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LINGUAGENS

Variedades linguísticas (revisão)

Ao pensar na diversidade dos grupos humanos e em sua ▶ Língua coloquial: variante espontânea, utilizada nas relações
constante transformação, é fácil perceber que a língua reflete informais entre os falantes, ou seja, língua do cotidiano, sem
e também ajuda a construir essa diversidade. Isso é percebível muita preocupação com as normas.
não apenas em relação a línguas diferentes, mas também no
interior de uma mesma língua. ▶ Língua culta: caracterizada pela correção gramatical,
ausência de termos regionais ou gírias, bem como pela riqueza
Lisboa: aventuras de vocabulário e frases bem elaboradas. Salvo raras exceções,
tomei um expresso é a linguagem dos livros, jornais, revistas e, é claro, a
cheguei de foguete linguagem que você deverá empregar em sua prova.
subi num bonde
desci de um elétrico Fala
pedi cafezinho Já a fala é a forma como alguém se comunica de maneira
serviram-me uma bica oral, fazendo uso da linguagem verbal. É bastante comum que
quis comprar meias ela seja afetada por costumes locais, vícios de linguagem
só vendiam peúgas relacionados ao ambiente que a pessoa frequenta e as pessoas
fui dar à descarga ao seu redor, ao tipo de linguagem que estas usam para se
disparei um autoclisma comunicar.
gritei «ó cara!» Todas as línguas do mundo variam, e cada um apresenta
responderam-me «ó pá!» diversas variedades linguísticas.
positivamente
as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá
José Paulo Paes. Do livro: "A poesia está morta mas juro
que não fui eu", Ed. Livraria Duas Cidades, 1988

O poema revela algumas particularidades no vocabulário


do português falado em Portugal e no Brasil. Entre os dois
países, e entre todos aqueles nos quais se fala a língua
portuguesa, também há diversas variações na pronúncia e nas
construções sintáticas.

Linguagem
Capacidade restrita aos seres humanos de expressar,
sensações, transmitir informações, opiniões ou mesmo
expressar sentimentos e desejos proporcionando a troca de
dados entre pessoas de diferentes tradições e localidades. A
Variação histórica: o tempo passa, a língua muda
linguagem em si define-se em dois tipos principais, são eles: a
A língua carrega muitas transformações ao longo do
linguagem verbal que se caracteriza de forma oral ou escrita
tempo. Diversas construções sofreram mudanças de som, de
com a utilização de códigos que servem para facilitar a
forma ou de significado. O léxico e os modos de dizer também
comunicação entre os homens. A outra é a linguagem não
se modificam constantemente. Essa variação é chamada
verbal que se define por símbolos ou sinais em forma de
variação histórica.
desenhos, figuras que servem como ponte para a comunicação
sem o uso de palavras.

Língua
Consiste num conjunto específico de códigos e palavras
diversas, usados sob regras e leis de combinação que na
verdade são o que permite que a mensagem seja passada de
maneira compreensível. É muito provável que o a mensagem
não seja compreendida totalmente ou parcialmente se tentar “Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram
ser passada de forma incomum às regras previamente todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos:
estabelecidas. completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas,

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mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando variedade padrão) e elevá-lo à categoria de "português
a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio." correto"
Carlos Drummond de Andrade Os estudos linguísticos demonstraram que aquela
variedade era uma idealização: não correspondia sequer aos
Variação regional: região e expressão usos linguísticos registrados nas grandes obras literárias, ao
Variação regional trata das diferentes formas de pronúncia, menos não de maneira uniforme. Além disso, o trabalho
vocabulário e estrutura sintática entre regiões. Dentro de uma literário tem propósitos muito específicos, distintos dos que
comunidade mais ampla, formam-se comunidades Linguísticas regem o uso corriqueiro da língua. Hoje há iniciativas de
menores em torno de centros polarizadores da cultura, descrição dos usos linguísticos dos falantes considerados
política e economia, que acabam por definir os padrões "cultos", segundo critérios definidos pelos pesquisadores (por
linguísticos utilizados na região de sua influência. As diferenças exemplo, nível de escolaridade, hábitos culturais, etc.). Esses
Linguísticas entre as regiões são graduais, nem sempre usos corresponderiam à efetiva "norma culta" da língua, mas
coincidindo com as fronteiras geográficas. também não representam um bloco uniforme, sendo mais
adequado referi-los no plural, como variedades urbanas de
Variação social: somos o que falamos prestígio.
Os falantes de uma mesma língua são homens e mulheres Adequar-se linguisticamente significa empregar a
de diferentes idades, classes socioeconômicas, níveis de variedade adequada a cada contexto de uso. Sendo as
escolarização e atividades profissionais. É natural que sua variedades urbanas de prestígio aquelas que dão acesso a boa
maneira de se expressar seja influenciada por esses diferentes parte das oportunidades profissionais e de participação na
contextos sociais. vida pública, é fundamental conhece-las e se apropriar delas.
As diferentes formas de falar contribuem para a construção Dado que nenhuma variedade linguística é superior a
da identidade dos diversos grupos humanos. Ou seja, por outra, o falante competente é aquele que consegue ser um
partilhar uma mesma variedade linguística, um conjunto de poliglota em sua própria língua, ou seja, que conhece muitas
pessoas se constitui como grupo e constrói uma identidade variedades linguísticas - inclusive as variedades urbanas de
coletiva. prestígio - e é capaz de escolher a mais adequada a cada
contexto ou situação de uso.
Variação situacional: língua para que te quero?
Não se usam as mesmas palavras ou expressões em uma Preconceito linguístico
entrevista de emprego, em uma situação de paquera ou para Entre as formas de intolerância e discriminação que ainda
falar com uma criança pequena, sob o risco de não ser precisam ser combatidas está o preconceito linguístico. Ele é
entendido, causar impressão negativa ou não alcançar o fruto de uma série de mitos linguísticos que se perpetuaram
objetivo pretendido. Um mesmo falante, portanto, usa em nossa sociedade, levando as pessoas a acreditar que
diferentes variedades linguísticas de acordo com a situação de existem formas superiores, mais corretas ou mais cultivadas
uso da língua. de falar e, por oposição, modos de falar errados, inferiores ou
até ridículos.
Norma-padrão, norma culta e adequação O valor social atribuído às variedades urbanas de prestígio
é inegável e é um direito de todo cidadão brasileiro ter acesso
a elas. No entanto, isso não significa que um falante deva ser
discriminado ou ridicularizado por fazer uso de uma variedade
não padrão.
A comunicação se dá das mais variadas formas, seja por
sinais, códigos linguísticos, escrita, por forma oral pela emissão
de sons comuns entre pessoas de um mesmo grupo.
Utilizamos da nossa língua, linguagem ou fala para passarmos
informação.

✎Tome nota!
Apontamentos sobre variações linguísticas
- A língua não é uniforme, pois apresenta variedades: cada
usuário fala de uma maneira diferente.
- Todas as línguas apresentam variações: inglês, francês,
Os membros das comunidades linguísticas naturalmente espanhol.
atribuem diferentes valores aos modos de falar. Do ponto de - A língua portuguesa surgiu de uma variedade do latim: o
vista estritamente linguístico, não há uma forma de falar que latim vulgar.
seja melhor ou pior do que outra, embora algumas sejam mais - A língua tem formas variáveis porque as sociedades são
adequadas a determinadas situações. Qualquer falante é divididas em grupos.
usuário competente de sua língua materna (aquela que ele - O uso de uma determinada variedade linguística serve para
aprendeu naturalmente, em sua comunidade linguística). marcar a inclusão do indivíduo em um determinado grupo:
Na tradição de ensino, os manuais de gramática processo identitário.
procuraram descrever esse modelo (vamos chamá-lo de

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- Existe um julgamento social sobre as variedades linguísticas / c) uso do verbo impessoal “ter” com sentido de “possuir” em:
preconceito linguístico. “Mas não é só aquilo. Tem outras coisas”.
- As variações ocorrem em todos os níveis da língua: fonético, d) emprego de ponto de exclamação, o qual deve
morfológico, sintático e lexical. obrigatoriamente sempre acompanhar vocativo, em : “Meu
- O conceito de erro linguístico deve ser substituído pelo de Deus! Não sei o que é que eu tenho".
adequação linguística.
- Todas as variantes linguísticas são corretas desde que Texto para as questões 2, 3:
consigam cumprir o papel fundamental de uma língua: a Já na segurança da calçada, e passando por um trecho em
interação verbal entre as pessoas. obras que atravanca nossos passos, lanço à queima-roupa:
- O bom usuário da língua é aquele que domina as diferentes — Você conhece alguma cidade mais feia do que São Paulo?
variantes do seu idioma e sabe usá-las apropriadamente. — Agora você me pegou, retruca, rindo. Hã, deixa eu ver...
- Na escrita, as variações linguísticas são usadas como parte do Lembro-me de La Paz, a capital da Bolívia, que me pareceu
processo de construção de uma identidade para o narrador ou bem feia. Dizem que Bogotá é muito feiosa também, mas não
para a personagem e como recurso de adequação da língua da a conheço. Bem, São Paulo, no geral, é feia, mas as pessoas
personagem à situação comunicativa. têm uma disposição para o trabalho aqui, uma vibração
- O autor deve usar coerentemente as variantes linguísticas empreendedora, que dá uma feição muito particular à cidade.
tendo em vista a verossimilhança do texto. Acordar cedo em São Paulo e ver as pessoas saindo para
trabalhar é algo que me toca. Acho emocionante ver a garra
dessa gente.
R. Moraes e R. Linsker. Estrangeiros em casa: uma caminhada
pela selva urbana de São Paulo. National Geographic Brasil.
Adaptado.

2. Ao reproduzir um diálogo, o texto incorpora marcas de


oralidade, tanto de ordem léxica, caso da palavra “garra”,
como de ordem gramatical, da mesma maneira que:
1. (...) Madame Clessi: Vou botar um samba. Esse aqui não é a) “lanço à queima-roupa”.
muito bom. Mas vai assim mesmo. (Samba surdinando) Está b) “Agora você me pegou”.
vendo como estou gorda, velha, cheia de varizes e de c) “deixa eu ver”.
dinheiro? d) “Bogotá é muito feiosa”.
Alaíde: Li o seu diário. e) “é algo que me toca”.
Madame Clessi (cética): Leu? Duvido! Onde?
Alaíde (afirmativa): Li, sim. Quero morrer agora mesmo, se não 3. No terceiro parágrafo do texto, a expressão que indica, de
é verdade! modo mais evidente, o distanciamento social do segundo
Madame Clessi: Então diga como é que começa. (Clessi fala de interlocutor em relação às pessoas a que se refere é
costas para Alaíde) a) “disposição para o trabalho”.
Alaíde (recordando): Quer ver? É assim... (Ligeira pausa) b) “vibração empreendedora”.
"Ontem, fui com Paulo a Paineiras"... (Feliz) É assim que c) “feição muito particular”.
começa. d) “saindo para trabalhar”.
Madame Clessi (evocativa): Assim mesmo. É. e) “dessa gente”.
Alaíde (perturbada): Não sei como a senhora pôde escrever
aquilo! Como teve coragem! Eu não tinha! 4. Leia:
Madame Clessi (à vontade): Mas não é só aquilo. Tem outras Belo Horizonte, 28 de julho de 1942.
coisas. Meu caro Mário,
Alaíde (excitada): Eu sei. Tem muito mais. Fiquei!... (Inquieta) Estou te escrevendo rapidamente, se bem que haja
Meu Deus! Não sei o que é que eu tenho. É uma coisa – não muitíssima coisa que eu quero te falar (a respeito da
sei. Por que é que eu estou aqui? Conferência, que acabei de ler agora). Vem-me uma vontade
Madame Clessi: É a mim que você pergunta? imensa de desabafar com você tudo o que ela me fez sentir.
(...) Mas é longo, não tenho o direito de tomar seu tempo e te
(Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues – fragmento) chatear.
Fernando Sabino.
Quanto às variantes linguísticas presentes no texto de Nelson
Rodrigues, a norma-padrão da língua portuguesa é Neste trecho de uma carta de Fernando Sabino a Mário de
rigorosamente obedecida, na linguagem escrita, por meio do Andrade, o emprego de linguagem informal é bem evidente
emprego do(a) em
a) pronome demonstrativo indicando lugar distante do falante a) “se bem que haja”.
e do ouvinte: “...Vou botar um samba. Esse aqui não é muito b) “que acabei de ler agora”.
bom...”. c) “Vem-me uma vontade”.
b) forma verbal do imperativo concordando com o pronome d) “tudo o que ela me fez sentir”.
“você” subentendido em: “Então diga como é que começa”. e) “tomar seu tempo e te chatear”.

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5. Leia a produção a seguir, da escritora e cartunista Em consonância com a primeira fase do período modernista,
argentina Maitena Burundarena, publicada na obra Mulheres Manuel Bandeira procura aproximar-se da fala do povo, com
Alteradas 1, e considere as afirmações que seguem. sua gramática “errada”, do ponto de vista da norma-padrão,
o que pode ser percebido em:
O filho, sua mãe e a surra, década a década a) Ganhei um porquinho-da-índia.
b) Levava ele pra sala.
c) Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
d) Que dor de coração me dava.
e) O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.

7. Leia os textos.
Texto 1
O livro de língua portuguesa ‘Por uma Vida Melhor’, adotado
pelo Ministério da Educação (MEC), contém alguns erros
gramaticais. “Nós pega o peixe” ou “os menino pega o peixe”
são dois exemplos de erros. Na avaliação dos autores do livro,
o uso da língua popular, ainda que contendo erros, é válido. Os
escritores também ressaltam que, caso deixem a norma culta,
os alunos podem sofrer “preconceito linguístico”.
A autora Heloisa Ramos justifica o conteúdo da obra. “O
importante é chamar a atenção para o fato de que a ideia de
correto e incorreto no uso da língua deve ser substituída pela
ideia de uso da língua adequado e inadequado, dependendo
da situação comunicativa.”
(www.opiniaoenoticia.com.br. Adaptado.)

Texto 2
Ninguém de bom-senso discorda de que a expressão popular
tem validade como forma de comunicação. Só que é preciso
(Rio de Janeiro: Rocco, 2003. p. 61.) que se reconheça que a língua culta reúne infinitamente mais
qualidades e valores. Ela é a única que consegue produzir e
Considere as afirmações que seguem. traduzir os pensamentos que circulam no mundo da filosofia,
I. No quadrinho 1960, há emprego de linguagem informal, da literatura, das artes e das ciências. A linguagem popular a
bastante adequada à cena retratada. que alguns colegas meus se referem, por sua vez, não
II. No quadrinho 1990, há discordância entre a pessoa verbal apresenta vocabulário nem tampouco estatura gramatical que
usada e o pronome pessoal oblíquo empregado, desarmonia permitam desenvolver ideias de maior complexidade – tão
inadequada se for considerado o padrão culto escrito. caras a uma sociedade que almeja evoluir. Por isso, é óbvio
III. Transformando a oração Embora eu seja seu filho, no que não cabe às escolas ensiná-la.
quadrinho 1970, em oração reduzida, a formulação Sendo eu (BECHARA, Evanildo. Veja, 1° jun. 2011. Adaptado.)
seu filho mantém a correção e o sentido originais.
IV. No quadrinho 1950, Vai ver só exprime, em linguagem Assinale a alternativa correta acerca da relação entre
coloquial, uma advertência que o contexto não permite linguagem popular e norma culta.
confundir com nenhum tipo de ameaça. a) Os dois textos apresentam preocupação com a prática do
Está correto o que se afirma SOMENTE em preconceito linguístico sobre pessoas que se expressam fora
a) I e II. b) II e III. c) I, III e IV. dos padrões cultos da língua portuguesa.
d) I, II e IV. e) II, III e IV. b) Os dois textos defendem ser possível expressar ideias
filosóficas tanto em linguagem popular quanto seguindo os
6. Quando eu tinha seis anos padrões da norma culta.
Ganhei um porquinho-da-índia. c) Para Evanildo Bechara, não existem critérios que possam
Que dor de coração me dava definir graus de superioridade ou inferioridade entre
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! linguagem popular e norma culta.
Levava ele pra sala d) O texto 2 sugere que a norma culta é instrumento de
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos dominação das elites burguesas sobre as classes populares.
Ele não gostava: e) Para Evanildo Bechara, a norma culta é superior no que se
Queria era estar debaixo do fogão. refere à capacidade de expressão de ideias complexas no
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas… campo cultural.
– O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
(Manuel Bandeira. Libertinagem e Estrela da manhã.)

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8. Leia a charge. Crescia naturalmente
Fazendo estripulia,
Malino e muito arguto, Prudêncio era um menino
Gostava de zombaria. Da casa, que agora falo.
A cabeça duma escrava Botava suas mãos no chão
Quase arrebentei um dia. Pra poder depois montá-lo:
Com um chicote na mão
E tudo isso porque Fazia dele um cavalo.
Um doce me havia negado,
De cinza no tacho cheio
Inda joguei um punhado,
Daí porque a alcunha
De “Menino Endiabrado”.
(NASCIMENTO, Varneci. Memórias póstumas de Brás Cubas
No contexto apresentado, o personagem expressa-se em cordel.)
informalmente. Se sua frase fosse proferida em norma-
padrão da língua, assumiria a seguinte redação:
A versão modificada, adaptada à oralidade – como
a) Fazemos o seguinte: a gente ressuscita o Bin Laden e lhe usualmente se dá na produção da literatura de cordel –
matamos de novo. apresenta termos semelhantes aos do texto original de
b) A gente faz o seguinte: ressuscita o Bin Laden e lhe mata de
Machado de Assis, que podem ser identificados em todas as
novo.
palavras da alternativa
c) Nós faremos o seguinte: ressuscitamos o Bin Laden e a) malino, botava, inda, pra.
matamos ele de novo.
b) estripulia, malino, inda, pra.
d) Façamos o seguinte: a gente ressuscitamos o Bin Laden e
c) estripulia, zombaria, inda, daí.
matamos de novo. d) zombaria, botava, inda, pra.
e) Façamos o seguinte: nós ressuscitamos o Bin Laden e o e) malino, botava, zombaria, daí.
matamos de novo.
10. O cronista, as borboletas e os urubus
9. (...) Um poeta dizia que o menino é o pai do homem. Se isto Fui hoje pela manhã, em caminhada a pé, até o estádio do
é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.
Flamengo, com o intuito de assistir ao treino do rubro-negro.
Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino
A manhã era toda de uma festa de luz sobre as águas, os
diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais morros. Alguns barcos ainda se encontravam na lagoa, e os
malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e pássaros do arvoredo da ilha do Piraquê cantavam com alegria
voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma
de primavera.
escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que
Tudo estava muito bonito, e o cronista descuidado e lírico
estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um começou a caminhada para gozar um pedaço desta
punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui maravilhosa cidade do Rio de Janeiro. E com esse propósito,
dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por
de camisa aberta ao peito, procurou descobrir as borboletas
pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque
azuis do seu caro Casimiro de Abreu.
de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no Mas, em vez das lindíssimas borboletas, o cronista foi
chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu
encontrando soturnos urubus, a passearem, a passo banzeiro,
trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o,
por cima do lixo, das imundices, dos animais mortos, de toda
dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, – algumas a podridão que a prefeitura vai deixando ali, por detrás dos
vezes gemendo – mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muros do Jóquei Clube. Fedia tanto o caminho que o pobre
muito, um – “ai, nhonhô!” – ao que eu retorquia: “Cala a boca,
cronista, homem de noventa quilos, teve de correr para fugir
besta!” – Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de
o mais depressa possível daquele cenário nauseabundo.
papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar A manhã era linda, e o sol, apesar de tudo, brilhava sobre o
beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas lixo, indiferente a todo aquele relaxamento dos homens.
deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer
que eram também expressões de um espírito robusto, porque
REGO, José Lins do. "Flamengo é puro amor". 111 crônicas
meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me escolhidas. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008
repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade:
em particular dava-me beijos.
Há no texto uma expressão que foi grafada pelo autor de
Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha acordo com a variante popular da língua e não com a culta.
vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os Trata-se de
chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos
a) “intuito”. b) “treino”. c) “banzeiro”.
homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os
d) “imundices”. e) “nauseabundo”.
chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.
(ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.)

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11. O Ver-o-Peso moléculas de DNA produzem cópias de si mesmas. A falha
“[...] Viva maré de março visitando o Mercado de Ferro, lojas e nesse processo resulta numa cópia imperfeita da molécula
botequins, refletindo junto ao balcão os violões original. Conforme o DNA prossegue se autorreplicando, essas
desencordoados nas prateleiras. Os bondes, ao fazer a curva falhas, ou mutações, vão se acumulando de modo que, após
no trecho inundado, navegavam. As canoas no porto veleiro, gerações, alterações significativas nos organismos já podem
em cima da enchente, ao nível da rua de velas içadas, pareciam ser notadas.
prontas a velejar cidade adentro, amarrando os seus cabos nas BIZZOCCHI, Aldo. Língua portuguesa, São Paulo: Segmento,
torres do Carmo, da Sé, de Santo Alexandre e nas sumaumeiras ano 3, n. 33, p. 56-58, jul. 2008. (Adaptado.)
do arraial de Nazaré.[...]
O penúltimo parágrafo do texto pode ser ilustrado por meio
Voltava-se (Libânia) agora para os cestos, fogareiros de barro, da seguinte afirmação:
bichos, cachimbos, ah, este-um, aqui, eu fumava. O gosto de a) com o fim da escravidão, a palavra você, derivada de vossa
provar todas as farinhas ali expostas nos paneiros em plena mercê, passou a ser usada no Brasil.
calçada não atingida inda pela maré.[...] Cada melancia, aquele b) como resultado das adaptações a novos usos, a forma a
ananás, uns muçuãs que deviam estar gordinhos, a tracajá gente passou a ser usada como pronome pessoal.
virada.[...]” c) a mudança da palavra treição para traição confirma a
casualidade e a desconexão das mutações linguísticas.
Dalcídio Jurandir possibilita, ao longo de Belém do Grão-Pará, d) o uso da palavra largato no lugar de lagarto descarta a
como mostra esse excerto, que o seu leitor conheça a explicação dos princípios da mutação linguística.
variedade linguística típica do arquipélago do Marajó. Essa e) em português, a palavra mouse, derivada de rato em inglês,
variedade está exemplificada em: é a única forma de se referir a um dispositivo do computador.
a) “Viva maré de março visitando o Mercado de Ferro...”
b) “... amarrando os seus cabos nas torres do Carmo... ” 13. NÃO exemplifica o emprego de linguagem coloquial na
c) “... ah. este-um, aqui, eu fumava” crônica a passagem transcrita em:
d) “... uns muçuãs que deviam estar gordinhos...” a) “O escritor não estava inteirado da revolução por que
passara o universo dos salgadinhos desde que ele deixou Belo
12. O darwinismo da linguagem Horizonte. Eis um assunto que deveria interessar aos
A teoria da evolução das espécies (1859), de Charles Darwin, estudiosos.”
influenciou o pensamento científico da época, com reflexos na b) “Você me entende: do tempo em que, diante da bandeja, a
linguística. (...) gente não tinha dúvidas – o que ali estava era croquete,
A metáfora biológica, uma heresia para um século 20 mais coxinha, pastelzinho, empadinha, cigarrete...”
atento aos aspectos sociais e culturais (numa palavra, c) “Coisas de Belo Horizonte: em alguma parte, em geral na
“humanos”) da língua, hoje volta com força com os avanços da periferia, tem sempre uma dona que faz o docinho, o
linguística e das bio e neurociências. Se a linguística do século salgadinho que desapareceu das vitrines.”
19 se ocupou da evolução histórica e a do 20, da organização d) “E dava trabalho a quem a abocanhava: era você cravar os
estrutural da língua, há hoje a articulação de ambas as dentes e o catupiry derretido, pelando, vazava queixo abaixo.”
perspectivas para compreender a linguagem como fenômeno e) “Em compensação, tinha Crush, drops Dulcora, açúcar
a um tempo cultural e biológico. cândi, que depois sumiram do mapa.”
Vários estudos nestas décadas correlacionam dados genéticos
a culturais, especialmente a língua. Para o geneticista italiano 14. Leia os dois textos seguintes e responda à questão.
Luigi Luca Cavalli-Sforza, a transmissão linguística faz parte da
transmissão cultural. Segundo sua teoria da Eva Africana, se, Dercy Gonçalves, a trágica
analogamente aos genes, a língua se transmite de uma Ao Brasil a palavra “infantil” talvez não caiba, mas a Dercy
geração a outra (embora por meios diferentes), é possível que Gonçalves cabe. Ela era infantilizada e infantilizadora. O
todas as línguas atuais descendam de uma língua falada na palavrão era sua arma. Que graça pode haver num palavrão?
África há 200 mil anos. Segundo o biólogo britânico Richard A mesma de um tombo do palhaço: em princípio, exceto em
Dawkins, fatos culturais (que ele chama “memes”) ocasiões muito inesperadas, nenhuma. Mas as crianças acham
transmitem-se conforme a dinâmica da transmissão dos engraçado. Igualmente, o palavrão, exceto em ocasiões
genes. Fatos linguísticos e a própria língua seriam um caso precisas, não tem graça. Entre Dercy e sua plateia, no entanto,
particular de memes. (...) o grande intermediário, a solda, o agente infalível do riso, era
A linguagem altera a sociedade, que altera a linguagem. É por o palavrão. “O palavrão... quando virá o palavrão?”,
isso que a língua muda enquanto funciona (interage com o perguntava-se a plateia, ansiosa, quando ele tardava. Dercy
meio, com os falantes) e funciona enquanto muda. Se parasse Gonçalves sem falar p.q.p. ou filha da p. seria o mesmo que
de evoluir, cairia em desuso, pois não daria mais conta da Carmen Miranda sem o turbante e os balangandãs. Dercy não
mudança social. Por outro lado, quando uma língua cai em fraudava a expectativa. Se o palhaço não pode deixar de
desuso, deixa de evoluir e permanece fossilizada nos registros tropeçar, ela não podia deixar de soltar o palavrão. A plateia,
que deixou. tão infantilizada quanto a artista, esbaldava-se.
O termo mutação linguística é um empréstimo tomado à No Carnaval de 1991, Dercy, aos 83 anos, desfilou pela escola
biologia. Afinal, a inovação linguística ocorre segundo um de samba Viradouro com os seios de fora. Faziam-lhe uma
princípio similar ao da mutação genética. Nos seres vivos, as homenagem, mas não bastava sua presença. Era preciso fazer

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o tipo. Como não lhe deram o microfone para dizer palavrões, temos uma tendência a imaginar a realidade da língua como
ofereceu o corpo. Na opinião predominante, foi um gesto alguma coisa homogênea, fixa, profundamente uniforme.
bonito e libertário, mas também era possível enxergar ali um Também decorre da tradição escolar a ideia que costuma
momento semelhante ao encenado por Garrincha na mesma separar as ocorrências linguísticas em dois grupos: o certo,
avenida, anos antes – um Garrincha inchado e zumbi, exibido identificado sempre com as formas gramaticais escolares, e o
como bicho de circo. Identificada à comédia, Dercy também errado, que, em geral, é aquilo que a gente fala e ouve o dia
podia ser entendida como personagem de tragédia. inteiro. Essa é uma visão tão forte que praticamente todos os
(Veja, 30.07.2008. Adaptado.) falantes da língua portuguesa conservam, em algum grau, uma
certa insegurança no uso da linguagem.
Só mesmo dizendo um palavrão
Dercy não viveu uma personagem. Ela era Dercy até dormindo. Afirmações como Sou bom em matemática, mas péssimo em
E continua sendo após a morte, no samba-enredo entoado em português; ou Será que falei certo? Ou Não sei nada de
seu enterro e no polêmico túmulo em pé, em forma de gramática; ou Mas que língua mais difícil esse tal de português
pirâmide. são muito frequentes em ambientes escolarizados. Daí por
No palco e na vida, ela não gostava de drama. Por isso trocou que, embora a palavra ocupe um espaço extraordinário na vida
de nome. das pessoas, ela mantenha sempre o seu toque “estrangeiro”,
Das dores de Dolores, seu nome de batismo, ela não tinha como algo que nunca pode ser completamente dominado.
nada. Aos infortúnios, respondia com irreverência.
(Época, 28.07.2008. Adaptado.) É claro que há muitos fatores envolvidos nessa questão, em
geral relativos a uma certa confusão de conceitos. A primeira
Dentre as substituições propostas para a expressão confusão tem a ver com as diferenças entre língua falada e
destacada nos trechos, a única que está de acordo com a língua escrita. Em geral, as pessoas tendem a julgar a língua
linguagem formal é: apenas a partir de seus padrões de escrita. Ou seja, somente
a) Que graça pode haver num palavrão? (ter) parece certo o que está conforme as normas da escrita. Outra
b) Faziam-lhe uma homenagem ... (pra ela) confusão frequente nas escolas decorre dos sentidos que tem
c) .... exceto em ocasiões muito inesperadas, nenhuma. (salvo) o termo gramática. As pessoas normalmente entendem
d) Entre Dercy e sua plateia, no entanto, o grande “gramática” apenas como o livro que contém as regras da
intermediário ... (a mesma) língua “certa”, como se todas as variedades da língua não
e) ... seria o mesmo que Carmen Miranda sem o turbante e os fossem regidas pela gramática.
balangandãs. (que nem)
15. O site Desencannes, que veicula peças (criadas pelos O melhor é concentrar-nos, sem preconceitos ou julgamentos
próprios organizadores da prévios, na imensa funcionalidade da língua real que vivemos
página ou surgidas nas todos os dias.
agências publicitárias FARACO, Carlos Alberto. TEZZA, Cristóvão.
durante a fase de criação Prática de texto. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 1992.
de uma campanha) que,
pelos mais variados No geral, o texto nos leva a concluir que, em relação à
motivos, não poderiam ser linguagem, as pessoas:
usadas, expôs a mídia impressa. a) têm grandes dificuldades de falar e escrever corretamente.
b) falam bem quando falam conforme as normas da escrita.
Se veiculada, a campanha publicitária teria como recurso c) se devem reger pelas gramáticas escolares onde está
principal: definida "a língua certa".
a) o uso de termos pejorativos para definir o cliente, a fim de d) carecem de uma formação escolar mais ampla e
conquistar compradores menos intelectualizados para o consistente.
dicionário. e) na sua fala do cotidiano, exercitam o lado "errado" da
b) o elogio ao dicionário num tom mais coloquial, com fins de língua.
popularização do uso do produto em classes menos 17. O poema a seguir foi extraído da obra Livro das ignorãças,
intelectualizadas. de Manoel de Barros (p.89).
c) a ênfase ao peso e ao tamanho e, por consequência, ao Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas leituras
grande número de palavras presentes no dicionário. não era a beleza das frases, mas a doença delas.
d) a retomada humorística de uma famosa expressão a Comuniquei ao padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto
respeito dos dicionários, cuja ambiguidade remete a um elogio esquisito.
em tom coloquial. Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
e) a relação entre o termo “burro” e o uso inadequado da – Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre
preposição “pra” em vez de “para”, falha que seria evitada me disse.
pelo uso do produto. Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: – Manoel, isso não é doença, pode muito
16. Um conjunto de variedades que você carregue para o resto da vida um certo gosto por
Toda língua é um conjunto de variedades. Em geral, pela nadas...
própria orientação tradicional da escola e do ensino da escrita, E se riu.

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Você não é de bugre? – ele continuou. 19. Vô Imbolá
Que sim, eu respondi. Zeca Baleiro
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas. Imbola vô imbolá
Pois é nos desvios que encontra melhores surpresas e os Eu quero ver rebola bola
ariticuns maduros. Você diz que dá na bola
Há que apenas saber errar bem o seu idioma. Na bola você não dá
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de Quando eu nasci era um dia amarelo
agramática*. Já fui pedindo chinelo
*O vocábulo “agramática”, significa negação da gramática, ou Rede café caramelo
seja, desvio das normas prescritas por ela. O meu pai cuspiu farelo
Minha mãe quis enjoar
Observe que, brincando com a forma, o poeta faz uma Meu pai falou mais um bezerro desmamido
reflexão sobre o ato de poetar. Assinale a alternativa que Meu Deus que será bandido
está em desacordo com o jogo proposto no poema. Soldado doido varrido
a) O poeta faz uma relação entre os padrões linguísticos e as Milionário desvalido
inovações realizadas na poesia. Padre ou cantor popular
b) “Os desvios” e “doença” são recursos argumentativos que Nem Frank Zappa nem Jackson do pandeiro
surgem do domínio que o poeta possui da língua. Lobo bom e mau cordeiro
c) Os travessões e as reticências completam o cômico Mais metade que inteiro
permitindo ao leitor contribuir para a construção dos sentidos. Me chamei Zeca Baleiro
d) O cômico da retórica manoelina consiste em respeitar a Pra melhor me apresentar
ordenação padronizada da língua. Nasci danado pra prender vida com clips
e) O efeito cômico surge do jogo da língua em que o poeta Ver a lua além do eclipse
desvia os sentidos comuns das palavras. Já passei por bad trips
Mas agora o que eu quero
18. Adapte-se ao nível de formalidade É o escuro afugentar
Quando um e-mail é enviado em substituição a um bilhete, a Faz uma cara que se deu essa empreitada
linguagem usada pode ter maior grau de informalidade. Hoje a vida é embolada
Nesses casos, ele aproxima-se da fala, embora seja importante Bola pra arquibancada
considerar que a mensagem será lida. Um dos problemas Rebolei bolei e nada
comunicacionais advém de o redator escrever como se falasse Da vida desimbolá
despreocupadamente, com frases mal organizadas e sem [...].
clareza. Mesmo que o texto tenda à informalidade, devem-se A embolada é um gênero musical simples que teve origem no
evitar erros que comprometam a imagem do redator e da Nordeste brasileiro e significa "forma poético-musical,
instituição que ele representa. improvisada ou não, em compasso binário, cuja melodia é
Quando o meio eletrônico substitui memorando ou declamatória, em valores rápidos e intervalos curtos [...]"
comunicado interno, a formalidade aumenta, tendo em conta (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa).
o conteúdo e o destinatário. Aí é preciso considerar as
características da redação empresarial, que se renovou nestes Leia as afirmações a seguir:
anos. Tropeços são mais facilmente evitados quando se tem o I. O compositor da música, Zeca Baleiro, emprega a função
hábito de leitura de textos bem escritos. Como redação metalinguística no texto. Isto quer dizer que ele se utiliza do
empresarial demanda rapidez, convém redobrar a leitura não gênero musical embolada para falar dela mesma, como
só de livros de sua área, pois isso facilitará a redação coesa e podemos ver no trecho: "Hoje a vida é embolada / Bola pra
coerente. arquibancada / Rebolei bolei e nada / Da vida desimbolá".
(NÓBREGA, M. H. da. Revista Língua Portuguesa. Segmento,
ano III, n. 33. jul. 2008. p. 40-41.) II. Os versos "Imbola vô imbolá" e "Da vida desimbolá" estão
na variedade não padrão do português brasileiro, sendo que,
De acordo com o texto, é correto afirmar. na variedade padrão, podem ser transcritos da seguinte
a) Nos dias atuais, a imagem de uma empresa é determinada forma: "Embola vou embolar" e "Da vida desembolar".
pelo nível mais alto de formalidade de sua comunicação
interna. III. A palavra 'imbolá' apresenta algumas características
b) Marcas da oralidade em e-mails empresariais acarretam específicas da língua falada, tais como: a troca do fonema /e/
erros gramaticais próprios dos bilhetes. pelo fonema /i/ na posição de sílaba átona inicial, como
c) Em determinadas situações, a correspondência por e-mail acontece em 'espelho' e 'enchente'.
deve ser cuidada e correta.
d) A redação coesa e coerente é aquela que tem maior grau de IV. O ritmo melódico da música sugerido pelos fonemas
informalidade. utilizados pelo compositor expressa uma das características do
e) Dado o seu caráter conservador, a redação empresarial gênero musical embolada: melodia em compasso de
prioriza o conteúdo em detrimento de quem vai ler o texto. declamação, que pode ser representada pelos versos:
"Quando eu nasci era um dia amarelo / Já fui pedindo chinelo

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/ Rede café caramelo / O meu pai cuspiu farelo / Minha mãe 23. As dimensões continentais do Brasil são objeto de
quis enjoar". reflexões expressas em diferentes linguagens. Esse tema
Estão corretas: aparece no seguinte poema:
a) II, IV. b) I, II, III. c) I, II, IV. “(....)
d) II, III, IV. e) I, II, III, IV. Que importa que uns falem mole descansado
Que os cariocas arranhem os erres na garganta
20. Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e Que os capixabas e paroaras escancarem as vogais?
correspondem a sistemas e subsistemas adequados às Que tem se o quinhentos réis meridional
necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua Vira cinco tostões do Rio pro Norte?
fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas de valores Junto formamos este assombro de misérias e grandezas,
da sociedade conduz a uma avaliação distinta das Brasil, nome de vegetal! (....)”
características das suas diversas modalidades regionais, sociais (Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:
e estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja uma Martins Editora, 1980.)
entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais
prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como O texto poético ora reproduzido trata das diferenças
ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo brasileiras no âmbito
decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, a) étnico e religioso. b) linguístico e econômico.
com o que se torna uma ponderável força contrária à variação. c) racial e folclórico. d) histórico e geográfico.
Celso Cunha. Nova gramática do português contemporâneo. e) literário e popular.
Adaptado.
De acordo com o texto, em relação às demais variedades do 24. É sabido que as histórias de Chico Bento são situadas no
idioma, a língua padrão se comporta de modo universo rural brasileiro. A esse respeito é correto afirmar
a) inovador. b) restritivo. c) transigente. que:
d) neutro. e) aleatório.

21. Assinale a alternativa que contém uma informação FALSA


em relação ao fenômeno da variação linguística.
a) A variação linguística consiste num uso diferente da língua,
num outro modo de expressão aceitável em determinados
contextos.
b) A variedade linguística usada num texto deve estar
I. O modo de falar caracterizado na tira é exclusivo do universo
adequada à situação de comunicação vivenciada, ao assunto
rural brasileiro.
abordado, aos participantes da interação.
c) As variedades que se diferenciam da variedade considerada
II. Uma variedade linguística é o modo de falar a língua,
padrão devem ser vistas como imperfeitas, incorretas e
característico de determinado grupo social ou de determinada
inadequadas.
região geográfica.
d) As línguas são heterogêneas e variáveis e, por isso, os
falantes apresentam variações na sua forma de expressão,
III. De região para região do país, observam-se formas distintas
provenientes de diferentes fatores.
de falar. Tais variações podem ser identificadas no aspecto
sonoro (pronúncia), no vocabulário, bem como em certas
22. Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu
estruturas de frases e nos sentidos particulares atribuídos a
domínio e, ainda num só local, apresenta um sem número de
determinadas palavras e expressões. A esse conjunto de
diferenciações. Mas essas variedades de ordem geográfica,
“diferenças” na língua, dá-se o nome de variação linguística.
social e até individual, pois cada um procura usar o sistema
idiomático da forma que melhor lhe exprime o gosto e o
IV. Os falantes de uma dada região constituem uma
pensamento, não prejudicam a unidade superior da língua,
comunidade linguística geograficamente limitada em função
nem a consciência que têm os que a falam diversamente de se
de estarem polarizados em termos políticos e/ou econômicos
servirem de um mesmo instrumento de comunicação, de
e/ou culturais, e desenvolverem então um comportamento
manifestação e de emoção.
linguístico comum que os identifica e distingue.
(Celso Cunha, em Uma política do idioma)
V. Toda língua humana é heterogênea por sua própria
Qual das alternativas abaixo NÃO endossa o pensamento
natureza.
expresso por Celso Cunha?
De acordo com as afirmativas acima, a alternativa correta é:
a) A língua, por ser social, é mutável.
a) I, II, IV, V b) I, III, IV, V c) I, II, III, IV
b) A língua sofre variações de diferentes ordens.
d) II, III, IV, V e) II, III, V
c) Há unidade apesar da diversidade linguística.
d) A língua é social, e, por isso, não há como modificá-la.
e) A variedade individual não impede a unidade superior da
língua.

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Gabarito – Revisenem – Variações linguísticas
1. B
2. C
3. E
4. E
5. A
6. B
7. E
8. E
9. A
10. D
11. C
12. B
13. A
14. C
15. D
16. D
17. D
18. C
19. E
20. B
21. C
22. D
23. B
24. D

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