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PREFEITURA MUNICIPAL DE TAUBATÉ

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA ESCOLA SEM MUROS
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LÍNGUA PORTUGUESA
ENSINO MÉDIO

Turma: 1º ano
Objeto de conhecimento: Variação linguística
Habilidades: Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da
identidade nacional.
Relacionar textos ao seu contexto de produção/recepção histórico, social, político, cultural,
estético.
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Variação Linguística - O que é?


É com a citação do professor e gramático Celso Cunha, destacada abaixo, que vamos
começar a nossa reflexão sobre variação linguística. Assunto por vezes polêmico, vítima
de preconceitos e centro de debates tanto no ensino mais básico quanto nas rodas do
ensino superior. Vamos ver do que se trata.

“Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu domínio e, ainda num só local, apresenta um sem-número de
diferenciações.[…] Mas essas variedades de ordem geográfica, de ordem social e até individual, pois cada um
procura utilizar o sistema idiomático da forma que melhor lhe exprime o gosto e o pensamento, não prejudicam a
unidade superior da língua, nem a consciência que têm os que a falam diversamente de se servirem de um mesmo
instrumento de comunicação, de manifestação e de emoção.”

O que é a variação linguística?


É o modo pelo qual a língua se diferencia dentro do seu próprio sistema. Esta diferença pode ser
histórica, geográfica ou sociocultural. Vemos que a língua não é única, que o sistema linguístico abriga
diversos ângulos na realização linguística. Observamos a diferenças na fala que se relacionam à idade, à
região do país, à cultura e até mesmo ao estilo. Se prestarmos bastante atenção, perceberemos que a
variação acontece nos mais variados segmentos da língua, como o fonético, o sintático, o léxico, o semântico
etc. Tudo isso também configura a evolução da língua, o seu desenvolvimento e sua adaptação através do
tempo e das mudanças sociais.
A área de estudo que busca entender e descrever as diferentes manifestações linguísticas em
um mesmo idioma chama-se sociolinguística. O pesquisador dessa área busca verificar entre os falantes de
determinadas línguas diferenças nos modos de falar de acordo com quatro níveis:
O nível diatópico
Se relaciona com o lugar onde o falante reside, ou seja, a variação diatópica é a variação regional. Um
exemplo desse tipo seria a palavra mandioca. Em certas regiões do Brasil a mandioca é chamada de
macaxeira ou aipim. Os sotaques também entram nesse tópico, como variação regional. Veja:

O nível diafásico
Relaciona-se com o contexto
comunicativo, ou seja, a
ocasião é que será
determinante para a escolha
do modo de falar. Vemos, por
exemplo as diferenças entre
um texto escrito e um bate-
papo informal entre colegas.

https://slideplayer.com.br/slide/12111924/

O nível histórico ou diacrônico


São variações ocorridas em períodos históricos distintos.
Por exemplo, a palavra ‘embora’ dizia-se ‘em boa hora’ no
século XIX, no século seguinte permanece embora e mais
atualmente podemos ver a palavra reduzida em forma de
‘bora’. Outro exemplo é a palavra “Você”.
O nível diastrático
Este acontece devido à convivência entre os grupos sociais. As gírias estão relacionadas a este tipo de
variação linguística. Tudo é social e se relaciona com um determinado grupo de pessoas, como por exemplo,
os surfistas, funkeiros, jornalistas, etc.
ADEQUAÇÃO LINGUÍSTICA

Você já reparou que, mesmo falando


apenas um idioma – a língua portuguesa –
você se comunica em situações cotidianas de
diversas maneiras? Nós escolhemos o
vocabulário que vamos utilizar e até mesmo
um jeito mais apropriado de falar, variando de
acordo com a situação na qual nos
encontramos.
Você não fala do mesmo jeito com a sua
mãe, com os seus amigos, com a sua
professora ou seu professor etc. A linguagem
vai sofrendo algumas modificações, e essa
capacidade de falarmos de distintas maneiras
é chamada de adequação linguística.

O que é adequação linguística?


A linguagem sofre variações de acordo com o assunto, ambiente, interlocutor e
intencionalidade. Estes fatores se referem à adequação linguística.
Durante muito tempo, buscou-se a uniformidade linguística e, assim, tudo o que não
entrava nos padrões da gramática normativa era considerado erro. Atualmente, o foco está no
conceito de adequado e inadequado, porque há a compreensão de que a linguagem, isto é, o
processo de interação comunicativa, é heterogêneo, apresentando níveis de linguagem e níveis
de fala.
Assim sendo, a adequação linguística é compreendida como a habilidade que os falantes
possuem de adaptar a linguagem de acordo com a necessidade do momento.
Existem dois diferentes registros da Língua Portuguesa: a variedade padrão e a variedade
popular, também conhecida como linguagem coloquial. Cada uma das duas variedades citadas
deve ser empregada em situações específicas e cumpre bem o seu papel específico na
comunicação.
Fatores dos níveis de linguagem e de fala
Como já dissemos, a linguagem sofre variações de acordo com o assunto, interlocutor,
ambiente e intencionalidade, que são os fatores que se referem à adequação linguística.
Saiba mais sobre os fatores que determinam os níveis de linguagem e de fala:
O interlocutor
Os interlocutores (emissor e receptor) participam igualmente do processo de comunicação e, por
isto, é um dos fatores determinantes para a adequação linguística. Quando nos comunicamos
com alguém, precisamos nos fazer entender, não é mesmo? O objetivo de toda e qualquer
comunicação é busca pelo sentido, ou seja, é necessário que haja o entendimento entre os
interlocutores.
Lembre-se que você não conversa com a sua mãe do mesmo jeito que fala com o seu amigo e
nem com o seu professor.
Ambiente
A linguagem também é definida a partir do ambiente. Não é possível usar o mesmo tipo de
linguagem entre os amigos e em um ambiente de trabalho, por exemplo; ou em uma igreja e em
uma festa.
Assunto
A escolha do assunto também é um fator de adequação linguística, pois é necessário adequar a
linguagem ao que será dito. Por exemplo, um convite para uma festa não pode ser feito da
mesma maneira que um convite para uma missa de 7º dia.
Intencionalidade
Qualquer texto, seja oral ou escrito, tem um objetivo, ou seja, é carregado de intenção. E, para
cada intenção, há uma forma de linguagem adequada.
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AGORA, Vamos pensar um pouco...


Exercícios de variação linguística
1. Leia o texto a seguir e responda:

Óia eu aqui de novo xaxando


Óia eu aqui de novo pra xaxar
Vou mostrar pr’esses cabras
Que eu ainda dou no couro
Isso é um desaforo
Que eu não posso levar
Que eu aqui de novo cantando
Que eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo mostrando
Como se deve xaxar.
Vem cá morena linda
Vestida de chita
Você é a mais bonita
Desse meu lugar
Vai, chama Maria, chama Luzia
Vai, chama Zabé, chama Raque
Diz que tou aqui com alegria.
(BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em Acesso em 5 mai 2013)
A letra da canção de Antônio Barros manifesta aspectos do repertório linguístico e cultural do Brasil. O verso
que singulariza uma forma do falar popular regional é

(A) “Isso é um desaforo”


(B) “Vou mostrar pr’esses cabras”
(C) “Diz que eu tou aqui com alegria”
(D) “Vai, chama Maria, chama Luzia”
(E) “Vem cá, morena linda, vestida de chita”
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2. Leia o texto:

Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais bem-sucedida: aceitar a mudança da língua
como um fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma de língua em suas atividades
escritas? Não deve mais corrigir? Não!
Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mundo real da escrita, não existe apenas um
português correto, que valeria para todas as ocasiões: o estilo dos contratos não é o mesmo
dos manuais de instrução; o dos juízes do Supremo não é o mesmo dos cordelistas; o dos editoriais
dos jornais não é o mesmo dos dos cadernos de cultura dos mesmos jornais. Ou do de seus colunistas.
(POSSENTI, S. Gramática na cabeça. Língua Portuguesa, ano 5, n. 67, maio 2011 – adaptado).

Sírio Possenti defende a tese de que não existe um único “português correto”. Assim sendo, o domínio
da língua portuguesa implica, entre outras coisas, saber

(A) desprezar as formas da língua previstas pelas gramáticas e manuais divulgados pela escola.
(B) moldar a norma padrão do português pela linguagem do discurso jornalístico.
(C) reservar o emprego da norma padrão aos textos de circulação ampla.
(D) adequar as formas da língua a diferentes tipos de texto e contexto.
(E) descartar as marcas de informalidade do texto.
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3. Leia o texto:
Até quando?
Não adianta olhar pro céu
Com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer
E muita greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão
Virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus
Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!
(GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo).
Rio de Janeiro: Sony Music, 2001 (fragmento).
As escolhas linguísticas feitas pelo autor conferem ao texto

(A) tom de diálogo, pela recorrência de gírias.


(B) originalidade, pela concisão da linguagem.
(C) espontaneidade, pelo uso da linguagem coloquial.
(D) caráter atual, pelo uso de linguagem própria da internet.
(E) cunho apelativo, pela predominância de imagens metafóricas.
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4. Leia o texto:
"Todas as variedades linguísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e subsistemas
adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à
estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das
características das suas diversas modalidades regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão,
por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais
prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade.
Do valor normativo decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se
torna uma ponderável força contrária à variação."
(Celso Cunha. Nova gramática do português contemporâneo. Adaptado.)

A partir da leitura do texto, podemos inferir que uma língua é:


(A) a modalidade oral alcança maior prestígio social, pois é o resultado das adaptações
linguísticas produzidas pelos falantes.
(B) A língua padrão deve ser preservada na modalidade oral e escrita, pois toda modificação é
prejudicial a um sistema linguístico.
(C) conjunto de variedades linguísticas, dentre as quais uma alcança maior valor social e passa a
ser considerada exemplar.
(D) sistema que não admite nenhum tipo de variação linguística, sob pena de empobrecimento do
léxico.
Gabarito: 1B, 2D, 3D, 4C
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Para aprender um pouco mais...


Seguem dois links para você assistir a vídeo-aulas sobre esse tema e aprofundar seus
conhecimentos...
https://www.youtube.com/watch?v=6fBOVygtNoU
https://www.youtube.com/watch?v=dffRZNrhQ7w
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GABARITANDO - LÍNGUA PORTUGUESA

LINGUAGEM, LINGUAS, VARIAÇÕES

A linguagem, no sentido que aqui lhe atribuímos:

A capacidade, a aptidão humana para o exercício da comunicação, processo através do qual se


produz a troca de informações.

Linguagem verbal: aquela em que se usa apenas a palavra, falada ou escrita.

Linguagem não-verbal: utiliza outros tipos de código, que não a palavra: desenhos, pinturas, fotos,
gestos.
Língua: um código, conjunto de signos e regras de uso que obrigam todos os falantes de uma
determinada comunidade linguística, apesar de suas diversidades.
É, também, um instrumento da nacionalidade, um elemento básico na formação do conceito de
pátria.

FALA: USO INDIVIDUAL DA LÍNGUA

Língua : virtualidade

Fala: realidade

A fala, ao contrário da língua, por se constituir de atos individuais, torna-se múltipla, imprevisível,
irredutível a uma pauta sistemática. Os atos linguísticos individuais são ilimitados, não formam um
sistema

LINGUAGEM FALADA X LINGUAGEM ESCRITA

VERBA VOLANT X SCRIPTA MANENT

Linguagem oral Linguagem escrita

espontânea disciplinada, rígida

agramatical gramatical

vocabulário mais limitado vocabulário mais extenso

descuidada elaborada

envolvimento distanciamento

frases inacabadas, estrutura frasal

formas contraídas e vocabular respeitada


recursos adicionais: rítmicos, a palavra, sinais de

melódicos, corporais pontuação, acentuação

Variações linguísticas

Possibilidades que a língua, dinâmica e versátil como é, apresenta, para a expressão comunicativa de
grupos sociais definidos em função de aspectos regionais, sociais, históricos, profissionais, etc

Tipos de variação linguística:

HISTÓRICA

GEOGRÁFICA

SÓCIOCULTURAL

PROFISSIONAL

CONTEXTUAL
Surfista 01: E aí brother, tranquilão?

Surfista 02: Show!!! Viu que doideira o campeonato

da prainha ontem?

Surfista 01: Vi cara! O maluco virou a bateria no finzinho


tirando um tubão animal!

Surfista 02: Alucinante, né não?

Surfista 01: Então, vamos aproveitar e dar uma caída?

Surfista 02: Como é que tá o mar?

Surfista 01: Um metrão, lisinho,

abrindo várias direitas...

tá clássico!

Surfista 02: Demorô! Só se for agora!

Surfista 01: já é então. Partiu!

Norma culta

A variante culta da língua é a língua padrão: É a variante ensinada na escola, de utilização em contextos
que exigem formalidade e inteira observância dos princípios gramaticais. Predomina nos textos
escritos.

Registro coloquial

A variante coloquial (ou registro coloquial) da língua é de utilização em situações de informalidade.


Não há aqui preocupação com o rigorismo gramatical ou vocabular.
É linguagem familiar, popular, predominantemente oral, mas não exclusivamente,

Exercícios de aplicação:

1 - Que considerações se podem fazer , do ponto de vista da

norma culta e/ou do registro coloquial, sobre o emprego do

verbo “ter” na figura abaixo?

2 – Pode se afirmar que o texto abaixo, de Oswald de Andrade,

relativiza o emprego da norma culta?

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno
E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos. São Paulo: Nova Cultural.1988.)

3 – Pode-se afirmar que o texto abaixo ratifica a concepção da linguagem como um fenômeno dinâmico?

Não Tem Tradução

(Noel Rosa, Francisco Alves e Ismael Silva)

(...)

A gíria que o nosso morro criou

Bem cedo a cidade aceitou e usou

Mais tarde o malandro deixou de sambar, dando pinote

Na gafieira dançar o Fox-Trote

(...)

Tudo aquilo que o malandro pronuncia

Com voz macia é brasileiro, já passou de português

Amor lá no morro é amor pra chuchu

As rimas do samba não são I love you

E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny


Só pode ser conversa de telefone

Concluindo, com Bechara:

“Temos que ser poliglotas em nossa própria língua”

Concluindo, com Bechara:

“Temos que ser poliglotas em nossa própria língua”

Variação linguística - exercícios de fixaçãoL


DICAS DE VESTIBULAR! FIQUE DE OLHO NAS VARIEDADES
LINGUÍSTICAS!

Um dos assuntos mais recorrentes nas provas dos grandes


vestibulares é o dos diferentes modos de utilizar a língua, na
modalidade falada e escrita. A esse tópico, denomina-se Variedades
Linguísticas. Por isso, quem está se preparando para as provas dos
grandes vestibulares e, sobretudo para o ENEM, é importante
lembrar os principais assuntos acerca desse tema:

Variedades Linguísticas.
Variedade linguística demostra como uma língua é sensível a fatores
como região geográfica, o sexo, a idade, a classe social dos falantes e o
grau de formalidade do contexto. Assim, é impossível todos usarem a
língua da mesma forma, já que cada um apresenta uma característica
social específica.
Língua Culta e Língua Coloquial.
A língua culta ou formal é usualmente falada e escrita em situações mais
formais pelas pessoas de maior instrução e de maior escolaridade. Os
documentos oficiais (leis, sentenças judiciais, etc.), os livros e relatórios
científicos, os contratos, as cartas comerciais, os discursos políticos etc.
são exemplos de textos escritos nessa variedade linguística.
A língua coloquial ou informal, por sua vez, é uma variante mais
espontânea, utilizada nas relações informais entre os falantes. É a língua
do cotidiano, sem preocupações com as regras rígidas da gramática
normativa. Outra característica da língua coloquial é o uso constante de
expressões populares, frases feitas, gírias, etc.
Adequação e inadequação linguística.
Mais do que saber as regras da impostas pela Gramática Normativa, um
bom falante da língua é aquele que sabe adequar o modo de utilizar a
linguagem a determinados contextos de comunicação. Como exemplo,
pode-se citar um falante que utiliza uma linguagem formal em um bilhete
para seu amigo de escola, uma pessoa com quem ele tem intimidade.
Sendo assim, esse falante não soube adequar o tipo de linguagem a este
contexto.
Fatores que influenciam na inadequação:
O interlocutor: Não se fala do mesmo modo com um adulto e com uma
criança
O Assunto: Falar sobre a morte de uma pessoa amiga requer uma
linguagem diferente da usada para lamentar a derrota do time de futebol.
O ambiente: Não se fala do mesmo jeito em um templo religioso e em
um festa com os amigos.
A relação falante-ouvinte: Não se fala da mesma maneira com um amigo
e com um estranho.
A intenção: Para se fazer um elogio ou um agradecimento, fala-se de
um jeito; para ofender, chocar, provocar ou ironizar alguém.
Agora, observe as duas questões retiradas da prova modelo do Enem,
disponível pelo MEC, e da prova da Unicamp de Língua Portuguesa (2009). As
perguntas seguem com os gabaritos:
Prova Modelo do Enem (2009)

Observe a tirinha abaixo:

O personagem Chico Bento pode ser considerado um típico habitante da zona


rural, comumente chamado de “roceiro” ou “caipira”. Considerando a sua fala,
essa tipicidade é confirmada primordialmente pela:
a) transcrição da fala característica de áreas rurais.
b) redução do nome “José” para “Zé”, comum nas comunidades rurais.
c) emprego de elementos que caracterizam sua linguagem como coloquial.
d) escolha de palavras ligadas ao meio rural, incomuns nos meios urbanos.
e) utilização da palavra “coisa”, pouco frequente nas zonas mais urbanizadas.
Nessa questão, o Enem pretendia testar a habilidade 25, cujo objetivo é:
Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que
singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
(UNICAMP-2009) É sabido que as histórias de Chico Bento são situadas no
universo rural brasileiro.

a) Explique o recurso utilizado para caracterizar o modo de falar das


personagens na tira.
b) É possível afirmar que esse modo de falar caracterizado na tira é
exclusivo do universo rural brasileiro? Justifique.

Gabarito:

Prova Modelo Enem: A

Questão Unicamp 2009:

a) Resposta Esperada pela Banca: O recurso utilizado é a transgressão


da ortografia ou, dito de outra forma, o uso da grafia como transcrição da
fala; ou seja, a tira apresenta uma forma de escrita que tenta reproduzir a
fala das personagens.

Esse recurso pode ser exemplificado de três maneiras: troca da


consoante l por r (como em prantando); supressão da vogal na
proparoxítona (como em árv[o]re), processo muito comum na fala; e troca
da vogal e por i (como em di e isperança).

b) Resposta Esperada pela Banca: NÃO. Os fenômenos representados


na tira encontram-se também em regiões urbanas e não refletem,
necessariamente, escolaridade ou classe social do falante. Por exemplo,
a troca da consoante l por r é um processo bastante recorrente nas
regiões urbanas. A supressão da vogal em palavras proparoxítonas
(xícara, abóbora, etc.) faz parte de um processo fonológico amplamente
presente no português brasileiro de forma geral. Finalmente, a elevação
da vogal átona (e i) é uma marca de diferenciação regional e não de
oposição rural/urbano. Não se cobrará o uso de metalinguagem na
referência aos fenômenos aqui mencionados.

Por isso, é importante estudar muito esse assunto e, sobretudo, saber


adequar a língua aos contextos de comunicação.

MAIS PRÁTICA

Texto 1

O poeta da roça
Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabaio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de paia de mio.

Sou poeta das brenha, não faço o papé


De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.

Não tenho sabença, pois nunca estudei.


Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastero, singelo e sem graça,


Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça,
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.

Só canto o buliço da vida apertada,


Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.

Eu canto o caboco com suas caçada,


Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.

Eu canto o vaquero vestido de coro,


Brigando com o toro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,


Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.
E assim, sem cobiça dos cofre lüzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.

ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá.5. ed. Petrópolis: Vozes,
1984.

Texto 2

CAPÍTULO III

Da Educação, da Cultura e do Desporto

Seção I Da Educação

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I. igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II. liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a
arte e o saber;
III. pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas e coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino;
IV. gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V. valorização dos profissionais do ensino, garantindo, na forma da lei,
planos de carreira para o magistério público, com piso salarial
profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e
títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições
mantidas pela União;
VI. gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII. garantia de padrão de qualidade.

Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988.

Texto 3

Poliacrilatos e polimetacrilatos
A história de laboratório dos monômeros acrílicos começou em 1843,
quando da primeira síntese do ácido acrílico.
A isto seguiu-se em 1865 a preparação do etil-metacrilato, por Frankland
e Duppa, enquanto que em 1877 Fittig e Paul notavam que ele possuía
uma certa tendência para polimerizar. Por volta de 1900, a maioria dos
acrilatos mais comuns havia sido preparada em laboratório e ao mesmo
tempo já existiam alguns trabalhos sobre a sua polimerização. Em 1901,
o Dr. Rohm, na Alemanha, começou um estudo sistemático no campo
dos acrílicos e mais tarde tomou parte ativa no desenvolvimento
industrial dos polímeros do éster acrílico naquele país. O polimetilacrilato
foi o primeiro polímero acrílico produzido industrialmente (por Rohm e
Haas, em 1927). Foi vendido como uma solução do polímero em solvente
orgânico e foi usado principalmente em laças e formulações para
revestimentos superficiais. Mais tarde, Rowland Hill (da I.C.I.) estudou o
metílmetacrilato e sua polimerização em profundidade, enquanto que
Crawford (também da I.C.I.) desenvolveu um método econômico para a
fabricação do monômero.

BRISTON, J. H. & MILES, D. C. Tecnologia dos polímeros. São Paulo:


Polígono/Edusp, 1975.
1. A forma de língua portuguesa apresentada no texto 1 nos
remete a que tipo de realidade? Comente.
2. O texto 2 é uma poética, ou seja, é um texto que expõe as
propostas criativas de um poeta. Na sua opinião, a forma de língua
pela qual o artista optou e a temática de sua poesia se
harmonizam? Por quê?
3. Observe, ainda no texto 1, as formas fio, mio, paioça
(correspondentes, na língua-padrão, a filho, milho e palhoça,
respectivamente) ou os plurais "das mata", "das brenha", "das roça
e dos eito", "dos home" e outros. As diferenças entre essas formas e
aquelas da língua-padrão são sistemáticas, ou seja, seguem
determinados padrões. Observe e comente.
4. A que grupo social pertencem as pessoas que utilizaram a
forma de língua portuguesa do texto 2? Por que usaram essa forma
de língua?
5. Que tipo de conhecimento é necessário para a perfeita
compreensão do texto 3? Que forma de língua é aí apresentada?
6. Que fatores estão na origem destas três variantes da língua
portuguesa?
Com um pouco mais de tempo, postarei a resolução dos
exercícios deste post lá no blog de Downloads do Análise de Textos.
Não conhece? Visite-o agora!

Segundo o site

O que determina os níveis de fala?

Os dois grandes níveis de fala, o coloquial e o culto, são determinados


pela cultura e formação escolar dos falantes, pelo grupo social a que eles
pertencem e pela situação concreta em que a língua é utilizada. Um
falante adota modos diferentes de falar dependendo das circunstâncias
em que se encontra: conversando com amigos, expondo um tema
histórico na sala de aula ou dialogando com colegas de trabalho.

1. Língua e fala
A língua, segundo o lingüista Ferdinand de Saussure, 'é a parte social da
linguagem', isto é, ela pertence a uma comunidade, a um grupo social – a
língua portuguesa, a língua chinesa. A fala é individual, diz respeito ao
uso que cada falante faz da língua. Nem a língua nem a fala são
imutáveis. Uma língua evolui, transformando-se foneticamente,
adquirindo novas palavras, rejeitando outras. A fala do indivíduo
modifica-se de acordo com sua história pessoal, suas intenções e sua
maior ou menor aquisição de conhecimentos.

2. Nível culto
O nível culto é utilizado em ocasiões formais. É uma linguagem mais
obediente às regras gramaticais da norma culta. O nível culto segue a
língua padrão, também chamada norma culta ou norma padrão.

3. Nível coloquial
O nível coloquial ou popular é utilizado na conversação diária, em
situações informais, descontraídas.
É o nível acessível a qualquer falante e se caracteriza por:
• Expressividade afetiva, conseguida
pelo emprego de diminutivos,
aumentativos, interjeições e
expressões populares:
É só uma mentirinha, vai!
Você me deu
um trabalhão, nem te conto!
• Tendência a transgredir a norma culta:
Você viu ele por aí?
Você me empresta teu carro?
• Repetição de palavras e uso de
expressões de apoio:
Né? Você está me entendendo? Falou!

4. Gíria
É uma variante da língua, falada por um grupo social ou etário. É a fala
mais variável de todas, pois as expressões entram e saem 'da moda' com
muita freqüência, sendo substituídas por outras. Algumas se incorporam
ao léxico, dando origem a palavras derivadas. É o caso de dedo-
duro que deu origem a dedurar.

5. Variedades geográficas ou diatópicas


São as variantes de uma mesma língua que identificam o falante com
sua origem tradicional. Podemos distinguir entre elas:
• Dialetos: variantes da língua comum utilizadas num espaço
geográfico delimitado. O dialeto é o resultado da transformação
regional de uma língua nacional (o idioma). O açoriano e o
madeirense, por exemplo, são dialetos do português. Algumas
línguas têm uma origem histórica comum, mas por razões
políticas ou econômicas uma delas ganhou status de língua,
enquanto outras permaneceram como dialetos. As línguas
românicas eram dialetos do latim.
• Falares: modalidades regionais de uma língua cujas variações
não são suficientes para caracterizar um dialeto. Às vezes, são
apenas algumas palavras ou expressões ou mesmo certos tipos de
construção de frases. A esse uso regional da língua também dá-
se o nome de regionalismo.
6. A fala popular na literatura
O registro da fala popular na literatura tem sido largamente empregado
como forma de atribuir expressividade e veracidade ao texto. Na década
de 30, por exemplo, quando os escritores propunham uma literatura
engajada e realista, o aproveitamento do nível coloquial, pela transcrição
dos falares regionais, foi elemento fundamental para o sucesso do
romance brasileiro:
'Apeou na frente da venda do Nicolau, amarrou o alazão no tronco dum
cinamomo, entrou arrastando as esporas, batendo na coxa direita com o
rebenque, e foi logo gritando, assim com ar de velho conhecido:
– Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes
dou de talho! [...]
O capitão tomou seu terceiro copo de cachaça. Juvenal, que o observava
com olhos parados e inexpressivos, puxou dum pedaço de fumo em
rama e duma pequena faca e ficou a fazer um cigarro.
– Pois le garanto que estou gostando deste lugar – disse Rodrigo. –
Quando entrei em Santa Fé, pensei cá comigo: Capitão, pode ser que
vosmecê só passe aqui uma noite, mas também pode ser que passe o
resto da vida...'

(O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo)

Variação Diatópica - É o que neste trabalho iremos abordar.


Mas o que seria a variação diatópica? Na verdade trata-se de uma
diversidade lingüística regional ou geográfica, apresentadas por pessoas
de diferentes regiões que falam a mesma língua. As variações diatópicas
são responsáveis pelos regionalismos ou falares locais. Esses falares
representam os costumes e a cultura de cada região.
A título de exemplificação, podemos citar as diferenças do português
falado no Brasil para o português falado em Portugal.
Telemóvel – Portugal

Celular – Brasil

Estas são as designações utilizadas pelos falantes dos dois países para
representar um aparelho de comunicação cuja designação técnica é
Telefone Celular.
No Brasil, falantes do Sudeste do país usam variantes distintas dos
falantes da região Sul.
Bergamota ou Vergamota – Florianópolis e região sul em geral
Mexerica – Minas Gerais
Os dois termos designam a mesma coisa, uma fruta cítrica de cor
alaranjada e sabor adocicado, conhecida como tangerina.
Estas diferenças normalmente são encontradas no campo lexical e
fonético e toda esta variação (no Brasil) é decorrente das influências que
cada região sofreu durante o processo de colonização do país,
adicionados as importações lexicais de outras línguas.
Aqui segue alguns exemplo dos variantes:

FEXOSO/FECHOSO(AL): Pessoa que é bonita, linda seja nas


vestimentas ou na beleza.
TABACUDO(PE): Pessoa que não tem entendimento
BARROADA(PI): Atropelamento.
MARMITEX(SP): Quentinha
MINA(RJ): Namorada
MACAXEIRA(PI): Aipim

Embora todos sejamos falantes da mesma língua, cada região do nosso


país possui característica próprias que resultam em sua cultura e
apresentam diversidades: variantes lexicais nos falares brasileiros.
Sendo assim, uma palavra pode ser usada de diversos modos, assim
como possui conotação diferentes, dependendo da região em que ela
está sendo utilizada.

VARIAÇÃO DIASTRÁTICA

A variação social ou diastrática constitui um dos tipos de variação


linguística a que os falantes são submetidos. São as diferenças entre os
estratos socioculturais (nível culto, nível popular, língua padrão), ou seja,
são as variações que acontecem de um grupo social para outro.
Relaciona-se a um conjunto de fatores que têm a ver com a identidade
dos falantes e também com a organização sociocultural da comunidade
de fala. Assim, é possível apontar alguns fatores relacionados às
variações de natureza social: a) classe social; b) idade; c) sexo.

Observemos alguns exemplos indicativos dos fatores:

- O uso de dupla negação, como em “ninguém não viu”, indica a fala de


grupos situados abaixo na escala social.

- presença de [r], em lugar de [l], em grupos consonantais, como em


“brusa” (blusa) e “grobo” (globo), também sugere que os falantes estão
situados abaixo na escala social ou possuem baixo grau de letramento.

- o uso do léxico particular, como presente em certas gírias (“maneiro”,


“esperto”, com o sentido de avaliação positiva acerca das coisas,
pessoas e situações), denota faixa etária jovem;

- o uso do pronome “tu” em situações de interação entre iguais no Rio de


Janeiro, como em “Tu viu só?”, também sugere que os falantes são
jovens.

- a duração de vogais como recurso expressivo, como em


“maaaravilhoso”, costuma ocorrer na fala de mulheres (Camacho, 1978),
assim como o uso freqüente de diminutivos, como “bonitinho”,
“vermelhinho”.

Referências:

• (Adaptado de ALKMIM, Tânia Maria. “Sociolingüística”. In: Introdução à


lingüística: domínios e fronteiras, v.1/Fernanda Mussalim, Anna Cristina
Bentes (orgs.) – São Paulo: Cortez, 2001).

LEIA COM ATENÇÃO:


Língua é um sistema gramatical pertencente a um grupo de
indivíduos. Expressão da consciência de uma colectividade, a
LÍNGUA é o meio por que ela concebe o mundo que cerca e sobre
ele age. A utilização social da faculdade da linguagem, criação da
sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem de viver em
perpétua evolução, paralela à do organismo social que a criou.
Em princípio, uma língua apresenta, pelo menos, três tipos de
diferenças internas, que podem ser mais ou menos profundas:
1. Diferenças no espaço geográfico, ou VARIAÇÕES
DIATÓPICAS (falares locais, variantes regionais, e, até,
intercontinentais);
2. Diferenças entre as camadas socioculturais, VARIAÇÕES
DIASTRÁTICAS (nível culto, língua padrão, nível popular, etc);
3. Diferenças entre os tipos de modalidade expressiva, ou
VARIAÇÕES DIAFÁSICAS (língua falada, língua escrita, língua
literária, linguagens especiais, linguagem dos homens, linguagem
das mulheres, etc).
Condicionada de forma consistente dentro de cada grupo social
e parte integrante da competência linguística dos seus membros, a
variação é, pois, inerente ao sistema da língua e ocorre em todos os
níveis: fonético, fonológico, morfológico, sintáctico, etc. e essa
multiplicidade de realizações do sistema em nada prejudica as suas
condições funcionais.
Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e
correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades
dos seus usuários. Mas o facto de estar a língua fortemente ligada à
estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma
avaliação distinta das características das suas diversas modalidades
diatópicas, diastráticas e diafásicas. A língua padrão, por exemplo,
embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre
a mais prestigiosa, porque actua como modelo, como norma, como
ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a
sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna
uma ponderável força contrária à variação.
Numa língua existe, pois, ao lado da força centrífuga da
inovação, a força centrípeta da conservação, que, contra-regrando a
primeira, garante a superior unidade de um idioma como o português,
falado por povos que se distribuem pelos cinco continentes.
Cintra, Luís F. Lindley, e Cunha, Celso (1999): Breve Gramática do
Português Contemporâneo. 12ª edição. Lisboa: Edições João
Sá da Costa.

Complementando:
A língua é um sistema em aberto e está sempre em elaboração. A língua
não é um produto nem um instrumento, é uso. É falada por indivíduos de
regiões, profissões e estratos sociais diferentes, situações diferentes — e
épocas diferentes.
2. A linguística estruturalista europeia recorreu ao prefixo dia- (que
significa ao «longo de», «através de») e produziu diferentes termos para
designar estes tipos de variações:

— diatopia/variações diatópicas (em função das diferenças


geográficas/regionais);
— diastratia/variações diastráticas (em função dos estratos sociais);
— diafasia/variações diafásicas (em função da situação em que se
encontram os interlocutores);
— diacronia/variações diacrónicas (dia + kronos, «tempo»).

3. Variação diacrónica ou histórica

Porque é que nos custa tanto a ler um texto da época medieval?


Dom Afonso Henriques falava o português que hoje falamos?

A razão de ser destas perguntas permite verificar que a língua


portuguesa — e qualquer língua — apresenta diversas manifestações ao
longo do tempo. Cabe à Linguística Histórica o estudo deste tipo de
variação.

Estas mudanças nunca são bruscas, havendo geralmente um período de


transição entre um estádio e outro.

As mudanças diacrónicas podem ocorrer:

— no som/pronúncia;
— na flexão e na derivação;
— nos padrões de estruturação da frase;
— ao nível dos significados;
— pela introdução de novas palavras (neologismos e estrangeirismos).
Factores de variação:

— internos à língua (pelo desaparecimento de oposições que não se


revelem funcionais; pela prevalência do princípio da economia, que tende
a eliminar redundâncias; pela introdução de novos elementos com a
função de tornarem a comunicação clara/não ambígua);
— externos à língua (relativos a mudanças políticas e sociais, por
exemplo, a criação de fronteiras políticas que é cumulativa à criação de
fronteiras linguísticas).
Fonte(s):
http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php…
Em boa hora > embora
arbores> árvores
fidele> fiel
debere> dever
mense > mês
inter > entre
portucalense > português
super > sobre
luce> luz
clave>chave
conceptu > conceito
Fonte(s):
Gramática Histórica - Ismael de Lima Coutinho

[Pergunta] O que são registros regionais da língua portuguesa? Cite


exemplos.

O que são variações linguísticas? Cite exemplos.

[Resposta] Registro é termo usado no Brasil correspondente a registo,


em Portugal e demais países lusófonos. Em linguística, designa a
variedade da língua definida de acordo com o seu uso em situações
sociais.
Assim, o termo registos linguísticos designa os diversos estilos que um
falante pode usar consoante a situação comunicativa em que participa:
numa conversa informal num café com os amigos, por exemplo, utilizará
um registo diferente do que utiliza em família, com a avó. A esta variação
chama-se variação diafásica.

Variações linguísticas são as diferentes manifestações e realizações da


língua, as diversas formas que a língua possui, decorrentes de factores
de natureza histórica, regional, social ou situacional. Essas variações
podem ocorrer a nível fonético e fonológico, morfológico, sintáctico e
semântico.

Podemos considerar cinco campos de estudo da variação linguística.

1.º - Variação diacrónica (do grego dia + kronos = ao longo de,


através de + tempo): as diversas manifestações de uma língua
através dos tempos.
2.º - Variação sincrónica (do grego sy'n = simultaneidade): as
variações num mesmo período de tempo.
3.º - Variação diatópica (do grego topos = lugar), geolinguística ou
dialectal: a variação relacionada com factores geográficos
(pronúncia diferente, diferentes palavras para designar as mesmas
realidades ou conceitos, acepções de um termo diferentes de região
para região, expressões ou construções frásicas próprias de uma
região).
4.º - Variação distrática (do grego stratos = camada, nível): modos
de falar que correspondem a códigos de comportamento de
determinados grupos sociais. O sociolecto é uma variedade
linguística partilhada por um grupo social que o demarca em relação
a outros (por exemplo, as gírias). O tecnolecto (ou linguagem
técnica) consiste na utilização de termos que designam com rigor
elementos de determinada área do conhecimento (literatura, artes,
ciência, medicina, etc.).
5.º - Variação diafásica (do grego phasis = fala): variação
relacionada com a diferente situação de comunicação, variação
relacionada com factores de natureza pragmática e discursiva: em
função do contexto, um falante varia o seu registo de língua,
adaptando-o às circunstâncias. O idiolecto é a maneira própria de
cada falante usar a língua: o uso preferencial de determinadas
palavras ou construções frásicas, o valor semântico dado a um ou
outro termo, etc. Há tantos idiolectos quantos os falantes.
LISTA DE EXERCÍCIOS PARA O ENEM

LINGUAGENS “O ‘ele é um querido’ é uma forma mais feminina de elogiar


quem já é conhecido.”
Variações Linguísticas
SANTOS, J. F. Disponível em: www.oglobo.globo.com.
01 - (ENEM) ​Só há uma saída para a escola se ela quiser ser Acesso em: 6 mar. 2013 (adaptado).
mais bem-sucedida: aceitar a mudança da língua como um
fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer Entre as sugestões apresentadas para o Museu das
forma da língua em suas atividades escritas? Não deve mais Invenções Cariocas, destaca-se o variado repertório
corrigir? Não! linguístico empregado pelos falantes cariocas nas
diferentes situações específicas de uso social.
Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mundo
real da escrita, não existe apenas um português correto, A respeito desse repertório, atesta-se o(a)
que valeria para todas as ocasiões: o estilo dos contratos a.desobediência à norma-padrão, requerida em ambientes
não é o mesmo do dos manuais de instrução; o dos juízes do urbanos.
Supremo não é o mesmo do dos cordelistas; o dos editoriais
dos jornais não é o mesmo do dos cadernos de cultura dos b.inadequação linguística das expressões cariocas às
mesmos jornais. Ou do de seus colunistas. situações sociais apresentadas.

POSSENTI, S. Gramática na cabeça. Língua Portuguesa, ano c.reconhecimento da variação linguística, segundo o grau
5, n. 67, maio 2011 (adaptado). de escolaridade dos falantes.

Sírio Possenti defende a tese de que não existe um único d.identificação de usos linguísticos próprios da tradição
“português correto”. Assim sendo, o domínio da língua cultural carioca.
portuguesa implica, entre outras coisas, saber
e.variabilidade no linguajar carioca em razão da faixa etária
a.descartar as marcas de informalidade do texto. dos falantes.

b.reservar o emprego da norma padrão aos textos de


circulação ampla.
03​ - (ENEM)
c.moldar a norma padrão do português pela linguagem do
PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra.
discurso jornalístico.
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar
d.adequar as formas da língua a diferentes tipos de texto e
com você.
contexto.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora,
e.desprezar as formas da língua previstas pelas gramáticas
mas não quero falar com ele.
e manuais divulgados pela escola.
BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.

EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não!


02 - (ENEM) ​Da corrida de submarino à festa de
aniversário no trem BENONA: Isso são coisas passadas.
Leitores fazem sugestões para o Museu das Invenções EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu.
Cariocas Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro, se
tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um
“Falar ‘caraca!’ a cada surpresa ou acontecimento que
patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece que
vemos, bons ou ruins, é invenção do carioca, como também
ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás
o ‘vacilão’.”
dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia. Vive
“Cariocas inventam um vocabulário próprio”. “Dizer farejando ouro, como um cachorro da molest’a, como um
‘merrmão’ e ‘é merrmo’ para um amigo pode até doer um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele está enganado.
pouco no ouvido, mas é tipicamente carioca.” Santo Antônio há de proteger minha pobreza e minha
devoção.
“Pedir um ‘choro’ ao garçom é invenção carioca.”
SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José
“Chamar um quase desconhecido de ‘querido’ é um carinho Olympio, 2013 (fragmento).
inventado pelo carioca para tratar bem quem ainda não se
conhece direito.” Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e
“cachorro da molest’a” contribui para

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a.marcar a classe social das personagens. Na leitura do fragmento do texto Antigamente constata-se,
pelo emprego de palavras obsoletas, que itens lexicais
b.caracterizar usos linguísticos de uma região. outrora produtivos não mais o são no português brasileiro
c.enfatizar a relação familiar entre as personagens. atual. Esse fenômeno revela que

d.sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares. a.a língua portuguesa de antigamente carecia de termos
para se referir a fatos e coisas do cotidiano.
e.demonstrar o tom autoritário da fala de uma das
personagens. b.o português brasileiro se constitui evitando a ampliação
do léxico proveniente do português europeu.

c.a heterogeneidade do português leva a uma estabilidade


04​ - (ENEM) do seu léxico no eixo temporal.

TEXTO I d.o português brasileiro apoia-se no léxico inglês para ser


reconhecido como língua independente.
Antigamente
e.o léxico do português representa uma realidade
Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos
linguística variável e diversificada.
pais e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair
nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não
devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir nem
mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de 05 - (ENEM) eu gostava muito de passeá... saí com as
debicar os mais velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho, minhas colegas... brincá na porta di casa di vôlei... andá de
aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. patins... bicicleta... quando eu levava um tombo ou outro...
Não ficava mangando na rua, nem escapulia do mestre, eu era a::... a palhaça da turma... ((risos))... eu acho que foi
mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e uma das fases mais... assim... gostosas da minha vida foi...
cívica. O verdadeiro smart calçava botina de botões para essa fase de quinze... dos meus treze aos dezessete anos...
comparecer todo liró ao copo d’água, se bem que no A.P.S., sexo feminino, 38 anos, nível de ensino
convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os fundamental. Projeto Fala Goiana, UFG, 2010 (inédito).
bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de
dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de Um aspecto da composição estrutural que caracteriza o
galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante de um relato pessoal de A.P.S. como modalidade falada da língua é
treteiro de topete, depois de fintar e engambelar os coiós,
e antes que se pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o a.predomínio de linguagem informal entrecortada por
arco. pausas.

ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova b.vocabulário regional desconhecido em outras variedades
Aguilar, 1983 (fragmento). do português.

TEXTO II c.realização do plural conforme as regras da tradição


gramatical.

d.ausência de elementos promotores de coesão entre os


eventos narrados.

e.presença de frases incompreensíveis a um leitor iniciante.

06​ - (ENEM) Entrevista com Marcos Bagno

Pode parecer inacreditável, mas muitas das prescrições da


pedagogia tradicional da língua até hoje se baseiam nos
usos que os escritores portugueses do século XIX faziam da
língua. Se tantas pessoas condenam, por exemplo, o uso do
verbo “ter” no lugar de “haver”, como em “hoje tem
feijoada”, é simplesmente porque os portugueses, em dado
FIORIN, J. L. As línguas mudam. In: Revista Língua momento da história de sua língua, deixaram de fazer esse
Portuguesa, n. 24, out. 2007 (adaptado). uso existencial do verbo “ter”.

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todo mundo ri, porque parece impossível que um praiano


de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo de
No entanto, temos registros escritos da época medieval em Quixeramobim. O pessoal do Cariri, então, até se orgulha
que aparecem centenas desses usos. Se nós, brasileiros, do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já nós,
assim como os falantes africanos de português, usamos até ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os
hoje o verbo “ter” como existencial é porque recebemos terminais em al ou el - carnavau, Raqueu... Já os paraibanos
esses usos de nossos ex- colonizadores. Não faz sentido trocam o l pelo r. José Américo só me chamava,
imaginar que brasileiros, angolanos e moçambicanos afetuosamente, de Raquer.
decidiram se juntar para “errar” na mesma coisa. E assim
acontece com muitas outras coisas: regências verbais, Queiroz. R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998
colocação pronominal, concordâncias nominais e verbais (fragmento adaptado).
etc. Temos uma língua própria, mas ainda somos obrigados
a seguir uma gramática normativa de outra língua Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de
diferente. Às vésperas de comemorarmos nosso variação linguística que se percebe no falar de pessoas de
bicentenário de independência, não faz sentido continuar diferentes regiões.
rejeitando o que é nosso para só aceitar o que vem de fora. As características regionais exploradas no texto
Não faz sentido rejeitar a língua de 190 milhões de manifestam-se
brasileiros para só considerar certo o que é usado por a.na fonologia.
menos de dez milhões de portugueses. Só na cidade de São
Paulo temos mais falantes de português que em toda a b.no uso do léxico.
Europa!
c.no grau de formalidade.
Informativo Parábola Editorial, s/d.
d.na organização sintética.
Na entrevista, o autor defende o uso de formas linguísticas
e.na estruturação morfológica.
coloquiais e faz uso da norma padrão em toda a extensão
do texto. Isso pode ser explicado pelo fato de que ele

a.adapta o nível de linguagem à situação comunicativa, 08 - (ENEM) Motivadas ou não historicamente, normas
uma vez que o gênero entrevista requer o uso da norma prestigiadas ou estigmatizadas pela comunidade
padrão. sobrepõem-se ao longo do território, seja numa relação de
oposição, seja de complementaridade, sem, contudo,
b.apresenta argumentos carentes de comprovação
anular a interseção de usos que configuram uma norma
científica e, por isso, defende um ponto de vista difícil de
nacional distinta da do português europeu. Ao focalizar
ser verificado na materialidade do texto.
essa ao longo do território, seja numa relação de oposição,
c.propõe que o padrão normativo deve ser usado por seja de complementaridade, sem, contudo, anular a
falantes escolarizados como ele, enquanto a norma interseção de usos que configuram uma norma nacional
coloquial deve ser usada por falantes não escolarizados. distinta da do português europeu. Ao focalizar essa a
pensar na bifurcação das variantes continentais, ora em
d.acredita que a língua genuinamente brasileira está em consequência de mudanças ocorridas no Brasil, ora em
construção, o que o obriga a incorporar em seu cotidiano a Portugal, ora, ainda, em ambos os territórios.
gramática normativa do português europeu.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.;
e.defende que a quantidade de falantes do português BRANDÃO, S. (orgs). Ensino de gramática: descrição e uso.
brasileiro ainda é insuficiente para acabar com a São Paulo: Contexto, 2007 (adaptado).
hegemonia do antigo colonizador.
O português do Brasil não é uma língua uniforme. A
variação linguística é um fenômeno natural, ao qual todas
07 - (ENEM) Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou as línguas estão sujeitas. Ao considerar as variedades
ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral linguísticas, o texto mostra que as normas podem ser
dos nordestinos, onipresentes, mas para conferir a aprovadas ou condenadas socialmente, chamando a
pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo atenção do leitor para
nordestino fala igual; contudo as variações são mais a.desconsideração da existência das normas populares
numerosas que as notas de uma escala musical. pelos falantes da norma culta.
Pemambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí
têm no falar de seus nativos muito mais variantes do que se b.difusão do português de Portugal em todas as regiões do
imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e Brasil só a partir do século XVIII.

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c.existência de usos da língua que caracterizam uma norma 10 - (ENEM) No romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos,
nacional do Brasil, distinta da de Portugal. o vaqueiro Fabiano encontra-se com o patrão para receber
o salário. Eis parte da cena: Não se conformou: devia haver
d.inexistência de normas cultas locais e populares ou engano. (...) Com certeza havia um erro no papel do
vernáculas em um determinado país. branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os
e.necessidade de se rejeitar a ideia de que os usos estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o
frequentes de uma língua devem ser aceitos. que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo?
Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria? O
patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o
vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda. Aí Fabiano
09​ - (ENEM)
baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso
Futebol: “A rebeldia é que muda o mundo” barulho não.

Conheça a história de Afonsinho, o primeiro jogador do Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.a ed. Rio de Janeiro:
futebol brasileiro a derrotar a cartolagem e a conquistar o Record, 2003.
Passe Livre, há exatos 40 anos
No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem
Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez, convive com marcas de regionalismo e de coloquialismo no
então com a camisa do Santos (porque depois voltaria a vocabulário. Pertence a variedade do padrão formal da
atuar pelo New York Cosmos, dos Estados Unidos), em linguagem o seguinte trecho:
1972, quando foi questionado se, finalmente, sentia-se um
a."Não se conformou: devia haver engano"
homem livre. O Rei respondeu sem titubear:
b."Fabiano perdeu os estribos"
— Homem livre no futebol só conheço um: o Afonsinho. Este
sim pode dizer, usando as suas palavras, que deu o grito de c."Passar a vida inteira assim no toco"
independência ou morte. Ninguém mais. O resto é conversa.
d."entregando o que era dele de mão beijada!"
Apesar de suas declarações serem motivo de chacota por
parte da mídia futebolística e até dos torcedores brasileiros, e."Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou"
o Atleta do Século acertou. E provavelmente acertaria
novamente hoje.
11 - (ENEM) As dimensões continentais do Brasil são objeto
Pela admiração por um de seus colegas de clube daquele de reflexões expressas em diferentes linguagens. Esse tema
ano. Pelo reconhecimento do caráter e personalidade de um aparece no seguinte poema:
dos jogadores mais contestadores do futebol nacional. E
principalmente em razão da história de luta — e vitória — “(….)
de Afonsinho sobre os cartolas.
Que importa que uns falem mole descansado
ANDREUCCI, R. Disponível em:
http://carosamigos.terra.com.br. Acesso em: 19 ago. 2011. Que os cariocas arranhem os erres na garganta

O autor utiliza marcas linguísticas que dão ao texto um Que os capixabas e paroaras escancarem as vogais?
caráter informal. Uma dessas marcas é identificada em: Que tem se os quinhentos réis meridional
a.“[...] o Atleta do Século acertou.” Vira cinco tostões do Rio pro Norte?
b.“O Rei respondeu sem titubear [...]”. Junto formamos este assombro de misérias e grandezas,
c.“E provavelmente acertaria novamente hoje.” Brasil, nome de vegetal! (….)”
d.“Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez (Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:
[...]”. Martins Editora, 1980.)
e.“Pela admiração por um de seus colegas de clube daquele O texto poético ora reproduzido trata das diferenças
ano.” brasileiras no âmbito

a.étnico e religioso.

b.lingüístico e econômico.

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LISTA DE EXERCÍCIOS PARA O ENEM

c.racial e folclórico. Num vendo a luz, ai, canta de dor

d.histórico e geográfico. Tarvez por ignorança

e.literário e popular. Ou mardade das pió

Furaro os óio do assum preto

12 - (ENEM) Naquela manhã de céu limpo e ar leve, devido Pra ele assim, ai, cantá mió
à chuva torrencial da noite anterior, sai a caminhar com o
sol ainda escondido para tomar tenência dos primeiros Assum preto veve sorto
movimentos da vida na roça. Num demorou nem um Mas num pode avuá
tiquinho e o cheiro intenso do café passado por Dona Linda
me invadiu as narinas e fez a fome se acordar daquela rema Mil veiz a sina de uma gaiola
letárgica derivada da longa noite de sono. Levei as mãos até
Desde que o céu, ai, pudesse oiá
a água que corria pela bica feita de bambu e o contato
gelado foi de arrepiar. Mas fui em frente e levei as mãos GONZAGA, L.; TEIXEIRA, H. Disponível em:
em concha até o rosto. Com o impacto, recuei e me faltou o
fôlego por alguns instantes, mas o despertar foi imediato. www.luizgonzaga.mus.br. Acesso em: 30 jul. 2012
Já aceso, entrei na cozinha na buscação de derrubar a fome (fragmento).
e me acercar do aconchego do calor do fogão à lenha. Foi
As marcas da variedade regional registradas pelos
quando dei reparo da figura esguia e discreta de uma
compositores de Assum preto resultam da aplicação de um
senhora acompanhada de um garoto aparentando uns
conjunto de princípios ou regras gerais que alteram a
cinco anos de idade já aboletada na ponta da mesa em
pronúncia, a morfologia, a sintaxe ou o léxico. No texto, é
proseio íntimo com a dona da casa. Depois de um vigoroso
resultado de uma mesma regra a
“Bom dia!”, de um vaporoso aperto de mãos nas
apresentações de praxe, fiquei sabendo que Dona Flor de a.pronúncia das palavras “vorta” e “veve”.
Maio levava o filho Adão para tratamento das feridas que
pipocavam por seu corpo, provocando pequenas pústulas b.pronúncia das palavras “tarvez” e “sorto”.
de bordas avermelhadas.
c.flexão verbal encontrada em “furaro” e “cantá”.
GUIÃO, M. Disponível em: www.revistaecologico.com.br.
d.redundância nas expressões “cego dos óio” e “mata em
Acesso em: 10 mar. 2014 (adaptado).
frô”.
A variedade linguística da narrativa é adequada à descrição
e.pronúncia das palavras “ignorança” e “avuá”.
dos fatos. Por isso, a escolha de determinadas palavras e
expressões usadas no texto está a serviço da

a.localização dos eventos de fala no tempo ficcional. 14​ - (ENEM) Noites do Bogart
b.composição da verossimilhança do ambiente retratado. O Xavier chegou com a namorada mas, prudentemente,
não a levou para a mesa com o grupo.
c.restrição do papel do narrador à observação das cenas
relatadas. Abanou de longe. Na mesa, as opiniões se dividiam.
d.construção mística das personagens femininas pelo autor — Pouca vergonha.
do texto.
— Deixa o Xavier.
e.caracterização das preferências linguísticas da
personagem masculina. — Podia ser filha dele.

— Aliás, é colega da filha dele.

13​ - (ENEM) Na sua mesa, o Xavier pegara na mão da moça.

Assum preto — Está gostando?

Tudo em vorta é só beleza — Pô. Só.

Sol de abril e a mata em frô — Chocante, né? — disse o Xavier. E depois ficou na
dúvida. Ainda se dizia “chocante”?
Mas assum preto, cego dos óio

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LISTA DE EXERCÍCIOS PARA O ENEM

Beberam em silêncio. E ele disse: c.emprego de elementos que caracterizam sua linguagem
como coloquial.
— Quer dançar?
d.escolha de palavras ligadas ao meio rural, incomuns nos
E ela disse, sem pensar: meios urbanos.
— Depois, tio. e.utilização da palavra "coisa", pouco frequente nas zonas
E ficaram em silêncio. Ela pensando “será que ele ouviu?”. mais urbanizadas.
E ele pensando “faço algum comentário a respeito, ou
deixo passar?”. Decidiu deixar passar. Mas, pelo resto da
noite aquele “tio” ficou em cima da mesa, entre os dois,
latejando como um sapo. Ele a levou em casa. Depois
voltou. Sentou com os amigos.

— Aí, Xavier. E a namorada?

Ele não respondeu.

VERISSIMO, L. F. O melhor das comédias da vida privada.


Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

O efeito de humor no texto é produzido com o auxílio da


quebra de convenções sociais de uso da língua. Na
interação entre o casal de namorados, isso é decorrente

a.do registro inadequado para a interlocução em contexto


romântico.

b.da iniciativa em discutir formalmente a relação amorosa.

c.das avaliações de escolhas lexicais pelos frequentadores


do bar.

d.das gírias distorcidas intencionalmente na fala do


namorado. GABARITO
e.do uso de expressões populares nas investidas amorosas 01 – D
do homem.
02 – D

03 – B
15​ - (ENEM)
04 – E

05 – A

06 – A

07 – A

08 – C

O personagem Chico Bento pode ser considerado um típico 09 – D


habitante da zona rural, comumente chamado de "roceiro"
10 – A
ou "caipira". Considerando a sua fala, essa tipicidade é
confirmada primordialmente pela: 11 - B
a.transcrição da fala característica de áreas rurais. 12 - B
b.redução do nome "José" para "Zé", comum nas 13 - B
comunidades rurais.
14 - A

15 - C

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SECRETARIA MUNICIPAL
DE EDUCAÇÃO

LÍNGUA PORTUGUESA

NOME: _______________________________________________________________7º ANO

ATIVIDADE

ORIENTAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA ATIVIDADE: Responder as atividades no caderno.


- Leia o texto a seguir:

"Todas as variedades linguísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e


subsistemas adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua
fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma
avaliação distinta das características das suas diversas modalidades regionais, sociais e
estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um
idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal
linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua função coercitiva sobre as
outras variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação."

Celso Cunha. Nova gramática do português contemporâneo. Texto Adaptado.

1- A partir da leitura do texto, podemos inferir que uma língua é:


a) Conjunto de variedades linguísticas, dentre as quais uma alcança maior valor social e
passa a ser considerada exemplar.
b) Sistema que não admite nenhum tipo de variação linguística, sob pena de
empobrecimento do léxico.
c) A modalidade oral alcança maior prestígio social, pois é o resultado das adaptações
linguísticas produzidas pelos falantes.
d) A língua padrão deve ser preservada na modalidade oral e escrita, pois toda
modificação é prejudicial a um sistema linguístico.

- Leia a tira de Fernando Gonsales para responder à questão 2.

2- O humor da tira é construído a partir das diferenças e ou variantes no uso da língua


portuguesa. Assinale a alternativa INCORRETA com relação ao conceito de variações
linguísticas:
SECRETARIA MUNICIPAL
DE EDUCAÇÃO

a) O papagaio aprende por repetição e memorização e, neste caso, pronuncia as


palavras da mesma maneira que seu anterior dono.
b) A senhora age preconceituosamente ao querer devolver o papagaio ao dono, por
receio que comparem sua linguagem com a do bichinho.
c) Para compreender a tira é importante que o leitor conheça como os papagaios
apreendem à fala.
d) A variante linguística apresentada pelo papagaio e seu vendedor é caracterizada por
uma variante regionalista, ou seja, apresenta aspectos da fala e pronuncia de
palavras em determinada região do país.

- Leia a tirinha de Angeli para responder a terceira questão.

3- Fica nítido a partir da leitura da tira, que a linguagem é uma expressividade um tanto
particular e, muitas vezes, restrita de determinados grupos sociais, revelando
indiretamente quem somos e com quem vivemos. A variante apresentada pelas
personagens da tira é uma:
a) Variedade linguística histórica.
b) Variedade linguística social.
c) Variedade linguística regional ou geográfica.
d) Variedade linguística situacional.
4-
Observe esta imagem e responda às ( ) Nessa imagem há uma unidade de
questões que a seguem. sentido, por isso podemos dizer que temos aí
um texto verbal;
( ) O texto impresso na placa é incoerente;
( ) O texto dessa placa pode ser classificado
como aviso ou comunicado;
( ) A função desse gênero textual é informar
o leitor acerca de uma proibição no
estabelecimento.
II) Supondo-se que essa placa não seja
trocada todos os dias, inferimos que, nesse
http://aescritanasentrelinhas.com.br/wp- estabelecimento:
content/uploads/2009/01/dsc026481.jpg a) é proibido fumar em alguns dias;
I) Com base em sua leitura, escreva nos b) é permitido fumar dia sim e dia não;
parênteses V (verdadeiro) ou F (falso) para c) não é permitido fumar em nenhum dia;
cada afirmativa a seguir.
d) não é permitido fumar todos os dias.
Escolha Múltipla:

As variedades linguísticas referem-se a:

A) Uniformidade

B) Diversidade

C) Simplicidade

D) Originalidade

Quais fatores podem influenciar as variedades linguísticas?

A) Geografia

B) História

C) Cultura

D) Todas as opções acima

Qual é a diferença entre língua e dialeto?

A) Sotaque

B) Escrita

C) Poder político

D) Não há uma diferença clara

Associação de Termos:

Associe cada termo à sua definição correta.

Pidgin

Gíria

Dialeto

Jargão

Definições: Variedade de uma língua falada por um grupo específico.

Língua simplificada usada para comunicação entre grupos linguísticos diferentes.

Vocabulário especializado usado por profissionais de uma área específica.

Linguagem informal usada por um grupo social ou profissional.

Preencha as Lacunas:

Complete as frases com a opção correta.


A ________ refere-se a uma forma específica de uma língua falada por um grupo ou
comunidade.

O ________ é frequentemente associado a uma linguagem coloquial e informal.

Um ________ é uma variedade de uma língua que se desenvolve em uma área geográfica
específica..

Com certeza, aqui estão mais 15 exercícios sobre variedades linguísticas:

Escolha Múltipla:

4. O que é uma língua crioula?

A) Uma língua oficial de um país.

B) Uma língua que se desenvolveu a partir de uma mistura de diferentes línguas.

C) Uma língua usada apenas por crianças.

D) Uma forma antiga e preservada de uma língua.

A linguagem técnica usada em áreas como medicina, direito ou tecnologia é geralmente


chamada de:

A) Gíria

B) Pidgin

C) Dialeto

D) Jargão

Quais são as características comuns de um sotaque regional?

A) Pronúncia e entonação distintas.

B) Uso de gírias específicas.

C) Vocabulário técnico especializado.

D) Todas as opções acima.

Associação de Termos:

Associe cada termo à sua definição correta.


Acento

Variedade Socioeconômica

Variedade Estilística

Etnoleto

Definições:

Forma específica de uma língua usada por um grupo étnico.

Variação da linguagem relacionada às características sociais e econômicas dos falantes.

Variação da linguagem de acordo com o contexto ou situação comunicativa.

Diferenças na pronúncia de uma língua.

Preencha as Lacunas:

4. Um __________ é uma variação de uma língua associada a diferentes classes sociais.

A ___________ refere-se à pronúncia específica de uma língua em uma determinada região.


Exercícios com Gabarito de Português Já está entregue.
(Luís Fernando Veríssimo)
Níveis de Linguagem
a) O título dado pelo autor está adequado, tendo em vista
1) (FGV-2001) o conteúdo do poema? Justifique sua resposta.
b) O exagero que o autor vê no emprego da palavra
“delivery” se aplicaria também a “telepizza”? Justifique sua
resposta.

4) (UFSCar-2004) Precisamos de um novo


“software” para acessar o mundo. As soluções que serviam
Nos três primeiros quadrinhos, a linguagem utilizada é
há 30 anos já não valem mais. Os jovens atuais não copiam
mais formal e, no último, mais informal.
nada, pelo contrário: são filhos da era pós-industrial e
Assinale a alternativa que traga, primeiro, uma marca da
estão criando uma nova cultura. Os toques foram dados
formalidade e, depois, uma marca da informalidade
pelo psicanalista lacaniano Jorge Forbes, durante a
presentes nos quadrinhos.
palestra Édipo, adeus: o enfraquecimento do pai.
a) Vilania; vosso.
Há uma nova ordem social no mundo. Muitos
b) Vós; você.
pais, educadores, psicanalistas, pensadores, todos ainda
c) Estou; você.
apresentam velhas soluções para novos problemas, mas é
d) Tenhais; segui.
o momento de observar as mudanças, de agir de acordo
e) Notícias; falem.
com elas. Forbes lembrou que, antigamente, o jovem
reclamava por não ter liberdade de escolha. Hoje, ele tem
2) (UFSCar-2002) Texto 1
essa liberdade e se sente completamente perdido. Isso
Até o fim
leva, entre outras coisas, às drogas e à depressão.
(Chico Buarque)
O jovem moderno é diferente daquele da geração
Quando eu nasci veio um anjo safado
de 68, que levantava bandeiras e pregava planos de
O chato dum querubim
reforma da educação e da sociedade. A globalização
E decretou que eu tava predestinado
provocou mudanças. Antes, as pessoas queriam pertencer
A ser errado assim
a grandes corporações ou ter profissões reconhecidas. Não
Já de saída a minha estrada entortou
é mais uma honra ficar no mesmo emprego por mais de
Mas vou até o fim.
cinco anos e acabou essa história de “sujar a carteira”,
termo usado para quem ficava pouco tempo num só
Texto 2
trabalho. A globalização pulverizou os ideais e exige de
Poema de Sete Faces
cada pessoa uma escolha meio angustiante: será que
(Carlos Drummond de Andrade)
realmente queremos o que desejamos? No lugar do papel
Quando nasci, um anjo torto
contestador da geração 68, temos hoje uma geração
desses que vivem na sombra
jovem que exibe fracasso escolar, menosprezo e
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
desinteresse pelo saber orientado. O jovem não vê razão
(...)
em se formar; em ser doutor, bússola da geração dos seus
pais. Vivemos uma vida que foi despadronizada. “Somos
O anjo é um elemento comum aos dois textos.
passageiros de um novo mundo”, acrescentou o
psicanalista.
a) De que forma são tratados os anjos nos textos?
b) Nos versos de Chico Buarque, o querubim “decretou”;
(Adaptado de Janete Trevisan, Jornal do Cambuí.)
nos de Drummond, o anjo “disse”. Qual
a diferença desses verbos na caracterização do querubim
a) A que se refere a palavra toques, em Os toques foram
e do anjo?
dados pelo psicanalista lacaniano Jorge Forbes?
b) Construa uma frase com a palavra toque, no sentido
3) (Fuvest-2004) Capitulação
empregado pela autora.
Delivery
Até pra telepizza
5) (UFSCar-2004) Precisamos de um novo
É um exagero.
“software” para acessar o mundo. As soluções que serviam
Há quem negue?
há 30 anos já não valem mais. Os jovens atuais não copiam
Um povo com vergonha
nada, pelo contrário: são filhos da era pós-industrial e
Da própria língua
estão criando uma nova cultura. Os toques foram dados

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pelo psicanalista lacaniano Jorge Forbes, durante a d) Ela insistiu por que lhe desse este papel aí.
palestra Édipo, adeus: o enfraquecimento do pai. e) Ela insistiu em que lhe desse aquele papel ali.
Há uma nova ordem social no mundo. Muitos
pais, educadores, psicanalistas, pensadores, todos ainda
apresentam velhas soluções para novos problemas, mas é 8) (Fuvest-2001) “As pessoas ficam zoando, falando que a
o momento de observar as mudanças, de agir de acordo gente não conseguiria entrar em mais nada, por isso
com elas. Forbes lembrou que, antigamente, o jovem vamos prestar Letras”, diz a candidata ao vestibular. Entre
reclamava por não ter liberdade de escolha. Hoje, ele tem os motivos que a ligaram à carreira estão o gosto por
essa liberdade e se sente completamente perdido. Isso literatura e inglês, que estuda há oito anos.
leva, entre outras coisas, às drogas e à depressão. (Adaptado da Folha de S. Paulo, 22/10/00)
O jovem moderno é diferente daquele da geração
de 68, que levantava bandeiras e pregava planos de a) As aspas assinalam, no texto acima, a fala de uma
reforma da educação e da sociedade. A globalização pessoa entrevistada pelo jornal. Identifique duas marcas
provocou mudanças. Antes, as pessoas queriam pertencer de coloquialidade presentes nessa fala.
a grandes corporações ou ter profissões reconhecidas. Não b) No trecho que não está entre aspas ocorre um desvio
é mais uma honra ficar no mesmo emprego por mais de em relação à norma culta. Reescreva o trecho, fazendo a
cinco anos e acabou essa história de “sujar a carteira”, correção necessária.
termo usado para quem ficava pouco tempo num só
trabalho. A globalização pulverizou os ideais e exige de 9) (Fuvest-2002) “O que dói nem é a frase (Quem paga seu
cada pessoa uma escolha meio angustiante: será que salário sou eu), mas a postura arrogante. Você fala e o
realmente queremos o que desejamos? No lugar do papel aluno nem presta atenção, como se você fosse uma
contestador da geração 68, temos hoje uma geração empregada.”
jovem que exibe fracasso escolar, menosprezo e (Adaptado de entrevista dada por uma professora. Folha
desinteresse pelo saber orientado. O jovem não vê razão de S. Paulo, 03/06/01)
em se formar; em ser doutor, bússola da geração dos seus
pais. Vivemos uma vida que foi despadronizada. “Somos a) A quem se refere o pronome você, tal como foi usado
passageiros de um novo mundo”, acrescentou o pela professora?
psicanalista. Esse uso é próprio de que variedade lingüística?
b) No trecho como se você fosse uma empregada, fica
(Adaptado de Janete Trevisan, Jornal do Cambuí.) pressuposto algum tipo de discriminação social? Justifique
sua resposta.
A autora utiliza alguns elementos da tecnologia para
traduzir seu pensamento no texto. 10) (FGV-2001) A concisão é uma qualidade da
a) Transcreva um trecho em que isso acontece. comunicação. Transcreva as frases abaixo, mas elimine o
b) Qual o sentido, no último parágrafo do texto, da frase que for redundante.
Vivemos uma vida que foi despadronizada? a) Compre dois sabonetes e ganhe grátis o terceiro.
b) O jogador encarou de frente o adversário.
c) O advogado é um elo de ligação entre o cliente e a
6) (Fuvest-1994) "A princesa Diana já passou por poucas e Justiça.
boas. Tipo quando seu ex-marido Charles teve um love d) Certos países do mundo vivem em constante conflito.
affair com lady Camille revelado para Deus e o mundo." e) No momento não temos esse produto, mas vamos
(Folha de S. Paulo, 5/11/93) recebê-lo futuramente.

No texto acima, há expressões que fogem ao padrão culto 11) (Enem Cancelado-2009) A escrita é uma das formas de
da língua escrita. expressão que as pessoas utilizam para comunicar algo e
a) Identifique-as. tem várias finalidades: informar, entreter, convencer,
b) Reescreva-as conforme o padrão culto. divulgar, descrever. Assim, o conhecimento acerca das
variedades lingüísticas sociais, regionais e de registro
torna-se necessário para que se use a língua nas mais
7) (Fatec-1995) "Ela insistiu: diversas situações comunicativas.
- Me dá esse papel aí." Considerando as informações acima, imagine que você
está à procura de um emprego e encontrou duas empresas
Na transposição da fala do personagem para o discurso que precisam de novos funcionários. Uma delas exige uma
indireto, a alternativa correta é: carta de solicitação de emprego. Ao redigi-la, você
a) Ela insistiu que desse aquele papel aí. a) fará uso da linguagem metafórica.
b) Ela insistiu em que me desse aquele papel ali. b) apresentará elementos não verbais.
c) Ela insistiu em que me desse aquele papel aí. c) utilizará o registro informal.

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d) evidenciará a norma padrão. possuía...o poder...econômico...mas ela não tem prestígio
e) fará uso de gírias. social...nem poder político...então...através desse poder
econômico da burguesia...que controlava o comércio...que
tinha nas mãos a economia da França...tava nas mãos da
12) (ENEM-2006) classe burguesa...que crescera...desde o século
A linguagem quinze...com a Revolução Comercial...nós temos o
na ponta da língua crescimento da burguesia...essa burguesia quer...quer...o
tão fácil de falar poder...ela quer o poder político... ela quer o prestígio
e de entender. social...ela quer entrar em Versalhes...então nós vamos ver
A linguagem que através...de uma Revolução...ela vai...de forma
na superfície estrelada de letras, violenta...ela vai conseguir o poder...isso é uma revolução
sabe lá o que quer dizer? porque significa a ascensão de uma classe e a queda de
Professor Carlos Góis, ele e quem sabe, outra...mas qual é a classe que cai? É a aristocracia...tanto
e vai desmatando que... o Rei teve a cabeça cortada... não é isso? caiu... o
10 o amazonas de minha ignorância. poder das classes privilegiadas e uma nova classe subiu ao
Figuras de gramática, esquemáticas, poder...você diz...por exemplo...que a Revolução Russa de
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. dezessete... é uma verdadeira revolução...por quê? porque
1Ja esqueci a língua em que comia, significa... a ascensão duma classe nova...que tem o
em que pedia para ir lá fora, poder...ou melhor...que assume o poder...o proletariado.
em que levava e dava pontapé, (Dinah Callou (org.) A linguagem falada culta na cidade do
a língua, breve língua entrecortada Rio de Janeiro - materiais para seu estudo: Elocuções
do namoro com a priminha. formais. Rio: Fujb, 1991 pp.104-105).
O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio 14) (UFSCar-2000) A tribo se acabara, a família virara
de Janeiro: José Olympio, 1979. sombras, a maloca ruíra minada pelas saúvas e Macunaíma
subira pro céu, porém ficara o aruaí do séquito daqueles
No poema, a referencia a variedade padrão da língua esta tempos de dantes em que o herói fora o grande
expressa no seguinte trecho: Macunaíma imperador. E só o papagaio no silêncio do
a)“A linguagem / na ponta da língua” (v.1 e 2). Uraricoera preservava do esquecimento os casos e a fala
b) “A linguagem / na superfície estrelada de letras” (v.5 e desaparecida. Só o papagaio conservava no silêncio as
6). frases e os feitos do herói.
c) “[a lingua] em que pedia para ir lá fora” (v.14). Tudo ele contou pro homem e depois abriu asa rumo de
d) “[a lingua] em que levava e dava pontapé” (v.15). Lisboa. E o homem sou eu, minha gente, e eu fiquei pra
e) “[a língua] do namoro com a priminha” (v.17). vos contar a história. Por isso que vim aqui. Me acocorei
em riba destas folhas, catei meus carrapatos, ponteei na
violinha e em toque rasgado botei a boca no mundo
13) (Unicamp-1998) A transcrição que você vai ler a seguir cantando na fala impura as frases e os casos de
foi retirada de uma aula de História Contemporânea Macunaíma, herói de nossa gente.
ministrada no Rio de Janeiro no final da década de 70. Tem mais não.
Como se trata de um texto falado, é bastante entrecortado (Mário de Andrade: Macunaíma - o herói sem nenhum
e repetitivo, características tidas como inapropriadas para caráter. Edição crítica de Telê Porto Ancona Lopez. Rio de
a língua escrita. Leia o trecho como se você estivesse Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: Secretaria
"ouvindo" a aula; em seguida, de Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978, p. 148.)

a) responda com uma única frase: qual é o principal No texto, o narrador qualifica a sua linguagem como fala
propósito da passagem transcrita? impura, ou seja, como linguagem mal tolerada pelos
b) elimine os traços de oralidade do texto e resuma a aula gramáticos do começo do século, principalmente por
no máximo em 30 palavras. aqueles que defendiam o parnasianismo e o realismo
acadêmico.
... nós vimos que ela assinala...como disse o colega aí...a a) Destaque três expressões do segundo parágrafo que
elevação da sociedade burguesa... e exemplificam a fala impura.
capitalista...ora...pode-se já ver nisso...o que é uma b) Explique por que essas expressões podem ser
revolução...uma revolução significa o quê? Uma consideradas exemplos de fala impura e, em seguida,
mudança...de classe...em assumindo o poder...você vê por transforme-as em fala pura.
exemplo...a Revolução Francesa...o que ela significa? Nós
vimos...você tem uma classe que sobe... e outra classe que 15) (Fuvest-1997) A única frase inteiramente de acordo
desce...não é isso? A burguesia cresceu...ela ti/ a burguesia com as normas gramaticais do padrão culto é:

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a) A secretária pretende evitar que novos mandados de Comparando-se esses dois textos, verifica-se que, na
segurança ou liminares contra o decreto sejam expedidas. segunda versão, houve mudanças relativas a
b) O CONTRU interditou várias dependências do prédio, a) vocabulário.
inclusive o Salão Azul, cujo o madeiramento do forro foi b) construções sintáticas.
atacado por cupins. c) pontuação.
c) O ministro da Agricultura da Inglaterra declarou que por d) fonética.
hora não há motivo para sacrificar os animais. e) regência verbal.
d) A poucos dias da eleição, os candidatos enfrentam
agora uma verdadeira maratona.
e) "Posso vencê-las, mesmo que usem drogas, pois não é 19) (Fuvest-2002) As aspas marcam o uso de uma palavra
isso que as tornarão invencíveis", declarou a nadadora. ou expressão de variedade lingüística diversa da que foi
usada no restante da frase em:
16) (Fuvest-2001) a) “Se eu não tivesse atento e olhado o a) Essa visão desemboca na busca ilimitada do lucro, na
rótulo, o paciente teria morrido”, declarou o médico. apologia do empresário privado como o “grande herói”
Reescreva a frase acima, corrigindo a impropriedade contemporâneo.
gramatical que nela ocorre. b) Pude ver a obra de Machado de Assis de vários ângulos,
sem participar de nenhuma visão “oficialesca”.
b) A econologia, combinação de princípios da economia, c) Nas recentes discussões sobre os “fundamentos” da
sociologia e ecologia, é defendida por ambientalistas como economia brasileira, o governo deu ênfase ao equilíbrio
maneira de se viabilizarem formas alternativas de fiscal.
desenvolvimento. d) O prêmio Darwin, que “homenageia” mortes estúpidas,
Reescreva a frase acima, transpondo-a para a voz ativa. foi instituído em 1993.
e) Em fazendas de Minas e Santa Catarina, quem aprecia o
17) (Fuvest-1999) Amantes dos antigos bolachões penam campo pode curtir o frio, ouvindo “causos” à beira da
não só para encontrar os discos, que ficam a cada dia mais fogueira.
raros. A dificuldade aparece também na hora de trocar a
agulha, ou de levar o toca-discos para o conserto. 20) (IME-1996) AS CARIDADES ODIOSAS
(Jornal da Tarde, 22/10/98, p. 1C)
Foi uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilidade? Eu
a) Tendo em vista que no texto acima falta paralelismo passava pela rua depressa, emaranhada nos meus
sintático, reescreva-o em um só período, mantendo o pensamentos, como às vezes acontece. Foi quando meu
mesmo sentido e fazendo as alterações necessários para vestido me reteve: alguma coisa enganchara na minha
que o paralelismo se estabeleça. saia. Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e
b) Justifique as alterações efetuadas. escura. Pertencia a uma menino a que a sujeira e o sangue
interno davam um tom quente de pele. O menino estava
de pé no degrau da grande confeitaria. Seus olhos, mais do
18) (ENEM-2007) Antigamente que suas palavras meio engolidas, informavam-me de sua
Acontecia o indivíduo apanhar constipação; ficando paciente aflição. Paciente demais. Percebi vagamente um
perrengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, pedido, antes de compreender o seu sentido concreto. Um
ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas pouco aturdida eu o olhava, ainda em dúvida se fora a mão
fedorentas. Doença nefasta era a phtísica, feia era o gálico. da criança que me ceifara os pensamentos.
Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os - Um doce, moça, compre um doce para mim.
meninos, lombrigas (...) Acordei finalmente. O que estivera eu pensando antes de
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa. encontrar o menino? O fato é que o pedido deste pareceu
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184. cumular uma lacuna, dar uma resposta que podia servir
para qualquer pergunta, assim como uma grande chuva
O texto acima está escrito em linguagem de uma época pode matar a sede de quem queria uns goles de água.
passada. Observe uma outra versão, em linguagem atual. Sem olhar para os lados, por pudor talvez, sem querer
espiar as mesas da confeitaria onde possivelmente algum
Antigamente conhecido tomava sorvete, entrei, fui ao balcão e disse
Acontecia o indivíduo apanhar um resfriado; ficando mal, com uma dureza que só Deus sabe explicar: um doce para
mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à o menino.
farmácia para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas De que tinha eu medo? Eu não olhava a criança, queria
fedorentas. Doença nefasta era a tuberculose, feia era a que a cena, humilhante para mim terminasse logo.
sífilis. Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os Perguntei-lhe: que doce você...
meninos, vermes (...) Antes de terminar, o menino disse apontando depressa
com o dedo: aquelezinho ali, com chocolate por cima. Por

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um instante perplexa, eu me recompus logo e ordenei, (Gregório de Matos Guerra, Seleção de Obras Poéticas)
com aspereza, à caixeira que o servisse.
- Que outro doce você quer? perguntei ao menino escuro. Devido quer aos hábitos lingüísticos quer às preferências
Este, que mexendo as mãos e a boca ainda esperava com literárias de sua época, o autor vale-se de algumas
ansiedade pelo primeiro, interrompeu-se, olhou-me um palavras e expressões que poderiam ser “traduzidas” para
instante e disse com delicadeza insuportável, mostrando uma forma contemporânea e mais corrente. Assinale a
os dentes: não precisa de outro não. Ele poupava a minha alternativa em que aparece o equivalente de sentido
bondade. adequado ao contexto:
- Precisa sim, cortei eu ofegante, empurrando-o para a) “[...] ao nobre o vil decepa”= o nobre corta o mal pela
frente. O menino hesitou e disse: aquele amarelo de ovo. raiz.
Recebeu um doce em cada mão, levantando as duas acima b) “[...] é mais rico o que mais rapa” = é tanto mais rico
da cabeça, com medo talvez de apertá-los. Mesmo os aquele que rouba mais.
doces estavam tão acima do menino escuro. E foi sem c) “Quem mais limpo se faz, tem mais carepa” = quem mais
olhar para mim que ele, mais do que foi embora, fugiu. A se limpa, mais perde cabelos.
caixeira olhava tudo: d) “O velhaco maior sempre tem capa” = idosos têm mais
-Afinal uma alma caridosa apareceu. Esse menino estava necessidade de agasalho.
nesta porta há mais de uma hora, puxando todas as e) “A flor baixa se inculca por tulipa” = a flor rasteira teima
pessoas que passavam, mas ninguém quis dar. em crescer mais alto.
Fui embora, com o rosto corada de vergonha. De vergonha
mesmo? Era inútil querer voltar aos pensamentos 22) (ENEM-2005) As dimensões continentais do Brasil são
anteriores. Eu estava cheia de um sentimento de amor, objeto de reflexões expressas em diferentes linguagens.
gratidão, revolta e vergonha. Mas, como se costuma dizer, Esse tema aparece no seguinte poema:
o Sol parecia brilhar com mais força. Eu tivera a “(....)
oportunidade de... E para isso fora necessário um menino Que importa que uns falem mole descansado
magro e escuro... E para isso fora necessário que outros Que os cariocas arranhem os erres na garganta
não lhe tivessem dado um doce. Que os capixabas e paroaras escancarem as vogais?
E as pessoas que tomavam sorvete? Agora, o que eu Que tem se o quinhentos réis meridional
queria saber com autocrueldade era o seguinte: temera Vira cinco tostões do Rio pro Norte?
que os outros me vissem ou que os outros não me vissem? Junto formamos este assombro de misérias e grandezas,
O fato é que, quando atravessei a rua, o que teria sido Brasil, nome de vegetal! (....)”
piedade já se estrangulara sob outro sentimento. E, agora (Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:
sozinha, meus pensamentos voltaram lentamente a ser os Martins Editora, 1980.)
anteriores, só que inúteis. O texto poético ora reproduzido trata das diferenças
brasileiras no âmbito
a) étnico e religioso.
"Ele poupava a minha bondade", no texto. Que atitude do b) lingüístico e econômico.
menino levou a narradora a essa constatação? c) racial e folclórico.
d) histórico e geográfico.
e) literário e popular.
21) (Fatec-2002) AS COUSAS DO MUNDO
Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa; 23) (ITA-2000) Assinale a opção em que a manchete de
Com sua língua, ao nobre o vil decepa: jornal está mais em acordo com os cânones da
O velhaco maior sempre tem capa. ‘‘objetividade jornalística’’:

Mostra o patife da nobreza o mapa: a) O mestre do samba volta em grande forma O Estado de
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; S. Paulo, 17/7/1999.)
Quem menos falar pode, mais increpa: b) O pior do sertão na festa dos 500 anos (O Estado de S.
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. Paulo, 17/7/1999.)
c) Proteína direciona células no cérebro (Folha de S. Paulo,
A flor baixa se inculca por tulipa; 24/7/1999.)
Bengala hoje na mão, ontem garlopa, d) A farra dos juros saiu mais cara que a da casa própria
Mais isento se mostra o que mais chupa. (Folha de S. Paulo, 13/6/1999.)
e) Dono de telas ‘‘falsas’’ diz existir ‘‘armação’’ O Estado de
Para a tropa do trapo vazo a tripa S. Paulo, 21/7/1999.)
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.

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24) (UEPB-2006) Assinale o item que encerra linguagem b) “Cair no vestibular é muito mais do que um escritor
exclusivamente padrão: menos-que-perfeito pode aspirar na vida.”
a) “No Brasil já existe uma alface que pode servir de vacina Explique o emprego do termo aspirar no fragmento acima.
contra a leishmaniose, doença que contamina 12 milhões
de pessoas por ano em todo o planeta.” 27) (Mack-2007) Certa vez, chamaram minha atenção para
(Veja, n. 20, ano 38, 18/05/05) um erro de português no samba Comprimido. É a crônica
b) Xiiiiiii Acabei de enviar o e-mail pra todo mundo. E de um sujeito que briga com a mulher. Ela dá uma dentada
agora? nele, que resolve deixar a marca para provar a agressão.
ESSA ERA JÁ ERA. Ganhou esse nome para enfatizar a idéia de que o
(Publicidade - Veja, n. 20, ano 38, 18/05/05) indivíduo estava “pressionado”, a ponto de tomar um
c) A sua é escalar o Himalaia? comprimido e morrer. Lá pelo fim do texto, há o erro:
A sua é dropar Fernando de Noronha? “Noite de samba/ Noite comum de novela/ Ele chegou/
A sua é o Terra. Pedindo um copo d´água/ Pra tomar um comprimido/
(Publicidade - Veja, n. 20, ano 38, 18/05/05) Depois cambaleando/ Foi pro quarto/ E se deitou/ Era
d) “Equador, do jornalista, romancista e tevê-man tarde demais/ Quando ela percebeu que ele se
português Miguel Sousa Tavares, já vendeu mis envenenou”. Então me deram um toque. Aí, tentei mudar.
exemplares.” Nada encaixava. Um desespero. Aí decidi deixar assim,
(Millôr - Veja, n. 20, ano 38, 18/05/05) com erro mesmo. Nunca reclamaram.
e) “Quando eu disse que era para cortar os pulsos, eu tava Adaptado de entrevista de Paulinho da Viola
falando da conta telefônica.”
(Veja, n. 20, ano 38, 18/05/05) O texto permite afirmar, com correção, que
a) há um contraste entre o nível de linguagem do relato e o
da canção; nesta, o autor usa de maior de informalidade.
25) (FGV-2004) Caetano Veloso acaba de gravar uma b) a entrevista apresenta, como marca de oralidade, o uso
canção, do filme Lisbela e o Prisioneiro. Trata-se de Você de aí (linhas 10 e 11) para conectar partes da narrativa.
não me ensinou a te esquecer. A propósito do título da c) a letra de Comprimido apresenta diversos deslizes em
canção, relação à concordância.
pode-se dizer que: d) a inversão da ordem comum nas frases que compõem
a) A regra da uniformidade do tratamento é respeitada, e o os versos de Comprimido serve para criar suspense em
estilo da frase revela a linguagem regional do autor. relação ao desfecho da história.
b) O desrespeito à norma sempre revela falta de e) o entrevistado relata o que lhe aconteceu certa vez
conhecimento do idioma; nesse caso não é diferente. dispondo os fatos em ordem cronológica, sem fazer uso de
c) O correto seria dizer Você não me ensinou a lhe interrupções, explicações ou comentários.
esquecer.
d) Não deveria ocorrer a preposição nessa frase, já que o
verbo ensinar é transitivo direto. 28) (UEPB-2006) Com base nos textos da questão anterior,
e) Desrespeita-se a regra da uniformidade de tratamento. seria apropriado, portanto, afirmar:
Com isso, o estilo da frase acaba por aproximar- se do da a) Expressões como JÁ ERA, A SUA, MIS e TAVA são
fala. inadmissíveis em textos de divulgação.
b) Os meios de comunicação estão cada vez mais
desprezando a linguagem correta, usando gírias e outros
26) (UFV-2005) Cair no vestibular é muito mais do que um vícios de linguagem.
escritor menos-que-perfeito pode aspirar na vida. c) O uso de gírias pela mídia contribui para as deformações
Escritores menos-que-perfeitos, caso você não saiba, são constantes que se observam na língua portuguesa.
aqueles que se negam a usar a forma sintética do mais- d) Os usos da língua estão estreitamente ligados a sua
que-perfeito. Um escritor menos-que-perfeito jamais função social.
“fizera”, nunca “ouvira” e em hipótese nenhuma “falara”. e) Expressões como JÁ ERA, A SUA, MIS e TAVA provam o
E no Brasil, se você é um sujeito que “escrevera”, você é analfabetismo de nossa população.
respeitado; mas, se você apenas “tinha escrito”, então
você não é nada, e só cai no vestibular por engano.
(FREIRE, Ricardo. Xongas. Época. São Paulo, 28 jun 2004.) 29) (UNIFESP-2005) Considere as afirmações:

a) No texto, o autor distingue escritores menos-que-


perfeitos de escritores mais-que-perfeitos. Por que o autor
se define como um escritor menos-que-perfeito? Que
justificativa o autor teria para optar por uma forma verbal
coloquialmente mais simples?

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31) (UFPB-2006) Em algumas narrativas da obra Oito
contos de amor, de Lygia Fagundes Telles, a sondagem
psicológica das personagens se realiza através do uso do
fluxo de consciência, técnica narrativa que introduz
inovações na prosa moderna. Identifique a(s)
proposição(ões) verdadeira(s), relativa(s) ao uso dessa
técnica:

01. As fronteiras entre passado e presente, realidade


e imaginação são bem delimitadas.
02. Os acontecimentos aparecem em ordem
cronológica e se passam apenas no plano da realidade.
04. Os momentos de vivência interior dos
personagens são explorados, misturando-se realidade e
fantasia.
08. Os fatos são apresentados em uma ordem linear,
ocorrendo uma distinção entre presente e passado.
16. A seqüência lógica dos acontecimentos se perde,
permitindo o curso livre dos pensamentos dos
(Veja, 12.05.2004.) personagens.
I. Os pronomes sua e seu referem-se ao receptor da
A soma dos valores atribuídos à(s) proposição(ões)
mensagem, que pode ser uma pessoa do sexo masculino
ou do sexo feminino. verdadeira(s) é igual a
II. Se a conjunção Quando fosse substituída por Se, os
verbos teriam outra flexão.
III. Embora possua classificação gramatical diferente da 32) (FGV-2001) Em cada um dos períodos abaixo, há
conjunção Quando, Se poderia configurar na propaganda, palavras ou expressões cujo emprego os gramáticos
pois apresentaria a idéia de forma coerente. recomendam evitar. Identifique essas palavras ou
IV. Num nível de linguagem bastante informal, a última expressões e transcreva os períodos, fazendo as
frase poderia assumir a seguinte forma: “Facinho agradar substituições adequadas.
sua mãe, né?” a) A nível de eficiência, ele é ótimo.
Estão corretas somente as afirmações: b) Este funcionário não se adéqua ao perfil da empresa.
a) I e II. c) Durante a entrevista, ele colocou que a questão salarial
b) II e IV. seria adiada.
c) III e IV. d) Na próxima semana, vamos estar enviando nosso
d) I, II e III. programa de atividades a todos os associados.
e) I, III e IV.
33) (UFES-2002) Em meio a opiniões favoráveis ou
contrárias aos estrangeirismos, o uso de palavras de outras
30) (UFSC-2006) Dentre as proposições abaixo, algumas línguas, como se observa na tirinha abaixo, é corrente no
ferem a norma padrão. Assinale aquelas que não português do Brasil.
apresentam desvio gramatical.

01. Se todos houvessem seguido as normas, não


haveria tantas reclamações.
02. O desrespeito à natureza é tanto que, naquele
lugar, já não existem animais daquela espécie.
04. Havia apenas uma saída para o problema, mas
outras poderiam haver caso analisássemos o problema
com mais calma.
08. O desafio que me refiro implica em fazer escolhas. Ciça. O pato. In: Hiron Cardoso Goidanich. Enciclopédia dos
16. Restabelecer-se-iam, de imediato, as ligações, se quadrinhos. Porto Alegre: L&PM, 1990: 118.
houvessem técnicos de plantão.
32. Hão de trazer o que me prometeram! Ora, se hão! Assinale a alternativa que NÃO contém estrangeirismo:

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a) “[...] Era impressionante o seu mister de busca b) falta de concordância quanto à pessoa nas formas
incessante de recursos para construir o novo prédio e verbais estás, tomares e conta.
depois para continuar de pé aquela importante obra.” c) emprego de verbos predominantemente na segunda
(Alencar Garcia de Freitas, A Gazeta - 6/8/2001) pessoa do singular.
b) “[...] Em dezembro de 1998 o quadro mundial era mais d) redundância semântica, pelo emprego repetido da
tenso [...] e o Brasil conseguiu US$ 41 bilhões do fundo e palavra conta na última estrofe.
de um pool de bancos.” (Ângelo Passos, A Gazeta - e) emprego das palavras bagunça e cara.
6/8/2001)
c) “[...] A crise ganha status de vírus letal, contra o qual 36) (Unicamp-2005) Foi no tempo em que a Bandeirantes
não há remédio e cura.” (Milton Mira Assumpção, A recém-inaugurara suas novas instalações no Morumbi. Não
Gazeta - 22/8/2001) havia transporte público até o nosso local de trabalho, e a
d) “[...] O momento da eleição, longe de ser motivo de direção da casa organizou um serviço com viaturas
reflexão, de troca de idéias entre os eleitores [...] próprias. (...) Paraná era um dos motoristas. (...)
transforma-se num grande show.” (Sérgio Fonseca, A Numa das subidas para o Morumbi “fechou” sem nenhuma
Gazeta - 2/9/2001) maldade um automóvel. O cidadão que o dirigia estava
e) “[...] No mesmo período, o sistema portuário do Estado com os filhos, era diretor do São Paulo F.C., e largou o
ocupou segundo lugar no ranking nacional em valor de verbo em cima do pobre do Paraná. Que respondeu à
produtos embarcados.” (A Gazeta - 4/9/2001) altura. Logo depois que a perua chegou ao Morumbi, todo
mundo de ponto batido, o automóvel pára em frente da
34) (Fuvest-2003) Entre as mensagens abaixo, a única que porta dos funcionários, e o seu condutor desce bufando:
está de acordo com a norma escrita culta é: “Onde está o motorista dessa perua? (e lá vinha chegando
o Paraná). Você me ofendeu na frente dos meus filhos.
a) Confira as receitas incríveis preparadas para você. Clica Não tem o direito de agir dessa forma, me chamar do
aqui! nome que me chamou. Vou falar ao João Saad, que é meu
b) Mostra que você tem bom coração. Contribua para a amigo!”
campanha do agasalho! E o Paraná, já fuzilando, dedo em riste, tonitruou em seu
c) Cura-te a ti mesmo e seja feliz! sotaque mais que explícito: “Le” chamei e “le” chamo de
d) Não subestime o consumidor. Venda produtos de boa novo... veado ... veado ... Não houve reação da parte
procedência. ofendida.
e) Em caso de acidente, não siga viagem. Pede o apoio de (Flávio Araújo, O rádio, o futebol e a vida. São Paulo:
um policial. Editora Senac São Paulo, 2001, p. 50-1).

35) (Fuvest-2003) Eu te amo a) Na seqüência “(...) e largou o verbo em cima do pobre


Ah, se já perdemos a noção da hora, do Paraná. Que respondeu à altura”, se trocarmos o ponto
Se juntos já jogamos tudo fora, final que aparece depois de ‘Paraná’ por uma vírgula,
Me conta agora como hei de partir... ocorrem mudanças na leitura? Justifique.
b) O trecho da resposta de Paraná “Le chamei e le chamo
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios, de novo ...” chama a atenção do leitor para a sintaxe da
Rompi com o mundo, queimei meus navios, língua. Explique.
Me diz pra onde é que inda posso ir... c) Substitua ‘tonitruou’ por outra palavra ou expressão.
(...)
Se entornaste a nossa sorte pelo chão, 37) (UFSCar-2002) Freqüentemente se lê sobre falar e
Se na bagunça do teu coração escrever como necessidades do ser humano. Do ponto de
Meu sangue errou de veia e se perdeu... vista acadêmico e profissional, por exemplo, são
(...) competências que podem garantir sucesso a muitas
Como, se nos amamos como dois pagãos, pessoas.
Teus seios inda estão nas minhas mãos, O que é importante para falar e escrever com
Me explica com que cara eu vou sair... competência, ou seja, de forma que as intenções de
comunicação dos indivíduos sejam plenamente satisfeitas
Não, acho que estás só fazendo de conta, de acordo com a situação com que se defrontam?
Te dei meus olhos pra tomares conta, Leia os textos a seguir e, depois, a proposta de redação.
Agora conta como hei de partir...
(Tom Jobim - Chico Buarque) Texto 1
No grupo escolar
Neste texto, em que predomina a linguagem culta, ocorre Eu vou agora descrever o jeito como se ensinava
também a seguinte marca da linguagem coloquial: "linguagem". Era o jeito como se aprendia a ler, a escrever
a) emprego de hei no lugar de tenho. e a redigir na escola pública e na particular.

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Já podemos falar de um "era uma vez" um mundo em que Texto 2
a professora primária era levada a sério, por isso ela não A dificuldade com a clareza é um traço cultural no Brasil.
media esforços em ensinar seus alunos. Nesse tempo, nos “Num país com tantas carências educacionais, falar de
boletins, além da nota de linguagem, aritmética e maneira rebuscada é indicador de status, mesmo que o
conteúdos, existia nota de ordem, aplicação e falante não esteja dizendo coisa com coisa”, afirma o
comportamento. Só por aí já vemos que capricho, atenção professor Francisco Platão Savioli, da Universidade de São
e modos respeitosos já foram valores a merecer menção. Paulo. Esse amor pelas palavras difíceis tem origem na
(...) época da transição do Império para a República, no fim do
No ensino de linguagem, a escrita se fazia por meio de século XIX. Conforme explica Sérgio Buarque de Holanda,
cópia, ditado, descrição e composição. Em geral, a em seu clássico Raízes do Brasil, com o advento da
professora escrevia no quadro-negro, e os alunos República o curso superior passou a ser o principal
copiavam, e essa cópia era depois religiosamente corrigida parâmetro de reconhecimento social. Na época, estavam
pela professora. Copiar é ver e repetir o que se viu. (...) em voga as escolas de direito. Assim, para ser alguém na
Essa é uma etapa importante, em que se mistura o ler com sociedade daquele tempo, era necessário não apenas ser
o escrever. advogado, mas também falar como advogado. É daí que
Já o ditado, pavor das criancinhas recém-alfabetizadas, surge, segundo Sérgio Buarque, a linguagem bacharelesca.
pede outras aptidões. Escuta-se e transforma-se o som em Esse estilo floresceu no começo do século XX e, a partir do
símbolos gráficos da escrita de que a cópia nos dá o modernismo, seu prestígio foi decaindo. O português
domínio. Automatizar esse processo exige mais tarefas de empolado persiste, no entanto, até hoje, em formas
nosso sistema nervoso. E os ditados também eram degeneradas. Uma delas é o chamado “burocratês”, a
corrigidos um a um. linguagem dos memorandos das empresas, nos quais
Já sabemos escrever o que vemos (cópia) e sabemos mesmo para solicitar uma caixa de clipes são necessárias
escrever o que ouvimos (ditado). É chegada a hora de várias saudações e salamaleques. Outra é a retórica de
escrever o que percebemos. Agora já cabe a quem escreve parte dos políticos. O linguajar pomposo também
fazer o ritmo e a respiração, isto é, criar o texto que, na sobrevive nas teses acadêmicas e, como era de esperar, no
cópia e no ditado, vinham prontos. Cada sala de aula tinha discurso dos advogados.
um caderno enorme com desenhos que os alunos tinham (...)
de colocar em palavras. Só depois vinham as composições. A dificuldade do brasileiro em falar e escrever de forma a
Para tanto, precisávamos ser capazes de realizar todas as se fazer entender não é apenas conseqüência da tradição
aptidões desenvolvidas nas outras etapas. Por termos bacharelesca. Há outros fatores. Para começar, lê-se pouco
praticado a transposição de vários estímulos para a escrita, no Brasil. A Câmara Brasileira do Livro divulgou
podíamos, finalmente, transpor também desejos, recentemente um estudo que mostra que, na verdade, os
esperanças e fantasias. Isto é, sentimentos ou, sendo mais brasileiros lêem em média apenas 1,2 livro por ano. Não
específica, subjetividade. Se faremos isso pobremente ou cultivar a leitura é um desastre para quem deseja
genialmente, depende em parte do exercitar-se e, em expressar-se bem. Ela é condição essencial para melhorar a
parte, das quantidades de que dispomos de cada uma linguagem oral e escrita. Quem lê interioriza as regras
dessas aptidões, da importância que o comunicar-se tem gramaticais básicas e aprende a organizar o pensamento.
no meio social em que a criatura vive etc. etc. (...) E depois (Veja, 07.11.2001, pág. 108-9.)
das composições praticávamos cartas, relatórios, tudo lá
no curso primário do grupo escolar onde as professoras Texto 3
eram muitíssimo respeitadas e corrigiam, reviam, Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do
ensinavam. Farroupilhas estiveram lá em casa numa mesma missão,
Ainda bem que o computador trouxe de volta a designada por seu professor de Português: saber se eu
importância da escrita, e por isso vale a pena lembrar considerava o estudo da Gramática indispensável para
como se fazia no tempo em que mal-e-mal em alguns aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua.
escritórios algumas pessoas escreviam a máquina, mas (...)
todos tinham de ter uma letra legível. A caligrafia parece, Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio
de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente
Mas ela voltará. como tal. Respeitadas algumas regras básicas da
(...) Não é porque sabemos escrever complexos relatos que Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as
deixamos de precisar saber fazer cópia, ditado e descrição. outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso,
Como passar um procedimento se não soubermos não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não
descrever, por exemplo? A escrita está em todos os lugares necessariamente certo.
do nosso cotidiano moderno. E seu ensino ficou precário (...)
ao privilegiar a criação em detrimento da precisão. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa
(“Equilíbrio”, Folha de S. Paulo, 20.09.2001.) se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui
péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês, a

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intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu caatinga, num gesto de caboclo, uma conversa cheia de
ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência provérbios matutos.
na matéria. O seu diálogo é rebuscadamente natural: desdenha o
(Luís Fernando Veríssimo. O gigolô das palavras.) recurso ingênuo de cortar ss, ll e rr finais, deturpar flexões,
e aproximar-se, tanto quanto possível, da língua do
Baseando-se nos textos apresentados e valendo-se de interior.
outras informações de seu domínio, elabore um texto Devo acrescentar que Rosa é um animalista notável:
dissertativo em que seja analisada a questão: fervilham bichos no livro, não convenções de apólogo, mas
irracionais, direitos exibidos com peladuras, esparavões e
OS PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE DEFINEM O BOM USO DA os necessários movimentos de orelha e de rabos. Talvez o
LÍNGUA. hábito de examinar essas criaturas haja aconselhado o
meu amigo a trabalhar com lentidão bovina.
38) (Vunesp-2003) INSTRUÇÃO: A questões abaixo toma Certamente ele fará um romance, romance que não lerei,
por base um fragmento da crônica Conversa de Bastidores, pois, se for começado agora, estará pronto em 1956,
do ficcionista brasileiro Graciliano Ramos (1892-1953), e quando os meus ossos começarem a esfarelar-se.
um trecho da narrativa O Burrinho Pedrês, do ficcionista (Graciliano Ramos, Conversa de bastidores. In: Linhas
brasileiro João Guimarães Rosa (1908-1967). tortas)

Conversa de Bastidores O Burrinho Pedrês


[…] […]
Em fim de 1944, Ildefonso Falcão, aqui de passagem, Nenhum perigo, por ora, com os dois lados da estrada
apresentou-me J. Guimarães Rosa, secretário de tapados pelas cercas. Mas o gado gordo, na marcha
embaixada, recém-chegado da Europa. contraída, se desordena em turbulências. Ainda não
- O senhor figurou num júri que julgou um livro meu em abaixaram as cabeças, e o trote é duro, sob vez de
1938. aguilhoadas e gritos.
- Como era o seu pseudônimo? - Mais depressa, é para esmoer?! - ralha o Major. - Boiada
- Viator. boa!...
- Ah! O senhor é o médico mineiro que andei procurando. Galhudos, gaiolos, estrelos, espácios, combucos, cubetos,
Ildefonso Falcão ignorava que Rosa fosse médico, mineiro lobunos, lompardos, caldeiros, cambraias, chamurros,
e literato. Fiz camaradagem rápida com o secretário de churriados, corombos, cornetos, bocalvos, borralhos,
embaixada. chumbados, chitados, vareiros, silveiros… E os tocos da
- Sabe que votei contra o seu livro? testa do mocho macheado, e as armas antigas do boi
- Sei, respondeu-me sem nenhum ressentimento. cornalão…
Achando-me diante de uma inteligência livre de - P’ra trás, boi-vaca!
mesquinhez, estendi-me sobre os defeitos que guardara na - Repele Juca… Viu a brabeza dos olhos? Vai com sangue
memória. Rosa concordou comigo. Havia suprimido os no cangote…
contos mais fracos. E emendara os restantes, vagaroso, - Só ruindade e mais ruindade, de em-desde o redemunho
alheio aos futuros leitores e à crítica. […] da testa até na volta da pá! Este eu não vou perder de
Vejo agora, relendo Sagarana (Editora Universal - Rio - olho, que ele é boi espirrador…
1946), que o volume de quinhentas páginas emagreceu Apuram o passo, por entre campinas ricas, onde pastam
bastante e muita consistência ganhou em longa e paciente ou ruminam outros mil e mais bois. Mas os vaqueiros não
depuração. Eliminaram-se três histórias, capinaram-se esmorecem nos eias e cantigas, porque a boiada ainda tem
diversas coisas nocivas. As partes boas se aperfeiçoaram: O passagens inquietantes: alarga-se e recomprime-se, sem
Burrinho Pedrês, A Volta do Marido Pródigo, Duelo, Corpo motivo, e mesmo dentro da multidão movediça há giros
Fechado, sobretudo Hora e Vez de Augusto Matraga, que estranhos, que não os deslocamentos normais do gado em
me faz desejar ver Rosa dedicar-se ao romance. Achariam marcha - quando sempre alguns disputam a colocação na
aí campo mais vasto as suas admiráveis qualidades: a vanguarda, outros procuram o centro, e muitos se deixam
vigilância na observação, que o leva a não desprezar levar, empurrados, sobrenadando quase, com os mais
minúcias na aparência insignificante, uma honestidade fracos rolando para os lados e os mais pesados tardando
quase mórbida ao reproduzir os fatos. Já em 1938 eu havia para trás, no coice da procissão.
atentado nesse rigor, indicara a Prudente de Morais - Eh, boi lá!… Eh-ê-ê-eh, boi!... Tou! Tou! Tou…
numerosos versos para efeito onomatopaico intercalados As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e
na prosa. […] touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na
A arte de Rosa é terrivelmente difícil. Esse antimodernista massa embolada, com atritos de couros, estralos de
repele o improviso. Com imenso esforço escolhe palavras guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado
simples e nos dá impressão de vida numa nesga de junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade
dos campos, querência dos pastos de lá do sertão…

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“Um boi preto, um boi pintado, c) idoso que habita uma comunidade urbana.
cada um tem sua cor. d) escolarizado que habita uma comunidade do interior do
Cada coração um jeito país.
de mostrar o seu amor.” e) estrangeiro que imigrou para uma comunidade do sul
Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando… do país.
Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito… Vai,
vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando…
“Todo passarinh’ do mato
tem seu pio diferente. 40) (GV-2003) Leia atentamente o texto e responda à
Cantiga de amor doído questão que a ele se refere.
não carece ter rompante…”.
Pouco a pouco, porém, os rostos se desempanam e os Briga de irmãos… Nós éramos cinco e brigávamos muito,
homens tomam gesto de repouso nas selas, satisfeitos. recordou Augusto, olhos perdidos num ponto X, quase
Que de trinta, trezentos ou três mil, só está quase pronta a sorrindo. Isto não quer dizer que nos detestássemos. Pelo
boiada quando as alimárias se aglutinam em bicho inteiro - contrário. A gente gostava bastante uns dos outros e não
centopeia -, mesmo prestes assim para surpresas más. podia viver na separação. Se um de nós ia para o colégio
(João Guimarães Rosa, O burrinho pedrês. In: Sagarana) (era longe o colégio, a viagem se fazia a cavalo, dez léguas
na estrada lamacenta, que o governo não conservava), os
No artigo Conversa de Bastidores, publicado em 1946, outros ficavam tristes uma semana. Depois esqueciam,
Graciliano Ramos revela haver votado em Maria Perigosa, mas a saudade do mano muitas vezes estragava o nosso
de Luís Jardim, e não em Contos, de Viator (pseudônimo banho no poço, irritava ainda mais o malogro da caça de
de Guimarães Rosa), no desempate final de um concurso passarinho: “Se Miguel estivesse aqui, garanto que você
promovido em 1938 pela Editora José Olympio. Sem não deixava o tiziu fugir”, gritava Édison. “Você assustou
desanimar com a derrota, Guimarães Rosa veio a publicar ele falando alto… Miguel te quebrava a cara.” Miguel era o
seu livro, com modificações, em 1946, sob o título de mais velho, e fora fazer o seu ginásio. Não se sabe bem por
Sagarana, que o revelou como um dos maiores escritores que a sua presença teria impedido a fuga do pássaro, nem
da modernidade no Brasil. Releia as duas passagens e, a ainda por que o tapa no rosto de Tito, com o tiziu já
seguir, longínquo, teria remediado o acontecimento. Mas o fato é
a) interprete o que quer dizer Graciliano, no contexto, com que a figura de Miguel, evocada naquele instante,
a expressão “achando-me diante de uma inteligência livre embalava nosso desapontamento e de certo modo
de mesquinhez”; participava dele, ajudando-nos a voltar para casa de mãos
b) localize, numa das cinco falas de personagens do vazias e a enfrentar o risinho malévolo dos Guimarães: “O
fragmento de Guimarães Rosa, um exemplo que confirme que é que vocês pegaram hoje?” “Nada.” Miguel era deste
a observação de Graciliano, de que o autor de Sagarana, ao tamanho, impunha-se. Além disto, sabia palavras difíceis,
representar tais falas, “desdenha o recurso ingênuo de inclusive xingamentos, que nos deixavam de boca aberta,
cortar ss, ll e rr finais”. ao explodirem na discussão, e que decorávamos para
aplicar na primeira oportunidade, em nossas brigas
39) (Enem Cancelado-2009) Iscute o que tô dizendo, particulares com os meninos da rua. Realmente, Miguel
Seu dotô, seu corené: fazia muita falta, embora cada um de nós trouxesse na
De fome tão padecendo pele a marca de sua autoridade. E pensávamos com ânsia
Meus fio e minha muié. no seu regresso, um pouco para gozar de sua companhia,
Sem briga, questão nem guerra, outro pouco para aprender nomes feios, e bastante para
Meça desta grande terra descontar os socos que ele nos dera, o miserável.
Umas tarefas pra eu! Carlos Drummond de Andrade, p. 13-14. Contos de
Tenha pena do agregado Aprendiz - A Salvação da alma. São Paulo: José Olympio,
Não me dexê deserdado 1973.
PATATIVA DO ASSARE. A terra é naturá. In: Cordéis e
outros poemas. Com freqüência, a transgressão à norma culta constitui
Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2008 uma marca do registro coloquial da língua.
(fragmento). Nesses casos, parece existir, de um lado, a norma culta e,
de outro, a “norma” coloquial - e esta muitas vezes se
A partir da análise da linguagem utilizada no poema, impõe socialmente, em detrimento da primeira. Um
infere-se que o eu lírico revela-se como falante de uma exemplo de transgressão à norma culta acontece numa
variedade linguística específica. Esse falante, em seu grupo das alternativas abaixo. Assinale-a.
social, e identificado como um falante a) Nós éramos cinco e…
a) escolarizado proveniente de uma metrópole. b) … que o governo não conservava…
b) sertanejo morador de uma área rural. c) … embora cada um de nós trouxesse na pele…

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d) Você assustou ele falando alto… Português é fácil de aprender porque é uma língua que se
e) Se um de nós ia para o colégio… escreve exatamente como se fala

Pois é. U purtuguêis é muinto fáciu di aprender, purqui é


41) (FGV-1999) Leia atentamente: uma língua qui a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num
é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti
"Carlos foi com João à casa dele." discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im
purtuguêis não. É só prestátenção. U alemão pur exemplu.
Essa frase apresenta ambigüidade? Se sim, explique o que Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu
causa esta ambigüidade e explique os dois sentidos espanhol qui é parecidu, si iscrevi muinto diferenti. Qui
possíveis. bom qui a minha língua é u putuguêis. Quem soubé falá
sabi iscrevê.

42) (ENEM-2005) Leia com atenção o texto: Levando em conta o texto lido, procure explicar de
[Em Portugal], você poderá ter alguns probleminhas se maneira resumida a diferença entre língua escrita e língua
entrar numa loja de roupas desconhecendo certas falada.
sutilezas da língua. Por exemplo, não adianta pedir para
ver os ternos - peça para ver os fatos. Paletó é casaco. 45) (ITA-2003) Leia o texto a seguir.
Meias são peúgas. Suéter é camisola - mas não se assuste,
porque calcinhas femininas são cuecas. (Não é uma Boleiros sob medida
delícia?) Ciência e futebol é uma tabelinha raramente esboçada no
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, nº- 3, 78.) Brasil. A academia não costuma eleger os gramados como
O texto destaca a diferença entre o português do Brasil e o objeto de estudo e o mundo dos boleiros tampouco tem o
de Portugal quanto hábito de, digamos, dar bola para que os pesquisadores
a) ao vocabulário. dizem sobre o esporte mais popular do planeta. Numa
b) à derivação. situação privilegiada nos dois campos, tanto na ciência
c) à pronúncia. quanto no futebol, Turíbio Leite de Barros, diretor do
d) ao gênero. centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte da
e) à sintaxe. Universidade Federal de São Paulo (Cemafe/Unifesp) e
fisiologista da equipe do São Paulo Futebol Clube há 15
anos, produziu um estudo que traça o perfil do futebol
43) (UFAC-1998) Leia o poema de Oswald de Andrade: praticado hoje no Brasil do ponto de vista das exigências
físicas a que os jogadores de cada posição do time são
Pronominais submetidos numa partida. (MARCOS PIVETTA. Pesquisa.
FAPESP, maio de 2002, p. 42)
Dê-me um cigarro
Diz a gramática a) O texto contém termos do universo do futebol, como,
Do professor e do aluno por exemplo, “tabelinha”, uma jogada rápida e entrosada
E do mulato sabido normalmente entre dois jogadores. Retire do texto outras
duas expressões que, embora caracterizem esse universo,
Mas o bom negro e o bom branco também assumem outro sentido. Explique esse sentido.
Da Nação Brasileira b) O título pode ser considerado ambíguo devido à
Dizem todos os dias expressão “sob medida”. Aponte dois sentidos possíveis
Deixa disso camarada para a expressão, relacionando-os ao conteúdo do texto.
Me dá um cigarro
46) (ITA-2003) Leia o texto seguinte.
Das alternativas abaixo, uma não corresponde ao poema.
Marque-a. “No dia 13 de agosto de 1979, dia cinzento e triste, que me
a) Exaltação do falar coloquial brasileiro. causou arrepios, fui para o meu laboratório, onde, por
b) A presença do humor. sinal, pendurei uma tela de Bruegel, um dos meus
c) A liberdade da métrica. favoritos. Lá, trabalhando com tripanossomas, e vencendo
d) Discriminação racial. uma terrível dor de dentes...” Não. De saída tal artigo seria
e) Nacionalização da Língua Portuguesa . rejeitado, ainda que os resultados fossem soberbos. O
estilo... O cientista não deve falar. É o objeto que deve
44) (SpeedSoft-2002) Leia o seguinte texto de Jô Soares: falar por meio dele. Daí o estilo impessoal, vazio de
emoções e valores:
Observa-se

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Constata-se Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se
Obtém-se brincásseis!
Conclui-se. — Eh, carvoero!
Quem? Não faz diferença... Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
(RUBEM ALVES. Filosofia da ciência. São Paulo: Brasiliense, Encarapitados nas alimárias,
1991, p. 149) Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos
a) Do primeiro parágrafo, que simula um artigo científico, desamparados!
extraia os aspectos da forma e do conteúdo que vão contra Petrópolis, 1921
a idéia de que “o cientista não deve falar”. (Manuel Bandeira, O ritmo dissoluto.)
b) O autor exemplifica com uma seqüência de verbos a
idéia de que o estilo deve ser impessoal. Que estratégia de Na terceira estrofe do texto, o enunciador alterna um
construção é usada para transmitir o ideal de acento coloquial, expresso na fala das personagens, com
impessoalização? um registro formal, observável quando o enunciador se
dirige aos meninos carvoeiros. Com base nessa afirmação,
47) (Fuvest-2002) MACUMBA DE PAI ZUSÉ a) selecione um verso do poema, em que existe essa
Na macumba do Encantado aproximação com o registro coloquial, popular, explicando
Nego véio pai de santo fez mandinga como se pode comprová-la;
No palacete de Botafogo b) relacione esse traço com as características do
Sangue de branca virou água movimento literário ao qual se pode ligar o autor do texto.
Foram vê estava morta!

É correto afirmar que, neste poema de Manuel Bandeira, 49) (PUCCamp-1995) MEU CARO DEPUTADO
a) emprega-se a modalidade do poema-piada, típica da O senhor nem pode imaginar o quanto eu e a minha
década de 20, com o fim de satirizar os costumes família ficamos agradecidos. A gente imaginava que o
populares. senhor nem ia se lembrar de nós, quando saiu a nomeação
b) usam-se os recursos sonoros (ritmo e metro regulares, do Otavinho meu filho. Ele agora está se sentindo outro.
redondilha menor) para representar a cultura branca, e os Só fala no senhor, diz que na próxima campanha vai
recursos visuais (imagens, cores), para caracterizar a trabalhar ainda mais para o senhor. No primeiro dia de
religião afro-brasileira. serviço ele queria ir na repartição com a camiseta da
c) mesclam-se duas variedades lingüísticas: uma que se campanha mas eu não deixei, não ia ficar bem, apesar que
aproxima da língua escrita culta e outra que mimetiza uma eu acho que o Otavinho tem muita capacidade e merecia o
modalidade da língua oral-popular. emprego. Pode mandar puxar por ele que ele da conta, é
d) manifesta-se a contradição entre dois tipos de práticas trabalhador, responsável, dedicado, a educação que ele
religiosas, representadas pelas oposições negro × branco, recebeu de mim e da mãe foi sempre no caminho do bem.
macumba × pai de santo, nego véio × Encantado. Faço questão que na próxima eleição o senhor mande mais
e) expressa-se a tendência modernista de encarar a cultura material que eu procuro todos os amigos e os conhecidos.
popular como manifestação do atraso nacional, a ser O Brasil precisa de gente como o senhor, homens de
superado pela modernização. reputação despojada, com quem a gente pode contar.
Meu vizinho Otacílio, a mulher, os parentes todos também
48) (VUNESP-2006) Meninos carvoeiros votaram no senhor. Ele tem vergonha, mas eu peço por
Os meninos carvoeiros ele, que ele merece: ele tem uma sobrinha, Maria Lúcia
Passam a caminho da cidade. Capistrano do Amara, que é professora em Capão da Serra
— Eh, carvoero! e é muito adoentada, mas o serviço de saúde não quer dar
E vão tocando os animais com um relho enorme. aposentadoria. Posso lhe garantir que a moça está mesmo
Os burros são magrinhos e velhos. sem condições, passa a maior parte do tempo com dores
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha. no peito e na coluna que nenhum médico sabe o que é. Eu
A aniagem é toda remendada. disse que ia falar com o senhor, meu caro deputado, não
Os carvões caem. prometi nada, mas o Otavinho e a mulher tem esperanças
(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, que o senhor vai dar um jeitinho. É gente muito boa e
dobrando-se com um gemido.) amiga, o senhor não vai se arrepender.
— Eh, carvoero! Mais uma vez obrigado por tudo, Deus lhe pague. O
Só mesmo estas crianças raquíticas Otavinho manda um abraço para o senhor. Aqui vai o
Vão bem com estes burrinhos descadeirados. nosso abraço também. O senhor pode contar sempre com
A madrugada ingênua parece feita para eles... a gente.
Pequenina, ingênua miséria! Miroel Ferreira (Miré)

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Considerando-se expressões como "no caminho do bem", De plumagens mui vistosas.
"trabalhador, responsável, dedicado" e "o Brasil precisa de Tem macaco até demais
gente como o senhor", pode-se afirmar que o remetente Diamantes tem à vontade
empregou na carta: Esmeralda é para os trouxas.
a) figuras de linguagem com alguma originalidade. Reforçai, Senhor, a arca,
b) termos concretizantes e precisos. Cruzados não faltarão,
c) linguagem enraizada em vivências muito pessoais. Vossa perna encanareis,
d) lugares-comuns pouco definidores. Salvo o devido respeito.
e) fórmulas retóricas da linguagem afetiva. Ficarei muito saudoso
Se for embora daqui”.
50) (Unicamp-2000) Millôr Fernandes, considerado um dos MENDES, Murilo. Murilo Mendes - poesia completa e
maiores humoristas brasileiros, escreveu o texto “Leite, prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
quéqué isso?” em sua coluna no Caderno 2, no jornal O
Estado de S. Paulo de 22/08/99. Abaixo, está um excerto Arcaísmos e termos coloquiais misturam-se nesse poema,
deste texto. Leia-o com atenção e responda: criando um efeito de contraste, como ocorre em:
a) A terra é mui graciosa / Tem macaco até demais
Vocês, que têm mais de 15 anos, se lembram quando a b) Salvo o devido respeito / Reforçai, Senhor, a arca
gente comprava leite em garrafa, na leiteria da esquina? c) A gente vai passear / Ficarei muito saudoso
Lembram mais longe, quando a vaca-leiteira, que não era d) De plumagens mui vistosas / Bengala de castão de oiro
vaca coisa nenhuma, era uma caminhonete-depósito, e) No chão espeta um caniço / Diamantes tem à vontade
vinha vender leite na porta de casa? Lembram mais longe
ainda, quando a gente ia comprar leite no estábulo e tinha 52) (PUC-RS-2001) Não vai dar certo
aquele cheiro forte de bicho, de bosta e de mijo, que a Outro dia, dois cientistas americanos apresentaram um
gente achava nojento e só foi achar genial quando pedido ao Serviço de Marcas e Patentes dos Estados
aprendeu que aquilo tudo era ecológico? Lembra bem mais Unidos para registrar uma criatura que estão produzindo
longe ainda, quando a gente mesmo criava a vaca e em laboratório. A tal criatura seria uma mistura de homem
pegava nos peitinhos dela pra tirar o leite dos filhos dela, com animal. Não se sabe direito que animal é este, mas
com muito jeito pra ela não nos dar uma cipoada? deram a entender que tanto pode ser um macaco como
Mas vocês não lembram de nada, pô! Vai ver nem sabem o um camundongo.
que é vaca. Nem o que é leite. Estou falando isso porque É fácil imaginar um homem-macaco. Afinal, todos nós, no
agora mesmo peguei um pacote de leite - leite em pacote, passado, já protagonizamos essa dobradinha. E nem faz
imagina, Tereza! - na porta dos fundos e estava escrito que tanto tempo. Conheço gente que ainda se lembra de
é pausterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem vitamina, é quando o avô desceu da árvore.(...) Já cruzamento de um
garantido pela embromatologia, foi enriquecido e o homem com um camundongo é mais difícil de visualizar. O
escambau. único parâmetro conhecido é o Mickey, o rato mais bem-
sucedido da história. Em cima dele, construiu-se um
a) a palavra “embromatologia” soa como um termo império que é, na verdade, uma ratoeira humana (...).
técnico, mas não é. Diga por que parece e por que não é. A idéia de cruzar artificialmente seres humanos com
b) o texto mostra que a moda pode afetar nossos gostos. animais não é nova. Já foi imaginada no começo do século
Em que passagem? pelo inglês H.G.Wells, em A Ilha do Dr. Moreau e, nos anos
c) as informações técnicas que acompanham muitos 50, pelo americano James Clavell, em A Mosca da Cabeça
produtos não necessariamente esclarecem o consumidor, Branca. Ambas as histórias renderam vários filmes. Em
mas impressionam. Transcreva a passagem do texto em todos eles, a parte humana levou um baita prejuízo. No
que o autor alude a tal problema nesses textos. filme do homem que virou mosca, o pobre Vincent Price
ficou desesperado porque, com seu corpinho de mosca,
51) (ENEM-2001) Murilo Mendes, em um de seus poemas, não conseguia chamar a atenção de sua mulher, para que
dialoga com a carta de Pero Vaz de Caminha: esta o fizesse voltar ao normal. E olhe que ele foi o
cientista que resolveu fazer a experiência. Boa idéia. O
“A terra é mui graciosa, ideal seria se os dois cientistas se oferecessem como
Tão fértil eu nunca vi. cobaias de suas experiências. Um cruzaria o outro com o
A gente vai passear, macaco. E o outro cruzaria o um com o camundongo.
No chão espeta um caniço, Ruy Castro Manchete, 19/04/98 (adaptado)
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro. Se as expressões “Outro dia” , “A tal criatura” ,
Tem goiabas, melancias, “dobradinha” e “corpinho”, características da linguagem
Banana que nem chuchu. coloquial, fossem substituídas por expressões do
Quanto aos bichos, tem-nos muito,

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português culto formal, sem alteração básica no vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de
significado, seria correto utilizar, respectivamente, mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro
e nunca arranjar carta de alforria?
a) Uma vez - a experiência - par - figura diminuta O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o
b) Dia desses - este monstro - dualidade - corpo minúsculo vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
c) Certo dia - o experimento - dupla - silhueta pequena Ai Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem.
d) Há pouco tempo - o resultado - casal - corpete Não era preciso barulho não.
e) Recentemente - esse ser - parceria - corpúsculo Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.
Rio de Janeiro: Record, 2003.
53) (PUC-SP-2005) Nas orações a seguir, as expressões No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem
coloquiais sublinhadas podem ser substituídas por convive com marcas de regionalismo e de coloquialismo no
sinônimas. vocabulário. Pertence a variedade do padrão formal da
“… e beijava tudo que era mulher que passasse dando linguagem o seguinte trecho:
sopa.” a) “Não se conformou: devia haver engano” (ℓ.1).
“… que o Papa de araque…” b) “e Fabiano perdeu os estribos” (ℓ.3).
“… numa homenagem também aos salgueirenses que, no c) “Passar a vida inteira assim no toco” (ℓ.4).
Carnaval de 1967, entraram pelo cano.” d) “entregando o que era dele de mão beijada!” (ℓ.4-5).
Indique que opção equivale, do ponto de vista do sentido, e) “Ai Fabiano baixou a pancada e amunhecou” (ℓ.11).
a essas expressões:
a) descuidando, falso, deram-se mal.
b) reclamando, falso, obstruíram-se. 56) (UEMG-2006) Nos trechos citados abaixo, a linguagem
c) descuidando, esperto, saíram-se vitoriosos. figurada SÓ NÃO se faz presente em:
d) reclamando, falso, deram-se mal. a) Percebo que a origem das matérias está na pauta das
e) descuidando, esperto, obstruíram-se. edições de domingo, quando o número maior de páginas,
em proporção ao espaço mais amplo dedicado aos
54) (Fuvest-2004) No conto A hora e vez de Augusto anúncios, exige / permite a inserção de artigos e
Matraga, de Guimarães Rosa, o protagonista é um homem reportagens de análise produzidas durante a semana.
rude e cruel, que sofre violenta surra de capangas inimigos b) Enquanto um vende esperança, o outro prefere pintar
e é abandonado como morto, num brejo. um quadro sombrio. Chego a pensar que o sucesso de um
Recolhido por um casal de matutos, Matraga passa por um as aperturas do outro influenciaram a escolha dos
lento e doloroso processo de recuperação, em meio ao repórteres e editores.
qual recebe a visita de um padre, com quem estabelece o c) O Globo engorda o seu otimismo com percentuais
seguinte diálogo: positivos, seu concorrente preenche toda uma página com
- Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com relatos de desempregados e demonstrativos de que a
tanta ruindade que fiz, e tendo nas costas tanto pecado classe média foi a mais atingida.
mortal? d) A escola deve se transformar em uma extensão sem
- Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, muros e sem cercas elétricas do mundo de textos que a
e não tira o estribo do pé de arrependido nenhum... (...) rodeia.
Sua vida foi entortada no verde, mas não fique triste, de
modo nenhum, porque a tristeza é aboio de chamar
demônio, e o Reino do Céu, que é o que vale, ninguém tira 57) (Fuvest-2005) O filme Cazuza - O tempo não pára me
de sua algibeira, desde que você esteja com a graça de deixou numa espécie de felicidade pensativa. Tento
Deus, que ele não regateia a nenhum coração contrito. explicar por quê.
Cazuza mordeu a vida com todos os dentes. A doença e a
a) A linguagem figurada amplamente empregada pelo morte parecem ter-se vingado de sua paixão exagerada de
padre é adequada ao seu interlocutor? Justifique sua viver. É impossível sair da sala de cinema sem se perguntar
resposta. mais uma vez: o que vale mais, a preservação de nossas
b) Transcreva uma frase do texto que tenha sentido forças, que garantiria uma vida mais longa, ou a livre
equivalente ao da frase não regateia a nenhum coração procura da máxima intensidade e variedade de
contrito. experiências?
Digo que a pergunta se apresenta “mais uma vez” porque
55) (ENEM-2006) No romance Vidas Secas, de Graciliano a questão é hoje trivial e, ao mesmo tempo, persecutória.
Ramos, o vaqueiro Fabiano encontra-se com o patrão para (...) Obedecemos a uma proliferação de regras que são
receber o salário. Eis parte da cena: ditadas pelos progressos da prevenção. Ninguém imagina
Não se conformou: devia haver engano. (...) que comer banha, fumar, tomar pinga, transar sem
Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se camisinha e combinar, sei lá, nitratos com Viagra seja uma
descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a boa idéia. De fato não é. À primeira vista, parece lógico

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que concordemos sem hesitação sobre o seguinte: não há mais importante, coragem e compaixão humana para fazer
ou não deveria haver prazeres que valham um risco de isso acontecer”, diz o coordenador no prefacio do
vida ou, simplesmente, que valham o risco de encurtar a relatório.
vida. De que adiantaria um prazer que, por assim dizer, (texto adaptado da revista Fórum número 24, de 2005)
cortasse o galho sobre o qual estou sentado?
Os jovens têm uma razão básica para desconfiar de uma
moral prudente e um pouco avara que sugere que Assinale a alternativa em que a passagem do texto, em sua
escolhamos sempre os tempos suplementares. É que a nova versão, apresenta-se redigida de acordo com a norma
morte lhes parece distante, uma coisa com a qual a gente culta.
se preocupará mais tarde, muito mais tarde. Mas sua a) Não fora este triunfo do espírito humano, não haveria
vontade de caminhar na corda bamba e sem rede não é esperança de que a extrema pobreza pudesse ser
apenas a inconsciência de quem pode esquecer que “o eliminada, tampouco reduzida.
tempo não pára”. É também (e talvez sobretudo) um b) Recomendou-se, no relatório do Projeto que cada pais
questionamento que nos desafia: para disciplinar a mapeiasse as principais dimensões da extrema pobreza e
experiência, será que temos outras razões que não sejam fizesse um plano de ação.
só a decisão de durar um pouco mais? c) “ Necessitam-se de grandes mudanças nas políticas
(Contardo Calligaris, Folha de S. Paulo) globais em 2005, afim de que os paises mais pobres do
mundo avancem para alcançar os Objetivos”, alerta o
Embora predomine no texto a linguagem formal, é possível projeto.
identificar nele marcas de coloquialidade, como as d) E possível se ter esperança e confiar, de que a pobreza
expressões assinaladas em: poderá ser reduzida e, inclusive eliminada.
a) “mordeu a vida” e “moral prudente e um pouco avara”. e) Diz o coordenador no prefacio do relatório, que: para
b) “sem se perguntar mais uma vez” e “não deveria haver fazer com que isso acontecesse, era preciso que a
prazeres”. comunidade mundial disponha de coragem e compaixão
c) “parece lógico” e “que não sejam só a decisão”. humana.
d) “e combinar, sei lá, nitratos” e “a gente se preocupa”.
e) “que valham um risco de vida” e “(e talvez sobretudo) 59) (UFSCar-2007) O sertanejo falando
um questionamento”. A fala a nível do sertanejo engana:
as palavras dele vêm, como rebuçadas
58) (FATEC-2006) O mundo já dispõe de informação e (palavras confeito, pílula), na glace
tecnologia para resolver a maioria dos problemas de uma entonação lisa, de adocicada.
enfrentados pelos pais pobres, mas falta implementar esse Enquanto que sob ela, dura e endurece
conhecimento na escala necessária. Foi a partir desse o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
pressuposto que a Organização das nações Unidas (ONU) dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
lançou no Brasil o Projeto do Milênio das Nações Unidas. A incapaz de não se expressar em pedra.
novidade propõe um conjunto de ações praticas para que Daí porque o sertanejo fala pouco:
o mundo alcance os Objetivos de Desenvolvimento do as palavras de pedra ulceram a boca
Milênio – uma serie de metas socioeconômicas com os e no idioma pedra se fala doloroso;
paises da ONU se comprometerem a atingir até 2015, o natural desse idioma fala à força.
abrangendo áreas como renda, educação, saúde, meio Daí também porque ele fala devagar:
ambiente. tem de pegar as palavras com cuidado,
Uma grande mudança nas políticas globais é necessária em confeitá-las na língua, rebuçá-las;
2005, para que os paises mais pobres do mundo avancem pois toma tempo todo esse trabalho.
para alcançar os Objetivos, alerta o projeto. Se forem (João Cabral de Melo Neto, A educação pela pedra.
alcançados, mais de 500 milhões de pessoas sairão da Nova Fronteira, 1996, p. 16.)
pobreza e 250 milhões não passarão mais fome.
O relatório do projeto recomenda que cada pais mapeie as Em 27 de outubro de 1973, em entrevista ao jornal carioca
principais dimensões da extrema pobreza e faça um plano O Globo, João Cabral disse:
de ação, incluindo os investimentos públicos necessários. Eu tentei criar uma outra linguagem, não completamente
Recomenda também que os governos trabalhem nova, como os concretistas fizeram, mas uma linguagem
ativamente com todos os segmentos, particularmente com que se afastasse um pouco da linguagem usual. Ora, desde
a sociedade civil organizada e o setor privado. o momento em que você se afasta da norma você se faz
“ Este triunfo do espírito humano nos da a esperança e a esta palavra antipática que é “hermético”. Quer dizer, você
confiança de que a extrema pobreza pode ser reduzida se faz hermético numa leitura superficial.
pela metade até o ano de 2015, e até mesmo eliminada Agora, se o leitor ler e reler, estudar esse texto, ele verá
totalmente nos próximos anos. A comunidade mundial que a coisa não é tão hermética assim. Apenas está escrito
dispõe de tecnologias políticas, recursos financeiros e , o com um pequeno desvio da linguagem usual.

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a) Destaque, na terceira estrofe, desvios da linguagem vez - mas a favor do organismo, ordenando a morte do
usual vinculados ao emprego das classes de palavra. câncer.
b) No último verso da terceira estrofe, também é possível (JOSÉ REINALDO LOPES. Gene “vira-casaca” derruba
observar um artifício do poeta, que provoca uma releitura. tumor. Folha de S. Paulo, 5/07/2002, A-16)
Explique esse artifício.
62) (UFSCar-2001) Ora, suposto que já somos pó, e não
pode deixar de ser, pois Deus o disse; perguntar-me-eis, e
60) (Unicamp-1999) O texto "O FMI vem aí. Viva o FMI", do com muita razão, em que nos distinguimos logo os vivos
articulista Luiz Nassif, publicado na revista ÍCARO, está dos mortos? Os mortos são pó, nós também somos pó: em
redigido no português culto característico do jornalismo, e que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo-nos os
contém, inclusive, um bom número de expressões típicas vivos dos mortos, assim como se distingue o pó do pó. Os
da linguagem dos economistas, como "desequilíbrio vivos são pó levantado, os mortos são pó caído; os vivos
1
conjuntural", "royalties", "produtos primários", "política são pó que anda, os mortos são pó que jaz: Hic jacet .
cambial". No entanto, contém também termos ou Estão essas praças no verão cobertas de pó: dá um pé-de-
expressões informais, como na seguinte frase: "Há um ou vento, levanta-se o pó no ar e que faz? O que fazem os
outro caso de mudanças estruturais no mundo que deixa vivos, e muito vivos. Não aquieta o pó, nem pode estar
os países com a broxa na mão". quedo: anda, corre, voa; entra por esta rua, sai por
aquela; já vai adiante, já torna atrás; tudo enche, tudo
Leia o trecho abaixo, que é parte do mesmo artigo, e cobre, tudo envolve, tudo perturba, tudo toma, tudo
responda às questões: cega, tudo penetra, em tudo e por tudo se mete, sem
aquietar nem sossegar um momento, enquanto o vento
Países já chegam ao FMI com todos esses impasses, dura. Acalmou o vento: cai o pó, e onde o vento parou, ali
denotando a incapacidade de suas elites de chegarem a fica; ou dentro de casa, ou na rua, ou em cima de um
fórmulas consensuais para enfrentar a crise - mesmo telhado, ou no mar, ou no rio, ou no monte, ou na
porque essas fórmulas implicam prejuízos aos interesses campanha. Não é assim? Assim é.
de alguns grupos poderosos. Aí a burocracia do FMI deita e (VIEIRA, Antônio. Trecho do Cap. V do Sermão da Quarta-
rola. Há, em geral, economistas especializados em Feira de Cinza. Apud: Sermões de Padre Antônio Vieira. São
determinadas regiões do globo. Mas, na maioria das vezes, Paulo: Núcleo, 1994, p. 123-4.)
as fórmulas aplicadas aos países são homogêneas, 1 - Hic jacet: aqui jaz.
burocráticas, de quem está por cima da carne-seca e não
quer saber de limitações de ordem social ou política. (...) Segundo o Novo Dicionário Aurélio Básico da Língua
Sem os recursos adicionais do Fundo, a travessia de 1999 Portuguesa, “sermão” é um “discurso religioso geralmente
seria um inferno, com as reservas cambiais se esvaindo e o pregado no púlpito”.
país sendo obrigado ou a fechar sua economia ou a entrar a) De que forma o autor reproduz, no texto escrito,
em parafuso. O desafio maior será produzir um acordo que características próprias do discurso falado?
obrigue, sim, o governo e Congresso a acelerarem as b) O texto apresenta uma relação de oposição entre
reformas essenciais (ÍCARO, 170, out. 1998). estaticidade e movimento. Indique, no trecho destacado
em negrito, qual dessas idéias é abordada e a forma de
a) Transcreva outras três expressões do trecho que construção de período utilizada para exprimi-la.
tenham a mesma característica de informalidade.
b) Substitua as referidas expressões por outras, típicas da 63) (Fuvest-2000) Orientação para uso deste
linguagem formal. medicamento: antes de você usar este medicamento,
verifica se o rótulo consta as seguintes informações, seu
nome, nome de seu médico, data de manipulação e
61) (ITA-2003) O texto abaixo, de divulgação científica, validade e fórmula do medicamento solicitado.
apresenta termos coloquiais que, apesar de muito
expressivos, não são comuns em textos científicos. a) Há no texto desvios em relação à norma culta.
Reescreva o primeiro período, utilizando a linguagem no Reescreva-o, fazendo as correções necessárias.
nível formal. b) A que se refere, no contexto, o pronome seu da
expressão “seu nome”? Justifique sua resposta.
A ciência vive atrás de truques para dar uma rasteira
genética no câncer, mas desta vez parece que 64) (Unicamp-2000) Perguntado em fins de 1997 pelo
pesquisadores americanos deram de cara com um ovo de Jornal das Letras (Lisboa) se seu nome seria uma boa
Colombo. Desligando um só gene, eles pararam o indicação para o Prêmio Nobel de Literatura, junto com os
crescimento do tumor. Melhor ainda: quando a substância nomes, sempre lembrados pela imprensa, de José
que suprimia o gene parava de agir, ele se ativava, outra Saramago e António Lobo Antunes, o escritor português
José Cardoso Pires deu a seguinte resposta:

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pelo SBT. Gil ficou surpreso. Hebe fingiu brabeza e Sílvio
“A Imprensa tem lá as suas razões. Durante anos e anos riu muito. “Tirei uma onda, foi só uma bicotinha”, diz ele.
passei a vida a assinar papéis a pedir um Nobel para um “Tudo tem uma primeira vez”.
escritor português e isso não serviu de nada. De modo que ( Veja, 07.11.2001, pág. 101.)
o facto da Imprensa agora prever isto ou aquilo... Uma
coisa eu sei: o Prémio Nobel dado a um escritor português O vocabulário do texto mostra que o jornalista optou por
de qualidade beneficiava todos os escritores portugueses. uma expressão mais à vontade e informal. Essa opção
Que todos gostariam de ter o Prémio Nobel também é pode ser comprovada pelo emprego de
verdade, mas se um ganhar ganhamos todos. De qualquer a) “toda animada” e “categórico”.
modo o critério actual é o dos mais traduzidos e os mais b) “categórico” e “tascou”.
traduzidos são o Saramago e o Lobo Antunes. Eu sou c) “esticou” e “tascou”.
menos. Mas isso não me preocupa nada. Sinceramente”. d) “beijinho” e “encerramento”.
e) “encerramento” e “beneficente”.
a) aponte, na resposta de Cardoso Pires, as características
de acentuação e de grafia que a identificam como um 67) (UFSCar-2002) Selinho, sim, mas só para poucos
texto em português europeu. Primeiro, Hebe Camargo, toda animada, pediu a Sílvio
b) aponte, na mesma resposta, as construções que a Santos um “selinho” (beijinho). Não ganhou: “Nem selinho,
caracterizam como um texto de português europeu, e dê nem selo, nem selão”, ouviu dele, categórico. Em seguida,
os prováveis equivalentes brasileiros dessas construções. Gilberto Gil entrou no palco, de mão estendida para
c) sabemos que o Nobel de Literatura foi ganho em 1998 cumprimentá-lo. O que fez o apresentador? Disse
por José Saramago. A partir de qual passagem do texto “selinho”, esticou os lábios e zás - tascou um beijinho na
poderíamos desconfiar que, na opinião do entrevistado, boca do músico. A cena foi ao ar de madrugada, no
não necessariamente o vencedor é o melhor? encerramento do Teleton, a Maratona beneficente exibida
pelo SBT. Gil ficou surpreso. Hebe fingiu brabeza e Sílvio
riu muito. “Tirei uma onda, foi só uma bicotinha”, diz ele.
65) (UFSCar-2002) Selinho, sim, mas só para poucos “Tudo tem uma primeira vez”.
Primeiro, Hebe Camargo, toda animada, pediu a Sílvio ( Veja, 07.11.2001, pág. 101.)
Santos um “selinho” (beijinho). Não ganhou: “Nem selinho,
nem selo, nem selão”, ouviu dele, categórico. Em seguida, Considerando a situação em que a expressão “Tirei uma
Gilberto Gil entrou no palco, de mão estendida para onda” foi dita pelo apresentador Sílvio Santos, pode-se
cumprimentá-lo. O que fez o apresentador? Disse entender que ele
“selinho”, esticou os lábios e zás - tascou um beijinho na a) fez uma brincadeira com o músico.
boca do músico. A cena foi ao ar de madrugada, no b) ofendeu os artistas e o público.
encerramento do Teleton, a Maratona beneficente exibida c) quis deixar o público horrorizado.
pelo SBT. Gil ficou surpreso. Hebe fingiu brabeza e Sílvio d) pretendeu magoar Hebe Camargo.
riu muito. “Tirei uma onda, foi só uma bicotinha”, diz ele. e) não teve idéia da repercussão da sua atitude.
“Tudo tem uma primeira vez”.
( Veja, 07.11.2001, pág. 101.) 68) (UNIFESP-2005) Senhor feudal
Se Pedro Segundo
O termo “selinho” é bastante utilizado na linguagem atual. Vier aqui
O diminutivo no uso da palavra serve para enfatizar que se Com história
trata de um beijo Eu boto ele na cadeia.
a) indiscreto. Oswald de Andrade
b) demorado.
c) engraçado. No contexto, a expressão “com história”, significa
d) indecente a) um colóquio de intelectuais.
e) breve. b) uma conversa fiada.
c) um comunicado urgente.
66) (UFSCar-2002) Selinho, sim, mas só para poucos d) uma prosa de amigos.
Primeiro, Hebe Camargo, toda animada, pediu a Sílvio e) um diálogo sério.
Santos um “selinho” (beijinho). Não ganhou: “Nem selinho,
nem selo, nem selão”, ouviu dele, categórico. Em seguida,
Gilberto Gil entrou no palco, de mão estendida para 69) (ENEM-2002) Só falta o Senado aprovar o projeto de lei
cumprimentá-lo. O que fez o apresentador? Disse [sobre o uso de termos estrangeiros no Brasil] para que
“selinho”, esticou os lábios e zás - tascou um beijinho na palavras como shopping center , delivery e drive-through
boca do músico. A cena foi ao ar de madrugada, no sejam proibidas em nomes de estabelecimentos e marcas.
encerramento do Teleton, a Maratona beneficente exibida Engajado nessa valorosa luta contra o inimigo ianque, que

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quer fazer área de livre comércio com nosso inculto e belo
idioma, venho sugerir algumas outras medidas que serão A Alma do Apartamento Mora na Varanda
2
de extrema importância para a preservação da soberania No terraço de 128m , a família toma sol, recebe amigos
nacional, a saber: para festas e curte a vista dos Jardins, em São Paulo. Os
........ espaços generosos deste apartamento dos anos 50
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho poderá dizer “Tu vai” recebem luz e brisa constantes graças às grandes janelas.
em espaços públicos do território nacional; Os aromas desse apartamento de 445m2 denunciam que
Nenhum cidadão paulista poderá dizer “Eu lhe amo” e ele vive os primeiros dias: o ar recende a pintura fresca.
retirar ou acrescentar o plural em sentenças como “Me vê Basta apurar o olfato para também descobrir a predileção
um chopps e dois pastel”; do dono da casa por charutos, lírios e velas, espalhados
.......... pelos ambientes sociais. Sobre o fundo branco do piso e
Nenhum dono de borracharia poderá escrever cartaz com dos sofás, surgem os toques de cores vivas nas paredes e
a palavra “borraxaria” e nenhum dono de banca de jornal nos objetos. “Percebi que a personalidade do meu cliente
anunciará “Vende-se cigarros”; é forte. Não tinha nada a ver usar tons suaves”, diz Nesa
.......... César, a profissional escolhida para fazer a decoração.
Nenhum livro de gramática obrigará os alunos a utilizar Quando o dia está bonito, sair para a varanda é expor-se a
colocações pronominais como “casar-me-ei” ou “ver-se- um banho de sol, pois o piso claro reflete a luz. O espaço
ão”. resgata um pedaço do Mediterrâneo, com móveis brancos
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de S. e paredes azuis. “Parece a Grécia”, diz a filha do
Paulo, São Paulo, 8/04/2001. proprietário. Ele, um publicitário carioca que adora sol e
festa, acredita que a alma do apartamento está ali.
No texto acima, o autor MEDEIROS, Edson G. & PATRÍCIO, Patrícia. A alma do
apartamento mora na varanda. In: Casa Cláudia.São Paulo,
a) mostra-se favorável ao teor da proposta por Editora Abril, nº 4, ano 23, abril/99, p. 69-70.
entender que a língua portuguesa deve ser protegida
contra deturpações de uso. Saudosa Maloca
b) ironiza o projeto de lei ao sugerir medidas que Se o sinhô não tá lembrado,
inibam determinados usos regionais e socioculturais da Dá licença de contá
língua. Que aqui onde agora está
c) denuncia o desconhecimento de regras Esse adifício arto
elementares de concordância verbal e nominal pelo Era uma casa véia,
falante brasileiro. Um palacete assobradado.
d) revela-se preconceituoso em relação a certos Foi aqui, “seu” moço,
registros lingüísticos ao propor medidas que os controlem. Que eu, Mato Grosso e o Joca
e) defende o ensino rigoroso da gramática para que Construímos nossa maloca
todos aprendam a empregar corretamente os pronomes. Mais, um dia,
- Nóis nem pode se alembrá -,
70) (Vunesp-2001) Solar Encantado Veio os homens c’as ferramentas,
Só, dominando no alto a alpestre serrania, O dono mandô derrubá.
Entre alcantis, e ao pé de um rio majestoso,
Dorme quedo na névoa o solar misterioso, Peguemos todas nossas coisas
Encerrado no horror de uma lenda sombria. E fumos pro meio da rua
Preciá a demolição
Ouve-se à noite, em torno, um clamor lamentoso, Que tristeza que nóis sentia
Piam aves de agouro, estruge a ventania, Cada tauba que caía
E brilhando no chão por sobre a selva fria, Duía no coração
Correm chamas sutis de um fulgor nebuloso. Mato Grosso quis gritá
Mais em cima eu falei:
Dentro um luxo funéreo. O silêncio por tudo... Os homens tá c’a razão,
Apenas, alta noite, uma sombra de leve Nóis arranja otro lugá.
Agita-se a tremer nas trevas de veludo... Só se conformemos quando o Joca falô:
“Deus dá o frio conforme o cobertô”.
Ouve-se, acaso, então, vaguíssimo suspiro, E hoje nóis pega paia nas gramas do jardim
E na sala, espalhando um clarão cor de neve, E p’ra esquecê nóis cantemos assim:
Resvala como um sopro o vulto de um vampiro. Saudosa maloca, maloca querida, dim, dim,
SILVA, Vítor. In: RAMOS, P.E. da Silva. Poesia parnasiana - Donde nóis passemos dias feliz de nossa vida.
antologia.São Paulo: Melhoramentos, 1967, p. 245.

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BARBOSA, Adoniran. In: Demônios da Garoa - Trem das 11. d) ponderar sobre a validade de diferentes usos da língua,
CD 903179209-2, Continental-Warner Music Brasil, 1995. em diferentes contextos.
e) negar que costume cometer deslizes quanto à grafia dos
A letra de Saudosa Maloca pode ser considerada como vocábulos.
realização de uma “linguagem artística” do poeta,
estabelecida com base na sobreposição de elementos do
uso popular ao uso culto. Uma destas sobreposições é o 72) (Fuvest-2002) Sua história tem pouca coisa de notável.
1
emprego do pronome oblíquo de terceira pessoa “se” em Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-
lugar de “nos”, diferentemente do que prescreve a norma se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não
culta (o poeta emprega se conformemos em vez de nos se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de
conformamos; se alembrá em vez de nos lembrar). que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos,
Considerando este comentário, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo
a) descreva e exemplifique o que ocorre, na linguagem navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça,
2
artística do compositor, com o -r final e com o -lh- medial quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e
das palavras, em relação ao uso oral culto; bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era
b) estabeleça as diferenças que apresentam, em relação ao nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo
uso culto, as seguintes formas verbais da primeira pessoa era maganão3. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada
do plural do presente do indicativo empregadas pelo à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído
compositor: “pode” (verso 11), “arranja” (verso 23) e por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma
“pega” (verso 26). valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já
esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do
71) (FUVEST-2007) Sou feliz pelos amigos que tenho. Um gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo
deles muito sofre pelo meu descuido com o vernáculo. Por beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma
alguns anos ele sistematicamente me enviava missivas declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o
eruditas com precisas informações sobre as regras da resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a
gramática, que eu não respeitava, e sobre a grafia correta mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de
dos vocábulos, que eu ignorava. Fi-lo sofrer pelo uso serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte
errado que fiz de uma palavra no último “Quarto de estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que
Badulaques”. Acontece que eu, acostumado a conversar pareciam sê-lo de muitos anos.
com a gente das Minas Gerais, falei em “varreção” - do (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de
verbo “varrer”. De fato, tratava-se de um equívoco que, milícias)
num vestibular, poderia me valer uma reprovação. Pois o Glossário:
meu amigo, paladino da língua portuguesa, se deu ao 1 algibebe: mascate, vendedor ambulante.
trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário 2 saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
(...). O certo é “varrição”, e não “varreção”. Mas estou com 3 maganão: brincalhão, jovial, divertido.
medo de que os mineiros da roça façam troça de mim,
porque nunca os ouvi falar de “varrição”. E se eles rirem de No excerto, o narrador incorpora elementos da linguagem
mim não vai me adiantar mostrar-lhes o xerox da página usada pela maioria das personagens da obra, como se
do dicionário (...). Porque para eles não é o dicionário que verifica em:
faz a língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas de a) aborrecera-se porém do negócio.
Minas Gerais, fala “varreção”, quando não “barreção”. O b) de que o vemos empossado.
que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que nunca c) rechonchuda e bonitota.
tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se d) envergonhada do gracejo.
é feio. Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela, mas e) amantes tão extremosos.
reclama sempre que o prato está rachado.
Rubem Alves 73) (UFSCar-2007) Suave Mari Magno
http://rubemalves.uol.com.br/quartodebadulaques Lembra-me que, em certo dia,
Na rua, ao sol de verão,
Ao manifestar-se quanto ao que seja “correto” ou Envenenado morria
“incorreto” no uso da língua portuguesa, o autor revela Um pobre cão.
sua preocupação em Arfava, espumava e ria,
a) atender ao padrão culto, em “fi-lo”, e ao registro De um riso espúrio e bufão,
informal, em “varrição”. Ventre e pernas sacudia
b) corrigir formas condenáveis, como no caso de Na convulsão.
“barreção”, em vez de “varreção”. Nenhum, nenhum curioso
c) valer-se o tempo todo de um registro informal, de que é Passava, sem se deter,
exemplo a expressão “missivas eruditas”. Silencioso,

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Junto ao cão que ia morrer, Mas, afinal, o que é língua padrão?
Como se lhe desse gozo
Ver padecer. Já sabemos que as línguas são um conjunto bastante
(Machado de Assis, Obra Completa, vol. III, p. 161.) variado de formas lingüísticas, cada uma delas com a sua
gramática, a sua organização estrutural. Do ponto de vista
Seqüência científico, não há como dizer que uma forma lingüística é
Eu era pequena. A cozinheira Lizarda melhor que outra, a não ser que a gente se esqueça da
tinha nos levado ao mercado, minha irmã, eu. ciência e adote o preconceito ou o gosto pessoal como
Passava um homem com um abacate na mão critério.
e eu inconsciente: Entretanto, é fato que há uma diferen-ciação valorativa,
“Ome, me dá esse abacate...” que nasce não da diferença desta ou daquela forma em si,
O homem me entregou a fruta madura. mas do significado social que certas formas lingüísticas
Minha irmã, de pronto: “vou contar pra mãe que ocê adquirem nas sociedades. Mesmo que nunca tenhamos
pediu abacate na rua.” pensado objetivamente a respeito, nós sabemos (ou
Eu voltava trocando as pernas bambas. procuramos saber o tempo todo) o que é e o que não é
Meus medos, crescidos, enormes... permitido... Nós costumamos “medir nossas palavras”,
A denúncia confirmada, o auto, a comprovação do delito. entre outras razões, porque nosso ouvinte vai julgar não
O impulso materno...conseqüência obscura da somente o que se diz, mas também quem diz. E a
escravidão passada, linguagem é altamente reveladora: ela não transmite só
o ranço dos castigos corporais. informações neutras; revela também nossa classe social, a
Eu, aos gritos, esperneando. região de onde viemos, o nosso ponto de vista, a nossa
O abacate esmagado, pisado, me sujando toda. escolaridade, a nossa intenção... Nesse sentido, a
Durante muitos anos minha repugnância por esta fruta linguagem também é um índice de poder.
trazendo a recordação permanente do castigo cruel. Assim, na rede das linguagens de uma dada sociedade, a
Sentia, sem definir, a recreação dos que ficaram de fora, língua padrão ocupa um espaço privilegiado: ela é o
assistentes, acusadores. conjunto de formas consideradas como o modo correto,
Nada mais aprazível no tempo, do que presenciar a socialmente aceitável, de falar ou escrever.
criança indefesa
espernear numa coça de chineladas. FARACO, Carlos Alberto & TEZZA, Cristóvão. Prática de
“é pra seu bem,” diziam, “doutra vez não pedi fruita na texto: língua portuguesa para nossos estudantes. 4 ed.
rua.” Petrópolis: Vozes, 1992, p. 30.
(Cora Coralina, Vintém de cobre, p. 131-132.)
Texto 2

Depois de comparar os dois textos: CUITELINHO*


a) explicite o que há de comum entre eles.
b) no segundo texto, cite pelo menos três formas de Cheguei na bera do porto
linguagem que refletem a oralidade do Português do onde as onda se espaia.
Brasil. As garça dá meia volta,
senta na bera da praia.
E o cuitelinho não gosta
74) (ITA-2002) Tem gente que junta os trapos, outros que o botão de rosa caia.
juntam os pedaços.
Quando eu vim de minha terra,
No texto, a marca da coloquialidade apresenta-se como despedi da parentaia.
transgressão gramatical. Assinale a alternativa que Eu entrei no Mato Grosso,
corresponde ao fato: dei em terras paraguaia.
Lá tinha revolução,
a) Ausência do conectivo. enfrentei fortes bataia.
b) Escolha das palavras.
c) Emprego do verbo ter. A tua saudade corta
d) Repetição do verbo juntar. como aço de navaia.
e) Emprego da vírgula. O coração fica aflito,
bate uma, a outra faia.
E os oio se enche d’água
75) (UFSC-2005) Texto 1 que até a vista se atrapaia.

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*Cuitelinho - pequeno cuitelo ou beija-flor pensado objetivamente a respeito, nós sabemos (ou
(Cantiga popular brasileira de Paulo Vanzolin) procuramos saber o tempo todo) o que é e o que não é
permitido... Nós costumamos “medir nossas palavras”,
Texto 3 entre outras razões, porque nosso ouvinte vai julgar não
somente o que se diz, mas também quem diz. E a
Domingo à tarde, o político vê um programa de televisão. linguagem é altamente reveladora: ela não transmite só
Um assessor passa por ele e pergunta: informações neutras; revela também nossa classe social, a
Firme? região de onde viemos, o nosso ponto de vista, a nossa
O político responde: escolaridade, a nossa intenção... Nesse sentido, a
Não. Sírvio Santos. linguagem também é um índice de poder.
Assim, na rede das linguagens de uma dada sociedade, a
POSSENTI, Sírio. Os humores da língua. Campinas: língua padrão ocupa um espaço privilegiado: ela é o
Mercado de Letras, 1998, p. 34 conjunto de formas consideradas como o modo correto,
socialmente aceitável, de falar ou escrever.
Assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S) a respeito dos
Textos 1, 2 e 3. FARACO, Carlos Alberto & TEZZA, Cristóvão. Prática de
texto: língua portuguesa para nossos estudantes. 4 ed.
01. Quando Faraco e Tezza, no Texto 1, dizem que há Petrópolis: Vozes, 1992, p. 30.
uma diferenciação valorativa, (linhas 10 a 11) estão se
referindo apenas a variedades regionais. Texto 2
02. O falante, tendo envolvimento múltiplo nas
relações sociais, normalmente domina mais de uma CUITELINHO*
variedade da língua. Costuma medir suas palavras (linha 19
do Texto 1) conforme a situação. Nesse sentido, ele é um Cheguei na bera do porto
camaleão lingüístico: adapta a sua fala à situação em que onde as onda se espaia.
se encontra. As garça dá meia volta,
04. O Texto 2 registra uma variedade regional do senta na bera da praia.
interior de algumas cidades brasileiras, conhecida como E o cuitelinho não gosta
dialeto caipira. Essa variedade, ilustrada em espaia, que o botão de rosa caia.
parentaia, bataia e atrapaia, é normalmente
estigmatizada pela sociedade, servindo, muitas vezes, de Quando eu vim de minha terra,
piada. despedi da parentaia.
08. Quem domina apenas um dialeto caipira, a Eu entrei no Mato Grosso,
exemplo das variedades usadas no Texto 2 e no Texto 3, dei em terras paraguaia.
não terá dificuldade para ler um texto escrito em língua Lá tinha revolução,
padrão, ou para produzir textos com ela. enfrentei fortes bataia.
16. O efeito da piada (Texto 3) está relacionado com
os dois sentidos que a palavra firme manifesta: um, como A tua saudade corta
cumprimento informal “Tudo bem?” e outro, como como aço de navaia.
variante popular de filme. O coração fica aflito,
bate uma, a outra faia.
E os oio se enche d’água
76) (UFSC-2005) Texto 1 que até a vista se atrapaia.

Mas, afinal, o que é língua padrão? *Cuitelinho - pequeno cuitelo ou beija-flor


(Cantiga popular brasileira de Paulo Vanzolin)
Já sabemos que as línguas são um conjunto bastante
variado de formas lingüísticas, cada uma delas com a sua Texto 3
gramática, a sua organização estrutural. Do ponto de vista
científico, não há como dizer que uma forma lingüística é Domingo à tarde, o político vê um pro-grama de televisão.
melhor que outra, a não ser que a gente se esqueça da Um assessor passa por ele e pergunta:
ciência e adote o preconceito ou o gosto pessoal como Firme?
critério. O político responde:
Entretanto, é fato que há uma diferen-ciação valorativa, Não. Sírvio Santos.
que nasce não da diferença desta ou daquela forma em si,
mas do significado social que certas formas lingüísticas POSSENTI, Sírio. Os humores da língua. Campinas:
adquirem nas sociedades. Mesmo que nunca tenhamos Mercado de Letras, 1998, p. 34

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FARACO, Carlos Alberto & TEZZA, Cristóvão. Prática de
texto: língua portuguesa para nossos estudantes. 4 ed.
Ainda, sobre o Texto 1, é CORRETO afirmar que: Petrópolis: Vozes, 1992, p. 30.

01. o trecho a não ser que a gente se esqueça da Texto 2


ciência e adote o preconceito ou o gosto pessoal como
critério (linhas 7 a 9) pode ser assim parafraseado: a não CUITELINHO*
ser que a ciência seja esquecida e seja adotado o
preconceito ou o gosto pessoal como critério. Cheguei na bera do porto
02. os pronomes a gente (linha 7) e nós (linha 16) onde as onda se espaia.
foram usados com o mesmo significado referencial. Esse As garça dá meia volta,
recurso se caracteriza como variação lingüística e pode ser senta na bera da praia.
observado tanto na linguagem padrão como na linguagem E o cuitelinho não gosta
coloquial. que o botão de rosa caia.
04. o conector assim (linha 29) foi usado com valor
exemplificativo e complementar. O parágrafo introduzido Quando eu vim de minha terra,
por ele serviu para confirmar o que foi dito antes. despedi da parentaia.
08. no trecho ela não transmite só informações Eu entrei no Mato Grosso,
neutras (linha 23), as palavras sublinhadas indicam que dei em terras paraguaia.
existem informações neutras, além de outras informações. Lá tinha revolução,
16. a expressão não somente... mas também em: enfrentei fortes bataia.
nosso ouvinte vai julgar não somente o que se diz, mas
também quem diz (linhas 20 a 22) estabelece uma relação A tua saudade corta
de retificação do argumento da primeira afirmação com o como aço de navaia.
argumento da segunda e acrescenta uma nova informação. O coração fica aflito,
bate uma, a outra faia.
E os oio se enche d’água
77) (UFSC-2005) Texto 1 que até a vista se atrapaia.

Mas, afinal, o que é língua padrão? *Cuitelinho - pequeno cuitelo ou beija-flor


(Cantiga popular brasileira de Paulo Vanzolin)
Já sabemos que as línguas são um conjunto bastante
variado de formas lingüísticas, cada uma delas com a sua Texto 3
gramática, a sua organização estrutural. Do ponto de vista
científico, não há como dizer que uma forma lingüística é Domingo à tarde, o político vê um pro-grama de televisão.
melhor que outra, a não ser que a gente se esqueça da Um assessor passa por ele e pergunta:
ciência e adote o preconceito ou o gosto pessoal como Firme?
critério. O político responde:
Entretanto, é fato que há uma diferen-ciação valorativa, Não. Sírvio Santos.
que nasce não da diferença desta ou daquela forma em si,
mas do significado social que certas formas lingüísticas POSSENTI, Sírio. Os humores da língua. Campinas:
adquirem nas sociedades. Mesmo que nunca tenhamos Mercado de Letras, 1998, p. 34
pensado objetivamente a respeito, nós sabemos (ou
procuramos saber o tempo todo) o que é e o que não é
permitido... Nós costumamos “medir nossas palavras”, Considerando o livro de Dias Gomes Sucupira, ame-a ou
entre outras razões, porque nosso ouvinte vai julgar não deixe-a, e, ainda, os Textos 1, 2 e 3, é CORRETO afirmar
somente o que se diz, mas também quem diz. E a que:
linguagem é altamente reveladora: ela não transmite só
informações neutras; revela também nossa classe social, a 01. as diferentes variedades da língua, ilustradas nos
região de onde viemos, o nosso ponto de vista, a nossa Textos 1, 2 e 3, podem também ser observadas nas falas
escolaridade, a nossa intenção... Nesse sentido, a dos personagens de Dias Gomes, caracterizando diversos
linguagem também é um índice de poder. tipos, como o prefeito Odorico Paraguaçu: “Faça
Assim, na rede das linguagens de uma dada sociedade, a assentamento dos prós e dos contraprós” (p. 44), e o
língua padrão ocupa um espaço privilegiado: ela é o (ex)jagunço Zeca Diabo: “eu tou um burro véio” (p. 21),
conjunto de formas consideradas como o modo correto, por exemplo.
socialmente aceitável, de falar ou escrever. 02. o recurso estilístico da retórica com o significado
de “adorno empolado ou pomposo de um discurso” (cf.

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Aurélio) pode ser observado na fala de diversos Extraído da Revista Superinteressante, Editora Abril,
personagens de Dias Gomes, com exceção de Odorico agosto de 2006, pp.50-59.
Paraguaçu.
04. a fala de Odorico Paraguaçu apresenta, em grande
escala, o uso de neologismos, que são possíveis, TEXTO 2
considerando o processo de derivação lingüística, como
nos exemplos: “descompetente” e “desinaugurado”, para O século louco
indicar negação. O mesmo processo pode ser encontrado
em formas já reconhecidas, como descontente e Do século XX, no futuro, se dirá que foi louco. Um século
descuidado. que usou ao máximo o poder do cérebro para manipular as
08. no trecho a linguagem também é um índice de coisas do mundo e não usou o coração para fazer isso com
poder (linhas 27 e 28 do Texto 1), o uso da palavra sentimento solidário.
também faz pressupor algum outro significado, além do Um século no qual a palavra inteligência perdeu o seu
fato de que o valor dado às diferentes formas lingüísticas sentido pleno, porque o raciocínio foi capaz de manipular a
vai depender da importância de quem as utiliza. natureza nos limites da curiosidade científica, mas não foi
16. na cantiga Cuitelinho (Texto 2), sobrepõem-se, ao usado para fazer um mundo melhor e mais belo para
significado denotativo de um termo, significados paralelos, todos. A inteligência do século XX foi burra. Foi capaz de
como pode ser ilustrado nos versos: A tua saudade fabricar uma bomba atômica, liberar a energia escondida
corta/como aço de navaia (linhas 13 e 14). dentro dos átomos, mas incapaz de evitar que se usassem
duas delas, matando centenas de milhares de pessoas.
78) (PUC - RJ-2007) TEXTO 1 O que se pode dizer da bomba atômica, como símbolo do
século XX, vale para o conjunto das técnicas usadas nestes
A revolução do cérebro cem anos loucos: fomos capazes de tudo, menos de fazer o
mundo mais decente – como teria sido possível.
O seu cérebro é capaz de quase qualquer coisa. Ele Vivemos um tempo em que a inteligência humana
consegue parar o tempo, ficar vários dias numa boa sem conseguiu fazer robôs que substituem os trabalhadores,
dormir, ler pensamentos, mover objetos a distância e se mas no lugar de libertar o homem da necessidade do
reconstruir de acordo com a necessidade. Parecem trabalho, os robôs provocam a miséria do desemprego.
superpoderes de histórias em quadrinhos, mas são apenas Inventamos a maravilha do automóvel e aumentamos o
algumas das descobertas que os neurocientistas fizeram ao tempo perdido para ir de casa ao trabalho. Fizemos armas
longo da última década. Algumas dessas façanhas sempre inteligentes, que acertam os alvos sem necessidade de
fizeram parte do seu cérebro e só agora conseguimos arriscar a vida de pilotos, mas põem em risco a paz entre
perceber. Outras são fruto da ciência: ao decifrar alguns os povos.[...]
mecanismos da nossa mente, os pesquisadores estão BUARQUE, Cristovam. Os instrangeiros. A aventura da
encontrando maneiras de realizar coisas que antes opinião na fronteira dos séculos.
pareciam impossíveis. O resultado é uma revolução como Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2002, pp. 113-115.
nenhuma outra, capaz de mudar não só a maneira como
entendemos o cérebro, mas também a imagem que a) Retire, do Texto 1, uma expressão que tem um caráter
fazemos do mundo, da realidade e de quem somos nós. excessivamente informal em relação ao restante do
[...] mesmo.
O seu corpo, ao que parece, é muito pequeno para conter b) Fazendo todas as modificações necessárias, reescreva o
uma máquina tão poderosa quanto o cérebro. Prova disso período abaixo sem empregar a conjunção integrante
veio em julho, quando foram divulgadas as aventuras de “que”. “Enviados a um computador, esses sinais
Matthew Nagle, um americano que ficou paralítico em permitiram que ele controlasse um cursor em uma tela,
uma briga em 2001. Três anos depois, cientistas da abrisse e-mails, jogasse videogame e comandasse um
Universidade Brown, EUA, e de quatro outras instituições braço robótico.”
implantaram eletrodos na parte do cérebro dele c) Reescreva o período abaixo, utilizando a conjunção
responsável pelos movimentos dos braços e registraram os “embora” para marcar a relação estabelecida entre as
disparos de mais de 100 neurônios. Enviados a um duas orações. “Inventamos a maravilha do automóvel e
computador, esses sinais permitiram que ele controlasse aumentamos o tempo perdido para ir de casa ao
um cursor em uma tela, abrisse e-mails, jogasse trabalho.”
videogames e comandasse um braço robótico. Somente
com o pensamento, Nagle conseguiu mover objetos. [...]
Foi [...] uma prova de que o nosso cérebro é capaz de 79) (Fatec-2002) Texto I
comandar objetos fora do corpo – uma idéia que pode Então Macunaíma pôs reparo numa criadinha com um
mudar nossa relação com o mundo. vestido de linho amarelo pintado com extrato de tatajuba.

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Ela já ia atravessando atravessando o corgo pelo pau. vo-las ensinarmos aí chegado. Mas si de tal desprezível
Depois dela passar o herói gritou pra pinguela: língua se utilizam
- Viu alguma coisa, pau? na conversação os naturais desta terra, logo que tomam da
- Via a graça dela! pena, se despojam de tanta asperidade, e surge o Homem
- Quá! quá! quá quaquá!... Latino, de Lineu, exprimindo-se numa outra linguagem,
Macunaíma deu uma grande gargalhada. Então seguiu mui próxima da vergiliana, no dizer dum panegirista, meigo
atrás do par. Eles já tinham brincado e descansavam na idioma, que, com imperecível galhardia, se intitula: língua
beira da lagoa. A moça estava sentada na borda duma de Camões! De tal originalidade e riqueza vos há-de ser
igarité encalhada na praia. Toda nua inda do banho comia grato ter ciência, e mais ainda vos espantareis com
tambiús vivos, se rindo pro rapaz. Ele deitara de bruços na saberdes, que à grande e quase total maioria, nem essas
água rente dos pés da moça e tirava os lambarizinhos da duas línguas bastam, senão que se enriquecem do mais
lagoa pra ela comer. A crilada das ondas amontoava nas lídimo italiano, por mais musical e gracioso, e que por
costas dele porém escorregando no corpo nu molhado caía todos os recantos da urbs é versado.
de novo na lagoa com risadinhas de pingos. A moça batia (Mário de Andrade, Macunaíma. O herói sem nenhum
com os pés n’água e era feito um repuxo roubado da Luna caráter)
espirrando jeitoso, cegando o rapaz. Então ele enfiava a
cabeça na lagoa e trazia a boca cheia de água. A moça Assinale a alternativa que transcreve e converte, correta e
apertava com os pés as bochechas dele e recebia o jato em respectivamente, a frase do registro coloquial da
cheio na barriga, assim. A brisa fiava a cabeleira da moça linguagem, extraída do Texto I, em seu correspondente na
esticando de um em um os fios lisos na cara dela. O moço modalidade culta.
pôs reparo nisso. Firmando o queixo no joelho da a) “Pois deixai ela virar” / “Pois deixa-a virar”.
companheira ergueu o busto da água, estirou o braço pro b) “Ele deitara de bruços na água” / “Ele tinha deitado de
alto e principiou tirando os cabelos da cara da moça pra bruços na água”.
que ela pudesse comer sossegada c) “Depois dela passar” / “Depois de ela passar”.
os tambiús. Então pra agradecer ela enfiou três d) “ele enrolou-se nela talqualmente um apuizeiro
lambarizinhos na boca dele e rindo muito fastou o joelho carinhoso” / “ele enrolou-se nela mesmo sendo um
depressa. O busto do rapaz não teve apoio mais e ele no apuizeiro carinhoso”.
sufragante focinhou n’água até o fundo, a moça inda e) “Ia escorregando e afinal a canoa virou” / “Ia
forçando o pescoço dele com os pés. Ele ia escorregando escorregando e até que enfim a canoa virou”.
sem perceber de tanta graça que achava na vida. Ia
escorregando e afinal a canoa virou. Pois deixai ela virar! A
moça levou um tombo engraçado por cima do rapaz e ele 80) (ENEM-2007) Texto I
enrolou-se nela talqualmente um apuizeiro carinhoso. Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias. O que o
Todos os tambiús fugiram enquanto os dois brincavam segurava era a família. Vivia preso como um novilho
n’água outra vez. amarrado ao mourão, suportando ferro quente. Se não
(Mário de Andrade, Macunaíma. O herói sem nenhum fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não.
caráter) (...) Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço.
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal
Texto II na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o
De outras e muitas grandezas vos poderíamos ilustrar, pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um
senhoras Amazonas, não fora persignar demasiado esta patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados
epístola; todavia, com afirmar-vos que esta é, por sem por um soldado amarelo.
dúvida, a mais bela cidade terráquea, muito hemos feito Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23.ª
em favor destes homens de prol. Mas cair-nos-iam as ed., 1969, p. 75.
faces, si ocultáramos no silêncio, uma curiosidade original
deste povo. Ora sabereis que a sua riqueza de expressão Texto II
intelectual é tão prodigiosa, que falam numa língua e Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático,
escrevem noutra. Assim chegado a estas plagas impermeável. Não há solução fácil para uma tentativa de
hospitalares, nos demos ao trabalho de bem nos incorporação dessa figura no campo da ficção. É lidando
inteirarmos da etnologia da terra, e dentre muita surpresa com o impasse, ao invés de fáceis soluções, que Graciliano
e assombro que se nos deparou, por certo não foi das vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma
menores tal originalidade lingüística. Nas conversas estrutura romanesca, uma constituição de narrador em
utilizam-se os paulistanos dum linguajar bárbaro e que narrador e criaturas se tocam, mas não se identificam.
multifário, crasso de feição e impuro na vernaculidade, Em grande medida, o debate acontece porque, para a
mas que não deixa de ter o seu sabor e força nas intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a
apóstrofes, e também nas vozes do brincar. Destas e despeito de aparecer idealizado em certos aspectos, ainda
daquelas nos inteiramos, solícito; e nos será grata empresa é visto como um ser humano de segunda categoria,

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simples demais, incapaz de ter pensamentos a) Com a ciência, no geral chega-se mais perto da verdade,
demasiadamente complexos. O que Vidas Secas faz é, com do que chega-se com outros sistemas de crença.
pretenso não envolvimento da voz que controla a b) É certo, portanto, que se sujeitavam os jogos da ética e
narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que essas da política a avanços e retrocessos.
pessoas seriam plenamente capazes. c) Aplicando-se à ética e à política conceitos, como o de
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: progresso, é que vê-se que é: uma ilusão perigosa.
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254. d) Na Grécia e na Roma antigas, já acreditavam-se em
novas ferramentas desenvolvidas pela tecnologia.
e) Ainda se prefere, que a fome e a pobreza, dê lugar à
No texto II, verifica-se que o autor utiliza prosperidade.
a) linguagem predominantemente formal, para
problematizar, na composição de Vidas Secas, a relação
entre o escritor e o personagem popular. 82) (FATEC-2006) Texto I
b) linguagem inovadora, visto que, sem abandonar a
linguagem formal, dirige-se diretamente ao leitor. Os bem vizinhos de Naziazeno Barbosa assistem ao “pega”
c) linguagem coloquial, para narrar coerentemente uma com o leiteiro. Por detrás das cercas, mudos, com a mulher
história que apresenta o roceiro pobre de forma pitoresca. e um que outro filho espantado já de pé àquela hora,
d) linguagem formal com recursos retóricos próprios do ouvem. Todos aqueles quintais conhecidos têm o mesmo
texto literário em prosa, para analisar determinado silêncio. Noutras ocasiões, quando era apenas a “briga”
momento da literatura brasileira. com a mulher, esta, como um último desaforo de vítima,
e) linguagem regionalista, para transmitir informações dizialhe:
sobre literatura, valendo-se de coloquialismo, para facilitar “Olha, que os vizinhos estão ouvindo”. Depois, à hora da
o entendimento do texto. saída, eram aquelas caras curiosas à janela. com os olhos
fitos nele, enquanto ele cumprimentava.
O leiteiro diz-lhe aquelas coisas, despenca-se pela
escadinha que vai do portão até à rua, toma as rédeas do
81) (FATEC-2006) Texto II burro e sai a galope, fustigando o animal, furioso, sem
olhar para nada. Naziazeno ainda fica um instante ali
Na ciência e na tecnologia o progresso é real, mas só faz sozinho. (A mulher havia entrado.) Um ou outro olhar de
aumentar o conhecimento e o poder do homem, e esse criança fuzila através das frestas das cercas. As sombras
poder pode ser usado tanto para os mais benignos têm uma frescura que cheira a ervas úmidas. A luz é
objetivos quanto para os mais desastrosos. Quando o doirada e anda ainda por longe, na copa das árvores, no
conceito de progresso é aplicado à ética e à política, ele é meio da estrada avermelhada.
uma ilusão perigosa. Veja-se, por exemplo, o caso dos Naziazeno encaminha-se então para dentro de casa. Vai
gregos e dos romanos antigos. É claro que eles até ao quarto. A mulher ouve-lhe os passos, o barulho de
acreditavam no desenvolvimento de novas ferramentas. abrir e fechar um que outro móvel. Por fim, ele aparece no
Mas eles não transferiam essa noção de progresso técnico pequeno comedouro, o chapéu na mão. Senta-se à mesa,
para a ética ou a política. É óbvio, também, que eles esperando. Ela lhe traz o alimento.
acreditavam no bem e no mal, que as sociedades podiam – Ele não aceita mais desculpas...
ser melhores ou piores, e que a prosperidade é preferível à Naziazeno não fala. A mulher havia-se sentado defronte
fome e à pobreza. No entanto, para gregos e romanos, os dele, enquanto ele toma o café.
jogos da ética e da política estavam sujeitos a avanços e – Vai nos deixar ainda sem leite...
retrocessos. Ou seja, a história humana era cíclica, com Ele engole o café, nervoso, com os dedos ossudos e
diferentes períodos se alternando, como ocorre na cabeçudos quebrando o pão em pedaços miudinhos, sem
natureza. olhar a mulher.
A ciência, no geral, chega mais perto da verdade do mundo – É o que tu pensas. Temores... Cortar um fornecimento
que outros sistemas de crença, e nós temos testemunhado não é coisa fácil.
seu sucesso pragmático em aumentar o poder humano. – Porque tu não viste então o jeito dele quando te
Mas, do ponto de vista ético, o conhecimento é neutro, declarou: “Lhe dou mais um dia!”
desprovido de valor - pode tanto nos levar a realizações (Dyonélio Machado, Os ratos.)
maravilhosas quanto atender a propósitos terríveis.
(John Gray, em Veja, 23 de novembro de 2005.) Leia o trecho:
A mulher havia-se sentado defronte dele, enquanto ele
toma o café.
Assinale a alternativa em que os trechos do texto, – Vai nos deixar ainda sem leite...
reescritos, apresentam pontuação, concordância e
colocação de pronomes de acordo com a norma culta.

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Assinale a alternativa que substitui o discurso direto pelo b) Parar é chatear-se, e lá vamos nós: a gastança do
discurso indireto, sem que ocorram infrações da norma tempo, a gula de digeri-lo, o consumo compulsivo (...)
culta. c) Quem não consegue capota, está fora do ritmo, fora de
a) A mulher lhe disse que o leiteiro ainda iria deixá-los sem seu tempo, e pronto – com isso chegamos ao telefone
leite. celular.
b) A mulher o disse que o leiteiro ainda lhes irá deixar sem d) Nesse processo, uma das criações mais características
leite. do século foi a indústria da urgência.
c) A mulher diz-lhe que o leiteiro ainda deixaria eles sem
leite.
d) A mulher nos disse que o leiteiro lhes deixaria sem leite. 85) (Mack-2005) TURMA DA MÔNICA Mauricio de Sousa
e) A mulher disse-lhe que o leiteiro ainda nos deixará sem
leite.

83) (Fuvest-2004) Texto para a questão a seguir

Uma flor, o Quincas Borba. Nunca em minha infância,


Além da pronúncia ocê, é possível encontrar, entre os
nunca em toda a minha vida, achei um menino mais
gracioso, inventivo e travesso. Era a flor, e não já da escola, diferentes grupos de falantes do português do Brasil, as
senão de toda a cidade. A mãe, viúva, com alguma cousa formas “cê” e “você”.
de seu, adorava o filho e trazia-o amimado, asseado, Considere os enunciados abaixo e assinale a alternativa
enfeitado, com um vistoso pajem atrás, um pajem que nos correta a respeito deles.
I. “Você vem conosco?”
deixava gazear a escola, ir caçar ninhos de pássaros, ou
perseguir lagartixas nos morros do Livramento e da II. “Trouxe este presente para você.”
a) Na fala popular e informal, “ocê” e “cê” poderiam
Conceição, ou simplesmente arruar, à toa, como dous
peraltas sem emprego. E de imperador! Era um gosto ver o substituir você tanto em I quanto em II.
b) Em usos informais da língua, “cê” poderia ser
Quincas Borba fazer de imperador nas festas do Espírito
encontrado apenas em I.
Santo. De resto, nos nossos jogos pueris, ele escolhia
sempre um papel de rei, ministro, general, uma c) Em ambientes rurais, como o de Chico Bento, as formas
“você” e “cê” jamais ocorrem em I e em II.
supremacia, qualquer que fosse. Tinha garbo o traquinas, e
d) Em usos coloquiais da língua, especialmente no meio
gravidade, certa magnificência nas atitudes, nos meneios.
rural, “ocê” aparece apenas em II.
Quem diria que… Suspendamos a pena; não adiantemos os
e) A gramática normativa aceita as três variantes (“cê”,
sucessos. Vamos de um salto a 1822, data da nossa
independência política, e do meu primeiro cativeiro “ocê” e “você”), na escrita e na fala.
pessoal.
(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas) 86) (Mack-2005) TURMA DA MÔNICA Mauricio de Sousa

Embora pertença à modalidade escrita da língua, este


texto apresenta marcas de oralidade, que têm finalidades
estilísticas.
Dos procedimentos verificados no texto e indicados
abaixo, o único que constitui marca típica da modalidade
escrita é: O qui é qui eu tô tocando?
a) uso de frase elíptica em “Uma flor, o Quincas Borba”. Sobre a construção destacada acima, é correto afirmar que
b) repetição de palavras como “nunca” e “pajem”. a) foi empregada por Maurício de Souza para evidenciar
c) interrupção da frase em “Quem diria que...”. que a pergunta é uma espécie de charada ou enigma.
d) emprego de frase nominal, como em “E de imperador!” b) complementa o verbo “estar”, utilizado como transitivo
e) uso das formas imperativas “suspendamos” e “não direto na pergunta.
adiantemos”. c) é semelhante, na linguagem informal, a outras
construções usadas em interrogações (“como é que”, “por
84) (UEMG-2007) Traços de oralidade/coloquialidade que é que”, “onde é que” etc.).
podem ser observados em todas as citações textuais d) apresenta dois pronomes relativos, com função de
constantes das alternativas abaixo, EXCETO em: sujeito.
a) De repente um monte de gente percebeu que tem e) seria preservada se invertêssemos a ordem da pergunta,
pressa, não pode esperar, que é urgente chamar, é iniciando-a por eu tô tocando.
urgente ser chamado (...)

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87) (Fuvest-2000) Você pode dar um rolê de bike, lapidar o
estilo a bordo de um skate, curtir o sol tropical, levar sua
gata para surfar.

Considerando-se a variedade lingüística que se pretendeu


reproduzir nesta frase, é correto afirmar que a expressão
proveniente de variedade diversa é
a) “dar um rolê de bike”.
b) “lapidar o estilo”.
c) “a bordo de um skate”.
d) “curtir o sol tropical”.
e) “levar sua gata para surfar”.

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GABARITO Uso do verbo 'zoar'.
b) Entre os motivos que a ligaram à carreira está o gosto
1) Alternativa: B por literatura e inglês, que estuda há oito anos.

2) a) O anjo de Drummond vem desenhado bem no 9) a) O pronome você está sendo usado de maneira
estilo grave que lhe impõe a língua literária, culta; já o generalizante, referindo-se a qualquer pessoa (às pessoas
em geral). Esse uso é típico da linguagem oral, coloquial.
anjo de Chico Buarque, vem no estilo bem popular com
que o autor o coloca na sua composição “safado”, “chato” b) Sim. O fato de o aluno nem prestar atenção é colocado
e menos culto, bem na linhagem dos malandros que como algo bastante negativo para a professora e, ao
costumam ser brindados nas composições do autor. mesmo tempo, como comum à empregada. Portanto, fica
b) O verbo “dizer “ passa apenas a idéia neutra de uma subentendido que o que a empregada fala não é
informação; já “decretar” deixa clara a imposição a que merecedor de atenção.
parece não pode o sujeito esquivar-se de obedecer. A
própria figura do querubim, na escala angelical é superior à 10) a) Compre dois sabonetes e ganhe o terceiro.
b) O jogador encarou o adversário.
do simples anjo, o que justifica a diferente escolha lexical.
c) O advogado é um elo entre o cliente e a Justiça.
3) a) Sim. “Capitulação” significa submissão, e o autor d) Certos países vivem em conflito.
entende que o povo tem vergonha da própria língua (“com e) No momento não temos esse produto, mas vamos
vergonha / Da própria língua”), e, portanto, capitula diante recebê-lo.
da invasão dos estrangeirismos.
11) Alternativa: D
b) Segundo o autor, não. Primeiro, porque o termo
delivery poderia ser facilmente substituído por expressões
da língua portuguesa, como entrega em domícilio; 12) Alternativa: B
segundo, pelo uso da expressão ‘até’.
13) a) O principal propósito da passagem transcrita é
definir o significado histórico de Revolução.
4) a) “Toques”, termo coloquial, informal, significa b) Revolução significa mudança de classe no poder, através
“indicações” ou, numa variante consagrada na gíria de violência.
Assim como foi a queda da aristocracia e conseqüente
escolar, “dicas”.
ascensão da burguesia, na Revolução Francesa, e a vitória
b) Há inúmeras possibilidades. Uma delas:
Vou te dar um toque: evite comprar brigas com esse do proletariado na Rússia.
professor.
14) a) Há mais que três. São elas:
“Tudo ele contou pro homem”
5) a) “Precisamos de um novo ‘software’ para acessar o “... e eu fiquei pra vos contar a história”
mundo.” (Este é o único trecho em que “a autora utiliza “Por isso que vim aqui”
alguns elementos da tecnologia para traduzir seu “Me acocorei em riba destas folhas”
pensamento”, embora a formulação da pergunta - “... botei a boca no mundo...”
“transcreva um trecho” - implique a existência de outros
trechos.) b) “Pro” é uma contração de para + o, mas ainda não
b) No mundo presente, a vida não mais é moldada por dicionarizada.
valores e modelos (“padrões”) tradicionais. "Pra" é uma forma reduzida de para, também ainda não
dicionarizada.
O que da expressão “Por isso que vim aqui” é expletivo,
traço marcante da coloquialidade.
6) a) por poucas e boas; tipo quando; teve um love affair;
lady; para Deus e o mundo Segundo a Gramática tradicional, não se inicia uma oração
b) A princesa Diana já passou por momentos difíceis. Por com pronome pessoal oblíquo átono, tal como ocorreu em
exemplo, quando seu ex-marido Charles manteve um “Me acocorei”.
relacionamento extraconjugal com a senhora Camille, A expressão “em riba de” é marcadamente coloquial.
revelado mundialmente. A expressão “botei a boca no mundo" também é
marcadamente coloquial.
Transformando-as em "fala pura", teríamos:
7) Alternativa: E
• Tudo ele contou para o homem
8) a) As marcas são: • ... e eu fiquei para vos contar a história
Uso de 'a gente' em lugar de 'nós', mas fazendo a • Por isso vim aqui
concordância com 'nós'. (a gente ...vamos prestar) • Acocorei-me sobre estas folhas
• ... alardeei para todos...

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Alternativas Corretas: 01, 02 e 32

15) Alternativa: D 31) Resposta: 20

16) a) Se eu não estivesse atento e não tivesse olhado o 32) a) Quanto à eficiência, ele é ótimo.
rótulo, o paciente teria morrido. b) Este funcionário não é adequado ao perfil da empresa.
b) Ambientalistas defendem a econologia, combinação de c) Durante a entrevista, ele afirmou que a questão salarial
princípios da economia, sociologia e seria adiada.
ecologia, como maneira de viabilizar formas alternativas d) Na próxima semana, enviaremos nosso programa de
de desenvolvimento. atividades a todos os associados.
Obs: Há outras ordens possíveis, tal como:
Como maneira de viabilizar formas alternativas de 33) Alternativa: A
desenvolvimento, ambientalistas defendem a econologia,
combinação de princípios da economia, sociologia e 34) Alternativa: D
ecologia.
35) Alternativa: A
17) a) ... a cada dia mais raros como também ou e também
ou mas também (penam) na hora de trocar... 36) a) O candidato tanto pode responder ‘sim’ quanto
b) O paralelismo é estabelecido a partir da relação ‘não’, desde que justifique adequadamente. A referência a
coordenativa de adição: não só... mas também. ‘Paraná’, estabelecida pelo ‘que’, não se altera com a troca
pela vírgula. O que muda é a ênfase sobre a relação entre
as duas frases e, conseqüentemente, o ritmo, a entonação.
18) Alternativa: A Ocorrem, portanto, mudanças prosódicas. A vírgula
imprime continuidade entre as duas frases, ressaltando o
19) Alternativa: A sentido de causa e conseqüência entre “largou o verbo” e
“respondeu à altura”, com menor ênfase sobre cada uma
20) O fato de o menino dispensar a oferta de mais um das ações afirmadas. O ponto final imprime maior
doce, oferecido pela narradora. independência entre essas ações, e também entre as
personagens.
21) Alternativa: B b) Esse trecho da resposta de Paraná chama a atenção
para a sintaxe da língua pelo uso de ‘le’, não esperado
22) Alternativa: B segundo a norma gramatical padrão. A resposta de Paraná,
pela presença do pronome oblíquo, traz uma tentativa de
23) Alternativa: C estruturação formal, que fica em dessintonia com a
substituição de ‘lhe’ por ‘lê’ e por sua colocação na frase.
24) Alternativa: A c) Esbravejou, gritou, trovejou (entre outras). As
substituições que se aproximarem mais do sentido de
25) Alternativa: E ‘tonitruou’ serão mais valorizadas, mas todas as
substituições possíveis serão consideradas.
26) a) Porque não usa formas verbais menos comuns,
como o mais-que-perfeito. Há várias possibilidades para o Esta questão chama a atenção para a importância de
autor ter utilizado essa forma, mas, principalmente, o fato reflexões sobre a pontuação, a prosódia, a sintaxe e a
de ambas as formas serem equivalentes semanticamente e sinonímia nos processos de leitura e escrita. No item a), há
a forma composta ser mais comum e, portanto, de mais uma articulação entre a pontuação e a prosódia. Seria
fácil entendimento, o que aproximaria o autor de seu interessante que o candidato reconhecesse a importância
público. da prosódia para a interpretação. Contudo, como já
b) O verbo aspirar, no contexto, significa desejar, querer, afirmado, não se penalizará aquele candidato cuja
pretender, almejar. resposta venha pautada por uma perspectiva mais
referencial. No item b), espera-se que candidato reflita
sobre a norma padrão da língua, e que, ao mesmo tempo,
27) Alternativa: B considere a sintaxe como parte integrante do processo de
leitura. O item c) incide sobre a possibilidade de o
28) Alternativa: D candidato compreender o sentido de uma palavra mesmo
que nunca a tenha encontrado anteriormente. As relações
29) Alternativa: E sinonímicas não se restringem à troca de uma palavra por
outra, o que significa que essa questão não é de
30) Resposta: 35 vocabulário, mas de leitura.

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Apresentação dos sentimentos e estados do cientista: me
Fonte: Banca examinadora da Unicamp causou arrepios, uma terrível dor de dentes
b) O uso da voz passiva sintética, em que o agente é
37) Resposta pessoal do aluno. indeterminado.

38) a) Graciliano Ramos quer dizer que Guimarães Rosa 47) Alternativa: C
não era uma pessoa mesquinha e não guardaria
ressentimentos diante das críticas. 48) a) O verso “— Eh, carvoero!”, repetido três vezes ao
b) “- Mais depressa, é para esmoer?!” longo do poema, substitui o registro culto (“carvoeiro”)
Nota-se como o r não foi cortado (esmoê seria o recurso pela variante coloquial, reproduzida por aproximação
ingênuo). sonora, que elide a vogal “i”. O próprio poema fornece a
prova da aproximação, ao apresentar, no primeiro verso, a
39) Alternativa: B forma culta “carvoeiros”.
b) Embora o poema pertença a uma fase de transição para
40) Alternativa: D a estética desencadeada pela Semana de 1922, seu autor,
Manuel Bandeira, tornou-se uma das principais
41) A ambigüidade foi produzida pelo pronome dele, personalidades da nova escola. Explorando a variante
presente na expressão "à casa dele" que tanto pode popular da linguagem, o texto incorpora alguns traços
referir-se à casa de Carlos quanto à de João: assim, ficamos característicos do Modernismo: a focalização de
sem saber à casa de quem o sujeito foi. personagens populares, em tarefas corriqueiras do
Para evitar essa duplicidade de sentido, poderíamos redigir cotidiano (neste caso, os “meninos carvoeiros”); a
a frase de duas formas diferentes: preocupação social (presente na referência à “Pequenina,
a) Carlos foi à casa dele com João. ingênua miséria!” das crianças) e a liberdade formal
b) Carlos foi à casa de João com ele. (patente na adoção de versos livres e brancos).

49) Alternativa: D
42) Alternativa: A
50) a) O radical “-logia” (-tologia) usualmente identifica
43) Alternativa: D campos de conhecimento (como em geologia, ecologia),
mas embromar não é um desses campos de
44) A língua escrita é bastante diferente da língua falada, conhecimento.
como bem mostra o texto de Jô Soares. A língua escrita b) Achávamos nojento o cheiro de bicho, de bosta e de
não é uma mera transcrição fonética da fala, uma vez que mijo, mas a ecologia nos fez achar isso genial.
em sua composição contribuem também fatores c) “... e estava escrito que é pausterizado, ou pasteurizado,
etimológicos. sei lá, tem vitamina...”
Se a língua escrita fosse igual à falada, não seria possível a
unidade da língua portuguesa, uma vez que existem 51) Alternativa: A
inúmeros modos de pronúncia nas várias regiões do país,
ou até mesmo dentro de uma mesma região. PERCENTUAIS DE RESPOSTA NO EXAME
A B C D E
45) a) 34 16 16 19 15
- “dar bola”: prestar atenção, ter interesse por
- “campos”: assuntos, matérias O efeito de paródia, explorado como recurso estilístico
b) Boleiros sob medida permite, de acordo com o texto, as pelo autor desse poema, apresenta-se na utilização de
seguintes interpretações: expressões retomadas ora da carta de Pero Vaz de
- Atletas que se encaixam perfeitamente em uma posição Caminha ora da linguagem coloquial corrente de época,
- Atletas que são submetidos a avaliações constantes. gerando um efeito de humor crítico. Uma condição
essencial para compreender o problema proposto nessa
46) a) questão - identificar os arcaísmos e os coloquialismos
De forma: existentes no poema - é conhecer o contexto de produção
Uso da primeira pessoa: me, fui, pendurei, meus do texto e sua relação intratextual. Se o participante
De conteúdo: desconhece ou não considera o contexto histórico do
Digressão: onde, por sinal,pendurei uma tela de Bruegel, poema, a identificação será parcial, já que o enunciado
um dos meus favoritos. indica como pressuposto “a criação de um efeito de
Subjetividade e emotividade: dia cinzento e triste, um dos contraste” na utilização das expressões. Possivelmente a
meus favoritos

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utilização de “contraste” como critério de interpretação americanos encontraram uma solução bastante simples,
justifica os percentuais de escolhas dos distratores. Uma mas nunca antes imaginada.
outra possível explicação para esses percentuais deve-se
ao fato de os participantes terem considerado apenas os 62) a) O discurso falado tem como características
termos “arcaísmo” e “coloquialismo” e, não tendo principais a presença de interlocutores e um único espaço
elementos para analisá-los, provavelmente deslocaram o e tempo. Como marcas dessas características, temos a
texto do contexto e apoiaram-se em outros elementos primeira pessoa do plural, nós, que marca tanto o emissor
para resolver a questão. quanto o interlocutor e a seqüência de perguntas, com o
efeito de introduzir o interlocutor de alguma forma no
Fonte: relatório pedagógico ENEM 2001 diálogo. Os pronomes esta e aquela, cujos referenciais só
podem ser obtidos no momento da fala, também são
52) Alternativa: A indícios fortes do discurso oral.
b) Dinamicidade. O período é marcado pela coordenação,
53) Alternativa: A que cria um efeito dinâmico, de sucessão de ações.

54) a) Sim, porque o campo semântico das metáforas 63) a) Orientação para o uso deste medicamento
(estribo, rédeas, algibeira) é compatível com o Antes de usar este medicamento, verifique se no (também
interlocutor, o fazendeiro Matraga. é aceitável do) rótulo constam as seguintes informações:
b) Há mais de uma. São elas: seu nome, o nome de seu médico, as datas de
“não tira o estribo do pé de arrependido nenhum” manipulação e de validade, e a fórmula do medicamento
“o Reino do Céu, que é o que mais vale, ninguém tira de solicitado.
sua algibeira”. b) O pronome “seu” faz referência à pessoa que comprou
o medicamento. Essa conclusão é possível porque o
pronome “seu” aparece, com o mesmo referente, na
55) Alternativa: A expressão “seu médico” e como não faz sentido que o
remédio tenha um médico, o pronome “seu” só pode estar
56) Alternativa: A referindo-se ao leitor.

57) Alternativa: D 64) a) acentuação: Prémio (duas vezes);


grafia: facto, actual
58) Alternativa: A b) As construções típicas do português europeu são
beneficiava, a assinar, a pedir; os equivalentes brasileiros
59) a) No verso “e no idioma pedra se fala doloroso” são beneficiaria, assinando, pedindo.
ocorrem duas derivações impróprias: o substantivo c) “...o critério actual é o dos mais traduzidos”
“pedra” foi empregado com valor adjetivo; o adjetivo
“doloroso” foi utilizado como advérbio. 65) Alternativa: A
b) Nesse verso, a palavra “todo” pode se relacionar tanto a
“tempo” quanto a “trabalho”. Possibilitam-se, assim, duas 66) Alternativa: C
leituras para o verso: num caso, “esse trabalho” toma o
“tempo todo”; noutro, “todo esse trabalho” toma tempo. 67) Alternativa: A

68) Alternativa: B
60) a) "Aí", "deita e rola", "está por cima da carne-seca",
"seria um inferno", "entrar em parafuso". 69) Alternativa: B
b)
"Aí" = dessa forma, assim, então. 70) a) o - r final: desaparece, independentemente da vogal
"deita e rola" = faz o que quer. que o precede ou da classe a que pertence a palavra:
"está por cima da carne-seca" = está em situação “contá” por contar (verso 2)
privilegiada. “derrubá” por derrubar (verso 13)
"seria um inferno" = seria traumático, difícil. “sinhô” por senhor (verso 1)
"entrar em parafuso" = perder o controle. “cobertô” por cobertor (verso 25)
“esquecê” por esquecer (verso 27)
o - lh medial das palavras: é substituído pela vogal i (que
61) Há inúmeras possibilidades. Uma delas é: passa a formar ditongo com a vogal anterior:
A ciência procura expedientes engenhosos para combater “véia” por velha (verso 5)
o câncer, mas desta vez parece que pesquisadores “paia” por palha (verso 26).

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b) No padrão culto, as formas seriam: podemos, 82) Alternativa: A
arranjamos e pegamos. Comparando-as com as formas
usadas, fica evidente que o processo de conjugação no 83) Alternativa: A
padrão usado no poema elimina as desinências -mos,
conjugando os verbos como se estivessem na terceira 84) Alternativa: D
pessoa do singular.
85) Alternativa: B
71) Alternativa: D
86) Alternativa: C
72) Alternativa: C
87) Alternativa: B
73) a) A sensação de prazer diante do sofrimento alheio:
em ”Suave Mari Magno”, são os pedestres que têm prazer
de ver o “cão que ia morrer”; em “Seqüência”, são as
pessoas que gostam de “presenciar a / criança indefesa /
espernear numa coça de chineladas”.
b) Em “Seqüência”, podem-se citar as palavras “Ome”,
“pra”, “ocê”, “fruita”, bem como a próclise em “me
sujando” e a enumeração no final do segundo verso, com o
pronome reto na posição de objeto direto (“minha mãe,
eu”).

74) Alternativa: C

75)
01 02 04 08 16
F V V F V
TOTAL = 22

76)
01 02 04 08 16
V V V V V
TOTAL = 31

77)
01 02 04 08 16
V F V V V
TOTAL = 29

78) a) “numa boa”


b) Enviados a um computador, esses sinais permitiram a
ele controlar um cursor em uma tela, abrir e-mails, jogar
videogame e comandar um braço robótico.
c) Embora tenhamos inventado a maravilha do automóvel,
aumentamos o tempo perdido para ir de casa ao trabalho.

79) Alternativa: C

80) Alternativa: A

81) Alternativa: B

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