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a arte da imitação.

Professor Silas Rodrigues Reis

Itaituba - PA
2023
Graças à foto da capa do Álbum dos Beatles, a faixa de pedestres de Abbey Road ficou conhecida
mundialmente e atualmente é patrimônio inglês. Faixa Abbey Road, Londres, 1969,
“INTERTEXTUALIDADE“:

A intertextualidade é um recurso realizado entre textos, ou seja,


é a influência e relação que um estabelece sobre o outro COMO
MODELO ou PONTO DE PARTIDA, gerando a atualização do texto
citado.

Assim, determina o fenômeno relacionado ao processo de


produção de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos
elementos existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma
ou de ambos: forma e conteúdo.
Logo, compreender a forma como um texto (artístico ou não)
comporta-se na sua composição é uma habilidade importante, pois
perceber a INTERTEXTUALIDADE denota CONHECIMENTO DA
CULTURA e de como o SENSO COMUM influencia nossa LEITURA
DE MUNDO.
A intertextualidade é o diálogo entre textos, de forma que essa
relação pode ser estabelecida entre as produções textuais que
apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escrita), sendo
expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música, dança,
cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos,
provérbios, charges, dentre outros.
ORIGINAL RELEITURA

Homer Jay Simpson


O grito ,de Edward Munch
Retratando a obra O Grito de Edward
COMO OCORRE A INTERTEXTUALIDADE ?

A intertextualidade pode ser caracterizada como explícita ou


implícita, de acordo com a relação estabelecida com o texto
fonte, mais direta ou se mais subentendida.

1. Intertextualidade explícita;

2. Intertextualidade implícita;
A intertextualidade explícita...
•é facilmente identificada pelos leitores;
•estabelece uma relação direta com o texto fonte;
•apresenta elementos que identificam o texto fonte;
•não exige que haja dedução por parte do leitor;
•apenas apela à compreensão do conteúdos.

A intertextualidade implícita...
• não é facilmente identificada pelos leitores;
• não estabelece uma relação direta com o texto fonte;
• não apresenta elementos que identificam o texto fonte;
• exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por parte dos
leitores;
• exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para a
compreensão do conteúdo.
• O outro caso de ocorrência de INTERTEXTO é quando este está implícito, subjetivo,
portanto, dependendo muito do olhar do leitor/espectador para ser encontrado e, muitas
vezes, colocado de forma inconsciente pelo autor, justamente pelo fato de certas
INFLUÊNCIAS ou REFERÊNCIAS de senso comum estarem tão dispersas no mundo que
essas acabam surgindo naturalmente.
A história da saga Crepúsculo, por exemplo, tenta renovar os mitos vampíricos tão presentes na cultura de
massa...

...Ainda que não


se consigam
evitar outras
referências
clássicas do
gênero, como
Drácula.

...Abrindo espaço para a ...Com


velha história do “amor direito a
proibido”, que remete a referências
Romeu e Julieta, Tristão e como A Bela
Isolda... e a Fera...
INTERTEXTUALIDADE EXPLÍCITA

Trecho do poema de “Sete Faces” de Carlos Drummond de Andrade


“Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”

Trecho do poema “Até o fim” de Chico Buarque


“Quando nasci veio um anjo safado
O chato do querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim”
Trecho da música “Ai que saudade da Trecho da Música “Desconstruindo
Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago
Amélia” de Pitty
“Ai meu Deus que saudade da Amélia “E eis que de repente ela resolve
Aquilo sim que era mulher então mudar
As vezes passava fome ao meu lado Vira a mesa
E achava bonito não ter o que comer Assume o jogo
E quando me via contrariado dizia Faz questão de se cuidar
Meu filho o que se há de fazer Nem serva nem objeto
Amélia não tinha a menor vaidade Já não quer ser o outro
Amélia que era a mulher de verdade” Hoje ela é o também”
Essa intertextualidade é
utilizada pelo chargista
geralmente de forma
implícita, o que exige do
leitor um conhecimento
prévio deles para que
possa entender ...
A
INTERTEXTUALIDADE
EM TIRAS
Você conhece os contos maravilhosos a que essas tiras fazem referência?
A
INTERTEXTUALIDADE
EM CHARGES
O quadro GUERNICA de Pablo Picasso é uma das mais famosas pinturas do artista espanhol e uma
das mais conhecidas do cubismo.
A
INTERTEXTUALIDADE
NA PUBLICIDADE
A
INTERTEXTUALIDADE
NA PINTURA
ALMOÇO NA RELVA - Edouard Monet
OS OPERÁRIOS, 1923.TARSILA DO AMARAL.
Moça com brinco de pérolas
A
INTERTEXTUALIDADE
NO CINEMA
A
INTERTEXTUALIDADE
NA MÚSICA
A
INTERTEXTUALIDADE
NA LITERATURA
“Minha tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.” “Eu nasci além dos mares:
(G. Dias) Os meus lares,
Meus amores ficam lá!
(Casimiro de Abreu)

Um sabiá
na palmeira, longe.”
(Drummond)

"Minha terra tem “Minha terra


Cruzeiro, onde canta não tem
a raposa.... palmeiras...”
(Roginei) (M. Quintana)
SHAKESPEARE DEUSES DO FUTEBOL: URUCUBACO
Olímpico leitor, divinal leitora, há mais coisas
“Há mais coisas entre o céu e a entre o céu dos deuses e a terra do futebol do que
terra do que supõe a nossa vã sonha a nossa vã crônica esportiva. Determinadas
filosofia”... situações do jogo e certas fases pelas quais os
times passam não são, como pensam alguns, obra
do acaso. Ao contrário, são uma manifestação da
vontade de seres superiores, seres que controlam
a nossa vida desde o dia em que o Caos gerou a
Noite.
(trecho de crônica de José Roberto Torero, Folha de S.Paulo, em 17/9/ 02-pag.D3)...
ALUSÃO
Referência a obras ou a alguns de seus signos (personagens, episódios,
cenas, autores) cujo efeito argumentativo é endossar, ampliar e reafirmar o
ponto de vista da enunciação do texto em que se insere.
Exemplo de alusão:

Ele me deu um “presente de grego”.


(a expressão faz alusão à Guerra de Troia, indicando um
presente mal e que pode trazer prejuízo)
APROPRIAÇÃO
Consiste em retomar um texto imprimindo nele modificações
no seu enunciado, sem identificar-lhe nem a fonte nem a
autoria.
Texto parafraseado
Texto original “Meus olhos brasileiros se fecham

“Minha terra tem palmeiras saudosos


Minha boca procura a ‘Canção do
Onde canta o sabiá,
Exílio’.
As aves que aqui gorjeiam Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?

Não gorjeiam como lá.” Eu tão esquecido de minha terra...


(Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”) Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!”
(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”)
Paráfrase Camões,
“Amor é fogo que arde sem se ver”
PARÓDIA
✓ Mais ousada em seus propósitos, a paródia pode ser considerada
uma recriação de caráter contestador.

✓ Embora mantenha alguma coisa do significado do texto original,


ela constitui um desvio em relação a este.

✓ A paródia se caracteriza, sobretudo, pela insubordinação e pela


crítica impiedosa.

✓ Paródia é um tipo de relação intertextual em que um dos textos


cita o outro com o objetivo de fazer-lhe uma crítica ou inverter ou
distorcer suas ideias, divertir, entreter etc.
Exemplo de paródia:

Texto original Texto parodiado

“Oh que saudades que eu tenho


“Oh! que saudades que tenho
Da aurora de minha vida
Da aurora da minha vida,
Das horas
Da minha infância querida De minha infância
Que os anos não trazem mais!“ Que os anos não trazem mais”

(Casimiro de Abreu, “Meus oito anos”) (Oswald de Andrade, "Meus oito anos")
Knitter Mona Lisa (em português, Mona Lisa Tricoteira), paródia da artista Elisabetta Stoinich da obra Mona Lisa, de Leonardo da
Vinci.
Tradução: o termo “tradução” deriva do latim (traducere) e significa
converter, mudar, transferir, guiar, de forma que transforma um texto
de uma língua em outra, fazendo uma espécie de recriação do texto-
fonte.
Exemplo de tradução:

Texto original
“Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.”
(Che Guevara)

Texto traduzido
“É preciso ser duro, mas nunca sem perder a ternura.”
CITAÇÃO
✓É uma transcrição de texto alheio, marcada por aspas. Esse
procedimento intertextual acontece quando um texto reproduz outro
texto ou parte dele.
Pastiche
Intertextualidade ou plágio
Define-se pastiche como obra literária ou artística em que se imita
grosseiramente o estilo de outra.

Visto algumas vezes como plágio, o pastiche tem sentido pejorativo.


Por isso, é necessário ter cuidado ao se estabelecer um diálogo
intertextual, para que a falta de criatividade não leve à imitação
grotesca.
Pastiche

Processo de imitação do estilo de um artista, escola literária


ou de um gênero textual.

O nascimento de vênus, Sandro Botticelli Mônica no nascimento de vênus, Maurício de Sousa


PASTICHE
Pastiche
PASTICHE
Bricolagem

Processo de citação extremo: um texto é formado a partir


de fragmentos de outros textos.
A vida não vale a pena e a dor de ser vivida.
Os corpos se entendem mas as almas não.
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Vou-me embora pra Pasárgada!


Aqui não sou feliz.
Quero esquecer tudo:
– A dor de ser homem…
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possui.
Referências:

Bakhtin. Mikhail. Estética da criação verbal. 2ª ed. São Paulo: Martins


Fontes, 1997
MARCUSCHI, L. A. & XAVIER A. C. Hipertexto e gêneros digitais: novas
formas desconstrução de sentido. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

SANT'ANNA. Affonso Romano de. Paródia, paráfrase & Cia, 7.ed. São Paulo:
Ática, 2000.
VILLAÇA, Ingedore Villaça Koch. O texto e a construção dos sentidos.9ª ed.
São Paulo: Contexto, 2007. p.59-74

KOCH, Ingedore G. Vllaça. Introdução à Lingüística Textual. São Paulo, Martins


Fontes, 2006.

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