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2. Variação histórica ou diacrônica: As variações históricas tratam das mudanças ocorridas na língua com o
decorrer do tempo. Algumas expressões deixaram de existir, outras novas surgiram e outras se transformaram com a
ação do tempo. Um clássico exemplo da língua portuguesa é o termo “você”: no português arcaico, a forma usual desse
pronome de tratamento era “vossa mercê”, que, devido a variações inicialmente sociais, passou a ser mais usado
frequentemente como “vosmecê”. Com o passar dos séculos, essa expressão reduziu-se ao que hoje falamos como
“você”, que é a forma incorporada pela norma-padrão (visto que a língua adapta-se ao uso de seus falantes) e aceita
pelas regras gramaticais. Em contextos informais, é comum ainda o uso da abreviação “cê” ou, na escrita informal, “vc”
(lembrando que estas últimas formas não foram incorporadas pela norma-padrão, então não são utilizadas na
linguagem formal).
Vossa mercê → Vosmecê → Você → Cê
Outras mudanças comuns são as de grafia, as quais as reformas ortográficas costumam regular. Assim, a partir de
2016, a palavra “consequência” passou a ser escrita sem trema, sendo que antes era escrita desta forma:
“conseqüência”. Do mesmo modo, a palavra “fase” é hoje escrita com a letra f devido à reforma ortográfica de 1911,
sendo que antes era escrita com ph: “phase”.
Conseqüência → Consequência Phase → Fase
Vale, ainda, comentar a respeito de palavras que deixam de existir ou passam a existir. Isso acontece
frequentemente com as gírias: se antes jovens costumavam dizer que algo era “supimpa” ou que “aquele broto é um
pão”, hoje é mais comum ouvir deles que algo é “da hora” ou que “aquela mina é mó gata”.
Ela ocorre com o desenvolvimento da história, tal como o português medieval e o atual.
Exemplo de português arcaico
Linguagem Formal e Informal: Quanto aos níveis da fala, podemos considerar dois padrões de linguagem:
a linguagem formal e informal. Uma diferença importante é aquela entre linguagem formal e linguagem informal. A
situação em que nos encontramos define o tipo de linguagem que usaremos. Primeiro, pensemos no conceito
de norma-padrão: as convenções da língua criam regras gramaticais que buscam nortear seu uso, de modo que
falantes de uma mesma língua, apesar das variações existentes, consigam entender-se por um padrão comum a todos.
Assim, um jovem nascido no Acre conseguirá comunicar-se com uma senhora que viveu em Santa Catarina baseado
nas regras comuns da norma-padrão da língua portuguesa. Do mesmo modo, grandes veículos de comunicação,
como emissoras de TV ou mesmo youtubers, podem produzir mensagens que serão basicamente compreendidas por
qualquer falante do idioma utilizado.
Um contexto mais casual, como uma reunião com amigos ou um almoço em família, pede uma expressão coloquial.
Por mais respeito que haja entre você e sua família e amigos, você não utilizará palavras ou construções gramaticais
muito rebuscadas. Aqui, há mais liberdade na maneira de falar, por isso você utiliza uma linguagem informal, que
pode permitir o uso de gírias, de frases feitas ou interjeições, de abreviações, de desvios gramaticais (ou menor
preocupação em seguir a norma-padrão) etc. Já o contexto formal, como reuniões profissionais, discursos ou ambientes
acadêmicos, exige o uso da linguagem formal, aquela que se preocupa com a norma-padrão e suas regras
gramaticais, seguindo-as estritamente. Além disso, a fala torna-se polida e clara, e mesmo a escolha das palavras é
feita com maior cuidado. Certamente, quando falamos com pessoas próximas utilizamos a linguagem dita coloquial, ou
seja, aquela espontânea, dinâmica e despretensiosa. No entanto, de acordo com o contexto no qual estamos inseridos,
devemos seguir as regras e normas impostas pela gramática, seja quando elaboramos um texto (linguagem escrita) ou
organizamos nossa fala numa palestra (linguagem oral).
Em ambos os casos, utilizaremos a linguagem formal, que está de acordo com a normas gramaticais.
Observe que as variações linguísticas são expressas geralmente nos discursos orais. Quando produzimos um texto
escrito, seja em qual for o lugar do Brasil, seguimos as regras do mesmo idioma: a língua portuguesa.
Preconceito Linguístico: O preconceito linguístico está intimamente relacionado com as variações linguísticas, uma
vez que ele surge para julgar as manifestações linguísticas ditas "superiores". Tendo tantas variações e nuances,
pudemos ver que cada contexto social traz naturalmente um modo mais ou menos adequado de expressão, sendo
importante entender que as variações linguísticas existem para estabelecer uma comunicação adequada ao contexto pedido.
Apesar disso, as diversas maneiras de expressar-se ganham status de maior ou menor prestígio social baseado em
uma série de preconceitos sociais: as variações linguísticas ligadas a grupos de maior poder aquisitivo, com algum tipo
de status social, ou a regiões tidas como “desenvolvidas” tendem a ganhar maior destaque e preferência em relação
às variedades linguísticas ligadas a grupos de menor poder aquisitivo, marginalizados, que sofrem preconceitos ou que
são estigmatizados. Desenvolve-se, assim, o preconceito linguístico, que se baseia em um sistema de valores que
afirma que determinadas variedades linguísticas são “mais corretas” do que outras, gerando um juízo de valor negativo
ao modo de falar diferente daqueles que se configuram como os “melhores”. O preconceito linguístico nada mais é do
que a reprodução, no campo linguístico, de um sistema de valores sociais, econômicos e culturais.
No entanto, ao estudarmos as variações linguísticas, percebemos que não há uma única maneira de expressar-se e
que, portanto, não há apenas um modo certo. A língua e sua expressão variam de acordo com uma série de fatores.
Antes de tudo, ela deve cumprir seu papel de expressão, sendo compreendida pelos falantes e estando adequada aos
contextos e às expectativas no ato da fala. Dessa forma, o ideal do preconceito linguístico, que gera juízo de valor às
diferentes variações linguísticas, não deve ser alimentado.
As variações linguísticas são determinadas pelos mais variados fatores.
Para pensarmos neles não precisamos ir muito longe, pois em nosso país, embora o mesmo idioma seja falado em
todas as regiões, cada uma possui suas peculiaridades que envolvem diversos aspectos históricos e culturais.
Sendo assim, a maneira de falar do norte é muito diferente da falada no sul do país. Isso ocorre porque nos atos
comunicativos, os falantes da língua vão determinando expressões, sotaques e entonações de acordo com as
necessidades linguísticas.
De tal modo, o preconceito linguístico surge no tom de deboche, sendo a variação apontada de maneira pejorativa e
estigmatizada. Quem comete esse tipo de preconceito, geralmente tem a ideia de que sua maneira de falar é correta
e, ainda, superior à outra. Entretanto, devemos salientar que todas as variações são aceitas e nenhuma delas é
superior, ou considerada a mais correta.
Exercícios do Enem
1. (Enem/2014) leia o texto e responda:
Em Bom Português
No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é apanhada (aliás,
não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente
vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso.
Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim:
– Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saber dizer que viram um filme que trabalha muito bem. E irão ao
banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de
barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão
andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora
em vez de apresentar sua mulher. (SABINO, F. Folha de S. Paulo, 13 abr. 1984)
A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica essa característica da
língua, evidenciando que:
a) o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das antigas.
b) a utilização de inovações do léxico é percebida na comparação de gerações.
c) o emprego de palavras com sentidos diferentes caracteriza diversidade geográfica.
d) a pronúncia e o vocabulário são aspectos identificadores da classe social a que pertence o falante.
e) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas as regiões.
2. Faça a leitura do texto a seguir para responder esta pergunta: (Enem/2014)
Óia eu aqui de novo Óia eu aqui de novo
xaxando mostrando
Óia eu aqui de novo Como se deve xaxar.
pra xaxar Vem cá morena linda
Vou mostrar pr’esses Vestida de chita
cabras Você é a mais bonita
Que eu ainda dou no Desse meu lugar
couro Vai, chama Maria,
Isso é um desaforo chama Luzia
Que eu não posso Vai, chama Zabé,
levar chama Raque
Que eu aqui de novo Diz que tou aqui com
cantando alegria. (BARROS, A.
Que eu aqui de novo Óia eu aqui de novo. Disponível
xaxando em Acesso em 5 maio 2013)
A letra da canção de Antônio Barros manifesta aspectos do repertório linguístico e cultural do Brasil. O verso
que singulariza uma forma do falar popular regional é:
a) “Isso é um desaforo” b) “Diz que eu tou aqui com alegria” c) “Vou mostrar pr’esses cabras”
d) “Vai, chama Maria, chama Luzia” e) “Vem cá, morena linda, vestida de chita”
3. (Enem) leia o texto e responda:
“Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto” utilizado por gays e travestis
Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por travestis e ganhou a comunidade
“Nhaí, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu picumã!” Entendeu as palavras
dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e travestis.
Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado afirma: “É claro que eu não vou
falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma, com meus colegas de trabalho, eu falo de 'acué' o tempo
inteiro”, brinca. “A gente tem que ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá na
internet, tem até dicionário...”, comenta. O dicionário a que ele se refere é o Aurélia, a dicionária da língua afiada,
lançado no ano de 2006 e escrito pelo jornalista Angelo Vip e por Fred Libi. Na obra, há mais de 1300 verbetes revelando
o significado das palavras do pajubá. Não se sabe ao certo quando essa linguagem surgiu, mas sabe-se que há
claramente uma relação entre o pajubá e a cultura africana, numa costura iniciada ainda na época do Brasil colonial.
Disponível em: www.midiamax.com.br. Acesso em: 4 abr. 2017 (adaptado).
Da perspectiva do usuário, o pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio
linguístico, especialmente por:
a) ter mais de mil palavras conhecidas. b) ter palavras diferentes de uma linguagem secreta.
c) ser consolidado por objetos formais de registro. d) ser utilizado por advogados em situações formais.
e) ser comum em conversas no ambiente de trabalho.
4 – Leia e responda:(Fuvest)
Todas as variedades linguísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às
necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas de
valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das suas diversas modalidades regionais,
sociais e estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é
sempre a mais prestigiosa, porque atuam como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade. Do
valor normativo decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável força
contrária à variação. Celso Cunha. Nova gramática do português contemporâneo. Adaptado.
De acordo com o texto, em relação às demais variedades do idioma, a língua padrão comporta-se de modo
a) inovador. b) restritivo. c) transigente. d) neutro. e) aleatório.