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A LEITURA E SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DO LEITOR

CRÍTICO

CAPÍTULO 1 – A LEITURA E SUAS DEFINIÇÕES

1.1 OS ASPECTOS ETIMOLÓGICOS E CONCEITUAIS DA LEITURA

A leitura é um processo que envolve apreensão/compreensão de


algum tipo de informação armazenada num suporte e transmitida mediante
determinados códigos, como a linguagem. Esses códigos podem ser visuais,
auditivos e táteis, como o sistema Braille.

Conforme consulta ao (Dicionário Prático de Pesquisas Michaelis):


lei.tu.ras. f. 1. Ação ou efeito de ler. 2. Arte de ler. 3. Aquilo que se lê. 4. Tip. Ato de
ler provas para descobrir e corrigir os erros de composição.

Segundo estudos etimológicos a palavra leitura é um substantivo


advindo do morfema lect-, radical latino do supino do verbo legere – reunir. Segundo
o dicionário Letrésor de Lalangue Française informatisé leitura vem do lat. médiév.
lectura « lecture, études, érudition, commentaire juridique (leitura, estudo, erudição,
comentário jurídico).
Conforme informações do Dicionário Houaiss (2011) leitura tem p
seguinte significado:
(1) ação ou efeito de ler;
(2) ato de apreender o conteúdo de um texto escrito;
(3) ato de ler em voz alta;
(4) hábito de ler
(5) o que se lê;
(6) conjunto de obras lidas
(7) maneira de compreender, de interpretar um texto, uma mensagem, um
acontecimento (em sentido figurado); (8) ato de decifrar qualquer notação; o
resultado desse ato.
De acordo com Graça Paulino e outros pesquisadores (p. 11, 2001,
apud, Fachinetto e Ramos),
[...] na origem do vocábulo, encontram-se três significados: primeiro, ler
significa soletrar, agrupar as letras em sílabas; segundo, ler está
relacionado ao ato de colher, a leitura passa a ser a busca de sentidos no
interior do texto, nessa concepção os sentidos vivem no texto, basta que
eles sejam retirados, colhidos como uvas no vinhedo; e, terceiro e último
sentido apontado vincula o ler ao roubar, isto é, o leitor tem a possibilidade
de tirar do texto sentidos que estavam ocultos, o leitor cria até significados
que, em princípio, não tinha autorização para construir. Nesta última
acepção, o sentido nasce das vontades do leitor - o autor escreve o texto,
mas quem lhe confere vida é o leitor.

A leitura se apresenta em quatro passos:


 A visualização - um processo descontínuo, uma vez que o olhar/a vista não
desliza de forma contínua sobre as palavras.
 A fonação - a articulação oral, consciente ou inconsciente, através da qual a
informação passa da vista à fala.
 A audição - a informação passa para o ouvido
 Cerebração - a informação chega ao cérebro e culmina o processo de
compreensão.

1.1.1 LEITURA: BREVE CONCEITUAÇÃO

Ao falarmos de leitura, nos referimos à compreensão de textos


escritos, entretanto, esta compreensão implica outros aspectos. Kleiman (1999, p.9)
enfatiza que a leitura é um ato complexo que envolve diversos processos cognitivos
com o objetivo de construir o sentido do texto, e portanto, percebemos que esta
ação não se restringe somente à capacidade de decodificar palavras. Como já foi
considerada, mais uma maneira de receber uma mensagem.
Bamberger ainda destaca que:

o processo de transformar símbolos gráficos em conceitos intelectuais


exige grande atividade do cérebro; durante o processo de armazenagem
da leitura coloca-se em funcionamento um número infinito de células
cerebrais. (BAMBERGER,1995, p.10).

Por isso esse processo não deve ser visto como apenas um processo cognitivo, mas
também de linguagem e uma eficaz maneira de aprendizagem.
O ato de ler leva a elaboração de significados então é nesse ato que
um texto concretiza seu significado. Por muito tempo vinculou-se a leitura a
capacidade do leitor descobrir verdades que estavam no texto de forma implícita ou
explicita. É Sartre fundamentado no estudioso Heidegger (1997) que confere ao
leitor a função de um agente construtor de sentidos. O leitor assume papel
importante no ato de leitura, ele evolui assim como a história que lê; ele passa a
construir a história e não somente a desvenda ou constata.
E com isso Aebersold e Field (apud FARREL, 2003, p. III) irá
concordar quando nos diz que “leitura é o que acontece quando as pessoas olham
um texto e atribuem significado aos símbolos escritos naquele texto”, a leitura não se
restringe a decodificar esses símbolos, é na verdade um processo interativo entre o
leitor, o texto e o contexto.
Assim, se os alunos não forem devidamente monitorados e
incentivados a leitura não passará de mera decodificação feita de forma relapsa. O
primeiro resultado da leitura é o aumento de conhecimento geral ou específico. Ler
não é só receber. Ler é comparar as experiências próprias com as narradas pelo
escritor, comparar o próprio ponto de vista com o dele, recriando idéias e revendo
conceitos. É desse modo que uma leitura crítica pode evoluir e se tornar uma leitura
criativa.
É corroborando com essas ideias e por acreditar que a leitura se
refere as várias fases de desenvolvimento que Bamberger a define como:

Um processo perceptivo durante o qual se reconhecem símbolos. Em


seguida, ocorre a transferência para conceitos intelectuais. Essa tarefa mental
se amplia num processo reflexivo à proporção que as idéias se ligam em
unidades de pensamento cada vez maiores. O processo mental, no entanto,
não consiste apenas na compreensão das idéias percebidas, mas também na
sua interpretação e avaliação. Para todas as finalidades práticas, tais
processos não podem separar-se um do outro; fundem-se no ato da leitura.
(BAMBERGER,1995, p. 23).

Isso nos permite ver o ato leitura como ampliador da percepção. Ler é ser motivado
a observar os aspectos da vida que antes nos passavam despercebidos. A leitura é
um caminho promissor capaz de transformar a realidade de modo que não mais se
tenha lugar para a ignorância e o conformismo. Para tanto é necessário começar
com as crianças, pois elas são a promessa de uma sociedade futura melhor e
crítica.
É a leitura também que proporcionará o vencimento de
algumas dificuldades educacionais, uma vez que ela gera desenvolvimento do
exercício intelectual. Desse modo, ainda que se fale em desinteresse ou até
abandono da pratica de leitura, o livro atualmente não pode ser considerado com
menos importância do que no passado. Mesmo diante do avanço tecnológico, e
ainda com as conseqüências dele dificilmente os livros perderão seu espaço, já que
são eles que guardam muitas vezes os conhecimentos que são passados de
geração para geração. E pensando no futuro há quem defenda que a tarefa futurista
seja desenvolver uma educação permanente, na qual aperfeiçoada o individuo
possa se auto-educar permanentemente. Nessa educação os livros terão

Primeiro a necessidade de satisfazer os interesses, necessidades e


aspirações individuais através da seleção individual do material de leitura.
Todo ser humano pode ser ajudado pelos livros a se desenvolver á sua
maneira, pode aumentar sua capacidade crítica e aprender a fazer escolha
entre a massa da produção geral dos meios de comunicação.
(BAMBERGER,1995, p12).

Mas como o futuro é reflexo do presente é necessário que os


professores de agora assumam sua responsabilidade de ser um dos principais
responsáveis pelo despertar nos seus alunos o gosto e o direcionamento da leitura,
para que assim no futuro eles saibam fazer suas escolhas e possam agir de forma
autônoma quanto a sua prática leitora.
Os estudos desenvolvidos sobre leitura levam-nos a identificar três
níveis de leitura em um texto, sendo que estes níveis se diferenciarão um do outro
pelo grau de abstração. O primeiro é o dos significados mais complexos e concretos;
o segundo se relaciona a definição de valores estabelecidos através da leitura já o
terceiro nível corresponde aos significados mais simples e abstratos que o leitor
pode perceber ao ler.
Além desses níveis a leitura ainda aprestará diferentes
classificações e estas podem variar de acordo com o escritor. Walty (1995) fala em:
leitura funcional, na qual ler é considerado um ato interativo. E a leitura se faz em
diferentes momentos e obedecendo os diferentes níveis.
A leitura funcional ou operacional corresponderia a primeira
leitura que se realiza, seu intuito é, por exemplo, a busca do conhecimento em livros
didáticos, enciclopédias, revistas científicas, etc. Perini (1991) apud Walty (1995)
destaca que em torno dela que deve girar toda escola. Isso considerando que a
realidade vivida por muitos professores e alunos é a que o livro didático é o único ou
o principal livro por eles utilizado.
Outro tipo apresentado é a leitura crítica. Esta busca desvelar o
texto, lendo-o nas entrelinhas. Graça Paulino apud Walty (1995) a denomina de
leitura informativa ou de opinião e como exemplo dela cita o texto jornalístico. “ A
leitura crítica pode desmanchar a proposta do autor, revelando-nos os não ditos
latentes na própria construção textual”.(WALTY, 1995, p. 22).
Por último a autora cita a leitura literária, essa apresenta várias
possibilidades. ”Cada um projeta no texto, lido pela leitura, seus anseios, suas
angustias, suas pulsões e desejo”. (WALTY, 1995, p. 22). Com o estabelecimento
dessa classificação de leitura, podemos inferir como é amplo o campo de trabalho
de um professor que se proponha a desenvolver em seus alunos o gosto por ela.

1.1.1.1 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA SOCIEDADE E PARA O INDIVÍDUO

A leitura representa um dos pilares do processo ensino -


aprendizagem, já que é através dela que conhecimentos específicos são adquiridos.
A leitura é fundamental para o desenvolvimento intelectual do ser humano, uma
leitura de qualidade representa a oportunidade de ampliar a consciência e a visão do
mundo. Paulo Freire nos diz que a leitura do mundo precede sempre a leitura da
palavra.
O ato de ler se veio dando na sua experiência existencial. Primeiro,
a “leitura” do mundo do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da
palavra que nem sempre, ao longo da sua escolarização, foi a leitura da “palavra
mundo”. Na verdade, aquele mundo especial se dava a ele como o mundo de sua
atividade perspectiva, por isso mesmo como o mundo de suas primeiras leituras.
Antigamente, antes de ser inventada a imprensa, a leitura era
privilegio que poucos podiam ter e ainda após o Século do Humanismo, uma
pequena parte da elite culta é que tinha a ela acesso. Podemos observar que a
prática da leitura se relaciona as necessidades não só da sociedade, uma vez que é
através de um trabalho bem elaborado com a leitura que, por exemplo, a escola
consegue realizar um de seus objetivos que é formar cidadãos críticos,como propõe
os novos Parâmetros Curriculares 1997, assim ela está intrinsecamente relacionada
também ao indivíduo. Então “o direito de ler significa igualmente o de desenvolver as
potencialidades intelectuais e espirituais, o de aprender e progredir”
(BAMBERGER,1995, p.9).
Através do hábito da leitura, é possível acreditar que a sociedade se
transforme e alcance o patamar de uma sociedade composta de leitores
conscientes, de bons escritores, de cidadão críticos, de pessoas capazes de buscar
sozinhas ainda mais conhecimentos. Por isso, a preocupação com as crianças, que
devem encontrar nos livros encantamento, liberdade, harmonia, pois assim será
possível pensar em uma sociedade constituída de bons leitores, por conseguinte,
excelentes escritores.
O escritor Monteiro Lobato destacou: “Um país se faz com homens e
livros”, ressaltando quão importante é a leitura para o indivíduo e sua sociedade. Em
corroboração Kerschensteiner apud Bamberger (1995, p. 33) salienta que “A
educação do individuo só é possível através dos bens culturais cuja estrutura
intelectual se ajusta plena ou parcialmente a estrutura do nível de desenvolvimento
intelectual do indivíduo”. E, na visão desses autores a leitura tem um papel
fundamental na formação cultural e intelectual do indivíduo.

CAPÍTULO 2 – A LEITURA E SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DE LEITORES


CRÍTICOS

2.1 O ENSINO DA LEITURA

O escritor Rubem Alves (2002, p.45) afirma que ensinar “é uma tarefa
mágica, capaz de mudar a cabeça de pessoas, bem diferente de dar aulas”. Isso nos
leva a pensar na diferenciação que se tem feito entre a leitura que se preocupa
primordialmente com a decodificação de signos e a leitura que forma, que permite
ao leitor criar novos sentidos.
Um dos desafios da escola é levar seu aluno ao aprendizado da leitura, o que
percebemos muitas vezes nas escolas é a permanência da postura que prioriza a
alfabetização e assim perde-se a noção de escrita salientada por Foucambert
(1994,1995) como aquela que permite a elaboração de pontos de vista e de uma
visão de mundo, atribuindo a esse mundo sentido. Enquanto á leitura caberia o ir em
busca desse ponto de vista, verificando, questionando e investigando os meios
usados em sua elaboração.
Desse modo a leitura é compreendida não apenas como atividade social, mas
que também leva a reflexão que em conjunto a escrita gera uma relação criativa e
crítica. E em consonância a esse pensamento acreditamos que assim como outras
habilidades, só se aprenda ler, lendo. Ou seja, com a prática, em contato com os
mais variados tipos de textos. Foucambert corrobora com o pensamento de que
saber ler não se confunde com saber decodificar signos gráficos, mas que leve o
individuo a ler considerando os sentidos presentes mesmo na etimologia da palavra
ler, de origem latina legere, apresentados por Walty (1995). Os sentidos que podem
ser dados são o de primeiramente, ler significar contar, enumerar letras, o que se
relacionaria a decodificação; em seguida significaria colher, seria a percepção de um
sentido para o que se ler e por último, roubar, aqui o leitor não se limitaria ao que o
autor escreve, mas construiria novos sentidos a partir do que o próprio autor fornece.
“Ler não é, pois, traduzir, repetir sentidos dados como prontos, é construir uma
cadeia de sentido a partir dos índices do texto dado” (WALTY, 1995, p.19).
Com isso podemos voltar a discussão sobre a leitura ir além da
decodificação, mas sobre isso é relevante ressaltar o que diz Solé (1998, p.52) “ler
não é decodificar, mas para ler é preciso saber decodificar”, o ensino do código
então, deve ser feito para criança de modo a basear-se em contextos que a leve a
significação, condizente com sua realidade e especificidade e não de forma
descontextualizada.
É ainda a autora Solé (1998) que apresentará uma estratégia de ensino de
leitura para crianças, que as incluem no processo de aprendizado que é construído
por elas em etapas: 1) antes: predições iniciais sobre o texto e objetivos de leitura;
2) durante: levantamento de questões e controle da compreensão; 3) depois:
construção da idéia principal e resumo textual. Assim a criança constrói em conjunto
com o professor o aprendizado e este deve procurar incentivá-lo e desenvolver nela
o hábito da leitura.
A leitura deve ser apresentada como um processo de construção de sentidos,
“ler e escrever são atos que se inserem num processo cultural” (WALTY, 1995,
p.19). Portanto deve ser trabalhado de maneira contextualizado com os aspectos
sociais, o que torna necessário que a criança tenha um orientador da atividade de
leitura, um adulto-leitor que a possa conduzir, papel desempenhado na escola pelo
seu professor.
É pensando nessas especificidades do ensino de leitura que Staiger apud
Bamberger (1995) salienta que para um ensino eficaz, deve-se estipular objetivos a
serem alcançados e cita quatro como exemplo, os quais são:

a) Incentivo ao pleno uso das potencialidades do individuo em sua


leitura de modo a influir ao máximo no seu bem-estar e levá-lo à sua
auto-realização.
b) Emprego eficiente da leitura como um instrumento de aprendizado e
critica e também de relaxamento e diversão.
c) Ampliação constante dos interesses da leitura dos estudantes.
d) Estímulo a atitudes que levem a um interesse permanente de
muitos gêneros e para inúmeros fins. (BAMBERGER, 1995, p.24)

Com isso podemos notar que o ensino de leitura não deve ser realizado de
forma coercitiva, mas pelo contrário dando ao aluno estímulos agradáveis para
desenvolver seu gosto literário.
É importante também para uma maior eficácia no ensino de leitura que a
escola tenha uma biblioteca que supra e atenda as necessidades dos professores e
alunos. Uma vez que dificilmente temos como comprar todos os livros pelos quais
nos interessamos e ainda pelo fato de muitas vezes o aluno não contar com livros
em sua casa. Assim é relevante que se trabalhe com o aluno o costume de utilizar a
biblioteca escolar e também a pública quando sua cidade possuir. E essas
bibliotecas precisam ter funcionários também capacitados a orientar o aluno em sua
busca ou pesquisa. Uma vez que uma das principais tarefas da biblioteca “é
complementar o ensino e proporcionar oportunidades para o uso de livros de
consulta e não-ficção”. (Bamberger, 1995, p.77).
Uma biblioteca bem equipada pode ser decisiva nos resultados do ensino
com a leitura, pois se “não oferece escolha suficiente as crianças têm de pegar o
que encontram, e, quando o livro não se ajusta aos seus interesses, sentem-se
decepcionadas” (Bamberger, 1995, p.78). Isso acarretará em prejuízo para trabalho,
pois ao invés de desenvolver o hábito de leitura, ela poderá criar aversão ao mesmo.
Por isso o acervo de uma biblioteca deve ser constituído com diversidade de temas
e também com numero que corresponda à demanda de alunos da escola.

2.2 O PAPEL DO PROFESSOR E DAS ESTRATÉGIAS NO ENSINO DE LEITURA

Se observarmos o que dizem sobre leitura percebemos que a maioria das


pessoas concorda que a leitura é fundamental para a aquisição de conhecimentos e
formação afetiva. Mas em contradição a esse pensamento está muitas vezes a
atitude de alguns que apesar de pensarem dessa forma, não são exemplo de
leitores. Entre esses as vezes encontramos até professores, que para o aluno são
os principais exemplos a ser seguido. Mas para realmente ser um incentivador, o
professor precisa se envolver com a leitura, se inteirar por exemplo sobre os
processos cognitivos e relacionar os conhecimentos teóricos sobre o assunto a
realidade vivida em seu ambiente de trabalho, ou seja buscar estratégias
pedagógicas que correspondam as necessidades apresentadas por seus alunos.
Ainda falando sobre o papel do professor no trabalho com a leitura Cramer e
Claster (2001) destaca que se esse profissional assume uma postura positiva diante
a leitura, isso colaborará para o desenvolvimento desta habilidade nos seus alunos
de forma que eles não só a praticarão enquanto estiverem na escola, mas ainda
depois, quando se formarem continuaram a desempenhar tal hábito.
O trabalho então deve ser visto como uma forma a mais de interação entre
professor e aluno, em que a atitude de um poderá influenciar na atitude do outro, ou
seja, o professor poderá mudar comportamentos do aluno e desperta-lo como leitor
Esta perspectiva que confere ao professor a responsabilidade de ser exemplo
para seu aluno-leitor tem apoio em Dwyer e Dwyer (2001), conferindo ao professor a
missão de ser modelo de adulto leitor, uma vez que em muitos casos as crianças
não encontram esse modelo em suas casas.

Geralmente a leitura do leitor maduro é mais abrangente do que a do imaturo.


(...) se a relação do professor com o texto não tiver um significado, se ele não
for um bom leitor, são grandes as chances de que ele seja um mau professor.
O primeiro requisito, portanto, para que o contato aluno/texto seja menos
doloroso é o que o mestre não seja um mau leitor. Que goste de ler e aplique
a leitura. ( LAJOLO, 1998, p. 53-54).
Assim, o trabalho desenvolvido pelo professor não pode ser algo imposto a
seus alunos, mas deve ser feito buscando a interação entre eles. Percebemos que o
habito de leitura do professor podem influenciar muito seus alunos, assim se o
professor se apresenta como leitor provavelmente será mais fácil trabalhar a leitura
com seu aluno.
Aprender a explicar um texto “para aprender” não é aprender, exceto para fins
escolares, pois existem tantas maneiras de explicar ou interpretar um texto
quantas perspectivas gramaticais. Se esse aprendizado não for associado a
uma ou mais práticas sociais, suscetível de ter um sentido para os alunos
será rapidamente esquecido, considerando como um dos obstáculos a serem
vencidos para conseguir um diploma e não côo uma competência a ser
assimilada para dominar situações da vida. (PERRENOUD, 1999, p.45).

Dessa maneira a leitura deve ser trabalhada levando em


consideração sua primeira característica, de ser algo prazeroso e não imposto ao
aluno como mais um mecanismo para avaliá-lo; a nota não deve ser a principal
preocupação do aluno ao ler um livro ou texto.
É necessário ainda que o professor crie estratégias para
desenvolvimento desse trabalho, Solé (1998) define estratégias como “um conjunto
de ações voltadas para execução de uma meta”. E através delas o individuo pode
selecionar, avaliar, persistir ou mudar certas ações visando alcançar os objetivos
traçados.

As estratégias de leitura são capacidades cognitivas de ordem mais elevada


e intimamente ligadas à metacognição. Elas permitem uma atuação
inteligente e planejada da atividade de leitura, já que, enquanto ações
metacognitivas permitem conhecer sobre o próprio conhecimento. (SOLÉ,
1998, p.70).

O ensino das estratégias de leitura deve acontecer de modo que possam ser
relacionadas a outras situações, não deve ser feito de modo único, infalível. Mas de
modo a enfatizar a capacidade de cognição do aluno, por isso não é o bastante
conhecer diversas estratégias se não se sabe usá-las. Pois se bem trabalhado o
aluno atingirá com o tempo autonomia diante a leitura, como destaca Solé (1998,
p.76) “o bom ensino não é apenas o que se situa um pouco acima do nível atual do
aluno, mas que garante a interiorização do que foi ensinado e seu uso autônomo por
parte dele”.
Segundo Solé (1998) ainda, o ensino que utiliza estratégias de
leitura deve se pautar em três características. A primeira coloca professor e aluno
revezando de lugares na prática educativa, sendo os dois elementos indispensáveis
para o processo educativo. A segunda apresenta o professor como o orientador da
atividade, é ele o responsável por fazer a ponte entre os conhecimentos escolares e
as situações sociais. E a terceira traz a idéia de que o aluno possui capacidade de
resolver questões que ás vezes lhe são evitadas, sozinho, ainda que seja ele uma
criança.
Esse terceiro pressuposto refere-se ao grau de complexidade dos
textos e das atividades com textos. Não é aconselhável poupar os alunos de novos
desafios. À escola cabe ensinar novidades, aumentar o repertório do aluno com
exposição de maior diversidade de gêneros textuais. A dosagem e as exigências
serão planejadas considerando que a formação do leitor é um processo gradual.
Que quanto mais cedo começar, mais sentido fará para o aluno-leitor.
Com isso podemos observar que a intenção é incluir a criança nesse
processo, o ensino não deve ser realizado de forma mecânica ou pautado somente
em boas estratégias é importante que haja o envolvimento do aluno, aprendiz de
forma afetiva e não só cognitiva. Ao professor, cabe a função de facilitar o processo
de construção de conhecimentos que a leitura requer do aprendiz.
Ainda é importante ressaltar que Solé 1998 quer salientar que o
importante no ensino da leitura não está somente na “explicitação” de como se
trabalhará a leitura, mas também como é importante o papel do professor nessa
atividade.
Essas estratégias de leitura que permite que por meio dela produza-
se novos sentidos, mobilizam vários tipos de conhecimentos que temos
armazenados na memória. O processamento textual então, recorre a três sistemas
de conhecimento, são eles:
▪ Conhecimento lingüístico, que abarca o conhecimento gramatical e lexical
do individuo, compreende a organização do material lingüístico na superfície do
textual, que seria, por exemplo, os meios coesivos usados pelo individuo para
retomar um referente.
▪ Conhecimento enciclopédico ou de mundo, refere-se ao conhecimento geral
sobre o mundo, assim como os alusivos à vivências pessoais e eventos espacio-
temporalmente situados.
▪ Conhecimento interacional, este refere-se à forma de interação por meio da
linguagem e engloba outros conhecimentos, como:
- locucional: que permite que o leitor conheça os objetivos ou propósitos
pretendidos pelo produtor do texto, em uma dada situação interacional;
- Comunicacional: Diz respeito a quantidade de informações necessárias,
seleção da variante lingüística adequada á situação de interação e adequação do
gênero á situação comunicatica;
-Metacomunicativo: através dele o locutor certifica a compreensão do texto
por parte de seu ouvinte e consegue que ele aceite os objetivos com que produz o
que fala, para isso faz uso de várias ações lingüísticas como, sinais de articulação e
atividades de construção textual, a fim de obter a atenção do leitor;
- Supraestrutural: permite a identificação do texto como exemplares
adequados aos diversos eventos da vida social, diz respeito ao conhecimento de
gêneros e tipos textuais, bem como da ordenação textual em conexão com os
objetivos pretendidos.
O conjunto desses conhecimentos é determinado socioculturalmente e eles
são adquiridos conforme a vivência de circunstâncias que farão com que se haja de
uma maneira em particular em determinadas situações e atividades especificas.

2.3 A LEITURA CRÍTICA

Especificando a leitura crítica, Silva (1991, p. 79-80) afirma que “A


leitura crítica é condição para a educação libertadora, é condição para a verdadeira
ação cultural que deve ser implementada nas escolas”. A leitura é uma atividade que
pode contribuir para a formação do sujeito e também determina a sua condição de
atuante ou não no seu meio sócio-cultural. Por isso, é importante desenvolver um
trabalho que garanta ao aluno leitor, situações de aprendizagem voltadas para o
caráter libertador do ato de ler em que “o leitor se conscientiza de que o exercício de
sua consciência sobre o material escrito não visa o simples reter ou memorizar, mas
o compreender e o criticar”. Silva (idem, p. 80).
A construção do significado para o texto se dá através da
compreensão, tarefa que nada fácil quando tratamos da leitura de textos em sala de
aula. Para Foucambert (1994), o leitor é aquele que se sente comprometido com o
seu estar no mundo e com a sua transformação, bem como a transformação dos
outros e das coisas, ser leitor é compreender. Ainda em Silva (op. cit.), observa-se
que “o leitor crítico, movido por sua intencionalidade, desvela o significado
pretendido pelo autor (emissor), mas não permanece nesse nível – ele reage,
questiona, problematiza, aprecia com criticidade”.
A criticidade deve acompanhar o leitor e é ela que permite a este
compreender as entrelinhas do que está escrito, ou seja, faz com que a pessoa que
está lendo possa posicionar-se, discutindo com suas ideias e eliminando
suposições. De acordo Kuenzer (2002: 101), “Ler significa em primeiro lugar, ler
criticamente, o que quer dizer perder a ingenuidade diante do texto dos outros,
percebendo que atrás de cada texto há um sujeito, com uma prática histórica, uma
visão de mundo (um universo de valores), uma intenção”.
A leitura crítica constrói significados que permitem através do ato de
ler, que o leitor crie seu próprio texto com base no texto lido, concordando ou
discordando da idéia principal. E, isto diferencia da decodificação de sinais, com
reprodução mecânica de informações que por muito tempo foram consideradas
como interpretação textual, se transformando em prática habitual nas aulas de
Língua Portuguesa a cópia de fragmentos do texto, para servir de resposta aos
questionamentos feitos a respeito do que estava escrito.
Então, os alunos devem se monitorados e incentivados a leitura de
forma correta e responsável para que ela não se torne mera decodificação feita de
forma relapsa. O primeiro resultado da leitura é o aumento de conhecimento geral ou
específico. Ler não é só receber. Ler é comparar as experiências próprias com as
narradas pelo escritor, comparar o próprio ponto de vista com o dele, recriando
idéias e revendo conceitos.
Ler é ampliar a percepção. É ser motivado à observação de
aspectos da vida que antes nos passavam despercebidos. O os educadores e
autores que discutem a respeito da leitura pretendem é transformar a leitura em um
caminho promissor capaz de transformar a realidade de modo que não mais se
tenha lugar para a ignorância e o conformismo.

2.4 A FORMAÇÃO DO LEITOR CRÍTICO

A escola é o espaço destinado a formação de leitores, por isso a


necessidade da elaboração de um trabalho que contribua para a formação do leitor,
capaz de compreender e interpretar e escrever sobre o que leu ou, como Roland
Barthes (1992) diz, fazer do leitor não mais um consumidor, mas um produtor de
textos, à medida que preenche as lacunas existentes na obra lida, mergulhando na
ambiguidade dos textos, em busca dos significados mais profundos.

A leitura não deve ser entendida como um mero processo de


decodificação, pois ela envolve diversos aspectos que vão além de decodificar o
que está escrito. Por isso, a escola tem o papel de desenvolver um trabalho que
garanta ao aluno leitor, situações de aprendizagem nas quais “o leitor se
conscientiza de que o exercício de sua consciência sobre o material escrito não
visa o simples reter ou memorizar, mas o compreender e o criticar” Silva (1991, p.
80).

Construir significado para o texto é compreendê-lo, Soligo (1999, p. 53) afirma que:

a compreensão da leitura depende da relação entre os olhos e o cérebro,


processo que a longo tempo os estudiosos procuram entender. Nas últimas
três décadas houve um avanço significativo nessa direção, mas ainda não
se conseguiu desvendar a complexidade do ato de ler.

A tarefa de compreender o que sele não é fácil exige a adoção de


práticas que priorizem em vez de fórmulas decoradas, o entendimento e a
compreensão do que está sendo ensinado e fazer uso, do conhecimento
adquirido nas leituras na vida prática. Segundo Kuenzer (2002, p.101),

ler significa em primeiro lugar, ler criticamente, o que quer dizer


perder a ingenuidade diante do texto dos outros, percebendo que
atrás de cada texto há um sujeito, com uma prática histórica, uma
visão de mundo (um universo de valores), uma intenção.

A leitura crítica desvenda significados, então, ao ler, o leitor


torna-se capa de construir seu próprio texto com base no que foi lido,
concordando ou discordando com as ideias do autor. Por isso a leitura crítica se
difere da decodificação de sinais, pois não reproduz as informações lidas.
Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto.
É a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir
relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer
nele o tipo de leitura que o autor pretendia e, dono da própria vontade,
entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não
prevista. (Apud GERALDI, 1985:80)

Formar um leitor crítico é colaborar com o desenvolvimento de uma


prática de leitura que desperte e cultive o desejo de ler. Por isso há a necessidade
de uma prática pedagógica eficiente que dê suporte ao aluno no desenvolvimento
intelectual necessário para ler textos de baixa e alta complexidade praticando as
estratégias de leitura. Para Eco (2000, p. 31) “um texto é um universo aberto onde o
intérprete pode descobrir uma infinidade de conexões”. E dentro desse universo, ao
estabelecer as conexões com a sua realidade, o leitor vai construindo novas leituras
e interpretações que partiram de ideias de autores que ele leu.
Os professores devem ser estimulados a ensinar aos alunos que a
leitura é um veículo de aperfeiçoamento da sociedade, para que eles compreendam
o seu papel de agente transformador do mundo em que vivem. Para tanto a
capacitação, a continuidade de estudos e a atualização são de suma importância.
A leitura crítica faz parte da capacidade do professor, pois ao se tornar um leitor
crítico e praticar essa leitura ele se torna apto para ensinar seus alunos a também o
serem.
2. LEITURA

Ao falarmos de leitura, nos referimos à compreensão de textos escritos,


entretanto, esta compreensão implica outros aspectos. Kleiman (1999, p.9) enfatiza
que a leitura é um ato complexo que envolve diversos processos cognitivos com o
objetivo de construir o sentido do texto, e portanto, percebemos que esta ação não
se restringe somente à capacidade de decodificar palavras. Como já foi considerada,
mais uma maneira de receber uma mensagem.
Bamberger ainda destaca que:

”o processo de transformar símbolos gráficos em conceitos intelectuais


exige grande atividade do cérebro; durante o processo de armasenagem
da leitura coloca-se em funcionamento um número infinito de células
cerebrais.” (BAMBERGER,1995, p.10).

Por isso esse processo não deve ser visto como apenas um processso
cognitivo,mas também de linguagem e uma eficaz maneira de aprendizagem.
O ato de ler leva a elaboração de significados então é nesse ato que um
texto concretiza seu significado. Por muito tempo vinculou-se a leitura a capacidade
do leitor descobrir verdades que estavam no texto de forma implícita ou explicita. É
Sartre fundamentado no estudioso Heidegger(1997) que confere ao leitor a função
de um agente construtor de sentidos. O leitor assume papel importante no ato de
leitura, ele evolui assim como a história que lê ; ele passa a construir a história e não
somente a desvenda ou constata.
E com isso Aebersold e Field (apud FARREL, 2003, p. III) irá concordar
quando nos diz que “leitura é o que acontece quando as pessoas olham um texto e
atribuem significado aos símbolos escritos naquele texto”, a leitura não se restringe
a decodificar esses símbolos, é na verdade um processo interativo entre o leitor, o
texto e o contexto.
Assim, se os alunos não forem devidamente monitorados e incentivados a
leitura não passará de mera decodificação feita de forma relapsa. O primeiro
resultado da leitura é o aumento de conhecimento geral ou específico. Ler não é só
receber. Ler é comparar as experiências próprias com as narradas pelo escritor,
comparar o próprio ponto de vista com o dele, recriando idéias e revendo conceitos.
É desse modo que uma leitura crítica pode evoluir e se tornar uma leitura criativa.
É corroborando com isso e por acreditar que a leitura se refere as várias
fases de desenvolvimento que Bamberger a define como:
Um processo perceptivo durante o qual se reconhecem símbolos. Em
seguida, ocorre a transferência para conceitos intelectuais. Essa tarefa mental
se amplia num processo reflexivo à proporção que as idéias se ligam em
unidades de pensamento cada vez maiores. O processo mental, no entanto,
não consiste apenas na compreensão das idéias percebidas, mas também na
sua interpretação e avaliação. Para todas as finalidades práticas, tais
processos não podem separar-se um do outro; fundem-se no ato da leitura.
(BAMBERGER,1995, p. 23).

Isso nos permite ver o ato leitura como ampliador da percepção. Ler é ser
motivado à observação de aspectos da vida que antes nos passavam
despercebidos. A leitura é um caminho promissor capaz de transformar a realidade
de modo que não mais se tenha lugar para a ignorância e o conformismo. Para tanto
é necessário começar com as crianças, pois elas são a promessa de uma sociedade
futura melhor e crítica.
É a leitura também que proporcionará o vencimento de algumas
dificuldades educacionais, uma vez que ela gera desenvolvimento do exercício
intelectual. Desse modo, ainda que se fale em desinteresse ou até abandono da
pratica de leitura, o livro atualmente não pode ser considerado com menos
importância do que no passado. Mesmo diante do avanço tecnológico, e ainda como
conseqüência dele dificilmente os livros perderão seu espaço, já que são eles que
guardam muitas vezes os conhecimentos que são passados de geração para
geração. E pensando no futuro há quem defenda que a tarefa futurista seja
desenvolver uma educação permanente, na qual aperfeiçoada o individuo possa se
auto-educar permanentemente. Nessa educação os livros terão
Primeiro a necessidade de satisfazer os interesses, necessidades e
aspirações individuais através da seleção individual do material de leitura.
Todo ser humano pode ser ajudado pelos livros a se desenvolver á sua
maneira, pode aumentar sua capacidade crítica e aprender a fazer escolha
entre a massa da produção geral dos meios de comunicação.
(BAMBERGER,1995, p12)

Mas como o futuro é reflexo do presente é necessário que os professores de


agora assumam sua responsabilidade de ser um dos principais responsáveis pelo
despertar nos seus alunos o gosto e o direcionamento da leitura, para que assim no
futuro eles saibam fazer suas escolhas e possam agir de forma autônoma quanto a
sua prática leitora.
Os estudos desenvolvidos sobre leitura levam-nos a identificar três níveis de
leitura em um texto, sendo que estes níveis se diferenciarão um do outro pelo grau
de abstração. O primeiro é o dos significados mais complexos e concretos; o
segundo se relaciona a definição de valores estabelecidos através da leitura já o
terceiro nível corresponde aos significados mais simples e abstratos que o leitor
pode perceber ao ler.
Além desses níveis a leitura ainda aprestará diferentes classificações e estas
podem variar de acordo com o escritor. Walty (1995) fala em: leitura funcional, na
qual ler é considerado um ato interativo. E a leitura se faz diferentes momentos e
obedecendo os diferentes níveis.
A leitura funcional ou operacional, corresponderia a primeira leitura que se
realiza, seu intuito é por exemplo a busca do conhecimento em livros didáticos,
enciclopédias, revistas científicas, etc. Perini (1991) apud Walty (1995) destaca que
em torno dela que deve girar toda escola. Isso considerando que a realidade vivida
por muitos professores e alunos é a que o livro didático é o único ou o principal livro
por eles utilizado.
Outro tipo apresentado é a leitura crítica. Esta busca desvelar o texto, lendo-o
nas entrelinhas. Graça Paulino apud Walty (1995) a denomina de leitura informativa
ou de opinião e como exemplo dela cita o texto jornalístico. “ A leitura crítica pode
desmanchar a proposta do autor, revelando-nos os não ditos latentes na própria
construção textual”.(WALTY, 1995, p. 22).
Por último a autora cita a leitura literária, essa apresenta várias possibilidades.
”Cada um projeta no texto, lido pela leitura, seus anseios, suas angustias, suas
pulsões e desejo”. (WALTY, 1995, p. 22).
Com o estabelecimento dessa classificação de leitura, podemos inferir como é
amplo o campo de trabalho de um professor que se proponha a desenvolver em
seus alunos o gosto por ela.

2.1 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA SOCIEDADE E INDIVÍDUO

A leitura representa um dos pilares do processo ensino - aprendizagem, já


que é através dela que conhecimentos específicos são adquiridos. A leitura é
fundamental para o desenvolvimento intelectual do ser humano, uma leitura de
qualidade representa a oportunidade de ampliar a consciência e a visão do mundo.
Paulo Freire nos diz que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra. O
ato de ler se veio dando na sua experiência existencial. Primeiro, a “leitura” do
mundo do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra que nem
sempre, ao longo da sua escolarização, foi a leitura da “palavra mundo”. Na
verdade, aquele mundo especial se dava a ele como o mundo de sua atividade
perspectiva, por isso mesmo como o mundo de suas primeiras leituras.
Antigamente, antes de ser inventada a imprensa, a leitura era privilegio que
poucos podiam ter e ainda após o Século do Humanismo, uma pequena parte da
elite culta é que tinha a ela acesso. Podemos observar que a prática da leitura se
relaciona as necessidades não só da sociedade, uma vez que é através de um
trabalho bem elaborado com a leitura que por exemplo a escola consegue realizar
um de seus objetivos que é formar cidadãos críticos,como propõe os novos
Parâmetros Curriculares 1997, assim ela está intrinsecamente relacionada também
ao indivíduo. Então “o direito de ler significa igualmente o de desenvolver as
potencialidades intelectuais e espirituais, o de aprender e progredir”
(BAMBERGER,1995, p.9).
Através do hábito da leitura, é possível acreditar que a sociedade se
transforme e alcance o patamar de uma sociedade composta de leitores
conscientes, de bons escritores, de cidadão críticos, de pessoas capazes de buscar
sozinhas ainda mais conhecimentos. Por isso, a preocupação com as crianças, que
devem encontrar nos livros encantamento, liberdade, harmonia, pois assim será
possível pensar em uma sociedade constituída de bons leitores, por conseguinte,
excelentes escritores.
O escritor Monteiro Lobato destacou: “Um país se faz com homens e
livros”, ressaltando quão importante é a leitura para o indivíduo e sua sociedade. Em
corroboração Kerschensteiner apud Bamberger (1995, p. 33) salienta que “A
educação do individuo só é possível através dos bens culturais cuja estrutura
intelectual se ajusta plena ou parcialmente a estrutura do nível de desenvolvimento
intelectual do indivíduo”.

2.2 O ENSINO DA LEITURA

O escritor Rubem Alves (2002, p.45) afirma que ensinar “é uma tarefa
mágica, capaz de mudar a cabeça de pessoas, bem diferente de dar aulas”. Isso nos
leva a pensar na diferenciação que se tem feito entre a leitura que se preocupa
primordialmente com a decodificação de signos e a leitura que forma, que permite
ao leitor criar novos sentidos.
Um dos desafios da escola é levar seu aluno ao aprendizado da leitura, o que
percebemos muitas vezes nas escolas é a permanência da postura que prioriza a
alfabetização e assim perde-se a noção de escrita salientada por Foucambert
(1994,1995) como aquela que permite a elaboração de pontos de vista e de uma
visão de mundo, atribuindo a esse mundo sentido. Enquanto á leitura caberia o ir em
busca desse ponto de vista, verificando, questionando e investigando os meios
usados em sua elaboração.
Desse modo a leitura é compreendida não apenas como atividade social, mas
que também leva a reflexão que em conjunto a escrita gera uma relação criativa e
crítica. E em consonância a esse pensamento acreditamos que assim como outras
habilidades, só se aprenda ler, lendo. Ou seja, com a prática, em contato com os
mais variados tipos de textos. Foucambert corrobora com o pensamento de que
saber ler não se confunde com saber decodificar signos gráficos, mas que leve o
individuo a ler considerando os sentidos presentes mesmo na etimologia da palavra
ler, de origem latina legere, apresentados por Walty (1995). Os sentidos que podem
ser dados são o de primeiramente, ler significar contar, enumerar letras, o que se
relacionaria a decodificação; em seguida significaria colher, seria a percepção de um
sentido para o que se ler e por último, roubar, aqui o leitor não se limitaria ao que o
autor escreve, mas construiria novos sentidos a partir do que o próprio autor fornece.
“Ler não é, pois, traduzir, repetir sentidos dados como prontos, é construir uma
cadeia de sentido a partir dos índices do texto dado” (WALTY, 1995, p.19).
Com isso podemos voltar a discussão sobre a leitura ir além da
decodificação, mas sobre isso é relevante ressaltar o que diz Solé (1998, p.52) “ler
não é decodificar, mas para ler é preciso saber decodificar”, o ensino do código
então, deve ser feito para criança de modo a basear-se em contextos que a leve a
significação, condizente com sua realidade e especificidade e não de forma
descontextualizada.
É ainda a autora Solé (1998) que apresentará uma estratégia de ensino de
leitura para crianças, que as incluem no processo de aprendizado que é construído
por elas em etapas: 1) antes: predições iniciais sobre o texto e objetivos de leitura;
2) durante: levantamento de questões e controle da compreensão; 3) depois:
construção da idéia principal e resumo textual. Assim a criança constrói em conjunto
com o professor o aprendizado e este deve procurar incentivá-lo e desenvolver nela
o hábito da leitura.
A leitura deve ser apresentada como um processo de construção de sentidos,
“ler e escrever são atos que se inserem num processo cultural” (WALTY, 1995,
p.19). Portanto deve ser trabalhado de maneira contextualizado com os aspectos
sociais, o que torna necessário que a criança tenha um orientador da atividade de
leitura, um adulto-leitor que a possa conduzir, papel desempenhado na escola pelo
seu professor.
É pensando nessas especificidades do ensino de leitura que Staiger apud
Bamberger (1995) salienta que para um ensino eficaz, deve-se estipular objetivos a
serem alcançados e cita quatro como exemplo, os quais são:
a) Incentivo ao pleno uso das potencialidades do individuo em sua leitura de
modo a influir ao máximo no seu bem-estar e levá-lo à sua auto-realização.
b) Emprego eficiente da leitura como um instrumento de aprendizado e critica
e também de relaxamento e diversão.
c) Ampliação constante dos interesses da leitura dos estudantes.
d) Estímulo a atitudes que levem a um interesse permanente de muitos
gêneros e para inúmeros fins. (BAMBERGER, 1995, p.24)
Com isso podemos notar que o ensino de leitura não deve ser realizado de
forma coercitiva, mas pelo contrário dando ao aluno estímulos agradáveis para
desenvolver seu gosto literário.
É importante também para uma maior eficácia no ensino de leitura que a
escola tenha uma biblioteca que supra e atenda as necessidades dos professores e
alunos. Uma vez que dificilmente temos como comprar todos os livros pelos quais
nos interessamos e ainda pelo fato de muitas vezes o aluno não contar com livros
em sua casa. Assim é relevante que se trabalhe com o aluno o costume de utilizar a
biblioteca escolar e também a pública quando sua cidade possuir. E essas
bibliotecas precisam ter funcionários também capacitados a orientar o aluno em sua
busca ou pesquisa. Uma vez que uma das principais tarefas da biblioteca “é
complementar o ensino e proporcionar oportunidades para o uso de livros de
consulta e não-ficção”. (Bamberger, 1995, p.77).
Uma biblioteca bem equipada pode ser decisiva nos resultados do ensino
com a leitura, pois se “não oferece escolha suficiente as crianças têm de pegar o
que encontram, e, quando o livro não se ajusta aos seus interesses, sentem-se
decepcionadas” (Bamberger, 1995, p.78). Isso acarretará em prejuízo para trabalho,
pois ao invés de desenvolver o hábito de leitura, ela poderá criar aversão ao mesmo.
Por isso o acervo de uma biblioteca deve ser constituído com diversidade de temas
e também com numero que corresponda à demanda de alunos da escola.

2.3 O PAPEL DO PROFESSOR E ESTRATÉGIAS NO ENSINO DE LEITURA

Se observarmos o que dizem sobre leitura percebemos que a maioria das


pessoas concorda que a leitura é fundamental para a aquisição de conhecimentos e
formação afetiva. Mas em contradição a esse pensamento está muitas vezes a
atitude de alguns que apesar de pensarem dessa forma, não são exemplo de
leitores. Entre esses às vezes encontramos até professores, que para o aluno são
os principais exemplos a ser seguido. Mas para realmente ser um incentivador, o
professor precisa se envolver com a leitura, se inteirar por exemplo sobre os
processos cognitivos e relacionar os conhecimentos teóricos sobre o assunto a
realidade vivida em seu ambiente de trabalho, ou seja buscar estratégias
pedagógicas que correspondam as necessidades apresentadas por seus alunos.
Ainda falando sobre o papel do professor no trabalho com a leitura Cramer e
Claster (2001) destaca que se esse profissional assume uma postura positiva diante
a leitura, isso colaborará para o desenvolvimento desta habilidade nos seus alunos
de forma que eles não só a praticarão enquanto estiverem na escola, mas ainda
depois, quando se formarem continuaram a desempenhar tal hábito.
O trabalho então deve ser visto como uma forma a mais de interação entre
professor e aluno, em que a atitude de um poderá influenciar na atitude do outro, ou
seja, o professor poderá mudar comportamentos do aluno e desperta-lo como leitor
Esta perspectiva que confere ao professor a responsabilidade de ser exemplo
para seu aluno-leitor tem apoio em Dwyer e Dwyer (2001), conferindo ao professor a
missão de ser modelo de adulto leitor, uma vez que em muitos casos as crianças
não encontram esse modelo em suas casas.
Geralmente a leitura do leitor maduro é mais abrangente do que a do imaturo.
(...) se a relação do professor com o texto não tiver um significado, se ele não
for um bom leitor, são grandes as chances de que ele seja um mau professor.
O primeiro requisito, portanto, para que o contato aluno/texto seja menos
doloroso é o que o mestre não seja um mau leitor. Que goste de ler e aplique
a leitura. ( LAJOLO, 1998, p. 53-54).
Assim, o trabalho desenvolvido pelo professor não pode ser algo imposto a
seus alunos, mas deve ser feito buscando a interação entre eles. Percebemos que o
habito de leitura do professor podem influenciar muito seus alunos, assim se o
professor se apresenta como leitor provavelmente será mais fácil trabalhar a leitura
com seu aluno.
Aprender a explicar um texto “para aprender” não é aprender, exceto para fins
escolares, pois existem tantas maneiras de explicar ou interpretar um texto
quantas perspectivas gramaticais. Se esse aprendizado não for associado a
uma ou mais práticas sociais, suscetível de ter um sentido para os alunos
será rapidamente esquecido, considerando como um dos obstáculos a serem
vencidos para conseguir um diploma e não côo uma competência a ser
assimilada para dominar situações da vida. (PERRENOUD, 1999, p.45).

Dessa maneira a leitura deve ser trabalhada levando em consideração sua


primeira característica, de ser algo prazeroso e não imposto ao aluno como mais um
mecanismo para avaliá-lo; a nota não deve ser a principal preocupação do aluno ao
ler um livro ou texto.
É necessário ainda que o professor crie estratégias para desenvolvimento
desse trabalho, Solé (1998) define estratégias como “um conjunto de ações voltadas
para execução de uma meta”. E através delas o individuo pode selecionar, avaliar,
persistir ou mudar certas ações visando alcançar os objetivos traçados.

As estratégias de leitura são capacidades cognitivas de ordem mais elevada


e intimamente ligadas à metacognição. Elas permitem uma atuação
inteligente e planejada da atividade de leitura, já que, enquanto ações
metacognitivas permitem conhecer sobre o próprio conhecimento. (SOLÉ,
1998, p.70).

O ensino das estratégias de leitura deve acontecer de modo que possam ser
relacionadas a outras situações, não deve ser feito de modo único, infalível. Mas de
modo a enfatizar a capacidade de cognição do aluno, por isso não é o bastante
conhecer diversas estratégias se não se sabe usá-las. Pois se bem trabalhado o
aluno atingirá com o tempo autonomia diante a leitura, como destaca Solé (1998,
p.76) “o bom ensino não é apenas o que se situa um pouco acima do nível atual do
aluno, mas que garante a interiorização do que foi ensinado e seu uso autônomo por
parte dele”.
Segundo Solé (1998) ainda, o ensino que utiliza estratégias de leitura deve se
pautar em três características. A primeira coloca professor e aluno revezando de
lugares na prática educativa, sendo os dois elementos indispensáveis para o
processo educativo. A segunda apresenta o professor como o orientador da
atividade, é ele o responsável por fazer a ponte entre os conhecimentos escolares e
as situações sociais. E a terceira traz a idéia de que o aluno possui capacidade de
resolver questões que ás vezes lhe são evitadas, sozinho, ainda que seja ele uma
criança.
Esse terceiro pressuposto refere-se ao grau de complexidade dos textos e das
atividades com textos. Não é aconselhável poupar os alunos de novos desafios. À
escola cabe ensinar novidades, aumentar o repertório do aluno com exposição de
maior diversidade de gêneros textuais. A dosagem e as exigências serão planejadas
considerando que a formação do leitor é um processo gradual. Que quanto mais
cedo começar, mais sentido fará para o aluno-leitor.
Com isso podemos observar que a intenção é incluir a criança nesse
processo, o ensino não deve ser realizado de forma mecânica ou pautado somente
em boas estratégias é importante que haja o envolvimento do aluno, aprendiz de
forma afetiva e não só cognitiva. Ao professor, cabe a função de facilitar o processo
de construção de conhecimentos que a leitura requer do aprendiz.
Ainda é importante ressaltar que Solé quer salientar que o importante no
ensino da leitura não está somente na “explicitação” de como se trabalhará a leitura,
mas também como é importante o papel do professor nessa atividade.
Essas estratégias de leitura que permite que por meio dela produza-se novos
sentidos, mobilizam vários tipos de conhecimentos que temos armazenados na
memória. O processamento textual então, recorre a três sistemas de conhecimento,
são eles:
▪ Conhecimento lingüístico, que abarca o conhecimento gramatical e lexical
do individuo, compreende a organização do material lingüístico na superfície do
textual, que seria por exemplo os meios coesivos usados pelo individuo para retomar
um referente.
▪ Conhecimento enciclopédico ou de mundo, refere-se ao conhecimento geral
sobre o mundo, assim como os alusivos à vivências pessoais e eventos espacio-
temporalmente situados.
▪ Conhecimento interacional, este refere-se à forma de interação por meio da
linguagem e engloba outros conhecimentos, como:
- Ilocucional: que permite que o leitor conheça os objetivos ou propósitos
pretendidos pelo produtor do texto, em uma dada situação interacional;
- Comunicacional: Diz respeito a quantidade de informações necessárias,
seleção da variante lingüística adequada á situação de interação e adequação do
gênero á situação comunicatica;
-Metacomunicativo: através dele o locutor certifica a compreensão do texto
por parte de seu ouvinte e consegue que ele aceite os objetivos com que produz o
que fala, para isso faz uso de várias ações lingüísticas como, sinais de articulação e
atividades de construção textual, a fim de obter a atenção do leitor;
- Supraestrutural: permite a identificação do texto como exemplares
adequados aos diversos eventos da vida social, diz respeito ao conhecimento de
gêneros e tipos textuais, bem como da ordenação textual em conexão com os
objetivos pretendidos.
O conjunto desses conhecimentos é determinado socioculturalmente e eles
são adquiridos conforme a vivência de circunstâncias que farão com que se haja de
uma maneira em particular em determinadas situações e atividades especificas.

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