, a primeira consideração é a de que
a argumentação jurídica se diferencia em relação à argumentação prático geral no sentido de que a primeira possui uma ligação com as
normas jurídicas, sendo caracterizada por ligar-se de alguma forma “com a lei válida”. A consequência dessa ligação é que o discurso jurídico
possui certas limitações impostas pelo ordenamento jurídico, e tais limitações, segundo Alexy (2001), não estão abertas ao debate. Dessa
maneira, Alexy está nos demonstrando que os cânones e elementos jurídicos existentes na ordem positiva, seja na legislação, seja na
dogmática jurídica, restringem o campo de atuação do discurso jurídico – limitações que o discurso prático geral não tem.

O discurso jurídico precisa se justificar de tal forma que consiga ser considerado pertinente ao ordenamento jurídico. Por isso, Robert Alexy
(2001) indaga:


[...] A EXIGÊNCIA DE CORREÇÃO, NA VERDADE, TAMBÉM SURGE NO DISCURSO
JURÍDICO, MAS ESSA EXIGÊNCIA, DIFERENTEMENTE DO DISCURSO PRÁTICO
GERAL, NÃO SE PREOCUPA COM A RACIONALIDADE ABSOLUTA DA
AFIRMAÇÃO NORMATIVA EM QUESTÃO, MAS APENAS COMO MOSTRAR QUE
PODE SER RACIONALMENTE JUSTIFICADA NO CONTEXTO DE VALIDADE DA
ORDEM JURÍDICA PREVALECENTE?
A teoria do discurso jurídico como caso especial do discurso prático visa responder a esse questionamento. Para tanto, Robert Alexy (2001)
apresenta os seus traços. Vejamos seus elementos principais.

Em primeiro lugar, Alexy entende que um discurso jurídico precisa ser justificado duplamente:

Justificação interna

De um ponto de vista interno, precisa demonstrar que seus argumentos são corretos se suas premissas levam às conclusões defendidas –
assim, um argumento jurídico precisa ter justificação interna.


Justificação externa

Saber se as premissas escolhidas pelo argumento são em si justificáveis, sem considerar a relação com as conclusões, é a tarefa para as
regras da justificação externa.

Na sequência dos argumentos de Robert Alexy, comecemos pelas regras de justificação interna. Tais regras dizem respeito à estrutura do
silogismo jurídico e à forma pela qual pode ser considerado racional. Na formulação básica de todo e qualquer silogismo temos que uma
norma jurídica pode enunciar:

p¹: Todo guarda de trânsito deve usar identificação.

p²: Marco Antônio é guarda de trânsito; logo, deve usar distintivo.

Robert Alexy justifica racionalmente a lógica interna do argumento apresentado aqui, baseando-se em algumas regras:

REGRA 1
REGRA 2
REGRA 3
REGRA 4

REGRA 1

Primeiramente, temos o princípio da universalizabilidade que fundamenta a justiça formal segundo a qual não é possível tratar casos
desiguais de maneira desigual. O quantificador [todo] presente no silogismo impõe um elemento de universalizabilidade que alcança a
exigência normativa de se tratar igualmente todos os casos que estejam na mesma categoria (ALEXY, 2001).

REGRA 2

Por conseguinte, surgem duas outras regras: “ao menos uma norma universal precisa ser aduzida na justificação de um argumento jurídico”.

REGRA 3

E “um julgamento jurídico precisa seguir logicamente ao menos uma norma universal juntamente com outras afirmações”.

REGRA 4
Mas é possível que uma primeira demonstração não seja suficiente, sobretudo considerando casos difíceis: “tantos passos/desenvolvimento
quanto possíveis devem ser articulados” para que as regras anteriores sejam passíveis de serem aplicadas na justificação de decisões
judiciais (ALEXY, 2001).

Consideradas em conjunto, pode-se afirmar que essas regras da justificação interna da decisão judicial formam a racionalidade interna do
argumento judicial. Sua estrutura reunida compõe o que Alexy (2001) denomina “regras e formas da justiça formal”. Todavia, essas regras
não garantem plenamente a racionalidade das decisões judiciais. É preciso um segundo passo: as regras de justificação externa.

Para Robert Alexy (2001), no processo de justificação racional de uma decisão judicial, suas premissas podem ser de três tipos:

Baseadas no Direito positivo, na lei;

Baseadas em afirmações empíricas;

Premissas que não são baseadas na lei nem nas afirmações empíricas.

Esses tipos de argumentos não são estanques e podem se relacionar. Por isso, Alexy organiza as formas de justificação externa em seis
grupos: (i) estatuto; (ii) dogmática; (iii) precedente; (iv) razão; (v) fatos; e (vi) formas específicas de argumentos jurídicos. Trataremos de
quatro deles a seguir:

(I) ESTATUTO
Lida com a questão empírica trazida ao discurso judicial. Quando se fala em questão empírica, está se falando de questões pertinentes às
normas jurídicas, quando foram produzidas, quais são superiores a outras, se uma norma atual revoga uma passada etc. Trata-se da empiria
da norma. Quais fatos deverão ser considerados na relação de pertinência ou não das normas. É impossível descrever todas as situações e
os elementos da empiria que podem ser aduzidos a um discurso jurídico. Ao mesmo tempo, existem limitações temporais. Por último, o
discurso jurídico não se reduz aos dados da empiria.
Para resolver a relação entre a empiria e as decisões judiciais, cânones de interpretação foram desenvolvidos pela prática e teoria jurídica.
Alexy (2001) os enumera:

Argumentos semânticos: quando um argumento é justificado em função de seu significado fazer parte da compreensão daquela
comunidade sobre determinado termo.

Argumentos genéticos: quando uma interpretação é justificada por fazer parte da intenção do legislador.

Argumento histórico: quando a história jurídica do caso é trazida para justificar ou não um argumento.

Argumento comparativo: quando justifica decisões atuais com decisões do passado ou de outro ordenamento jurídico.

Argumento sistemático: quando justifica uma decisão com base na posição de uma norma ou na relação que ela tem com outras
normas.

Argumento teleológico: quando justifica uma decisão judicial com base em determinados fins.

Para dar racionalidade discursiva a esses cânones, Robert Alexy (2001) propõe as regras descritas a seguir.

Saturação: todos os argumentos pertencentes aos cânones devem ser saturados, ou seja, esgotados (REGRA 5).

Precedência da vontade da lei ou do legislador: os argumentos pertinentes à vontade da lei ou do legislador devem ter precedência
sobre outros argumentos, devendo haver justificação quando não for o caso (REGRA 6).

Argumentos de diferentes formas devem obedecer a regras de pesagem (REGRA 7).


Todos os argumentos produzidos sobre as condições de liberdade do discurso jurídico podem contar como pertencentes ao cânone
jurídico e merecem a devida consideração (REGRA 8).

(II) DOGMÁTICA
A dogmática jurídica representa, para Robert Alexy (2001), a ciência do Direito em seu sentido mais estrito, concernente a pelo menos três
atividades:

Descrever a lei em vigor, denominada descritiva-empírica;

Conceituar e sistematizar a lei, denominada lógica-analítica;

Propor soluções aos problemas jurídicos, denominada normativa-prática.

Para que as proposições dogmáticas sejam consideradas racionais no momento do discurso jurídico, a TAJ considera que “toda proposição
dogmática tem de ser justificada com recurso, ao menos um argumento prático geral, sempre que estiver sujeita a dúvida” (REGRA 9); “Toda
proposição dogmática tem de ser capaz de passar num eixo sistemático tanto no sentido mais estreito quanto num sentido mais amplo”
(REGRA 10); e “sempre que argumentos dogmáticos forem possíveis, eles devem ser usados” (REGRA 11).

(III) PRECEDENTES
Um precedente é uma decisão judicial anterior que estabelece o padrão de decisão para o caso vinculando todas as decisões judiciais que
possuam os mesmos critérios para que decidam da mesma maneira ou impondo a todas as decisões judiciais que possuam critérios
análogos o ônus de justificar por que decidirão de forma diferente. Robert Alexy (2001) considera que usar os precedentes atende ao
princípio da universalizabilidade, à medida que é uma exigência da justiça formal tratar casos com os mesmos critérios de modo igual. A
TAJ considera que, se um precedente vier a ser utilizado, duas regras devem ser seguidas: “se um precedente pode ser citado a favor ou
contra uma decisão, ele deve ser citado” (REGRA 12); “quem desejar partir de um precedente fica com o encargo do argumento” (REGRA
13).

(IV) FORMAS ESPECIAIS DO ARGUMENTO JURÍDICO


Alexy (2001) entende que são formas especiais do argumento jurídico os seguintes casos: analogia, argumentos e contrário, argumentum a
fortiori e argumentum ad absurdum . Já estudamos neste tema a analogia, que é o oposto ao argumento e contrário, pois apela para as
diferenças e não para as semelhanças. O argumento a fortiori é um clássico argumento jurídico, pautado na ideia de que uma razão mais
forte deve prevalecer, também conhecido pelo brocardo “quem pode no mais, pode no menos”. Assim, por exemplo, “se estou autorizado a
fazer reforma na casa, por força do contrato de aluguel, então estou autorizado a pintar as suas paredes”, pois “se posso reformar uma casa,
posso pintar suas paredes”. O argumento ad absurdum , diante de um argumento, pode ser descartada uma das suas conclusões pelas
consequências esdrúxulas ou ridículas. Para essas formas de argumento, a TAJ entende que uma decisão judicial, se pautada nelas, será
racional quando “formas especiais de argumento jurídico têm de ser razões para serem afirmadas plenamente, isto é, devem alcançar a
saturação”.

Conhecidas as regras, fizemos um resumo para você. Tal resumo está na obra original de Robert Alexy (2001).

REGRAS DO DISCURSO JURÍDICO


Regras da justificação interna

1.1 Ao menos uma norma universal tem de ser aduzida na justificação de um argumento jurídico.

1.2 Um julgamento jurídico tem de seguir logicamente ao menos uma norma universal juntamente com outras afirmações.

1.3 Sempre que houver uma dúvida se a é um T ou um M, deve ser apresentada uma regra que resolva a questão.
1.4 O número de passos e de decomposição requerido é aquele número que torna possível o uso de expressões cuja aplicação
em dado caso não admita mais disputas.

1.5 Devem ser articulados tantos passos de decomposição quantos forem possíveis.

Regras da justificação externa

2.1 Não existe elaboração para regras e formas especiais.

2.2 Regras e formas de interpretação.

2.2.1 Regras de interpretação semântica

2.2.1.1 Em razão de W¹, R’ tem de ser aceito como uma interpretação de R’.

2.2.1.2 Em razão de W², R’ não pode ser aceito como uma interpretação de R’.

2.2.1.3 É possível fazer ambos, aceitar ou não aceitar R’, como uma interpretação de R, desde que nem W¹ nem W¹ se
mantenham.

2.3 Regras para os cânones


2.3.1 Saturação, todo argumento que pertença aos cânones deve ser saturado.

2.3.2 Argumentos que dão expressão à vontade da lei e do legislador têm precedência sobre os demais argumentos, mesmo
se houver razões para que a precedência seja revogada.

2.3.3 Argumentos de diferentes formas devem se conformar às regras de pesagem.

2.3.4 Todo argumento possível que possa ser proposto de tal modo que não possa ser cotado como um dos cânones da
interpretação deve obter a devida consideração.

2.4. Regras da argumentação dogmática

2.4.1 Regra geral para os precedentes.

2.4.1.1 Se um precedente puder ser citado a favor ou contra uma decisão, ele deve ser citado.

2.4.1.2 Quem quiser partir de um precedente fica com o encargo do argumento.

2.5 Formas especiais de argumentos jurídicos


2.5.1 Formas de argumentos jurídicos especiais devem ter razões para ser citadas por completo, isto é, tem de chegar à
saturação.

Identificar o discurso jurídico com um caso do discurso prático geral é uma forma de dar racionalidade às decisões judiciais, retirando delas a
possível acusação de subjetivismo. A análise de Robert Alexy nos dá um quadro em que podemos nos orientar de maneira racional.
Evidentemente, suas proposições são passíveis de crítica, mas, ao fazê-las, já admitimos o jogo da argumentação – portanto, passamos a
acreditar que é possível fundamentar as decisões judiciais de modo racional.

No vídeo a seguir, o especialista Davi José de Souza da Silva descreve o pensamento de Alexy sobre a justificativa das decisões.
KLAUS GÜNTHER
Nesta última etapa do nosso módulo sobre teorias da argumentação jurídica, veremos os principais elementos teórico-conceituais da obra
Teoria da argumentação no Direito e na moral: justificação e aplicação (2004), do jurista alemão Klaus Günther. É reconhecidamente um
filósofo e jurista preocupado com uma diversidade de temas, desde o Direito penal até as formas de justificação da decisão judicial. Neste
módulo traremos suas contribuições para a teoria da argumentação, nos concentrando, sobretudo, na argumentação jurídica.

A obra é apresentada pelo professor Luis Moreira (GÜNTHER, 2004), que nos explica sua organização:

KLAUS GÜNTHER
Considerado um membro da terceira geração da Escola de Frankfurt, Klaus Günther é professor na Göethe-Universität, em Frankfurt
am Main, na Alemanha.

1ª PARTE
2ª PARTE
3ª PARTE
4ª PARTE

1ª PARTE

É dedicada ao problema da aplicação na ética do discurso – Klaus Günther indaga se seria possível que discursos de fundamentação fossem
substituídos por discursos de aplicação.

2ª PARTE

Aborda o problema de aplicação de normas no desenvolvimento da consciência moral.

3ª PARTE
Estuda o processo de adequação na moral, no qual são analisados os problemas de colisão de normas e os elementos de uma lógica da
adequação na argumentação moral.

4ª PARTE

É dedicada à análise das argumentações de adequação no Direito, em que se analisa as formas de diferenciação entre Direito e moral na
ética do discurso e o problema da indefinição das normas jurídicas.

Klaus Günther (2004) prefacia sua obra nos afirmando que sua tese principal é a de que não é possível abdicar da razão prática. Por razão
prática podemos entender a moralidade como sistema normativo capaz de fornecer princípios e regras orientadores do comportamento e da
conduta.

Quando Klaus Günther nos diz que não é possível abrir mão da razão prática, ele está nos informando que sem a moral, no contexto da
aplicação do Direito, sobretudo da decisão judicial, não poderemos dar decisões que possam atender às expectativas das partes
interessadas na realização da justiça.

Por isso, Klaus Günter retoma o exemplo do caso Riggs versus Palmer (que chamaremos de exemplo 1):

EXEMPLO 1
O herdeiro Elmer E. Palmer, sabendo que seu avô modificaria o testamento, não lhe deixando herança, cometeu assassinato, tirando a vida
de seu avô. O caso ocorreu no estado de Nova York, nos Estados Unidos, e à época não existia uma norma jurídica positiva, uma lei, um
decreto etc. que proibisse um indivíduo que mata seu “genitor” de herdar seus bens. Apesar do processo criminal, Elmer estaria, por ausência
de previsão legal positiva, habilitado a receber a herança. As tias de Elmer ajuizaram ação para invalidar o testamento deixado por seu pai,
solicitando a exclusão do sobrinho do testamento. A Corte de Apelações do Estado de Nova York entendeu que Elmer não poderia herdar se
beneficiando de seu crime, recorrendo ao princípio geral de que ninguém pode se beneficiar de sua própria torpeza.
Klaus Günther retoma esse caso para nos dizer que, sem a utilização da razão prática, esse caso não poderia ter sido resolvido. Para
Günther, a relação entre moral e Direito será fundamental, pois o Direito será subordinado à moral. Todavia, não apenas na busca ou
definição de princípios corretos para os casos a moralidade será necessária. No momento da aplicação também será necessária, pois o
“senso de equidade não se revela apenas em seguir princípios corretos, mas também em aplicá-los de forma imparcial considerando todas
as condições especiais” (GÜNTHER, 2004). Com isso, Günther está querendo nos dizer que não bastam apenas discursos de justificação,
mas é necessário também que consigamos estabelecer discursos de aplicação da moral e do Direito.

Em outras palavras, apenas critérios que estabeleçam a racionalidade do argumento de fundamentação da decisão, ou seja, que informam
que a Decisão D é racional em função de R, não são suficientes, pois é preciso saber se a racionalidade R é adequada para o caso C.

Vejamos outro exemplo:

EXEMPLO 2
Imagine que você se comprometeu com uma agenda de trabalho a estar no escritório às 20h, porém, no caminho para o compromisso, você
encontrou uma pessoa ensanguentada na rua e parou para ajudá-la. Percebamos que, nesse caso concreto, você está diante da obrigação
de comparecer ao escritório e, ao mesmo tempo, de salvar alguém em perigo. Nesse caso, qual decisão seria mais adequada ao caso?
Atentemos para o fato de que não é a justificação das regras de salvamento ou de cumprimento de promessas que está em causa, mas sim
de qual norma parece mais apropriada ao caso concreto.

Para demonstrar a necessidade de adequação, Günther inicia com a distinção entre discursos de justificação e discursos de aplicação.

Nos discursos de justificação o que se procura fazer é encontrar o critério que estabelece quando uma norma moral pode ser considerada
válida. Günther resgata a ética do discurso de Jürgen Habermas para sustentar que uma norma moral é válida quando obedece ao
princípio de universalização (PU) da ética do discurso. Assim, para que compreendamos:

Para a ética do discurso, uma norma é considerada válida quando pode contar com a concordância de todos aqueles diretamente atingidos
por ela.
Esse critério de validade exige um teste de universalização em que o critério é a inclusão do maior número de participantes envolvidos na
justificação da norma. Todavia, ainda que PU seja realizado, podemos considerar que, em algum momento, não conseguirá incluir a todos,
tampouco nas deliberações sobre ele conseguirá incluir todas as situações possíveis em que o caso se aplique. Dessa maneira, ainda haverá
espaço para indeterminação da validade da norma, bem como da sua aplicação.

Para resolver o problema de aplicação, Günther, então, concebe que é possível ter uma versão “fraca” de PU. Essa versão fraca consistiria
em entender as limitações temporais, espaciais, físicas, relacionais etc. Decidir pela validade de uma norma na versão forte de PU significa
que teríamos de emular muitos cenários para que fosse considerada válida para todos os casos possíveis, e consideradas todas as coisas
possíveis. Tal possibilidade não só é inverossímil como também representaria, num cenário ideal, um ônus cognitivo impossível de ser
realizado. Günther (2004) propõe uma versão fraca de PU segundo a qual uma norma pode ser considerada válida se “[...] as respectivas
consequências e os respectivos efeitos colaterais, que resultem de seu cumprimento geral para a satisfação dos interesses de cada
indivíduo, possam ser aceitos por todos os envolvidos (e preferidos aos efeitos das conhecidas opções de regulamentação)”.

Fonte: Shutterstock.com

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Na visão de Günther, essa formulação mais fraca introduz a ideia de imparcialidade na fundamentação. Ao fazer isso, abre-se o caminho
para definir quais são os critérios da imparcialidade, o que levaria a um princípio da aplicação imparcial de normas. A versão fraca de PU
passa a justificar normas prima facie que demandam a consideração imparcial de todos os envolvidos no caso, testando os seus interesses,
dada uma situação específica. Por isso, para Peterson (1996), “o sentido pleno da razão prática imparcial é completado apenas quando se
pode determinar o sentido de adequação dos discursos imparciais de aplicação, de modo a testar a adequação de normas levando em
consideração todas as características de uma situação concreta”. Concordamos que na visão de Günter sobre a imparcialidade, os discursos
de justificação são baseados numa “relação de interesses”, enquanto os discursos de aplicação são baseados numa “relação situacional”
(PETERSON, 1996).

Como considerar os discursos de aplicação?


 RESPOSTA

O discurso de aplicação, na teoria de Günther, passa a operar a possibilidade de combinar a validação universal com as propriedades
situacionais do caso concreto. Günther traz o contexto para dentro do debate da argumentação, sem perder de vista o critério de validade de
PU, que é a consideração de todos os atingidos. A imparcialidade, introduzida pela necessidade de avaliar os interesses recíprocos, passa a
ser um critério que depende de uma descrição mais completa possível do contexto de aplicação da norma. Assim, as normas precisam ser
ponderadas prima facie , diante do caso.

No caso concreto, se estivermos diante da aplicação aparente de duas normas ao mesmo caso, Günther propõe como metodologia duas
soluções.

Colisão interna

Nesta metodologia, duas normas aparentam ser conflitantes. Diante de uma situação, devemos aplicar PU na versão fraca e verificar qual
norma deixa de atender ao interesse de todos os envolvidos. Assim, a norma que viola o interesse dos envolvidos é considerada inválida.


Colisão externa

Esta metodologia corresponde à necessidade de considerar os fatos e as circunstâncias que têm relevância para o caso, sem que haja a
invalidade de uma das normas, pois a adequação determinará a aplicação de uma norma e o afastamento da outra.

Em ambos os casos, é necessário que haja uma descrição situacional completa que leve em consideração as características do caso de
modo que seja demonstrada a sua relevância moral. O exemplo dado por Günther para verificar a necessidade de uma descrição situacional
que gere relevância e adequação moral é o aparente conflito entre o amigo que promete ir à festa e deixa de fazê-lo, porque precisa salvar
alguém que aparece para ele enfermo. Então, se Marco prometeu ir à festa de Flávia, mas, no dia da festa, no caminho, precisou salvar Luis
Antônio, que estava à beira da morte na avenida, cabe dizer que Marco descumpriu a promessa que fizera a Flávia? Marco entrou num ilícito
moral? A reposta ao questionamento dependerá da capacidade de descrever essa situação de maneira a destacar as propriedades morais
relevantes do caso, que atraem prima facie a aplicação daquela que é a norma mais adequada para o caso.

O último teste então se dá quando a norma adequada ao caso está, também, coerente com o conjunto de normas válidas do ordenamento
jurídico. Exerce esse princípio formal de coerência uma força holística entre os discursos de aplicação e os discursos de justificação.
Podemos concluir, então, acompanhando Keberson Bresolin (2016), que em Günther:

A adequabilidade depende da descrição situacional completa do caso, da seleção das características relevantes do caso, da seleção
de normas relevantes para o caso e de sua aplicação prima facie num sentido holístico entre relevância e adequação;

Os discursos de justificação buscam a validade das normas;

Os discursos de aplicação buscam indicar a norma adequada para o caso, considerando as circunstâncias relevantes;

Com um PU “fraco”, normas podem ser consideradas válidas quando atendem aos interesses recíprocos de todos;

Segundo o princípio formal da coerência, a norma adequada deve estar em coerência formal com as demais normas do sistema
jurídico.

VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. NA TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO DE ROBERT ALEXY, PODEMOS CONSIDERAR QUE O QUE JUSTIFICA,
DO PONTO DE VISTA INTERNO, O DISCURSO JURÍDICO É O PRINCÍPIO:

A) Da inclusão

B) Da racionalidade

C) Da veracidade

D) Da pertença

E) Da universalizabilidade

2. NA TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO, EM KLAUS GÜNTHER, HÁ UMA ÉTICA QUE SUSTENTA SUAS


FORMULAÇÕES:

A) Ética das virtudes

B) Ética utilitarista

C) Ética consequencialista

D) Ética do discurso

E) Ética das preferências

GABARITO
1. Na teoria da argumentação de Robert Alexy, podemos considerar que o que justifica, do ponto de vista interno, o discurso
jurídico é o princípio:

A alternativa "E " está correta.

Um discurso é justificável internamente se atende ao princípio da universalizabilidade, que estabelece que “há uma obrigação de tratar de
certo modo todas as pessoas que pertencem à mesma categoria” (ALEXY, 2001).

2. Na teoria da argumentação, em Klaus Günther, há uma ética que sustenta suas formulações:

A alternativa "D " está correta.

A teoria ética que sustenta a teoria da argumentação de Klaus Günther é a teoria do discurso do filósofo alemão Jürgen Habermas. São
válidas todas as normas que passam pelo teste do PU, segundo o qual são consideradas válidas todas as normas cujo consentimento seja
dado por todos aqueles diretamente atingidos por elas.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Visitamos três das principais teorias da argumentação que têm forte impacto sobre o nosso pensamento moral e jurídico.
Como pudemos ver, a racionalidade prática não se deixa reduzir a uma forma lógica e demonstrativa. Nesse aspecto, para garantir uma
objetividade em nossos debates morais e jurídicos, faz-se necessário estabelecer critérios capazes de serem recursivamente criticados e
justificados perante os indivíduos e a sociedade.

Esperamos que com as teorias da argumentação aqui apresentadas o seu senso crítico fique mais aguçado diante dos necessários debates
que você fará ao longo de sua jornada como cidadão político, indivíduo ético e profissional.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica. São Paulo: Landy Editora, 2001.

ALEXY, Robert. Teoria discursiva do Direito. Organização de Alexandre Travessoni Gomes Trivisonno. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2014.
ATIENZA, Manuel. As razões do Direito: teorias da argumentação jurídica. São Paulo: Landy Editora, 2003.

ATIENZA, Manuel. O Direito como argumentação. Lisboa: Escolar Editora, 2014.

BRESOLIN, Keberson. Klaus Günther e a nova perspectiva sobre a teoria da argumentação: justificação e aplicação. In: Revista
Conjectura, Caxias do Sul, v. 21, n. 2, p. 338-361, maio/ago. 2016.

FRANKLIN, Mitchell. The philosophy and legal philosophy of Chaïm Perelman. In: Buffalo Law Review, n. 261, 1970. Consultado em
meio eletrônico em: 8 dez. 2020.        

GROSS, Alan G.; DEARIN, Ray D. Chaïm Perelman. Albany: State University of Nova York Press, 2002.

GÜNTHER, Klaus. Teoria da argumentação no Direito e na moral: justificação e aplicação. São Paulo: Landy Editora, 2004.

MARTINS, Argemiro Cardoso Moreira; OLIVEIRA, Cláudio Ladeira de. A contribuição de Klaus Günther ao debate acerca da distinção
entre regras e princípios. In: Revista Direito GV 3, v. 2, n. 1, p. 241-254, jan./jun. 2006. [Resenha].

PEDRON, Flávio Quinaud. A contribuição e os limites da teoria de Klaus Günther: a distinção entre discursos de justificação e discursos
de aplicação como fundamento para uma reconstrução da função jurisdicional. In : Revista da Faculdade de Direito, Curitiba, n. 48, p. 187-
201, 2008.

PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

PETERSON, Victor. Review essay: moral application discourses. In : Philosophy & Social Criticism, v. 22, n. 1, p. 115-124, 1996.

EXPLORE+
Aprofunde os estudos sobre a teoria da argumentação de Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca lendo os artigos indicados a
seguir.

GAMBA, Juliane Caravieri Martins; MONTAL, Zélia Maria Cardoso. A eterna busca pela justiça: de Aristóteles a Chaïm Perelman.
In: Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 29, n. 1, p. 3-22, jan./jun. 2008.

SILVEIRA, Regina Yara Martinelli. Retórica antiga e nova retórica: Chaïm Perelman e os sofistas. In: Reflexão, Campinas, v. 31, n.
89, p. 75-82, jan./jun. 2006.

Aprofunde os seus estudos sobre as teorias de Robert Alexy e Klaus Günther:

BRESOLIN, Keberson. A “coerência” em decisões no Direito e na moral na teoria da argumentação de Klaus Günther. In:
Pensando: Revista de Filosofia, v. 7, n. 14, 2016.

SOARES, Marcos Antônio Striquer; LIMA, Priscila Rosa. Decisão judiciária: estudo do pensamento de Robert Alexy. In: Revista de
Direito Público, Londrina, v. 7, n. 2, p. 3-16, maio/ago. 2012.

Para estudar um pouco mais sobre as implicações do caso Riggs versus Palmer no Direito brasileiro, leia o artigo O caso Riggs vs.
Palmer como um ‘modelo’ adequado para decidir sobre os direitos fundamentais no panorama da constitucionalização do Direito no
Brasil .

CONTEUDISTA
Davi José de Souza da Silva

 CURRÍCULO LATTES

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