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RESENHA Jefferson Teixeira Dantas | jeffersontdantas@gmail.

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OLIVEIRA, F. (1982). O Estado e o urbano no Brasil. In: BARROS, SILVA e DUARTE (Org.).
Cidades e conflito: o urbano na produção do Brasil contemporâneo. Caderno de Debates, RJ:
FASE, 2013, pág. 47-68.

A relação entre Estado e o urbano devem ser vistas de vários


ângulos:
a) Divisão social do trabalho – a cidade e o campo;
b) Relações sociais de produção;
c) Estado e o espaço urbano.
Os pressupostos históricos da formação do urbano na economia
brasileira são derivados exatamente da formação da economia colonial e
situam-se, evidentemente, sob aquele ângulo da divisão social do trabalho.
Talvez seja possível dizer que nunca o campo controlou realmente o
Estado no Brasil. Foram nas cidades que se constituíram seu caráter
exportador de produtos primários, e são nas cidades que se fazia a ligação
entre a produção e a circulação internacional, tanto no Estado colonial
português, quanto depois no Estado brasileiro, que têm nas cidades sua sede
privilegiada.
É o caráter da sede de capital comercial, que faz a ligação da
produção agroexportadora com a circulação internacional de mercadorias, que
responde, na maioria dos casos, pelo caráter que a urbanização toma no Brasil
colonial e, posteriormente, na República.
A urbanização colonial se redefine, sob muitos aspectos, a partir do
momento em que a cidade passa a ser também a sede do aparelho produtivo,
a sede da indústria.
Tal característica apresenta um caráter de polarização muito radical:
a) A economia fundada na monocultura cria uma imensa cadeia de aldeias
e pequenas vilas;
b) Polarização entre o vasto complexo latifundiário e minifundiário, e que,
por outro lado, criou grandes cidades em termos relativos, desde o
princípio, sedes do controle burocrático e do capital comercial.
Algumas das chamadas “revoluções” no Brasil, principalmente no
Nordeste, foram o prenúncio das contradições entre o capital comercial, o
sistema produtivo e também das relações internacionais da economia
agroexportadora com a metrópole. A passagem do controle do sistema
produtivo das oligarquias agrárias para o controle do sistema produtivo por
parte de capitais da cidade, sobretudo no seu papel de intermediação dessas
mercadorias. O conflito entre o campo e a cidade, no Brasil, e as cidades e a
metrópole portuguesa.
A pobreza dessa rede urbana é, em parte, determinada pelo próprio
caráter autárquico das produções para exportação. Ou seja, tal caráter não

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permitia a realização de uma nova divisão social do trabalho e o surgimento de
novas atividades características dos centros urbanos.
Não se deve escapar o elemento constitutivo muito forte e marcante
na economia brasileira, o trabalho escravo. Tendo o trabalho escravo como
base, não se permitiu a constituição, como na Europa, de um exército de
trabalhadores ativos, e nem no exército industrial de reserva. O trabalho
escravo não dava lugar, por definição, a nenhuma formação de mercado de
trabalho, e é ele constitutivo do fato dessa pobreza da urbanização do país, de
um lado, e da polarização em torno de poucas cidades, de outro. Padrão que
permaneceu até praticamente os anos de 1920.
Somente com a modificação da divisão social do trabalho pela
industrialização que vai redefinir, de forma completa, o caráter da urbanização
das relações cidade e campo na ampla divisão social do trabalho no Brasil.
A nova divisão social do trabalho, pautada pela industrialização,
determinará um salto enorme na urbanização, como se viu, por exemplo, no
caso de SP que em 60 anos passou de uma cidade sem expressão para a
maior cidade da América Latina. Uma explicação óbvia se dá pelo enorme fluxo
migratório, com a massa de capitais e, portanto, pelo processo de acumulação
sediado nas cidades. Isso é transparente e óbvio, mas a outra questão é:
porque também a industrialização, quando se dá, impõe um ritmo de
urbanização desse porte? O que se pode fazer é contrapor a autarquia do
campo (de caráter pobre de urbanização), com a autarquia das cidades.
Autarquia das cidades significa que, as cidades, ao formarem-se
com a industrialização o centro do aparelho produtivo vão, pela própria herança
do padrão anterior, constituir-se em cidades autárquicas. Isto é, a
industrialização vai impor um padrão de acumulação que potencializa uma
urbanização, cuja urbanização ocorre em ritmo superior ao da própria
industrialização. Dado a autarquia dos campos, a industrialização no Brasil se
dá essencialmente urbana.
Algo completamente distinto no caso Europeu, em especial o Inglês,
onde a industrialização contou com um tipo de divisão social do trabalho no
campo, onde este, além de agricultor, era artesão. De modo que a
industrialização também passas pelo campo. No Brasil, por sua vez, dado o
caráter da monocultura exclusiva para exportação, excluindo, assim, qualquer
outro tipo de produção que não a monocultura.
Desta forma, a indústria no Brasil seria necessariamente urbana, o
que fez com que nossa industrialização gerar taxas de urbanização muito
acima do próprio crescimento da força de trabalho empregada nas atividades
industriais. O que a sociologia vulgar chamou de urbanização sem
industrialização, do inchaço e a marginalidade social nas cidades. Não que não
haja inchaço ou marginalidade social, mas significa que tais fenômenos são a
forma peculiar pela qual a industrialização se deu no Brasil. Isto é, ela mesma
forma o exército industrial de reserva, vindo do campo para a cidade.

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