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Colégio Dinâmico – 8a série

Teste de Língua Portuguesa – 4o bimestre

Nome: _____________________________ Número:______

Data: _____/_____/ 2007. Valor: 8 pontos Nota: ________


1. Leia atentamente os textos abaixo e responda às questões a seguir:

Papos

- Me disseram...
- Disseram-me.
- Hein?
- O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.
- Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?
- Digo-te que você...
- O “te” e o “você” não combinam.
- Lhe digo?
- Também não. O que você ia me dizer?
- Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a
cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?
- Partir-te a cara.
- Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.
- É para o seu bem.
- Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma
correção e eu...
- O quê?
- O mato.
- Que mato?
- Mato-te. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhei-ei-te. Ouviu bem?
- Eu só estava querendo...
- Pois esqueça-o e pára-te. Pronome no lugar certo é elitismo!
- Se você prefere falar errado...
- Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entender-me?
- No caso... Não sei.
- Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?
- Esquece.
- Não. Como “esquece”? Você prefere falar errado? E o certo é “esquece” ou “esqueça”?
Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos.
- Depende.
- Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o.
- Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.
- Agradeço-lhe a permissão para falar errado que me dás. Mas não posso mais dize-lo-te o
que dizer-te-ia.
- Por quê?
- Porque, com todo este papo, esqueci-lo.

Luís Fernando Veríssimo


Comédias para se ler na Escola.
pronominais
Oswald de Andrade

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

Poesias reunidas. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p. 125

(a) Luís Fernando Veríssimo e Oswald de Andrade abordam um mesmo tema: a colocação
pronominal na linguagem brasileira. Que motivos eles teriam para tratar desse assunto?
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(b) No texto número 1, há uma confusão provocada pela colocação pronominal. Que
inferência podemos fazer a esse respeito?
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(c) Você deve ter notado que o poema apresenta título em letras minúsculas e não traz
nenhuma pontuação. Isso ocorre porque seu autor, Oswald de Andrade, foi um dos
fundadores do Modernismo, um movimento que, entre outras coisas, defendia o uso literário
de uma língua brasileira, popular, próxima da fala. Esse poema se articula em torno de uma
questão lingüística, ou seja, a forma mais adequada de pedir um cigarro. Quais são as duas
formas mencionadas no texto?
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(d) Essas variações lingüísticas ainda hoje se opõem na língua portuguesa no Brasil.
* Qual delas representa a variedade padrão da língua? ____________________________
* Qual representa a variedade popular? ________________________________________
* O que está em desacordo com a variedade padrão na frase da letra (b) ?
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(e) A oposição entre as variedades é racial ou cultural? ____________________________
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(f) O mulato, como o negro, sempre foi vítima de preconceitos em nosso país.
Considerando-se que, no plano individual, uma das formas de superar o preconceito racial é
fazer parte da cultura da elite e nela se destacar, por que o mulato é colocado entre o
professor e o aluno?
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(g) O movimento modernista foi nacionalista, isto e, procurou valorizar o nosso país, nossa
gente, nossa língua, nossas tradições.

 O autor, nesse poema, toma partido, isto é, explicita o seu ponto de vista sobre qual
das variedades lingüísticas se deve falar?
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 De acordo com a visão de língua e cultura do texto, a língua contribui para formar a
identidade de um país? Justifique sua resposta.
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 Como você sabe, a escola é representante do saber oficial. E muito do que ensina nas
aulas de Português e nas gramáticas da língua portuguesa ainda recebe influências da
língua portuguesa lusitana. De acordo com o enfoque do texto, o professor, o aluno e
o mulato sabido não seriam brasileiros?
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 A palavra pronominais, que dá nome ao poema, é um adjetivo. O substantivo que


esse adjetivo acompanharia não foi explicitado, mas pode ser imaginado. Levante
hipóteses: considerando-se o conteúdo do problema, que substantivo o autor teria
deixado implícito?
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RESPOSTAS:

(a) O motivo que os levaram a abordar esse assunto é que a língua brasileira
popular utiliza uma determinada forma (próclise), enquanto a língua padrão
prestigia o uso de mesóclises e ênclises. Essas colocações estão distantes e torna-
se complicada para um cidadão que não domina o uso padrão da língua.

(b) Muitos brasileiros desconhecem o uso formal da língua e sentem dificuldade em


utilizá-las de forma correta.

Observação: Sempre comento com meus alunos a importância de se conhecer a


língua padrão. Argumento que a língua é nosso “guarda-roupa” e precisamos ter
em mãos as roupas para todas as ocasiões, sejam elas, esporte-fino, social, ou
qualquer outra... você precisa ter a roupa certa para não se sentir “diferente”.
Ninguém entra numa festa, se não estiver adequadamente trajado.
E é assim a língua portuguesa: você precisa estar vestido de acordo e poder
participar ativamente de todos os “eventos”, entendê-los e ainda, ser capaz de
modificá-los, se for preciso.

(c) As duas formas mencionadas no texto são: “Dê-me um cigarro” e “Me dá um


cigarro”. A questão lingüística é o uso da forma padrão (a primeira) e a variedade
popular da língua (a segunda).

(d)
 A que representa a variedade padrão é “Dê-me um cigarro”.
 A que representa a variedade popular é “Me dá um cigarro.”
 Não se usa pronome oblíquo átono, segundo a variedade padrão da língua,
no início de uma frase.

(e) A oposição é cultural.

(f) O mulato é colocado entre o professor e o aluno porque ele se adaptou ao


mundo da cultura. Ele sabe que é vítima de preconceitos e escapa através de sua
esperteza, pois aprendeu a língua da cultura da elite.

(g)
 O autor toma partido sim. Do 5 o ao 9o versos, ele mostra qual variedade deve
ser falada.
 Sim, pelo que o povo fala, percebemos sua identidade.
 O professor, o aluno e o mulato sabido são brasileiros, porque são donos do
saber padrão. Eles aprenderam este saber padrão.
 O autor teria deixado explícito o substantivo PROBLEMAS.

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