Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Papos
- Me disseram...
- Disseram-me.
- Hein?
- O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.
- Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?
- Digo-te que você...
- O “te” e o “você” não combinam.
- Lhe digo?
- Também não. O que você ia me dizer?
- Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a
cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?
- Partir-te a cara.
- Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.
- É para o seu bem.
- Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma
correção e eu...
- O quê?
- O mato.
- Que mato?
- Mato-te. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhei-ei-te. Ouviu bem?
- Eu só estava querendo...
- Pois esqueça-o e pára-te. Pronome no lugar certo é elitismo!
- Se você prefere falar errado...
- Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entender-me?
- No caso... Não sei.
- Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?
- Esquece.
- Não. Como “esquece”? Você prefere falar errado? E o certo é “esquece” ou “esqueça”?
Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos.
- Depende.
- Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o.
- Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.
- Agradeço-lhe a permissão para falar errado que me dás. Mas não posso mais dize-lo-te o
que dizer-te-ia.
- Por quê?
- Porque, com todo este papo, esqueci-lo.
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
(a) Luís Fernando Veríssimo e Oswald de Andrade abordam um mesmo tema: a colocação
pronominal na linguagem brasileira. Que motivos eles teriam para tratar desse assunto?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
(b) No texto número 1, há uma confusão provocada pela colocação pronominal. Que
inferência podemos fazer a esse respeito?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
(c) Você deve ter notado que o poema apresenta título em letras minúsculas e não traz
nenhuma pontuação. Isso ocorre porque seu autor, Oswald de Andrade, foi um dos
fundadores do Modernismo, um movimento que, entre outras coisas, defendia o uso literário
de uma língua brasileira, popular, próxima da fala. Esse poema se articula em torno de uma
questão lingüística, ou seja, a forma mais adequada de pedir um cigarro. Quais são as duas
formas mencionadas no texto?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
(d) Essas variações lingüísticas ainda hoje se opõem na língua portuguesa no Brasil.
* Qual delas representa a variedade padrão da língua? ____________________________
* Qual representa a variedade popular? ________________________________________
* O que está em desacordo com a variedade padrão na frase da letra (b) ?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
(e) A oposição entre as variedades é racial ou cultural? ____________________________
________________________________________________________________________
(f) O mulato, como o negro, sempre foi vítima de preconceitos em nosso país.
Considerando-se que, no plano individual, uma das formas de superar o preconceito racial é
fazer parte da cultura da elite e nela se destacar, por que o mulato é colocado entre o
professor e o aluno?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
(g) O movimento modernista foi nacionalista, isto e, procurou valorizar o nosso país, nossa
gente, nossa língua, nossas tradições.
O autor, nesse poema, toma partido, isto é, explicita o seu ponto de vista sobre qual
das variedades lingüísticas se deve falar?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
De acordo com a visão de língua e cultura do texto, a língua contribui para formar a
identidade de um país? Justifique sua resposta.
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Como você sabe, a escola é representante do saber oficial. E muito do que ensina nas
aulas de Português e nas gramáticas da língua portuguesa ainda recebe influências da
língua portuguesa lusitana. De acordo com o enfoque do texto, o professor, o aluno e
o mulato sabido não seriam brasileiros?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
(a) O motivo que os levaram a abordar esse assunto é que a língua brasileira
popular utiliza uma determinada forma (próclise), enquanto a língua padrão
prestigia o uso de mesóclises e ênclises. Essas colocações estão distantes e torna-
se complicada para um cidadão que não domina o uso padrão da língua.
(d)
A que representa a variedade padrão é “Dê-me um cigarro”.
A que representa a variedade popular é “Me dá um cigarro.”
Não se usa pronome oblíquo átono, segundo a variedade padrão da língua,
no início de uma frase.
(g)
O autor toma partido sim. Do 5 o ao 9o versos, ele mostra qual variedade deve
ser falada.
Sim, pelo que o povo fala, percebemos sua identidade.
O professor, o aluno e o mulato sabido são brasileiros, porque são donos do
saber padrão. Eles aprenderam este saber padrão.
O autor teria deixado explícito o substantivo PROBLEMAS.