Você está na página 1de 31

Marta Harnecker & Gabriela Uribe

O Partido:
Sua
Organização
Vol. 9

Tradução por Valentin L. Petrovsky

1
Publicado em 1972

O partido: Sua Organização. Caderno nº 9 da segunda série de


Cadernos de Educação Popular: Como lutar pelo socialismo?.
Feito por Marta Harnecker com a colaboração de Gabriela
Uribe, durante o governo da Unidade Popular no Chile. Não foi
revisado desde então pela autora, que o considera em vários
aspectos superados após seus últimos trabalhos sobre esses
temas. Postado em: Chile, Editora Nacional Quimantú, 1972;
Espanha, Ediciones De La Torre, sem data; Argentina, Centro
de Estudos Políticos, 1973 e em vários outros países.

2
Os sete primeiros títulos desta série são os seguintes:
1 — Explorados e Exploradores
2 — Exploração Capitalista
3 — Monopólios e Miséria
4 — Luta de Classes
5 — Imperialismo e Dependência
6 — Capitalismo e Socialismo
7 — Socialismo e Comunismo

Os quatro últimos títulos desta série são os seguintes:

8 — O Partido: Vanguarda do Proletariado


9 — O Partido: Sua Organização
10 — Dirigentes e Massas
11 — Estratégia e Tática

3
Este caderno explica a organização que um partido revolucionário deve assumir para
liderar a luta do proletariado. O partido revolucionário deve estar em contato com os
vários setores da massa trabalhadora, mas deve ser capaz de se mobilizar como um só
homem em ação. Você deve discutir sua política extensivamente, mas, ao mesmo tempo,
realizar de forma unitária suas resoluções. Deve manter uma disciplina revolucionária e
ao mesmo tempo desenvolver a iniciativa de seus membros. Deve dividir o trabalho entre
seus membros, mas ao mesmo tempo coordenar as diferentes tarefas para direcioná-los
ao objetivo final.

Mas que métodos os líderes deveriam empregar para trabalhar ao lado das massas?
Como conseguir sua união e sua mobilização desenvolvendo sua capacidade criativa? Por
que existem líderes burocráticos? Como as massas conseguem apresentar suas
contradições sem quebrar a unidade do povo?
No CEP nº 10: DIRIGENTES E MASSAS, responderemos a essas perguntas.

4
Índice

I. INTRODUÇÃO ............................................... 6
II. O PARTIDO: SUA ORGANIZAÇÃO INTERNA ............................................... 8
1. OS NÍVEIS DIFERENTES DE ORGANIZAÇÃO............................................... 8
1) ORGANISMOS DE BASE ............................................... 8
2) ORGANISMOS REGIONAIS ............................................... 9
3) ORGANISMO CENTRAL ............................................... 10
III. OS CONGRESSOS ............................................... 12
IV. O SISTEMA DE IMPRENSA E PUBLICAÇÕES ............................................... 13
V. PRINCÍPIOS DE DIREÇÃO POLÍTICA E DE TRABALHO PARTIDÁRIO
............................................... 22
1. PRINCÍPIO DO CENTRALISMO DEMOCRÁTICO
2. O PRINCÍPIO DA DIREÇÃO COLETIVA
3. O PRINCÍPIO DA CRÍTICA E AUTOCRÍTICA
1) A CRÍTICA
2) A AUTOCRÍTICA
4. A DISCIPLINA CONSCIENTE
VI. A DIVISÃO DO TRABALHO DO PARTIDO
1. TAREFAS DE ELABORAÇÃO E DISCUSSÃO TEÓRICA
2. TAREFAS DE PROPAGANDA
3. TAREFAS DE AGITAÇÃO E MOBILIZAÇÃO
4. TAREFAS DE ORGANIZAÇÃO
1) TAREFAS INTERNAS
2) TAREFAS EXTERNAS
VII. RESUMO ............................................... 28
VIII. QUESTIONÁRIO ............................................... 29
IX. BIBLIOGRAFIA ............................................... 30

5
I. INTRODUÇÃO

No Caderno anterior, vimos como nasceu o partido da classe operária e como este
partido é o órgão que introduz a teoria marxista no movimento operário e orienta
suas lutas em direção aos verdadeiros interesses de classe do proletariado.
Enfatizamos a necessidade de tomar o poder político para realizar esses objetivos
da classe trabalhadora que refletem as aspirações de todo o povo. Vimos também
como, sendo um partido da classe trabalhadora, haverá um foco nos elementos
mais importantes ou destacados do proletariado, já que o papel do partido é ser o
organismo dirigente da classe: sua vanguarda.
Neste Caderno estudamos a maneira como o partido da classe trabalhadora deve
se organizar para cumprir seus objetivos políticos. Estes consistem em cumprir os
verdadeiros interesses de classe do proletariado: destruir o sistema capitalista e
construir uma sociedade sem classes e sem exploração.
Contudo; para alcançar este objetivo é necessário ter uma luta muito dura contra
aqueles que defendem o sistema capitalista de exploração. Este é um grupo muito
minoritário, mas muito poderoso, porque controla o poder político, econômico e
ideológico da sociedade e o usa para se opor e se manter como classe dominante.
Portanto, para alcançar seu objetivo, o proletariado deve ter um instrumento
político capaz de derrotar inimigos tão fortes que estejam dispostos a se arriscar
para manter sua posição privilegiada. É por isso que é necessário que o partido
tenha uma organização forte e disciplinada.
Mas essa organização rígida e disciplinada não é qualquer organização. É a
organização que a classe trabalhadora se entrega para cumprir seus interesses,
que, embora reflitam os interesses de amplos setores da sociedade, só esta classe
está disposta a cumprir isso até o fim. Por isso esta organização deve funcionar
com métodos proletários de trabalho coletivo e não com métodos individualistas.
São essas características gerais da luta de classes do proletariado contra a
burguesia que determinam os princípios ou normas gerais que governam a
organização do partido dos trabalhadores. E é por isso que o chamamos de partido
operário revolucionário marxista-leninista.
No entanto, como qualquer princípio ou regra geral, os princípios de organização
marxista-leninistas são apenas guias para enfrentar situações concretas. A
organização do partido assume formas bastante diferentes, dependendo da
situação específica do país em que deve atuar. Por exemplo, o partido marxista-
leninista no Vietnã do Sul, onde a luta de classes assume a forma de uma guerra de
libertação nacional, não pode ter a mesma organização que um partido num país
onde a revolução já triunfou. Como é o caso do União Soviética, China ou Cuba. Da
mesma forma, a organização do partido da classe trabalhadora em um país onde
existe um regime de liberdades democráticas não podem ser as mesmas de onde
existe uma ditadura fascista anticomunista. Dependendo da realidade histórica de

6
cada país, a luta de classes pode assumir diferentes formas: legal ou ilegal, pacífica
ou violenta, e a organização partidária deve se adaptar a elas.
É importante insistir nisso, para não aplicar mecanicamente à realidade atual de
nosso país as formas de organização que caracterizaram os partidos operários de
outros países em tempos históricos e situações políticas muito diferentes das
nossas. No entanto, rejeitar a aplicação mecânica das formas organizacionais não
significa ignorar os princípios gerais que emergem da missão política fundamental
que todos os partidos revolucionários da classe trabalhadora devem cumprir.
A questão é aplicar os princípios da organização marxista-leninista às condições
concretas de cada país concreto, buscando criativamente a melhor organização
para cumprir os objetivos estratégicos e táticos que o partido propõe em cada
etapa da luta.

7
II. O PARTIDO: SUA ORGANIZAÇÃO INTERNA

1. Para exercer a direção política da luta de classes, o partido deve ter uma
estrutura que se estenda por todo o país e que permita chegar aos diversos
setores da população a partir de um gerenciamento centralizado e único.
Deve estabelecer mecanismos que garantam a discussão ampla dos
problemas, a fim de pactuar uma linha comum de ação e escolher o grupo
que a conduzirá. Deve ter meios de comunicação que sirvam para orientar,
educar e organizar os militantes e as massas.

I. OS DIFERENTES NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO


2. Em termos gerais, o partido do proletariado deve ter organizações de base no
local de trabalho e nos bairros; com organizações regionais intermediárias, que
reúnem várias organizações de base de um setor ou região e as conectam com as
organizações centrais que dirigem todo o partido. Esta estrutura piramidal permite
a comunicação permanente entre todos esses organismos: da base ao topo e de
cima para baixo. Ela possibilita a mobilização do partido como um só homem na
luta constante contra seus inimigos.

1) ORGANISMOS DE BASE
- Agora, de que forma o partido deve estar presente nos diferentes setores do
povo?

- No local de trabalho.

8
3. O partido proletário deve encontrar a sua força principal na organização dos
trabalhadores dos grandes centros industriais, visto que ocupam lugares
estratégicos na marcha do sistema de produção capitalista. Além disso, reúnem
não só o maior número de trabalhadores, mas também o grupo mais influente e
combativo do proletariado.
4. Cada fábrica deve ser considerada uma fortaleza para o movimento operário. Aí
o partido deve colocar entre os trabalhadores os melhores colegas, os mais
combativos, os mais trabalhadores, os mais honestos, os que têm mais iniciativa,
para os convidar a fazer parte da organização partidária da indústria.
- Nos Bairros.
5. Mas, além dessas organizações partidárias principalmente dentro das fábricas,
também é importante criar organizações partidárias em nível de bairro, cidade ou
população. Estes devem ter como uma das funções fundamentais divulgar
rapidamente informações, notícias ou chamados e assim mobilizar as massas para
definir tarefas. Só um aparelho bem montado a este nível da vizinhança e ligado às
fábricas do setor, é capaz de estar alerta e vigilante contra inimigos muito
poderosos que estão dispostos a tudo para não abandonar os seus privilégios. Para
enfrentar um golpe militar, para preparar uma insurreição, para preparar a luta
eleitoral, essas organizações de bairro são muito importantes.
6. Por meio dessas organizações de base**, os membros do partido estão se
preparando para agir dentro das massas. Os militantes devem participar
ativamente nas várias organizações que se dão nas massas, nos centros de trabalho
e nos bairros, tais como: sindicatos, associações de cidades, centros para mães,
clubes desportivos e culturais, etc***. Eles devem se preocupar em desenvolver e
fortalecer essas organizações de massa. Por meio dessas organizações, das quais
participa todo o povo, o partido deve captar permanentemente os sentimentos das
massas, a fim de orientar concretamente suas lutas.
7. Cada organização de base, seja na frente de trabalho ou no bairro, não deve
agrupar um número muito grande de colegas. Se há muitos colegas que desejam
militar, é preferível fazer vários pequenos grupos no mesmo setor ou bairro, pois
para que os ativistas se sintam responsáveis na organização, eles devem participar
da discussão dos problemas e da distribuição de tarefas. Desta forma, cada
membro sabe que tem coisas muito específicas para fazer.

2) ORGANIZAÇÕES REGIONAIS
8. As organizações de fábrica assim como nos bairros devem se coordenar em nível
regional. Este órgão regional deve cobrir um setor específico da cidade ou país para
dirigir as ações conjuntas das organizações de base que ali existem. Por sua vez,
esses órgãos regionais devem ser coordenados em nível nacional em um órgão
central que dirige e orienta politicamente o movimento. No caso de uma fábrica ou

9
bairro em que existem vários grupos de base, é conveniente criar uma coordenação
interna, que é aquela que está interligada a nível regional.
** Essas organizações de base têm nomes diferentes nos diferentes partidos revolucionários existentes no
Chile: Célula (P.C.), Núcleo (P.S.) e GAP (MAPU), etc.

*** No Chile, as organizações de massa que surgiram em relação ao atual processo de mudanças
revolucionárias, tais como: Juntas de Abastecimento e Controle de Preços (JAP) nas cidades e bairros;
organizações de participação e controle da produção nas empresas (Comitês de Produção, Vigilância,
Controle); organizações para a realização da Reforma Agrária (Conselhos Comunais de Camponeses), etc.

3) ORGANISMO CENTRAL

9. Este órgão central tem sido frequentemente denominado "Comitê Central" e


deve ser constituído pelos melhores quadros do partido ao nível das diferentes
regiões, tendendo a envolver o maior número possível de quadros operários.
10. Como as suas tarefas são múltiplas e devem preocupar-se com o progresso do
partido a nível nacional, procurando o maior contato direto com as organizações
de base, é conveniente que os seus quadros sejam, tanto quanto possível,
“profissionais da revolução”, ou seja, quadros alugados pelo partido para se
dedicar a esta obra política. Só desta forma se assegura uma direção política eficaz
e estável. Para o desempenho das diversas tarefas de gestão, este órgão central
divide o trabalho entre os seus membros, que formam diferentes comissões ou
frentes de trabalho: propaganda, organização, cultura, educação política, finanças,
sindicato, questões agrárias, etc.

11. O "comitê central" é o órgão máximo do partido, aquele que dirige sua vida
política geral. Este órgão não deve ser excessivamente numeroso, mas deve incluir

10
representantes das diferentes regiões do país. Além disso, é preciso haver um
órgão menor e mais executivo para resolver como enfrentar os problemas políticos
que surgem no dia a dia. Este órgão foi denominado "comissão política" ou
"secretariado político" ou "secretariado executivo".
12. Esta é, em linhas gerais, e sem entrar em detalhes, a estrutura orgânica do
partido operário: pequenos destacamentos ao nível dos centros de trabalho e
bairros, coordenados ao nível regional e nacional. Desta forma, cada um deles e
todo o partido podem atuar como um só homem na luta de classes.
13. A forma como os militantes são escolhidos, o número de pessoas que podem
aderir a uma organização de base, a forma orgânica que cada partido assume,
dependerá da situação histórico concreta pelo qual passa a luta de classes em seu
país. Não existem esquemas rígidos para isso. Por exemplo, não há dúvida de que o
partido proletário do Vietnã do Sul deve se organizar em grupos muito pequenos,
com grande mobilidade e capacidade de resposta para enfrentar a guerra em seu
próprio território. Isto não é necessariamente o caso no Vietnã do Norte ou em
Cuba.
14. Situações de legalidade ou ilegalidade influenciam fortemente a forma orgânica
do partido. Nos países capitalistas, deve estar sempre preparado para passar
rapidamente da legalidade para a ilegalidade.

11
III. OS CONGRESSOS

15. O partido deve estabelecer mecanismos que garantam a discussão ampla dos
problemas para alcançar a unidade de pensamento e liderança.

16. Os congressos são reuniões periódicas em que se discute e se decide a linha


política partidária** e se elegem as lideranças responsáveis por sua condução,
pondo em prática essa linha.

17. Participam representantes de todas as organizações partidárias, após


discussão, nas próprias bases, dos pontos a serem discutidos no Congresso.
Geralmente, os Congressos Regionais são realizados primeiro, para depois finalizar
em um Congresso Nacional, no qual todo o partido está representado.

18. Para que estes Congressos cumpram o seu objetivo de serem os órgãos
máximos de discussão e decisão, é imprescindível que o pensamento popular seja
corretamente representado. Mas não só isso, também é fundamental garantir a
liberdade de expressão dos participantes durante o encontro, evitando todo tipo
de pressão. É por isso que é muito conveniente que a votação em discussões
importantes seja realizada por votação direta e secreta. Isso permite refletir
verdadeiramente a opinião das minorias, uma vez que não aparecem
individualizadas e, portanto, facilita a adesão desses colegas posteriormente para
cumprir as decisões aprovadas pela maioria.

19. Nestes Congressos, assim se define a linha política do partido para


determinado período e são escolhidos os dirigentes encarregados de colocá-la em
prática. Todos os militantes devem agir com disciplina para colocar em ação a linha
que triunfou e respeitar as indicações e ordens dos dirigentes eleitos.

20. Existem também outras reuniões, como prorrogadas, plenárias, etc., dos
diversos órgãos partidários para discutir determinados problemas e tomar
decisões, respeitando a linha política geral.

12
** Veja em que consiste a linha política partidária na parte V deste Caderno.

IV. O SISTEMA DE IMPRENSA E PUBLICAÇÕES

21. Além de manter e desenvolver sua organização, uma das funções fundamentais
do partido proletário é trazer a teoria marxista para o movimento operário e
conduzir suas lutas em uma orientação revolucionária. Para o cumprimento destas
funções, é imprescindível que o partido tenha um sistema de imprensa que seja
capaz de transmitir a cada membro, no mais curto espaço de tempo possível, as
tarefas gerais do partido neste ou naquele momento, as ideias gerais de
organização, as verdades teóricas que é importante divulgar e as formas táticas de
agir.

22. Deve-se começar por ter um jornal partidário, cuja tarefa mais importante é
colaborar para a consolidação da organização partidária e de sua unidade
ideológica interna. O jornal também deve contribuir para orientar a luta das
massas, recolhendo suas preocupações, levantando seus problemas e promovendo
sua ação e organização.

23. O partido deve ter publicações de diferentes níveis teóricos e para diferentes
frentes: sindical, juvenil, feminina, etc.

13
V. PRINCÍPIOS DE DIREÇÃO POLÍTICA E DE TRABALHO
PARTIDÁRIO

1) Princípio do Centralismo Democrático


24. O partido do proletariado é, como vimos, uma organização para liderar a luta
de classes, e por isso é essencial que tenha uma direção única que defina as ações
imediatas que deve realizar nos diferentes momentos da luta. Essa direção única é
possível porque reflete uma linha geral de ação que foi discutida por todos os
membros e aprovada pela maioria. Aqueles cujas posições permaneceram
minoritárias devem submeter-se na ação à linha que triunfa, desenvolvendo junto
com os demais membros as tarefas que dela decorrem. É então a existência desta
linha de ação clara e o seu cumprimento pelos militantes que permite a unidade de
ação do partido e uma direção única centralizada.
25. Agora, para colocar em prática esta linha geral, é necessário definir em cada
organismo partidário as ações concretas que os militantes devem realizar. Para se
chegar a esta definição, é necessário que haja uma ampla discussão no grupo
correspondente, que todos tenham uma opinião e que finalmente sejam adotados
acordos que todos devem cumprir. Para alcançar uma ação coordenada de todo o
partido, os órgãos inferiores devem levar em conta as indicações feitas pelos
órgãos superiores em suas decisões.
26. Essa combinação de uma direção central única e discussão democrática nos
diferentes níveis do partido é o que se denomina “centralismo democrático”.

- Vamos ver com mais detalhes em que consiste.

27. A democracia no partido do proletariado manifesta-se principalmente na


elaboração e discussão da linha política do partido e na eleição dos dirigentes. Esta
é uma discussão em que todos os militantes do partido participam. Ela começa na
base e passa por representantes que tomam as decisões em um encontro final. Esse

14
mecanismo de discussão é denominado Congresso do Partido, como vimos. Ele
permite o confronto livre de diferentes pontos de vista, pois é a aplicação do
princípio da democracia que faz com que os melhores acordos sejam alcançados.
Assim, todos podem deixar algo de lado, todos podem participar do
desenvolvimento e posterior decisão da linha política do partido. Somente essa
discussão democrática garante a direção única, a disciplina consciente e a unidade
de ação.
28. Mas não há democracia apenas nos períodos parlamentares. Ela se manifesta
ao longo da vida do partido, pois, para colocar em prática essa linha, para tomar
certas decisões políticas, deve haver sempre uma discussão ampla dos problemas,
para reunir todas as opiniões, aproveitar iniciativas, tirar dúvidas e, onde possível,
divergências, etc. Quanto mais importantes forem as decisões a serem tomadas,
mais ampla será a discussão na base**. Mas, além disso, não deve ser apenas
discutido na base, mas também é essencial criar os mecanismos para que os
resultados da discussão cheguem aos organismos superiores de forma
permanente. Assim, respeitando a linha política em ação, a discussão ideológica
dentro do partido se mantém viva, enriquecendo as decisões que são tomadas
democraticamente.
29. Como podemos ver, a democracia possibilita a plena integração dos militantes
em todas as tarefas, sua participação criativa na discussão e solução de problemas
fundamentais: o militante escolhe, pode ser eleito, toma decisões, controla os
organismos superiores.
30. Mas o princípio da democracia não poderia ser um princípio eficaz para a
organização da vanguarda da classe trabalhadora se não houvesse outro princípio
capaz de assegurar que os acordos alcançados de forma democrática sejam
cumpridos. Este é precisamente o princípio da direção central ou "centralismo".
31. A esse respeito, é importante destacar que nem sempre os acordos são feitos
por unanimidade, embora tenha havido uma ampla discussão. Há militantes que
não concordam com as posições majoritárias. Mas, uma vez tomadas as decisões,
essas minorias devem se submeter em ação à decisão da maioria. Essa é uma das
formas pelas quais o centralismo se manifesta, e somente se for posto em prática é
que a unidade de ação se concretiza: ou seja, toda a organização atue na mesma
direção, com o mesmo propósito. Só assim podem ser evitadas as melhores
condições para o cumprimento dos acordos e se pode evitar a existência de
fragmentações. A ação desses grupos prejudica gravemente a parte, pois enquanto
a parte decide cumprir certas tarefas, eles tomam outras decisões e estão
envolvidos em outras tarefas. Um partido do proletariado comprometido com a
luta de classes não pode se dar ao luxo de ter em seu meio elementos
indisciplinados que rompam a unidade de ação, sem os quais não há direção
revolucionária possível.
32. Outro aspecto do centralismo é que os órgãos superiores devem exigir que os
órgãos inferiores relatem suas ações de tempos em tempos, para revisar como o

15
trabalho tem funcionado e como cada militante respondeu às tarefas atribuídas e
às instruções que lhe deram os organismos superiores para realizá-los.
33. O princípio do centralismo, portanto, requer a submissão das minorias às
maiorias e dos órgãos inferiores aos superiores.

** É importante que as diferentes teses ou posições que nele se defendem possam atingir toda a
base do partido. A melhor maneira de fazer isso é por meio de publicações internas do partido.

Mas então, você não pode ter opiniões diferentes da maioria no partido?
34. Isso é sem dúvida possível, e é importante que as minorias lutem, do ponto de
vista ideológico, para impor suas opiniões. Mas tudo tem seu tempo e seu
momento. Há momentos no partido que são de ampla discussão, mas quando
acaba, e são feitos acordos para promover determinadas ações, só resta um
caminho: agir de acordo com as resoluções tomadas pela maioria do partido. A luta
ideológica interna só é possível na medida em que não apresenta dificuldades para
a unidade de ação.
35. Vemos, então, como ambos os princípios: centralismo e democracia se
complementam harmoniosamente.
36. Ora, a relação entre ambos princípios, o peso que um deles pode ter em relação
ao outro, depende em grande medida do momento político específico que se vive.
Em momentos de crise, de perseguição política, é o princípio da liderança central
que assume o papel mais proeminente. Ao contrário, em tempos de relativa paz,
quando se discute a linha do partido e suas tarefas, o elemento dominante passa a
ser o princípio da democracia interna. Mas não há dúvida de que pode haver o
perigo de um partido do proletariado cair em desvios de tipo centralista, que
restringem a democracia interna a ponto de transformar seus membros em
simples executores de ordens procedentes de organismos superiores. E também
pode cair em desvios ultrademocráticos, a ponto de não ser capaz de dar uma
direção única, a um partido que gasta seu tempo em discussões internas que
esterilizam toda ação concreta.
37. Uma combinação correta de centralismo e democracia deve estimular a
iniciativa dos dirigentes e de todos os membros do partido. Somente a ação criativa
em todos os níveis do partido é capaz de garantir a vitória na luta de classes. Na
prática, esta iniciativa manifesta-se na energia criativa, no sentido de
responsabilidade, de ordem no trabalho, na coragem e na aptidão para resolver
problemas, para exprimir opiniões, para criticar defeitos, bem como no controle
exercido com cuidado de camarada, sobre organismos superiores.

16
38. Se assim não fosse, o partido enquanto organização deixaria de ter sentido por
não cumprir o princípio da democracia interna. Uma insuficiente vida democrática
impede que a plena iniciativa criativa dos militantes seja implantada, com o
consequente declínio de sua atuação política.

2) Princípio da Direção Coletiva


39. Outra questão intimamente ligada ao partido é o princípio da direção coletiva.
40. O partido do proletariado é a vanguarda da classe operária, é a organização dos
melhores elementos da classe para liderar a luta pela libertação de toda a classe
trabalhadora e das massas operárias. Não é um grupo formado em torno de um
caudilho para dar-lhe o apoio de massa de que necessita para realizar suas
ambições políticas. Por isso, o que importa em um partido proletário não são os
dirigentes como pessoas; O que importa é que haja uma direção política capaz de
enfrentar as duras tarefas que o partido deve cumprir na luta pela libertação da
classe trabalhadora, e para cumprir essas múltiplas tarefas é imprescindível que
haja uma direção coletiva em que cada uma de seus membros contribui com sua
visão e sua preparação para resolver os problemas e tarefas do momento. Só uma
liderança coletiva deste tipo é capaz de evitar que caia em posições individualistas.
41. Essa liderança coletiva deve ser exercida nos diferentes níveis de organização
do partido. De sua direção máxima até suas organizações de base.
42. Agora então, é preciso destacar que essa direção coletiva deve estar sempre
atrelada ao princípio da responsabilidade individual. Isso significa que a
possibilidade de discutir e celebrar acordos coletivamente não deixa os líderes ou
militantes livres para cumprir as tarefas e acordos que devem cumprir. Eles devem
responder individualmente às responsabilidades que lhes são confiadas.
43. É importante não esquecer que após cada reunião de discussão coletiva,
atribua tarefas específicas a cada participante. Do contrário, cai-se no vício do
"reunionismo", que impede a passagem das palavras para a ação, e sem ação
concreta há muito pouco que os militantes possam contribuir para a discussão.
44. A gestão coletiva também traz outras vantagens para a organização. Uma delas
é que ajuda a desenvolver a iniciativa dos militantes e quadros, uma vez que
participam em todas as decisões. Além disso, se garantirão a educação e o
desenvolvimento dos quadros de direção pelas mesmas razões.

3) Princípio da Crítica e da Autocrítica


45. A crítica e a autocrítica são armas muito boas para desenvolver um trabalho
eficiente, para livrar nossas atividades dos erros, para expor os fracassos ou falhas
e conseguir sua eliminação, para fortalecer a disciplina e nos obrigar a ser mais
exigentes conosco mesmos, para formar militantes e quadros.

17
1) A CRÍTICA.
46. Uma verdadeira atitude crítica dentro do partido exige dos líderes e militantes
uma luta tenaz contra a tendência de ver apenas os aspectos positivos das coisas,
de ver apenas os sucessos.
47. A crítica deve ser permanente, objetiva e feita a partir de uma postura de
classe. Isso significa que devemos criticar tudo o que vai contra os objetivos
revolucionários perseguidos pelo partido, tudo o que impede o desenvolvimento
do trabalho e que afasta ou desvia a parte do cumprimento das tarefas que lhe
foram estabelecidas.
48. Mas a crítica deve ser, antes de tudo, o resultado de uma análise cuidadosa e
madura. O direito de criticar atribui aos militantes a responsabilidade de evitar
pronunciamentos superficiais e gerais.
49. Por que dizemos isso? Porque a crítica não é uma simples enumeração de erros
ou deficiências: o fundamental é a análise das causas que originam esses erros ou
deficiências. E é difícil encontrar as causas sem um bom conhecimento do
desenvolvimento do trabalho, das lutas ocorridas, sem uma análise completa da
situação.
50. E por que é tão importante conhecer as causas? Porque só se os conhecermos
poderemos apontar as medidas que devem ser tomadas para evitar a repetição de
erros. Se isso não for feito, a crítica torna-se um ato destrutivo que desintegra o
movimento em vez de levantá-lo. Erros são cometidos novamente, porque sua raiz
não foi examinada.
51. As críticas podem ser dirigidas tanto a um militante quanto ao próprio
funcionamento das organizações partidárias.
52. No entanto, é fundamental que essa crítica seja feita dentro da organização e
com base em seus interesses e princípios. Os comentários e opiniões despejados
nos corredores, fora das reuniões e canais normais do partido, viram fofoca e nada
ajudam a resolver os problemas. Dentro do partido é possível verificar se as tarefas
foram bem distribuídas, se o parceiro que foi designado a aquela tarefa realmente
consegue cumpri-la. Dificilmente podemos criticar um companheiro que mal
consegue escrever por ter feito um pôster ilegível, ou um colega que é muito tímido
por não ter feito um discurso brilhante. Neste caso, a crítica deve ser dirigida antes
aos responsáveis pela atribuição dessas tarefas. Outras vezes podemos descobrir
que as tarefas não são cumpridas porque não foi explicado bem em que consistiam.
53. Há algo que devemos sempre cuidar quando fazemos uma crítica, a influência
que nossa simpatia ou antipatia por certos companheiros pode ter sobre nós.
Devemos fazer um grande esforço de objetividade, sempre nos ajustando aos fatos
e não a suposições ou preconceitos. Devemos criticar sinceramente, diretamente,
sem fazer concessões, mas sempre com o propósito de ajudar nosso parceiro,

18
educá-lo, tentando resolver as fragilidades que encontramos em seu trabalho ou
atitude.
54. A imagem a seguir ilustra muito bem o significado da crítica de um militante
revolucionário: "você tem que tratar a doença para salvar o paciente", ou seja, você
tem que criticar não para afundar seu camarada ou destruir as organizações do
partido, mas para ajudar a superar os problemas e conseguir melhores militantes,
uma melhor organização partidária e um melhor trabalho coletivo no futuro.

2) AUTO-CRÍTICA.
55. A autocrítica é o modo como ela se mostra se temos consciência de nossos
erros e se entendemos e assimilamos uma crítica que nos foi feita. Através dela
apontamos as nossas falhas, mas não só, também procuramos determinar a sua
origem, pois assim poderemos ultrapassá-los no futuro. A autocrítica deve ser feita,
portanto, somente quando acreditamos sinceramente que cometemos um erro e
estamos dispostos a corrigi-lo. É um ato sério de autoanálise e não deve ser usado,
então, para fazer concessões oportunistas ou para sair da linha.
56. É muito saudável que todos os líderes partidários se sintam permanentemente
sob o controle das críticas dos militantes. Isso ajuda muito a desenvolver um
trabalho eficiente.
57. Podemos concluir que onde não há crítica, o trabalho leva ao fracasso, tende ao
relaxamento e à desorganização. Sem o exercício da crítica, quadros e militantes
não podem ser educados, seu desenvolvimento não é promovido. A crítica e a
autocrítica são instrumentos que garantem as verdadeiras relações de trabalho
comunistas: relações fraternas e amistosas nas quais, ao apontar erros, os colegas
são ajudados a desenvolver as suas melhores qualidades para a ação coletiva.
58. Lenin foi o maior defensor da necessidade de crítica e autocrítica, e apontou o
seguinte:
59. “A atitude de um partido político para com os seus erros é uma das provas mais
importantes e fiéis da seriedade desse partido e do cumprimento efetivo dos seus
deveres para com a sua classe e para com as massas trabalhadoras. Reconhecer
abertamente os erros, expor suas causas, analisar a situação que os produziu e
examinar os meios de corrigi-los; é isso que caracteriza um partido sério, é nisso
que consiste o cumprimento de seus deveres, ou seja, educar e instruir primeiro a
classe e depois as massas”.

4) A disciplina consciente
60. O princípio da disciplina está intimamente relacionado aos princípios que já
discutimos. A disciplina de uma organização de vanguarda é totalmente diferente
da disciplina imposta pela burguesia em suas instituições: nos centros produtivos,
no sistema escolar, no exército regular. A disciplina burguesa é imposta por uma

19
autoridade que não admite críticas e cujas ordens devem ser cumpridas às cegas. A
burguesia só tem interesse em fazer funcionarem as suas instituições: não tem
interesse que os seus subordinados compreendam o seu mecanismo de
funcionamento ou os fins a que se destinam, visto que basicamente todas as
instituições burguesas servem os interesses desta classe. Nessas condições, a
disciplina só é mantida pela ameaça de punição, pelo respeito à ordem e pela
ordem, e não porque o subordinado a considere necessária.
61. A disciplina de uma organização revolucionária, por outro lado, baseia-se na
compreensão e na concordância de seus membros quanto aos objetivos que o
partido persegue. É uma disciplina consciente, admitida por todos, convencidos de
que é preciso vencer a luta em que seus interesses de classe estão comprometidos.
Desse modo, cada militante passa a se sentir responsável por mantê-lo por seu
próprio compromisso revolucionário.
62. É por isso essa disciplina está relacionada com a democracia dentro do partido
e com o exercício da crítica e da autocrítica. No entanto, é importante destacar que
para um militante que acaba de ingressar no partido e que está acostumado com a
disciplina burguesa, não é fácil compreender e desenvolver a disciplina
revolucionária da noite para o dia. Isso requer todo um processo de aprendizagem
que ocorre paralelamente ao seu treinamento e capacitação política.
63. Os líderes do partido têm uma grande responsabilidade a este respeito. Na
discussão com os militantes sobre suas tarefas e responsabilidades, o método tem
que ser o da persuasão. Os companheiros ganham por uma tarefa ou
responsabilidade pela explicação, ampla discussão, pelo entendimento de que é
necessário que assumam com responsabilidade as tarefas que devem desenvolver.

20
64. Por outro lado, é necessário chegar a decisões corretas, compreensíveis e
justas, e para isso é importante que sejam tomadas por todos os militantes. Se eles
não participarem, não entenderem ou não estiverem convencidos, não haverá
disciplina consciente. Daí a importância de manter o princípio da liderança
coletiva. Como se vê, então, para se chegar a uma disciplina consciente, para que
ela não se quebre, é preciso manter vivos dentro do partido todos os princípios da
direção política e do trabalho partidário. Contra o abandono desses princípios é
preciso lutar permanentemente, pois isso traz graves desordens à organização do
partido, impedindo-o de cumprir sua missão de vanguarda da classe trabalhadora.

21
VI. A DIVISÃO DO TRABALHO NO PARTIDO

65. O partido da classe operária deve ser um partido organizado segundo métodos
científicos de trabalho.

66. Não se pode usar métodos artesanais onde todos fazem tudo, sem que haja uma
especialização nas funções.

22
67. Métodos de trabalho deste tipo tudo o que fazem é, por um lado, esbanjar as
forças existentes e, por outro, não aproveitar uma grande quantidade de forças que
podem ser postas em ação.

68. A divisão do trabalho dentro da própria organização torna possível fazer


melhor uso das forças e recursos existentes. Mas não só isso, quanto mais diversas
forem as tarefas do trabalho comum, mais fácil será encontrar pessoas capazes de
executar cada uma delas. O importante é que cada militante seja capaz de
desenvolver sua obra parcial dentro da grande coletividade** operária que é o
partido operário. Em outras palavras, ele deve saber integrar sua tarefa parcial ao
trabalho geral do partido.

69. Por outro lado, são inúmeras as tarefas parciais que podem ser desempenhadas
por representantes das mais diversas classes, que, embora nunca sejam militantes
do partido operário, estão dispostos a cumprir tarefas de apoio à organização que
são muito importantes.

70. Mas não é apenas conveniente especializar funções dentro dos próprios
militantes e apoiadores da organização. É importante que os comitês locais
também se encarreguem de tarefas específicas, conseguindo especializar-se em
alguma função prática. Por exemplo: se em um setor há trabalhadores gráficos que
possuem uma imprensa, esse comitê local pode se encarregar de imprimir a
propaganda do partido.

71. A única maneira de a direção central deixar de ser um organismo onde só se


discute, aconselha e convence, para se tornar efetivamente quem dirige a
orquestra, é preciso que saibam exatamente quem toca cada instrumento, em que
lugar, quem ensinou e aprendeu a usá-lo, onde e como o faz, quem é o responsável
e quem precisa ser substituído quando a orquestra começa a soar mal.

** Trabalhador coletivo é o conjunto de trabalhadores da empresa moderna que desempenham diferentes


funções parciais dentro do processo produtivo. Ver CEP No. 4: Class Struggle, Vol. 1, p. 32. O partido pode ser
comparado a um grande trabalhador coletivo, pois nele os militantes desempenham várias tarefas que se
coordenam entre si para alcançar um objetivo comum.)

72. Dentro das linhas gerais da divisão do trabalho entre os membros do partido,
devemos distinguir as seguintes tarefas:

a) tarefas de preparação/elaboração e discussão teórica.


b) tarefas de propaganda.
c) tarefas de agitação.
d) tarefas organizacionais.

23
1) Tarefas de elaboração e discussão teórica
73. Ela é fundamental, pois cada partido revolucionário deve elaborar a teoria de
sua própria revolução. O que queremos dizer com isso?
74. Que para fazer a revolução em um determinado país, para fazer a revolução no
Chile, por exemplo, os princípios do marxismo não podem ser aplicados
mecanicamente, como uma receita que já contém todos os indícios necessários
para curar a doença do capitalismo e alcançar o socialismo em nosso país.
75. O marxismo é a teoria geral da sociedade e, portanto, não nos diz como é o
Chile e como devemos agir para transformá-lo. Mas o marxismo é o instrumento
que devemos usar para conhecer nossa realidade. Permite-nos primeiro fazer um
diagnóstico da realidade que vive o nosso país e, em seguida, apontar as grandes
linhas ao longo das quais a nossa ação deve ser orientada para transformar essa
realidade.
76. O marxismo nos diz o que devemos estudar em nosso país para conhecê-lo e
transformá-lo. Devemos primeiro conhecer sua economia, estudar as várias formas
como os bens materiais são produzidos, determinar qual dessas relações de
produção é a dominante, e como ela se combina com as outras, devemos descobrir
o ponto forte e o ponto fraco de nossa economia, cujas contradições são mais
agudas, em segundo lugar temos que saber como essa situação afeta a economia, a
infraestrutura do nosso país, ao nível de ideias e leis, formas de governo, aparatos
de estado repressivos, etc., isto é, o nível da superestrutura ideológica e política.
Finalmente, temos que estudar a correlação de forças: isto é, o número e o estado
de prontidão das massas que estão para a transformação da sociedade em
comparação com as forças daqueles que defendem o estado de coisas atual. Isso
significa saber quem são nossos inimigos e quem são nossos amigos, seus pontos
fortes e fracos.
77. Por outro lado, o marxismo nos mostra a importância da história para
compreender a realidade. Por isso, este estudo da realidade de um país deve
compreender a história de suas transformações econômicas em sua vida política e,
fundamentalmente, a história do movimento operário, sua tradição de luta, o
desenvolvimento de suas organizações e seu nível de consciência política.
78. Somente através de um conhecimento muito profundo da realidade concreta
do país pode ser elaborada uma teoria revolucionária que corresponda a esta
realidade concreta e não a outra. Fazer "a própria teoria da revolução" consiste,
então, em apontar qual é o caminho que um determinado processo revolucionário
deve seguir segundo as características daquele país.
79. Esta "teoria da própria revolução" se manifesta no que se denomina: "a linha
política do partido revolucionário daquele país".
80. Esta linha de política deve conter diretrizes de longo e curto prazo (no caderno
11, Estratégia e Tática, desenvolveremos mais este ponto).

24
81. No caso chileno, o Programa da U.P. indica o caminho adequado através do qual
se criam as condições para iniciar o socialismo em nosso país.
82. É importante insistir que cada revolução foi, é e continuará a ser um processo
único para cada país. A experiência russa, chinesa, cubana ou vietnamita nunca se
repetiu da mesma forma, em toda a sua originalidade. Isso significa, então, que os
revolucionários nada ganham com o conhecimento dessas experiências, que elas
não devem ser levadas em consideração de forma alguma?
83. Pelo contrário, os sucessos e erros ocorridos na direção de outros movimentos
revolucionários devem ser aproveitados pelos revolucionários de outros países, a
fim de aperfeiçoar sua luta. Mas para isso é necessário estudar criticamente esses
processos e assim saber o que corresponde à situação particular de outros países e
o que constitui uma experiência que pode ser aproveitada no próprio país.
84. Finalmente, a tarefa de elaboração teórica e discussão dentro do partido é
necessária para enfrentar as diferenças que ocorrem na vida interna de cada
partido e com outras forças de esquerda. Referem-se fundamentalmente à forma
como a luta de classes e o processo revolucionário devem ser conduzidos. Esta é
uma luta ideológica que o partido deve saber desenvolver da forma mais ampla
possível. Isso permite educar politicamente os militantes. Desta forma, o partido
pode propor às massas uma linha de ação clara e unitária, que seus membros
saberão defender e realizar porque participaram de sua elaboração e discussão.
85. Por todas estas razões, o partido do proletariado deve ter quadros preparados
para cumprir esta tarefa teórica.

2) Tarefas de propaganda

86. O partido deve realizar um amplo trabalho de propaganda. Isso significa um


trabalho constante de denúncia e esclarecimento dos grandes problemas que
afligem nosso país. Por exemplo, diante do desemprego ou da inflação, explique
como essas situações são fruto do regime capitalista, do seu próprio
funcionamento. Mostre que eles são a forma pela qual aparecem as contradições
internas do sistema e que, portanto, esses problemas só serão resolvidos quando a
sociedade capitalista for totalmente destruída e uma nova sociedade se
estabelecer.

87. Esta é uma tarefa educativa que fornece instrumentos teóricos para a discussão
e ação política dos militantes com as massas, arma-os ideologicamente para levar a
luta até as últimas consequências.
88. Essa tarefa é realizada principalmente por meio de relatórios escritos, boletins
ou por meio de seminários ou palestras regulares. Para isso, o partido deve ter

25
quadros propagandistas encarregados de realizar essa tarefa e alocar os recursos
necessários para isso.

89. Os propagandistas devem ser quadros com uma boa preparação teórica e,
sobretudo, com grande capacidade pedagógica para colocar em palavras simples,
ao alcance de todos, os temas que devem desenvolver. É conveniente, ao mesmo
tempo, que eles possam se deslocar de um lugar para outro para colaborar nas
tarefas de propaganda onde são mais necessários.

3) Tarefas de Agitação

90. Mas esta análise dos problemas mais gerais da sociedade capitalista não é
suficiente. É necessário desenvolver constantemente o trabalho de agitação em
cada situação de conflito diário enfrentado pelas massas. Em cada frente de
trabalho, na população, na escola, surgem diariamente conflitos que é preciso
analisar e apontar a que se devem. A ideologia dominante tende a impor às massas
uma atitude passiva em relação a elas, a aceitá-las como um mal necessário e sem
importância.

91. O dever da parte, de seus membros, é chamar a atenção para cada conflito e
denunciar a verdadeira causa que o produz. Assim, por exemplo, perante a má
situação da família de um colega despedido porque já é muito idoso, é necessário
demonstrar que o trabalho vitalício do trabalhador enriqueceu o empregador e
não o trabalhador, que não se preocupa com a situação em que o trabalhador se
encontrava, que, apesar das leis sociais que os trabalhadores conquistaram, o
empregador consegue contorná-las. Nesse caso, o objetivo é mostrar a injustiça do
sistema, criar uma reação de indignação diante dele e indicar que a situação dos
trabalhadores só mudará com um sistema social diferente.

92. A agitação só pega um problema, explica sua causa e tira uma conclusão
política dele. Não faz uma explicação do desemprego em geral, como no caso
anterior, pois seu objetivo não é dar uma educação política completa às massas,
mas apenas chamar sua atenção para cada problema para produzir sua reação de
rebeldia e apontar quais são seus verdadeiros interesses de classe. Ao mesmo
tempo, deve impulsionar a multidão à ação para resolver o problema específico. No
exemplo dado, pressionar o empregador a cumprir as leis sociais do setor.

93. Para cumprir esta tarefa, o partido deve preparar alguns militantes que são
verdadeiros quadros agitadores frente as massas.

94. O agitador deve ter a capacidade de ser um bom orador e um profundo


conhecedor da massa a quem se dirige. Por isso, ao contrário do propagandista, ele
deve se dedicar ao trabalho político em um determinado setor da população. Você
não precisa de muito treinamento teórico. Basta ter uma visão geral das coisas. A

26
qualidade mais importante em um agitador é sua capacidade de comunicar-se
emocionalmente com o grupo com quem você fala.

95. O agitador deve estar presente em todas as manifestações espontâneas da luta


da classe trabalhadora. Deve ajudar os trabalhadores a orientar-se nas várias
questões, a formular as suas reivindicações. Deve organizar as reclamações
políticas em todos os campos, não apenas no campo econômico. Deve fazer com
que as massas reajam contra os abusos sofridos por todas as classes da sociedade.

4) Tarefas de Organização
96. Essas tarefas são fundamentais para que o partido cumpra suas funções de
vanguarda da classe trabalhadora. São de dois tipos: tarefas internas, destinadas a
manter e desenvolver a organização partidária, e tarefas externas destinadas a
criar e fortalecer as organizações de massas.

1) TAREFAS INTERNAS.

97. O partido deve manter sua organização, monitorando o bom funcionamento


das organizações nos diversos níveis. Isso significa garantir que as organizações de
base tenham vida própria, que desenvolvam a iniciativa, sem esperar tudo das
organizações regionais ou centrais. Mas, ao mesmo tempo, eles devem relatar
constantemente sobre seu trabalho e exigir informações e controlar os organismos
superiores. As organizações superiores devem coordenar as ações das
organizações de base, distribuir as tarefas para evitar a dispersão dos esforços,
estabelecer com elas mecanismos de comunicação rápida e permanente, que
permitam ao partido se mobilizar como um todo.
98. Mas também é necessário desenvolver a organização incorporando os
melhores elementos da massa ao partido. Para que seu ingresso seja controlado e
testado, o novo membro deve ser informado dos princípios de organização e
disciplina do partido. Só assim poderá mostrar que os respeita e que pode fazer
parte da vanguarda do proletariado.

2) TAREFAS EXTERNAS.

99. Nada adquire um partido revolucionário em estar muito bem organizado


internamente, com ideias muito claras, com propagandistas e agitadores, se não
conseguir organizar a massa para que ela possa tomar iniciativas que impulsionem
o processo revolucionário.

27
100. O partido deve promover a criação e o desenvolvimento de organizações de
massa tanto no local de trabalho, nas cidades, nos bairros, no campo. Os militantes
devem participar ativamente em sindicatos, associações de bairro, centros de
mães, clubes juvenis, centros culturais, etc. Neles, os militantes devem se destacar
por seu trabalho sério, sua dedicação, sua responsabilidade, mas não devem fingir
ser os únicos ou monopolizar as posições de liderança. Muito pelo contrário, eles
devem assegurar que a maioria do povo participe dessas organizações de massa e
que os quadros dirigentes saiam da própria massa.
101. Existem militantes especialmente dotados para essas tarefas organizacionais:
militantes com iniciativa executiva, capacidade de comando, capazes de levar em
conta todos os detalhes para colocar em prática determinadas tarefas, dotados de
imaginação para estabelecer os mecanismos que ajudam a manter e desenvolver a
organização.
102. Concluiremos dizendo que a tarefa do partido é muito grande e que as forças à
sua disposição devem ser utilizadas da melhor maneira possível. Por isso, o partido
deve levar em conta as características de cada militante para atribuir-lhes as
tarefas que, de acordo com suas aptidões, poderão desempenhar melhor. Também
é necessário que cada vez que uma tarefa seja planejada e acordada, seu
cumprimento seja controlado. Não basta que o militante concorde em a cumprir:
deve informar ao órgão correspondente de como o faz, das dificuldades e dos
sucessos que está obtendo. O restante dos militantes deve ajudar nesse controle,
pedindo contas aos responsáveis por sua gestão, e estar dispostos a colaborar com
ele ou substituí-lo se ele não puder cumprir.
103. Num organismo em que o trabalho se divide, o incumprimento das tarefas que
cada um deve desempenhar pode perturbar gravemente o trabalho coletivo e pôr
em perigo o partido e os objetivos que se fixou.

VII. RESUMO

28
104. Neste segundo caderno sobre o partido, analisamos sua organização e como
ela se relaciona intimamente com a luta de classes que o partido dirige. Em
primeiro lugar, paramos para analisar as várias organizações do partido, sua
estrutura piramidal que permite a comunicação permanente e organizada de todos
os seus membros. Destacamos também o papel dos Congressos e do sistema de
imprensa e publicações.

105. Vimos imediatamente os princípios de liderança política e trabalho partidário


que tornam sua unidade ideológica e ação possível. Destacamos aqui: o princípio
do centralismo democrático e como ele garante a liberdade de opinião e discussão,
mas, ao mesmo tempo, o cumprimento unitário dos acordos, o princípio da
liderança coletiva, que evita desvios e vícios individualistas; o princípio da crítica e
da autocrítica, que permite corrigir erros; o princípio da disciplina consciente e sua
diferença da disciplina burguesa.

106. Por fim, vimos a importância de adotar métodos científicos de trabalho, como
a divisão do trabalho dentro do partido, para realizar com eficiência as grandes
tarefas que o partido exige e deve desenvolver. Paramos para analisar as tarefas de
elaboração e discussão teórica, que permitem ao partido definir uma linha política
e armar ideologicamente os militantes, as tarefas de propaganda, que fazem uma
análise permanente da situação atual desde a perspectiva revolucionária; as
tarefas de agitação, que mantêm a mobilização permanente das massas junto com
os problemas cotidianos; tarefas organizacionais, que estão consolidando o partido
como o instrumento fundamental de luta do proletariado. Concluímos que a
organização do partido deve ser uma organização feroz e disciplinada para vencer
a luta de classes contra inimigos muito poderosos, que se opõem à classe
trabalhadora para cumprir seus interesses de classe: destruir o sistema capitalista
de exploração e construir uma sociedade sem classes e sem exploração; a
sociedade comunista.

VIII. QUESTIONÁRIO
29
107. Por que existem princípios gerais de organização do partido da classe
trabalhadora?
108. O que deve ser levado em consideração para aplicá-los?
109. Qual é a estrutura geral do partido?
110. Como é alcançada a unidade de ação do partido?
111. O que se entende por “centralismo democrático”?
112. Como se manifesta a democracia?
113. Como se manifesta o centralismo?
114. De que forma ocorre a luta ideológica dentro do partido?
115. Por que é importante ter uma liderança coletiva?
116. Como deve ser feita a crítica dentro do partido?
117. Qual é a diferença entre disciplina burguesa e disciplina revolucionária?
118. Por que é importante fazer uma divisão do trabalho no partido?
119. O que significa "elaborar a teoria da própria revolução" e como isso se
relaciona com a linha política do partido?
120. O que é um propagandista?
121. O que é um agitador?
122. Quais são as tarefas organizacionais que o partido deve realizar?

30
IX. BIBLIOGRAFIA

123. LENIN: O que fazer?, Especialmente capítulos II e IV Obras Completas, volume


V, Edição. Cartago, Buenos Aires, 1969, ou Edição. Quimantú, 1972.

124. LENIN: Carta a um camarada. Obras completas, volume VI, Edição. Cartago,
Buenos Aires, 1969.

125. LENIN. Um passo para frente, dois passos para trás. Trabalhos completos,
edição. Cartago, Buenos Aires, 1969.

126. ROSA LUXEMBURGO: Problemas organizacionais da social-democracia russa,


em "Teoria marxista do partido político", Cadernos Passado e Presente, Córdoba,
1969.

127. LUKACS, G.: Observações metodológicas sobre a teoria da organização, em


"Teoria marxista do partido político", Cadernos Passado e Presente, Córdoba,
1969.

128. MAO TSE TUNG: Para um estilo correto de trabalho no partido e sobre os
métodos de liderança, Obras selecionadas, volume III; e a eliminação de equívocos
dentro do partido, Obras selecionadas, volume I, Edições em Línguas Estrangeiras,
Pequim, 1953.

COM OFERECIMENTO E INICIATIVA DA TRADUÇÃO POR:

31

Você também pode gostar