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CAPÍTULO I
O MUNDO DO TRABALHO: O SURGIMENTO DA FIGURA DO OPERÁRIO
PRINCESINO, SUA TRAJETÓRIA, SUA EXPERIÊNCIA.
“Nos homens de Ponta Grossa, então é notável a tendência para tornaremse o
tipo industrial. Ao par que muitos estrangeiros ou indivíduos de origem estrangeira,
encontramse aqui numerosos filhos da terra que tem dado prova de extraordinária
capacidade no comércio e indústria”9
(Nestor Vitor)
1.1 "Princesa dos Campos": pelo tropeiro e pelo operário.
Final do século XIX, a região sul do Brasil começa a se destacar pela possibilidade
de uma ascendente industrialização. O caso de Ponta Grossa foi característico nesse
sentido, pois foi ao leito do entroncamento ferroviário10 que passava pela cidade que se
instalou parte considerável de suas primeiras indústrias.
Mudanças significativas proporcionaram tonalidade ao desenvolvimento da
cidade. Ponta Grossa, antes passagem dos tropeiros, se encontrava no “coração” de uma
região que sobrevivia da criação de bovinos11. Era em meio a grandes propriedades rurais
que se desenvolvia uma paisagem industrial modernizada nos trilhos do trem e nos muros
das fábricas, nascia a "Princesa dos Campos"'12.
O trajeto econômico de Ponta Grossa passou a seguir esse mito dos trilhos. E
9 O conhecido romancista Nestor Vitor elaborou tal constatação sobre o homem princesino. Essa citação
que primeiramente se apresenta de forma inocente, representa que não bastava uma cidade ser urbana e
industrial, possuir energia elétrica e expulsar a falsa mendicância de seu território, Ponta Grossa
necessitava também possuir uma cultura do trabalho, um modelo de cidadão que além de civil era prático
no trato laboreiro (SANTOS, 1996 p. 225).
10 Segundo Leonel Monatirsky: “Desde a sua implantação no Brasil – há mais de um século e meio , a
ferrovia contribuiu para o desenvolvimento econômico do país, foi um dos alicerces para a integração
regional e nacional, auxiliou processos de urbanização e industrialização brasileiros, foi decisiva nas
transformações urbanas das cidades ferroviárias e influenciou a sociedade brasileira” (MONATIRSKY, 2006,
p. 3). Relevando as duas estradas de ferro que passam pelos Campos Gerais, Estrada de Ferro São
Paulo/Rio Grande (fundada em 1896) e Estrada de Ferro do Paraná (fundada em 1894), Monatisky ainda
identifica o período de 1892 a 1930 como uma etapa de ascensão econômica da região, "quando a
economia nacional e a região sul do Paraná produzia e exportava ervamate e madeira" (op. Cit. p. 5).
11 Antes da ferrovia, Ponta Grossa, conhecida como "corredor do gado", aparece no almanaque Geografia
Ilustrada como “nada além de uma trilha de gado em um planalto, margeando os rios e evitando as matas e
os capões... sem limites, sem terras cultivadas, sem nada que atraia o homem que ali aparece de
passagem, não tem nome certo ou vida própria. É, apenas, lugar nenhum” (CIVITÁ, 1975, p. 42).
12 Alguns autores rememoram essa categoria. Todavia, antes mesmo de Ponta Grossa receber tal
nomenclatura, ainda enquanto freguesia de Castro, ela já apresentava interesse em desenvolver vida
própria, sendo dedicada a diversas atividades econômicas. Sendo que em registrase inúmeros pedidos
feitos à Câmara de Castro para desenvolver o comércio local (GONÇALVES; PINTO, 1983, p. 23). Esse
espírito é responsável por construir um sentimento de autonomia por parte de Ponta Grossa perante Castro.
20
FIGURA 01 Fotografia da Praça João Pessoa, em destaque a Estação da Estrada de Ferro de
Ponta Grossa (PREFEITURA, 1936).
FIGURA 02 Seção de Máquinas da Estrada de Ferro São PauloRio Grande (Op. Cit.)13.
13 A foto demonstra as condições de trabalho nas estradas de ferro, sendo elite operária ou não, é na face
dos trabalhadores imortalizada digitalmente que percebemos parte de suas vidas. O Álbum de Ponta
Grossa de 1936 é encontrado hoje como um anuário de orgulho ao trabalho para a época da qual foi
publicado, exibindo o corpo dos trabalhadores como monumento do labor e do seu próprio esforço
(PREFEITURA, 1936).
22
A participação nesses acontecimentos por parte da população pontagrossense e
mais precisamente pelos trabalhadores princesinos, se torna o foco desse trabalho. No
caso do momento da ferrovia e da urbanização, não podemos desconsiderar a
participação do braço humano nesse processo.
Em um cenário qualificado por tais elementos que compõe essa urbe ponta
grossense devemos começar privilegiando e expondo a participação dos trabalhadores no
desenvolvimento da cidade. Os caboclos colhedores de ervamate, os imigrantes e seus
carroções, os carregadores do Mercado Municipal, os ferroviários à beira dos trilhos, os
comerciários em seus balcões... Da produção à venda, todo esse processo
desenvolvimentista passou pela mão do ser humano e mais especificamente pelas mãos
dos trabalhadores. Seja na figura do tropeiro ou do operário, a memória nos possibilita
remeter às suas participações na economia.
Ainda que o ponto de incidência da pesquisa seja delimitado por outro recorte
temporal, se torna necessário conceber o aparecimento do trabalhador princesino
partindo de sua participação na história de Ponta Grossa.
Primeiramente, devemos considerar que as condições econômicas e a
efervescência de uma sociedade urbana em desenvolvimento geraram necessidades que
não estavam somente baseadas na produção, mas também na existência de um grande
número de trabalhadores que compusessem as forças produtivas e a mãodeobra local e
que baseassem sua existência no consumo de muitos bens que, em algumas situações,
eram eles mesmos que produziam. Categorias de trabalhos eram criadas, fábricas eram
edificadas, mulheres e homens oriundos de vários lugares do Brasil e também, em grande
excedente, de outras nacionalidades, participaram dos números da população de Ponta
Grossa.
O desenvolvimento econômico, a oportunidade de escoamento da produção por
meio do tropeirismo e da ferrovia, o êxodo rural e os movimentos imigrantistas não devem
ser considerados eventos vãos, fatores desagregados, mas sim, devem ser tratados como
condições simultâneas desse processo e que podem ser representados na demografia
dos tempos e na passagem da criação e do desenvolvimento do ambiente urbano.
A colonização, que alguns situam antes desse momento, já revelava a figura do
tropeiro, do estancieiro, do ervateiro e de outras categorias ligadas à terra. Esse processo
23
pode ser observado na divisão social do trabalho, entre os possuidores dos meios de
produção e os desprovidos de tais meios (MARX; ENGELS, 2006). Além dessa
constatação, para além dessa dialética, o recorte específico procura estabelecer um
diálogo a uma abrangência mais ampla, proporcionando tonalidade às particularidades
encontradas em Ponta Grossa. Não há possibilidade de se colocarem generalizações ao
tema, nem de se proporcionar regras ao geral a partir dessas particularidades (REVEL,
1998).
Em um instante à frente, a administração de novas forças produtivas, a criação do
mundo do trabalho também se revelava no espaço das fábricas. O que esse frisar de
momentos econômicos nos revela, entretanto, é outra simultaneidade. As primeiras
indústrias foram transfiguradas no enriquecimento da ervamate, como foi o caso das
casas de ervamate fundadas no início do século XX como a Hervateira Brasil, a Casa
Hoffmann e a Firma Gelbcke e Miró se tornaram o semblante dessa economia.
A Serraria Olinda também compactua com essa imagem. Assim como a erva
mate, a extração de madeira participou tanto do processo de extrativismo quanto das
primeiras iniciativas nada tímidas da indústria regional. Essa imagem também foi
corroborada pela localização da indústria, ao lado da Viação Férrea São PauloRio
Grande. Portanto, vizinha do mito que corria nos trilhos, era uma atividade era antes
considerada rudimentar e rural – todas essas situações citadas não se colocavam
imediatas à economia industrial, mas se tornam ativas ainda no início da economia
terciária em Ponta Grossa, associando a ainda crescente “Princesa dos Campos” ainda
aos meios de produção da terra.
As próprias linhas de trem, entrelaçadas no emaranhado dos trilhos revelam um
dos maiores segmentos em número de trabalhadores da cidade de Ponta Grossa 14. Sobre
os ferroviários pontagrossenses foi construída uma imagem proveniente do momento que
14 Pertencente a esse cenário, o trabalhador da ferrovia ocupa a cidade de Ponta Grossa e se assume
enquanto figura participante do seu processo. Segundo Rosângela Petuba: "Neste contexto, os ferroviários
pontagrossenses foram considerados tanto numericamente, quanto por sua organização o segmento mais
destacado entre os trabalhadores locais, desde a primeira metade do século passado. Ao longo das
décadas, a categoria protagonizou diversos momentos significativos na história da cidade" (PETUBA, 2005,
p. 4). Leonel Monatirsky desenvolve a figura do operário simplesmente a partir de suas condições salariais,
empregatícias e por seu poder de compra (MONATIRSKY. 2006), Petuba desmistifica essa imagem dos
ferroviários enquanto membros de uma "elite operária" quando propõe o cruzamento de depoimentos orais
com demais fontes. Os constantes acidentes e as constantes baixas nas viagens férreas são a constatação
que não só tange o trabalho de Petuba como também revela as condições de trabalho das mulheres e dos
homens da ferrovia (PETUBA, op. Cit.).
24
o país vivia.
Os aspectos da industrialização local muito explicam o perfil dos operários
princesinos. A situação em que se encontravam nas suas condições de trabalho traduz
algumas prerrogativas de sua organização no movimento operário que surgia já no fim do
século XIX. A priori, a proposta não é fazer um apanhado linear da trajetória da indústria
na cidade, mas demonstrar a influência que alguns fenômenos industriais possuíram
sobre a sociedade pontagrossense. O retrospecto, na realidade, nos remete aos eventos
que significaram desde a possibilidade da existência do proletariado na cidade até o seu
cotidiano dentro e fora das fábricas15.
Entre esses acontecimentos que correlacionam a produção dos bens de produção
e seu consumo com uma possibilidade de existência do proletariado local, percebemos aí
uma cidade conhecida por atrair empresas ao leito da ferrovia. Além disso, a cidade
desde o início do seu alastramento urbano já demonstrava a incidência de vilas e bairros
operários, no caso, ocupados por imigrantes no interior desse percurso. É o caso de
Uvaranas16 e Oficinas17, bairros tradicionais que passaram a agrupar a rede urbana de
15 O crescimento urbano de Ponta Grossa revelouse na paisagem constituída de bairros e subcentros. A
industrialização da cidade foi seguida de um outro fenômeno que promulgou diferenciais não só na estrutura
do quadro urbano, mas também no cotidiano dos trabalhadores. Sob uma ótica mais detalhada, o estudo da
urbanização interage com o comportamento que esse crescimento impulsiona um novo ritmo criado na vida
dos trabalhadores fora das fábricas. Quem são? O que fazem? E para chegar a respostas a esses
questionamentos, o pesquisador necessita enxergar o operário além da sua figura construída na jornada de
trabalho, essas pessoas vão além disso. São mães, pais de família, moradores de várzea ou à beira de um
olho d'água, capitães do time de futebol da vila onde moram, lavam pra fora, freqüentadores de botecos,
membros de associações, entre outros elementos que procuram possuir para formar sua identidade. A
característica de Ponta Grossa ser colonizada por subcentros distantes da localização central do município
permeia uma antiga discussão que não ocorre ocasionalmente, mas já prevê toda uma forma de alojar uma
classe social em um ambiente específico. Segundo Maria Auxiliadora Decca: “os industriais ou buscavam
situar os operários próximos às indústrias ou, inversamente, colocaram as indústrias em locais densamente
habitados pela população mais pobre em função dos preços mais baixos das habitações nos bairros de
várzea ou de bairros mais altos, mas distantes, sem quaisquer melhoramentos” (DECCA, 1987, p. 18). Essa
passagem revela características de uma microanálise sobre a malha urbana de Ponta Grossa onde os sub
centros de Oficinas e Uvaranas se apresentam em algumas dessas condições.
16 O bairro de Uvaranas se conectava às atividades dos ferroviários por meio do Hospital 26 de Outubro
que atendia os trabalhadores da ferrovia. O bairro Uvaranas colonizado por imigrantes italianos, poloneses e
alemães. Cirlei Miléo e Maria Martins descrevem o bairro como ocupado por diversas chácaras antes dos
primeiros loteamentos que o urbanizaram, nesses locais eram criados cavalos, bovinos, sendo que as
autoras atentam para as culturas de uva. Os loteamentos nesse momento parecem contrastar com as
antigas culturas do bairro. O que antes era provocava um impacto visual de parreirais, agora se tornara um
local identificado pela paisagem do grande número de casas e da concentração de fábricas e operários pelo
bairro (MILÉO, 1986, p. 13).
17 Foi no leito da linha férrea e vizinhando as oficinas de vagões e locomotivas que se forma o bairro de
Oficinas. A maioria das famílias de ferroviários se estabeleceram ali (SAHR, 2001). Nesse caso, Oficinas se
destaca na primeira situação citada por Decca. Vale a pena chamar a atenção para outro fato curioso que
remete a construção da urbe princesina. Claudia Monteiro, ao trabalhar os ferroviários comunistas da Rede
25
Ponta Grossa conforme a cidade foi crescendo.
Um ressurgimento do comércio nessas páginas também se torna necessário, isso,
ao momento que além de diagnosticar o perfil do consumo da época, também traz
consigo um grande número de trabalhadores em seus índices.
Além de rememorar tais indicativos, se torna necessário frisar que é no setor
comerciário que temos o primeiro registro de alguma reivindicação dos trabalhadores de
Ponta Grossa. Essa ação dos comerciários foi ocasionada no segmento de “secos &
molhados”. Segundo Gonçalves e Pinto
1.2 – O estrangeiro: Imigração em Ponta Grossa no início do Século XX.
O próprio fenômeno da imigração que incidiu em Ponta Grossa nesse momento já
destacava a participação do trabalhador nas fábricas. Tal proporção foi indicada enquanto
solução desde a crise alimentícia de 1857 na província do Paraná. Foi desse movimento
imigrantista que podemos perceber um dos instantes significativos para a formação de
outro movimento: o próprio movimento operário.
Gonçalves e Pinto afirmam um aumento significativo na população ponta
grossense a partir da chegado do imigrante:
ParanáSanta Catarina indica o Oficinas como um bairro investigado pela DOPS (Delegacia de Ordem
Política e Social) com a intenção de repreender qualquer organização política dos operários (MONTEIRO,
2007, p. 47). Essa constatação serve de indicativo para mostrar que foi em grandes focos de concentração
de operários como nos seus espaços de moradia que sua organização se tornou possível.
26
de 2381 imigrantes. Aumentando consideravelmente a população pontagrossense
(op. Cit. p. 111).
existência desse proletariado urbano, FootHardman e Leonardi reconhecem na imigração
um fator importante para o proceder do rompimento com as relações escravistas e da
construção de um filamento para as novas relações livreassalariadas. O aparecimento
dessas classes sociais ocorre, não contraditoriamente, no interior das relações produtivas
– a nascente burguesia, seus investimentos e empreendedorismos são o que favorecem a
necessidade de um proletariado fabril e urbano.
O grande número de pessoas nas cidades do início do século XX apareceu como
uma situação proveniente para a circulação de idéias, isso foi um fato considerável nos
momentos de grande propulsão da industrialização e de políticas de imigração. Inúmeros
foram os partidos, associações, clubes e sindicatos fundados nesse período e proveniente
dessa circulação de idéias21.
1.3 Personalidades e Organizações: A imagem do militante.
Nessa conjuntura de crescimento urbano a cidade passou a receber as primeiras
figuras que passariam a constituir as fileiras do movimento operário, defendendo
posicionamentos políticos e compondo as organizações de classe.
Além das entidades criadas, existiam por trás delas personagens característicos
do movimento operário da época. Passaram por Ponta Grossa o internacionalmente
tarefas exigidas nas fábricas e manufaturas existentes (...), a vinda desses elementos imigrantes se
traduziu, inicialmente, num complicador da situação da classe operária, porque acrescentava, ao já confuso
processo de formação da classe, novos trabalhadores, com hábitos e costumes diferenciados, línguas,
religiões, tradições e aspirações a separálos” (LONER, 1999, pags. 86 a 88).
21 Alexandre Tomporoski ao trabalhar a formação do ideário anarquista reconhece que toda organização
dos trabalhadores era produto da difusão de idéias entre os trabalhadores: "
A partir destes grupos, os militantes se organizavam e espalhavam suas idéias. Ali discutiam os problemas
e disseminavam notícias de mobilizações, greves e da repressão policial em diferentes partes do Brasil e do
mundo. Foram muitos os grupos de propaganda fundados por anarquistas no Brasil das primeiras décadas
do século XX, porém, o mais importante, era a cooperação voluntária entre os pequenos grupos
constituídos nas diferentes e mais distantes regiões" (TOMPOROSKI, 2008, p. 2).
28
conhecido Gigi Damiani22, o intelectual e jornalista Teixeira Coelho23 e o comerciante local
Adolpho Paulista24, responsáveis pela difusão do anarquismo na cidade (CHAVES, 1994;
ARAUJO; CARDOSO. 1992). Damiani e Coelho seguiam o perfil dos militantes que se
valiam de vários pseudônimos, era isso que garantia sua sobrevivência já que eram,
também, produtores de jornais operários. Sua ironia aos temas religiosos e à
modernidade era materializada em palavras ameaçadoras que procuravam
incessantemente desconstruir "verdades absolutas" que eles identificavam como criadas
por outras instituições. Suas trajetórias são marcadas pela busca da emancipação da
classe trabalhadora nas linhas que compunham.
O primeiro organismo de classe organizado em Ponta Grossa foi o Círculo
Socialista “Leon Tolstói”25. Lançando o jornal Onze de Novembro, a entidade estabeleceu
sua organização pelo jornal operário – essa modalidade daria a sintonia de grande parte
das organizações que procederam esse círculo, sendo que vale identificar que dessas a
maioria só permaneceram no tempo graças à sobrevivência de seus periódicos como
registros históricos.
22 O pintor italiano Luigi “Gigi” Damiani participou da fundação de diversas associações como a Federação
Operária Paranaense em 1906, foi orador do I Congresso Operário Brasileiro no mesmo ano, foi
organizadorsecretário do I Congresso Operário Estadual em 1907, sendo que a partir daí publicou diversos
periódicos anarquistas. Segundo Silvia Araújo e Alcina Cardoso: “militantes de outros centros também
fizeram história no Paraná. É o caso de Gigi Damiani, jornalista italiano, participante da Colônia Cecília,
cuja presença em Curitiba, nos primeiros anos deste século, trouxe grande contribuição ao movimento
operário local. Chegou ao Brasil em 1890 e passou alguns anos no Paraná, onde aprendeu o ofício de
pintor. Colaborou com o jornal Il Distrito, fundado em 1899 e impresso em língua italiana e portuguesa (...),
redigiu A Voz do Dever. Em 1903, fundou a folha libertária O Despertar, importante publicação que se
estendeu até 1905. Colaborou com os jornais anticlericais O Combate, publicado em 1907, em Curitiba, e O
Escalpello, órgão do Centro Livre Pensador, de Ponta Grossa” (ARAÚJO; CARDOSO, 1992, p. 27). Hoje,
São PauloSP possui uma rua com o seu nome.
23 Teixeira Coelho, farmacêutico na cidade, participou do Círculo Socialista "Leon Toltói" e participou da
redação dos jornais O Jubileu Operário de 1903 e dos jornais O Escalpello, juntamente com Gigi Damiani, e
o Anticlerical. Sendo destacado por Epaminondas Holzmann como: “eminente filólogo, o maior professor do
idioma pátrio que a cidade jamais pôde conhecer” (HOLZMANN, 2004, p. 261).
24 Adolpho Paulista, erradicado para Ponta Grossa e conhecido como comerciante da cidade, também se
destacava como anarquista nas horas vagas. Sendo “um dos sócios fundadores da Sociedade Operária
Beneficente de Ponta Grossa, ele era conhecido pelo estilo revolucionário” (BUCHOLDZ, 2007, p. 48).
25 Dedicado a memória dos mártires de Chicago de 1886, é lançado o jornal Onze de Novembro com o
lema "Paz e Trabalho, Igualdade e União". Sendo esse, um órgão do Círculo Socialista Leon Tolstoi, tinha
como redator chefe o já conhecido Teixeira Coelho – personalidade do anarquismo do início do século XX.
Segundo Araújo e Cardoso: ‘’Este periódico traz o manifesto do Partido Socialista brasileiro e as
representações dos Estados no II Congresso Socialista Brasileiro realizado em São Paulo, em maio.
Apresenta uma lista de livros recomendados para o estudo do socialismo científico’’ (ARAÚJO; CARDOSO,
op. Cit., p. 47). Estes documentos anexados ao jornal e o tema demonstram que desde a gênese do
movimento dos trabalhadores pontagrossenses, esse se encontrava atado com uma rede do pensamento
internacionalista dos trabalhadores e com as causas que iam desde o 1o. de Maio até a organização dos
trabalhadores em sindicatos e círculos políticos.
29
O jornal O Escalpello, orgão do Centro LivrePensador se apresenta enquanto
referência para essa época como um movimento que se representava combativo pelo
menos em suas linhas ao conceber: ‘’O Centro LivrePensador, tendo de propagar o ideal
do livrepensamento, pede a todos os que são amigos da Razão, da Justiça e do Direito,
um auxílio pecuniário para publicações’’ (O Escalpello, 29 de outubro de 1908 apud Op
cit. p.72).
30
FIGURA 04: Time do Foot Operario Club Pontagrossense em 1926
FONTE: Casa da Memória Paraná
31
Em Ponta Grossa, além dos censos populacionais e as referências ao contingente
de operários nas fábricas26 nesse período, constatase o grande número e a diversificação
de organizações e entidades operárias fundadas nesse período. Chaves em sua obra se
destina a retratar o perfil do comércio e da indústria de Ponta Grossa na década de 1920,
tratando do aparecimento das organizações de trabalhadores formadas no início do
século, bem como do florescimento de um centro urbano e industrial na cidade27.
Além do já citado Centro Livre Pensador, em 1908 também era fundado o Centro
AntiClerical. Na década de 1910, foram fundadas a Sociedade Operária Beneficente
(1911) e a Sociedade Beneficente dos Operários (1913) – sendo que as duas
protagonizaram a Greve Geral de 1917 em Ponta Grossa.
A imagem do operário constituído em seu tempolivre, entretanto, não apareceu
nesse momento formada apenas pela militância. O lazer também passou a cumprir papel
importante no cotidiano dos homens e mulheres das fábricas. A fundação do Foot Ball
Clube Operário Pontagrossense refletiu o momento pósfábrica, o momento do ócio,
condicionado pelas quatro linhas e por um esporte operário em sua essência.
Uma História pode ser concebida a partir do preto e branco das fotografias de
época, mas também do uniforme alvinegro do mais tarde apelidado “Fantasma da Vila”,
isso por assombrar os times da capital paranaense.
A formação da classe operária estava estampada naquelas camisetas distribuídas
após o serviço, na lida dos trilhos. Desciam os funcionários naqueles finais de tarde das
oficinas para jogar bola.
Sua fusão com Club Atlético Ferroviário e a renomeação para Operário Ferroviário
26 Para complementar essa contatação alguns autores se tornam necessários. Segundo Maria Aparecida
Cezar Gonçalves e Elisabete Alves Pinto ‘’a expansão industrial e comercial esteve (...) vinculada aos
imigrantes. Estes, após experiências vivenciadas em outros locais que lhes favoreceram ultrapassar a fase
de ajustamento próprio do processo, alcançaram pouco a pouco posição considerável na estrutura sócio
econômica da região’’. Esse recorte serve para exemplificar a importância não só dos imigrantes, mas
também dos trabalhadores urbanos para esse momento que cidade vivia (GONÇALVES; PINTO, op.
Cit.1983). Sobre o mesmo período, segundo Chaves, dezenas de empresas estabeleceramse na cidade
nas duas primeiras décadas do século XX. ‘’Entre as indústrias mais antigas que se instalaram na cidade,
estão aquelas que se vinculavam ao beneficiamento da ervamate e da madeira, produtos típicos da
economia paranaense daquele momento, e que acabaram encontrando em Ponta Grossa um ambiente
favorável para o seu beneficiamento e comercialização’’ (CHAVES, 2006). Ainda, segundo Chaves, ele
indica que ‘’dos 1.632 estabelecimentos industriais existentes em todos Estado, 75 estavam fixados em
Ponta Grossa, ou seja, 5,5% do total das indústrias registradas (…) Em 1934 Ponta Grossa contava com
724 casas comerciais e com 253 indústrias’’ (op. Cit., 2001).
27 Niltonci Chaves em sua obra "Do Centro Commercio e Industria ao Selo Social", exalta a participação
dos trabalhadores nesse processo a partir de eventos construídos com a participação popular de moradores
locais e imigrantes (Op. Cit., 2006).
32
Esporte Clube, precisamente em 1933, demonstrou como a força do operário poderia ser
aplicada além do funcionamento da linha do trem, além do sindicalismo, mas também no
chute de uma bola de capotão entre os terrenos de propriedade da Rede Ferroviária,
localizada na vila Oficinas. Foi num desses locais que mais tarde se instalou o Estádio
Germano Kruger (RIBEIRO JÚNIOR, 2004).
1.4 A militância no papel: A pena de Hugo dos Reis
Segundo Epaminondas Holzmann, o nascimento da imprensa em Ponta Grossa
apareceu representado por diversos jornais de vida efêmera como foi o caso de jornais
como O Percursor, O Campos Gerais nascidos no final do século XIX , O Comércio, O
Pontagrossense (os dois de 1895), Futuro do Paraná (1899), Ponta Grossa (1903), Luz
Essênia e O Pigmeu – ambos sem ano de lançamento definido (HOLZMANN, 2001. p.
261). Registrese que Teixeira Coelho, personalidade anarquista, foi o grande apoiador da
maioria absoluta desses títulos, isso sem remeter aos também inúmeros jornais operários
e de cunho classista anteriormente mencionados e que, infelizmente, não são muito
lembrados quando o assunto é imprensa nos Campos Gerais
27 de abril de 1907: é lembrado como o dia de lançamento do primeiro número do
jornal O Progresso, que em 1913 se tornaria Diário dos Campos. Conhecido e tendo em
seu corpo editos personalidades como Hugo dos Reis28, que é até hoje recapitulado como
jornalista e por ações que o aproximaram dos trabalhadores locais – responsável inclusive
por inúmeras notas em favor da classe da qual se definia como defensor.
Apoiador da campanha civilista de Rui Barbosa29, Hugo Reis, procurou favorecer a
28 Hugo Mendes de Borja Reis nascido no Rio de Janeiro, chegou em Ponta Grossa em 1908. Reconhecido
como socialista, anticlerical e espírita, é representado na obra de Epaminondas Holzmann com sua gravata
borboleta e seu chapéu coco sobre seu cabelo encaracolado e seus bigodes, foi secretário do Diário dos
Campos – que até 1913 era chamado de O Progresso destacado como importante redator e apoiador do
movimento operário nas páginas do jornal princesino. De escrita cívica, se autoproclama como um defensor
do Paraná e da cidade de Ponta Grossa – sendo que junto com o fundador do periódico Jacob Holzmann e
demais apoiadores do jornal como Eliseu dos Campos Mello e João Dutra – se comprometeu em ampliar e
difundir o programa do jornal na cidade, sendo que esse no início não teve apoio, demorando em ser
reconhecido por toda sociedade pontagrossense (HOLZMANN, 2004).
29 Segundo Wilson Cano: "Rui Barbosa, em sua campanha civilista de 1910 (...) dando ênfase à questão
das baixas condições sociais e econômicas da vida da maior parte da população trabalhadora (...) tentara
catalisar esses anseios (morais, éticos, sociais e políticos)" (CANO, 1998, p. 250). Embora, essa temática
de defesa dos direitos civis parece a primeira vista ter sido o motivo que favoreceu Hugo Reis a apoiar Rui
Barbosa, é indicado ainda que esse último percorreu o país todo buscando apoio a sua campanha se
opondo a política do "café com leite". Além de sua imagem enquanto jornalista, diplomata e político muito se
33
imagem da classe operária em muitas páginas do periódico. No final da primeira década
do século XX, Reis publicou uma nota em que o povo era o protagonista principal da
participação política em nível nacional e ligando suas ações a símbolos pátrios
Foram os vapores mínimos de uma lágrima mínimos de uma lágrima.
Fora a lágrima do Presidente.
A tormenta chamase Povo.
Essa lágrima chamase Liberdade.
Ponhamolo de pé, num bloco marmóreo, a cabeça reclinada sobre o peito,
onde palpitava, pela pátria e pelos patrícios,
másculo coração a dizer aos brasileiros:
O direito de revolução é um direito dos povos!
(O Progresso apud HOLZMANN, op. Cit.)
Diversos autores que estudaram o personagem o indicam como sujeito polêmico
para a sociedade da época. Holzmann ao considerar Hugo dos Reis um denunciador das
elites locais, inclusive descreveu um episódio onde "diversos figurões da política
dominante, e outras pessoas que desfrutavam de alto conceito na sociedade local"
juntamente com "uma dezena de conhecidos arruaceiros com passagem pela polícia"
investiram golpes contra ele e o então redatorchefe do ainda chamado O Progresso em
frente à sede do próprio jornal (op. Cit. p. 273).
Apesar de serem reconhecidos de tal forma, nenhum nome aparece citado na
obra de Holzmann, porém, esse dedica um parágrafo a outros membros da política local
que defenderam Reis e Dutra contra aquele atentado contra o que ele chamou de
atentado à "imprensa livre". Entre eles, Holzmann cita o nome do conhecido industrial e
assemelhar com o semblante de Reis num caráter de maior amplitude e de seu discurso ser sempre dirigido
às classes sociais menos favorecidas.
34
político Henrique Thielen30 e do renomado político e paranista Brasil Pinheiro Machado 31.
Homens ligados a um grupo político em Ponta Grossa e que possuíam influência na
cidade32.
Essa passagem do texto de Holzmann, colocandoo próximo a personalidades
políticas, marca mais uma discussão sobre o personagem Hugo dos Reis considerado
polêmico por sua postura e identificado como "socialista" nas linhas do jornal donde fora
redator e secretário.
O interessante é perceber que apesar de ser identificado com tal postura política e
por posicionarse nas páginas do jornal contra políticos locais, Hugo dos Reis possuía
30 Segundo Cirlei Francisca Carneiro e Joselfredo Cercal de Oliveira Neto: "Henrique Thielen, natural da
Alemanha, após ter morado em Curitiba radicouse em Ponta Grossa como empresário sócio e,
posteriormente, tornouse proprietário da Fábrica Adriática de Cervejas" (CARNEIRO; OLIVEIRA, 2004, p.
99). Alguns autores já consideraram a personalidade de Thielen por diversas características, considerando a
injeção de capital por parte desse imigrante alemão na região e sua influência. "Simbolicamente, a
Cervejaria Adriática, fundada em 1893 por Henrique Thielen, configurouse como o marco inicial desse
processo (...). Contando com maquinarias e com técnicas trazidas por Thielen da Alemanha, a Cervejaria
tornouse referência entre os industriais locais, ao mesmo tempo em que seu proprietário" (CHAVES, 2006,
P. 31). Sua personalidade partiu de um modelo de produção moderno para aquela época, sendo esse
desenvolvido na maior indústria da cidade. A imagem de Thielen projetada em escalas superiores a "Fábrica
de Cervejas" como era chamada em sua fachada – ficou reconhecida como um dos exemplos de
imigrantes pelos méritos de seu sucesso enquanto empreendedor. Chaves ainda diagnostica um elemento
relevante ao crescimento da indústria, relacionando isso ao tratamento do empresário para com os
empregados da fábrica: "Em 1919, Henrique Thielen transformou a Cervejaria Adriática em Sociedade
Anônima, dotandoa assim de um maior poder econômico e, conseqüentemente, garantindo a expansão de
suas atividades. Quando isso ocorreu, a área física ocupada pela indústria era de 3.500 metros quadrados.
Cerca de 120 operários trabalhavam na Adriática, todos protegidos por seguro da Companhia Lloyd
Industrial Sul Americano, uma raridade para aquela época" (op. Cit). Essa particularidade condiz não
exclusivamente com uma preocupação com os operários da fábrica, mas também com um olhar visionário
da indústria. Pensando que qualquer debilidade física do operário cervejeiro acarretaria num tempo contado
de prejuízo para a fábrica, um auxílio a qualquer tipo de dano que condicionaria na paralisação das funções
do indivíduo na fábrica se transforma, nesse caso, numa circunstância de seguro para a produção da fábrica
e não simples e unicamente uma forma de proporcionar segurança ao proletariado da empresa.
31 Segundo o Dicionário Histórico e Geográfico dos Campos Gerais, Brasil Pinheiro Machado: “nasceu em
Ponta Grossa (PR), em 1907. Fez seus estudos iniciais na cidade natal e, posteriormente, no Liceu dos
Padres Salesianos, em São Paulo. Em 1926, ingressou na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro,
concluindo o curso de Ciências Jurídicas e Sociais em 1930. Iniciouse no magistério em Ponta Grossa,
como professor e diretor do então Ginásio Regente Feijó. Afastouse da profissão para exercer funções
administrativas, legislativas e jurídicas. Foi Prefeito nomeado em Ponta Grossa, Deputado Estadual,
Procurador Geral do Estado e Interventor do Paraná. Retomou sua carreira de magistério como Professor
de História do Brasil, na Universidade Federal do Paraná, onde também exerceu o cargo de vicereitor. Na
juventude, pertenceu ao movimento modernista inicial, em especial ao Grupo Antropofágico. Sua poesia
data dessa época e revela bom gosto e equilíbrio, sem os exageros experimentais que caracterizaram a
fase, adquirindo, em conseqüência, sempre atualidade. Não deu prosseguimento a sua atividade poética,
mas desenvolveu trabalho de cunho literário na revista Joaquim. Faleceu em 1997 (UEPG, 2009).
32 Nesse caso, apesar de não ser objeto desse estudo, a pergunta que cabe é: Considerando que Hugo
Reis possuía o apoio de políticos e industriais de Ponta Grossa, essa referida elite não seria simplesmente
mais um grupo político que se contrapunha a ele e que o apoiava? Além do mais, Hugo Reis pode ser
identificado por uma postura política que pode ser considerada por alguns referenciais como contraditória
com sua linha conciliadora das classes sociais.
35
ligações bem estabelecidas com membros do empresariado. Interessante aí é perceber
que Hugo Reis apesar de ser indicado em outras leituras como um "socialista contestador
das elites locais", ele acaba aparecendo apoiado por outros membros da classe
empresarial e que pertenciam a um grupo político específico.
A figura de Reis, entretanto, não se apresenta simplesmente sobre as polêmicas
das folhas dos jornais. O evento de maior aparecimento de Reis, não só como redator do
Diário, mas também como o militante que foi durante a Greve Geral de 1917.
1.5 Entre o subversivo e o conciliatório: Ponta Grossa e a Greve Geral de 1917
empresários foi marcado por reivindicações de melhores salários e melhores condições
de trabalho (HARDMAN; LEONARDI, op. Cit.).
Em Ponta Grossa, as manifestações foram marcadas pela organização de um
comitê de Greve. Sendo que o proletariado regional tinha como principais portavozes a
Sociedade Operária Beneficente e a Sociedade Beneficente dos Operários.
Participante da greve de 1917, o jornalista Hugo dos Reis, sobretudo, é conhecido
pelos autores já discutidos como personagem conciliador das classes sociais em Ponta
Grossa. Como intelectual, apoiando ambas as instâncias de organização – tanto a
fundação do Centro Commercio e Industria quanto a criação da Sociedade Operária
Beneficente, da qual fora presidente honorário inclusive durante o período da greve.
Durante esse evento, inúmeras notas são escritas no jornal Diário dos Campos
favorecendo a imagem do coronel Brasílio Ribas, descrito como “advogado e (...) paladino
dos sacratíssimos direitos da família operária”. O jornal ainda descreve o estancieiro como
recebido na reunião do operariado com "os mais estrondosos aplausos" (Diário dos
Campos, 22/07/1917).
Trazendo essa questão para Ponta Grossa, percebemos esse mesmo fenômeno se encontra na pauta de
alguns pesquisadores que estudaram a época, sendo que esses consideram tal momento pela ocupação do
quadro urbano da cidade pelo comércio e pela indústria (DITZEL; SAHR, 2001; CHAVES, 2001;
MONATIRSKY, 2006).
37
O que desejamos é o seguinte
Jornada de 8 horas. Abolição completa de multas. Impedimento de crianças
menores de 14 anos no trabalho. Impedimento de moças de menos de 21 anos.
Os que ganharem por dia terão a tabela mínima de 5$000 os poe horas 800 rs.
Abolição dos trabalhos noturnos exceptuando se os necessários trabalhando de 6
horas. O patrão não pode dispensar os empregados sem aviso prévio de 18 dias,
dando em cada dia 1 hora de folga para procurar trabalho. A responsabilidade dos
patrões nos incidentes. Creação de um jardim de infância e proibição aos
industriais de terem carroças para não tirar ganho dos carroceiros. A extinção das
caixas beneficentes obrigatórias como as de bond e estrada de ferro. A redução
dos impostos para os operários em geral. As 8 horas de trabalho do
compreendidas da 7 as 11, tendo duas horas, tendo duas horas de descanço
depois de 1 as 5. Redução do preço dos gêneros alimentícios. Exigir a baixa
imediata da farinha de trigo e assucar. Diminuição dos preços de aluguel de casa.
Pagamento dos salários 5 dias após o vencimento do mês. Exigir do governo
fiscalização dos gêneros alimentícios. Abolição dos trabalhos de peça. Higiene
nas fabricas. Lei de reversão dos trusts. Leis para a criação do montepio e seguro
operário; contra o álcool e a prostituição. A Sociedade achase em sessão
permanente.
A COMISSÃO
(op. Cit. 21 de julho de 1917)
Niltonci Chaves, ao falar da greve, registra os ferroviários como a categoria que
liderou o movimento grevista. O calendário de manifestações aparece como integrado ao
cotidiano de greves do país todo, considerando que o início da greve se ocasiona um dia
antes da publicação das reivindicações dos ferroviários (20 de julho de 1917) quando 148
38
operários35 paralisaram os trens da ferrovia alegando a questão salarial e o tratamento do
chefe dos operários, o encarregado Evaldo Kruger.
As edições do Diário dos Campos detalharam a greve diariamente em suas
páginas, entretanto não se registra os trabalhadores da ferrovia como oradores principais
da Sociedade Operária Beneficente36 – sendo que figuras como Hugo dos Reis, Brasílio
Ribas, Capitão Paschoalino Provesiero, Dr. Flavio Carvalho Guimarães, Tenente Alberto
Manhães Flores são registradas a todo momento nas páginas do periódico.
Complementando as ações da entidade, Chaves destaca essa como "controlada
por segmentos da elite local bem como por pessoas ligadas a doutrina espírita’’
(CHAVES, op. Cit., p. 158). O comprometimento dos diretores da Sociedade com certos
grupos políticos da época era tamanho que Chaves chega a considerar a greve como de
caráter extremamente ‘’moralista’’ e de manutenção da ordem vigente, a postura
desenvolvida pela entidade inclusive é compreendida como contraditória já que
contrapunha o Estado e os capitalistas porém afirmando a defesa à ordem e à
propriedade.
Ao falar das atas ele complementa: "Elas revelam todas as ações cotidianas do
movimento, deixando transparecer o choque ideológico entre seus líderes, a influência de
setores patronais sobre os rumos da greve e os desdobramentos das ações em todo
Paraná" (CHAVES, 2006, p. 70). Esse choque foi relevante para demonstrar que apesar
do controle social dos setores patronais, a greve possuía líderes que se contrapunham à
ordem vigente.
Essa influência dos setores patronais sobre a greve foi de tal forma presente que
o autor chega a destacar a liderança e a veiculação do movimento na mídia como
35 Apesar desses números serem apresentados especificamente para a cidade de Ponta Grossa, foi
estimado que cerca de 1000 trabalhadores participaram na greve no país todo. As manifestações e
paralisações atingiram as principais cidades do Brasil. O caso específico dos 148 ferroviários que
paralisaram a estrada de ferro serve para reafirmar algo constatado por diversos autores, os ferroviários da
São PauloRio Grande foram responsáveis por diversos estopins que representaram seu inconformismo
para com as condições de trabalho daquela época. Ponta Grossa como terminal dessa linhaférrea e por
possuir um número considerável de ferroviários, possuiu posição privilegiada na Greve Geral de 1917.
36 Apesar de constatar os ferroviários enquanto uma das primeiras categorias a se organizarem no Brasil a
partir de grandes movimento grevistas, Claudia Monteiro em sua dissertação "Fora dos Trilhos": As
experiências da militância comunista na Rede de Viação ParanáSanta Catarina (19341945) considera que
"a união a outras categorias e a adesão a movimentos grevistas nacionais eram também motivo para a
deflagração de greves. As duas maiores ocorridas no Paraná, no período da Primeira República, em 1917 e
1919, foram protagonizadas pelos ferroviários, mas também envolviam outras categorias, como padeiros,
telefonistas, tipógrafos e operários das fábricas" (MONTEIRO, 2007, p. 36).
39
‘’paternalista’"37. É possível se produzir uma sintonia entre todos os movimentos forjados
na primeira década do século XX e os movimentos que significaram a Greve Geral de
1917 em Ponta Grossa. Os movimentos socialistas, anarquistas, anticlericais e de
diversas tendências também consideradas ‘’perniciosas’’ e ‘’subversivas’’ à sua época
parecem ter produzido a essência da reação de controle aos próprios movimentos38.
Apesar de tal controle social e no que tange o cenário de lutas sociais pela
participação na greve, o que se evidencia nos operários pontagrossenses foi que eles
foram construindo sua própria experiência enquanto parte de um movimento de massas.
Acontecimentos como esse são um indicativo que demonstra que os trabalhadores não só
criavam e desempenhavam um papel no interior da fábrica, mas também procuravam
construir sua imagem política nas ruas e perante todo o semblante da sociedade.
1.6. "A União faz a Força": a experiência do proletariado na década de 1920.
No ano final da década de 1910, estoura outra greve. Puxada pelos ferroviários
acaba tendo adesão de trabalhadores de vários setores da indústria local. Um manifesto,
divulgado no jornal Diário dos Campos, em nome da Comissão de Grevistas atentava os
trabalhadores para não se intimidarem com ameaças provindas de seus superiores ou de
iludiremse com "falsas promessas". Segundo Chaves: ‘’Esse alerta demonstra que o
movimento de 1917 serviu para dar uma certa experiência aos operários’’ (op. Cit. p. 160).
37 Quando Michelle Perrot trabalha o paternalismo na administração industrial ela diz que esse possui três
traços principais que o caracterizam: ‘’1) a presença física do patrão nos locais de produção, preconizada
pelos primeiros industrialistas (...) e visível no projeto de muitas fábricas de primeira geração (...). 2) As
relações sociais do trabalho são concebidas conforme o modelo familiar: na linguagem da empresa familiar
o patrão é o pai, e os operários os filhos, na concepção do emprego que o patrão deve assegurar aos
operários, na prática cotidiana do patronato (...). 3) Os trabalhadores aceitam essa forma de integração e
até a reivindicam. Eles têm a linguagem e o espírito da ‘casa’; têm orgulho em pertencer à empresa com a
qual se identificam’’ (PERROT, 1988). Nesse sentido, E.P. Thompson nos mostra que o paternalismo pode
ser ‘’um componente profundamente importante, não só da ideologia, mas da real mediação institucional
das relações sociais’’ (THOMPSON, 1988. pág. 32).
38 Adolpho Paulista, identificado como um importante personagem da militância de uma época é conhecido
por também participar da Greve Geral de 1917, especialmente onde, em uma manifestação na Praça
Floriano Peixoto, tentou erguer uma bandeira que lembrava a simbologia anarquista – da qual era seguidor.
Contido pela polícia e inclusive por membros do movimento grevista, chegando até a ser expulso do
conselho de greve com a justificativa de que aquela era uma "ação pacífica" e que "desordens" e
"distúrbios" comprometeriam o "sagrado interesse do operariado pontagrossense" (BUCHOLDZ, op. Cit. p.
49). A ata da Sociedade Operária Beneficente justifica tal atitude explicitando que a ação de Adolpho
Paulista transformaria "uma greve pacífica e ordeira em uma franca revolução ou movimento subversivo"
(Sociedade Operária Beneficente, 20 de julho de 1917). O que também chama a atenção é que a
intervenção da polícia que parecia escoltar e controlar a direção dada a manifestação.
40
Entendemos nas palavras do autor que esse alerta parecia uma tentativa de negar a
influência dos patrões no movimento grevista.
O próprio Diário dos Campos muito serviu como veículo de informação aos
operários princesinos. Foram naquelas páginas que se encenaram diversos artigos e até
debates tematizando o operário pontagrossense. Entre essas notas estavam postas
algumas linhas de J. Barbosa, um pseudônimo de algum autor de vários artigos
publicados no Diário, onde se autoproclamava "defensor dos oprimidos" e procurava
defender a classe trabalhadora das "garras da miséria".
Ainda no ano de 1920, esse autor publica uma árdua nota em que referendava
sua defesa aos operários, traçando em suas linhas um grito que para ele parecia estar
interrompido na garganta dos operários do país todo
Se bem que reconheça serem infrutíferas todas as minhas palavras nas quais
procuro seja melhorada a situação da classe pobre, não deixarei de continuar a
algumas linhas para satisfazer não somente aqueles que me queiram
compreender como também julgo cumprir uma missão, se é que no Brasil um
operário pode manifestar o seu modo de pensar (op. Cit., 25/08/1920).
A República Velha, rompida pela instabilidade econômica e social em todo país
era representada de tal forma em diversas esferas da sociedade que partilhavam de um
descontentamento. Diversos são os eventos em meio à década de 1920 que explicitam tal
situação, como foi o caso da Revolta do Forte de Copacabana (1922), a Revolução de
Isidoro (1924) e a Coluna Prestes (1926).
A organização dos movimentos sociais, dos trabalhadores em sindicatos,
associações e outros coletivos aparecem também para alguns autores como reflexo de
uma discordância com o sistema político vigente. Nicolau Sevcenko considera o período
que percorre do início da República Velha até o final da década de 1920 como um período
de intensas mudanças – caracterizadas por uma revolução científicatecnológica,
entretanto, partilha da idéia de que a adaptação de princípios republicanos estrangeiros e
de ideais que promulgavam um "governo do povo" se manifestou num estado truculento
com a própria população do Brasil (SEVCENKO, 1998).
Para Wilson Cano, essa vicissitude de ocorrências não se manifestou apenas em
segmentos econômicos da sociedade, mas também nas diversas transformações sociais
visíveis nessa época. Sem permear, porém, qualquer dicotomia entre base
41
[possuía] fotos, o primeiro número desta revista é uma homenagem aos operários
e intelectuais que trabalharam para a classe como Hugo Reis, José Cadilhe e
Alberto Lopes. Anuncia e prepara a fundação do Centro Operário Pontagrossense
(ARAÚJO E CARDOSO, 1992).
39 José Deslandes de Sousa, conhecido nas atas como membro e redator do Diário dos Campos na época,
foi aclamado como primeiro presidente do Centro Operário Cívico e Beneficente no dia 28 de abril de 1929.
Por carência de fontes, nenhum dos acervos particulares e públicos de Ponta Grossa possui as edições dos
anos de 1924 a 1932. Apesar da homenagem ocasionada nas páginas da Revista Operária, as atas do
Centro não demonstram qualquer ligação de Deslandes de Sousa com o jornalista paulista Hugo dos Reis.
Embora seja importante diagnosticar que a herança da participação de intelectuais e jornalistas aparece
mantida na trajetória do movimento de trabalhadores pontagrossenses.
40 Adejamiro Cardon, aclamado como primeiro Orador do Centro, está registrado no livro de inscrições de
sócios como trabalhador da Livraria Modelo, sendo que há probabilidade de nessa condição ter sido
proprietário do estabelecimento. Seu nível de intelectualidade pode ser explicitado nas atas em discursos
fervorosos direcionados a pátria e aos direitos do operário, sendo que também publicara artigos na Coluna
Operária do Diário dos Campos.
42
A Revista serviu para anunciar uma nova etapa do movimento operário em Ponta
Grossa, essa proclamação serviu para fundamentar a fundação de uma nova entidade
que agrupasse os trabalhadores e suas trajetórias. A união era a palavrachave para a
fundação dessa entidade que prometia, sob o júbilo dos operários, a organização da
classe em torno do que eles já chamavam de Centro Operário.
43
CAPÍTULO II
“HOMENS DO TRABALHO”: A REPRESENTAÇÃO DO OPERÁRIO NAS ATAS DO
CENTRO OPERÁRIO, O DISCURSO E AS RELAÇÕES SOCIAIS.
41 Nas palavras do professor Roberto Mongruel, os operários somente seriam úteis a nação e às suas
famílias por meio da educação. Seu discurso sobretudo se pautava dentro da assembléia que tratava da
fundação da Escola Noturna dos Operários. Essa instituição fazia parte das atividades beneficentes do
Centro e seu prédio seria doado pela Prefeitura Municipal e instituída pelo Governo do Estado. O horário
noturno da Escola não interferia no horário da jornada de trabalho de grande parte dos operários ponta
grossenses. (C.O.C.B. Ata 04).
42 A primeira diretoria foi formado por: José Deslandes de Souza, Presidente; Francisco Vitalino Barboza,
Vicepresidente; Affonso Braune, 1º. Secretário; Armando Max Vosgrau, 2º. Secretário; João Ferigotti, 1º.
Tesoureiro; Alcides Fernandes, 2º. Tesoureiro; Adejamiro Cardon, 1º. Orador; Máximo Leopoldo Arruez, 2º.
Orador. Sendo o conselho fiscal formado por Albino Wiecheteck, Presidente; João Perantunes, Secretário;
Manoel Matheus da Costa, Annibal da Silva Assumpção, Francisco de Souza Nunes, João Schmidt Filho,
Augusto Cunha, Franscisco Pavalech, Paulo Ferreita do Valle, Bernardo Holck, David Cardon e João
Quadros.
44
FIGURA 06 – Fotografia digitalizada da Ata No. 12 do Centro Operário
FONTE: C.O.C.B. Atas de 1929.
45
Dentro do recorte previsto pela pesquisa se totalizam 24 atas disponíveis na Casa da
Memória Paraná. Essas atas, antes encontradas na antiga sede do Centro Operário,
passaram por um processo de higienização e catalogação. Entre o conteúdo das fontes, a
coletividade aparece provida de práticas situadas e previstas nos eventos que
proporcionaram sentido a existência de um Centro Operário.
Para além de identificar a existência desses documentos, uma análise apurada não
satisfaz e não propõe apenas entender a posição que essas atas cumpriam dentro da
entidade. Esse sim, seria um trabalho mais rápido, mais reduzido e mais fácil de fazer.
Entretanto, em um outro caso, não se torna suficiente apenas transcrever o sentido
político e social que fora disposto ao cotidiano do movimento operário, mas sim, resgatar
no registro dos autos como era constituído aquele movimento.
O intuito do trabalho, nesse caso, é ligar o texto das atas com o contexto no qual foram
produzidas. Perceber as atas como indicativos de sociabilidade, sendo essa articulada
pelos membros do Centro para influenciar as atividades coletivas da associação43. Antes
do ponto final, os questionamentos colocados e suas resoluções não destinam a pesquisa
a um meio caminho, ou seja, antes de apenas constatar a existência de fenômenos e
problemas se torna necessário e interessante demonstrar como esses foram construídos
no enredo do Centro Operário.
É preciso constatar como tais atividades influenciam no sentido político e social que foi
proporcionado ao Centro Operário de forma a não deslocarmos a pesquisa a um meio
caminho, mas sim, procurando resolver demais questionamentos antes do ponto final.
Percebendo que o Centro Operário Cívico e Beneficente (C.O.C.B) se insere num
contexto de profunda transformação na cidade Ponta Grossa e perante um conjunto de
mudanças expressas nas relações de produção em todo Brasil. O trabalho aqui proposto
procura perceber que conjuntura e condições o movimento operário criou e encontrou
dentro dessa associação. A produção e o consumo do discurso pelos próprios membros
da associação e de sua relação com a sociedade pontagrossense são indicativos para
demonstrar o jogo de relações onde o Centro se coloca. A forma como a figura do
operário é construída em seu interior se torna mais um indicativo do sentido político e
43 Segundo Norbert Elias e Eric Dunning, a sociabilidade se aplica além do trabalho. Pensemos essa
atividade num espaço como um bar qualquer, onde a convergência de diversos trabalhadores é ocasionada
por aquilo que eles têm em comum. Os dois pesquisadores chamam esse momento de ''tempo livre'',
apresentando características de lazer e recreação (ELIAS; DUNNING. 1992).
46
social dado a esse movimento44.
No interior das atas, além das atividades recreativas e de lazer, percebemos os
chamados "assuntos políticos". Tratados de tal forma também no estatuto do Centro,
esses aparecem omitidos e até censurados pragmaticamente nos eventos da entidade.
Em torno disso, e contrapondo tais temas, as atas constroem em seu interior uma
representação da imagem do operário de forma cívica e solidária – algo que parece
reproduzir o nome da associação. Nesse sentido, o apenas constatar isso é colocar a
pesquisa em um meio caminho, indicando a existência do problema. A pesquisa delimita
se a partir do objetivo de entender como o fenômeno foi gerado.
Percebendo os diálogos no interior da fonte, nessas oportunidades, que percebemos a
evidência de uma série de personagens do Centro Operário. O discurso de cada um deles
aparece nas atas de forma desconexa em alguns momentos, todavia, descobrindo quem
são esses membros é que percebemos donde surgem seus posicionamentos. Os
assuntos políticos são fruto de conflito dentro das atas, e apesar de existir a tentativa de
reprimilos, esses não terem deixado de existir, sendo que podem significar o que aqueles
indivíduos entendiam por movimento operário.
A maioria das atas verificadas, no período estudado, trata de questões cotidianas
como assuntos financeiros e jurídicos, manutenção da sede e administração dos fundos,
agradecimentos e condecorações a membros do Centro, convocação a jogos de futebol e
demais eventos da sociedade pontagrossense, entre outros. Algo constatado por outros
autores que escreveram um pouco sobre a entidade.
Niltonci Chaves indica ainda o Centro Operário e a União Protetora dos Operários
(ambas fundadas em 1929) como possuidoras de uma tendência a “despolitização”45 e
44 Essa representação do trabalhador dentro de um coletivo, portanto, no seu universo de classe, pode ser
vista como expressa também a partir de uma imagem construída no interior do discurso de uma entidade
que postula reivindicar para si essa autoridade de representação. As referendam o trabalhador como
representação de um discurso, indicando esse enquanto produto de uma imagem produzida na caneta que
tocava os papéis dos manuscritos oficiais do Centro Operário. Se imagem é discurso, discurso é imagem,
ou pelo menos é uma forma de produzir essa representação na cabeça de cada associado ali presente
(BURKE, 2004). No caso do C.O.C.B, percebese a colocação do trabalhador pelo seu papel social, como
um elemento necessário de força na sociedade, repercutindo esse papel a uma respectiva visão de
progresso dessa. Essa perspectiva do conceito de representação pode ser distribuída para outros símbolos,
como foi o caso da criação do seu logo – onde esse aparece preenchido por um globo circulado por três
homens possuintes de um físico robusto remetente a força e disposição.
45 Segundo Georges Balandier, podemos entender política como a ação dos seres na realidade social. A
noção de status define o papel social de cada ser humano na sociedade, “define a posição pessoal de um
indivíduo em relação aos outros no interior de um grupo; permite apreciar a distância social existente entre
as pessoas, porque rege as hierarquias de indivíduos” (BALANDIER, 1969, p. 83). Nesse sentido, a ligação
47
que suas atas indicam uma rejeição a movimentos partidários, principalmente em relação
ao comunismo (CHAVES, 2006, p. 82).
O objetivo dessa pesquisa não é desmentir nem reafirmar isso, mas averiguar na
intimidade das atas como ambos os assuntos – cotidianos e políticos são tratados.
Nesse caso, uma metodologia é proposta.
Apesar de o conteúdo ser o objeto dessa pesquisa, corresponde também proporcionar
tonalidade a algumas informações importantes para contemplarmos as finalidades do
trabalho. O acervo do Centro Operário, além das atas e do seu estatuto, possui um Livro
de Inscrições de Sócios que registra a participação de 1148 membros na entidade assim
como o seu Livro de Mensalidades que detalha informações como endereço residencial
de uma parte considerável dos membros e onde cada um deles trabalhava (C.O.C.B.
Livro de Inscrições de Sócios; Livro de Mensalidades [1929]; Livro Caixa [1929]).
Definitivamente, a presença do Centro Operário na sociedade pontagrossense não
aparecia como algo apenas referenciado pela leitura das discussões das atas, sua
importância no seio da sociedade pontagrossense se colocava como principal entidade
de representação dos trabalhadores (C.O.C.B, Ata 24). A evidência do seu número de
participantes em contrapartida aos números da população pontagrossense46,
compromete o trabalho em considerar a importância dessa entidade naquele momento.
Perante toda uma dinâmica social, não se coloca outra hipótese do que ligar o texto das
atas ao contexto ocasionado nas relações sociais de Ponta Grossa.
Algo que contribui para essa constatação e que favorece maiores indagações sobre a
forma de sobrevivência das entidades operárias colocase na situação de que o Centro
Operário foi a única entidade operária da primeira metade do novecentos que sobreviveu
entre instituições e autonomias de indivíduos se torna definida pelo uso de símbolos por cada um deles.
Segundo Pierre Bourdieu, os símbolos são definidores do constrangimento, nesse caso, o uso deles
determina a ação dos indivíduos, entre uns poderem fazer e outros se sentirem impotentes nas relações de
poder. “Nada a não ser esta forma de abstenção activa, a qual tem raízes na revolta contra uma dupla
impotência, impotência perante a política e todas as ações puramente seriais que ela propõe, impotência
perante os aparelhos políticos: o apolitismo” (BOURDIEU, 1998, p. 169). Ainda assim, a análise das atas
não faz perceber a ação dos membros como meramente “despolitizadas”, mas sim, a transferência de poder
de alguns indivíduos para outros. A negação do uso político aos membros da entidade se justifica no uso de
um artigo do estatuto, mas isso pode ser percebido no sentido de transferir o mando político da maioria de
membros para uma minoria.
46 Observando o Centro Operário como possuinte de 1148 membros, essa importância se coloca como
evidente e em grande proporção quando deslocamos nosso olhar também ao números da população de
Ponta Grossa. O Censo de 1900 indica que a população de Ponta Grossa era 8.335. Pelo Censo de 1920,
essa população atingiu a casa dos 20.171 habitantes.
48
até os dias atuais47.
2.1 Classe Operária e Cultura Operária: Uma outra História.
A trajetória dos trabalhadores pode nos representar o percurso de uma classe. Mas é
somente a partir das experiências vividas em comum que os operários se configuram
nesse coletivo de classe. Colocar isso sobre o trabalho se torna uma preocupação
estancada.
Uma história se produz dentro e fora das fábricas48. É de uma multidão colocada
involuntariamente em uma fábrica, nos seus modos de vida fora do trabalho, ou seja,
dentro e fora da jornada de trabalho percebemos a representação de uma classe. A
experiência dos trabalhadores depende de diversos fatores que se encontram tanto nas
relações de produção nas quais são inseridos, quanto na cultura que eles próprios geram
para si.
Diversos olhares são propostos. O enredo das relações sociais nos permite considerar
o operário como mais um personagem dessas relações que possui uma cultura, um
cotidiano. Se reconhecermos a existência de uma classe social, de um grupo gerado na
divisão social do trabalho, então podemos perceber o reconhecimento dessa não
simplesmente por meio de suas funções nas relações de produção mas também nas
47 Localizada na Rua Theodoro Rosas a atual sede do Centro Operário ainda abriga atividades recreativas
e de lazer como bocha, truco, sinuca, churrascos e comemorações. No dia 1o. de Maio, último, o C.O.C.B
completou 80 anos de existência. Desses anos todos, algumas mudanças ocorreram, algumas rupturas se
ocasionaram na sua trajetória. Essa sede, onde funciona um bar, embora hoje seja a única sede do Centro,
hoje está desmembrada do seu prédio original localizado no Largo Professor Colares e onde, curiosamente,
hoje lá funciona uma manufatura de cortinas. O que antes era um espaço de lazer dos operários, hoje se
torna o seu espaço de trabalho.
48 O conceito de trabalho não só foi alimentado por apologistas da sociedade burguesia como também por
seus próprios críticos. Edgar de Decca considera que esse se origina com o intuito de garantir o espaço da
fábrica e legitimar a figura do capitalista. O trabalho era fonte de produtividade e a fábrica "ao mesmo tempo
que confirmava a potencialidade criadora do trabalho anunciava a dimensão ilimitada da produtividade
através da maquinaria". A fábrica enquanto acontecimento tecnológico não foi símbolo hegemônico por toda
sociedade, Decca ainda considera que “os ecos de resistências dos homens pobres a se submeterem aos
rígidos padrões do trabalho organizados são audíveis” (DECCA, 1996, p. 09) e remetem que aquilo que para
a burguesia era efeito material do "tempo útil", para outros podia não passar de um motivo para explorar
outra classe assalariada e despossuída. Nesse embate de discursos podemos falar de um imaginário do
mundo burguês e, desde já, descartar a idéia de que, por exemplo, os setores dominados desta mesma
sociedade estejam submetidos a uma enorme mentira ou a um engano universal, isto porque a presença
das classes nessa sociedade se dá justamente a partir da universalização do imaginário burguês, e, nessa
medida, a produção mesma das classes está intimamente ligada ao modo pelo qual essa sociedade impõe
os registros do imaginário para o seu próprio reconhecimento" (op. Cit. p. 18)
49
diferenças culturais dessa classe para outras.
Segundo Karl Marx e Friederich Engels: “os indivíduos separadamente formam uma
classe apenas na medida em que levam a cabo uma batalha comum contra outra classe”
(MARX; ENGELS op. cit, p. 45).
Para além da fábrica e para além da greve, o operário também se assume na
roupagem de mães e pais de família, freqüentadores do bingo da Paróquia, figuras
carimbadas do bar mais próximo, compradores à fiado e fiéis da mercearia da esquina,
apreciadores da rádio AM que toca música popular, apostadores em rinhas de galo, entre
outros. Desconsiderar essa outra parte das suas vidas, colocálos unicamente como
peças da força do trabalho ou como componentes de uma luta social que inspira nossas
paixões, é uma tarefa que pode incoerentemente partir da caneta do intelectual. Essa
atitude involuntariamente simplifica a História.
Os trabalhadores são motores da própria História, como engrenagens de um relógio,
eles possibilitam as relações produtivas. Ainda assim, seus cotidianos não se resumem a
esse papel e nem sempre eles enxergam seu diaadia apenas como murais de
exploração. É sobre as condições de trabalho e capitaltrabalho, entre outras formas como
são colocados ou jogados na estrutura social que os trabalhadores constituem sua
cultura. Precisamos estar atentos às diversas particularidades relacionadas à
aplicabilidade da força de trabalho, mas também a outra parte das suas vidas.
Essa outra proposta colocada aqui, e reafirmada também por alguns teóricos, torna
necessário acreditar que para além do mundo do trabalho, os trabalhadores elaboram
uma cultura quando se apresentam no seu tempolivre para além do mundo da fábrica
(“timeoff”). Nesse segundo cotidiano reconhecemos atividades distintas, seja mesmo no
cunho de organização trabalhistasindical ou somente para fins de lazer.
Essa discussão interessa aqui para perceber como esse tempolivre foi administrado
pelos membros do Centro Operário Cívico e Beneficente e como isso se representa num
discurso que construiu a imagem do operário para seus associados. Nesse caso, essa
imagem construída no interior das relações sociais do Centro serve para reconhecermos
um conceito de classe em si, ou seja, constituído dentro das dependências da própria
organização operária e que determina a participação desse em sociedade.
O uso de referenciais teóricos que se aproximam dessa proposta tem sido, no caso,
50
49 Para mais informações sobre o Grupo de Trabalho Mundos do Trabalho acessar o site:
http://www.ifch.unicamp.br/mundosdotrabalho/ (acessado em 28/09/09).
50 Os trabalhadores criam e vivem a própria história e suas experiências demonstram que a consciência de
classe está colocada internamente de um permanente fazerse da classe operária (THOMPSON, 1976).
51
modelo pode darnos aquilo que deveria ser a “verdadeira” formação de classe em
um certo “estágio” do processo (THOMPSON, 2001, p. 277).
Colocando isso em torno do surgimento do proletariado princesino e de sua formação
enquanto classe, não podemos supervalorizar apenas sua atividade política como se essa
fosse a única forma dos trabalhadores se introduzirem na história. Devese considerar que
a cultura é considerada como ponto inerente nesse processo de formação dos
trabalhadores enquanto classe. Algumas produções cedem maiores olhares à
organização política dos trabalhadores, entretanto, é contido ao pesquisador observar os
demais espaços onde fora produzida a identidade dos trabalhadores.
Além de assumir a característica de amparador dos trabalhadores, o Centro Operário,
em seu próprio discurso, sempre se destinou como um espaço de lazer e de
administração do tempo livre51 dos trabalhadores. Nessas passagens se torna
interessante denotar a existência de distinções tênues entre os dois tempos da vida do
operário e como esses são estipulados pelos espaços onde são administrados.
Daí a importância de um sobrevôo por parte da História Social do Trabalho não
somente sobre assuntos relacionados a organizações sindicais. Aproximandose do caso
aqui estudado, essa importância também pode ser dada a outros locais onde as
experiências podem ser compartilhadas, tais como sociedades recreativas, clubes e
associações com fins esportivos52. Essas entidades também podem responder muitas
51 É nos cenários construídos pelos trabalhadores (Sindicato e Lazer) que eles próprios vão se constituir
além do tempo do trabalho e além das relações produtivas. Não existe consciência de classe pronta e
acabada, nem ''certa'' ou ''errada'', entretanto o uso do tempo se deve ao próprio aproveitamento que os
trabalhadores proporcionam a ele. Eric Hobsbawm fala de um chamado timeoff (tempo livre) no cotidiano
dos trabalhadores da Inglaterra no século XIX, onde esses determinavam sua cultura: "usemos um
conhecido ponto de referência no mapa da classe trabalhadora "tradicional", a lanchonete de peixe e fritas
originada provavelmente em Oldham, na década de 1860 (...). O futebol já possuía uma modesta vida
subterrânea como esporte para o espectador proletário nos últimos anos da década de 1870" (HOBSBAWM,
1988, p. 281).
52 O professor Uassyr Siqueira reflete sobre esse assunto da seguinte forma: "principalmente em relação à
historiografia mais tradicional, acabouse por aceitar a versão elaborada pelas lideranças sindicais do início
do século XX, as quais consideravam outras formas de sociabilidade, como clubes esportivos e recreativos
sem caráter sindical, como secundárias em relação à “verdadeira” organização ou até mesmo como
alienantes. Dessa maneira, sem qualquer questionamento sobre o papel dessas associações na articulação
de identidades entre os trabalhadores, são postas em segundo plano pela historiografia – quando não
completamente desconsideradas. A ausência de pesquisas sobre clubes e associações dos trabalhadores é
também resultado das concepções a respeito da consciência de classe. Embora haja o reconhecimento
sobre a peculiaridade organizatória dos trabalhadores, a consciência muitas vezes foi tratada em termos de
movimentos reivindicatórios ou políticos ou do confronto direto com o patronato ou estado, o que acaba por
excluir muitas das agremiações dos trabalhadores. Outras formas de manifestações da consciência,
expressas e diferentes no cotidiano dos trabalhadores, são deixadas de lado se ignoramos os clubes e
associações como espaço legítimo de organização'' (SIQUEIRA, 2002, p. 24).
52
indagações sobre o momento em que viveram.
A primeira parte desse trabalho desloca nossa leitura a movimentos constituídos
dentro de associações operárias que possuíam critérios distintos de organização. Em
virtude do estudo sobre as fontes e a documentação do Centro Operário, o recorte
proposto pelo trabalho não possibilita uma observação sobre um movimento forjado em
um cunho sindical e combativo em Ponta Grossa – ou que pelo menos deixe isso explícito
em suas atas.
A importância do trabalho, por outro lado, está em perceber as estratégias dos
personagens do Centro Operário, evidenciadas no discurso das atas e aqui colocadas
com a finalidade de entender se essas práticas cotidianas eram baseadas no total
consenso dos membros ou se deixavam transparecer tensões e conflitos entre seus
associados ao serem abordados nas reuniões registradas pelas atas.
Observando o Centro Operário como uma rede social, consideremos que nele se
materializa uma teia de relações que determinam os seus objetivos sociais enquanto
entidade. É na forma como os indivíduos se relacionam que reconhecemos suas ações. O
contato social é determinante para entendermos tais relações, é nesse domínio gerado no
coletivo que se colocam a prova um conjunto de valores, intenções, estratégias, projetos,
relações de poder, entre outros53.
São as relações de trabalho que criam esses personagens, os trabalhadores em
seus diferentes locais de trabalho. Num outro cotidiano, esses por sua vez ao se
reconhecer numa situação parecida sugerem a criação de outros espaços na sociedade,
daí nascem os espaços de organização dos trabalhadores ou de lazer. O encontro de
experiências pode colocar os trabalhadores enquanto classe, enquanto atores sociais em
um momento estratégico – seja numa manifestação, num piquete de greve ou em um jogo
de futebol.
53 Sobre redes sociais e suas redes de comunicação, o físico Fritjof Capra diz: ‘’Como as comunicações (...)
produzem um sistema comum de crenças, explicações e valores – um contexto comum de significado – que
é continuamente sustentado por novas comunicações’’. Nesse processo, cada membro da rede adquire a
sua própria identidade, mas isso sem deixar de ser membro de outras redes. Esse, na verdade, é membro
de várias redes dentro do sistema social como um todo. ‘’Na sociedade humana, as estruturas são criadas
em vista de determinada intenção, de acordo, com uma forma predeterminada e constituem a corporificação
de um determinado significado’’ (CAPRA, 2002, p. 9596).
53
2.2 O 1o. De Maio: A Fundação do Centro Operário Cívico e Beneficente.
A fundação do Centro Operário Cívico e Beneficente passa a significar um novo rumo
no movimento operário de Ponta Grossa, sendo que a associação não agrupava
simplesmente trabalhadores54, mas também, membros da pequenaburguesia,
intelectuais, jornalistas e comerciantes.
O Centro Operario Cívico e Beneficente que procurará por todos os meios o bem
estar dos seus componentes da classe operaria local, amparandoos moral e
materialmente (...) bem como de comum accordo com as suas coirmãs do Estado
e do Paiz procurará também pelas conquistas das reivindicações dos Homens do
trabalho fazendose representar (...) nos conclaves ondese discutem theses que
possam interessar os trabalhistas locaes do Estado e da Republica (C.O.C.B, Ata
02)55.
Entre os principais associados e diretores do Centro estavam: Albino Wiecheteck,
industrial e vereador pelo Partido Integralista (1935937); José Deslandes de Souza,
membro do jornal Diário dos Campos; Adejamiro Cardon, membro da Livraria Modelo;
Joaquim Wirruez, gerente da madereira SONYRA; Eusebio Biaco, fiscal; Walfrido Pilotto,
54 Além das atas, outras fontes como o Livro de Inscrições e o Livro Caixa do Centro Operário revelam a
ocupação dos trabalhadores em diferentes postos e categorias de trabalho. Entre as principais categorias se
encontram os cerreiros, madeireiros, mecânicos, metalúrgicos, comerciários, ferroviários, cervejeiros,
ervateiros, artesãos, entre outros. Ver ANEXO 3.1.
55 O dia 1o. de Maio conhecido como Dia do Trabalhador, posicionado hoje no calendário nacional como
feriado, é lembrado como a data de início da Greve de Chicago de 1886 que culminou na morte de 12
trabalhadores. Esse evento é conhecido como a Revolta de Haymarket. Martirizado por tais mortes, esse
passou a ser reconhecido como Dia Internacional das Causas Laborais. Araújo e Cardoso, ao reconhecer a
gênese do 1o. do Maio como um dia de luta e que a recordação desse episódio “encaminha à reflexão
acerca da contribuição do operariado para a sustentação da sua força de trabalho” (ARAÚJO; CARDOSO,
op. Cit, p. 110). Complementando, o 1o. de Maio, que também é marcado em 1929 pela fundação do Centro
Operário, é reafirmado pelas duas pesquisadoras como evento anual em que “os operários emprestavam à
data o caráter de protesto e solidariedade na luta, através da fundação de ligas e associações” (op. Cit., p.
112). No Brasil, o dia é decretado enquanto feriado nacional em 1919. Araújo e Cardoso ainda reconsideram
essa data que passa do calendário operário, "o luto e a luta", para o calendário da sociedade como um todo.
"A institucionalização do feriado termina enrijecendo o conteúdo das comemorações; dissocia no espaço
tempo, trabalho, de lazer, atuação produtiva, de atuação política. Reserva espaços físicos determinados
para manifestações isoladas: local de trabalho e local de festa, local de produção material e local de
produção de idéias. O feriado oficial, portanto, afasta operários de seu meio: o local de trabalho. Com isso, a
luta político ideológica perde para festividades de congraçamento nas quais o tema comemorativo – trabalho
suplanta o trabalhador" (op. Cit. p. 114). Essa citação se contempla no trabalho quando percebemos o
fluxo do discurso que preenche a primeira ata do Centro Operário. A sua fundação foi articulada numa data
considerada importante para os operários de Ponta Grossa, "mais grata ainda ainda, pois que o Centro de
sua classe, iria ter naquele dia sua instalação oficial’’ (C.O.C.B, Ata 01). Embora, esse sentimento para com
um dia específico na vida dos operários aparece significado como "festa dos homens do trabalho" onde ali
não partilhavam da comemoração apenas trabalhadores, mas também políticos e outros membros da
sociedade civil.
54
escritor paranista e jornalista; José Silva, jornaleiro; João Ferigotti, zelador do cemitério
público; Fidelis Alves, funcionário da Prefeitura e Alberto Lopes, tenente do 13o.
Regimento de Infantaria.
Sobre o Centro Operário, Carmencita de Holleben Melo Ditzel escreveu: “a
instituição reunia um grupo heterogêneo de trabalhadores com diferente qualificação
técnica, fazendeiros, comerciantes, industriais, políticos e setores da imprensa” (DITZEL,
2004, p. 147).
Uma das infelicidades desse trabalho se encontra em não ter conseguido encontrar
o perfil trabalhador ou empresarial de todos os membros da diretoria. Entretanto, o
descobrimento dos afazeres desses membros a partir da pesquisa e averiguação de
outros documentos pode servir para ligar o texto das atas às motivações que o
produziram.
A análise do conteúdo das atas enquanto objetos de pesquisa é realizada a partir
do recorte de algumas palavras centrais no texto. A importância é determinada pela
freqüência que a palavra é citada no texto ou pela posição que ocupa no discurso. São
construídos quatro núcleos de sentidos: Lazer, Beneficência, Cotidiano, Política (ver
ANEXOS 3.3) – esses servem para perceber como cada palavra adentra o discurso,
criando o assunto. As palavras, tratadas em destaque, entre aspas, podem auxiliar a
compor o significado de representações56 produzidas nas atas do Centro Operário
(BARDIN, 1998).
56 Segundo Falcon: ‘’o conceito de representação pode ser entendido de duas maneiras, a primeira como
‘representação’ entendida como objetivação, figurada ou simbólica de algo ausente, a outra é que a
representação é definida como ‘estar presente no lugar de outra pessoa’, substituindoa, podendo ou não
‘agir em seu nome’, essa última se incorpora como a prática política’’ (FALCON, 2000).
55
FIGURA 07 – Ata da fundação do Centro Operário.
56
O discurso apresenta um clima de saudosismo e solidariedade aos trabalhadores do
recémfundado Centro Operário, instaurado na "defesa" da classe trabalhadora. O texto
apresenta a existência de reivindicações colocadas pelos "Homens do Trabalho", apesar
de não ser específico quanto a essas e como seriam solucionadas.
Os objetivos do Centro aparecem e a organização dos trabalhadores num primeiro
momento cede importância a sua expressão popular perante toda sociedade, o "operário"
tinha seu mérito e somente a ‘’união’’ e a ‘’colectividade’’ poderiam construir esses
merecidos votos. Considerar a existência dessas palavras e a forma como se posicionam
no texto é fundamental para perceber a forma como se articula o discurso.
Pensando o Centro Operário como um espaço onde os trabalhadores possuíam seu
tempolivre, podese notar que a sociabilidade dos sócios era em momentos direcionada e
mitificada por esses termos. Pensando essa organização operária formada por um
coletivo orientado por tais termos, se torna possível entendêlo como formador de um
conceito de classe em si, o que era/deveria ser o trabalhador, como na formação de um
autoretrato. Nesse caso, essa representação contida no texto, é o que elabora uma
imagem do operário.
Quando palavras57 como "Estado" e "Paiz" adentram o discurso se interligando com
os personagens trabalhadores no seu coletivo "Homens do Trabalho" – concluise que a
sensibilidade desses com os sentimentos de civismo seriam ocasionados perpassando as
mãos do aparelho institucional do estado.
A priori, tal constatação pode aparentemente se apresentar num campo de obviedade,
porém, o aprofundamento dessa análise58 pode proporcionar uma leitura mais fiel à
construção do sentimento cívico entre os membros da associação e mostrar que esse não
se reproduz apenas no título do Centro Operário.
Nesse momento, a fundação do C.O.C.B cede importância não somente a um jogo de
57 Para Ciro Cardoso e Ronaldo Vainfas, o léxico não é um amontoado de palavras isoladas. As palavras se
alojam dentro do discurso de forma a se coordenar entre si ou se opor entre si. Nesse caso o pesquisador
necessita abordar "a decifração do campo lexical inerente ao discurso, modelo esse pautado em algumas
redes de relações de palavras" (CARDOSO; VAINFAS, 1997, p. 380).
58 Entendese a análise de conteúdo por possuir a finalidade de analisar textos sobre uma perspectiva
quantitativa, mas sem gerar uma dicotomia com a análise do discurso de forma qualitativa. No caso das
atas, esse olhar deve permear além do texto, mas, também todo o contexto em que foi produzido –
considerando então que o texto em si se apresenta enquanto discurso, mas é passivo de um contexto. Esse
processo considera a produção, a circulação e o consumo do discurso (CARDOSO, VAINFAS, op. Cit.;
BARDIN, op. Cit.).
58
relações interno entre os membros da associação , mas também à sociedade ponta
grossense como um todo. Entre esses elementos, o que chama a atenção na ata é quanto
à composição da mesa da primeira reunião. Chamado pelo presidente recémempossado
do Centro Operário, José Deslandes de Sousa, o primeiro convocado a compor mesa,
antes mesmo dos membros da diretoria, foi o prefeito de Ponta Grossa, Elizeu de Campos
Mello59, sendo esse aclamado como ‘’amigo da classe trabalhadora’’ e respondendo estar
em inteira solidariedade a ela.
Esse clima de saudosismo, colocado a partir da solidariedade do Centro se contempla
no “valor” que possui a classe operária naquela festividade. A imagem do 1o. De Maio se
esclarece pela conveniência de nenhuma discussão sobre condição salarial dos
trabalhadores ou de suas condições de trabalho ser colocada perante o Prefeito. Dessa
forma, as posteriores atas deixam algumas perguntas quanto ao que seria essa "defesa"
da classe operária.
Mas para além da insinuação daqueles "Homens do Trabalho", a primeira atividade da
mulher se transmite nas atas ainda na fundação da entidade operária. Dentre a
ritualização da cerimônia do trabalho, além de todos os valores, símbolos e sinais que se
imagina terem incorporado o palco das relações sociais, o ser feminino apenas se
apresenta referido na segunda ata do Centro Operário quando travestido de uma tal
Senhorita Rainha dos Operários e saudada pelo prefeito dizendo que "com sua presença,
tão grandemente engalava a festa dos homens do trabalho" (C.O.C.B. op. Cit.)60.
Esse evento de tal Centro Operário, significado de tal forma no calendário dos
laboriosos princesinos mostra uma reafirmação de um lazer muito próximo do mundo do
trabalho. De tal forma que o discurso dos membros da Diretoria e do Prefeito se pauta na
legitimação da força de trabalho. O orador do Centro, Adejamiro Cardon, solicitou a
palavra e em nome da entidade exclamou que "seu único objectivo era procurar o
levantamento do operariado integrandoo no seio da colectividade humana e dando o
direito e o valor a que elle faz jus, com o esteio mestre do progresso e da grandeza dos
59 Elizeu de Campos Mello conhecido como um dos fundadores e apoiadores do extinto Jornal O
Progresso, que mais tarde se tornaria Diário dos Campos. Era acionista majoritário da Companhia
Tipográfica Pontagrossense. Advogado e fazendeiro, se tornaria prefeito de Ponta Grossa em 1928
(CHAVES, 2001).
60 A partir da leitura do Livro de Inscrições do Centro Operário, é possível perceber a participação de
mulheres na associação. Se apresentam em número aproximadas 49 mulheres afiliadas, muitas delas
carregando sobrenomes de sócios, o que denota a possibilidade dessas serem esposas ou possuintes de
algum grau de parentesco para com esses.
59
povos" (op. Cit.). A justificativa da disposição e do empenho do trabalhador se orquestrava
nessas palavras.
Essa palavra ainda aparece em mais uma oportunidade, quando o tenente e redator
do Diário dos Campos, Affonso Lopes pediu a união dos diretores do Centro Operário e
para‘’que trabalhassem pelo engrandecimento da cidade, do estado e do Brazil, ao qual
deviam todos dedicar os maiores sacrifícios pelo seu progresso pela sua grandeza’’ (op.
Cit.). Quando o "progresso" entra em cena no discurso, não existe outra alternativa a não
ser legitimar a participação do trabalhador em sociedade. Perante o representante
máximo do governo local, aparece um movimento operário esquadrinhado e próximo das
elites locais.
Por fim, e antes de se encerrar a reunião, foi entregue pelas mãos do prefeito uma
imagem de Nossa Senhora dos Operários a um trono que se encontrava na sede
provisória do Centro Operário.
No decorrer das atas, esse esquadrinhamento da imagem e do movimento operário
aparece acariciado de outro fenômeno. A pesquisa acabou percebendo além das
atividades recreativas e de lazer, das quais a entidade se propunha a desenvolver com
seus membros, os chamados assuntos políticos61.
61 Sempre que tratados nas atas e nos estatutos sociais enquanto "assumptos politicos", esses parecem
repudiados. Entre as 24 atas analisadas, esses são chamados assim apenas quatro vezes. Porém, eventos
como a participação de Walfrido Pilotto num Congresso Operário – sendo que esse era jornalista , o apoio
a Elbe Pospissil para a Assembléia Legislativa, a convocação para uma Conferência operária em praça
pública, a doação de um terreno pelo prefeito para a construção da sede da associação, entre outros,
acabam sendo tratados na pesquisa como sendo de cunho político.
60
FIGURA 09 Eliseu de Campos Mello, Prefeito de Ponta Grossa 19281930 (Fonte: Casa da Memória).
61
2.3 Entre a Ordem e a Política: O caso do “tellegrama”.
Entre uma reunião e outra, se percebia a intensidade das discussões em torno de
assuntos recreativos e de lazer. Ainda assim, foi possível perceber uma outra tonalidade
em casos específicos quando são citados e discutidos os chamados “assumptos políticos”
(sic!).
Em torno disso, e contrapondo tais temas, as atas constroem em seu interior uma
representação da imagem do operário de forma cívica e solidária – algo que também se
reproduz o nome da associação procurando não deixar espaço pra qualquer notoriedade
política ao movimento operário.
2a. Chamada da Assembléia de 18 de agosto de 1929: João Perantunes, vice
presidente do Conselho Fiscal, pediu a palavra. Essa só lhe foi concebida após o
presidente, José Deslandes de Souza, lhe advertir que no seio da sociedade operária não
se devia "tratar de política" (C.O.C.B Ata 10). Ao lhe ser ofertado a palavra, Perantunes
pediu uma "explicação" sobre um artigo escrito no Diário dos Campos pelo orador
Adejamiro Cardon que tratava do alistamento de operários para que esses pudessem
votar nas eleições daquele ano exercendo um dos "deveres cívicos" da sociedade.
O artigo 72 do estatuto do Centro Operário foi citado na reunião pelo presidente do
Conselho Fiscal, a fim de omitir o incentivo de Cardon ao voto dos operários. Perantunes
ainda se direcionou ao Presidente, pedindo "esclarecimentos" sobre um "tellegrama"
contendo "assumptos politicos" que poderiam comprometer o "bom nome" do C.O.C.B.
62 Segundo o Artigo 72 inciso 5o. Do Estatuto Social do Centro Operário Cívico e Beneficente de 1979: "É
proibido se manifestar politicamente nas dependências do Centro Operário". Esse artigo aparece como
documento mais citado nas atas, precisamente três vezes.
62
63 O caso do telegrama reflete que o Centro Operário possuía membro não só articulados com a política
local, mas também a nível nacional. Entretanto, apesar de esse personagem ser apresentado como "grande
trabalhador" por Adejamiro Cardon, seu retrospecto político pode ser entendido de outra forma. Júlio Prestes
de Albuquerque, conhecido por vencer a eleição de 1930 e por ser impedido pela Revolução de 1930, nunca
teve sua vida política em intimidade com qualquer causa puxada pelo movimento operário.
63
que esse deixasse a presidência. Essas duas atas mostram que a omissão dos tais
"assumptos politicos" era justificada a partir de argumentos que se correspondiam com o
"bom nome" da associação operária. Tais expressões são colocadas algumas vezes64,
nem sempre da mesma forma, mas possuindo a mesma conotação – demonstrando o
quanto uma atitude poderia comprometer o nome da entidade que procurava reproduzir o
ato dessa como "cívico e beneficente".
Nesse instante do texto, cabe deslocarse a um recorte dos chamados "assumptos
politicos". Entretanto, comparando quantitativamente o número de páginas que tratou
desse caso específico com qualquer outro, percebemos que logo aquilo que fora muito
omitido e censurado no Centro acabou ocupando um maior número de páginas que
qualquer outro assunto.
2.4 Trabalhadores do Paraná UNIVOS!: Uma política a portas fechadas.
A existência de um documento jurídico que barrasse os atos políticos pode parecer o
reflexo de que esses não ocorressem em torno da associação de trabalhadores. Todavia,
a existência que um artigo do estatuto e discurso das atas, onde ambos discriminam tais
assuntos políticos não significa que tais práticas não ocorriam.
Reunião Extraordinária da Diretoria, 25 de Setembro de 1929:
Usando da palavra o sr. Presidente expôs [a pauta] daquella convocação, dizia elle
que estava o operariado do Paraná enfrentando na eleição de seu deputado ao
Congresso do Estado tendo havido uma conversação em Curityba, (...) a
apresentação do operário (...) sr. Elbe Pospissil para ser o candidato operário ao
Congresso do Estado (C.O.C.B, Ata 12).
Foi numa reunião extraordinária, aparentemente breve e direta, sem a participação dos
associados, a não ser por parte dos integrantes da diretoria e do Conselho Fiscal, que
essa discussão entrou em pauta. Elbe Pospissil foi um dos articuladores da Greve dos
ferroviários em 1919 que cobrou 20% de aumento nos salários, melhores condições de
trabalho e jornada de 8 horas. Os manifestantes saíram vitoriosos, tendo todas as
reivindicações atendidas. A partir disso, a participação de Pospissil na União Operária do
64 A palavra tellegrama é citada cerca de cinco vezes, sendo que essa aparece nas atas contrapondo o
"bom nome" ou "nome honroso" do Centro. Nesse caso, apesar de os termos não possuírem igual
pronúncia, eles acabaram possuindo o mesmo sentido.
64
Paraná conseguiu atrair maior atenção à sua vida política (ARAÚJO; CARDOSO, 1992).
Um Congresso convocado para o dia 19 de Outubro foi convocado em Curitiba – não
há maiores informações na ata sobre tal. A chamada "conclusão" dos operários decidiria
todo apoio ao futuro candidato a deputado estadual, sendo que foi eleito para
acompanhar tal processo o literário paranista e jornalista Walfrido Pilotto65, eleito sócio
benemérito do Centro Operário.
Além disso, essa ata revela a contradição e o embate de discursos no interior do
Centro Operário. Foi num conluio fechado, sem a participação dos demais membros da
entidade que foi decidido o apoio desta ao candidato. Essa atitude deixa a entender uma
atividade política dos membros da organização operária, enquadrando um dos "deveres
cívicos" do operário a uma única alternativa de voto e mostrando a tentativa de controle
da associação sobre a decisão dos trabalhadores nas urnas eleitorais.
A ata ainda previa que todos os membros alistados recebessem uma cédula com o
nome do candidato. "Tambem pelo sr. João Shimidt Filho foi proposto que o Centro
censurasse todo o seu sócio que não votasse no candidato da classe operaria nas
eleições (...), pois que assim demonstravam falta de união e compreensão de seus
deveres civicos, para com a colectividade operaria" (op. Cit.). Segundo consta em ata,
essa proposta provocou várias discussões, mas foi aprovada pela maioria dos reunidos.
A apelação dos "deveres cívicos", mais uma vez citados, serve de justificativa para a
"censura" de tais membros. Ao fim da reunião, o presidente agradeceu a presença de
todos naquela reunião onde foram "tratados assumptos de magna importancia para a
sociedade e para a classe trabalhista do Estado". Não existe registro de qualquer citação
do artigo 72 dos estatutos sociais nessa ata, sendo que até mesmo os membros do
Conselho Fiscal, incluindo João Perantunes, não se manifestaram contrários ao apoio a
candidatura de Elbe Pospissil.
2.5 Cívico e solidário: Beneficência e lazer no Centro Operário.
Reunião Extraordinária da Diretoria, 14 de Janeiro de 1930:
65 Walfrido Pilotto, conhecido jornalista e escritor paranista possui notoriedade também por, junto da família
Pilotto, vir a Ponta Grossa no início do século XX para trabalhar no escritório da Rede Ferroviária
(WIKIPÉDIA, 2009; WRONISKI, 2009).
65
Tendo pedido a palavra ao sr. Joaquim Wirruez, que se estava presente, o qual (...)
explicou (...) a attitude dos operarios da Sonyra, dizendo tambem qual o motivo
que os levou a pedir (...) a sua eliminação deste Centro. O motivo principal e único
(...) foi ter um socio desta aggremiação, o sr. Affonso Braune, procurado introduzir
ideias politicas no seio o operariado da Sonyra, cujas ideias, são terminantemente
prohibidas pelos nossos estatutos (COCB Ata 18).
João Schimidt Filho pede a palavra, dizendo que ''profundamente magoado com a
attitude do sr. Braune pede que o mesmo seja eliminado desta sociedade a bem da
ordem e do progresso da mesma'' (op. Cit.). Essa ata revela mais um caso de perseguição
às atividades políticas dos operários membros da entidade. Ressaltando aquelas idéias
como ''terminantemente prohibidas'' pelos estatutos do Centro, essas nem expostas são.
Sendo que na reunião posterior aquela, a ''eliminação'' do secretário foi seguida de
''motivos já de todos conhecidos'' (COCB Ata 19). A censura a tais ''ideias politicas'' era
exercida de forma contundente, procuravam ser minimamente citadas, demonstrando o
interesse também de omissão a tais assuntos – colocando sempre tais ações como
opostas aos estatutos ou o ''bom nome'' do Centro Operário preenchido por membros que
praticavam a ''ordem'' em favor a seus ''deveres cívicos''.
Os deveres cívicos, nesse caso, apareciam materializados em ações que ocupassem
o tempolivre do trabalhador. Negar os assuntos políticos não parecia o suficiente, se
tornava necessário repreender e eliminar membros que tratassem de tais mesmo fora das
dependências do Centro Operário.
Certos documentos históricos podem contar uma História dos vencedores. No caso
das atas, a proposta vencedora discutida em reunião, o artigo do estatuto aprovado pela
maioria, é o que passa a sobreviver na linha do tempo. Entretanto, o direito ao passado
pertence a todas as classes sociais. A leitura nas entrelinhas, no discurso implícito, nos
mostra que em alguns momentos houveram processos de resistência. Momentos em que
mulheres e homens enfrentaram procuraram viver uma outra História. Ainda assim, a
caneta não estava em suas mãos.
Mais uma vez, nesse processo de construção da História o silêncio é percebido nas
fontes. É perante esse desafio que o trabalho do pesquisador se enriquece. Além da
66
definição de um método que subescreva relatos, a sensibilidade com a vida das pessoas
deve ser ainda mais intensa.
Independente da eliminação de Braune, da perseguição aos membros políticos
registrada no interior das atas, essa não é uma História da derrota da classe trabalhadora
no terreno de Ponta Grossa. Todavia, sim, é uma História do possível. Segundo
Thompson:
As classes não existem como entidades separadas que olham ao seu redor, acham
um inimigo de classe e partem para a batalha. Ao contrário, para mim, as pessoas
se vêem numa sociedade estruturada de certo modo (por meio das relações de
produção fundamentalmente), suportam a exploração (ou buscam manter poder
sobre os que exploram), identificam os nós dos interesses antagônicos, se batem
em torno desses mesmos nós e no curso de tal processo de luta descobrem a si
mesmas como uma classe, vindo pois a fazer a descoberta de sua consciência de
classe (THOMPSON, 2001, P. 274)
A reação aos movimentos combativos em Ponta Grossa foi algo presente e já discutido
aqui desde os seus princípios de organização. Mas isso em nenhum momento significou
sua derrocada ou que o freiodemão da reação acabou totalmente com a organização
dos trabalhadores na cidade. A atitude de Braune comprova isso.
Outra passagem importante que registra a relativa, e não total, importância das atas
no contexto dos trabalhadores aparece denunciada pelo próprio presidente logo após o
caso do telegrama. Antes de finalizar a reunião, o presidente José Deslandes de Souza
disse que ia nomear uma comissão para cuidar do Livro de Ouro do Centro afim de
arrecadar fundos para a construção da nova sede. Disse ainda que qualquer um que
fosse contra o Livro que se manifestasse “na sede do Centro e não na rua” (C.O.C.B. Ata
11). A letra corrida e a forma como aparece registrado no auto, demonstra uma certa
indignação de Souza, porém, além do seu sentimento a ata denuncia que alguns
associados discordavam de assuntos referentes ao Centro Operário fora de suas
dependências.
A relativa legitimidade das cerimônias do Centro Operário e a criação de uma rede
informal que discutisse tais assuntos porta afora demonstra que as decisões tomadas
pela maioria não significam uma total aceitação e uma total hegemonia de uns sobre
67
outros. O civismo era pauta de uma reunião e era relatado com toda precaução no toque
da pena sobre o papel. Mas esse relato evidencia que, mesmo antes dessa ter secado, o
conflito se tornava pauta de uma outra cerimônia elaborava na rua e não nas formalidades
do Centro Operário.
Em contraposição à realidade, a união dos operários aparece como elemento
importante da sua integração nas atas da entidade. O termo conjugado “união” aparece
na narrativa do documento como reflexo de uma imagem, ou digamos, como uma
representação de toda confluência de experiências daquele proletariado no instante.
A reprodução desse sentimento e sua finalidade se colocam na fidelidade duma das
primeiras citações de uma das atas: “que o operariado fosse unido para assim poder
alcançar as suas finalidades e puderem com isso integrar, no seio da coletividade
humana, que toda vida necessita do braço do operariado para poder ser forte’’ (C.O.C.B.
Ata 01).
Em grande monta, perante o pretexto de sociabilidade e a fuga aos assuntos políticos,
aquela haveria de ser preenchida de outro elemento que significasse a união dentro da
entidade. Aquele braço forte que conduzia a força de trabalho na sociedade era
representado por participar do conjunto da sociedade civil.
68
FIGURA 10 Símbolo do Centro Operário66
66 O símbolo do Centro Operário também se encontra talhado em frente a sua antiga sede até hoje. A
imagem reproduz três figuras masculinas segurando o globo terrestre de forma que esse rotacione. Algo
que rememora uma das falas do Tenente Alberto Lopes: “o operariado era a lavoura que movimentava os
povos, a força hercules que sustentam as nações e elevavaa as suas maiores conquistas; que o operariado
era a reserva dos paizes” (C.O.C.B. Ata 02). “Imagens propagam valores” (BURKE, 2004, p. 96). A
representação dessa imagem aparece também reproduzida de forma parecida no discurso dentro das atas.
69
a degradação do carnaval felizmente dura apenas alguns dias por ano, mas em
cada semana há um domingo e uma segundafeira para esses lazeres dos
trabalhadores que, na “cloaca de lama chamada taberna” vêm se identificar com o
trabalho da farra. E a confusão das tabernas tende a estenderse para as ruas do
subúrbio trabalhador (RANCIÈRE, 1988, p. 253).
67 Para o antropólogo José Guilherme Cantor Magnani "O termo na realidade"designa aquele espaço
intermediário entre o privado (a casa) e o público, onde se desenvolve uma sociabilidade básica, mais
ampla que a fundada nos laços familiares, porém mais densa, significativa e estável que as relações formais
e individualizadas impostas pela sociedade" (MAGNANI, 1984, p. 11).
70
Maria Auxiliadora Guzzo Decca ao trabalhar a vida dos operários fora do ambiente das
fábricas nas décadas de 1920 e 1930 em São PauloSP mostra um cotidiano influenciado
e cercado do controle social do Estado. Aqueles que antes não se demonstravam tão
preocupados com a situação social dos trabalhadores se tornaram seus principais
acolhedores. Saúde, educação, higiene eram novos elementos fundamentais, segundo
eles, para a vida do operário e a “ignorância” e a “indisciplina” desse seria fator prejudicial
para seu próprio desenvolvimento na sociedade (DECCA, 1987).
A partir de uma nova concepção de tempolivre, se tornava necessário libertar os
operários de seus ‘’vícios’’ e de sua vida ‘’improdutiva’’. Essa era a missão de tornálo
mais disciplinado e ordeiro para o outro tempo, o tempo do trabalho. Toda família era
reconhecida nesse processo, parques eram construídos, as igrejas eram abertas aos fins
de semana para o bingo e para um tipo de lazer domesticado, as práticas beneficentes –
além de favorecer o sentimento de “solidariedade” e de alívio por outras classes sociais –
também passam a fazer parte dessa conformação ao apaziguamento das classes sociais.
Ainda assim, esse combate se projetava para além de uma cultura ‘’degenerada’’,
segundo o próprio Departamento de Cultura de São Paulo: ‘’comunismo se combate com
obras sociais e não com polícia’’ (apud Op. Cit. p.80). Fica aí registrado o enredo implícito
em que era composta uma padronização do divertimento e até do comportamento dos
trabalhadores e suas famílias.
Em Ponta Grossa, passagens sobre o lazer operário representado na prática do truco,
da bocha, do francês68, das rinhas de galo e das caçadas são bem freqüentes em
diversas produções acadêmicas. Adriano Rossi ao trabalhar os conflitos em bares de
Ponta Grossa na década de 1930, identifica os botequins localizados próximos ao leito da
ferrovia como grandes palcos de embate entre ferroviários da rede federal. Ainda segundo
Rossi:
68 O truco é um jogo de cartas entre 2 participantes ou mais. O jogo de bocha consiste em lançar bolas
(bochas) e situálas o mais próximo de um bolim (bola menor), previamente lançado. O adversário, por sua
vez, tenta situar as suas bolas mais perto ainda do bolim ou remover as bolas do oponente. O Francês é um
esporte praticado em cima de uma mesa, onde é testada a força do participante. Popularmente é
denominado queda de braço, muito praticado da antiguidade até hoje (Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil , acesso em 03/08/2009).
71
bórdeis, a jogatina, etc (ROSSI, 2006, p. 18).
importância da família para as diferentes formas de reprodução da força de trabalho forem
intencionais? Tornase perceptível a utilização de um lazer para a formação de “corpos
dóceis” para o trabalho assalariado fabril a partir desse ambiente privado da família
(PAOLI, 1992; FOUCAULT, 1977).
A extensão da família para uma associação operária – ou seja, a passagem de uma
rede social a outra , essa última responsável por engrandecer em seu discurso o valor do
trabalho, acaba moldando todo conjunto da primeira em torno das informações produzidas
no interior da segunda.
Isso pode ser percebido como um fenômeno inconsciente no interior da entidade
operária. Porém se influenciado por outras classes sociais, esse caso pode ser adaptado
à intenção de uma estratégia que produz toda uma apologia ao mundo do trabalho, que
faria o trabalhador aceitar todos os sacrifícios do seu diaadia de trabalho. Tal influência
se ocasionaria de tal forma que essa aceitação ocorreria não somente no ambiente do
lazer operário onde a família também estava presente , mas ainda em seu domínio
privado, no seu lar.
A participação da sociedade pontagrossense em torno dos eventos organizados pelo
Centro Operário aparece também retribuída nos documentos oficiais da entidade, esses
eventos são significados com outros valores. A ata de 24 de outubro de 1929 retrata o
convite de uma festa que ocorreria na associação Homens do Trabalho, “convidando o
Centro a se fazer representar na festa” que ocorreria dois dias depois. O presidente ainda
se procura conhecer esta classe sindicato, partido, fábrica, salário, níveis de vida. Subjacente, mas quase
sempre presente no material com que lida o historiador,a família operária também desliza como
representação: ora é tratada como um dado natural da paisagem operária, ora como um reflexo
desorganizado do modelo dominante da família burguesa, ora como um estilo cultural característico e
herdado de um modo de vida anterior à proletarização” (PAOLI, op. Cit.p. 01). A extensão da obra de Paoli
procura ser espelhada aqui, porém, entre uma ressalva deve ser feita. Sua constatação de que no ambiente
de construção dos estudos históricos “a ausência de uma tematização explícita sobre suas formas familiares
de organização” (op. Cit.) se coloca um tanto contraditória já na existência de um autor clássico específico
nem sequer citado em seu artigo. Ao observar desde os primitivos estágios de formação da sociedade,
Friederich Engels compara diversos sistemas sociais de forma a comparar com a formação da estrutura
família. Seu alto e surpreendente grau de conhecimento do assunto não se demonstra de forma alguma
ausenta a divisão social do trabalho, ou seja, o processo de formação da sociedade entre as classes
sociais. Portanto, a mera constatação de que existe um teor necessário da criação da idéia de família seja
monogâmica, consangüínea, ou partida de qualquer outra forma de geração dinástica em torno de outros
pressupostos que formam a sociedade – a propriedade privada e o estado – contribui para o entendimento
da forma como nossa sociedade passa a se organizar. Com respeito a ambos os autores, deixo aqui o
registro das próprias palavras do segundo citado que podem nos escapar no interior de um de seus
parágrafos: “A ordem social em que vivem os homens de determinada época histórica e de determinado
país está condicionada por esses dois tipos de produção: de um lado, pelo grau de desenvolvimento do
trabalho e, de outro, pela família” (ENGELS, s/d).
73
denota que tal festa ocorria “afim de engrandecer a classe operária” e se referiu ainda que
os operários deveriam seguir até a sede do clube “afim de participarem da festa em honra
a nossa soberania”.
Nesse caso, o que se percebe é que essa confraternização entre as duas associações
operárias foi justificada por sentidos construídos dentro do texto e que são simbolizados e
materializados em palavras como “honra” e “soberania”.
Sobretudo, o que se torna interessante discutir é que por meio de um evento da
sociedade civil onde membros de associações operárias estariam presentes. O
“engrandecimento” da classe operária seria resgatado por meio de valores como “honra” e
“soberania”. Sendo que isso seria ocasionado perante a sociedade pontagrossense
(C.O.C.B, Ata no. 12).
Todos esses eventos, constituídos e relatados como atividades regulares do Centro
Operário se oportunizaram na titulação de “eventos cívicos”, tornando a entidade paritária
de um sentimento com a nação pautado no dever do cidadão, nesse caso o cidadão
operário, e tendo seu título reproduzido a todo instante em cada uma de suas reuniões de
forma a perpetuar seu sentido.
Todas as práticas beneficentes adquirem uma simbiose com o Estado, a partir de
figuras como o prefeito, e pelo estabelecimento de contatos com o governo do estado70.
Essa característica coloca o Centro Operário enquanto cívico, além de sua auto
proclamação, mas também no contato com o conjunto da sociedade civil e com esse
Estado. O C.O.C.B enquanto uma entidade operário no interior dos interesses da
sociedade civil “afim de ali defender os interesses da classe junto aos homens que
elaboram as leis do Estado” (Op. Cit. Ata 12).
Nessa relação, a ponte estruturada entre um lado e outro se estrutura e se coloca
como apresentada na narrativa das atas. Essa ponte se estimula acompanhada por um
tipo de sentimento com essas figuras políticas71, porém, ainda assim, também com a
70 Quando o caso do telegrama veio a tona, a ata registra na fala de José Deslandes de Souza: “o Centro
que com a ajuda de outros elementos de valor no seio da classe obreira, havia fundado, se fez e concordou
com o telegramma de (...) solidariedade do governo do Estado e da cidade representada na pessoa do
illustre Dr. Campos Mello [não fez aquilo] com o [intuito] de tirar proveito para a sociedade que havia
chegado a fundar e não com o intuito de galgar posição a custa da sociedade e debaixo de seu manto,
dizendo mesmo que [sua] posição (...) [não procurou comprometer] o nome honroso dos operários
dedicados e conscientes que o ajudaram a fundar e levar a frente esse Centro” (Op. Cit. Ata 11).
71 Um recorte, que além de compreender a isso e além de corresponder com essa proximidade de
membros com personalidades políticas, reforça o apoio do Centro Operário a campanha de Elber Pospissil
74
bandeira nacional (op. Cit. Ata 24). O patriotismo previsto nessa reação a governantes e
símbolos nacionais pode se designar em estreitas relações que, segundo a representação
das atas, se estabelecem além de mediações burocráticas. Aparentemente, o auxílio dos
governantes parece necessário e esses parecem enxergar como necessário o apoio da
classe trabalhadora.
Partindo do entendimento da ata, ou seja, do documento escrito pela própria caneta da
organização que representava os trabalhadores, esse patriotismo se produzia na
afirmação dos trabalhadores perante o “progresso e a grandeza dos povos”. Na mesma
oportunidade, existe uma citação do tenente Alberto Lopes do 13o. Regimento de
Infantaria de Ponta Grossa em que esse pede a união dos diretores do Centro Operário.
Mas, sua fala parece processar uma idéia que vai além, destinando um caminho a ser
traçado pelos próprios trabalhadores para que esses “trabalhassem pelo
engrandecimento da cidade, do estado e do Brazil, ao qual deviam todos dedicar os
maiores sacrifícios pelo seu progresso pela sua grandeza’’ (op. Cit. Ata 02).
A presença de uma figura do exército procura contribuir na construção de outra
imagem, aquela da qual tanto se trata nas atas do Centro Operário e que passou a ser
estudada nesse trabalho, sobretudo, a imagem do trabalhador. Essa representação não
coloca os sacrifícios como medidos, mas previstos na oratória de Lopes como uma
oportunidade de crescimento inclusive do país. Um patriotismo72 produzido com
sacrifícios. Esse foi o discurso produzido e apresentado na ata. O sentido que coloca os
operários perante a nação.
A pronúncia da palavra “progresso”73, citada mais de uma vez nas atas, se apresenta
como um elemento presente no discurso dessas figuras. Entretanto, qualitativamente
a Assembléia Estadual. A ata registra as palavras de João Perantunes, que em outra oportunidade havia
sido opositor ao apoio político do presidente do Centro a Júlio Prestes, complementa o apoio a Pospissil
pedindo a palavra e dizendo “que se curasse fileira em torno de um só candidato e que o apresentado por
Curityba para representar todo operariado paranaense era muito digno pois que conheciao desde menino”
(op. Cit. Ata 11).
72 Antes de um conceito moral de patriotismo, deverseia colocar que o sentimento para com a pátria se
produz a partir de uma ótica de participação social. Recortando uma parte do Dicionário do Pensamento
Social do Século XX no verbete “cidadania” esse reflete sobre isso: “uma participação desse tipo, porém,
depende de forma crucial do aumento dos direitos sociais para proporcionar um nível geral suficiente de
bemestar e econômico, lazer e educação, e sem dúvida também de novas formulação do que venha a ser o
'bemcomum'” (BOTTOMORE; OUTHWAITE. 1996, p. 73).
73 O objetivo desse trabalho não foi conceber um conceito de progresso, aliás, esse parece já ser produzido
em si, na fala de Lopes. Mas podemos entendêlo com maior evidência por meio da análise de outros
autores que estudaram o termo aplicado enquanto discurso da realidade social (SEVCENKO, 1998).
75
(BARDIN, op. Cit.) existe a finalidade de entender a forma como esse discurso se aplicava
à realidade. Ultrapassando essa construção da imagem do trabalhador, como numa pose
de fotografia, ou na própria intenção do discurso podemos entender as condições de
trabalho a partir da leitura de teóricos que trabalharam essa época e perceber que tais
sacrifícios, não frisados pelo tenente, podem se relacionar às condições de trabalho de
uma época em que esses homens e mulheres não possuíam um salário mínimo, não
eram registrados e ainda trabalhavam em locais de risco à sua saúde e integridade física.
A fábrica, o espaço de produção, que viria para exercer enorme influência sobre o
espaço urbano, pode ser denunciada hoje pelos seus métodos de organização e também
por se constituírem como “laboratórios secretos” da exploração dos trabalhadores e
elemento de acumulação de riqueza por parte do burguês, seu proprietário.
Relatos da origem do sistema fabril, muito se assemelham com o que fora relatado
também por Marx e Engels em “O Capital” (MARX; ENGELS, 1985). A ampliação da
produtividade do trabalho e o processo de maquinização da fábrica corriam de forma
paralela à desvalorização da força de trabalho humana. Segundo Hardman e Leonardi:
“Esse processo acarretava o crescimento do exército industrial reserva e a desvalorização
da força de trabalho, fazendo com que o setor têxtil, [por exemplo], apresentasse as taxas
mais baixas de salário, com relação ao vestuário” (HARDMAN; LEONARDI, 1991, P. 135).
Podemos relacionar tal lógica capitalista em Ponta Grossa com a existência de
fábricas na cidade. Quando ligase o “progresso” a tais “sacrifícios” que os trabalhadores
deveriam passar, a paisagem industrial e o discurso das atas do Centro Operário se
reservam além da defesa do sentimento patriótico, mas também na legitimação a
exploração do trabalho. Aliás, naquelas atas, parecia se constituir um discurso que
aproximasse o operário, mesmo fora de sua jornada de trabalho, de um tipo de lazer que
seguisse a lógica do trabalho – um tipo de lazer operário.
Isso nos coloca próximos do relato das atas da festa do 1o. De Maio. Antes desse ser
um dia de reivindicações trabalhistas, ele aparece como dia de festa. Uma “festa do
trabalho”, algo afirmado no texto das atas e reafirmado nas palavras do prefeito de Ponta
Grossa. Algo que coloca, de certa maneira, o lazer próximo de uma lógica de trabalho, um
fenômeno produzido não somente nessa cidade, mas desde o início do processo de
76
industrialização do estado do Paraná74.
O trabalho dignifica o homem? Não foi com essas palavras, mas constase que aquele
militar aparece numa das cerimônias da associação operária procurando uma forma de
legitimar o trabalho a partir de seu discurso. Um discurso construído no espaço de lazer
do trabalhador, não no seu local de trabalho. Entretanto, o texto referencia a legitimação
de uma lógica de trabalho no lazer do trabalhador. Logo esse, mesmo à distância da
fábrica, tem seu perfil moldado e legitimado na representação de uma sociedade.
Uma sociedade que ao não medir tais sacrifícios, não coloca no discurso o suor no
rosto do trabalhador, as suas mãos cobertas de graxa, nem mesmo o seu cansaço... O
trabalho se torna algo dignificante e que omite esse outro lado.
A imagem dos operários aparece no interior das atas do Centro Operário. Isso ocorre
como na pose desses trabalhadores para uma fotografia na porta da fábrica – nos
rememorando algum tipo de foto do álbum da cidade de 1936. Aquele formato de
representação não possuía o interesse de considerar qualquer defeito no corpo do
trabalhador. Não considerava nem o suor, a graxa, o cansaço. Não há momento para isso
nas atas.
No caso dos trabalhadores representados no discurso de sua principal entidade, a
representação do ser laborioso, que expurgava também qualquer representação do “homo
politicus” daquela cena, repreende também os calos nas mãos dessas mulheres e
homens.
Pensemos a sociedade como um corpo. Se os trabalhadores são parte desse corpo
físico da sociedade, ocupando o papel dos braços que estimulam a força de trabalho, não
existe motivo para o incentivo de qualquer conflito ou violência nesse corpo. Um membro
político dentro desse corpo estaria em discordância com o restante dos membros.
74 Esse fenômeno de procura de autoafirmação da identidade do paranaense como um povo trabalhador
passa a existir a partir do incentivo do movimento paranista em construir o “ser paranaense”. Essa proposta
se coloca numa tentativa de manifestação do desejo de algumas elites. Segundo Andrea Giménez: “Com a
representação do 'paranista', buscavase criar uma identidade universalizante para esse paranaense
multifacetado culturalmente, impondo a crença no Paraná e construindo um código de comportamento
relacionado à construção do desenvolvimento do Estado. Construíase um modelo de paranaense a partir
da identidade “paranista”: “trabalhador”, “empreendedor”, “ordeiro”, orgulhoso de seu estado, que, não
sendo nativo, se integrava nos “usos e costumes e nas tradições da gente paranaense”. Percebese que se
buscava estabelecer um instrumento discursivo de manutenção e de legitimação do status simbólico das
elites tradicionais do Estado, assim como de suas relações de poder” (GIMÉNEZ, 2008, P. 4). Além disso,
essa autoafirmação se concretizaria em outra oportunidades, inclusive na gestão do governador Paulo
Pimentel, de 1965 a 1970, quando seu governo de cunho desenvolvimentista tinha como lema: “Paraná –
Aqui se trabalha”.
77
Um trabalhador convencido de sua força e de uma missão a ele colocada – sendo
essa pautada no progresso e no desenvolvimento – estaria facilmente domesticado a
contribuir com a mãodeobra.
Como produtor de um discurso próprio, o operário político não poderia ser considerado
produtor de tal conveniência ao corpo social. Estaria em desacordo com o restante desse
corpo. Esse não se locomoveria, seria como uma máquina com um defeito, não se
tornaria eficiente ao momento que a mãodeobra e os usos dela não seriam legitimados e
que um de seus membros não estaria convencido de suas funções.
Portanto, o desvencilhamento da imagem de um movimento operário político e o
sentido positivo que acaba sendo colocado à situação de um membro do corpo social
acaba, na realidade, proporcionando esse sintoma de conveniência a toda sociedade.
Isso aparece citado até mesmo no sentido físico (“braço forte”) numa das atas (C.O.C.B.
Ata 01). Registrase, o enquadramento75 da imagem do operário forte e interessado
apenas em construir o progresso da nação mesmo perante seus sacrifícios.
Essa conveniência resulta no mantenimento de ordens vigentes, dos mesmos grupos
no poder político e dos interesses sendo concentrados nas mãos desses mesmos grupos.
A participação de gerentes de fábrica, intelectuais, empresários e políticos e outros
membros da sociedade civil, aparece como um fator que procura sugerir o consenso entre
as classes sociais na produção do discurso das atas – deixando transparecer a prática
dessa conveniência.
‘’Assim definida, a coletividade é um lugar social que induz um comportamento
prático mediante o qual o usuário se ajusta ao processo geral do reconhecimento,
concedendo uma parte de si mesmo à jurisdição do outro’’76 (MAYOL, 1996, p. 27).
Nesse sentido, a conveniência aqui citada é percebida em práticas consensuais,
75 Um fato que não pode indicar com veracidade, mas que podemos indicar com suspeita pode ser um
certo elitismo na produção das atas do Centro Operário. Tal constatação se proporciona na possibilidade de
a maioria dos trabalhadores naquelas reuniões serem analfabetos, fenômeno esse nem sempre constatado
na maioria dos trabalhos sobre organização operária. Nesse caso, os membros do Centro Operário que
escreviam as atas, no caso, Affonso Braune e Max Vosgrau, pela intensidade do discurso ali apresentado
podem inclusive terem sido intelectuais.
76 Ainda segundo Mayol, os indivíduos: “se encarregam de promulgar as 'regras' do uso social, enquanto o
social é o espaço do outro, o ponto médio da posição da pessoa enquanto ser público. A conveniência é o
gerenciamento simbólico da face pública de cada um de nós desde que nos achamos na rua. A
conveniência é simultaneamente o modo pelo qual se é percebido e o meio obrigatório de se permanecer
submisso a ela: no fundo ela exige que se evite toda dissonância no jogo de comportamentos, e toda
ruptura qualitativa na percepção do meio social” (Op. Cit. p. 47).
78
sendo essas sim, colocadas aos olhares e à jurisdição do outro. Em um espaço onde era
previsto que a política geraria polêmica, se torna passivo de entender como as práticas
recreativas e beneficentes se enquadrariam no interior do cotidiano operário pela
influência da participação dos patrões nesse. No diaadia regido por olhares do outro,
não se tornava interessante qualquer tipo de excentricidade, mesmo que política.
2.6 Considerações Finais sobre a pesquisa – O outro 1o. De Maio, Aniversário do
Centro Operário Cívico e Beneficente.
Procurei nesse trabalho analisar a experiência dos trabalhadores princesinos a partir
de sua principal entidade durante a sua primeira gestão, o Centro Operário Cívico e
Beneficente entre 1929 e 1930. Além do discurso de censura a assuntos políticos ser
justificado em estatutos e outros documentos, pude perceber a incidência de divergências
e conflitos em torno das pautas abordadas pelos membros da entidade.
Analisando a freqüência de palavras e como elas se posicionam no texto, uma análise
quantitativa e qualitativa irrompeu a mesa do pesquisador. A exemplo disso, diversos
comparativos foram feitos ao modelo como aquele discurso se adaptava à composição
das atas. Um dos casos foi bem específico e exigiu de minha observação.
A ata da reunião que tratou de uma disputa de futebol chamada Taça Operaria possui
apenas 3 páginas (C.O.C.B. Ata 13), enquanto a discussão do telegrama que percorreu
duas assembléias possui cerca de 19 páginas. Do conflito, surgiram as principais
discussões no interior do Centro Operário, mesmo com essas sendo omitidas, enquanto
os assuntos cotidianos da entidade aparecem tratados consensualmente77.
Uma diversidade de posturas se colocou entre as práticas previstas pelo Centro
Operário e ações consideradas nocivas aos interesses da classe operária, a sua união e a
ordem com que deveriam ser conduzidos os trabalhos assistenciais.
A História cedeu ao encontro de métodos aplicados principalmente por intelectuais de
outras áreas. Além de romper as fronteiras disciplinares da produção científica, uma
literatura aqui poderá produzir representações da memória e até reescrever parte da
77 No mais, a análise da freqüência de palavras e o uso delas para entender o discurso podem ser
percebidas nos anexos. Nessa parte da pesquisa acabei desvendando a monografia por achar interessante
que demais pesquisadores percebam a forma como a Análise de Conteúdo pode ser usada por
historiadores e demais cientistas.
79
História Regional – antes de uma ambição em seus objetivos, esse projeto, ao se deparar
com tais fenômenos, parece ter se transformado em uma mera oportunidade.
Mas antes de mais nada, registro aqui que minha intenção foi escrever uma História a
partir da voz dos próprios trabalhadores. Todavia, nos bares, nos trilhos, nos asilos,
nenhum dos meus personagens foi encontrado vivo para relatar o que viu e viveu. Meu
posicionamento portanto foi extrair do documento as informações que ele dispunha, a
fidelidade a um papel escrito significou a fidelidade a essa História.
A construção e a representação da imagem de um operário cívico e beneficente,
proliferando o subtítulo da entidade. Essa atitude, fazendo jus aos interesses de alguns
associados se referiu a uma alternativa de ação ao homo politicus. Ainda assim, as atas
contradizem essa construção de imagem de forma homogênea. No caso, reproduzem 31
discussões políticas enquanto em outras oportunidade reproduzem 33 discussões de
assuntos cotidianos (ANEXO 3.3). Se esse esquadrinhamento do operário se tornava
presente no discurso, por outro lado, as discussões políticas apareciam como uma
tentativa de remodelar essa imagem construída. Ou seja, o discurso que impregnou e que
se materializou na tinta das atas foi recebido com um processo de resistência – o caso de
Affonso Braune registra esse processo mesmo dentro do ambiente da fábrica.
A cada linha do texto não se apresentou nenhuma resposta determinante a História.
Colocase aqui uma modalidade de finalização da pesquisa. Onde apresento minhas
considerações finais, procuro concluir o trabalho, e também relatar a ata que reafirma
todos os fenômenos percebidos no decorrer do primeiro ano do Centro Operário.
Sessão Solenne, Primeiro Aniversário do Centro Operário Cívico e Beneficente e
eleição da sua Segunda Diretoria, 01o. De Maio de 1930: Seguindo os indicativos que as
fontes disponibilizam, algumas conclusões podem ser tomadas, todavia, o trabalho possui
por finalidade colocar aqui uma série de questionamentos encima do objeto. Todos esses
questionamentos, resultantes do esforço que a pesquisa delimitou, foram parcialmente
aqui apresentados apareceram para mim recolados a partir da análise da Ata No. 24 da
associação – designada a relatar a Sessão Solene do 1o. Aniversário do Centro Operário
Cívico e Beneficente e a posse da sua 2a. Diretoria78.
Com tal tonalidade, a última tarefa da primeira diretoria daqueles “Homens do
78 O texto integral dessa ata encontrase no ANEXO 3.5.
80
O presidente leu o relatorio referente ao anno da sua gestão e bem assim um
pequeno relatorio a thesouraria; chamou os novos directores eleitos foram
formando posse com excepção do Sr. João Ferigotti eleito presidente honorário
que resignou no momento de empossarse. Dada a palavra ao Sr. Adejamiro
Cardon orador official da Directoria que deixava o mandato, essê referiuse sobre
o progresso da Sociedade e desculpouse para com a assistencia e renuncia do
Sr. João Ferigotti do cargo para o qual fôra eleito (op. Cit.).
Percebese que o motivo não fora especificado nem relatado. Entretanto, anos após
esse caso, João Ferigotti também aparece em outro evento procedente a esse onde foi
expulso do Centro e logo após preso. Algo já relatado por demais pesquisadores e que
mostra o rechaçamento da tradição política pelo Centro Operário:
Um exemplo disso ocorreu em julho de 1932, quando alguns pontagrossenses
foram presos e mandados a Curitiba, acusados de subversão. Entre os presos
estavam o professor Erasmo Pilotto, o barbeiro Oscar Lima e João Ferigotti (…).
Logo após a prisão, o Diário dos Campos saiu em defesa do Centro, escrevendo
um artigo denominado “O Centro Operário Cívico e Beneficente está dentro da lei,
da ordem e do bom senso”, no qual ressaltava que a atuação do Centro estava
exclusivamente voltada para as ações assistencialistas (CHAVES, 2006, p. 82).
Não cabe aqui colocar convicções próprias e afirmar com veemência o que foi que
realmente aconteceu em 1929, mas a ausência de João Ferigotti79, eleito presidente
79 Segundo o Dicionário Histórico e Geográfico dos Campos Gerais, Fergotti “nasceu em Castro no dia 20
de março de 1888, filho de Nicolau Ferigotti e Augusta Müller Ferigotti. Quando da construção da Catedral
princesina, sua família transferiuse para Ponta Grossa, pois seu pai foi o arquiteto responsável pela mesma
82
honorário do Centro Operário, pode ter motivos muito próximos dos apresentados acima
pelo próprio jornal Diário dos Campos – ou seja, pensando em possibilidade, um dos
principais fundadores da entidade poderia não estar totalmente de acordo com tais
eventos ou com as finalidades assistenciais proporcionadas a ela. O jornal ainda afirmava
que uma parcela reduzida de sócios possuía crenças políticas, mas que isso não era
motivo para atacar o Centro Operário.
A entidade preparou uma cerimônia cercada de diversos convidados que
ocupavam a mesa principal da recémfundada sede do Centro Operário – localizada no
Largo Professor Colares. Logo após passeata pela cidade, os membros da entidade foram
recebidos ao som da Banda Lyra dos Campos e perante a bandeira nacional flamulando
logo após ser hasteada no mastro da sede.
O impacto daquele momento parece tentar ser descrito pela ata em questão. A
solenidade foi aberta por Leonor Braga, Rainha dos Operários. De seu pronunciamento
nada foi relatado nas atas, provavelmente o secretário não observou importância na sua
fala – ao contrário do que aparece perante os demais oradores da cerimônia, sendo que
esses eram homens.
Perante 143 presentes na cerimônia “de todas as classes sociaes” e perante
ocupantes de lugares distintos como “S. M. Anna Varigt Rainha do Commercio, Sta. Lucia
Dechandt, O Sr. Capitão representante do 13o. R. De Infantaria, O Sr. Alberto Lopes, (…)
e outras pessoas fradas”, discursaram Adejamiro Cardon; Walfrido R. De Almeida,
presidente recémeleito; Manoel de Oliveira, eleito ao Conselho Fiscal; José Deslandes de
Souza, presidente que entregava o cargo após ganhar apenas 10 votos favoráveis à sua
reeleição contra 121 de Almeida (C.O.C.B, Ata 22); e representantes de demais
associações.
Sua última ação como presidente apenas foi descrita como um “longo discurso”,
isso após receber sua fotografia publicada na sede do Centro. Enquanto que a fala de
Oliveira se pautou na defesa daquele “programma social” até ali desenvolvido, ou seja,
aparentemente, colocando as atividades do Centro Operário em torno dos espectadores
nossa cidade foi fundador e presidentehonorário do Centro Operário cívico Beneficente e sóciofundador da
Sociedade Beneficente Germânia, hoje Clube Princesa dos Campos. Além disso contribuiu enormemente
com Jacob Holzmann quando da Fundação do Jornal "O Progresso". Também era músico e foi um dos
componentes da Banda Lyra dos Campos. Após a morte de seu pai primeiro administrador de Cemitério
São José substituiuo nesta função até a sua própria morte” (UEPG, 2009).
83
daquele momento – no caso, além dos próprios operários, suas famílias que receberiam
as finalidades da assistência da entidade.
A reprodução desse discurso além de significar a função social do Centro Operário,
colocava o operário em torno da beneficência e dos desfrutes do seu lazer. Nenhuma
atitude daqueles homens e mulheres fora discriminada nas atas, a não ser suas ações
políticas. A imagem construída daquele ser operário estava desde a fachada do Centro
até suas finalidades, seja ele cívico e beneficente.
A bandeira que flamulava naquele prédio poderia simbolizar algo além do sentimento.
Arriscase pronunciar aquele como um símbolo de poder reproduzido nas insígnias dos
militares presentes no evento da entidade operária. O apaziguamento ali de nada
lembrava algo parecido com o conflito das ruas, localizado nas greves, entre o movimento
operário e o exército – recordando que Ferigotti não se dignou a presenciar aquele
evento.
FIGURA 11 Sede do Centro Operário Cívico e Beneficente (PREFEITURA, 1936).
Aquele 1o. De Maio não era o dia do trabalhador politizado como em outros
momentos. Aquele 1o. De Maio reafirmava a salvação dos operários pelo discurso
assistencialista, pela imposição do patriotismo, por um outro papel da mulher, pela
procura do respeito perante as outras entidades operárias e clubes locais.
84
FIGURA 12 – Palanque montado na chegada de Vargas a Ponta Grossa (1930).
FONTE: Casa da Memória Paraná
FIGURA 13 – A população pontagrossense no momento do discurso de Vargas (1930).
FONTE – Casa da Memória Paraná
86
80 Hardman e Leonardi consideram que ‘’temse aberto a brecha para a aceitação da análise que alçou o
governo Vargas como ‘progressista’, o direito trabalhista como ascensão vinda de cima e os sindicatos
construídos pelo Estado burguês como organismos do movimento operário’’ (HARDMAN; LEONARDI. Op.
Cit. P. 172).
87
3. ANEXOS
3.1 Plataforma: Trabalhadores por suas devidas categorias de trabalho e suas
ocupações.
Livro de Mensalidades
Trabalhadores – Categoria Qtde.
Aut ônomos
Caroceiro 1
Encanador 1
Enxadeiro 1
Jardineiro 1
Artesanato/Carpintaria
Marmorista 1
Bebidas, Gasosas e Cervejas
Cervejaria Adri ática 13
Beneficiamento de Carne, A çougues
Açougue Fanuchi 2
Cortume Hatchbach 2
Fábrica de Banha 1
Frigor ífico 9
Matadouro 1
Sellaria Enidia 2
Beneficiamento de Erva Mate
Engenho de Erva 1
Ervateira 5
Com ércio
Casa Alberto Ansbach 1
Casa B. Alves 1
C. F. Faintink 5
Casa Inthon 4
Casa Irm ãos Ditzel 13
Casa Jacob 1
Casa J. Bach Cia. 1
Casa Justus 1
Casa Osternak 3
Casa Pontagrossense 1
Casa Progresso 2
Casa Roni 1
Livraria Modelo 5
Defesa Militar, Ex ército
Tenente 1
Entretenimento e Lazer
Bar 1
Cine Teatro Éden 2
Explosivos e Fogos de Artif ício
Fábrica de Fogos 8
Ferrovia
Armaz ém 4
Bilheteria 1
Estrada 15
Hospital 3
Telegrapho 1
[continua]
88
3.1 Plataforma: Trabalhadores por suas devidas categorias de trabalho e suas
ocupações.
[continuando]
Funer ária
Funer ária 3
Hotelaria
Hotel Martins 1
Imprensa
Di ário dos Campos 1
Gazeta do Povo 1
Tipographia Modello 1
Lavanderia e Tinturaria
Tinturaria 3
Madeireiras, Serrarias
Carpintaria Bodenbach 1
Madeireira Exportadora Sonyra 56
Off. Marcenaria Plonka 7
Serraria Cruzeiro 23
Serraria Lurdes 7
Serraria Ollinda 17
Moinhos e Beneficiamento de Farinha
F. Farinha 11
Moinho S. Jo ão 2
Oficinas e Metal úrgicas
Ferraria Pedro Souza 1
Fundi çã o Perli 2
Funilaria S. Mattos 1
Off. Cunha 3
Off. Jo ão Holzman 1
Off. Pontagrossense 4
Off. Z é Miara 1
Olarias
Olaria Moro 2
Poder Judici ário
Fórum 3
Prefeitura
Escrit ório 3
Fiscal 1
Trafego 1
Usina, Fia çã o, Eletricidade
Cia. Prada 5
Uzina Pitangui 3
Zona Rural
Col. Moema 1
Fazenda Modelo 3
Outras/Categoria n ão identificada
A. Nacional 1
Carvalho Oliveira 1
Fca. Antunes 1
Fca. Christ Justus 1
Fab. Cometa 1
Fab. Chuchene 1
Fab. Lili 1
F. Royal 2
F. S. Jos é 4
F. Princeza 3
Fab. Ribas 4
Irm ãos Barretos 1
Total
90 336*
*Entre os 1148 trabalhadores registrados no Centro Operário, apenas 336 colocaram suas devidas
funções.
89
3.2 Gráfico: Trabalhadores por suas devidas categorias de trabalho e suas
ocupações.
Trabalhadores
Irmãos Barretos
F. Royal
Fca. Christ Justus
Outras/Categoria não identificada
Zona Rural
Usina, Fiação, Eletricidade
Escritório
Poder Judiciário
Off. Cunha
Oficinas e Metalúrgicas
Moinhos e Beneficiamento de Farinha
Agência FORD
Serraria Lurdes
Carpintaria Bodenbach
Lavanderia e Tinturaria
Diário dos Campos
Estabelecimento
Hotelaria
Bilheteria
Fábrica de Fogos
Bar
Defesa Militar, Exército
Costura, Indústria Têxtil
Casa Progresso
Casa J. Bach Cia.
C. F. Faintink
Fábrica de Banha
Marmorista
Enxadeiro
Trabalhadores – Categoria
0 10 20 30 40 50 60
90
3.3 TABELAS: Plataformas usadas para Análise de Conteúdo.
3.3.1 Núcleo de Sentido: Política.
Núcleo de Sentido Ata Data Sessão Páginas Palavra 1 Palavra 2 Palavra 3 Palavra 4 Autor
POLÍTICA No. 02 01o. De Maio de 1929 Solene – Funda
ç ão 4 ''comum accordo'' 'Estado'' ''Paiz'' Affonso Braune – 1o. Secret
ário
'Prefeito''
No. 05 23 de Junho de 1929 Assembléia – 3a. Chamada 4 'alistamento'' 'deveres cívicos'' 'eleiç ões'' 'Artigo 72'' Adejamiro Cardon – 1o. Orador
3.3.2 Núcleo de Sentido: Beneficência
Núc l e o d e S e n t i d oA t a D a ta S e ãos s Pág i n a s P a l a v r a 1 P a la v ra 2 P a l a v r a 3P a l a v r a A4 u t o r
B E N ÊN
E FC I ICA N o . 0 2 01o . D e M a i o Sd eo l e1 n9 2e 9 ç–oã F u n d a 4'b e m e s t a r '' 'c l a s s e o p e r a r i a l'mo c oar la'' l '' 'm a t e r i a l mA fef on nt es o B r a u árn ieo – 1 o . S e c r e t
N o . 0 4 16 d e J u n h o d Ae s 1s 9eéi2am9 b l 2'E s c o l ára i aO'' p e r 'v a n t a g e n s '' P ro fe s s o r R o b e rto M o n g ru e l
N o . 0 5 23 d e J u n h o d Ae s 1s 9eéi2am9 –b l 3 a . C h a m a d a4 ''p e c u l i o '' 'sóc i o s m u t u a i s ''
N o . 0 9 12 d e A g o s t o Ad es s1eéi9am2 9b l 1'E s c o l a '' 'i n a u çgoãu''r a J oé sD e s l a n d e s d e S o u z a – P r e s i d e n t e
N o . 1 3 24 d e N o v e m bE r ox t dr aeáro i a1r d9 i 2n 9 2''b e n i f i c e n c i a '' 1 9 3 0 Máx i m o L e o p o l d o A r r u e z – 2 o . O r a d o r
''C o mão i sd se B e n e f i c e n c i a ''
N o . 1 6 2 0 d e D e z e m bRr oe ão udnei 1 9 2 9 2'méd i c o '' ''p h a r m a c i a '' J oé sD e s l a n d e s d e S o u z a – P r e s i d e n t e
N o . 1 7 0 1 o . D e J a n e i Sr o o dl een 1e 9 –2éi 9aA s s e m b l 3''b e n i f i c e n c i a '' ''i n s t a l l a d a '' 'u n i d o '' 'f o r t e '' J oé sD e s l a n d e s d e S o u z a – P r e s i d e n t e
'E s c o l a '' A d e ja m ir o C a r d o n – 1 o . O r a d o r
N o . 2 0 2 1 d e f e v e r e i r oE xd ter aár1oi9ar 2d 9i n 2''P o l i c l i n i c a '' A n t o n io B a c it a – D ir e t o r d a P o lic l in i c a P o n t a g r o s s e n s e
'a u m e n t o '' 'D Cr . a r l o s R i b e i r o 'nd eo bMr ea cf ae cd uo l t a t i v o ''J oé sD e s l a n d e s d e S o u z a – P r e s i d e n t e
91
3.3.3 Núcleo de Sentido: Lazer
Núc l e o d e S e n t i d o A ta D a ta S e sãos Pág i n a s P a la v ra 1 P a la v ra 2 P a l a v r a 3 P a l a v r a 4 A u to r
LAZE R N o . 0 2 1 o . d e M a io d e 1 S9 2o 9le n e – çFãou n d a 4 'f e s t a '' 'h o m e n s d o t ra'1b oa .lh Do e'' M a i o '' E liz e u d e C a m p o s M e ll o – P re f e i t o
N o . 0 3 0 2 d e J u n h o d e 1A9 s2 s9 e éia
m bl 2 'd oçaão '' '5 0 v o lu m e s ''
N o . 1 2 2 4 d e O u t u b ro d eE 1x 9t ra2 9oária
r d in 3 'A s s oçcãoia H o m e n s d o T r a 'hb ao lnhrao '''' 's o b e ra n ia '' J o é s D e s la n d e s d e S o u z a P r e s id e n t e
N o . 1 3 2 4 d e N o v e m b ro Ed xe t ra1 9oária
2r 9d in 2 'T çaa O p e r a r ia '' ''f u t e b o l l'' ''c lu b e s s o c ia'ceas ix'' a d o C Je oné st rDo e'' s la n d e s d e S o u z a – P re s i d e n t e
's e sãos ícv i c a '' J o é s D e s la n d e s d e S o u z a – P re s i d e n t e
N o . 1 6 2 0 d e D e z e m b ro Rd e u ão1n9i 2 9 2 'T çaa O p e r a r ia '' 'n o m çeãoa '' J o é s D e s la n d e s d e S o u z a – P re s i d e n t e
N o . 1 7 0 1 o . D e J a n e i ro dS eo le
1 9n 3e0 – A éis as e m b l 3 'f a mília s ''
N o . 1 9 2 1 d e J a n e i ro d e E1 x9 t3ra0 oária
r d in 2 'liv r o s ''
N o . 2 3 1 1 d e A b r il d e 1 9 R3 0e uãon i 4 'f e s t e jo s c o m m e m o ra t i v'Do sia'' d o T r a b a l h'1oo'' . D e M a i o '' J oão F e rig o t t i – 1 o . T e s o u re iro
N o . 2 4 0 1 o . D e M a io d e S1 o9 le
3 0n e – Aárnioiv e rs 3 a n iv eário
rs ' 'p o s s e '' '1 o . d e M a io ''
3.3.4 Tabela 4. Núcleo de Sentido: Manutenção/Cotidiano
Núcleo d e S en tido Ata Data S essão Páginas P alavra 1 Palavra 2 P alavra 3 P alavra 4 Autor
M A NUTEÇÃO
N (s em núm ero) 12 de M aio de 1929 Reunião Com iss
ão do E s tatuto 2 'E s tatuto''
No. 05 23 de Junho de 1929 A s s em bl
éia 4 'E s tatuto'' 'aprovaç ão''
c ondiç ões financ eiras '' 'óptim as '' J oão Ferigotti – 1o. Tesoureiro
No. 06 04 de Julho de 1929 Reunião 1 ''c omissão de sindic anc ia''
No. 07 21 de Julho de 1929 E x traordinária 2 'S ecretário'' 'Substitui ção''
No. 08 24 de Julho de 1929 Reunião 2 ''illum ina
ç ão'' 'Clube P aranaens e''
No. 11 25 de Agosto de 1929 A s s em bl
éia 3a. Conv ocção
a 15'S ubs tituição'' 'Conselho F is cal'' 'bom nom e'' J osé Des landes de S ouza – P resident e
'desres peito'' 'lei s ocial'' 'es tatuto'' 'm archa v itorios a''J osé Des landes de S ouza – P resident e
Livro de Ouro'' J osé Des landes de S ouza – P resident e
No. 11 (12) 25 de Setem bro de 1929
E x traordin
ária 5 'm em bros faltando'' A lbino Wiec hetec k – Pres idente do Conselho Fis cal
''E s tatutos s oc iaes'' 'cópias'' 'Com is ãso de Rev is
ão'' J osé Des landes de S ouza – P resident e
'reuniões '' Clube Paranaense''
No. 13 24 de Nov em bro de 1929
E x traordin
ária 2 'bom andamento'' J oão Ferigotti – 1o. Tesoureiro
'S ubs titui
ção'' J oão Ferigotti – 1o. Tesoureiro
No. 14 28 de Nov em bro de 1929
E x traordin
ária 4 S ubs tit ui
ção'' A lbino Wiec hetec k – Pres idente do Conselho Fis cal
''F ord'' 'rifa'' J osé Des landes de S ouza – P resident e
'm ens alidades '' 'ofíc io'' Máx im o Leopoldo A rruez – 2o. Orador
S ubs tit ui
ção''
No. 15 05 de Dez em bro de 1929
Reunião 1 'Cons elho Fisc al'' A lbino Wiec hetec k – Pres idente do Conselho Fis cal
m ens alidades'' 'talões de c obran
ça'' J oão Ferigotti – 1o. Tesoureiro
No. 16 20 de Dez em bro de 1929
Reunião 2 'Regulam ento interno''
''photografia'' 'pres idente'' A dejam iro Cardon – 1o. O rador
No. 17 01o. De Janeiro de 1930
S olene – A s seméia
bl 3 'c ondiç ões financ eiras'' 'chave de ouro'' J oão Ferigotti – 1o. Tesoureiro
m ens alidades'' 'sus pens ão da benefic
ência'' J osé Des landes de S ouza – P resident e
No. 18 14 de Janeiro de 1930E x traordin
ária 'm ens alidades '' ''Sonyra'' J oaquim Wirruez – Gerenta da S erraria S onyra
No. 19 21 de Janeiro de 1930E x traordin
ária 2 'propos ta'' J oaquim Wirruez – Gerenta da S erraria S onyra
'elim inaç ão'' J oão S hm idt Filho e D
ário Cardon
No. 21 16 de M ar
ço de 1930 A s s em bl
éia E xtraordin
ária 1 'es tatuto'' ''nov a direct oria'' 'eleiç ões '' J osé Des landes de S ouza – P resident e
No. 22 06 de Abril de 1930 A s s em bl
éia 7 'es tatuto'' 'ordem '' 'v otaç ão'' 'tesouraria''
No. 23 11 de Abril de 1930 Reunião 4 'pagam ento'' 'médic o'' ''S am uel S tark '
'gesto elogios o'' 'donativo'' ''S am uel S tark ' ''bella acç ão'' S am uel S tark
No. 24 01o. De Maio de 1930 S olene – A niv ers
ário 3 'poss e'' ''nov a direct oria'' 'relatorio'' tesouraria'' J osé Des landes de S ouza – P resident e
92
3.4 Fotografias
FIGURA 14 – Capa do Livro de Inscrição de Sócios
FIGURA 15 – Relação de associados no Livro de Mensalidades
93
FIGURA 16 – Assinatura do presidente José Deslandes de Sousa no carimbo do C.O.C.B
FIGURA 17 – Antiga sede do Centro Operário
94
FIGURA 18 – Símbolo do Centro Operário Cívico e Beneficente talhado em pedra
95
3.5 Texto Integral da Ata de posse da 2a. Diretoria
Ata no. 24
Sessão Solene d 1o. Aniversário do Centro Operário Cívico e Beneficente e da posse da sua 2a. Diretoria
.1o. De Maio de 1930
''Às 9 horas da noite após grande passeata desta Sociedade, fechada pela Banda musical Lyra dos
Campos onde imperava o Estandarte Brasileiro, deu entrada na Sede a Directoria acompanhada de grande
multidão de pessoas de todas as classes sociaes. O recinto que estava (…) ornamentado e [illuminado], já
se achava compacto de socios sociaes, e cavalheiros, senhoras e senhoritas estranhos ao Centro, embora
o livro presencias accuse sãosomente o registro de 143 comparecimentos.
Logo a Directoria formou os seus lugares na meza que para este acto foi collocada no palco,
tomando tambem lugares distintos S. M. Leonor Braga Rainha dos Operários, S. M. Anna Varigt Rainha do
Commercio, Sta. Lucia Dechandt, O Sr. Capitão representante do 13o. R. De Infantaria, O Sr. Alberto Lopes,
os representantes de diversas associações e outras pessoas fradas.
Abriu a Sessão Solenne a Sta. Leonor Braga Rainha dos Operarios.
O presidente leu o relatorio referente ao anno da sua gestão e bem assim um pequeno relatorio a
thesouraria; chamou os novos directores eleitos foram formando posse com excepção do Sr. João Ferigotti
eleito presidente honorário que resignou no momento de empossarse.
Dada a palavra ao Sr. Adejamiro Cardon orador official da Directoria que deixava o mandato, essê
referiuse sobre o progresso da Sociedade e desculpouse para com a assistencia e renuncia do Sr. João
Ferigotti do cargo para o qual fôra eleito.
Seguiselhe com a palavra o Sr. Walfrido R. De Almeida Presidente recem empossado que
agradecendo a indicação do seu nome verbejou a necessidade incondicional do apoio de todos os
componentes do Centro, para assim, unidos e fortes, chegarmos ao alvo que tanto almejamos.
Depois deste, fallou o Sr. Manoel de Oliveira que discorreu com entusiasmo bellas palavras acerca
do nosso programma social; agradeceu à Directoria que deixava o mandato e na mesma ocasião inaugurou
officialmente a photografia do Sr. José Deslandes de Souza exPresidente.
O Sr. José D. De Souza tomando a palavra em longo discurso agradeceu a gentileza dos diversos
consocios que lhe offereceram aquella photografia.
Fallaram mais como representantes das diversas Sociedades convidadas para este acto de posse
Solenne os seguintes senhores: Vicente Tavares pelo Club Democrata e pelo Olinda S. Club – José pelo
Club Operario do Imbituva – Carlos Alvaro pela Soc. Economica Operaria. Em seguida o Sr. Presidente
inaugurou a palavra para quem quisesse fazer uso. Como ninguem mais se manifestasse, e nada mais
houvesse a se tratar, após as saudações de estilo entre os directores, o Sr. Presidente encerrou a Sessão
as 10 horas da noite do que para constar eu João Perantunes lavrei a presente Acta, que depois de lida
discutida e approvada, será assignada pelo Sr. Presidente e por mim Secretario que a escrevi.
Recinto da Sede Social em Ponta Grossa no dia 1o. De Maio de 1930.
Presidente 1o. Secretario
96
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