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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

SECRETARIA EXECUTIVA DE EDUCAÇÃO


ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO RUI BARBOSA

Língua Portuguesa - 1º ano


PROFESSORA: SUSANE MARVÃO CARNEIRO
TURMA:
ALUNO (A): _____________________________________________________________________________

Norma culta x Variações linguísticas


Você já deve ter observado que existe uma grande diferença entre a língua que falamos em nosso dia a
dia e a língua preconizada pela gramática, não é mesmo? Por que será que esse fenômeno acontece? Por que nós,
falantes, acabamos inventando um jeito menos formal de nos comunicar?
A linguagem verbal certamente é a forma de expressão mais eficaz, aquela que conecta pessoas e permite
que elas se entendam. Claro que existem outras formas de comunicação, mas a verdade é que a palavra,
especialmente quando falada, tem muita força. Como é uma ferramenta democrática, afinal de contas, estamos o
tempo todo interagindo com diferentes interlocutores ao longo do dia, é normal que ela não seja padronizada.
Cada indivíduo possui sua idiossincrasia, e são vários os fenômenos sócio-histórico-culturais que incidem no
jeito de cada comunidade linguística falar.

Mas e a norma culta, também chamada de norma-padrão, como fica nessa história?
A norma culta é indispensável e tão importante quanto as variações linguísticas. A norma culta rege um
idioma, aponta caminhos e deve ser estudada na escola para que assim todos tenham acesso às diferentes formas
de pensar a língua. Se, ao falarmos, escolhemos um vocabulário coloquial, menos preocupado com as regras
gramaticais, ao escrevermos devemos sim optar pela linguagem padrão, pois, um texto repleto de expressões
típicas pode não ser acessível para todos os tipos de leitores. Quando dizemos que a norma culta deve ser
priorizada nos textos escritos, estamos nos referindo, sobretudo, aos textos não literários, que cobram maior
formalidade de quem escreve.
Claro que todas as variedades linguísticas são eficazes na comunicação e possuem valor nas comunidades
em que são faladas. Apesar disso, existe entre as variedades uma que tem maior prestígio social, pois é
utilizada como exemplo: livros, documentos, cartas, comerciais, jornais, revistas, programas de tevê e por pessoas
que tiveram mais acesso aos estudos: é a língua padrão, também conhecida como variedade padrão ou norma
culta.
Essa é uma variedade de prestígio. Mas quando se fala de prestígio, o termo prestígio não deve ser
entendido como qualificador dessa variação em detrimento das outras. Usa-se o termo prestígio apenas porque
os falantes dessa variedade linguística gozam de prestígio social (escritores, médicos, advogados, etc).
Essa variedade linguística é necessária em diferentes momentos de nossa vida social: ao fazermos uma entrevista
para conseguir um emprego, ao apresentarmos um trabalho escolar, ao participarmos de um debate, ao
escrevermos uma carta para uma autoridade da prefeitura, ao fazermos um requerimento, etc. Dada sua
importância, a escola se propõe a ensinar a variedade padrão a todas as crianças e jovens do país, preparando-os
para ingressar na vida social.
O importante é se atentar que as variações linguísticas comprovam a organicidade da língua: ela não está
encerrada nos dicionários ou gramáticas; está viva, na boca do povo, seus verdadeiros donos. Na língua falada
não pode existir certo ou errado, o mais importante é que as pessoas se entendam, que a comunicação seja feita
de maneira eficiente. Você já observou que mesmo quem não domina as regras gramaticais é capaz de elaborar
enunciados compreensíveis? Mesmo não entendendo da sintaxe da língua, somos capazes de colocar as palavras
nos seus devidos lugares, respeitando o princípio da gramaticalidade e da inteligibilidade, elementos
fundamentais para que a comunicação aconteça satisfatoriamente.
Somos falantes hábeis, capazes de perceber quando e como empregar cada uma das variedades. Sabemos
que há situações em que devemos preferir a variedade padrão, pois será a mais adequada, aquela que estabelecerá
uma maior sintonia entre os interlocutores. Sabemos também que há situações em que as variedades não padrão,
permeadas por suas gírias e regionalismos, cumprem a contento a missão de comunicar. Não há problema algum
em alternar os dois registros, o importante é observar a pertinência de cada um deles, pois um será mais adequado
do que o outro, observadas as necessidades da comunicação. A linguagem foi feita para a comunicação, por isso,
comunique-se mais e sem medo de errar. Já que na verdade, na maioria das vezes não é um erro que está se
cometendo, mas sim o uso inadequado da variante linguística.
O que se deve fazer é, se atentar para a adequação linguística, princípio segundo o qual não se fala mais
em “certo” ou “errado” na avaliação de uma determinada variedade linguística. Fala-se, pois, se a variedade em
questão é adequada ou não à situação comunicativa (contexto) em que ela se manifesta. Isso significa que, em
um contexto formal ou solene, seria adequado o uso da linguagem formal (padrão, culta) e inadequado o uso de
uma variedade informal (coloquial). Da mesma forma, em situações informais, deve-se usar uma variante
informal (coloquial) em detrimento da linguagem formal (padrão, culta). E ter claro que o que é adequação
linguística é essencial para todos, família, escola, mídias, enfim, para a sociedade, pois só assim se poderá
contribuir para o fim do preconceito linguístico.

Variações Linguísticas
Quando falamos em variação linguística, analisamos os diferentes modos em que é possível expressar-
se em uma língua, levando-se em conta a escolha de palavras, a construção do enunciado e até o tom da fala. A
língua é a nossa expressão básica, e, por isso, ela muda de acordo com a cultura, a região, a época, o contexto, as
experiências e as necessidades do indivíduo e do grupo que se expressa. Veja quantos fatores empregamos para
adequar a nossa fala à situação e ao grupo em que nos encontramos.

Tipos de Variações Linguísticas


Há quatro tipos de distinção dentro das variações linguísticas. Vamos aprender um pouco sobre cada um
deles.

• Variações Históricas (diacrônicas)


As variações históricas tratam das mudanças ocorridas na língua com o decorrer do tempo. Algumas
expressões deixaram de existir, outras novas surgiram e outras se transformaram com a ação do tempo.cUm
clássico exemplo da língua portuguesa é o termo “você”: no português arcaico, a forma usual desse pronome de
tratamento era “vossa mercê”, que, devido a variações inicialmente sociais, passou a ser mais usado
frequentemente como “vosmecê”. Com o passar dos séculos, essa expressão reduziu-se ao que hoje falamos como
“você”, que é a forma incorporada pela norma-padrão (visto que a língua adapta-se ao uso de seus falantes) e
aceita pelas regras gramaticais. Em contextos informais, é comum ainda o uso da abreviação “cê” ou, na escrita
informal, “vc” (lembrando que estas últimas formas não foram incorporadas pela norma-padrão, então não são
utilizadas na linguagem formal).
Vossa mercê → Vosmecê → Você → Cê
Outras mudanças comuns são as de grafia, as quais as reformas ortográficas costumam regular. Assim, a
partir de 2016, a palavra “consequência” passou a ser escrita sem trema, sendo que antes era escrita desta forma:
“conseqüência”. Do mesmo modo, a palavra “fase” é hoje escrita com a letra f devido à reforma ortográfica de
1911, sendo que antes era escrita com ph: “phase”.
Conseqüência → Consequência
Phase → Fase
Vale, ainda, comentar a respeito de palavras que deixam de existir ou passam a existir. Isso acontece
frequentemente com as gírias: se antes jovens costumavam dizer que algo era “supimpa” ou que “aquele broto é
um pão”, hoje é mais comum ouvir deles que algo é “da hora” ou que “aquela mina é mó gata”.
• Variações Geográficas (diatópicas)
As variações geográficas naturalmente falam da diferença de linguagem devido à região. Essas
diferenças tornam-se óbvias quando ouvimos um falante brasileiro, um angolano e um português conversando:
nos três países, fala-se português, mas há diferenças imensas entre cada fala.

Não é preciso que a distância seja tão grande: dentro do próprio Brasil, vemos diferenças de léxico
(palavras) ou de fonemas (sons, sotaques). Há diferenças entre a capital e as cidades do interior do mesmo estado.
Observemos alguns exemplos de diferenças regionais: “Mandioca”, “aipim” ou “macaxeira”? Os três nomes estão
corretos, mas, dependendo da região do Brasil, você ouvirá com mais frequência um ou outro. O mesmo vale
para a polêmica disputa entre “biscoito” e “bolacha”, que se estende para todo o território nacional.As gírias
também variam bastante regionalmente: cerveja pode ser conhecida como “bera” em regiões do Paraná, “breja”
em São Paulo e “cerva” no Rio de Janeiro.

• Variações Sociais (diastráticas)


As variações sociais são as diferenças de acordo com o grupo social do falante. Embora tenhamos visto
como as gírias variam histórica e geograficamente, no caso da variação social, a gíria está mais ligada à faixa
etária do falante, sendo tida como linguagem informal dos mais jovens (ou seja, as gírias atuais tendem a ser
faladas pelos mais novos). Há, ainda, expressões informais ligadas a grupos sociais específicos. Um grupo de
futebolistas, por exemplo, pode usar a expressão “carrinho” com significado específico, que pode não ser
entendido por um falante que não goste de futebol ou que será entendido de modo distinto por crianças, por
exemplo.
Um grupo de capoeiristas pode facilmente falar de uma “meia-lua”, enquanto pessoas de fora desse grupo
talvez não entendam imediatamente o conceito específico na capoeira. Do mesmo modo, capoeiristas e
instrumentistas provavelmente terão mais familiaridade com o conceito de “atabaque” do que outras pessoas.
Como vimos, as profissões também influenciam bastante nas variações sociais por meio dos termos técnicos
(jargões): contadores falam dos termos “ativo” e “passivo” para remeter a conceitos diferentes daqueles usados
por linguistas. No entanto, em ambos os casos, ativo e passivo são conceitos muito mais específicos do que seu
uso geral em outros grupos.
• Variações Estilísticas (diafásicas)
As variações estilísticas remetem ao contexto que exige a adaptação da fala ou ao estilo dela. Aqui
entram as questões de linguagem formal e informal, adequação à norma-padrão ou despreocupação com seu uso.
O uso de expressões rebuscadas e o respeito às normas-padrão do idioma remetem à linguagem tida como culta,
que se opõe àquela linguagem mais coloquial e familiar. Na fala, o tom de voz acaba tendo papel importante
também.
Assim, o vocabulário e a maneira de falar com amigos provavelmente não serão os mesmos que em uma
entrevista de emprego, e também serão diferentes daqueles usados para falar com pais e avós. As variações
estilísticas respeitam a situação da interação social, levando-se em conta ambiente e expectativas dos
interlocutores.

Linguagem Formal e Informal


A Linguagem Formal e Informal são duas variantes linguísticas que possuem o intuito de comunicar.
No entanto, elas são utilizadas em contextos distintos. Sendo assim, é muito importante saber diferenciar essas
duas variantes para compreender seus usos em determinadas situações. A linguagem formal, também é chamada
de "culta" e está pautada no uso correto das normas gramaticais bem como na boa pronúncia das palavras. Já a
linguagem informal ou coloquial representa a linguagem cotidiana, ou seja, trata-se de uma linguagem
espontânea, regionalista e despreocupada com as normas gramaticais.
A situação em que nos encontramos define o tipo de linguagem que usaremos. Primeiro, pensemos no
conceito de norma-padrão: as convenções da língua criam regras gramaticais que buscam nortear seu uso, de
modo que falantes de uma mesma língua, apesar das variações existentes, consigam entender-se por um padrão
comum a todos.
Assim, um jovem nascido no Acre conseguirá comunicar-se com uma senhora que viveu em Santa
Catarina baseado nas regras comuns da norma-padrão da língua portuguesa. Do mesmo modo, grandes
veículos de comunicação, como emissoras de TV ou mesmo youtubers, podem produzir mensagens que serão
basicamente compreendidas por qualquer falante do idioma utilizado.
Um contexto mais casual, como uma reunião com amigos ou um almoço em família, pede uma expressão
coloquial. Por mais respeito que haja entre você e sua família e amigos, você não utilizará palavras ou construções
gramaticais muito rebuscadas. Aqui, há mais liberdade na maneira de falar, por isso você utiliza uma linguagem
informal, que pode permitir o uso de gírias, de frases feitas ou interjeições, de abreviações, de desvios gramaticais
(ou menor preocupação em seguir a norma-padrão) etc.
Já o contexto formal, como reuniões profissionais, discursos ou ambientes acadêmicos, exige o uso
da linguagem formal, aquela que se preocupa com a norma-padrão e suas regras gramaticais, seguindo-as
estritamente. Além disso, a fala torna-se polida e clara, e mesmo a escolha das palavras é feita com maior
cuidado.
No entanto, como vimos, de acordo com o contexto no qual estamos inseridos, devemos seguir as regras
e normas impostas pela gramática, seja quando elaboramos um texto (linguagem escrita) ou organizamos nossa
fala numa palestra (linguagem oral). Em ambos os casos, utilizaremos a linguagem formal, que está de acordo
com a normas gramaticais. Observe que as variações linguísticas são expressas geralmente nos discursos orais.
Quando produzimos um texto escrito, seja em qual for o lugar do Brasil, seguimos as regras do mesmo
idioma: a língua portuguesa. Lógico, que mesmo na escrita, tem que haver uma adequação. Não se escreve um
bilhete da mesma forma que se escreve um ofício. E atualmente, através do uso das mídias sociais e das
tecnologias, o uso da escrita também está se dando de forma diferenciada, com siglas, abreviações e até palavras
criadas para o próprio ambiente virtual. Mas, não se deve esquecer que via de regra deve-se seguir as regras da
língua portuguesa.

Preconceito Linguístico
Tendo tantas variações e nuances, pudemos ver que cada contexto social traz naturalmente um modo mais
ou menos adequado de expressão, sendo importante entender que as variações linguísticas existem para
estabelecer uma comunicação adequada ao contexto pedido. Apesar disso, as diversas maneiras de expressar-
se ganham status de maior ou menor prestígio social baseado em uma série de preconceitos sociais: as variações
linguísticas ligadas a grupos de maior poder aquisitivo, com algum tipo de status social, ou a regiões tidas como
“desenvolvidas” tendem a ganhar maior destaque e preferência em relação às variedades linguísticas ligadas a
grupos de menor poder aquisitivo, marginalizados, que sofrem preconceitos ou que são estigmatizados.
Desenvolve-se, assim, o preconceito linguístico, que se baseia em um sistema de valores que afirma que
determinadas variedades linguísticas são “mais corretas” do que outras, gerando um juízo de valor negativo ao
modo de falar diferente daqueles que se configuram como os “melhores”. O preconceito linguístico nada mais
é do que a reprodução, no campo linguístico, de um sistema de valores sociais, econômicos e culturais.
“O preconceito linguístico deriva da construção de um padrão imposto por uma elite econômica e intelectual
que considera como “erro” e, consequentemente, reprovável tudo que se diferencie desse modelo. Além disso,
está intimamente ligado a outros preconceitos também muito presentes na sociedade, como preconceito
socioeconômico, preconceito regional, preconceito cultural, preconceito racial e a homofobia” (Marcos Bagno)
No entanto, ao estudarmos as variações linguísticas, percebemos que não há uma única maneira de
expressar-se e que, portanto, não há apenas um modo certo. A língua e sua expressão variam de acordo com uma
série de fatores. Antes de tudo, ela deve cumprir seu papel de expressão, sendo compreendida pelos falantes e
estando adequada aos contextos e às expectativas no ato da fala. Dessa forma, o ideal do preconceito linguístico,
que gera juízo de valor às diferentes variações linguísticas, não deve ser alimentado.

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