1.

1 O ato de Estudar

A sugestão de leitura de livros, a bibliografia, não é a cópia dos títulos ao

acaso. Deve ter um “porquê”. Quem sugere deve saber por quê sugere e quem
recebe deve ver nela um referencial teórico, um desafio ligado à rota da
descoberta.

“Para fazer bem uma obra, no caso estudar,

para adquirir formação básica à vida profissional e social, é necessário
o domínio pessoal das técnicas de estudo.”

Desta forma, a intenção da Bibliografia deve ser a de despertar o desejo

de aprofundar conhecimentos e, para que isso se concretize, deve ser feita
com respeito a quem se dirige a bibliografia, aos autores citados nela e a ele
próprio, que se dedicou à pesquisa das referências bibliográficas relacionadas
ao assunto.
Segundo o professor Paulo Freire, é necessário fazer uma prévia
reflexão sobre o sentido do estudo. Para ele o ato de estudar exige, de quem a
ele se propõe, uma posição crítica sistemática. Exige também uma disciplina
intelectual que não se ganha a não ser praticando-a e isso não é incentivado
pela Educação Bancária (Tradicional) cuja proposta é:
 Ingenuidade perante o texto.
 Não criticidade.
 Fuga do texto.
 Leitura mecânica.
 Não compreensão do conteúdo.
 MEMORIZAÇÃO

Como conseqüência, o aluno foge do texto e fica sonolento pois a leitura

se torna cansativa e desinteressante.
Para a Educação Libertária proposta pelo professor Paulo Freire, o aluno
deve assumir o papel de sujeito no ato de estudar, para ele:
 O ato de estudar é uma atitude frente ao mundo.
 O estudo de um tema específico deve colocar o estudioso a par da
bibliografia em questão.
 O ato de estudar depende de uma atitude humilde face ao saber.
 O ato de estudar significa: compreender e criticar.
 Estudar significa: “uma misteriosa relação dialógica” com o autor do
texto, cujo mediador é o tema!
 O ato de estudar exige reflexão crítica sobre o próprio significado de
estudar.
 1.2 A Leitura

A compreensão da leitura só se realiza quando se efetua através de

relação dialógica com o autor. É preciso perceber o que pensava o autor ao
escrever, entrar em sua cabeça e acompanhar seu raciocínio.

A leitura é um fator decisivo de estudo, pois permite criar conceitos,

obter informações, abrir novos horizontes, sistematizar o pensamento,
enriquecer o vocabulário, ampliando o conhecimento.

O ato de ler é um ato de concentração, exige reflexão, análise, síntese,

interpretação e juízo crítico, sendo assim exige algumas atividades
preparatórias.
Ler significa conhecer, decifrar, interpretar, adquirir novas fontes de
idéias, aprender a criticar, verificar e fixar conhecimentos. Por este motivo é
necessário selecionar o que vai ser lido e o primeiro passo para essa seleção é
observar o objetivo da leitura. Havendo disponíveis diversas fontes de leitura,
como selecionar as mais importantes para o seu trabalho?

Uma boa forma de identificar o material adequado é fazer uma seleção

através dos seguintes elementos:
 Título – estabelece o assunto.
 Data da publicação – identifica fatos atuais, exceto para textos
clássicos.
 Contracapa ou “orelhas” - em geral contém comentários sobre a
obra, sobre o autor e o público ao qual se destina.
 Índice – mostra os assuntos abordados e as subdivisões, permitindo
que se selecione apenas um capítulo ou seção.
 Prefácio ou Introdução – fornece uma visão mais clara dos objetivos
do autor , dando uma idéia genérica do assunto a ser tratado.
 Bibliografia – Mostra as fontes de consulta utilizadas pelo autor.

1.2.1 Como Ler

De nossa parte é necessário um espaço de tempo para absorver e

incorporar à nossa bagagem cultural as informações obtidas através da leitura
de um texto. Desta forma é preciso criar algumas rotinas de trabalho, que
podem ser adaptadas ao perfil de cada um segundo seu caminho mental. Cada
leitor deve encontrar sua forma de associar os conteúdos lidos à sua bagagem
já adquirida. Entretanto segue abaixo uma proposta de rotina e, a partir da
idéia, crie a sua !

 Delimite a Leitura – Crie unidades de leitura. Pode ser um

pequeno texto, um capítulo ou dois. A unidade de leitura deve ser
aquela que necessita de compreensão para que seja possível dar
prosseguimento na investigação.
 Repita a Leitura - até ter certeza de que compreendeu a verdadeira
mensagem contida no trecho lido. Dica:
 Grife as principais idéias de cada parágrafo
 Escreva uma frase resumo na margem quando achar
necessário (você pode fazer isso sempre, em todos os
parágrafos se quiser)

1.2.2 Etapas ou Fases da Leitura.

 Fase Corrida ou Exploratória – Nessa primeira leitura não convém

resumir. Nem sublinhar idéias. Você pode neste momento fazer um
esquema global de modo a visualizar o texto de forma geral.
Desenhe, faça um esquema.

 Fase Analítica ou Exame do texto - é a fase, segundo Paulo

Freire, da “relação dialógica” com o autor, mediado pelo texto. Sem
esquecer o fio-condutor do tema de sua pesquisa, subdivida neste
momento o texto e refaça a linha de raciocínio do autor. Nesse
momento é fundamental a técnica de sublinhar. Vá respondendo a
cada unidade de leitura, às seguintes perguntas (que certamente
estarão surgindo em sua mente):
 De que fala o texto?
 Qual é o problema?
 Alguma palavra desconhecida?
 Qual o fio condutor da explanação?
 Que tipo de raciocínio o autor usa na condução das
idéias?

“Descobrir consiste em: Olhar para o que

todo mundo está vendo,
e pensar uma coisa diferente.”
 Fase Interpretativa - É a capacidade de assimilação e crítica do
texto. Nesta etapa estaremos nos posicionando frente ao que o
autor disse. Por esse motivo é necessário outras fontes de
consulta, que irão servir para ampliar a nossa visão sobre o
assunto e o autor.

 Fase de Levantar os Problemas do texto - O levantamento dos

problemas do texto, nos dá a certeza da compreensão do que foi
lido. Nesse momento também é importante o debate em grupo, o
diálogo, a troca, a interação com pessoas cujo grau de
conhecimento a respeito do assunto seja compatível com o seu o
maior, para que dessa forma se consolide a capacidade de
assimilação e a crítica do texto seja melhorada.
  Fase Reflexiva – nessa etapa da leitura, identificam-se as frases-
chave, o que nos permite reconhecer as intenções do autor.

 Fase Crítica – para entender o que o autor quis transmitir e julgar

as idéias dele em função das suas e, baseados na compreensão
do quê e do porquê das propostas do texto, retificar ou ratificar
nossas conclusões.
Criticar é um juízo e para tanto exige o conhecimento da matéria. É
estabelecer a correspondência entre os conceitos de um texto, estabelecendo
a ligação ou separação entre os dados.

Para fazer uma crítica bem feita é necessário uma postura de análise e
síntese.
A análise é um método de decomposição de um todo
em partes, visando separar os elementos de uma realidade
complexa seja ele um objeto ou uma idéia.
A síntese é a recomposição dos elementos, visando a
totalidade. É um método que partindo das partes, estabelece
ordem entre os elementos e chega ao todo.
A análise e a crítica devem caminhar juntas, já que uma complementa a
outra.

 Fase explicativa – objetiva verificar os fundamentos enfocados

pelo autor do texto. É a fase em que se inicia a redação da
monografia ou tese.

1.2.3 DICAS:

 Nunca sublinhar na primeira leitura, apenas organize o texto em sua

mente.

 Sublinhar as idéias principais com DOIS traços e os demais

pormenores significativos com um traço.

 Nos parágrafos relevantes, colocar uma linha vertical ao lado.

 Elaborar uma codificação personalizada, sua, que tenham um

significado especial. Por exemplo, um ponto de interrogação, quando
encontrar pontos obscuros ou contraditórios no texto.

 Usar cores para assinalar os diferentes elementos que constituem o

texto. Por exemplo: Num texto que compara diferentes arquiteturas
de hardware, associar cada tipo de arquitetura a uma cor.

 Para as palavras desconhecidas, consultar o dicionário e, se

necessário, colocar seu significado a lápis no espaço intermediário,
 para facilitar a leitura. É aconselhável adicionar estas palavras ao seu
vocabulário.

 Reconstruir o texto, com palavras suas a partir das palavras

sublinhadas..

 Fazer um esquema hierárquico das idéias, (as selecionadas como

importantes) mostrando a ligação da idéia principal com as idéias
secundárias e estas entre si.

Elaborar um esquema baseado na hierarquia das palavras, frases e

parágrafos destacados no texto, apresentando suas ligações e raciocínio.

Este recorte foi compilado do Manual de Introdução ao fazer Científico -

MAIA. M. Manuela A. Maia