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Evolução da Administração do Sistema Nacional de Educação em

Moçambique
Estudante: Mário Hage
Email: mariohage2016@gmail.com
Prof. Doutor Gaspar Lourenço Tocoloa

RESUMO:

O presente artigo fala da evolução do sistema educativo em Moçambique, pretende dessa forma analisar as
diferentes etapas que a educação moçambicana ultrapassou desde os primeiros anos de independências e ate dias
actuais. A pesquisa é feita numa altura em que a educação em Moçambique é enfrentada por vários desafios. O
sistema carece de uma política de transparência interna (sistema de avaliação nacional de ensino para todos os
subsistemas). Não restam dúvidas de que a questão da qualidade da educação ainda é um grande desafio para
Moçambique. Foge ao escopo deste trabalho prescrever soluções. Apesar de ter havido vários debates sobre a
melhoria da qualidade de ensino em Moçambique, ainda há necessidade de avançar para medidas concretas para
mudar a situação actual. Os resultados sinalizam que o desafio de qualidade hoje não pode ser enfrentado sem
alterações profundas na agenda de políticas educacionais e no envolvimento de todos os atores no processo
educativo por meio de consulta pública nacional.

Palavras-chave: Evolução, Sistema, Educação

ABSTRACT:

This article talks about the evolution of the educational system in Mozambique, aiming to analyze the different
stages that Mozambican education has gone through since the first years of independence and up to the present
day. The research is carried out at a time when education in Mozambique is faced with several challenges. The
system lacks an internal transparency policy (national education evaluation system for all subsystems). There is no
doubt that the issue of quality of education is still a major challenge for Mozambique. It is beyond the scope of this
work to specify solutions. Although there have been several debates about improving the quality of education in
Mozambique, there is still a need to move towards concrete measures to change the current situation. The results
indicate that the quality challenge today cannot be faced without profound changes in the educational policy
agenda and the involvement of all actors in the educational process through national public consultation.

Keywords: Evolution, System, Education

INTRODUÇÃO
Todos os sistemas educativos têm uma história de administração, de centralização ou de
descentralização, durante a qual são criadas estruturas que podem prevalecer ou ser alteradas de
acordo com as reformas levadas a cabo para adequar o sistema às condições socioeconómicas e/ou
políticas e às exigências que essas transformações sempre apresentam. Tais mudanças podem ter
origem nos factores internos (sistemas económico, social e político) ou nos factores externos (pressão
dos organismos internacionais, agências de ajuda externa, governos dos chamados países centrais), ou
ainda na conjugação de ambos.

O sistema educativo moçambicano, o denominado Sistema Nacional de Educação (SNE), foi implantado
em Moçambique na década de 80, um período em que o país atravessa um dos momentos críticos da
sua história e o mundo é marcado por mudanças políticas, económicas e culturais. As consequências
destas duas “forças internas e externas” foram bem visíveis no campo das políticas públicas e
particularmente na estrutura, nos objectivos, nos princípios e nos modelos de administração da
educação do País.

Numa análise diacrónica, o actual SNE é marcado por dois períodos: de 1983 a 1992, fase da vigência da
Lei 4/83, que introduz o Sistema Nacional de Educação (SNE) e de 1993 até a actualidade, fase da
vigência da Lei 6/92, que revoga a lei anterior e introduz reformas ao sistema devido à nova conjuntura
sociopolítica e económica do país. Para além disso, no primeiro período o País vive num regime de
Estado monopartidário, regime autoritário e modelo centralizado com uma forte dimensão político-
ideológica da FRELIMO; já no segundo período, embora ainda sob o governo maioritário da FRELIMO, o
Estado inaugura a fase de multipartidarismo (número 1 e 2 do artigo 77.º da Constituição de 1990) e
começa a vingar, mesmo que de forma mitigada, uma nova agenda política, social e económica de
ideologia neoliberal (número 1 do artigo 86.º e número 1 e 2 do artigo 41.º da Constituição de 1990).
Neste contexto, a Educação deixa de ser apenas uma propriedade estatal e passa a ser também da
responsabilidade das entidades privadas, comunitárias ou religiosas (Lei 1/93 de 24 de Junho e Lei
5/2003 de 21 de Janeiro; número 4 do artigo 113.º e número 3 do artigo 114.º da Constituição de 2004).

O sistema carece de uma política de transparência interna (sistema de avaliação nacional de ensino para
todos os subsistemas). Não restam dúvidas de que a questão da qualidade da educação ainda é um
grande desafio para Moçambique. Foge ao escopo deste trabalho prescrever soluções. Apesar de ter
havido vários debates sobre a melhoria da qualidade de ensino em Moçambique, ainda há necessidade
de avançar para medidas concretas para mudar a situação actual. Os resultados sinalizam que o desafio
de qualidade hoje não pode ser enfrentado sem alterações profundas na agenda de políticas
educacionais e no envolvimento de todos os atores no processo educativo por meio de consulta pública
nacional.

Contextualização
Sistema Nacional de Educação
Brandão (1986), o sistema de educação é o processo organizado por cada sociedade para transmitir às
novas gerações as suas experiências, conhecimentos e valores culturais, desenvolvendo as capacidades
e aptidões do indivíduo, de modo a assegurar a reprodução da sua ideologia e das suas instituições
económicas e sociais.

O Sistema Nacional de Educação é um processo que contribuirá para a formação de um Homem


moçambicano, com consciência patriótica, cientificamente qualificado, profissional e tecnicamente
capacitado e culturalmente liberto. (Freire, 2014).

O Sistema Nacional de Educação fundamenta-se nas experiências da educação desde a luta armada até
à presente fase da construção do Socialismo, nos princípios universais do Marxismo-Leninismo e no
património comum da Humanidade. Ele responde às exigências actuais e à estratégia do
desenvolvimento socialista e está perspectivado e planificado de forma a contribuir para a consolidação
da aliança operário-camponesa e a ser agente potenciador das transformações que se prevêem com a
socialização do campo, a mecanização de agricultura e a industrialização do País. (Chambal, 2017).
O Sistema Nacional de Educação garante o acesso dos operários, dos camponeses e dos seus filhos a
todos os níveis de ensino, e permite a apropriação da ciência, da técnica e da cultura pelas classes
trabalhadoras. Na sociedade moçambicana empenhada na construção do socialismo, a educação
constitui direito fundamental de cada cidadão e é o instrumento central para a formação e para a
elevação do nível técnico-científico dos trabalhadores. Ela é um meio básico para a aquisição da
consciência social requerida para as transformações revolucionárias e para as tarefas do
desenvolvimento socialista.
Na construção da sociedade socialista, o sistema de educação deve, no seu conteúdo, estrutura e
método, conduzir à criação do Homem Novo. O Sistema Nacional de Educação fundamenta-se nas
experiências da educação desde a luta armada até à presente fase da construção do Socialismo, nos
princípios universais do Marxismo-Leninismo e no património comum da Humanidade.

Metodologia
Para a concretização desta pesquisa recorreu-se à pesquisa bibliográfica e à análise de documentos. Em
complemento, as obras bibliográficas e pesquisas feitas na internet, que consiste na recolha, crítica e
interpretação dos dados cujas referências estão citadas dentro do trabalho e na referência bibliográfica
final.

APRESENTACAO E DISCUSSÃO DOS FACTOS


EVOLUÇÃO DO SISTEMA DE ENSINO EM MOÇAMBIQUE
A introdução do Sistema Nacional de Ensino (SNE) em 1983, marcou uma nova etapa na evolução da
educação em Moçambique. Contudo, o esforço do governo acabaria por fracassar, porque logo em
1976, iniciou-se uma guerra interna que só terminou em 1992.

Em termos regionais, a região Centro é que sofreu a maior deterioração do


sistema escolar pela guerra, seguida pelas regiões Norte e Sul, respectivamente.
Nas áreas não afectadas directamente pela guerra, a estagnação foi resultado,
direito ou indirecto, da combinação dos seguintes factores: a excessiva
centralização da gestão, aliada à fraca capacidade de supervisão e controle;
professores e direcção pouco capacitada e o distanciamento sociocultural das
escolas em relação às comunidades (PNUD, 2000).
Desde então, o meio rural foi fustigado e muitas escolas encerraram. Nas cidades houve maior
concentração da população, o que requeria mais escolas e espaços para os alunos fugidos do campo.
Mesmo depois do fim da guerra, a maior parte da população deslocada permaneceu nas cidades, com
todas as implicações sociais, políticas e económicas nefastas. Após a introdução do Sistema Nacional de
Educação em 1983, a educação em Moçambique foi e continuará a ser marcada pela adopção de
inovações curriculares à luz dos desafios que se colocam ao sistema, nomeadamente o incremento do
acesso e a melhoria da qualidade de ensino.

Em 1990 foi introduzida uma nova Constituição que impunha o multipartidarismo. Neste novo contexto
constitucional, o Estado aumentou os ingressos de alunos, sem ter professores 3 suficientes nem
dinheiro e recursos materiais apropriados. Ao mesmo tempo, como apontado por NORTE (2006), o
elevado crescimento populacional e o baixo nível de desenvolvimento económico em muitos países
africanos gera um ambiente onde a demanda por educação é muito competitiva. Consequentemente,
iniciou-se uma crise institucional que paulatinamente foi-se reflectindo na fraca qualidade de ensino.

O liberalismo político da década de 1990 não permitiu, de imediato, melhorar o


desempenho da educação. Com as cheias de 2000, agravou-se a falta de salas
de aulas e, assim, a cifra de alunos por professor cresceu, chegando a uma taxa
média de 80 alunos por turma ou mais (EPT, 2015). A taxa de alunos por turma
vária muito de acordo coma região, indo de um mínimo de 30 alunos por turma
em Namaacha, na região sul do país, para um máximo de 120 alunos por turma
em Nampula, na região norte do país. (Quincardete, 2015).
O sistema de ensino em Moçambique se caracterizou, desde então, por dois grandes eixos. O primeiro
eixo temático tem como tendência a busca de melhores estratégias para expandir a instituição escolar a
todas as regiões de Moçambique, e a todos os níveis de ensino, desde o básico ao universitário
(Chambal, 2017) Este eixo tem como referência uma expansão quantitativa das infra-estruturas
escolares.

Este foi um amplo sistema desenhado para concretizar os compromissos assumidos por Moçambique na
conferência de Jomtien (1990) e na de Dakar (2000). Porém, a demanda pela ampliação quantitativa das
escolas não permitiu que houvesse uma reflexão mais profunda sobre a forma que deveria assumir o
processo educativo com vista à promoção de um ensino de qualidade.

O segundo eixo temático visou debater a qualidade de educação oferecida nas escolas moçambicanas.
Ora, aparentemente, o debate sobre a qualidade de ensino procura evidenciar argumentos para se
oferecer aquilo que se considera como sendo uma boa qualidade de educação, cujo indicador de relevo
seria ter cada vez mais uma maior quantidade de alunos a transitarem de classe. Mas a prática mostra o
contrário, a transição de um grande número de alunos duma classe para outra, por si só, não revela na
verdade aquilo que deve ser um ensino de qualidade e equilibrado. Os alunos podem ser aprovados,
mas podem não estar devidamente preparados. Daí o grande equívoco do projecto de passagens
automáticas, norma que foi introduzida após a reforma do ensino básico em 2004. Segundo o ex-
director nacional do ensino secundário geral do Ministério de Educação, em Moçambique:

“(…) As coisas não estão a andar bem ao nível do ensino secundário geral devido
à qualidade de ensino. Nós recebemos alunos graduados do ensino básico. Se
estes alunos não estão bem preparados na leitura e escrita e cálculos, ai vamos
ter problemas (…). Por isso, a aposta do ministério é resolver o problema do
ensino básico” (Quincardete, 2015)
O problema da qualidade de educação em Moçambique, apesar de ser geral, apresenta assimetrias
regionais segundo NORTE (2006). A região Sul apresenta os melhores indicadores educacionais,
enquanto os piores encontram-se no Norte e Centro.

O problema da qualidade de ensino em Moçambique não é recente, como se deve imaginar, os antigos
ministros de educação pós independência já reconheceram publicamente este problema. Por exemplo,
um ex-ministro de educação, (2005-2009) Aires Ali, reconheceu à época do seu governo, que a
qualidade de ensino em Moçambique ainda não era das melhores. Dizia ele que a questão da melhoria é
uma das traves mestras nas políticas de educação no país. Sustentou ainda que a qualidade de educação
não deve ser avaliada através dos resultados avaliativos nas salas de aulas, mas deve envolver múltiplas
dimensões, nomeadamente a reforma curricular, formação de professores, capacitação de gestores,
assim como a distribuição do livro escolar.

SISTEMA EDUCATIVO EM MOÇAMBIQUE PÓS INDEPENDÊNCIA

O processo educativo em Moçambique foi resultado de uma evolução histórica das transformações
ocorridas no período de transição do país do sistema colonial para o sistema pós-colonial. Ele trouxe
uma nova visão sobre o futuro de Moçambique no que consiste à educação para todos. O processo
educativo em Moçambique teve como base três instrumentos como marco legal que fizeram com que o
governo de Moçambique pudesse construir um Sistema Nacional de Educação (SNE) capaz de responder
aos desafios das mudanças do país, desde 1975 até hoje. Esses instrumentos são os fundamentos legais
que marcaram as fases de regulamentação jurídica do Sistema Nacional de Educação em Moçambique
pós-independência regulamentadas pela Lei nº 4/83, de 23 de março, Lei 6/92 de 6 de maio e a Lei n.º
18/2018 de 28 de dezembro.

A lei do Sistema Nacional de Educação é o instrumento jurídico que estabelece os fundamentos,


princípios e objetivos da educação na República de Moçambique. Historicamente, as reformas
educacionais ocorridas em Moçambique desde a Independência Nacional (1975), fato que se tornou um
marco na organização política do país, podem ser divididas em dois grandes períodos: o período antes
de independência e o período pós independência. Cada um desses períodos está dividido em momentos
marcados por transformações sociais, políticas, econômicas e ideológicas que se caracterizam, por um
lado, pela imposição de uma ordem social e cultural hegemônica e a negação das estruturas
tradicionalmente existentes e, por outro, pela luta na tentativa da ruptura e superação para a
implantação de uma nova ordem social. Essas transformações vêm sendo construídas com contradições
e conflitos próprios de processos de busca de identidade de modo direto ou indireto os quais impactam
na compreensão das políticas internacionais, que orientam as reformas educacionais moçambicanas.

A educação antes da independência, em 1975, era considerada um serviço destinado para uma
determinada classe de pessoas, logo, tinha um caráter discriminatório. O objetivo central desse sistema
de educação era despersonalizar os moçambicanos, inculcando-lhes valores culturais e cívicos
portugueses. Antes da independência, havia dois tipos de escolas: uma para os filhos dos negros ou
“indígenas” e outra para os filhos dos brancos e assimilados.

Segundo Golias (1993), eram considerados assimilados todos aqueles moçambicanos que se adaptavam
à cultura portuguesa. Já os que não se adaptavam eram considerados indígenas, portanto, o sistema de
educação colonial estava dividido em dois subsistemas distintos, “um oficial destinado aos filhos dos
brancos e assimilados e o outro Indígena destinado aos pretos”.

Golias, (1993, p. 31). O sistema educacional visava impedir a população moçambicana de ter acesso à
educação para todos e com isso impedia que alcançassem postos de trabalho de maior qualificação
técnico-profissional, fato que impactava no não acesso a outros direitos assegurados.

A transição do sistema do período educativo colonial para uma de educação


moçambicana dá-se com a nacionalização do ensino, por meio do Decreto 12/75
de 6 de Setembro de 1975, que proíbe o exercício a título privado da actividade
de ensino em Moçambique, passando essa actividade a ser exclusiva do Estado.
Dada à necessidade de Moçambique reconstruir-se como uma nação em que
todos têm o direito e oportunidades iguais no processo de ensino, o Estado com
uso deste instrumento procurou redimensionar a educação como um valor
social para todos. (Golias 1993, p. 233).
Para Golias (1993, p. 233), “a nacionalização da educação constituiu o primeiro passo para o Estado
dirigir o processo educativo e uniformizar o sistema de ensino, em suma, para democratizá-lo”. Com a
nacionalização do ensino, a gestão do sistema educativo foi confiada, única e exclusivamente, ao
Ministério da Educação e Cultura de Moçambique (MECM). Foi nesse contexto que a educação tornou-
se socialmente um direito e dever de cada cidadão, como um elemento para o rompimento das
desigualdades sociais. Dessa forma, a educação aparece como a garantia de igualdade do acesso escolar
para todos, possibilitando assim a planificação da acção educativa com vista à criação de um novo
sistema de educação.

PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS INTERNACIONAIS DE INCLUSÃO EM


MOÇAMBIQUE

De acordo com a realidade mundial, Moçambique é um país em que a abordagem sobre inclusão e
educação inclusiva constitui impacto que estes processos têm na vida social e política de um país.
Moçambique, tal como outros países signatários da Declaração Universal dos Direitos Humanos DUDH
(1948), reconhece que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.

À luz desse documento, o país tem o dever de defender e promover os direitos fundamentais da pessoa
humana. Tomamos como direitos humanos toda construção histórica, expressão dos resultados de lutas
pelo reconhecimento e realização da universalização da dignidade humana, por serem construídos em
contextos sociais e políticos e, acima de tudo, por disseminar a emancipação, a liberdade, a igualdade, a
cooperação, a tolerância e a paz, atitudes para incorporar o interesse público, isto é para todos.
Reconhecer o direito à educação como essencial pelos moçambicanos constitui um desafio do Estado
para a sua implementação; para tanto, faz-se necessário reconhecer e potencializar as demandas da
população escolar, caracterizadas por algum tipo de deficiência, como, por exemplo, limitação
linguística, aprendizagem, económica, cultural e/ou social.

Em 1998, o Ministério da Educação de Moçambique assumiu, com o apoio da


UNESCO, o projecto denominado “Escolas Inclusivas”, com o objectivo de
combater a exclusão e promover a escolaridade para todos. Para materialização
desta política de inclusão, Moçambique estabeleceu, na Constituição da
República (CRM, 2004), que a educação constitui direito e dever de cada
cidadão e o Estado tem a responsabilidade de promover a extensão da
educação à formação profissional continuada, bem como a igualdade de acesso
de todos os cidadãos ao gozo deste direito tal como ditam os §§ 10 e 20 do Art.º
88 da Constituição da República de Moçambique. (Rocha, 2006).
Com efeito, o Estado serve-se de instrumentos legais que promovem as políticas de inclusão, tanto no
sistema educacional como nos diversos segmentos sociais. Porém, o entendimento da educação como
um direito perpassa a compreensão de um projecto educativo, que tem como fim a formação para a
cidadania, por meio da ciência, da emancipação, da liberdade, da razão e do pensamento crítico. Logo, a
sociedade passa a se organizar e agir de modo participativo, expressando a soberania popular, isto é, a
educação como um direito transforma a vida de uma sociedade tornando-a democrática em sua
essência.

No âmbito de reajustamento do sistema educativo, face às políticas internacionais de inclusão escolar,


Moçambique busca implementar as suas regulamentações e políticas educacionais, de acordo
recomendações e estratégias internacionais, as quais são subsidiadas pela Declaração Mundial sobre a
Educação para Todos (UNESCO, 1990), Declaração de Montreal (França, 1999), Declaração sobre
Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), a Carta para o Terceiro Milénio (1999), Declaração de
Dakar (2000) em que Moçambique é também signatário. Todos esses documentos estão em acordo com
a Constituição da República (MOÇAMBIQUE, 2004), a Lei do Sistema Nacional de Educação
(MOÇAMBIQUE, 1994) e com a Declaração de Salamanca assinada e divulgada em 1994.

Moçambique adopta as políticas internacionais de inclusão no sistema


educativo quatro anos depois, contemplando os princípios da não
discriminação, a busca da igualdade de direitos e a equidade nos processos de
educação para todos A partir de 1998, em Moçambique, Escolas Inclusivas são
entendidas como espaços que se movimentam para reorganizar seus processos
formativos, desde sua estrutura organizacional. Tais movimentos demandam
mudanças no currículo, na eliminação de barreiras físicas, atitudinais e
procedimentais. (Rocha, 2006).
Demandam também a formação continuada dos professores, com foco na percepção das aprendizagens
e na maneira de ensinar, com o intuito de atender as especificidades de cada estudante. Essa proposta
de escolas inclusivas foi introduzida na rede educacional em Moçambique gradualmente, sendo que a 1ª
fase envolveu 11 (onze) escolas, tendo como fundamento que “todos os alunos devam aprender juntos,
sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentam”, como
recomenda a Declaração de Salamanca.
Conclusão
A pesquisa chegou a conclusão de ao longo dos últimos 40 anos após a independência (1975),
Moçambique apresentou melhorias no seu sistema de ensino no que no que se refere ao acesso e à
expansão da rede escolar. Apesar desses avanços, os desafios são ainda muito maiores no que concerne:
às condições das infra-estruturas, à formação dos professores, à gestão escolar e pedagógica. As
políticas de educação em Moçambique são apontadas como regulares pelos pesquisados; por outro
lado, o envolvimento dos professores na formulação das políticas educacionais, não é abrangente a nível
nacional.

Ao longo da história de Moçambique existiram propostas diferentes em relação aos contornos e rumos
que a educação deveria tomar no novo país independente. Os diferentes posicionamentos foram
evidentemente acompanhados pela adopção de políticas educativas e pelas suas estratégias de
implementação.

O sistema carece de uma política de transparência interna (sistema de avaliação nacional de ensino para
todos os subsistemas). Não restam dúvidas de que a questão da qualidade da educação ainda é um
grande desafio para Moçambique. Foge ao escopo deste trabalho prescrever soluções. Apesar de ter
havido vários debates sobre a melhoria da qualidade de ensino em Moçambique, ainda há necessidade
de avançar para medidas concretas para mudar a situação actual. Os resultados sinalizam que o desafio
de qualidade hoje não pode ser enfrentado sem alterações profundas na agenda de políticas
educacionais e no envolvimento de todos os atores no processo educativo por meio de consulta pública
nacional.

E um estudo também efectuado pelo Banco Mundial (2014) constatou que o conhecimento geral dos
professores moçambicanos é fraco. Não restam dúvidas de que a questão da qualidade da educação
ainda é um grande desafio para Moçambique. O processo de construção de uma educação de qualidade
não termina nunca. Quando avançamos alguns passos, o objectivo se afasta, porque o mundo se
modifica e porque as demandas aumentam. Os resultados sinalizam que o desafio de qualidade hoje
não pode ser enfrentado sem alterações profundas na agenda de políticas educacionais.

Temos certeza de que não há nenhuma possibilidade de discordância em relação a essas afirmações por
todos aqueles envolvidos com os processos de escolarização. A qualidade de educação em Moçambique
não está na altura da expectativa do público e, fora de dúvida, há muito o que fazer, corrigir e inovar. A
preocupação demonstra que se vê inadiável a necessidade de melhoramento imediato, o que demanda
critério, proficiência e, mais que tudo, requer novo paradigma educacional.
Bibliografia
BRANDÃO, C.R. (1986). O que é educação. São Paulo: Ed. Brasiliense

CHAMBAL, L. A. (2007). Os Processos de escolarização dos alunos com necessidades educativas especiais
em Moçambique. Dissertação. (Mestrado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
São Paulo

FREIRE, P. (2014). Educação como prática da liberdade. (36ª ed). São Paulo: Paz e Terra

GOLIAS, M. (1993). Sistemas de ensino em Moçambique. Editora Escolar. Maputo

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QUINCARDETE, R. M.F. (2002). O direito à educação em Moçambique.

ROCHA, A. (2006). Moçambique Historia e Cultura. Maputo: Texto Editores.

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